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Fertilizante de liberação lenta na rebrota do eucalipto

Article · November 2020

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7 authors, including:

Kyvia Pontes Teixeira das Chagas Thiago Cardoso Silva


Universidade Federal do Paraná Universidade Federal do Paraná
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Tarcila Rosa da Silva Lins Emmanoella Costa Guaraná Araujo


Universidade Federal do Paraná Universidade Federal do Paraná
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ANÁLISE QUALI-QUANTITATIVA DA ARBORIZAÇÃO DA PRAÇA EUCLIDES DA CUNHA, RECIFE, PE View project

Mapping with Remote Sensing MRS View project

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Ano VIII nº 51 - Novembro/Dezembro 2020 - R$ 16,90 - ISSN 2316-6312

INCÊNDIOS FLORESTAIS
A REALIDADE SOBRE O FOGO QUE CONSOME O BRASIL
EDITORIAL

Diretora Administrativa
Joana D’ark Olímpio
@campo_negocios joana@revistacampoenegocios.com.br
/revistacen
Diretora de Jornalismo
@campoenegocios
Ana Maria Vieira Diniz - MTb 5.915MG
Acesse nosso cartão virtual anamaria@revistacampoenegocios.com.br

(34) 3231-2800 Núcleo de Jornalismo


Editora: Miriam Lins Oliveira - MTb 10.165MG
ISSN 2316-6312 - Edição 51 - Novembro/Dezembro 2020 miriam@revistacampoenegocios.com.br
Jornalista: Adrielle Teodoro - MTb 15.406MG
adrielle@revistacampoenegocios.com.br

Departamento Comercial

O
Renata Tufi
s incêndios florestais mais destruido- renata@revistacampoenegocios.com.br
res aparecem com uma combinação Renata Helena Vieira de Ávila
explosiva de três fatores. Primeiro, um renata.vieira@revistacampoenegocios.com.br
clima quente e seco, em que a umidade do ar Departamento Financeiro
não ultrapasse 20%. Segundo, a presença de Rose Mary de Castro Nunes
alguma coisa que provoque a primeira fagu- financeiro@revistacampoenegocios.com.br
lha, desde um relâmpago até um simples ci- Mírian das Graças Tomé
garro aceso. Por último, combustível para ali- financeiro2@revistacampoenegocios.com.br

mentar as chamas – e isso as florestas têm de


sobra, com suas toneladas de madeira infla-
mável, arbustos e folhagens secas.
Se estiver ventando muito, pior ainda: Assinaturas
Beatriz Prado Lemes
as correntes de ar são capazes de carregar
beatriz@revistacampoenegocios.com.br
uma folha flamejante por até 50 metros de
Marília Gomes Nogueira
distância. Isso gera desastres como o in- marilia@revistacampoenegocios.com.br
cêndio de Roraima em 1998, quando arde- Raíra Cristina Batista dos Santos
ram 14 mil quilômetros quadrados de flo- raira@revistacampoenegocios.com.br
resta, uma área quase dez vezes superior à Aline Brandão Araújo
da cidade de São Paulo. aline@revistacampoenegocios.com.br
No Brasil, os focos de queimadas se concentram mais na região centro-oeste
e em algumas partes das regiões norte e nordeste. O monitoramento das queimadas
no País é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por meio Representantes
de sensoriamento remoto por satélites. Agromídia Desenv. de Negócios Publicitários
Tel.: (11) 5092-3305
Dados do INPE revelam que e o Brasil é o líder em quantidade de focos de in-
cêndio entre os países da América Latina. Durante o período de junho a novembro, Guerreiro Agromarketing Publicidade Ltda
Glaucia Guerreiro
ocorrem queimadas praticamente em todas as regiões brasileiras, sendo os meses de Tel: (44) 3026-4457/ (44) 99180-4050
agosto e setembro os mais críticos, o que vem preocupando. glaucia@guerreiro.agr.br
novembro/dezembro 2020

Com tamanha proporção, trouxemos a matéria de capa desta edição sobre este www.guerreiro.agr.br
tema, e esperamos esclarecer para você todos os pontos de apoio para evitar ou com- Foto Capa
bater o fogo das queimadas e incêndios. Shutterstock

Projeto Gráfico/Diagramação
Deixo com vocês um grande abraço, e uma excelente leitura! Horácio Sei (11) 99983-6777
Viviani Gasparini (11) 97386-3444

Miriam Lins Oliveira Impressão


Editora

PABX: (34) 3231-2800


R. Bernardino Fonseca, 88 – B. General Osório
Nossos parceiros nesta edição Uberlândia-MG 38.400-220
www.revistacampoenegocios.com.br

A Revista Campo & Negócios Florestas


é imparcial em relação ao seu conteúdo
agronômico. Os textos aqui publicados são de
inteira responsabilidade de seus autores.

4
NESTA EDIÇÃO

20 A REALIDADE SOBRE
O FOGO QUE CONSOME
O BRASIL

06 Ferramentas de preparo de
solo

09 História - As caras da restauração

34 Conservar o bioma é um
excelente negócio
17 Secagem e tratamento da
madeira na fazenda

10 Cultivo e aplicações do neem

13 Locação de máquinas gera


economia

novembro/dezembro 2020
36 Cultivo de seringueira para
borracha natural

26 Principais técnicas de corte com


as motosserras
40 Fungo para controle do percevejo-
de-renda

14 Fertilizante de liberação lenta


na rebrota do eucalipto
42 Projeto para recuperação da
araucária

16 Oportunidade de projeto
industrial sustentável
30 Manejo acertado do cacau
44 Novas espécies da Amazônia
5
SOLO

FERRAMENTAS DE
PREPARO DE SOLO
DIFERENCIAL NA SILVICULTURA
novembro/dezembro 2020

Adriana Araujo Diniz meio ambiente e para a produção florestal, usadas principal-
Professora Adjunta II - Universidade Estadual do Maranhão mente para evitar a degradação do solo e promover melhorias
(UEMA/CESBA) no estabelecimento e desenvolvimento das florestas plantadas.
adrisolos2016@gmail.com Sobretudo, estas devem ser também economicamente viáveis
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho (Prevedello, 2008).
Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal - FCAV/UNESP
a15santanafilho@gmail.com Detalhes
Tarcísio da Silva Vasconcelos
Graduando em Engenharia Agronômica - UEMA/CESBA O preparo de solo pode ser feito de diferentes formas. Den-
tarcisiovasconcelos589@gmail.com tre as técnicas utilizadas, há o preparo manual, pouco utilizado,
apenas em áreas com baixo nível tecnológico ou de topogra-
fia acidentada, baseado em capina e abertura de covas manu-

O
manejo de solo é a etapa primordial em diversas áreas almente; preparo semi-mecanizado, em que primeiramente é
da agricultura, dentre as quais a silvicultura, haja vis- realizada a abertura, o controle das plantas invasoras e o co-
ta que na sua fase de desenvolvimento inicial as es- veamento com o motocoveador.
pécies florestais necessitam de um ambiente propício ao de- Por fim, está o preparo mecanizado, feito com equipa-
senvolvimento e fixação das raízes. mentos tratorizados, como arado de discos, grades, escarifi-
O preparo de solo deve, então, ser devidamente planejado cadores e subsoladores.
afim de evitar prejuízos durante o processo produtivo das espé- Este último é um dos mais utilizados na silvicultura de lar-
cies. As técnicas de manejo são de extrema importância para o ga escala, exigindo um preparo eficiente do solo para que se

6
SOLO

causa menos impacto ambiental e degradação dos solos.


No entanto, em áreas nas quais várias rotações já foram
conduzidas e a presença de tocos dificulta a adoção do cultivo
mínimo, preparos de solos mais intensivos são necessários para
que a implantação da cultura seja eficiente. Em geral, busca-
-se um sistema que facilite a absorção de água e de nutrien-
tes, o crescimento satisfatório das raízes e elimine plantas da-
ninhas (Gatto et al., 2003).

Ponto de partida

A implementação de um sistema de manejo de solo co-


meça com um bom planejamento, com um mapa detalhado
da área, indicando a localização dos aceiros, carreadores, divi-
são dos talhões conforme as caraterísticas e histórico do local.
Logo após ocorre a limpeza do terreno, que varia de vegeta-
ção e topografia, lembrando de sempre respeitar a legislação
vigente no local.
Após, deve-se realizar as avaliações químicas e físicas da
área. É necessário que seja feita a amostragem do solo, pois é
com base na análise química desta que se realiza a interpre-
tação e que são definidas as doses de corretivos e de adubos.
Além disso, a avaliação física deve ser realizada para que se
possa verificar as condições de compactação, retenção de água,
entre outras características, as quais são definidas com base nas
análises de granulometria, porosidade, densidade e consistência
do solo, entre outras.

A escolha

A escolha do melhor método de manejo deve levar em


consideração a estrutura do local e as condições financeiras do
produtor. Para a implantação de sistemas mecanizados, o pro-
Fotos Shutterstock

dutor necessitará de máquinas e implementos agrícolas para


realizar as operações de descompactação do solo.
Em sistemas de cultivo mínimo, o principal equipamen-
to utilizado é o subsolador na profundidade de até 30 cm e o
coveador mecânico.
Além de melhorias no desenvolvimento das plantas, o sis-

novembro/dezembro 2020
possa descompactar as camadas iniciais do perfil afim de pro- tema de preparo do solo escolhido deve possibilitar a reforma
mover a melhor fixação das espécies em cultivo. do plantio, com alteração da direção do alinhamento ou tro-
ca do espaçamento. Isso se deve ao mecanismo que possibilita
Avanços o rebaixamento e corte dos tocos remanescentes e ao afasta-
mento dos resíduos da linha de plantio, permitindo a forma-
Nos últimos anos, o cultivo mínimo tem sido incluído ção de novas linhas.
como ferramenta de manejo de solos em áreas de silvicultura, Deve-se adotar sistemas que combinem equipamentos de
principalmente com o avanço da ILPF (Integração Lavoura- preparo do solo, afastamento dos resíduos, herbicidas e adu-
-Pecuária-Floresta), que vem sendo bastante adotada em áre- bação, afim de suprir todas as necessidades da planta.
as agrícolas como forma de preservação e melhor utilização Os solos brasileiros possuem uma composição mineralógi-
dos solos e dos recursos naturais. ca de nutrientes primário pequena, logo, a capacidade de ma-
O sistema de cultivo mínimo consiste no preparo de solo nutenção da fertilidade do solo também é reduzida. Os teores
somente na linha de cultivo, provocando assim uma menor de macro e micronutrientes nesses solos baixos ou muito baixos
passagem de máquinas sobre a área da plantação e diminuin- podem causar grandes perdas no potencial produtivo, como por
do a compactação. exemplo, o cultivo sucessivo de várias rotações de espécies flo-
Outro princípio desta técnica é a manutenção dos resídu- restais causam um grande impacto nas reservas dos solos, resul-
os vegetais, com o uso de herbicidas para o combate das plan- tando em queda da qualidade das áreas produtoras.
tas voluntárias, que é um fator crucial no manejo, já que não Logo, o sistema de manejo deve visar o equilíbrio entre a
há a inversão da leiva nesse sistema de cultivo. entrada e saída de nutrientes, e o ciclo que tem com os mes-
Esta ferramenta é uma das mais conservacionistas e que mos é estratégico para a manutenção da produtividade florestal.

7
SOLO

Produtividade

O avanço no manejo de solo na silvicultura provocou au-


mento significativo da produção, em que, na década de 65, a
média do Eucalyptus era de 10 m³ ha-1 ano-1, atingindo atual-
mente marcas acima de 40 m3 ha-1 ano-1.
Estudos realizados por Prevedello (2008) indicam que o
plantio direto de Eucalyptus ocasionou o crescimento inicial
em solo com maior resistência e densidade e menor macro-
porosidade e porosidade total, quando comparado aos pre-
paros com mobilização, especialmente na camada superficial.
Gatto et al. (2003) concluíram que os métodos de prepa-
ro do solo interferem nas características físicas e químicas do
solo, refletindo na dendrometria e na produção de biomas-
sa, sendo que o preparo mais intensivo do solo contribuiu
para o maior crescimento das plantas, disponibilizando mais
nutrientes e reduzindo plantas competidoras.

Sem errar

Os erros mais frequentes na implantação do manejo do


solo se dão pela não avaliação das características físicas e
químicas do local, bem como características topográficas e
ambientais.
A não observação desses parâmetros pode levar a erros de
recomendações de adubações e ferramentas de manejo, como
profundidade de descompactação, o que ocasionará prejuízos
para o desenvolvimento da planta.
Para evitar os erros, é necessário que o produtor busque
conhecer muito bem as características da área de cultivo e de-
finir o melhor método e equipamentos a serem utilizados.
O crescimento das plantas em função do revolvimento do
solo deve ser monitorado durante todo o processo produti-
vo. As características físicas são importantes aliadas na deci-
são de que manejo empregar na produção.
novembro/dezembro 2020

Custo

O custo de implantação do manejo de solo deve ser


observado principalmente no que diz respeito à disponibi-
lidade de maquinários e à implantação de sistemas, como
o cultivo mínimo, que visa a manutenção das característi-
cas químicas e físicas.
Inicialmente, estes possuem custos um pouco mais
elevados, mas com a implantação, após alguns anos os cus-
tos são reduzidos, pois o perfil do solo, ao longo dos anos,
é construído, afim de evitar manejos sucessivos e desgas-
tes constantes do local.
O investimento em ferramentas eficientes de preparo
de solo é, então, altamente necessário, sendo o custo-be-
nefício favorável ao produtor, em que, ao longo dos anos,
com um manejo adequado o mesmo conseguirá alcançar
altas produtividades e um produto com melhor qualidade
para o consumidor final.

8
MEMÓRIAS

AS CARAS DA
RESTAURAÇÃO
HISTÓRIAS DE
QUEM ESTÁ
Shutterstock
LUCRANDO COM
AS FLORESTAS
P
ode soar estranho falar sobre restauração florestal - a prá- de reconstrução de nossa economia e contribuem para o com-
tica de plantar árvores nativas para recuperar áreas degra- promisso do Brasil de restaurar e reflorestar 12 milhões de hec-
dadas - em um País que tem 60% da maior floresta tro- tares de florestas e áreas degradadas até 2030”, afirma Miguel
pical do planeta. Mas, é exatamente isso que está acontecendo Calmon, diretor de Florestas do WRI Brasil. “Essa meta só
no Brasil agora e que o WRI Brasil mostra com a série Caras pode ser alcançada por meio de uma diversidade de soluções,
da Restauração. projetos, escalas e características locais - e é exatamente isso que
Composta por episódios em vídeo e reportagens, ela retra- estamos mostrando: os rostos e as histórias de quem está fazen-
ta cinco histórias em diferentes Estados - de produtores fami- do, bem como os caminhos possíveis”, destaca.
liares a grandes produtores. Em comum, todos têm a transfor- Para o WRI Brasil, a restauração florestal deve ser reco-
mação de sua relação com a terra e o lucro advindo da floresta, nhecida como uma oportunidade com potencial de geração de
que pode ser maior do que a rentabilidade de atividades agro- benefícios econômicos, sociais e ambientais. A recuperação de
pecuárias convencionais. milhares de hectares de terras hoje degradadas pelo plantio de
A série abre com um caso de restauração no Estado do Pará, espécies arbóreas nativas de valor econômico e pela utilização
em plena floresta amazônica. Trata-se da transformação da fa- de sistemas agroflorestais, cria empregos e boa produtividade
mília Soares, agricultores do município de Juruti, que migraram nas comunidades agrícolas, além de contribuir para a seguran-
da tradicional produção exclusiva de mandioca para um sistema ça alimentar e hídrica.

novembro/dezembro 2020
agroflorestal. Adicionando árvores nativas da Amazônia, com
frutíferas e outras culturas agrícolas junto da mandioca, eles es-
peram elevar a produtividade e a renda ao mesmo tempo em
que restauram uma área de floresta que sofria com práticas de Sobre o WRI Brasil
corte e queima. Episódio 1: Um projeto de vida amazônico.
Com lançamentos semanais iniciadas em 14 de outubro no O WRI Brasil é um instituto de pesquisa que trans-
site wribrasil.org.br/pt/ascarasdarestauracaosite, a série anteci- forma grandes ideias em ações para promover a proteção
pa a Década da Restauração, que a Assembleia Geral das Na- do meio ambiente, oportunidades econômicas e bem-es-
ções Unidas declarou para o período entre 2021 a 2030. tar humano. Atua no desenvolvimento de estudos e im-
Cada episódio traz um relato aprofundado das transfor- plementação de soluções sustentáveis em clima, florestas
mações vividas a partir da decisão de investir na restauração e cidades. Alia excelência técnica à articulação política e
florestal, mostrando o processo de mudança de mentalidade trabalha em parceria com governos, empresas, academia
das pessoas retratadas - o que acaba formando um fio condu- e sociedade civil.
tor da narrativa que ajuda a ilustrar porque práticas de produ- O WRI Brasil faz parte do World Resources Insti-
ção mais sustentáveis fazem sentido, tanto do ponto de vista tute (WRI), instituição global de pesquisa com atuação
econômico quanto ambiental. em mais de 50 países. O WRI conta com o conhecimen-
Além das histórias de vida, os vídeos também trazem infor- to de aproximadamente 700 profissionais em escritórios
mações sobre os contextos e questões técnicas vinculadas a cada no Brasil, China, Estados Unidos, Europa, México, Índia,
realidade. “São histórias e rostos que humanizam uma agenda Indonésia e África.

