Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/345342875
CITATIONS READS
0 65
7 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Emmanoella Costa Guaraná Araujo on 05 November 2020.
INCÊNDIOS FLORESTAIS
A REALIDADE SOBRE O FOGO QUE CONSOME O BRASIL
EDITORIAL
Diretora Administrativa
Joana D’ark Olímpio
@campo_negocios joana@revistacampoenegocios.com.br
/revistacen
Diretora de Jornalismo
@campoenegocios
Ana Maria Vieira Diniz - MTb 5.915MG
Acesse nosso cartão virtual anamaria@revistacampoenegocios.com.br
Departamento Comercial
O
Renata Tufi
s incêndios florestais mais destruido- renata@revistacampoenegocios.com.br
res aparecem com uma combinação Renata Helena Vieira de Ávila
explosiva de três fatores. Primeiro, um renata.vieira@revistacampoenegocios.com.br
clima quente e seco, em que a umidade do ar Departamento Financeiro
não ultrapasse 20%. Segundo, a presença de Rose Mary de Castro Nunes
alguma coisa que provoque a primeira fagu- financeiro@revistacampoenegocios.com.br
lha, desde um relâmpago até um simples ci- Mírian das Graças Tomé
garro aceso. Por último, combustível para ali- financeiro2@revistacampoenegocios.com.br
Com tamanha proporção, trouxemos a matéria de capa desta edição sobre este www.guerreiro.agr.br
tema, e esperamos esclarecer para você todos os pontos de apoio para evitar ou com- Foto Capa
bater o fogo das queimadas e incêndios. Shutterstock
Projeto Gráfico/Diagramação
Deixo com vocês um grande abraço, e uma excelente leitura! Horácio Sei (11) 99983-6777
Viviani Gasparini (11) 97386-3444
4
NESTA EDIÇÃO
20 A REALIDADE SOBRE
O FOGO QUE CONSOME
O BRASIL
06 Ferramentas de preparo de
solo
34 Conservar o bioma é um
excelente negócio
17 Secagem e tratamento da
madeira na fazenda
novembro/dezembro 2020
36 Cultivo de seringueira para
borracha natural
16 Oportunidade de projeto
industrial sustentável
30 Manejo acertado do cacau
44 Novas espécies da Amazônia
5
SOLO
FERRAMENTAS DE
PREPARO DE SOLO
DIFERENCIAL NA SILVICULTURA
novembro/dezembro 2020
Adriana Araujo Diniz meio ambiente e para a produção florestal, usadas principal-
Professora Adjunta II - Universidade Estadual do Maranhão mente para evitar a degradação do solo e promover melhorias
(UEMA/CESBA) no estabelecimento e desenvolvimento das florestas plantadas.
adrisolos2016@gmail.com Sobretudo, estas devem ser também economicamente viáveis
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho (Prevedello, 2008).
Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal - FCAV/UNESP
a15santanafilho@gmail.com Detalhes
Tarcísio da Silva Vasconcelos
Graduando em Engenharia Agronômica - UEMA/CESBA O preparo de solo pode ser feito de diferentes formas. Den-
tarcisiovasconcelos589@gmail.com tre as técnicas utilizadas, há o preparo manual, pouco utilizado,
apenas em áreas com baixo nível tecnológico ou de topogra-
fia acidentada, baseado em capina e abertura de covas manu-
O
manejo de solo é a etapa primordial em diversas áreas almente; preparo semi-mecanizado, em que primeiramente é
da agricultura, dentre as quais a silvicultura, haja vis- realizada a abertura, o controle das plantas invasoras e o co-
ta que na sua fase de desenvolvimento inicial as es- veamento com o motocoveador.
pécies florestais necessitam de um ambiente propício ao de- Por fim, está o preparo mecanizado, feito com equipa-
senvolvimento e fixação das raízes. mentos tratorizados, como arado de discos, grades, escarifi-
O preparo de solo deve, então, ser devidamente planejado cadores e subsoladores.
afim de evitar prejuízos durante o processo produtivo das espé- Este último é um dos mais utilizados na silvicultura de lar-
cies. As técnicas de manejo são de extrema importância para o ga escala, exigindo um preparo eficiente do solo para que se
6
SOLO
Ponto de partida
A escolha
novembro/dezembro 2020
possa descompactar as camadas iniciais do perfil afim de pro- tema de preparo do solo escolhido deve possibilitar a reforma
mover a melhor fixação das espécies em cultivo. do plantio, com alteração da direção do alinhamento ou tro-
ca do espaçamento. Isso se deve ao mecanismo que possibilita
Avanços o rebaixamento e corte dos tocos remanescentes e ao afasta-
mento dos resíduos da linha de plantio, permitindo a forma-
Nos últimos anos, o cultivo mínimo tem sido incluído ção de novas linhas.
como ferramenta de manejo de solos em áreas de silvicultura, Deve-se adotar sistemas que combinem equipamentos de
principalmente com o avanço da ILPF (Integração Lavoura- preparo do solo, afastamento dos resíduos, herbicidas e adu-
-Pecuária-Floresta), que vem sendo bastante adotada em áre- bação, afim de suprir todas as necessidades da planta.
as agrícolas como forma de preservação e melhor utilização Os solos brasileiros possuem uma composição mineralógi-
dos solos e dos recursos naturais. ca de nutrientes primário pequena, logo, a capacidade de ma-
O sistema de cultivo mínimo consiste no preparo de solo nutenção da fertilidade do solo também é reduzida. Os teores
somente na linha de cultivo, provocando assim uma menor de macro e micronutrientes nesses solos baixos ou muito baixos
passagem de máquinas sobre a área da plantação e diminuin- podem causar grandes perdas no potencial produtivo, como por
do a compactação. exemplo, o cultivo sucessivo de várias rotações de espécies flo-
Outro princípio desta técnica é a manutenção dos resídu- restais causam um grande impacto nas reservas dos solos, resul-
os vegetais, com o uso de herbicidas para o combate das plan- tando em queda da qualidade das áreas produtoras.
tas voluntárias, que é um fator crucial no manejo, já que não Logo, o sistema de manejo deve visar o equilíbrio entre a
há a inversão da leiva nesse sistema de cultivo. entrada e saída de nutrientes, e o ciclo que tem com os mes-
Esta ferramenta é uma das mais conservacionistas e que mos é estratégico para a manutenção da produtividade florestal.
7
SOLO
Produtividade
Sem errar
Custo
8
MEMÓRIAS
AS CARAS DA
RESTAURAÇÃO
HISTÓRIAS DE
QUEM ESTÁ
Shutterstock
LUCRANDO COM
AS FLORESTAS
P
ode soar estranho falar sobre restauração florestal - a prá- de reconstrução de nossa economia e contribuem para o com-
tica de plantar árvores nativas para recuperar áreas degra- promisso do Brasil de restaurar e reflorestar 12 milhões de hec-
dadas - em um País que tem 60% da maior floresta tro- tares de florestas e áreas degradadas até 2030”, afirma Miguel
pical do planeta. Mas, é exatamente isso que está acontecendo Calmon, diretor de Florestas do WRI Brasil. “Essa meta só
no Brasil agora e que o WRI Brasil mostra com a série Caras pode ser alcançada por meio de uma diversidade de soluções,
da Restauração. projetos, escalas e características locais - e é exatamente isso que
Composta por episódios em vídeo e reportagens, ela retra- estamos mostrando: os rostos e as histórias de quem está fazen-
ta cinco histórias em diferentes Estados - de produtores fami- do, bem como os caminhos possíveis”, destaca.
liares a grandes produtores. Em comum, todos têm a transfor- Para o WRI Brasil, a restauração florestal deve ser reco-
mação de sua relação com a terra e o lucro advindo da floresta, nhecida como uma oportunidade com potencial de geração de
que pode ser maior do que a rentabilidade de atividades agro- benefícios econômicos, sociais e ambientais. A recuperação de
pecuárias convencionais. milhares de hectares de terras hoje degradadas pelo plantio de
A série abre com um caso de restauração no Estado do Pará, espécies arbóreas nativas de valor econômico e pela utilização
em plena floresta amazônica. Trata-se da transformação da fa- de sistemas agroflorestais, cria empregos e boa produtividade
mília Soares, agricultores do município de Juruti, que migraram nas comunidades agrícolas, além de contribuir para a seguran-
da tradicional produção exclusiva de mandioca para um sistema ça alimentar e hídrica.
novembro/dezembro 2020
agroflorestal. Adicionando árvores nativas da Amazônia, com
frutíferas e outras culturas agrícolas junto da mandioca, eles es-
peram elevar a produtividade e a renda ao mesmo tempo em
que restauram uma área de floresta que sofria com práticas de Sobre o WRI Brasil
corte e queima. Episódio 1: Um projeto de vida amazônico.