9
SUSTENTÁVEL

NEEM
Deposit Photos

ESPÉCIE DE MÚLTIPLOS
USOS E FÁCIL ADAPTAÇÃO
novembro/dezembro 2020

A
João Gilberto Meza Ucella Filho Azadirachta indica A. Juss, conhecida popularmente por
16joaoucella@gmail.com nim ou neem, é uma espécie florestal de origem india-
Bruna Rafaella Ferreira da Silva na, pertencente à família Meliaceae, que se desenvol-
brunarafaellaf@hotmail.com ve em áreas de clima tropical e subtropical, fazendo com que
Engenheiros florestais e mestrandos pelo Programa de seja cultivado em diversos países da Ásia e em todos os países
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da Madeira da da África, Austrália, América do Sul e Central.
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
O neem é uma planta bastante difundida nas regiões nor-
Débora de Melo Almeida te, nordeste, sudeste e centro-oeste do Brasil. O cultivo da es-
Engenheira florestal, técnica em Controle Ambiental e mestranda pécie no País teve início no ano de 1986, no qual buscavam
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da aprofundar as pesquisas quanto à sua ação inseticida, e mais
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
debooraalmeida@gmail.com tarde, conhecimentos sobre o desenvolvimento da espécie.
A sua popularidade ocorreu principalmente devido ao seu
forte apelo comercial, em virtude de sua facilidade de cresci-
mento em campo, ampla possibilidade de aplicações e de qua-
se todas as partes da planta serem utilizáveis. Após as pro-
priedades da planta se tornarem mais conhecidas, foi dado

10
SUSTENTÁVEL

o início aos plantios em áreas comerciais em diversas regi- A sua madeira é moderadamente densa,
ões do País. bem avermelhada e resistente

Características

As árvores desta espécie possuem grande resistência e rá-


pido crescimento, podendo alcançar, em condições normais,
até 15 m de altura. A madeira é moderadamente densa, bem
avermelhada e resistente, suas folhas são verde-escuras e as se-
mentes consistem em um pericarpo carnudo, com uma con-
cha relativamente macia em seu interior, onde está localizado
um óleo bastante comercializado.

Cultivo e técnicas de manejo

A produção de mudas de neem é realizada preferencial-


mente por meio de sementes, que apresentam de 60 a 95% de
viabilidade, oriundas de plantas isentas de patógenos. O tem-

Léa Cunha
po de germinação das sementes é em torno de duas semanas,
a qual pode acontecer diretamente no solo ou transplantadas
como mudas, após cerca de três meses da semeadura direta,
sendo este último o método mais empregado. do o plantio, preferencialmente no início da estação chuvosa.
Apesar da espécie ser considerada de alta rusticidade, ela As etapas seguintes consistem no tratamento fitossani-
se adapta melhor a solos bem preparados. Com isso, o prepa- tário, em que é realizado o combate às formigas após a im-
ro do solo deve ser realizado com, pelo menos, as operações de plantação da cultura, e também deve ser realizada a poda dos
aração e gradagem, para que haja a homogeneização de uma ramos e do ponteiro apical, para obter um melhor aproveita-
profundidade mínima de 15 cm do solo. mento na produção dos frutos. Por fim, é realizada a colheita
A recomendação de espaçamento para a espécie é variá- dos frutos, o que normalmente ocorre a partir do terceiro ano
vel, visto que o desenvolvimento da planta depende das con- de desenvolvimento da planta.
dições de solo e clima. Logo, no Brasil recomenda-se de 3,0
a 8,0 m entre árvores, com o maior espaçamento nas regiões O neem e suas diferentes formas de utilizações
mais quentes.
Salienta-se também que a escolha do espaçamento está A espécie tem sido utilizada há mais de 2000 anos no
relacionada diretamente ao objetivo do plantio, de modo que, Oriente como planta medicinal e sombreadora, praguicida,
quando destinado à produção de madeira, o ideal são plantios lubrificante e adubo. Além disso, também pode ser utiliza-
menos adensados, e quando destinado a outros tipos de pro- da no reflorestamento, na produção de madeira, fabricação de
dução, como folhas, cascas, frutos e sementes, a concentração cosméticos, material para construção e combustível.
de indivíduos dentro da área pode ser maior. A ampla utilização do neem como planta medicinal en-
Por fim, inicia-se o processo de coveamento ou sulcamen- contra-se relacionada à baixa toxicidade e larga distribuição
to, o qual depende do método de preparo de solo, e a adubação na natureza. Estudos vêm demonstrando que o neem é uma
com esterco de gado curtido, para que em seguida seja realiza- planta medicinal que pode ser usada como antisséptico, tôni-
SUSTENTÁVEL

co, vermífugo, na cura da diabetes, malária, problemas derma-


tológicos, combate à sarna, pulga e outras doenças.
Os efeitos benéficos dos seus produtos naturais podem ser
atribuídos a um ou mais compostos fitoquímicos, incluindo
antioxidantes, flavonoides e outras substâncias.
Em decorrência da sombra que propicia, vem sendo am-
plamente utilizada na arborização urbana, principalmente na
região nordeste do Brasil. A madeira é resistente a cupins, sen-
do utilizada na fabricação de móveis, mourões, estacas, esteios,
ripas, caibros e utensílios domésticos.
Enquanto a eficiência do uso da espécie para o controle
de pragas (inseticida, acaricida, fungicida e nematicida), como
por exemplo, mosca-branca, minadora, brasileirinho, carrapa-
to, lagartas e pragas de grãos armazenados, encontra-se rela-
cionada à grande quantidade de bioativos presentes na plan-
ta, que causam múltiplos efeitos, tais como: repelência, atraso
e/ou interrupção do desenvolvimento, redução na fertilidade
e fecundidade, e várias outras alterações no comportamento e
na fisiologia que podem levá-los à morte.
Assim sendo, constata-se que a espécie pode fornecer pro-
dutos alternativos aos agrotóxicos, como extratos de frutos,
sementes, ramos e folhas, além da possibilidade de controlar
pragas em culturas onde o uso de agrotóxico não é permitido,
como no caso dos produtos de origem orgânica.

Subprodutos

O neem também é bastante utilizado nas indústrias de


Adilson Santos

cosméticos sendo empregado na fabricação de xampus, loções


hidratantes, condicionadoras, óleo para cabelo e unhas e tôni-
co capilar. Além disso, estudos relatam que a casca da espécie
se apresenta como potencialmente produtora de taninos, subs-
tâncias estas que podem ser empregadas na fabricação de ade-
sivos naturais, tratamento de efluentes e na composição de Custo x benefícios
medicamentos fitoterápicos.
Vale salientar que, apesar dos compostos bioativos presen- O plantio do neem no Brasil torna-se uma alterna-
tes no neem serem encontrados em toda a planta, as sementes tiva de investimento bastante atrativa, devido ao valor
e as folhas são as que apresentam os compostos de forma mais de implantação ser relativamente baixo e com retor-
concentrada e acessível, visto que são facilmente obtidos por no financeiro rápido. Em estudo realizado no Estado
novembro/dezembro 2020

meio de processos de extração em água e solventes orgânicos do Pará, em área cultivada com o neem (espaçamen-
(hidrocarbonetos, álcoois, cetonas ou éteres). to 4 x 4 m), destinado à obtenção de receitas a par-
Os métodos de extração com solventes fornecem vários tir de folhas e frutos para uso medicinal e à fabricação
compostos biologicamente ativos, sendo o mais antigo, po- de inseticidas, foi constatada uma viabilidade econô-
pular e extremamente eficaz o método de extração utilizan- mica com uma taxa interna de retorno do investimen-
do água. to de 265% por ano.
O mesmo foi observado também em outras regiões
Plantio do neem x precauções do mundo, como nos países da China e Índia.
De modo geral, o cultivo do neem apresenta-se
Por se tratar de uma espécie exótica de fácil adaptação e como uma forma rentável para produtores que dese-
propagação, torna-se necessário que, quando cultivada para a jam investir em plantios florestais, em virtude de sua
obtenção de bens e serviços, seja realizado o manejo adequa- fácil adaptação em diferentes condições endafoclimá-
do da espécie, de modo que a sua propagação seja controlada, ticas e por ser uma espécie de múltiplos usos, forne-
ficando restrita às áreas de cultivo. cendo diversos tipos de produtos e retorno financei-
Ao se disseminar de forma descontrolada, pode ocupar ro garantido.
áreas de floresta, afetando negativamente o estabelecimento Entretanto, o manejo do plantio deve ser bem re-
e desenvolvimento de espécies nativas. Esse controle pode ser alizado, para que não haja disseminação da espécie de
realizado por meio da colheita dos frutos, acarretando na re- forma descontrolada, prejudicando o desenvolvimento
dução da dispersão e regeneração da espécie em áreas inade- e/ou surgimento de plantas nativas.
quadas.

12
MECANIZAÇÃO

LOCAÇÃO DE MÁQUINAS
ALTERNATIVA PODE GERAR
ECONOMIA DE ATÉ 15%
Divulgação Komatsu

A
locação de máquinas para atuação no segmento flo- sideração as despesas mensais com manutenção. De acordo
restal pode ser uma opção mais econômica, se com- com o especialista, em um caso hipotético de uma colheita-
parada aos custos de aquisição e manutenção de um deira destinada a operações de corte, a economia seria de qua-
equipamento desse tipo. De acordo com análise realizada pela se 10% por equipamento. “É importante lembrar que a op-
Ouro Verde, especialista em gestão e terceirização de frotas ção pela locação permite recuperação de crédito proveniente
de veículos, a economia de recursos pode chegar a 15% em al- de recolhimento dos impostos PIS e Cofins, que tem alíquo-
guns casos. Tudo depende do tipo de maquinário, quantidade ta de 9,25%”, destaca.
de veículos locados e também do modo de operação. O gerente explica, ainda, que veículos desse tipo costu-
No geral, entre as vantagens da alternativa para a empresa mam ficar imobilizados por 72 meses, no caso de compra,
que opta pela locação estão o menor índice de endividamento sendo que, após os primeiros 36 meses de uso, ele deixa de
e redução da descapitalização, já que não é necessário dispor ter boa disponibilidade mecânica, o que acarreta em maio-
de grandes investimentos para a compra de ativos. res custos de manutenção e, consequentemente, menor pro-
Além disso, a modalidade de locação proporciona aumen- dutividade.
to da produção média e da produtividade do maquinário, de- Por outro lado, no caso da locação, o tempo de contra-
vido ao potencial para redução do número de equipamentos to costuma ser de 36 meses, garantindo que a utilização da
utilizados. Com isso, de acordo com o Head comercial de mesma seja mais produtiva.

novembro/dezembro 2020
locação de Pesados da Ouro Verde, Marluz Renato Cariani, Percentualmente, de acordo com o engenheiro, um equi-
conquista-se aumento da receita média e maior foco no negó- pamento utilizado por apenas 36 meses tem produtividade
cio para a empresa contratante. média de 87%, enquanto um utilizado pelo dobro do tempo
Outra grande vantagem da locação está relacionada com tem produtividade média de 75%. “Dependendo do número
a desmobilização do equipamento, que é facilitada pela em- de máquinas e tipo de equipamento locado, isso pode repre-
presa terceirizadora. sentar ganho de produtividade de aproximadamente 1,5 mês
Para o setor florestal, podem ser locadas máquinas desti- por ano”, ressaltou.
nadas ao transporte, colheita, silvicultura e manutenção de es-
tradas. De acordo com Cariani, a maioria das empresas ainda
opta pela compra de maquinário, no entanto, tem aumentado Sobre a Ouro Verde
o número de adeptos à locação de máquinas no setor florestal.
“Antes não havia opção assertiva que representasse vantagem Com mais de 45 anos, a Ouro Verde é especialista em
financeira na terceirização. Atualmente, já é uma alternativa gestão e locação de frotas de veículos, máquinas e equipa-
viável e que representa maior produtividade dos equipamen- mentos pesados para clientes corporativos. A companhia,
tos e economia de recursos”, explicou. recentemente adquirida pela canadense Brookfield, ofere-
ce o serviço de gestão de frota de forma integrada, contan-
Comparativo do com uma plataforma completa de serviços agregados
que incluem soluções tecnológicas, manutenção e opera-
Ainda segundo o gestor, além de comparar o valor de com- ções de ativos.
pra e os custos envolvidos na locação, a análise leva em con-

13
REBROTA

RESULTADOS
FERTILIZANTE DE LIBERAÇÃO LENTA
NA REBROTA DO EUCALIPTO
Kyvia Pontes Teixeira das Chagas o manejo do eucalipto pelo sistema de talhadia é possível com
Thiago Cardoso Silva a condução das brotações (Ferraz Filho et al. 2014).
O sistema de rebrota varia de acordo com a espécie plan-
Tarcila Rosa da Silva Lins
tada, no qual as árvores devem ser cortadas na época das chu-
Emmanoella Costa Guaraná Araujo vas, o mais próximo possível do solo, e antes do corte deve ser
Gabriel Mendes Santana aplicado fertilizante entre as linhas do plantio.
Doutorandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal
do Paraná (UFPR) Vantagens
César Henrique Alves Borges
Doutorando em Ciências Florestais - Universidade Federal A vantagem de utilizar esta forma de produção é a manu-
Rural de Pernambuco (UFRPE) tenção das características e produtividade do indivíduo ori-
Ernandes Macedo da Cunha Neto ginal, em plantio clonal, quando bem conduzida, claro. Esta
Mestrando em Engenharia Florestal - UFPR prática é bastante utilizada, principalmente por empresas flo-
Lucas Coutinho de Miranda restais que alcançam médias de produção semelhantes àque-
Graduandos em Engenharia Florestal - Universidade Federal las encontradas na primeira rotação, dependendo das condi-
Rural da Amazônia (UFRA) ções edafoclimáticas (Gonçalves et al, 2014).
Um dos fatores que contribui para uma rebrota bem-su-
cedida é a utilização dos fertilizantes de liberação lenta, uma
vez que a liberação gradual dos nutrientes reduz a perda por

A
condução dos povoamentos florestais pode ser reali- lixiviação, ou seja, pelas águas que percorrem o solo, manten-
zada por meio do regime de alto fuste ou talhadia. No do os níveis adequados para o crescimento e desenvolvimen-
alto fuste, a recomposição é obtida por meio do plan- to durante todo ciclo.
tio de mudas, enquanto na talhadia o povoamento é formado Assim, este texto busca orientar sobre o manejo da rebro-
pela rebrota das cepas deixadas após o corte das árvores (Ri- ta, bem como a utilização de fertilizantes de liberação lenta
beiro et al. 2002). em plantios de eucalipto.
Depois do corte, algumas árvores emitem brotos a partir
de gemas dormentes presentes na cepa (Xavier et al., 2013) e Ação do fertilizante
novembro/dezembro 2020

Antigamente, a adubação do povoamento em regime de ta-


lhadia não era difundida, pelo fato de que o rápido crescimento
dos brotos presumia uma quantidade de nutrientes suficiente
para manter a produtividade (Barros et. Al, 2013).
Com o passar do tempo foi observada a necessidade de
fertilização para o desenvolvimento adequado dos indivídu-
os, sendo necessários estudos para criar técnicas com melhor
custo x benefício, e os fertilizantes de liberação lenta foram a
opção mais atual.
Os fertilizantes de liberação lenta possuem como carac-
terística principal a disponibilidade controlada dos nutrien-
tes, atendendo por mais tempo a necessidade das plantas.
O objetivo é maximizar sua utilização, reduzindo perdas no
campo (Zavaschi, 2010). Apesar dos custos elevados, esse tipo
de fertilizante reduz a frequência de aplicação, o que minimi-
za os custos operacionais.

Fotos Shutterstock

14
REBROTA

Pesquisas relatam que o número de aplicações pode ser re- tio deve ser realizado com ferramentas ou equipamentos ade-
duzido à metade, quando comparado com fertilizantes con- quados para a poda, evitando danificar o fuste do broto selecio-
vencionais, sem contar as ações positivas relacionadas à rebrota nado ou deslocar a casca das cepas (Ferrari et al., 2005). Essa
do eucalipto (Balloni; Silva, 1978; Raij et. al.,1996). etapa é importante para manter a sanidade do fuste a ser con-
Os fertilizantes de liberação lenta também podem au- duzido no plantio, com o objetivo de evitar a contaminação por
mentar a eficiência da absorção de nutrientes pela planta, fungos patogênicos e o surgimento de futuras doenças na plan-
culminando em resultados ainda mais significativos quanto ta.
ao aumento da produtividade (Trenkel, 2010). A recomendação de adubação para o uso de fertilizantes
No geral, possuem em sua composição NPK e alguns mi- de liberação lenta deve ser realizada após análise química do
cronutrientes, envoltos em um material semipermeável que se solo e laudo de um responsável técnico, com o objetivo de for-
degrada de acordo com condições edafoclimáticas combina- necer à planta os nutrientes necessários para o seu desenvolvi-
das, como o aumento da temperatura do solo, acidez e umida- mento e suprir o estoque dos nutrientes ausentes ou em bai-
de (Rossa et al, 2011; Figueiredo et al, 2012). xas concentrações no solo.
A aplicação do fertilizante de liberação lenta em dose úni- A aplicação do fertilizante é realizada em duas covetas em
ca não apresenta diferença dos fertilizantes convencionais até laterais do toco, com metade da dose em cada coveta, reco-
18 meses em plantios de eucalipto, no que diz respeito à mor- mendada pelo técnico responsável, em profundidade de cinco
talidade, produtividade ou nutrição, no entanto, reduz a ne- a 10 cm. Portanto, é necessário observar as recomendações de
cessidade de fertilização por cobertura (Silva et al, 2015). aplicação desse tipo de fertilizante, buscando não gerar preju-
Sendo assim, o regime de rebrota tem seu desenvolvimen- ízos financeiros ou danos ambientais.
to intimamente ligado à etapa de adubação, sendo necessário
escolher o método adequado de acordo com a necessidade do Investimento x retorno
plantio e custos para o produtor. Tal fato se dá pela retirada
dos nutrientes do solo, que não retornam para o sistema por O custo dos fertilizantes de liberação lenta varia de acordo
serem levados com a biomassa colhida. com a região, porém, costuma ser em média cinco vezes maior
que o valor dos fertilizantes convencionais (Cantarella, 2007).
Implantação da técnica Por apresentarem maior custo e quantidade de nutrientes, seu
uso é indicado e justificado pelo maior valor econômico atri-
Como forma de reação biológica das árvores, após o cor- buído ao produto madeireiro gerado pelas brotações.
te surgem as rebrotas, que apresentam grande quantidade de No caso da condução de rebrotas, os fertilizantes de li-
brotos (Ferrari et al., 2005). Neste processo ocorre um raleio beração lenta aumentam a eficiência por reduzirem as perdas

novembro/dezembro 2020
natural, denominado autorraleio, que reduz para aproxima- no campo, uma vez que os nutrientes vão aos poucos sendo
damente cinco ou seis brotos, que não devem ser mantidos liberados no solo, e assim disponibilizados para a absorção
neste número, sob pena de gerar produtos com deformidade. das raízes. Portanto, esse tipo de fertilizante está menos su-
Por isso, é recomendado deixar apenas dois ou três brotos jeito a perdas por lixiviação, volatilização ou carreamento dos
na cepa até atingirem 18 meses, e logo em seguida apenas um, nutrientes (Machado et al., 2016).
que se desenvolverá como fuste principal da árvore (Couto et Outra vantagem observada está relacionada ao tipo de
al., 1973; FAO, 1980). solo que os plantios florestais estão estabelecidos. Muitas ve-
Os brotos escolhidos, quando alcançarem a idade entre 12 zes esses solos são arenosos e com baixa capacidade de tro-
a 18 meses para condução, devem apresentar potencial em re- ca catiônica, portanto, a perda de nutrientes por lixiviação é
lação ao desenvolvimento e sanidade, sendo retos e vigorosos. grande quando aplicados fertilizantes convencionais, o que
Uma outra recomendação é que se deve escolher os brotos que diminui consideravelmente com o uso de fertilizantes de li-
provenham de gemas latentes mais baixas em relação à parte beração lenta.
superior do toco, para que o calo formado se fixe na parte su- Como há a aplicação de fertilizante durante todo o ciclo
perior das cepas, uma vez que as brotações laterais possuem a da rebrota do eucalipto, o uso dos fertilizantes de liberação
tendência de desprender com o peso dos novos fustes ou até lenta é viável, por permitir a redução das operações de adu-
mesmo com a ação do vento (FAO, 1981). bação. Considerando que o valor gasto com adubos e corre-
ções do solo representa até 50% do custo variável do estabele-
Recomendações cimento de plantios florestais e condução de rebrotas (Lemes,
2017), a utilização de fertilizantes de liberação lenta é uma al-
O corte dos brotos inapropriados para a condução do plan- ternativa promissora para ser aplicada.

15
OPÇÃO

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Shutterstock

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sucroenergético.

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novembro/dezembro 2020

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16
PÓS-COLHEITA

SECAGEM E
TRATAMENTO
DA MADEIRA
VANTAGENS PARA
O PRODUTOR
Annie Karoline de Lima Cavalcante
annie.karolinelima@gmail.com
Luana Candaten
luana_candaten@outlook.com
Engenheiras florestais e mestrandas do Programa de Pós-
Graduação em Recursos Florestais - USP
Elias Costa de Souza
Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e
Luize Hess

doutorando do Programa de Pós-Graduação em Recursos


Florestais – USP
eliasrem@hotmail.com

A
secagem da madeira consiste em remover a água da demanda pelo produto aumente, o produtor pode considerar
madeira de tal forma a obter peças de madeira – se- a terceirização da secagem, ou mesmo a implantação de se-
jam elas tábuas, ripas, pranchas, etc. – com melhores cadores.
propriedades de resistência mecânica e biológica, além de me- Dentre as diferentes técnicas de secagem da madeira, a
lhor estabilidade dimensional. secagem ao ar livre apresenta o melhor custo-benefício para
A secagem da madeira pode ser classificada em processos pequenas propriedades rurais, pois os recursos despendidos
artificiais e naturais. Dentre os métodos de secagem artificial, no processo são mínimos, já que para a aplicação da técni-

novembro/dezembro 2020
também conhecidos como secagem convencional, são utili- ca é necessário apenas um pátio de secagem sem obstáculos
zadas estufas e secadores, com controle de temperatura, umi- (quebra-vento) próximos, respeitando a direção predominan-
dade e circulação forçada de ar para a remoção da umidade da te dos ventos.
madeira. Este processo representa a parcela mais significati- Os pátios de secagem são locais onde as peças de madeira
va dos custos de produção da madeira serrada. Já nos proces- serão dispostas em forma de pilhas, sendo que o tipo e arranjo
sos naturais, são utilizados apenas o vento e a luz solar para da pilha varia em função da madeira a ser seca.
a secagem da madeira.
Preparo do terreno
Técnicas de secagem:
como adaptar para a sua realidade? Os pátios de secagem devem ser preparados de forma a
serem planos, com uma leve inclinação que permita a drena-
Para definir qual o melhor processo a ser adotado, o pro- gem do local. A disposição das pilhas nos pátios afeta dire-
dutor deve ter em mente o volume (m³) de madeira que vem tamente a velocidade de secagem, sendo assim, no caso em
sendo secado e quantos m³ são vendidos, além de considerar que as espécies necessitem de uma secagem mais branda, as
a mão de obra empregada e as previsões de aumento da de- pilhas devem ser posicionadas com distâncias menores entre
manda. elas, e o inverso no caso de espécies que suportam uma se-
Nos casos em que o volume seco e vendido são poucos m³ cagem mais rápida.
de madeira, o mais indicado é que sejam adotadas técnicas de Os principais tipos de empilhamento são: entabicamen-
secagem ao ar livre. Caso haja o intuito de aumento da pro- to, tesoura e gaiolas:
dução ou uma mudança da curva oferta/demanda, em que a No caso de pilhas entabicadas, são utilizados separadores

17
PÓS-COLHEITA

de madeira, chamados de tabiques, a cada camada disposta. O peças. Ou seja, a secagem pode reduzir as chances de ocorrên-
número e as dimensões dos tabiques variam conforme a espé- cia de surpresas indesejadas quando o material já está instala-
cie e a propensão ao aparecimento de defeitos, como rachadu- do, como a formação de espaços entre a madeira, etc.
ras e empenamentos, sendo respeitados valores pré-estabeleci- Além dos parâmetros estruturais relacionados ao bene-
dos; fício da aplicação da secagem da madeira, existem ainda as
O empilhamento em tesoura consiste em organizar as tá- questões relacionadas ao apodrecimento, emboloramento e
buas verticalmente aos dois lados de um cavalete, não sendo manchamento da mesma, que podem ser reduzidas com a se-
utilizados separadores; cagem. Isso porque, com a saída da água da madeira, as pos-
No caso do empilhamento em gaiolas, também conheci- sibilidades de desenvolvimento de organismos xilófagos no
do como empilhamento triangular, as peças são dispostas com material, tais como, cupins, fungos, brocas, entre outros, são
o intuito de formar um triângulo, sendo apoiadas em contato significativamente reduzidas.
umas com as outras. Atrelado ao processo de secagem, se a intenção do produ-
Em ambos os casos de empilhamento, devem ser conside- tor for destinar o material visando mais tempo em uso, são re-
radas as características da madeira a ser secada, pois há uma comendadas aplicações de tratamentos preservativos da ma-
maior tendência ao aparecimento de defeitos nas madeiras ao deira, os quais têm o objetivo de preservar contra o ataque de
adotar essas técnicas. organismos vivos, que foram citados anteriormente.

Relação com a produtividade Entre um e outro

Em termos de produtividade, as técnicas de secagem ao Apesar de a secagem conferir ao material uma maior du-
ar livre apresentam desvantagens, quando comparadas aos rabilidade, essa não é tão longa quanto a oferecida pelos pro-
processos artificiais, pois dependem das condições climáticas cessos de preservação da madeira. Os mais aplicados são em
para que a secagem seja realizada, além de o teor de umida- escala industrial, porém, existem muitas técnicas que podem
de final ser acima daqueles obtidos em estufas e secadores in- ser empregadas na própria propriedade, as quais variam de
dustriais. acordo com o investimento nos produtos e na mão de obra.
Sendo assim, o produtor terá um estoque/capital congela- Entre os tratamentos de fácil aplicação, pode-se citar o
do até que estas peças estejam totalmente secas. uso de óleo queimado na madeira, o qual, por suas proprieda-
des de forte odor, conferem uma ligeira preservação do ma-
Benefícios da secagem de madeira terial, seguido da aspersão de produtos, como o popular jimo.
Já tratamentos mais refinados também podem ser reali-
A secagem da madeira, quando aplicada de forma correta, zados na propriedade, com um pouco mais de investimento,
agrega muitos benefícios para o material, pois, com a retira- como por exemplo, o método da substituição de seiva, o qual
da da água, é possível obter maior estabilidade dimensional às parte do material recém-extraído da floresta, descascado, que
Bela Vista Florestal
novembro/dezembro 2020

18
PÓS-COLHEITA

Luize Hess

fica mergulhado num galão com a solução por um certo perí- No caso de espécies com maior propensão a apresentar em-
odo pré-determinado. Dessa forma, por diferença de pressão, penamentos e rachaduras, como o caso do eucalipto, o melhor
a seiva é substituída pelo produto preservante. método a ser aplicado é o entabicamento, adotando pilhas pró-
ximas umas das outras, reduzindo assim a velocidade de seca-
Defeitos da secagem: como reduzir gem. Para evitar a incidência dos defeitos já citados e garantir
um produto com melhor qualidade, a secagem ideal deve ser
As técnicas de secagem e tratamento da madeira, mes- lenta e gradual.
mo que caseiras, são fortemente recomendadas para a melho-
ria da qualidade do material. Porém, quando esses processos Pesquisas
não são bem realizados, algumas implicações podem ser ob-
servadas, trazendo consequências negativas aos produtos, re- Alguns estudos realizados mostraram que o pro-
duzindo a qualidade do material e até mesmo impedindo o cesso de secagem natural da madeira serrada leva em
seu uso e aplicação. torno de 30 a 90 dias, de acordo com as característi-
Nesse sentido, torna-se necessário o mínimo de estudos e cas de clima do local em que se aplica. Já para a seca-
manejo técnico para a aplicação da secagem da madeira, sen- gem de madeiras na condição de toras, a mesma pode

novembro/dezembro 2020
do fundamental o conhecimento das características básicas da levar meses e até mesmo anos, e nesse tempo o mate-
espécie madeireira que está sendo utilizada, bem como o desti- rial pode passar por apodrecimentos e demais causas
no final desse material e em qual ambiente o mesmo será em- oriundas da biodeterioração.
pregado. Por isso, recomenda-se o seccionamento da ma-
Além do conhecimento sobre as características da es- deira para o processo de secagem, mas quando não é
pécie e da utilização de uma área plana e com baixa umida- possível, o indicado é que se mantenha a tora com a
de, sempre que possível deve-se iniciar a secagem suspensa, e casca, a qual atuará como uma barreira para a entrada
não diretamente em contato com o solo, evitando a propensão de organismos xilófagos no material.
de ataque de organismos nas peças, quando as mesmas ainda Com relação ao teor de umidade obtido no final
possuem alta umidade. do processo, quando se trata de secagem ao ar livre,
Essas informações são relevantes para a correta e bem-su- conduzida em localidades rurais, será possível obter o
cedida secagem da madeira, sendo que peças maiores precisam teor de umidade de equilíbrio local, ou seja, a madeira
ter tabiques separadores maiores, para que ocorra a passagem vai atingir o teor de umidade daquela região e, com
de vento entre as tábuas, proporcionando a secagem de toda a isso, não apresentará novas rachaduras ou demais de-
peça e não apenas de suas extremidades. feitos, se o processo for bem conduzido.
Como na secagem ao ar a velocidade do vento não é con- A umidade de equilíbrio chega em torno de 11 a
trolada, mas apenas o espaçamento e formato em que as peças 12% em quase todo o território brasileiro, atingindo
são submetidas ao processo, isso também pode ser um proble- cerca de 15% em regiões mais úmidas, como no Nor-
ma, causando defeitos como empenamentos, arqueamentos, te do País.
encanoamentos e rachaduras nas peças.