Com lançamentos semanais iniciadas em 14 de outubro no O WRI Brasil é um instituto de pesquisa que trans-
site wribrasil.org.br/pt/ascarasdarestauracaosite, a série anteci- forma grandes ideias em ações para promover a proteção
pa a Década da Restauração, que a Assembleia Geral das Na- do meio ambiente, oportunidades econômicas e bem-es-
ções Unidas declarou para o período entre 2021 a 2030. tar humano. Atua no desenvolvimento de estudos e im-
Cada episódio traz um relato aprofundado das transfor- plementação de soluções sustentáveis em clima, florestas
mações vividas a partir da decisão de investir na restauração e cidades. Alia excelência técnica à articulação política e
florestal, mostrando o processo de mudança de mentalidade trabalha em parceria com governos, empresas, academia
das pessoas retratadas - o que acaba formando um fio condu- e sociedade civil.
tor da narrativa que ajuda a ilustrar porque práticas de produ- O WRI Brasil faz parte do World Resources Insti-
ção mais sustentáveis fazem sentido, tanto do ponto de vista tute (WRI), instituição global de pesquisa com atuação
econômico quanto ambiental. em mais de 50 países. O WRI conta com o conhecimen-
Além das histórias de vida, os vídeos também trazem infor- to de aproximadamente 700 profissionais em escritórios
mações sobre os contextos e questões técnicas vinculadas a cada no Brasil, China, Estados Unidos, Europa, México, Índia,
realidade. “São histórias e rostos que humanizam uma agenda Indonésia e África.
9
SUSTENTÁVEL
NEEM
Deposit Photos
ESPÉCIE DE MÚLTIPLOS
USOS E FÁCIL ADAPTAÇÃO
novembro/dezembro 2020
A
João Gilberto Meza Ucella Filho Azadirachta indica A. Juss, conhecida popularmente por
16joaoucella@gmail.com nim ou neem, é uma espécie florestal de origem india-
Bruna Rafaella Ferreira da Silva na, pertencente à família Meliaceae, que se desenvol-
brunarafaellaf@hotmail.com ve em áreas de clima tropical e subtropical, fazendo com que
Engenheiros florestais e mestrandos pelo Programa de seja cultivado em diversos países da Ásia e em todos os países
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da Madeira da da África, Austrália, América do Sul e Central.
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
O neem é uma planta bastante difundida nas regiões nor-
Débora de Melo Almeida te, nordeste, sudeste e centro-oeste do Brasil. O cultivo da es-
Engenheira florestal, técnica em Controle Ambiental e mestranda pécie no País teve início no ano de 1986, no qual buscavam
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da aprofundar as pesquisas quanto à sua ação inseticida, e mais
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
debooraalmeida@gmail.com tarde, conhecimentos sobre o desenvolvimento da espécie.
A sua popularidade ocorreu principalmente devido ao seu
forte apelo comercial, em virtude de sua facilidade de cresci-
mento em campo, ampla possibilidade de aplicações e de qua-
se todas as partes da planta serem utilizáveis. Após as pro-
priedades da planta se tornarem mais conhecidas, foi dado
10
SUSTENTÁVEL
o início aos plantios em áreas comerciais em diversas regi- A sua madeira é moderadamente densa,
ões do País. bem avermelhada e resistente
Características
Léa Cunha
po de germinação das sementes é em torno de duas semanas,
a qual pode acontecer diretamente no solo ou transplantadas
como mudas, após cerca de três meses da semeadura direta,
sendo este último o método mais empregado. do o plantio, preferencialmente no início da estação chuvosa.
Apesar da espécie ser considerada de alta rusticidade, ela As etapas seguintes consistem no tratamento fitossani-
se adapta melhor a solos bem preparados. Com isso, o prepa- tário, em que é realizado o combate às formigas após a im-
ro do solo deve ser realizado com, pelo menos, as operações de plantação da cultura, e também deve ser realizada a poda dos
aração e gradagem, para que haja a homogeneização de uma ramos e do ponteiro apical, para obter um melhor aproveita-
profundidade mínima de 15 cm do solo. mento na produção dos frutos. Por fim, é realizada a colheita
A recomendação de espaçamento para a espécie é variá- dos frutos, o que normalmente ocorre a partir do terceiro ano
vel, visto que o desenvolvimento da planta depende das con- de desenvolvimento da planta.
dições de solo e clima. Logo, no Brasil recomenda-se de 3,0
a 8,0 m entre árvores, com o maior espaçamento nas regiões O neem e suas diferentes formas de utilizações
mais quentes.
Salienta-se também que a escolha do espaçamento está A espécie tem sido utilizada há mais de 2000 anos no
relacionada diretamente ao objetivo do plantio, de modo que, Oriente como planta medicinal e sombreadora, praguicida,
quando destinado à produção de madeira, o ideal são plantios lubrificante e adubo. Além disso, também pode ser utiliza-
menos adensados, e quando destinado a outros tipos de pro- da no reflorestamento, na produção de madeira, fabricação de
dução, como folhas, cascas, frutos e sementes, a concentração cosméticos, material para construção e combustível.
de indivíduos dentro da área pode ser maior. A ampla utilização do neem como planta medicinal en-
Por fim, inicia-se o processo de coveamento ou sulcamen- contra-se relacionada à baixa toxicidade e larga distribuição
to, o qual depende do método de preparo de solo, e a adubação na natureza. Estudos vêm demonstrando que o neem é uma
com esterco de gado curtido, para que em seguida seja realiza- planta medicinal que pode ser usada como antisséptico, tôni-
SUSTENTÁVEL
Subprodutos
meio de processos de extração em água e solventes orgânicos do Pará, em área cultivada com o neem (espaçamen-
(hidrocarbonetos, álcoois, cetonas ou éteres). to 4 x 4 m), destinado à obtenção de receitas a par-
Os métodos de extração com solventes fornecem vários tir de folhas e frutos para uso medicinal e à fabricação
compostos biologicamente ativos, sendo o mais antigo, po- de inseticidas, foi constatada uma viabilidade econô-
pular e extremamente eficaz o método de extração utilizan- mica com uma taxa interna de retorno do investimen-
do água. to de 265% por ano.
O mesmo foi observado também em outras regiões
Plantio do neem x precauções do mundo, como nos países da China e Índia.
De modo geral, o cultivo do neem apresenta-se
Por se tratar de uma espécie exótica de fácil adaptação e como uma forma rentável para produtores que dese-
propagação, torna-se necessário que, quando cultivada para a jam investir em plantios florestais, em virtude de sua
obtenção de bens e serviços, seja realizado o manejo adequa- fácil adaptação em diferentes condições endafoclimá-
do da espécie, de modo que a sua propagação seja controlada, ticas e por ser uma espécie de múltiplos usos, forne-
ficando restrita às áreas de cultivo. cendo diversos tipos de produtos e retorno financei-
Ao se disseminar de forma descontrolada, pode ocupar ro garantido.
áreas de floresta, afetando negativamente o estabelecimento Entretanto, o manejo do plantio deve ser bem re-
e desenvolvimento de espécies nativas. Esse controle pode ser alizado, para que não haja disseminação da espécie de
realizado por meio da colheita dos frutos, acarretando na re- forma descontrolada, prejudicando o desenvolvimento
dução da dispersão e regeneração da espécie em áreas inade- e/ou surgimento de plantas nativas.
quadas.