19
20
novembro/dezembro 2020
CAPA
CAPA

INCÊNDIOS FLORESTAIS
A REALIDADE SOBRE O FOGO
QUE CONSOME O BRASIL
Os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas são os responsáveis pelo
maior número de focos detectados até setembro de 2020. A nível de bioma,
para o mesmo período, a Amazônia concentrou 47,4% dos focos, o Cerrado
28,7%, Pantanal 11,4%, Mata Atlântica 8,7%, Caatinga 2,9% e o Pampa 0,96%.

novembro/dezembro 2020

Shutterstock

21
CAPA

Fernanda Moura Fonseca Lucas Espaciais (INPE), sendo este valor o recorde observado para o
Engenheira florestal e mestranda pelo programa de Pós- mesmo período nos últimos 10 anos (2011-2020).
Graduação em Engenharia Florestal - Universidade Federal do
Paraná (UFPR) Ecossistema em perigo
fernanda-fonseca@hotmail.com
Bruna Kovalsyki Os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas são os
Engenheira florestal e doutoranda pelo programa de Pós- responsáveis pelo maior número de focos detectados até se-
Graduação em Engenharia Florestal – UFPR tembro de 2020. A nível de bioma, para o mesmo período,
kovalsyki.b@gmail.com
a Amazônia concentrou 47,4% dos focos, o Cerrado 28,7%,
Alexandre França Tetto Pantanal 11,4%, Mata Atlântica 8,7%, Caatinga 2,9% e o
Engenheiro florestal, doutor e professor do curso de Engenharia Pampa 0,96%.
Florestal - UFPR Por ser um ecossistema sensível ao fogo, a Amazônia não
apresenta uma flora com características evolutivas adaptadas

O
s incêndios florestais são uma das principais ameaças à passagem de incêndios. Anualmente, manchetes no mundo
à biodiversidade de ecossistemas não dependentes do relatam os desastres proporcionados pela ocorrência do fogo
fogo. Este tipo de distúrbio pode ocorrer de forma na região.
natural ou por atos antrópicos, sendo o último caso relacio- O fato é que em condições normais, devido à alta umida-
nado principalmente a atividades de uso e ocupação do solo. de, o material combustível presente no interior da floresta ra-
Além das perdas ecológicas, a queima da biomassa pro- ramente entraria em ignição. Entretanto, esta realidade tem
veniente dos incêndios emite altas concentrações de carbono se modificado com o passar dos anos, basicamente devido à
para a atmosfera, comprometendo a qualidade do ar e resul- fragmentação de habitats pela expansão agrícola e as oscila-
tando em diversos riscos à saúde pública. ções climáticas, principalmente em anos com eventos como
No Brasil, o período que se estende de julho a outubro (Fi- El Niño, que reduz a quantidade de chuvas para a região, tor-
gura 1) corresponde à temporada mais crítica para ocorrência nando a floresta mais propícia à propagação das chamas.
de incêndios florestais, por ser também o período mais seco em Uma das causas mais graves de ignição está associada ao
diversas localidades. desmatamento, em que o fogo é utilizado ao final do proces-
so para limpeza da área aberta, por meio da queima dos restos
Condições para o fogo vegetais não explorados.
Diferentemente da Amazônia, o Cerrado e o Pantanal
A baixa umidade relativa, temperaturas elevadas, peque- apresentam tipos de vegetação mais dependentes e resilientes
na precipitação e ventos fortes resultam em uma atmosfera à passagem das chamas. Apesar disso, a situação evidenciada
perfeita para a propagação do fogo. Nos nove primeiros me- em 2020 para o Pantanal é extremamente alarmante. Embo-
ses de 2020, mais de 226 mil km² foram queimados em todo ra as espécies vegetais do bioma apresentem traços funcionais
o País e 160.459 focos de calor foram identificados por meio de proteção ao fogo, a intensidade dos incêndios presentes na
do satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas região este ano podem alterar o seu funcionamento ecológi-

Construção e manutenção de aceiro Figura 1. Média mensal da área queimada (km²) no Brasil de 2010
a 2019
novembro/dezembro 2020

100.000
Área queimada (km2)

80.000

60.000

40.000

20.000

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out nov Dez
Meses
Fonte: INPE, 2020

22
CAPA

Figura 2. Quantidade de área queimada (km²) no Pantanal de


2010 a setembro de 2020.

35.000

30.000

Área queimada (km2) 25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Anos
Fonte: INPE,2020
Fotos Heitor Renan Ferreira

co. Isso porque somente nos nove primeiros meses o bioma mas de lixo, fogueiras e balões, por exemplo. Assim, uma das
teve 32.910 km² de áreas queimadas, superior ao valor obti- formas mais simples de se evitar incêndios é por meio da eli-
do em todo ano de 2019, que já se tratava de uma taxa anor- minação das fontes de ignição, principalmente durante o pe-
mal (Figura 2). ríodo de seca (de julho a outubro).
Além disso, o Pantanal apresenta alta densidade de focos Por vezes, durante esse período, o Governo suspende a
de calor, uma vez que mais de 11% das detecções obtidas em permissão para o emprego de fogo por meio de decretos,

novembro/dezembro 2020
todo o País neste ano foram registradas para o bioma, que é o como o Decreto Federal n° 10.424, de 15 de julho de 2020,
menor em área territorial (150 mil km²), induzindo a percep- que se estende por um prazo de 120 dias e é válido para todo
ção de alta severidade das queimadas. o território nacional.
A estiagem e o baixo nível dos rios, associado à falta de Quando se faz necessário a aplicação de queima contro-
medidas preventivas, têm transformado o Pantanal em cinzas. lada, essa deve ter prévia autorização do órgão competente,
No Estado do Mato Grosso, o Parque Estadual Encontro das como demais determinações previstas pelo Decreto n° 2.661,
Águas já teve mais de 60% da sua área queimada, sendo este o de 8 de julho de 1998.
ambiente que abriga a maior concentração de onças pintadas Um dos principais aliados para a redução das fontes de
por quilômetro quadrado do mundo. ignição são campanhas de sensibilização da população sobre
Estes eventos, que assolam diversas localidades do País, o fogo, que podem ser dirigidas a comunidades específicas,
têm proporcionado perdas imensuráveis à biodiversidade, bem população em geral ou voltadas a crianças e jovens. No Bra-
como danos socioeconômicos. Outra situação, que também sil, o mascote “Labareda”, um simpático tamanduá criado em
preocupa diversos especialistas, é a exposição da população à 1992, é o símbolo oficial de campanhas de prevenção dos in-
fumaça e os riscos iminentes à saúde pública, que hoje vive um cêndios florestais.
grave quadro associado à pandemia da Covid-19.
Perigo à vista
Para evitar o fogo: previna-o
Uma importante informação a ser compartilhada diaria-
As principais causas de incêndios florestais no Brasil são mente com a população é o grau de perigo de incêndios flo-
antrópicas, como queimadas para limpeza de terreno, quei- restais, o qual pode ser obtido por índices de perigo de in-

23
CAPA

cêndios florestais, como a Fórmula de Monte Alegre (FMA), Apesar dos esforços em se prevenir a ocorrência de incên-
baseada nas condições meteorológicas da região em questão. dios florestais, nem todos conseguem ser evitados. Assim, a
Obter essa informação auxilia no planejamento de ativida- rápida detecção de focos de fogo é fundamental para as ativi-
des de prevenção e combate a incêndios florestais, tornando- dades de combate. Sempre que você observar focos de uma
-os mais eficientes. queimada, comunique o corpo de bombeiros, informando a
Atuando na quebra da continuidade horizontal de com- localidade e pontos de referência. Lembre-se: prevenir é me-
bustíveis, os aceiros – faixas livres de vegetação de largura va- lhor que combater!
riável (não menor que cinco metros) – atuam como barreiras
da propagação dos incêndios, impedindo ou dificultando o seu Combatendo os incêndios florestais
avanço, e ainda podem auxiliar nas ações de combate, facilitan-
do o acesso a áreas mais críticas. A manutenção dessas faixas O combate aos incêndios florestais pode ser dar por méto-
livres de vegetação deve ser realizada antes do período crítico dos diretos, indiretos ou paralelos.
de ocorrência de incêndios. a) Método direto: normalmente são utilizados para con-
Outra opção de barreiras para dificultar a propagação do trolar eventos de menor proporção. Neste método, o combaten-
fogo são as cortinas de segurança, ou barreiras verdes. Estas te se aproxima da chama e realiza o ataque com uso de abafado-
são faixas de espécies que apresentam baixa inflamabilidade, res, terra (pás) ou água (bomba costal, moto-bombas).
ou seja, são mais difíceis de queimar, e que podem ser implan- b) Método paralelo: utilizado quando a intensidade do
tadas ao longo de aceiros ou estradas, ou perpendicularmente fogo não é grande, mas que não é possível fazer o ataque di-
ao sentido predominante do vento, sempre que possível. Pes- reto. Neste método, são construídos pequenos aceiros parale-
quisas com inflamabilidade de espécies vêm sendo desenvol- los à linha de fogo.
vidas pelo Laboratório de Incêndios Florestais da Universida- c) Método indireto: normalmente são aplicados a incên-
de Federal do Paraná. dios de grandes proporções, onde não há possibilidade do com-
batente se aproximar da linha de frente. Neste caso, são abertos
aceiros em uma distância segura, podendo utilizar, também,
contra-fogo.
Após a redução da intensidade por meio do método indi-
reto ou paralelo, realiza-se o ataque direto. Além dos métodos
Em 2020, no Brasil convencionais listados anteriormente, em incêndios florestais
de grandes proporções também são utilizados aviões-tanque
226 mil km² e helicópteros, que podem atuar lançando água ou retardan-
tes químicos.
queimados
Erros fatais
60.459 Os erros mais comuns nos combates estão associados à fal-
focos de calor identificados ta de planejamento e de utilização de ferramentas adequadas.
Para iniciar a atividade, deve-se realizar um breve estudo da si-
tuação, sendo adequado a ação de equipes treinadas e com uti-
lização de equipamentos e ferramentas recomendadas.
novembro/dezembro 2020

Sempre que possível, a atividade deve ser realizada em ho-


rários mais amenos (como durante a noite/madrugada), que
apresentam temperaturas mais baixas e umidade mais alta, po-
dendo, assim, obter resultados mais eficientes. Quanto maior
for a extensão da área atingida, mais difícil será o combate, de-
vendo as equipes manter-se em revezamentos. Finalizando o
combate, é recomendado ampliar o aceiro e manter uma equi-
pe de patrulha na área.
Um trabalho importante e que tem evitado incêndios de
grandes proporções é a atuação das brigadas do Centro Nacio-
nal de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PREV-
fogo/IBAMA).
Os brigadistas realizam um curso preparatório e só após a
formação, atuam em atividades preventivas e de combate aos
incêndios florestais nas unidades de conservação e em seu en-
torno. Dentre as atribuições, realizam construções e manu-
tenções de aceiros, vigilância e monitoramento, educação am-
biental, estabelecem calendários de queimas para produtores
rurais e, quando necessário, desenvolvem o manejo integra-
Incêndio em floresta nativa do do fogo.

24
CAPA

m maior númer
co o

de
s
do

Focos por bioma

foc
Esta

Floresta Amazônica 47,4%

os
Cerrado 28,7% Pará
Arquivo Amazonas
Pantanal 11,4%
Mata Atlântica 8,7%
Caatinga 2,9% Mato

novembro/dezembro 2020
Pampa 0,9% Grosso

Base da árvore mostrando a casca queimada e


a queda de folhas uma semana após o incêndio

Ameaça

A ocorrência de incêndios florestais é uma realidade


que ameaça diversas partes do mundo, sendo necessário o
incentivo a atividades preventivas e a realização de pesqui-
sas capazes de desenvolver novas técnicas para auxiliar na
tomada de decisão.
Bela Vista Florestal

Investimentos devem ser destinados para órgãos fisca-


lizadores e as ações de prevenção e monitoramento devem
ser redobradas próximo e durante a temporada crítica.

25
MECANIZAÇÃO

UTILIZAÇÃO E SEGURANÇA
MOTOSSERRAS NA COLHEITA E
EXPLORAÇÃO FLORESTAL
Fotos Pixabay

Ageu da Silva Monteiro Freire como o machado, apresentando no início grande peso e ope-
Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e ração por duas pessoas, sendo melhorada no decorrer do tem-
doutorando em Engenharia Florestal – Universidade Federal do po, deixando-a mais leve e segura.
Paraná (UFPR) A importância dela é, principalmente, no manejo de pe-
ageufreire@hotmail.com quenas áreas, devido à inviabilidade econômica de equipa-
Amanda Brito da Silva mentos tecnológicos de grande escala em pequenas proprie-
amandab_silva12@hotmail.com dades rurais.
Joaquim Custódio Coutinho Uma das principais vantagens do uso da motosserra é
joaquimcustodiocoutinho@gmail.com a produtividade individual elevada, com baixo custo inicial.
Engenheiros florestais e mestres em Ciências Florestais - Contudo, essa atividade semimecanizada requer técnicas es-
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pecíficas de corte e segurança no manuseio para obter maior
produtividade e não ocasionar acidentes.
novembro/dezembro 2020

Técnicas de corte e uso da motosserra

A
produção de madeira serrada no Brasil tem tido gran-
de destaque nos últimos anos, com contribuição sig- A motosserra atua essencialmente por um motor e um
nificativa do setor florestal na economia nacional nos sabre de corte. O uso de técnicas de corte da árvore em pé
últimos anos. Os principais produtos destacados da indústria de consiste praticamente em dois cortes no tronco. O primeiro
madeira processada mecanicamente são vigas, tábuas, pranchas, é relacionado à retirada de uma cunha (a partir de um ângulo
pontaletes, sarrafos, ripas, entre outros. de 90 graus e a cerca de 1/4 a 1/3 do diâmetro), isso na dire-
Além disso, a colheita florestal teve um avanço na moder- ção que se deseja a queda da árvore.
nização de máquinas, principalmente para aumentar a produ- O segundo corte é realizado do lado oposto ao primeiro
tividade e diminuir os custos. Diferentemente, a exploração corte (podendo ser de 5,0 cm mínimo acima do corte em V
florestal ainda possui um sistema manual e semimecanizado. inicial). Com isso, a árvore será derrubada na direção deseja-
Apesar do destaque para aplicação de tecnologias no se- da (Lopes et al., 2001).
tor florestal, temos a motosserra como ferramenta indispen- Erros na profundidade e ângulo podem ocasionar em ra-
sável ao pequeno produtor e também para algumas empre- chadura da árvore no momento da derrubada. Caso o com-
sas florestais. primento do sabre seja maior do que o diâmetro da árvore, o
corte de queda pode ser feito em um movimento, mas se for
Evolução menor, a posição da motosserra deve ser mudada várias ve-
zes. É importante ressaltar que podem ser realizados cortes
A máquina surgiu para substituir equipamentos manuais, nas árvores já derrubadas.