12
MECANIZAÇÃO
LOCAÇÃO DE MÁQUINAS
ALTERNATIVA PODE GERAR
ECONOMIA DE ATÉ 15%
Divulgação Komatsu
A
locação de máquinas para atuação no segmento flo- sideração as despesas mensais com manutenção. De acordo
restal pode ser uma opção mais econômica, se com- com o especialista, em um caso hipotético de uma colheita-
parada aos custos de aquisição e manutenção de um deira destinada a operações de corte, a economia seria de qua-
equipamento desse tipo. De acordo com análise realizada pela se 10% por equipamento. “É importante lembrar que a op-
Ouro Verde, especialista em gestão e terceirização de frotas ção pela locação permite recuperação de crédito proveniente
de veículos, a economia de recursos pode chegar a 15% em al- de recolhimento dos impostos PIS e Cofins, que tem alíquo-
guns casos. Tudo depende do tipo de maquinário, quantidade ta de 9,25%”, destaca.
de veículos locados e também do modo de operação. O gerente explica, ainda, que veículos desse tipo costu-
No geral, entre as vantagens da alternativa para a empresa mam ficar imobilizados por 72 meses, no caso de compra,
que opta pela locação estão o menor índice de endividamento sendo que, após os primeiros 36 meses de uso, ele deixa de
e redução da descapitalização, já que não é necessário dispor ter boa disponibilidade mecânica, o que acarreta em maio-
de grandes investimentos para a compra de ativos. res custos de manutenção e, consequentemente, menor pro-
Além disso, a modalidade de locação proporciona aumen- dutividade.
to da produção média e da produtividade do maquinário, de- Por outro lado, no caso da locação, o tempo de contra-
vido ao potencial para redução do número de equipamentos to costuma ser de 36 meses, garantindo que a utilização da
utilizados. Com isso, de acordo com o Head comercial de mesma seja mais produtiva.
novembro/dezembro 2020
locação de Pesados da Ouro Verde, Marluz Renato Cariani, Percentualmente, de acordo com o engenheiro, um equi-
conquista-se aumento da receita média e maior foco no negó- pamento utilizado por apenas 36 meses tem produtividade
cio para a empresa contratante. média de 87%, enquanto um utilizado pelo dobro do tempo
Outra grande vantagem da locação está relacionada com tem produtividade média de 75%. “Dependendo do número
a desmobilização do equipamento, que é facilitada pela em- de máquinas e tipo de equipamento locado, isso pode repre-
presa terceirizadora. sentar ganho de produtividade de aproximadamente 1,5 mês
Para o setor florestal, podem ser locadas máquinas desti- por ano”, ressaltou.
nadas ao transporte, colheita, silvicultura e manutenção de es-
tradas. De acordo com Cariani, a maioria das empresas ainda
opta pela compra de maquinário, no entanto, tem aumentado Sobre a Ouro Verde
o número de adeptos à locação de máquinas no setor florestal.
“Antes não havia opção assertiva que representasse vantagem Com mais de 45 anos, a Ouro Verde é especialista em
financeira na terceirização. Atualmente, já é uma alternativa gestão e locação de frotas de veículos, máquinas e equipa-
viável e que representa maior produtividade dos equipamen- mentos pesados para clientes corporativos. A companhia,
tos e economia de recursos”, explicou. recentemente adquirida pela canadense Brookfield, ofere-
ce o serviço de gestão de frota de forma integrada, contan-
Comparativo do com uma plataforma completa de serviços agregados
que incluem soluções tecnológicas, manutenção e opera-
Ainda segundo o gestor, além de comparar o valor de com- ções de ativos.
pra e os custos envolvidos na locação, a análise leva em con-
13
REBROTA
RESULTADOS
FERTILIZANTE DE LIBERAÇÃO LENTA
NA REBROTA DO EUCALIPTO
Kyvia Pontes Teixeira das Chagas o manejo do eucalipto pelo sistema de talhadia é possível com
Thiago Cardoso Silva a condução das brotações (Ferraz Filho et al. 2014).
O sistema de rebrota varia de acordo com a espécie plan-
Tarcila Rosa da Silva Lins
tada, no qual as árvores devem ser cortadas na época das chu-
Emmanoella Costa Guaraná Araujo vas, o mais próximo possível do solo, e antes do corte deve ser
Gabriel Mendes Santana aplicado fertilizante entre as linhas do plantio.
Doutorandos em Engenharia Florestal – Universidade Federal
do Paraná (UFPR) Vantagens
César Henrique Alves Borges
Doutorando em Ciências Florestais - Universidade Federal A vantagem de utilizar esta forma de produção é a manu-
Rural de Pernambuco (UFRPE) tenção das características e produtividade do indivíduo ori-
Ernandes Macedo da Cunha Neto ginal, em plantio clonal, quando bem conduzida, claro. Esta
Mestrando em Engenharia Florestal - UFPR prática é bastante utilizada, principalmente por empresas flo-
Lucas Coutinho de Miranda restais que alcançam médias de produção semelhantes àque-
Graduandos em Engenharia Florestal - Universidade Federal las encontradas na primeira rotação, dependendo das condi-
Rural da Amazônia (UFRA) ções edafoclimáticas (Gonçalves et al, 2014).
Um dos fatores que contribui para uma rebrota bem-su-
cedida é a utilização dos fertilizantes de liberação lenta, uma
vez que a liberação gradual dos nutrientes reduz a perda por
A
condução dos povoamentos florestais pode ser reali- lixiviação, ou seja, pelas águas que percorrem o solo, manten-
zada por meio do regime de alto fuste ou talhadia. No do os níveis adequados para o crescimento e desenvolvimen-
alto fuste, a recomposição é obtida por meio do plan- to durante todo ciclo.
tio de mudas, enquanto na talhadia o povoamento é formado Assim, este texto busca orientar sobre o manejo da rebro-
pela rebrota das cepas deixadas após o corte das árvores (Ri- ta, bem como a utilização de fertilizantes de liberação lenta
beiro et al. 2002). em plantios de eucalipto.
Depois do corte, algumas árvores emitem brotos a partir
de gemas dormentes presentes na cepa (Xavier et al., 2013) e Ação do fertilizante
novembro/dezembro 2020
Fotos Shutterstock
14
REBROTA
Pesquisas relatam que o número de aplicações pode ser re- tio deve ser realizado com ferramentas ou equipamentos ade-
duzido à metade, quando comparado com fertilizantes con- quados para a poda, evitando danificar o fuste do broto selecio-
vencionais, sem contar as ações positivas relacionadas à rebrota nado ou deslocar a casca das cepas (Ferrari et al., 2005). Essa
do eucalipto (Balloni; Silva, 1978; Raij et. al.,1996). etapa é importante para manter a sanidade do fuste a ser con-
Os fertilizantes de liberação lenta também podem au- duzido no plantio, com o objetivo de evitar a contaminação por
mentar a eficiência da absorção de nutrientes pela planta, fungos patogênicos e o surgimento de futuras doenças na plan-
culminando em resultados ainda mais significativos quanto ta.
ao aumento da produtividade (Trenkel, 2010). A recomendação de adubação para o uso de fertilizantes
No geral, possuem em sua composição NPK e alguns mi- de liberação lenta deve ser realizada após análise química do
cronutrientes, envoltos em um material semipermeável que se solo e laudo de um responsável técnico, com o objetivo de for-
degrada de acordo com condições edafoclimáticas combina- necer à planta os nutrientes necessários para o seu desenvolvi-
das, como o aumento da temperatura do solo, acidez e umida- mento e suprir o estoque dos nutrientes ausentes ou em bai-
de (Rossa et al, 2011; Figueiredo et al, 2012). xas concentrações no solo.
A aplicação do fertilizante de liberação lenta em dose úni- A aplicação do fertilizante é realizada em duas covetas em
ca não apresenta diferença dos fertilizantes convencionais até laterais do toco, com metade da dose em cada coveta, reco-
18 meses em plantios de eucalipto, no que diz respeito à mor- mendada pelo técnico responsável, em profundidade de cinco
talidade, produtividade ou nutrição, no entanto, reduz a ne- a 10 cm. Portanto, é necessário observar as recomendações de
cessidade de fertilização por cobertura (Silva et al, 2015). aplicação desse tipo de fertilizante, buscando não gerar preju-
Sendo assim, o regime de rebrota tem seu desenvolvimen- ízos financeiros ou danos ambientais.
to intimamente ligado à etapa de adubação, sendo necessário
escolher o método adequado de acordo com a necessidade do Investimento x retorno
plantio e custos para o produtor. Tal fato se dá pela retirada
dos nutrientes do solo, que não retornam para o sistema por O custo dos fertilizantes de liberação lenta varia de acordo
serem levados com a biomassa colhida. com a região, porém, costuma ser em média cinco vezes maior
que o valor dos fertilizantes convencionais (Cantarella, 2007).
Implantação da técnica Por apresentarem maior custo e quantidade de nutrientes, seu
uso é indicado e justificado pelo maior valor econômico atri-
Como forma de reação biológica das árvores, após o cor- buído ao produto madeireiro gerado pelas brotações.
te surgem as rebrotas, que apresentam grande quantidade de No caso da condução de rebrotas, os fertilizantes de li-
brotos (Ferrari et al., 2005). Neste processo ocorre um raleio beração lenta aumentam a eficiência por reduzirem as perdas
novembro/dezembro 2020
natural, denominado autorraleio, que reduz para aproxima- no campo, uma vez que os nutrientes vão aos poucos sendo
damente cinco ou seis brotos, que não devem ser mantidos liberados no solo, e assim disponibilizados para a absorção
neste número, sob pena de gerar produtos com deformidade. das raízes. Portanto, esse tipo de fertilizante está menos su-
Por isso, é recomendado deixar apenas dois ou três brotos jeito a perdas por lixiviação, volatilização ou carreamento dos
na cepa até atingirem 18 meses, e logo em seguida apenas um, nutrientes (Machado et al., 2016).
que se desenvolverá como fuste principal da árvore (Couto et Outra vantagem observada está relacionada ao tipo de
al., 1973; FAO, 1980). solo que os plantios florestais estão estabelecidos. Muitas ve-
Os brotos escolhidos, quando alcançarem a idade entre 12 zes esses solos são arenosos e com baixa capacidade de tro-
a 18 meses para condução, devem apresentar potencial em re- ca catiônica, portanto, a perda de nutrientes por lixiviação é
lação ao desenvolvimento e sanidade, sendo retos e vigorosos. grande quando aplicados fertilizantes convencionais, o que
Uma outra recomendação é que se deve escolher os brotos que diminui consideravelmente com o uso de fertilizantes de li-
provenham de gemas latentes mais baixas em relação à parte beração lenta.
superior do toco, para que o calo formado se fixe na parte su- Como há a aplicação de fertilizante durante todo o ciclo
perior das cepas, uma vez que as brotações laterais possuem a da rebrota do eucalipto, o uso dos fertilizantes de liberação
tendência de desprender com o peso dos novos fustes ou até lenta é viável, por permitir a redução das operações de adu-
mesmo com a ação do vento (FAO, 1981). bação. Considerando que o valor gasto com adubos e corre-
ções do solo representa até 50% do custo variável do estabele-
Recomendações cimento de plantios florestais e condução de rebrotas (Lemes,
2017), a utilização de fertilizantes de liberação lenta é uma al-
O corte dos brotos inapropriados para a condução do plan- ternativa promissora para ser aplicada.
15
OPÇÃO
PELLETS BIOMASSA
Shutterstock
Renovável e diretor executivo do Instituto Brasileiro Pellets bil dos dois últimos anos da sua empresa;
Biomassa Briquete Disponível na forma compacta, com baixo custo industrial
e reduzido custo em construção civil;
Curto espaço de tempo entre a contratação, operação e
U
ma nova oportunidade está disponível para o desen- funcionamento;
volvimento de um projeto industrial sustentável e com Totalmente adaptável para implantação nas instalações
excelente rentabilidade para a sua empresa. Seja um existentes;
produtor com uma tecnologia avançada (com reduzido custo Modular, para a produção de pellets;
de aquisição de equipamentos e construção civil) e exportador Garantia de venda pela Brasil Biomassa de toda a produ-
de pellets (euros acima de 6,60) ou garanta a sua participação ção industrial para avicultura e para a exportação para a Itália.
como um fornecedor futuro de pellets para o mercado brasi-
leiro (avicultura), que tem uma grande necessidade na aquisi- Resultados garantidos
ção de pellets para aquecimento térmico.
Conheça a nossa nova inovadora tecnologia compacta e Utilizando a tecnologia compacta de produção de pellets
modular (1,0, 1,2, 18, e 2,0) de produção de pellets (solici- você terá um excelente resultado financeiro e o retorno dos
te por e-mail diretoriabrasilbiomassa@gmail.com o novo en- investimentos. Quer saber mais? Entre em contato pelo nos-
carte técnico e industrial com orçamento e retorno do inves- so WhatsApp Empresarial Brasil Biomassa (41 98813-5785)
timento) com as quatros opções de negócio. e WhatsApp Empresarial Pellets Brasil (41 99656-9169),
Investir na produção sustentável de pellets significa ter ou ainda pelo Biomassa Pellets Business (41 99647-3481) e
uma excelente rentabilidade, com o aproveitamento dos resí- ABIB Brasil (41 3335-2284).
16
PÓS-COLHEITA
SECAGEM E
TRATAMENTO
DA MADEIRA
VANTAGENS PARA
O PRODUTOR
Annie Karoline de Lima Cavalcante
annie.karolinelima@gmail.com
Luana Candaten
luana_candaten@outlook.com
Engenheiras florestais e mestrandas do Programa de Pós-
Graduação em Recursos Florestais - USP
Elias Costa de Souza
Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e
Luize Hess
A
secagem da madeira consiste em remover a água da demanda pelo produto aumente, o produtor pode considerar
madeira de tal forma a obter peças de madeira – se- a terceirização da secagem, ou mesmo a implantação de se-
jam elas tábuas, ripas, pranchas, etc. – com melhores cadores.
propriedades de resistência mecânica e biológica, além de me- Dentre as diferentes técnicas de secagem da madeira, a
lhor estabilidade dimensional. secagem ao ar livre apresenta o melhor custo-benefício para
A secagem da madeira pode ser classificada em processos pequenas propriedades rurais, pois os recursos despendidos
artificiais e naturais. Dentre os métodos de secagem artificial, no processo são mínimos, já que para a aplicação da técni-
novembro/dezembro 2020
também conhecidos como secagem convencional, são utili- ca é necessário apenas um pátio de secagem sem obstáculos
zadas estufas e secadores, com controle de temperatura, umi- (quebra-vento) próximos, respeitando a direção predominan-
dade e circulação forçada de ar para a remoção da umidade da te dos ventos.
madeira. Este processo representa a parcela mais significati- Os pátios de secagem são locais onde as peças de madeira
va dos custos de produção da madeira serrada. Já nos proces- serão dispostas em forma de pilhas, sendo que o tipo e arranjo
sos naturais, são utilizados apenas o vento e a luz solar para da pilha varia em função da madeira a ser seca.
a secagem da madeira.
Preparo do terreno
Técnicas de secagem:
como adaptar para a sua realidade? Os pátios de secagem devem ser preparados de forma a
serem planos, com uma leve inclinação que permita a drena-
Para definir qual o melhor processo a ser adotado, o pro- gem do local. A disposição das pilhas nos pátios afeta dire-
dutor deve ter em mente o volume (m³) de madeira que vem tamente a velocidade de secagem, sendo assim, no caso em
sendo secado e quantos m³ são vendidos, além de considerar que as espécies necessitem de uma secagem mais branda, as
a mão de obra empregada e as previsões de aumento da de- pilhas devem ser posicionadas com distâncias menores entre
manda. elas, e o inverso no caso de espécies que suportam uma se-
Nos casos em que o volume seco e vendido são poucos m³ cagem mais rápida.
de madeira, o mais indicado é que sejam adotadas técnicas de Os principais tipos de empilhamento são: entabicamen-
secagem ao ar livre. Caso haja o intuito de aumento da pro- to, tesoura e gaiolas:
dução ou uma mudança da curva oferta/demanda, em que a No caso de pilhas entabicadas, são utilizados separadores
17
PÓS-COLHEITA
de madeira, chamados de tabiques, a cada camada disposta. O peças. Ou seja, a secagem pode reduzir as chances de ocorrên-
número e as dimensões dos tabiques variam conforme a espé- cia de surpresas indesejadas quando o material já está instala-
cie e a propensão ao aparecimento de defeitos, como rachadu- do, como a formação de espaços entre a madeira, etc.
ras e empenamentos, sendo respeitados valores pré-estabeleci- Além dos parâmetros estruturais relacionados ao bene-
dos; fício da aplicação da secagem da madeira, existem ainda as
O empilhamento em tesoura consiste em organizar as tá- questões relacionadas ao apodrecimento, emboloramento e
buas verticalmente aos dois lados de um cavalete, não sendo manchamento da mesma, que podem ser reduzidas com a se-
utilizados separadores; cagem. Isso porque, com a saída da água da madeira, as pos-
No caso do empilhamento em gaiolas, também conheci- sibilidades de desenvolvimento de organismos xilófagos no
do como empilhamento triangular, as peças são dispostas com material, tais como, cupins, fungos, brocas, entre outros, são
o intuito de formar um triângulo, sendo apoiadas em contato significativamente reduzidas.
umas com as outras. Atrelado ao processo de secagem, se a intenção do produ-
Em ambos os casos de empilhamento, devem ser conside- tor for destinar o material visando mais tempo em uso, são re-
radas as características da madeira a ser secada, pois há uma comendadas aplicações de tratamentos preservativos da ma-
maior tendência ao aparecimento de defeitos nas madeiras ao deira, os quais têm o objetivo de preservar contra o ataque de
adotar essas técnicas. organismos vivos, que foram citados anteriormente.