26
MECANIZAÇÃO

Tipo de motosserra o uso de forma profissional, as melhores e as mais indicadas


para esses tipos de serviços são as com motores a gasolina, de-
A escolha da ferramenta perfeita para o trabalho vai de- vido à potência de trabalho.
pender principalmente do serviço que será realizado e do lo- Essas motosserras também vêm com uma variedade de
cal. Como exemplos para as pequenas áreas de plantação, uma comprimentos de barra para atender às exigências do seu tra-
ferramenta com motor a combustão de até 52 cilindradas pode balho. Em contrapartida, existem as motosserras elétricas e as
ser essencial. de baterias, que são leves, compactas, fáceis de carregar, não
Já para uso em lugares internos, ou arborização urbana, a emitem gases, são silenciosas quando comparadas às de moto-
ferramenta elétrica pode ser uma boa pedida. res a gasolina e ideais para ambientes fechados.
Normalmente, são usadas para aparar galhos pequenos de
Escolha da motosserra árvores, cortar pequenos troncos e outros afazeres de corte em
sua casa ou quintal. Contudo, são limitadas: as elétricas pre-
Nas diversas atividades do campo ou da cidade que exigem cisam de tomadas e as com baterias têm um tempo específi-
corte ou derrubada de árvores, desgalhamento, traçamento e co de funcionamento.
destopamento, o uso de uma motosserra faz toda diferença, já
que torna o trabalho mais fácil, rápido e simples. Manutenção
Porém, cada tipo de serviço exige o uso de um equipa-
mento específico. Para escolher a máquina exata para sua ne- A troca de peças da motosserra ou até mesmo da máquina
cessidade, é preciso primeiro saber o que deseja cortar e o lo- vai variar de acordo com a manutenção preventiva dos equi-
cal onde você vai trabalhar. pamentos, sejam elas diárias, após o seu uso, ou a recomenda-
Existem vários tipos de motosserra que variam de acor- da pelo fabricante.
do com a potência do motor e o tamanho do sabre. Em rela- Temos como por exemplo a limpeza do filtro de ar, da
ção aos tipos de motores, temos aqueles à combustão (à base tampa do pinhão e as aletas do cilindro. Em relação ao sa-
de gasolina), os elétricos e com baterias. bre, virá-lo a cada troca ou afiação da corrente, de modo a evi-
Se você procura motosserras que sejam capazes de cortar tar o desgaste unilateral, como também manter seus orifícios
troncos com grandes diâmetros, trabalhos pesados ou fazer limpos e lubrificados.

novembro/dezembro 2020

IMPORTANTE!
ANTES DO CORTE, CONSIDERE
Tipo de motosserra;
Inclinação do tronco a ser derrubado;
Distribuição da copa e situação de galhos;
Limpeza ao redor da árvore (área de trabalho);
Direção desejada para o tombamento;
Rota de fuga;
Localização dos colegas de trabalho;
Uso da técnica de corte apropriada.

27
MECANIZAÇÃO

Procurar verificar se os dispositivos de segurança estão em multa de três meses a um ano de detenção para quem comer-
dia, observar se o cordão de arranque precisa ser trocado (evi- cializar ou utilizar motosserra sem licença ou registro. Já o art.
tando assim que se rompa durante o trabalho), a limpeza e 57 do Decreto Federal 6.514 de 2008 estabelece multa de R$
reaperto de parafusos e porcas; avaliar se a corrente está bem 1.000,00 por unidade.
tensionada e afiada e, por fim, verificar se o sistema de lubrifi- Uma das principais causas de acidente com motosserra é
novembro/dezembro 2020

cação está funcionando corretamente (Senar, 2017). decorrente do rebote, que é um movimento inesperado e sem
controle da máquina, em que ela vai em direção ao opera-
Viabilidade dor. Alguns cuidados são importantes para evitar que o rebo-
te ocorra, como segurar firmemente a máquina com as duas
As motosserras têm poucas desvantagens quando se leva mãos, não utilizar a máquina em altura acima dos ombros e
em consideração o custo-benefício. Entretanto, antes de ob- também não operar com corpo inclinado para frente.
ter uma máquina é necessário ter em mente quais ativida- A manutenção da motosserra também deve ocorrer, para o
des serão desempenhadas, para que tenha uma potência ideal corte ser sempre preciso, nunca começando com a ponta supe-
para o trabalho, visto que no mercado existem marcas mun- rior do sabre, pois ela pode atingir partes mais duras e ocasionar
dialmente conhecidas, que suprem todos os tipos de necessi- o rebote. Também não se deve serrar mais de um galho por
dades e bolsos. vez, sempre tendo cuidado para a corrente não ficar presa em
outro galho ou pedaço cortado.
Segurança no uso de motosserras A Norma regulamentadora 17 de segurança e saúde no tra-
balho mostra que as condições de trabalho têm que se adaptar
O manuseio da motosserra de forma inadequada pode oca- às características psicofisiológicas dos trabalhadores. No caso,
sionar graves acidentes, principalmente ao operador, sendo que o operador da motosserra está exposto ao risco ergonômico,
o mesmo deve ter licença para a utilização e porte, como tam- ocasionado principalmente pelo esforço físico e má postura na
bém curso e treinamento. hora de usar a máquina, além de outros riscos, principalmen-
O art. 51 da lei 9.605 de 1998, que expressa penalidades te ocasionados pela vibração e ruído.
para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, institui Para atenuar esses riscos, o operador deve sempre estar com

28
MECANIZAÇÃO

a coluna ereta e pernas flexionadas.


Além do ambiente, que deve ser adequado para oferecer
Evite acidentes melhores condições ao operador e, consequentemente, aumen-
tar a produtividade e evitar acidentes, são necessárias medidas
Para o uso da motosserra, devem ser utilizados
de proteção individual.
equipamentos como luvas, capacetes, protetor facial,
abafador auricular e roupas específicas para prote-
Consideração finais
ção, caso a lâmina atinja o corpo. Além disso, para
garantir maior proteção, a Norma Regulamentadora
A exploração florestal sempre esteve atrelada ao ser hu-
12, que estabelece medidas de proteção em máquinas
mano em todo o mundo, e no Brasil ainda é intensa por ter
e equipamentos, diz que a motosserra é obrigada a ter
uma vasta área florestal. O uso da motosserra veio para subs-
os seguintes itens:
tituir equipamentos manuais, sendo ainda bastante utilizada,
Freio manual ou automático de corrente, um dis-
mesmo diante de avanços na mecanização agrícola.
positivo de segurança que o operador aciona com a
Apesar da melhoria na máquina, ainda há perigo no ma-
mão esquerda, interrompendo o giro da corrente;
nuseio, por isso é importante conhecer as técnicas de corte
Pino pega-corrente, um dispositivo que minimi-
e os cuidados para que não ocorram acidentes. A utilização
za o curso da corrente em caso de rompimento, para
de forma correta e a instrução do operador contribuirá para
não atingir operador;
a maior produtividade e segurança de todos.
Protetor da mão direita, uma proteção traseira,
evitando que quando houver rompimento, não atin-
ja a mão do operador;
Protetor da mão esquerda, uma proteção frontal,
que durante o corte evitará que a mão do operador
alcance involuntariamente a corrente;
Trava de segurança do acelerador, um dispositi-
vo que interrompe a aceleração involuntária.
A Norma também define que os fabricantes e
importadores devem informar os níveis de ruído e
vibração, além de manual de instrução referentes à
segurança e saúde no trabalho. Já os fabricantes e im-
portadores instalados no País devem fornecer treina-
mento e material didático às pessoas que farão uso
da máquina.
Ademais, os empregadores têm que fazer um trei-
namento com uma carga mínima de oito horas para
os operadores e similares, sendo proibido o uso delas
em lugares fechados ou insuficientemente ventilados.

novembro/dezembro 2020

29
CACAU

OS DIFERENTES SISTEMAS
DE CULTIVO DO CACAU
Arquivo

Stephanie Hellen Barbosa Gomes


stephaniehellen2011@gmail.com tro das áreas de produção de cacau, predominando nas planta-
Fernanda Moura Fonseca Lucas ções da Amazônia, Bahia e em algumas regiões da África, for-
novembro/dezembro 2020

fernanda-fonseca@hotmail.com mando 80% da produção mundial.


Engenheiras florestais e mestrandas pelo Programa de Pós- Eles possuem frutos achatados de cor violeta e são conhe-
Graduação em Engenharia Florestal - Universidade Federal do cidos comercialmente como “básico” ou “comum”. Na região
Paraná (UFPR) da Bahia, essa variedade passou por mutações, originando o
João Gilberto Meza Ucella Filho cacau catongo, que apresenta semente de cor branca. Já o gru-
Engenheiro florestal, técnico em Agronegócio e mestrando po criollo apresenta um produto de melhor qualidade porque
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da possui frutos com uma polpa mais robusta e sementes gran-
Madeira - Universidade Federal de Lavras (UFLA) des, comercialmente chamados de cacau-fino.
16joaoucella@gmail.com O cruzamento entre o tipo criollo e o forasteiro forma o
terceiro grupo de variedade, chamado de trinitário, resultando
em produtos de condição intermediária.

O
cacau (Theobroma Cacao), originário de florestas plu-
viais tropicais, é uma árvore perenifólia que pode atin- Produção
gir até 8,0 m de altura, apta a clima quente e desen-
volve-se bem em temperaturas entre 22º e 26ºC. Seu cultivo O cultivo do cacau atualmente está concentrado em três
começou no Brasil em 1679 por meio da Carta Régia que regiões do mundo, no sudoeste da Ásia, oeste da África e no
autorizava os colonizadores a plantá-lo. Existem três varie- Brasil. Aqui, o histórico da lavoura cacaueira é repleto de as-
dades dessa espécie, que são agrupados em: criollo, forastei- censões e quedas - o Brasil, que já foi o maior exportador, hoje
ro e trinitário. em dia ocupa a sétima posição mundial, sendo os Estados do
O tipo forasteiro é o mais comum e o mais difundido den- Pará e a Bahia os maiores produtores nacionais.

30
CACAU

Estima-se que as sementes advindas do Pará chegaram tes, promovendo um conforto térmico produtivo essencial
em solos baianos em 1746. A produção cacaueira apresentou para o estabelecimento e fixação da muda. No ano de 2018,
sua maior expansão entre os anos de 1890-1930, principal- agricultores do Sul da Bahia colheram mais de 200 arrobas
mente devido às condições ambientais encontradas no Esta- por hectare de cacau em sistema a pleno sol.
do, além da disponibilidade de terra e de mão de obra. Embora venha apresentando bons resultados, necessitam
No entanto, este cenário mudou no final do século XX. A de maior aporte de fertilizantes, agrotóxicos e em muitos ca-
cultura, que já vinha passando por uma crise devido à falta de sos, irrigação. Desse modo, os cultivos de cacau com pouca
incentivos de créditos aos produtos e ao baixo custo das com- sombra ou a pleno sol são considerados por muitos, menos
modities devido à expansão da atividade em países africanos, sustentáveis, envolvendo maiores riscos e custos de produção.
culminou em uma dizimação de boa parte da produção devi- Apesar disso, apresentam como vantagem a aplicação de tec-
do a uma doença conhecida como vassoura-de-bruxa. nologia, possibilidade de fertirrigação e de produção de ca-
Hoje, o cultivo passa por recuperação e tem apresentado cau fino.
resultados satisfatórios. Dentre os métodos de cultivo, des- Recomenda-se, neste sistema, o plantio inicial com ou-
tacam-se os sistemas agroflorestais, sistema cacau-cabruca e tra cultura, como a banana. Após atingir altura média, as ba-
a pleno sol. naneiras ofereceram proteção ao vento e sombreamento para
dar início ao plantio das mudas de cacau. As folhas das bana-
Sistemas agroflorestais neiras liberam potássio no solo, importante nutriente para as
mudas jovens.
A cobrança por produções em campo mais rentáveis e Além disso, oferecem um importante subproduto com-
menos nocivas ao ambiente tem impulsionado a implan- plementar à receita, as bananas. Depois de dois anos da im-
tação, por meio dos produtores, dos sistemas agroflorestais plantação das mudas, realiza-se a remoção das bananeiras, per-
(SAF’s). Este consiste na utilização de espécies florestais lenho- manecendo o cultivo do cacau solteiro a pleno sol. Diversos
sas consorciadas com culturas agronômicas e/ou animais, tra- produtores do Sul da Bahia têm adotado este sistema e obti-
zendo benefícios ambientais e produtos diversificados em um do alta produtividade, o que se constitui como preocupação
único terreno. em relação à preservação da cabruca.
Com isso, as SAF’s são apontadas como opções prefe-
renciais de uso da terra pelo seu alto potencial de aumentar Sistema cacau-cabruca
o nível de rendimento em relação a aspectos agronômicos, so-
ciais, econômicos e ecológicos. A palavra cabruca é um termo regional derivado da fra-
Devido a se apresentar como uma cultura tolerante, asso- se “vem cá brocar” a mata para plantar cacau. É um sistema ca-
ciada com outros vegetais, o cacaueiro sempre foi naturalmen- racterístico da região cacaueira do Sul da Bahia, podendo ser
te cultivado via sistema agroflorestal. Em diversas regiões, como considerado precursor dos sistemas agroflorestais. Consiste
Brasil, Nigéria e Camarões, a associação desta cultivar com es- em um modelo sustentável de agricultura tropical. Ao con-
pécies lenhosas é um método bastante difundido em virtude da trário do método a pleno sol, as cabrucas são plantações tra-
compatibilidade e sustentabilidade de sistemas de produção dicionais que se baseiam na inserção do cacau no estrato in-
multi-estratificados. ferior da floresta.
Um dos consórcios mais bem estabelecidos do cacau é com O cacau implantado no sub-bosque de forma descontínua
a seringueira. As culturas não são concorrentes, sendo conside- não prejudica as relações da vegetação remanescente. A cabru-
radas complementares, pois além de extrair nutrientes em ca- ca possui alta biodiversidade e proporciona: maior conforto tér-

novembro/dezembro 2020
madas diferentes do solo, partilham do mesmo polinizador, mico, conservação do solo, reduz a evapotranspiração e a in-
podendo, assim, otimizar a mão de obra e melhorar a recei- cidência de pragas. Também promove uma economia verde
ta. Entretanto, outros modelos também podem ser utilizados e atua como corredor ecológico ao manter a floresta em pé.
em SAF, como a consorciação de cacaueiros e pupunheiras em
renques, teca em renques, assim como outras espécies arbóre-
as, como mogno (Swietenia macrophylla), cedro rosa (Cedrela
odorata) e castanha-do-pará (Bertholletia excelsa).
Vale salientar que para cacaueiros jovens o fornecimento
de sombra é essencial para o bom desempenho de produção.
Além disso, os espaçamentos entre as árvores devem ser leva-
dos em consideração, podendo ser de, no mínimo, 6,0 x 3,0 m
até 24 x 24 m, variação que é determinada pela espécie em uso.