Em termos de produtividade, as técnicas de secagem ao Apesar de a secagem conferir ao material uma maior du-
ar livre apresentam desvantagens, quando comparadas aos rabilidade, essa não é tão longa quanto a oferecida pelos pro-
processos artificiais, pois dependem das condições climáticas cessos de preservação da madeira. Os mais aplicados são em
para que a secagem seja realizada, além de o teor de umida- escala industrial, porém, existem muitas técnicas que podem
de final ser acima daqueles obtidos em estufas e secadores in- ser empregadas na própria propriedade, as quais variam de
dustriais. acordo com o investimento nos produtos e na mão de obra.
Sendo assim, o produtor terá um estoque/capital congela- Entre os tratamentos de fácil aplicação, pode-se citar o
do até que estas peças estejam totalmente secas. uso de óleo queimado na madeira, o qual, por suas proprieda-
des de forte odor, conferem uma ligeira preservação do ma-
Benefícios da secagem de madeira terial, seguido da aspersão de produtos, como o popular jimo.
Já tratamentos mais refinados também podem ser reali-
A secagem da madeira, quando aplicada de forma correta, zados na propriedade, com um pouco mais de investimento,
agrega muitos benefícios para o material, pois, com a retira- como por exemplo, o método da substituição de seiva, o qual
da da água, é possível obter maior estabilidade dimensional às parte do material recém-extraído da floresta, descascado, que
Bela Vista Florestal
novembro/dezembro 2020
18
PÓS-COLHEITA
Luize Hess
fica mergulhado num galão com a solução por um certo perí- No caso de espécies com maior propensão a apresentar em-
odo pré-determinado. Dessa forma, por diferença de pressão, penamentos e rachaduras, como o caso do eucalipto, o melhor
a seiva é substituída pelo produto preservante. método a ser aplicado é o entabicamento, adotando pilhas pró-
ximas umas das outras, reduzindo assim a velocidade de seca-
Defeitos da secagem: como reduzir gem. Para evitar a incidência dos defeitos já citados e garantir
um produto com melhor qualidade, a secagem ideal deve ser
As técnicas de secagem e tratamento da madeira, mes- lenta e gradual.
mo que caseiras, são fortemente recomendadas para a melho-
ria da qualidade do material. Porém, quando esses processos Pesquisas
não são bem realizados, algumas implicações podem ser ob-
servadas, trazendo consequências negativas aos produtos, re- Alguns estudos realizados mostraram que o pro-
duzindo a qualidade do material e até mesmo impedindo o cesso de secagem natural da madeira serrada leva em
seu uso e aplicação. torno de 30 a 90 dias, de acordo com as característi-
Nesse sentido, torna-se necessário o mínimo de estudos e cas de clima do local em que se aplica. Já para a seca-
manejo técnico para a aplicação da secagem da madeira, sen- gem de madeiras na condição de toras, a mesma pode
novembro/dezembro 2020
do fundamental o conhecimento das características básicas da levar meses e até mesmo anos, e nesse tempo o mate-
espécie madeireira que está sendo utilizada, bem como o desti- rial pode passar por apodrecimentos e demais causas
no final desse material e em qual ambiente o mesmo será em- oriundas da biodeterioração.
pregado. Por isso, recomenda-se o seccionamento da ma-
Além do conhecimento sobre as características da es- deira para o processo de secagem, mas quando não é
pécie e da utilização de uma área plana e com baixa umida- possível, o indicado é que se mantenha a tora com a
de, sempre que possível deve-se iniciar a secagem suspensa, e casca, a qual atuará como uma barreira para a entrada
não diretamente em contato com o solo, evitando a propensão de organismos xilófagos no material.
de ataque de organismos nas peças, quando as mesmas ainda Com relação ao teor de umidade obtido no final
possuem alta umidade. do processo, quando se trata de secagem ao ar livre,
Essas informações são relevantes para a correta e bem-su- conduzida em localidades rurais, será possível obter o
cedida secagem da madeira, sendo que peças maiores precisam teor de umidade de equilíbrio local, ou seja, a madeira
ter tabiques separadores maiores, para que ocorra a passagem vai atingir o teor de umidade daquela região e, com
de vento entre as tábuas, proporcionando a secagem de toda a isso, não apresentará novas rachaduras ou demais de-
peça e não apenas de suas extremidades. feitos, se o processo for bem conduzido.
Como na secagem ao ar a velocidade do vento não é con- A umidade de equilíbrio chega em torno de 11 a
trolada, mas apenas o espaçamento e formato em que as peças 12% em quase todo o território brasileiro, atingindo
são submetidas ao processo, isso também pode ser um proble- cerca de 15% em regiões mais úmidas, como no Nor-
ma, causando defeitos como empenamentos, arqueamentos, te do País.
encanoamentos e rachaduras nas peças.
19
20
novembro/dezembro 2020
CAPA
CAPA
INCÊNDIOS FLORESTAIS
A REALIDADE SOBRE O FOGO
QUE CONSOME O BRASIL
Os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas são os responsáveis pelo
maior número de focos detectados até setembro de 2020. A nível de bioma,
para o mesmo período, a Amazônia concentrou 47,4% dos focos, o Cerrado
28,7%, Pantanal 11,4%, Mata Atlântica 8,7%, Caatinga 2,9% e o Pampa 0,96%.
novembro/dezembro 2020
Shutterstock
21
CAPA
Fernanda Moura Fonseca Lucas Espaciais (INPE), sendo este valor o recorde observado para o
Engenheira florestal e mestranda pelo programa de Pós- mesmo período nos últimos 10 anos (2011-2020).
Graduação em Engenharia Florestal - Universidade Federal do
Paraná (UFPR) Ecossistema em perigo
fernanda-fonseca@hotmail.com
Bruna Kovalsyki Os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas são os
Engenheira florestal e doutoranda pelo programa de Pós- responsáveis pelo maior número de focos detectados até se-
Graduação em Engenharia Florestal – UFPR tembro de 2020. A nível de bioma, para o mesmo período,
kovalsyki.b@gmail.com
a Amazônia concentrou 47,4% dos focos, o Cerrado 28,7%,
Alexandre França Tetto Pantanal 11,4%, Mata Atlântica 8,7%, Caatinga 2,9% e o
Engenheiro florestal, doutor e professor do curso de Engenharia Pampa 0,96%.
Florestal - UFPR Por ser um ecossistema sensível ao fogo, a Amazônia não
apresenta uma flora com características evolutivas adaptadas
O
s incêndios florestais são uma das principais ameaças à passagem de incêndios. Anualmente, manchetes no mundo
à biodiversidade de ecossistemas não dependentes do relatam os desastres proporcionados pela ocorrência do fogo
fogo. Este tipo de distúrbio pode ocorrer de forma na região.
natural ou por atos antrópicos, sendo o último caso relacio- O fato é que em condições normais, devido à alta umida-
nado principalmente a atividades de uso e ocupação do solo. de, o material combustível presente no interior da floresta ra-
Além das perdas ecológicas, a queima da biomassa pro- ramente entraria em ignição. Entretanto, esta realidade tem
veniente dos incêndios emite altas concentrações de carbono se modificado com o passar dos anos, basicamente devido à
para a atmosfera, comprometendo a qualidade do ar e resul- fragmentação de habitats pela expansão agrícola e as oscila-
tando em diversos riscos à saúde pública. ções climáticas, principalmente em anos com eventos como
No Brasil, o período que se estende de julho a outubro (Fi- El Niño, que reduz a quantidade de chuvas para a região, tor-
gura 1) corresponde à temporada mais crítica para ocorrência nando a floresta mais propícia à propagação das chamas.
de incêndios florestais, por ser também o período mais seco em Uma das causas mais graves de ignição está associada ao
diversas localidades. desmatamento, em que o fogo é utilizado ao final do proces-
so para limpeza da área aberta, por meio da queima dos restos
Condições para o fogo vegetais não explorados.
Diferentemente da Amazônia, o Cerrado e o Pantanal
A baixa umidade relativa, temperaturas elevadas, peque- apresentam tipos de vegetação mais dependentes e resilientes
na precipitação e ventos fortes resultam em uma atmosfera à passagem das chamas. Apesar disso, a situação evidenciada
perfeita para a propagação do fogo. Nos nove primeiros me- em 2020 para o Pantanal é extremamente alarmante. Embo-
ses de 2020, mais de 226 mil km² foram queimados em todo ra as espécies vegetais do bioma apresentem traços funcionais
o País e 160.459 focos de calor foram identificados por meio de proteção ao fogo, a intensidade dos incêndios presentes na
do satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas região este ano podem alterar o seu funcionamento ecológi-
Construção e manutenção de aceiro Figura 1. Média mensal da área queimada (km²) no Brasil de 2010
a 2019
novembro/dezembro 2020
100.000
Área queimada (km2)
80.000
60.000
40.000
20.000
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out nov Dez
Meses
Fonte: INPE, 2020
22
CAPA
35.000
30.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Anos
Fonte: INPE,2020
Fotos Heitor Renan Ferreira
co. Isso porque somente nos nove primeiros meses o bioma mas de lixo, fogueiras e balões, por exemplo. Assim, uma das
teve 32.910 km² de áreas queimadas, superior ao valor obti- formas mais simples de se evitar incêndios é por meio da eli-
do em todo ano de 2019, que já se tratava de uma taxa anor- minação das fontes de ignição, principalmente durante o pe-
mal (Figura 2). ríodo de seca (de julho a outubro).
Além disso, o Pantanal apresenta alta densidade de focos Por vezes, durante esse período, o Governo suspende a
de calor, uma vez que mais de 11% das detecções obtidas em permissão para o emprego de fogo por meio de decretos,
novembro/dezembro 2020
todo o País neste ano foram registradas para o bioma, que é o como o Decreto Federal n° 10.424, de 15 de julho de 2020,
menor em área territorial (150 mil km²), induzindo a percep- que se estende por um prazo de 120 dias e é válido para todo
ção de alta severidade das queimadas. o território nacional.
A estiagem e o baixo nível dos rios, associado à falta de Quando se faz necessário a aplicação de queima contro-
medidas preventivas, têm transformado o Pantanal em cinzas. lada, essa deve ter prévia autorização do órgão competente,
No Estado do Mato Grosso, o Parque Estadual Encontro das como demais determinações previstas pelo Decreto n° 2.661,
Águas já teve mais de 60% da sua área queimada, sendo este o de 8 de julho de 1998.
ambiente que abriga a maior concentração de onças pintadas Um dos principais aliados para a redução das fontes de
por quilômetro quadrado do mundo. ignição são campanhas de sensibilização da população sobre
Estes eventos, que assolam diversas localidades do País, o fogo, que podem ser dirigidas a comunidades específicas,
têm proporcionado perdas imensuráveis à biodiversidade, bem população em geral ou voltadas a crianças e jovens. No Bra-
como danos socioeconômicos. Outra situação, que também sil, o mascote “Labareda”, um simpático tamanduá criado em
preocupa diversos especialistas, é a exposição da população à 1992, é o símbolo oficial de campanhas de prevenção dos in-
fumaça e os riscos iminentes à saúde pública, que hoje vive um cêndios florestais.
grave quadro associado à pandemia da Covid-19.
Perigo à vista
Para evitar o fogo: previna-o
Uma importante informação a ser compartilhada diaria-
As principais causas de incêndios florestais no Brasil são mente com a população é o grau de perigo de incêndios flo-
antrópicas, como queimadas para limpeza de terreno, quei- restais, o qual pode ser obtido por índices de perigo de in-
23
CAPA
cêndios florestais, como a Fórmula de Monte Alegre (FMA), Apesar dos esforços em se prevenir a ocorrência de incên-
baseada nas condições meteorológicas da região em questão. dios florestais, nem todos conseguem ser evitados. Assim, a
Obter essa informação auxilia no planejamento de ativida- rápida detecção de focos de fogo é fundamental para as ativi-
des de prevenção e combate a incêndios florestais, tornando- dades de combate. Sempre que você observar focos de uma
-os mais eficientes. queimada, comunique o corpo de bombeiros, informando a
Atuando na quebra da continuidade horizontal de com- localidade e pontos de referência. Lembre-se: prevenir é me-
bustíveis, os aceiros – faixas livres de vegetação de largura va- lhor que combater!
riável (não menor que cinco metros) – atuam como barreiras
da propagação dos incêndios, impedindo ou dificultando o seu Combatendo os incêndios florestais
avanço, e ainda podem auxiliar nas ações de combate, facilitan-
do o acesso a áreas mais críticas. A manutenção dessas faixas O combate aos incêndios florestais pode ser dar por méto-
livres de vegetação deve ser realizada antes do período crítico dos diretos, indiretos ou paralelos.
de ocorrência de incêndios. a) Método direto: normalmente são utilizados para con-
Outra opção de barreiras para dificultar a propagação do trolar eventos de menor proporção. Neste método, o combaten-
fogo são as cortinas de segurança, ou barreiras verdes. Estas te se aproxima da chama e realiza o ataque com uso de abafado-
são faixas de espécies que apresentam baixa inflamabilidade, res, terra (pás) ou água (bomba costal, moto-bombas).
ou seja, são mais difíceis de queimar, e que podem ser implan- b) Método paralelo: utilizado quando a intensidade do
tadas ao longo de aceiros ou estradas, ou perpendicularmente fogo não é grande, mas que não é possível fazer o ataque di-
ao sentido predominante do vento, sempre que possível. Pes- reto. Neste método, são construídos pequenos aceiros parale-
quisas com inflamabilidade de espécies vêm sendo desenvol- los à linha de fogo.
vidas pelo Laboratório de Incêndios Florestais da Universida- c) Método indireto: normalmente são aplicados a incên-
de Federal do Paraná. dios de grandes proporções, onde não há possibilidade do com-
batente se aproximar da linha de frente. Neste caso, são abertos
aceiros em uma distância segura, podendo utilizar, também,
contra-fogo.
Após a redução da intensidade por meio do método indi-
reto ou paralelo, realiza-se o ataque direto. Além dos métodos
Em 2020, no Brasil convencionais listados anteriormente, em incêndios florestais
de grandes proporções também são utilizados aviões-tanque
226 mil km² e helicópteros, que podem atuar lançando água ou retardan-
tes químicos.
queimados
Erros fatais
60.459 Os erros mais comuns nos combates estão associados à fal-
focos de calor identificados ta de planejamento e de utilização de ferramentas adequadas.
Para iniciar a atividade, deve-se realizar um breve estudo da si-
tuação, sendo adequado a ação de equipes treinadas e com uti-
lização de equipamentos e ferramentas recomendadas.
novembro/dezembro 2020
24
CAPA
m maior númer
co o
de
s
do
foc
Esta
os
Cerrado 28,7% Pará
Arquivo Amazonas
Pantanal 11,4%
Mata Atlântica 8,7%
Caatinga 2,9% Mato
novembro/dezembro 2020
Pampa 0,9% Grosso
Ameaça
25
MECANIZAÇÃO
UTILIZAÇÃO E SEGURANÇA
MOTOSSERRAS NA COLHEITA E
EXPLORAÇÃO FLORESTAL
Fotos Pixabay
Ageu da Silva Monteiro Freire como o machado, apresentando no início grande peso e ope-
Engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e ração por duas pessoas, sendo melhorada no decorrer do tem-
doutorando em Engenharia Florestal – Universidade Federal do po, deixando-a mais leve e segura.
Paraná (UFPR) A importância dela é, principalmente, no manejo de pe-
ageufreire@hotmail.com quenas áreas, devido à inviabilidade econômica de equipa-
Amanda Brito da Silva mentos tecnológicos de grande escala em pequenas proprie-
amandab_silva12@hotmail.com dades rurais.
Joaquim Custódio Coutinho Uma das principais vantagens do uso da motosserra é
joaquimcustodiocoutinho@gmail.com a produtividade individual elevada, com baixo custo inicial.