Sistema a pleno sol

A produção a pleno sol é um sistema de cultivo que vem


sendo difundido no Brasil nas últimas décadas. Em geral, são
mecanizados, formados com material genético de alta qua-
lidade com mudas multiclonais resistentes principalmente a
Satis

vassoura-de-bruxa e com auxílio de quebra-ventos eficien-

31
CACAU

Neste modelo não há mecanização, havendo ausência de


nivelamento ou preparo da terra, bem como redução de consu-
mo de insumos externos. Devido à produção ecológica, pode
se certificar como orgânico e agregar valor ao produto final.
PARÁ
Embora tenha-se nas cabrucas um cultivo de baixo cus- MAIOR PRODUTOR DO BRASIL (2019)
to e de importante valor cultural e ambiental, os produto-
res sofrem com a baixa produtividade quando comparado a
outros sistemas da cacauicultura e também devido a entra-
PRODUÇÃO
ves legislativos, não pode haver comercialização das podas das 133 mil toneladas
árvores nativas.
Segundo Grazielle Sanches, que estudou a viabilidade eco-
nômica deste modelo produtivo, as cabrucas podem se tornar GERAÇÃO DE EMPREGOS
mais atrativas com a melhoria nos preços, proporcionado por
um maior valor agregado, tanto pelo mercado do cacau-fino Direto 60mil postos
como pelo pagamento de serviços ambientais ou agregação de Indireto 240 mil postos
valor por certificações.

Recomendações gerais de manejo e


armazenamento
Chuvas bem distribuídas ao longo ano, sendo adequada
O manejo do cacau, de modo geral (independente da va- uma média anual de precipitação de 1.500 mm;
riedade), requer cuidado, porque em condições de cultivo a Para a floração e frutificação, a temperatura média adequa-
pleno sol, a planta geralmente não atinge sua altura média, in- da seria de até 22 ºC;
dicando que essa espécie é tolerante à luz intensa e motivada Para abertura das gemas e formação de frutos, a tempera-
pela competição entre plantas. tura máxima não deve passar dos 28ºC e a mínima até 9ºC;
O cacaueiro é um cultivo agrícola que exige certas condi- Umidade relativa do ar acima de 70%;
ções climáticas e de solo para o seu crescimento e bom desen- Ventos fracos;
volvimento, tais como: O solo deve ter uma textura argilo-arenosa, com profun-
didade acima de 1,0 m, e apresentar boa drenagem;
É indicado que o lençol freático esteja a mais de 1,0 m de
profundidade;
Solo rico em matéria orgânica, caso contrário, enriquecer
o solo com adubo adicionando principalmente o nutrien-
te fósforo, juntamente com micronutrientes. Fontes orgâni-
cas também podem ser utilizadas, principalmente as que forne-
çam nitrogênio para melhorar a aeração do solo e a retenção de
umidade.
Recomenda-se começar o plantio no início da estação chu-
vosa, mas caso o agricultor opte por outra época do ano, é ne-
novembro/dezembro 2020

cessária irrigação complementar. É relevante para o cultivo do


cacau que ele seja plantado em áreas sombreadas, principal-
mente durante o primeiro ano do plantio, visto que é o perí-
odo mais crítico para fixação e desenvolvimento das mudas.
Para os cultivos a pleno sol, recomenda-se a substituição
da poda tradicional pela poda circular, uma vez que deixa a
planta com menor porte, com tronco e galhos mais robustos,
permitindo suportar a carga e a inserção adequada de lumi-
nosidade para eficiência fotossintética, além do uso de bioes-
timulantes que ajudam o cacau a reduzir o consumo de ener-
gia em situações de estresse.
Para o armazenamento, um ambiente adequado para acon-
dicionar amêndoas deve ser construído em local seco, dispor de
arejamento, mas de modo a não apresentar espaços para entra-
da de roedores. Para evitar mofo e outros ataques, não deve ul-
trapassar 90 dias.

Limitações da cacauicultura
Satis

A maior limitação da produção do cacau no Brasil são do-

32
CACAU

Fotos Satis

enças fúngicas, como a podridão-parda (Phytophthora spp.), o


mal do facão (Ceratocystis cacaofunesta) e a vassoura-de-bruxa
(Moniliophthora perniciosa), esta última sendo a mais agressi-
va. A vassoura-de-bruxa é disseminada principalmente pelo
ar, podendo atingir qualquer fase do ciclo da cultura.
Todas as doenças citadas possuem técnicas de controle
cultural, existindo hoje em dia plantas melhoradas genetica-
mente com resistência a estes organismos. Também deve-se
ter cuidado com pragas, como a broca-do-fruto (Conotrachelus
humeropictus) e a broca-do-tronco (Steirastoma breve).
Em questão social, a falta de planejamento, recomenda-
ções técnicas e linhas de crédito também são grandes respon-
sáveis por insucessos produtivos.

Por que investir no cacau?

O cacau se apresenta como uma espécie de múltiplos usos,


podendo ser empregada de forma in natura ou derivar subpro-

novembro/dezembro 2020
dutos, como alimentos (chocolates e mel), cosméticos (hidra- dução de cacau e as condições edafoclimáticas favoráveis
tantes e shampoos) e fitofármacos. que diversas regiões do Brasil oferecem para o plantio desta
De acordo com a Comissão Executiva do Plano da La- cultivar, o cacaueiro torna-se uma boa opção para investimen-
voura Cacaueira (CEPLAC), a cadeia produtiva desta culti- to, com retorno financeiro garantido.
var é responsável, atualmente, por um produto interno bruto
de aproximadamente R$ 20 bilhões.
As indústrias que mais se destacam no setor são as de pro- Sustentabilidade
cessamento de amêndoas e produção de chocolate. No Brasil,
no ano de 2018, o volume exportado de amêndoas foi de 616 O cacau é um produto florestal não madeireiro (PFNM)
toneladas. Além disso, os dados da AIPC e do IBGE enfati- de importância econômica e social para o Brasil, gerando
zam a importância da produção de cacau no Brasil socioeco- empregos e participando de forma positiva para o PIB. A
nomicamente, estimando que só a indústria processadora em- implementação de distintos métodos de cultivo, como sis-
prega diretamente quase 29 mil pessoas. tema pleno sol, agroflorestais e cabrucas, quando maneja-
O Estado do Pará destaca-se como um dos principais dos de forma correta, contribuem para maior produção e
produtores de cacau do País, onde, só no ano de 2019, a pro- geração de renda para o agricultor.
dução de amêndoas ficou em torno de 133 mil toneladas, ge- Além disso, as SAF e cabruca podem se apresentar
rando emprego para aproximadamente 240 mil pessoas de for- como sistemas de baixos custos e sustentáveis, reduzindo os
ma indireta, e outras 60 mil de forma direta. Na Bahia, três impactos ambientais e ampliando a biodiversidade da re-
milhões de pessoas são beneficiadas pela produção cacaueira. gião onde está inserido.
Levando em consideração os números satisfatórios da pro-

33
BIOMA

CONSERVAR O BIOMA É
UM EXCELENTE NEGÓCIO

Fibria

Mais de 66% das florestas plantadas em Estações


MG estão concentradas neste bioma, que Em Minas Gerais, o Cerrado aparece especialmente nas
é o maior do Estado e o segundo maior bacias dos rios São Francisco e Jequitinhonha. Na ‘Savana
brasileira’, como também é conhecida, as estações seca e chu-
do País vosa são bem definidas e a vegetação é composta por gramí-
neas, arbustos e árvores.

E
m Minas Gerais, a cada 1,0 hectare plantado, 0,6 hec- Além de ser o maior bioma do Estado, o Cerrado é o se-
tare é conservado, o que coloca a indústria florestal gundo maior bioma do País, perdendo apenas para a Amazô-
mineira em evidência quando o assunto é preservação nia, e também o segundo maior da América do Sul.
de matas nativas. Não à toa, o Dia do Cerrado, celebrado dia O bioma tem, ainda, grande importância social, visto que
11/10, é tão significativo para a Associação Mineira da Indús- muitas populações, especialmente indígenas, geraizeiros e qui-
tria Florestal (AMIF), que aproveita a data para provocar a lombolas, sobrevivem dele. “É um hot spot mundial, ou seja, um
novembro/dezembro 2020

reflexão sobre a urgência de conservar este que é o bioma de bioma que merece atenção especial para conservação, mas,
maior representatividade no Estado, presente em 54% de sua apesar de toda a riqueza, o Cerrado ainda é carente da me-
extensão, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia recida atenção e variedade de projetos multidisciplinares de
e Estatística (IBGE) atualizados em 2019. conservação, como os demais biomas brasileiros. Mesmo com
Dos mais de 2,3 milhões de hectares de florestas plan- sua alta disponibilidade de regeneração natural, infelizmen-
tadas em Minas Gerais, 66% estão concentrados no Cerra- te ela não concorre com o ritmo acelerado da degradação am-
do, enquanto 33,7% estão na Mata Atlântica e cerca de 0,1% biental causada pelo homem”, afirma Maugeri.
na Caatinga.
De acordo com a presidente da AMIF, Adriana Mauge- Conservar é um bom negócio
ri, as florestas plantadas têm papel fundamental no combate à
destruição dos três principais biomas de Minas Gerais. Entre Além de possuir a maior área de plantio florestal do País,
as várias contribuições, duas merecem destaque: “a primeira é o setor florestal mineiro conserva 1,3 milhão de hectares de
a preservação e conservação de matas nativas dentro das áre- florestas nativas no Estado. Esta relação entre árvores plan-
as plantadas, formando extensos mosaicos entre estas e mul- tadas e as nativas em um ambiente é extremamente benéfica
tiplicando, desta forma, os benefícios ambientais que os plan- para o meio ambiente e também para o bolso.
tios de árvores produzem; a segunda é a redução da pressão Além de multiplicar os benefícios ambientais, como: con-
sobre as vegetações nativas e que não possuem finalidade eco- servação de solos, proteção de recursos hídricos, absorção de
nômica. Ao disponibilizar madeira sustentável ao mercado, as carbono da atmosfera e melhorias do microclima, esta simbio-
florestas plantadas reduzem naturalmente a demanda por ma- se ainda melhora a produtividade dos plantios florestais, ofere-
deira de origem ilegal proveniente das matas nativas”. cendo madeira em melhor qualidade e quantidade ao merca-

34
BIOMA

do e aumentando a rentabilidade do produtor


florestal. BA
Isso sem contar os custos evitados em re-
cuperação de áreas degradas e a possibilidade
GO
de recebimentos por pagamentos de serviços Legenda
ambientais e bonificações financeiras de cunho Florestas Plantadas
climático. Caatinga
Cerrado
Mata Atlântica

Aliança para combater o desmate


ilegal no Cerrado

Motivo de muito orgulho para Minas Ge- MS ES


rais é a liderança mundial conquistada pelo
SP
setor, com a produção e consumo de carvão
vegetal proveniente 100% das florestas plan- Informações Adicionais
tadas renováveis e dedicadas ao suprimen- - Imagens base do mapeamento: MSI/Sentinel-2
- Ano de referência: 2019
to do mercado metalúrgico, principalmente. - Escala do mapeamento: 1:30.000 RJ
Este carvão é uma fonte de energia inteira- - Sistema de coordenadas: Geográficas
- Dartum: SIRGAS2000
0 50 100 150 km
N
mente renovável e não poluente.
“Apesar da disponibilidade de florestas
renováveis para a produção de carvão vegetal, fora obvia-
mente os produtores de carvão para subsistência, ainda exis- Sobre a AMIF
tem criminosos que insistem em desmatar ilegalmente a ve-
getação nativa para abastecer um mercado paralelo, também A AMIF representa a indústria de base florestal de
criminoso, que incentiva esta prática reprovável e que reduz a Minas Gerais. São empresas que cultivam árvores de vá-
cada dia a disponibilidade da vegetação deste rico e relevante rias espécies com a finalidade de oferecer madeira para o
bioma”, afirma Maugeri. mercado de forma renovável e sustentável.
Segundo a presidente da AMIF, combater de forma in- A maioria destas florestas possui certificações inter-
tensiva a produção e o consumo de carvão vegetal de origem nacionalmente reconhecidas, que atestam esta sustenta-
ilegal é responsabilidade do governo estadual, porém, sem a bilidade do seu manejo e origem. A madeira cultivada é
participação do setor produtivo e da sociedade, tal feito se tor- utilizada principalmente para produção de painéis, pisos
na praticamente impossível. laminados, lápis, madeira serrada, madeira tratada, carvão
Outro grande desafio do setor é reduzir o número de vegetal e celulose.
queimadas no Estado e, para tornar o combate aos incêndios São produtos e subprodutos que estão presentes na
florestais mais efetivo, a AMIF lançou uma campanha inédita vida de 100% dos brasileiros, oferecendo bem-estar, con-
em conjunto com suas empresas associadas, que conta com o forto, higiene e praticidade. Hoje, a entidade defende as
apoio do Governo de Minas, do Corpo de Bombeiros Militar causas e direitos deste setor, trabalhando a favor do de-
de Minas Gerais e importantes órgãos ambientais. senvolvimento e competitividade desta agroindústria e dos
O objetivo é conscientizar a população sobre os desas- produtores florestais, responsáveis por produzirem um dos
tres provocados pelas queimadas, que culminam em perdas materiais mais nobres e limpos que a sociedade dispõe: a
de vidas, de histórias, de qualidade do ar e do solo. madeira.
BORRACHA

CULTIVO DE SERINGUEIRA
PARA PRODUÇÃO DE
BORRACHA NATURAL
novembro/dezembro 2020

José Geraldo Mageste reduzir estes e encorajar cada vez mais investimento neste se-
jgmageste@ufu.br tor da Agricultura, é preciso se cercar de informações tecno-
Lísias Coelho lógicas.
lisias@ufu.br Quando o Brasil se deu conta de que a extração de bor-
Engenheiros florestais, professores do ICIAG/Universidade racha das árvores da floresta tropical não poderia sustentar
Federal de Uberlândia (UFU) as demandas nacional e internacional, implantou seringais de
produção com cultivos homogêneos na floresta amazônica.
Isto foi um desastre, pela ocorrência do “mal das folhas” de

O
cultivo de seringueira, tanto para produção de bor- maneira epidêmica.
racha natural quanto de madeira (principalmente no O fungo causador da doença encontrou condições ideais
Estado de São Paulo) no Brasil, vem se tornando uma e dizimou estes seringais de cultivo, levando o País a desen-
boa opção de renda para produtores rurais. volver tecnologia de produção fora do ambiente amazônico.
Os resultados de pesquisas indicam um mercado crescen- A ocorrência da doença nos seringais de cultivo da região
te e promissor. Mas, não existe investimento sem riscos. Para amazônica e o desenvolvimento tecnológico das plantações

36
BORRACHA

nicas de resistência. Por exemplo, pneus de aviões são de bor-


racha natural, idem para muitos produtos cirúrgicos e pre-
servativos. Também os pneus cinturados precisam de boa
porcentagem de borracha natural misturada à sintética (vin-
da do petróleo), para garantir boa aderência ao aço em al-
tas temperaturas.
Aqueles locais onde o fungo causador do “mal das folhas”
(M. ulei) não consegue se instalar nos seringais de forma epi-
dêmica são chamados “regiões de escape”. Enquadram nesta
condição o Noroeste Paulista, onde estão localizados mais de
50% dos seringais de cultivo do País.
Em suas proximidades, tanto do lado do Mato Grosso do
Sul quanto do Triângulo Mineiro e Goiás existe uma gran-
de quantidade de seringais. Também se cultiva seringueira no
Mato Grosso, na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Pa-
raná, como também na região sul de São Paulo, nas proximi-
dades de Registro.