Engenheiros florestais e mestres em Ciências Florestais - Contudo, essa atividade semimecanizada requer técnicas es-
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pecíficas de corte e segurança no manuseio para obter maior
produtividade e não ocasionar acidentes.
novembro/dezembro 2020
A
produção de madeira serrada no Brasil tem tido gran-
de destaque nos últimos anos, com contribuição sig- A motosserra atua essencialmente por um motor e um
nificativa do setor florestal na economia nacional nos sabre de corte. O uso de técnicas de corte da árvore em pé
últimos anos. Os principais produtos destacados da indústria de consiste praticamente em dois cortes no tronco. O primeiro
madeira processada mecanicamente são vigas, tábuas, pranchas, é relacionado à retirada de uma cunha (a partir de um ângulo
pontaletes, sarrafos, ripas, entre outros. de 90 graus e a cerca de 1/4 a 1/3 do diâmetro), isso na dire-
Além disso, a colheita florestal teve um avanço na moder- ção que se deseja a queda da árvore.
nização de máquinas, principalmente para aumentar a produ- O segundo corte é realizado do lado oposto ao primeiro
tividade e diminuir os custos. Diferentemente, a exploração corte (podendo ser de 5,0 cm mínimo acima do corte em V
florestal ainda possui um sistema manual e semimecanizado. inicial). Com isso, a árvore será derrubada na direção deseja-
Apesar do destaque para aplicação de tecnologias no se- da (Lopes et al., 2001).
tor florestal, temos a motosserra como ferramenta indispen- Erros na profundidade e ângulo podem ocasionar em ra-
sável ao pequeno produtor e também para algumas empre- chadura da árvore no momento da derrubada. Caso o com-
sas florestais. primento do sabre seja maior do que o diâmetro da árvore, o
corte de queda pode ser feito em um movimento, mas se for
Evolução menor, a posição da motosserra deve ser mudada várias ve-
zes. É importante ressaltar que podem ser realizados cortes
A máquina surgiu para substituir equipamentos manuais, nas árvores já derrubadas.
26
MECANIZAÇÃO
novembro/dezembro 2020
IMPORTANTE!
ANTES DO CORTE, CONSIDERE
Tipo de motosserra;
Inclinação do tronco a ser derrubado;
Distribuição da copa e situação de galhos;
Limpeza ao redor da árvore (área de trabalho);
Direção desejada para o tombamento;
Rota de fuga;
Localização dos colegas de trabalho;
Uso da técnica de corte apropriada.
27
MECANIZAÇÃO
Procurar verificar se os dispositivos de segurança estão em multa de três meses a um ano de detenção para quem comer-
dia, observar se o cordão de arranque precisa ser trocado (evi- cializar ou utilizar motosserra sem licença ou registro. Já o art.
tando assim que se rompa durante o trabalho), a limpeza e 57 do Decreto Federal 6.514 de 2008 estabelece multa de R$
reaperto de parafusos e porcas; avaliar se a corrente está bem 1.000,00 por unidade.
tensionada e afiada e, por fim, verificar se o sistema de lubrifi- Uma das principais causas de acidente com motosserra é
novembro/dezembro 2020
cação está funcionando corretamente (Senar, 2017). decorrente do rebote, que é um movimento inesperado e sem
controle da máquina, em que ela vai em direção ao opera-
Viabilidade dor. Alguns cuidados são importantes para evitar que o rebo-
te ocorra, como segurar firmemente a máquina com as duas
As motosserras têm poucas desvantagens quando se leva mãos, não utilizar a máquina em altura acima dos ombros e
em consideração o custo-benefício. Entretanto, antes de ob- também não operar com corpo inclinado para frente.
ter uma máquina é necessário ter em mente quais ativida- A manutenção da motosserra também deve ocorrer, para o
des serão desempenhadas, para que tenha uma potência ideal corte ser sempre preciso, nunca começando com a ponta supe-
para o trabalho, visto que no mercado existem marcas mun- rior do sabre, pois ela pode atingir partes mais duras e ocasionar
dialmente conhecidas, que suprem todos os tipos de necessi- o rebote. Também não se deve serrar mais de um galho por
dades e bolsos. vez, sempre tendo cuidado para a corrente não ficar presa em
outro galho ou pedaço cortado.
Segurança no uso de motosserras A Norma regulamentadora 17 de segurança e saúde no tra-
balho mostra que as condições de trabalho têm que se adaptar
O manuseio da motosserra de forma inadequada pode oca- às características psicofisiológicas dos trabalhadores. No caso,
sionar graves acidentes, principalmente ao operador, sendo que o operador da motosserra está exposto ao risco ergonômico,
o mesmo deve ter licença para a utilização e porte, como tam- ocasionado principalmente pelo esforço físico e má postura na
bém curso e treinamento. hora de usar a máquina, além de outros riscos, principalmen-
O art. 51 da lei 9.605 de 1998, que expressa penalidades te ocasionados pela vibração e ruído.
para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, institui Para atenuar esses riscos, o operador deve sempre estar com
28
MECANIZAÇÃO
novembro/dezembro 2020
29
CACAU
OS DIFERENTES SISTEMAS
DE CULTIVO DO CACAU
Arquivo
O
cacau (Theobroma Cacao), originário de florestas plu-
viais tropicais, é uma árvore perenifólia que pode atin- Produção
gir até 8,0 m de altura, apta a clima quente e desen-
volve-se bem em temperaturas entre 22º e 26ºC. Seu cultivo O cultivo do cacau atualmente está concentrado em três
começou no Brasil em 1679 por meio da Carta Régia que regiões do mundo, no sudoeste da Ásia, oeste da África e no
autorizava os colonizadores a plantá-lo. Existem três varie- Brasil. Aqui, o histórico da lavoura cacaueira é repleto de as-
dades dessa espécie, que são agrupados em: criollo, forastei- censões e quedas - o Brasil, que já foi o maior exportador, hoje
ro e trinitário. em dia ocupa a sétima posição mundial, sendo os Estados do
O tipo forasteiro é o mais comum e o mais difundido den- Pará e a Bahia os maiores produtores nacionais.
30
CACAU
Estima-se que as sementes advindas do Pará chegaram tes, promovendo um conforto térmico produtivo essencial
em solos baianos em 1746. A produção cacaueira apresentou para o estabelecimento e fixação da muda. No ano de 2018,
sua maior expansão entre os anos de 1890-1930, principal- agricultores do Sul da Bahia colheram mais de 200 arrobas
mente devido às condições ambientais encontradas no Esta- por hectare de cacau em sistema a pleno sol.
do, além da disponibilidade de terra e de mão de obra. Embora venha apresentando bons resultados, necessitam
No entanto, este cenário mudou no final do século XX. A de maior aporte de fertilizantes, agrotóxicos e em muitos ca-
cultura, que já vinha passando por uma crise devido à falta de sos, irrigação. Desse modo, os cultivos de cacau com pouca
incentivos de créditos aos produtos e ao baixo custo das com- sombra ou a pleno sol são considerados por muitos, menos
modities devido à expansão da atividade em países africanos, sustentáveis, envolvendo maiores riscos e custos de produção.
culminou em uma dizimação de boa parte da produção devi- Apesar disso, apresentam como vantagem a aplicação de tec-
do a uma doença conhecida como vassoura-de-bruxa. nologia, possibilidade de fertirrigação e de produção de ca-
Hoje, o cultivo passa por recuperação e tem apresentado cau fino.
resultados satisfatórios. Dentre os métodos de cultivo, des- Recomenda-se, neste sistema, o plantio inicial com ou-
tacam-se os sistemas agroflorestais, sistema cacau-cabruca e tra cultura, como a banana. Após atingir altura média, as ba-
a pleno sol. naneiras ofereceram proteção ao vento e sombreamento para
dar início ao plantio das mudas de cacau. As folhas das bana-
Sistemas agroflorestais neiras liberam potássio no solo, importante nutriente para as
mudas jovens.
A cobrança por produções em campo mais rentáveis e Além disso, oferecem um importante subproduto com-
menos nocivas ao ambiente tem impulsionado a implan- plementar à receita, as bananas. Depois de dois anos da im-
tação, por meio dos produtores, dos sistemas agroflorestais plantação das mudas, realiza-se a remoção das bananeiras, per-
(SAF’s). Este consiste na utilização de espécies florestais lenho- manecendo o cultivo do cacau solteiro a pleno sol. Diversos
sas consorciadas com culturas agronômicas e/ou animais, tra- produtores do Sul da Bahia têm adotado este sistema e obti-
zendo benefícios ambientais e produtos diversificados em um do alta produtividade, o que se constitui como preocupação
único terreno. em relação à preservação da cabruca.