Específicos para cada região

Cada região tem suas particularidades, com clones mais


adequados, com o uso de Sistemas Agroflorestais mais indi-
cados e adubação para sustentação, além do desenvolvimento
regional de mão de obra mais adequada.
Em Guarapari (ES) existe um seringal que recebeu o nome
de tira-teima. Alguns franceses insistiram, com a instalação e
desenvolvimento desta cultura nesta região, dando este nome
ao seringal.
Ele possui alta produtividade e é cultivado num solo com
lençol freático que está a 4,0 metros de profundidade, em mé-
dia. Desta experiência nasceu um mandamento, que resume o
dito popular sobre a seringueira: “ela é uma planta que preci-
sa estar com a cabeça quente, mas com os pés dentro da água”,
isto é, não pode passar sede e não suporta qualquer intensi-
dade de geada.
ck
ersto

Além do látex, outra fonte de renda do seringal é a pro-


dução de sementes e a madeira. As sementes de seringais mo-
Shutt

noclonais são muito procuradas e a madeira ganhou expressão


nacional. Em São José do Rio Preto (SP) existe uma serraria

novembro/dezembro 2020
de grande porte, dedicada exclusivamente ao processamento
da madeira desta espécie.

No Brasil e no mundo

da Ásia, associados ao aumento da demanda, principalmente O produto látex representa quase 2% do PIB. A partici-
pela indústria automobilística, fizeram a participação brasilei- pação já foi de até 25% no início do século 20, e que naquela
ra no mercado internacional cair. época o café era um dos carros-chefes da exportação brasilei-
O País saiu da condição de primeiro exportador mundial, ra, com grande expressão no PIB.
no final dos anos 1800, para importador de até 90% de sua Além disso, o cultivo de seringueira possui um fator so-
demanda em meados do século seguinte. Então, aqueles que cial diferenciado. O látex é extraído durante 10 meses no ano;
entrarem no mundo da produção de borracha natural vão en- nos dois meses em ue não é possível sangrar, há outras ativi-
contrar um mercado promissor, mas que não lhes permite dis- dades essenciais a serem realizadas, ocupando a mão de obra
tanciar de informações tecnológicas atualizadas e bem em- rural permanentemente.
basadas. Para pequenas áreas, uma família pode cuidar de cinco
a 10 hectares de seringueira em produção, permitindo ain-
Cultivo de seringueira para borracha natural da que outras atividades rurais sejam realizadas. Assim, em-
prega-se, com boa qualidade de vida, grande contingente de
A borracha natural possui usos específicos que asseguram mão de obra rural.
seu consumo, dadas as suas propriedades elastâmeras e mecâ- Em países asiáticos, a produção de látex é feita principal-

37
BORRACHA

Borbrás

mente por pequenos produtores. Assim, é comum ter famí- Maior demanda
lias responsáveis por 1,0 a 2,0 hectares, de onde tiram o seu
sustento. Não existem locais específicos de demandas concentradas
de látex. Enganam-se os que pensam que no entorno de São
Área plantada Paulo está a maior demanda de borracha natural. A maior
concentração de indústrias beneficiadoras de látex está em
Calcula-se que no Brasil existam mais de 50.000 hecta- São Paulo, porque mais de 50% dos plantios estão neste Es-
novembro/dezembro 2020

res de seringais de cultivo. Mas, ainda existem muitas áreas tado.


com condições edafoclimáticas adequadas ao cultivo desta es-
pécie. Assim, a expansão da cultura não está restrita às con-
dições ambientais inadequadas, mas à limitação de conheci-
mento sobre a cultura e à necessidade de treinamento de mão
de obra.
A produção anual desejada deve ser de pelo menos 3.000
kg de borracha seca por hectare por ano. Esta produtividade
é quase o dobro da média das áreas de escape, que não che-
ga a 2.000 kg.
De qualquer maneira, nas regiões produtoras do Acre e
do Amazonas não se tem 500 plantas em produção por hectare.
O seringueiro anda muito dentro da mata para sangrar uma ár-
vore. No seringal de produção devem existir cerca de 500 plan-
tas por hectare. Nesta condição, 150 plantas custeiam a mão de
obra. Assim, o restante produzirá o lucro do produtor.
A produtividade dos seringais em produção está em tor-
Shutterstock

no de 1.800 kg ha-1 ano-1 no Planalto Paulista e no Triângu-


lo Mineiro. Esta produtividade cai para menos de 1.500 nas
outras regiões do País.

38
BORRACHA

A indústria de beneficiamento de látex in natura chega a


transportá-lo a uma distância média de mais de 800 km. A
maior demanda está concentrada onde existem indústrias de
pneus e automóveis. A região sul do Brasil é grande consumi-
dora de borracha natural, isto porque produz grande parte do
maquinário do País.
Entretanto, não podemos esquecer que a borracha natu-
ral é utilizada em mais de 40.000 produtos, dos mais varia-
dos setores.

Maiores regiões produtoras

Os maiores produtores de látex do mundo estão concen-


trados na Ásia, que são grandes exportadores para o restan-
te do mundo. Como a seringueira não tolera geadas, é fácil
identificar que muitos países europeus, e mesmo os EUA, são
grandes importadores.
Na região do Triângulo Mineiro, o investimento inicial
está em torno de R$ 4.500,00 a R$ 5.000,00 por hectare. Mas,
grande parte do investimento está na fertilização inicial e na
aquisição de mudas de qualidade.
Por isto, o plantio em sistemas agroflorestais permite um
retorno mais rápido do investimento inicial, pela colheita das
culturas consorciadas. Estas culturas são variadas, desde me-
lancia, abóbora, a abacaxi, banana e café nas entrelinhas, en-
quanto o seringal não sombreia completamente o solo.

Rentabilidade x retorno

O preço médio do produto látex tem sido em torno de


US$ 3,5/kg. Assim, a rentabilidade de um seringal com oito
a 10 anos de idade, tem sido, em média, de R$ 5.500,00 ha-1.
O retorno financeiro depende do trato dispensado ao serin-
gal. Tudo (adubações, capina, condução da copa, etc.) deve ser
feito para que as plantas atinjam um DAP (Diâmetro à Altura
do Peito) de 10 cm o mais rapidamente possível, com espessu-
ra de casca de 5,0 mm.
Miriam Lins

Num seringal com trato médio, na região do Triângu-


lo Mineiro, noroeste Paulista e MS do Sul, esta medida tem

novembro/dezembro 2020
sido alcançada com 4,5 a cinco anos. Mas, melhorando-se
principalmente a adubação adequada, ela começa a aconte- crescimento do sistema radicular em profundidade. A aduba-
cer com 5,5 anos. ção fosfata no início da implantação é de fundamental impor-
tância para que haja um crescimento da raiz em profundidade,
Manejo do plantio à colheita propiciando resistência aos veranicos. Lembre-se que se trata
de uma planta perene. Logo, será importante não “morrer de
Maior atenção deve ser dada à matocompetição e aduba- sede” durante os veranicos.
ção adequada. A matocompetição ocorre principalmente com
a braquiária, uma vez que a maioria dos seringais é plantada
em áreas de pastagem. Em povoamentos jovens, esta gramí- Orientação é fundamental
nea “rouba” com eficiência todo adubo da seringueira e atrasa
consideravelmente o seu crescimento. Nunca ignore uma boa assistência técnica. Con-
A adubação adequada tem que levar em consideração o sulte sempre os engenheiros florestais dedicados a esse
fornecimento de magnésio e micronutrientes, principalmen- cultivo. Troque experiências nas associações estaduais
te o chamado “grupo do ferro”: ferro, cobre, zinco e boro. É e valorize a produção de sementes, pois elas ajudam a
comum observar seringais com deficiências de magnésio (a reduzir os custos de manutenção do seringal. Obser-
formulação para seringueira deve ser NPK + MG). Uma vez ve o desenvolvimento dos diversos clones. Um clone
instalados os sintomas de deficiência destes nutrientes, a recu- bom garante o sucesso, ao mesmo tempo que clones
peração é penosa e demorada. ruins inviabilizam o cultivo.
Por outro lado, tudo deve ser feito para haver um bom

39
SERINGUEIRA

Fotos Instituto Biológico

FUNGO SELECIONADO PELO IB


novembro/dezembro 2020

CONTROLE EFICIENTE DO PERCEVEJO-DE-RENDA


Uma das medidas para controle da praga é o uso do fungo entomopatogênico à base de
Simplicillium lanosoniveum, que reduz em 60% os custos com aplicação de defensivos

O
percevejo-de-renda é um problema grave para os pro- O fungo entomopatogênico disponibilizado pelo IB des-
dutores de seringueira, já que a praga pode reduzir em de 1997 é à base de Simplicillium lanosoniveum, um inimigo
30% a produção de látex, em 30% o crescimento da ár- natural da mosca do percevejo-de-renda. Por isso, seu uso re-
vore e em 45% o diâmetro do colo da planta. duz a ocorrência da praga, diminui os custos de produção e
O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agri- ainda reduz os impactos ambientais da atividade. Estima-se
cultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, disponibi- que em 2019, o Simplicillium lanosoniveum foi aplicado em
liza, há mais de 20 anos, um fungo para controle biológico do 9.000 hectares plantados com seringueira em São Paulo, Goi-
percevejo-de-renda. O agente pode reduzir em até 60% os ás, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
custos com aplicação de defensivos agrícolas. De acordo com Antonio Batista Filho, pesquisador do IB

40
SERINGUEIRA

e coordenador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agro-


negócios (APTA), por a seringueira ser uma cultura perene,
o equilíbrio da população interna entre praga e fungo é mais
rápido, o que pode reduzir a necessidade da aplicação do pro-
duto. “Com isso, dependendo das condições climáticas, é pos-
sível aplicar Simplicillium lanosoniveum apenas uma vez, ge-
rando economia para o produtor”, explica.

São Paulo em destaque

Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IE-


A-APTA), a produção paulista de borracha na safra 2019/20
foi de 247,7 mil toneladas de coágulos, 1,7% maior do que a
produção da safra anterior. A área total produzida com serin-
gueira no Estado foi de 135,5 mil hectares.
A produção está concentrada nas regiões norte e noroes-
te, com destaque para o Escritório de Desenvolvimento Ru-
ral (EDR) de São José do Rio Preto, principal região produto-
ra, que responde por 28% da produção paulista, seguida pelos
EDRs de General Salgado (12,5%), Votuporanga (12,4%) e
Barretos (11,4%).

Como funciona?

O percevejo-de-renda foi constatado pela primeira vez em


São Paulo no município de Buritama. Em sua fase adulta, os
insetos apresentam asas com aspecto de renda, daí deriva seu
nome. Com ciclo de vida superior a 40 dias, o inseto tem há-
bito de permanecer na parte inferior das folhas sugando a sei-
va, o que provoca a queda precoce das folhas da seringueira e,
consequentemente, reduz a produção.
Uma das medidas para controle da praga é o uso do fun-
go selecionado pelo IB, que penetra nos insetos e provoca
uma doença que é disseminada por ventos e outros agentes
físicos e biológicos. “A eficiência do produto depende da pre- Controle biológico
sença da umidade relativa do ar de 60% e deve ser utilizado
nas horas mais frescas do dia ou com o tempo nublado”, aler- O controle biológico consiste no uso de inimigos na-
ta Batista Filho. turais para diminuir a população de uma praga. Resumida-
O coordenador da APTA afirma que para o controle do mente, pode ser definido como natureza controlando na-

novembro/dezembro 2020
percevejo é necessário que o produtor tenha conhecimento da tureza. Os agentes de controle biológico agem em um alvo
população de insetos que atacam sua plantação e a partir daí específico, não deixam resíduos nos alimentos, são seguros
tome a decisão para aplicar o produto. “Semanalmente, as áre- para o trabalhador rural, protegem a biodiversidade e pre-
as com seringais devem ser vistoriadas e quando o número de servam os polinizadores.
adultos por folha for superior a cinco insetos, o produtor deve Referência no Brasil e no mundo em controle bioló-
tomar medidas para reduzir a população do percevejo”, afirma. gico, o IB tem forte atuação junto ao setor produtivo, ten-
do orientado a criação e manutenção das biofábricas, que
desenvolvem esses produtos biológicos para serem aplica-
dos nas lavouras.
Ao todo, mais de 80 biofábricas de todo o Brasil rece-
bem orientação dos pesquisadores do IB. Em 2019, o Ins-
tituto assinou 23 contratos para transferência de tecnologia
a essas empresas, localizadas em São Paulo, Minas Gerais,
Mato Grosso e Paraná.
O IB mantém o Programa de Inovação e Transferência
de Tecnologia em Controle Biológico (Probio), que reúne
Marineide Vieira

as tecnologias e serviços prestados no Instituto, principal-


Sintomas do mente para as culturas da cana-de-açúcar, soja, banana, se-
percevejo-de-renda
ringueira, flores, morango, feijão e hortaliças.

41
ARAUCÁRIA

CONEXÃO ARAUCÁRIA

PROJETO BUSCA SALVAR


ARAUCÁRIAS DA EXTINÇÃO

Shutterstock

Conexão Araucária incentiva produtores rurais a cultivarem espécie para


novembro/dezembro 2020

preservação e proteção de nascentes no Paraná

S
urgida há milhões de anos, a araucária, árvore símbolo do Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), com financia-
Sul do Brasil, corre sério perigo. Um estudo da Universi- mento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
dade de Reading (Reino Unido) aponta que até 2070 a Social (BNDES) e da empresa Japan Tobacco International
espécie deve ser extinta, sobrevivendo em pequenos refúgios – ( JTI), que é também uma parceira operacional no desenvol-
se houver cuidados adequados. vimento das atividades.
Os motivos para isso são a destruição de seu habitat – atu- O projeto vai recuperar cerca de 330 hectares em peque-
almente, já reduzido em 90%, o aquecimento global, o cons- nas propriedades rurais distribuídas nos municípios de São
tante desrespeito à legislação de proteção da espécie e a redu- Mateus do Sul, São João do Triunfo, Palmeira, Rio Azul,
ção de sua diversidade genética. Mallet, Rebouças e Paulo Frontin, no Sudoeste do Estado pa-
Nesse contexto, o projeto Conexão Araucária, executa- ranaense. Dessa forma, também pretende que as áreas aten-
do junto aos agricultores familiares do Paraná, está em ação dam ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) e este-
para restaurar áreas de floresta onde originalmente se desen- jam em conformidade com o Código Florestal.
volviam as araucárias, visando à preservação desta e de ou-
tras espécies e à proteção das nascentes de rios. Um impor- Preservação
tante exemplo que foi compartilhado no Dia da Árvore, em
21 de setembro. Por meio de técnicas de restauração, a iniciativa visa re-
A iniciativa é desenvolvida pela Sociedade de Pesquisa em compor Áreas de Preservação Permanente (APP) – matas ci-

42
ARAUCÁRIA

Plantio em Jaciel
liares, topos de morro e encostas – além de Unidades de Con- Moutim, Rio Azul
servação, tais como parques nacionais, com espécies nativas da
Floresta com Araucárias do bioma Mata Atlântica.
Ela se diferencia de outros projetos de restauração por

Projeto Conexão Araucária


buscar recuperar a diversidade de espécies, incluindo as ra-
ras e ameaçadas, dando início a um processo que, ao longo
dos anos, trará de volta a vegetação. “As ações de restauração
ecológica realizadas pelo projeto contribuem para aumentar a
conexão entre os remanescentes de Floresta com Araucária,
hoje empobrecidos de espécies nativas, formando pequenos
corredores por meio das APP. O empobrecimento dos frag-
mentos agrava a variabilidade dos exemplares, incluindo a da Além disso, o projeto ajuda a gerar empregos diretos para
araucária, porque impede que populações de plantas com ca- os municípios atendidos, por meio da capacitação e contra-
raterísticas genéticas distintas se comuniquem”, afirma Ales- tação de mão de obra local, além de criar oportunidades para
sandra Xavier, técnica da SPVS, destacando que, dessa forma, que estudantes de universidades próximas participem e apren-
o projeto contribui para a manutenção das espécies ao lon- dam sobre as oportunidades de conservação da natureza.
go do tempo. Nem mesmo a pandemia e as restrições impostas para
evitar a disseminação do coronavírus impediram o prossegui-
Evolução mento das atividades. Seguindo os protocolos de segurança,
que incluem distanciamento social, uso de máscaras e higie-
Atualmente, o projeto já atua em 182 hectares de áreas de nização, os trabalhos de recuperação florestal foram seguidos
preservação permanente (APP) que serão restauradas em 156 naquelas propriedades onde os produtores permitiram.
propriedades. A JTI é a responsável por facilitar o diálogo da “Proteger as araucárias, outras espécies nativas e a nascen-
SPVS com os proprietários e acompanhar a evolução da res- te dos rios é uma necessidade urgente. E o próprio trabalho
tauração por meio de seus Técnicos de Agronomia. de recuperação não exige uma proximidade entre as pessoas,
Entre os produtores que participam do projeto, a consci- existe um espaçamento determinado entre o plantio das mu-
ência da necessidade da preservação tem avançado e eles de- das e isso protege quem está trabalhando no projeto e o pro-
monstram otimismo com a restauração. “A gente tem que pen- dutor”, afirma Goulart. Para ele, o projeto é um bom exemplo
sar no futuro. Se destruir tudo, amanhã ou depois não vou ter de como o esforço entre empresas, organizações da socieda-
água, nem meus netos. Com o trabalho que estamos fazendo de civil, governos e produtores é capaz de trazer avanços à
aqui, vai ter uma reserva bem cuidada, ainda mais com essa preservação ambiental.
cerca que eles fizeram, pois eu até pensava em fazer, mas não
seria tão bem-feita como essa. Daqui um tempinho essa mata
vai estar bem fechada, se Deus quiser”, afirma o agricultor Al-
ceu Storé. Como o projeto Conexão Araucária atua
Na propriedade de Walter Zakrzewski, os resultados da
restauração estão sendo sentidos. “Tenho aprendido muito Primeiro, são feitas as reuniões de mobilização, duran-
sobre pensar no futuro, na preservação e na importância da te as quais o projeto é apresentado e as dúvidas são esclare-
preservação. Aqui, com o projeto Conexão Araucária, as nas- cidas. Interessado, o produtor assina uma autorização para

novembro/dezembro 2020
centes estão escoando com mais facilidade, sem sentir a estia- a visita técnica da SPVS em sua propriedade.
gem”, conta o produtor de tabaco, que também cultiva verdu- Na visita técnica é feita uma avaliação das APP (en-
ras, soja, milho, batata doce e cria galinhas. torno de nascentes, margens de rios, lagos e lagoas, en-
costas, entre outras) e, caso seja necessária a intervenção,
Projeto é proposto o Plano de Restauração, conforme a legislação
ambiental e em concordância com o proprietário. Nes-
A expectativa é de que, com o tempo, o projeto também te momento o proprietário deve assinar uma autorização
contribua para o desenvolvimento da agricultura. “Práticas sus- para restauração, e assim garantirá o benefício em sua pro-
tentáveis, como o Conexão Araucária, são importantes para a priedade.
sustentabilidade da natureza, com a qual a JTI tem um com- No momento mais adequado, a SPVS fará a restaura-
promisso, mas também com a sustentabilidade do nosso ne- ção conforme o plano acordado com o proprietário.
gócio e dos agricultores. A recuperação da biodiversidade re- A SPVS orienta o proprietário sobre como fazer a ma-
gional, o maior controle biológico das pragas, o aumento da nutenção das mudas para que elas cresçam fortes e prote-
presença de polinizadores, melhorias na fertilidade do solo, jam os cursos d’água como devem. Qualquer problema
a melhoria na qualidade e quantidade da água e o auxílio da na restauração executada pelo projeto deve ser reportado
regulação climática são alguns dos benefícios que temos por ao Técnico de Agronomia da JTI.
meio desse projeto e são essenciais para termos as condições Em algumas propriedades, a SPVS realiza o monito-
de continuar produzindo cada vez mais e melhor”, afirma Fla- ramento da evolução dos plantios para avaliar os resulta-
vio Goulart, diretor de Assuntos Corporativos e Comunica- dos do projeto e prestar contas aos financiadores.
ção da JTI.

43
AMAZÔNIA

MANEJO FLORESTAL POR


ESPÉCIES NA AMAZÔNIA
MAIS RENTÁVEL E SUSTENTÁVEL

E
studos realizados por unidades de pesquisa da Embra-
pa em diferentes regiões brasileiras comprovam que o
manejo florestal por espécie é uma inovação com po-
tencial de agregar renda e sustentabilidade à região amazô-
nica.
Adequar a intensidade de exploração, diâmetros e os ciclos
de corte às peculiaridades de cada espécie, e não ao volume to-
tal de árvores nas áreas manejadas, garante retorno econômico
mais rápido ao produtor e mantém o equilíbrio da diversidade
da floresta. Os índices técnicos, que levam em conta as carac-
terísticas de crescimento e a taxa de recuperação das espécies
florestais, podem ser implementados para a modernização dos
protocolos vigentes na legislação brasileira.
novembro/dezembro 2020

Resultados positivos com espécies amazônicas de interes-


se comercial em diferentes regiões do bioma, como a maça-
randuba (Manilkara elata Allemão ex Miq. Monach), a cupiú-
ba (Goupia glabra Aubl) e o cumaru (Dipteryx odorata), entre
outras, corroboram a pesquisa. Paralelamente, pavimentam o
caminho para o fortalecimento da bioeconomia na Amazô-
nia, área com enorme potencial de agregação de renda a pro-
dutores florestais pela capacidade de atrair indústrias de base
biológica.
A legislação federal atual, regida pela Instrução Normativa
nº 05/2006, do Ministério do Meio Ambiente, recomenda que
a taxa de corte para toda a Amazônia, na falta de índices téc-
nicos por espécie, seja de 30 metros cúbicos por hectare a cada
35 anos (ciclo de corte), e diâmetro mínimo de corte (DCM)
de 50 centímetros.
Isso significa uma exploração desigual entre as espécies.
“A legislação enxerga a floresta de forma geral, sem levar em
Fotos Embrapa

conta as características das diferentes espécies, nem as especi-


ficidades de cada região”, afirma o pesquisador Evaldo Braz,
da Embrapa Florestas (PR).

44
AMAZÔNIA

Exploração quiá (Caryocar villosum [Aubl.] Pers). Todas são espécies ex-
ploradas comercialmente.
Na lógica atual, a exploração é pautada pela recuperação Entre elas, considerando uma intensidade de exploração
do volume total de árvores de uma determinada área. “Com de cerca de 90%, ou seja, quase a totalidade das árvores ap-
isso, acabamos retirando as espécies mais abundantes sem le- tas ao corte, o breu vermelho apresentou a maior taxa de re-
var em conta a recuperação do estoque dessas espécies, e tam- constituição, de 65%, e a maçaranduba a menor taxa: 2%. Já a
bém sem considerar a disponibilidade de estoque de outras timborana e o piquiá obtiveram taxas de recuperação de 12 e
espécies ao longo dos anos”, explica Lucas Mazzei, pesqui- 6%, respectivamente.
sador da Embrapa Amazônia Oriental (PA). Para o engenheiro florestal Josué Evandro Ferreira, que é
No estudo com a maçaranduba, que é uma das principais o responsável técnico pelos planos de manejo da empresa Ci-
espécies de interesse do mercado madeireiro nacional, verifi- kel, atualmente a exploração legal é a mesma para espécies de
cou-se que o ciclo de corte de 35 anos, combinado com uma rápido e de longo crescimento. “Sabemos que têm espécies que
intensidade alta de exploração, não é suficiente para a recupe- se recuperam em 20 anos, mas outras precisam de 100 anos”,
ração dessa espécie. Isso porque, segundo Mazzei, a maçaran- complementa.
duba é abundante, mas tem um crescimento lento. Ele acrescenta que a pesquisa vem cada vez mais dando
Os indivíduos jovens dessa espécie podem levar mais de subsídios para que o manejo funcione bem e mantenha a flo-
uma centena de anos para atingir o diâmetro mínimo de cor- resta de pé. “O manejo florestal por espécie é plenamente vi-
te (DMC) de 50 cm. “Então, a exploração contínua dessa es- ável, mas precisa de divulgação, principalmente nos órgãos
pécie em ciclos consecutivos de 35 anos não garante o mesmo de fiscalização, pois a lei já indica que é possível customizar
retorno financeiro e compromete a recuperação do estoque o manejo de acordo com índices técnico-científicos”, afirma.
nas áreas exploradas, já que os indivíduos jovens levam muito A atividade deve caminhar na direção da sustentabilida-
mais tempo para se recuperar”, afirma o cientista. de, ou seja, “entrar na floresta e extrair o que ela oferece no
momento, respeitando o ciclo de recuperação de cada espécie,
Extrair o que a floresta é seja de 15, 20, 30 ou 100 anos”, pontua.
capaz de recuperar
Ciclos de corte e diâmetros precisos
Na Fazenda Rio Capim, município de Paragominas, re- são mais eficientes
gião nordeste do Pará, a Embrapa Amazônia Oriental, em
parceria com a empresa Cikel, avaliou a taxa de recuperação A Embrapa Florestas também realiza pesquisas com espé-
dos estoques de árvores para diferentes espécies. Essa taxa é o cies na Amazônia, e utiliza outro enfoque. A base de seu tra-
volume de árvores que em 35 anos alcança o diâmetro míni- balho é a combinação de dados da estrutura da floresta e o
mo de corte. “Esse cálculo é simples: quanto menor a taxa de diâmetro ideal de corte por espécie, visando o aumento da pro-
recuperação, menor o crescimento das espécies”, alerta Maz- dutividade. “Essa metodologia é baseada no conhecimento de
zei. que algumas classes diamétricas são mais produtivas que ou-
Além da maçaranduba, as espécies avaliadas foram a tim- tras”, explica a pesquisadora Patricia Mattos.
borana (Pseudopiptadenia psilostachya [DC.] G. P. Lewis & M. Na microrregião de Sinop, no Mato Grosso, foram realiza-
P. Lima), breu vermelho (Protium altsonii Sandwith) e o pi- dos estudos com dez espécies amazônicas. Uma das pesquisas,
realizada no município de Santa Carmem, indicou que, para al-
gumas espécies florestais comerciais, a produção é maior em

novembro/dezembro 2020
condições de ciclo e diâmetro mínimo de corte menores que
Sustentabilidade é o maior desafio
os previstos na legislação atual.
do manejo florestal
Entre as espécies estudadas estão a cupiúba (Goupia gla-
bra Aubl.), cambará (Qualea albiflora Warn), cedrinho (Eris-
A madeira é um importante produto da balança
comercial do Pará, que em 2019 movimentou mais de
US$ 200 bilhões, segundo a Federação das Indústrias
do Estado do Pará (Fiepa).
O Pará, juntamente com Rondônia, abriga a maior
parte das áreas de florestas públicas nativas elegíveis
ou já em processo de concessão para Manejo Florestal
de todo o País. São cerca de 1,5 milhão de hectares di-
vididos em seis florestas nacionais e em áreas estadu-
ais, que, segundo a legislação, devem ser manejadas de
forma sustentável para garantir a produção florestal e
manter a floresta em pé.
Planejar a extração madeireira e garantir ao mes-
mo tempo a conservação e a plena recuperação da flo-
resta, entretanto, é o maior desafio do manejo florestal
sustentável na Amazônia.
Maçarabuba Anapu

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AMAZÔNIA

ma uncinatum Warn), itaúba (Mezilaurus itauba [Meissn.] Ele ressalta ainda que o manejo florestal sustentável ga-
Taub.) e amescla (Trattinickia burserifolia Willd), que represen- rante a manutenção da floresta de pé, retirando somente
tam 60% das espécies exploradas na microrregião. aquilo que a floresta produz, com geração de renda e susten-
Os trabalhos são desenvolvidos com amostras provenien- tabilidade. Mas, deve ser realizado com base científica. “Feito
tes de áreas com manejo florestal autorizado, sendo os dis- assim, é um dos grandes contrapontos ao desmatamento para
cos transportados para a Embrapa Florestas para medição dos garantir a continuidade da floresta. É importante lembrar que
anéis anuais de crescimento, técnica conhecida como dendro- todos os resultados devem ser debatidos com produtores e or-
cronologia. ganismos legisladores”, analisa o pesquisador.
A metodologia, como explica a pesquisadora da Embrapa
Florestas Patrícia Mattos, consiste em utilizar informações de Novos índices de referência
séries de crescimento que representam todo o ciclo de vida de
árvores de uma determinada espécie (frequentemente séries Já no estudo que teve como objeto o cedrinho (Erisma un-
com mais de 150 anos), para a determinação dos diâmetros cinatum Warm.), os resultados sugerem que o ideal seria ex-
ideais de corte por espécie. trair árvores com diâmetros a partir de 70 cm, superiores ao
“Esses dados são analisados juntamente com a estrutura previsto na legislação, entretanto, com ciclos de corte menores
da floresta, sendo possível determinar o volume que deve per- (25 anos). “São resultados para a microrregião de Sinop, con-
manecer após intervenção de manejo para garantir a produção siderando as especificidades locais”, alerta Mattos.
de mais madeira no próximo ciclo do que quando aplicados os O trabalho, segundo a cientista, pode servir de balizador
critérios presentes na legislação atual”, afirma. para otimização da exploração sustentável, contribuindo para
As análises mostram que, nessa microrregião, o ciclo de 35 um manejo que reduza custos e danos ao povoamento rema-
anos para extração de 30 m3 excede o tempo necessário para nescente da região.
recuperação do estoque de diferentes espécies, com o agra- Esses resultados são estratégicos para a manutenção da
vante de elevar perdas por mortalidade natural ao longo des- atividade produtiva no Mato Grosso, onde a equipe da Em-
se período. “Frequentemente observamos que um ciclo menor brapa Florestas começou a aplicar técnicas de dendrocrono-
é mais eficiente, pois aproveita melhor o potencial de cresci- logia ao manejo na região amazônica. A produção florestal de
mento das árvores, sem comprometer a floresta”, afirma o pes- madeira nativa representa a base da economia de 44 cidades,
quisador Evaldo Muñoz Braz. respondendo por 5,4% do PIB do Estado.
Segundo dados do Centro das Indústrias Produtoras e
Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (CI-
PEM), o segmento gera mais de 90 mil empregos diretos
e indiretos, com potencial de ampliação de 40% nos próxi-
mos anos.

Drones ajudam no mapeamento


florestal por espécie

A utilização de drones no manejo florestal por espé-


cies permite o reconhecimento nominal de cada espécie
novembro/dezembro 2020

presente na área e dá celeridade ao processo. Segundo o


pesquisador da Embrapa Acre (AC), Evandro Orfanó, os
drones são capazes de mapear centenas de hectares em um
único dia, gerando imagens em alta resolução que possibi-
litam conhecer o nível de presença da espécie na parte su-
perior da floresta (dossel) e compreender o sistema flores-
tal a ser manejado.
O pesquisador explica que a tecnologia detalha a in-
formação sobre a área com o objetivo de viabilizar o ma-
nejo florestal customizado por espécie. “Manejar a floresta
dessa forma facilita o atendimento a critérios de sustenta-
bilidade da atividade florestal, como a manutenção de um
estoque mínimo de árvores remanescentes, para conserva-
ção da diversidade de espécies florestais”, ressalta.
Por meio de um software com algoritmo treinado, são
coletadas informações sobre aspectos da fenologia das ár-
vores, como floração e frutificação, e da forma e área foliar
das copas (morfometria) e, a partir da análise desses dados,
são identificadas as espécies florestais.

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