Com isso, as SAF’s são apontadas como opções prefe-
renciais de uso da terra pelo seu alto potencial de aumentar Sistema cacau-cabruca
o nível de rendimento em relação a aspectos agronômicos, so-
ciais, econômicos e ecológicos. A palavra cabruca é um termo regional derivado da fra-
Devido a se apresentar como uma cultura tolerante, asso- se “vem cá brocar” a mata para plantar cacau. É um sistema ca-
ciada com outros vegetais, o cacaueiro sempre foi naturalmen- racterístico da região cacaueira do Sul da Bahia, podendo ser
te cultivado via sistema agroflorestal. Em diversas regiões, como considerado precursor dos sistemas agroflorestais. Consiste
Brasil, Nigéria e Camarões, a associação desta cultivar com es- em um modelo sustentável de agricultura tropical. Ao con-
pécies lenhosas é um método bastante difundido em virtude da trário do método a pleno sol, as cabrucas são plantações tra-
compatibilidade e sustentabilidade de sistemas de produção dicionais que se baseiam na inserção do cacau no estrato in-
multi-estratificados. ferior da floresta.
Um dos consórcios mais bem estabelecidos do cacau é com O cacau implantado no sub-bosque de forma descontínua
a seringueira. As culturas não são concorrentes, sendo conside- não prejudica as relações da vegetação remanescente. A cabru-
radas complementares, pois além de extrair nutrientes em ca- ca possui alta biodiversidade e proporciona: maior conforto tér-
novembro/dezembro 2020
madas diferentes do solo, partilham do mesmo polinizador, mico, conservação do solo, reduz a evapotranspiração e a in-
podendo, assim, otimizar a mão de obra e melhorar a recei- cidência de pragas. Também promove uma economia verde
ta. Entretanto, outros modelos também podem ser utilizados e atua como corredor ecológico ao manter a floresta em pé.
em SAF, como a consorciação de cacaueiros e pupunheiras em
renques, teca em renques, assim como outras espécies arbóre-
as, como mogno (Swietenia macrophylla), cedro rosa (Cedrela
odorata) e castanha-do-pará (Bertholletia excelsa).
Vale salientar que para cacaueiros jovens o fornecimento
de sombra é essencial para o bom desempenho de produção.
Além disso, os espaçamentos entre as árvores devem ser leva-
dos em consideração, podendo ser de, no mínimo, 6,0 x 3,0 m
até 24 x 24 m, variação que é determinada pela espécie em uso.
31
CACAU
Limitações da cacauicultura
Satis
32
CACAU
Fotos Satis
novembro/dezembro 2020
dutos, como alimentos (chocolates e mel), cosméticos (hidra- dução de cacau e as condições edafoclimáticas favoráveis
tantes e shampoos) e fitofármacos. que diversas regiões do Brasil oferecem para o plantio desta
De acordo com a Comissão Executiva do Plano da La- cultivar, o cacaueiro torna-se uma boa opção para investimen-
voura Cacaueira (CEPLAC), a cadeia produtiva desta culti- to, com retorno financeiro garantido.
var é responsável, atualmente, por um produto interno bruto
de aproximadamente R$ 20 bilhões.
As indústrias que mais se destacam no setor são as de pro- Sustentabilidade
cessamento de amêndoas e produção de chocolate. No Brasil,
no ano de 2018, o volume exportado de amêndoas foi de 616 O cacau é um produto florestal não madeireiro (PFNM)
toneladas. Além disso, os dados da AIPC e do IBGE enfati- de importância econômica e social para o Brasil, gerando
zam a importância da produção de cacau no Brasil socioeco- empregos e participando de forma positiva para o PIB. A
nomicamente, estimando que só a indústria processadora em- implementação de distintos métodos de cultivo, como sis-
prega diretamente quase 29 mil pessoas. tema pleno sol, agroflorestais e cabrucas, quando maneja-
O Estado do Pará destaca-se como um dos principais dos de forma correta, contribuem para maior produção e
produtores de cacau do País, onde, só no ano de 2019, a pro- geração de renda para o agricultor.
dução de amêndoas ficou em torno de 133 mil toneladas, ge- Além disso, as SAF e cabruca podem se apresentar
rando emprego para aproximadamente 240 mil pessoas de for- como sistemas de baixos custos e sustentáveis, reduzindo os
ma indireta, e outras 60 mil de forma direta. Na Bahia, três impactos ambientais e ampliando a biodiversidade da re-
milhões de pessoas são beneficiadas pela produção cacaueira. gião onde está inserido.
Levando em consideração os números satisfatórios da pro-
33
BIOMA
CONSERVAR O BIOMA É
UM EXCELENTE NEGÓCIO
Fibria
E
m Minas Gerais, a cada 1,0 hectare plantado, 0,6 hec- Além de ser o maior bioma do Estado, o Cerrado é o se-
tare é conservado, o que coloca a indústria florestal gundo maior bioma do País, perdendo apenas para a Amazô-
mineira em evidência quando o assunto é preservação nia, e também o segundo maior da América do Sul.
de matas nativas. Não à toa, o Dia do Cerrado, celebrado dia O bioma tem, ainda, grande importância social, visto que
11/10, é tão significativo para a Associação Mineira da Indús- muitas populações, especialmente indígenas, geraizeiros e qui-
tria Florestal (AMIF), que aproveita a data para provocar a lombolas, sobrevivem dele. “É um hot spot mundial, ou seja, um
novembro/dezembro 2020
reflexão sobre a urgência de conservar este que é o bioma de bioma que merece atenção especial para conservação, mas,
maior representatividade no Estado, presente em 54% de sua apesar de toda a riqueza, o Cerrado ainda é carente da me-
extensão, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia recida atenção e variedade de projetos multidisciplinares de
e Estatística (IBGE) atualizados em 2019. conservação, como os demais biomas brasileiros. Mesmo com
Dos mais de 2,3 milhões de hectares de florestas plan- sua alta disponibilidade de regeneração natural, infelizmen-
tadas em Minas Gerais, 66% estão concentrados no Cerra- te ela não concorre com o ritmo acelerado da degradação am-
do, enquanto 33,7% estão na Mata Atlântica e cerca de 0,1% biental causada pelo homem”, afirma Maugeri.
na Caatinga.
De acordo com a presidente da AMIF, Adriana Mauge- Conservar é um bom negócio
ri, as florestas plantadas têm papel fundamental no combate à
destruição dos três principais biomas de Minas Gerais. Entre Além de possuir a maior área de plantio florestal do País,
as várias contribuições, duas merecem destaque: “a primeira é o setor florestal mineiro conserva 1,3 milhão de hectares de
a preservação e conservação de matas nativas dentro das áre- florestas nativas no Estado. Esta relação entre árvores plan-
as plantadas, formando extensos mosaicos entre estas e mul- tadas e as nativas em um ambiente é extremamente benéfica
tiplicando, desta forma, os benefícios ambientais que os plan- para o meio ambiente e também para o bolso.
tios de árvores produzem; a segunda é a redução da pressão Além de multiplicar os benefícios ambientais, como: con-
sobre as vegetações nativas e que não possuem finalidade eco- servação de solos, proteção de recursos hídricos, absorção de
nômica. Ao disponibilizar madeira sustentável ao mercado, as carbono da atmosfera e melhorias do microclima, esta simbio-
florestas plantadas reduzem naturalmente a demanda por ma- se ainda melhora a produtividade dos plantios florestais, ofere-
deira de origem ilegal proveniente das matas nativas”. cendo madeira em melhor qualidade e quantidade ao merca-
34
BIOMA
CULTIVO DE SERINGUEIRA
PARA PRODUÇÃO DE
BORRACHA NATURAL
novembro/dezembro 2020
José Geraldo Mageste reduzir estes e encorajar cada vez mais investimento neste se-
jgmageste@ufu.br tor da Agricultura, é preciso se cercar de informações tecno-
Lísias Coelho lógicas.
lisias@ufu.br Quando o Brasil se deu conta de que a extração de bor-
Engenheiros florestais, professores do ICIAG/Universidade racha das árvores da floresta tropical não poderia sustentar
Federal de Uberlândia (UFU) as demandas nacional e internacional, implantou seringais de
produção com cultivos homogêneos na floresta amazônica.
Isto foi um desastre, pela ocorrência do “mal das folhas” de
O
cultivo de seringueira, tanto para produção de bor- maneira epidêmica.
racha natural quanto de madeira (principalmente no O fungo causador da doença encontrou condições ideais
Estado de São Paulo) no Brasil, vem se tornando uma e dizimou estes seringais de cultivo, levando o País a desen-
boa opção de renda para produtores rurais. volver tecnologia de produção fora do ambiente amazônico.
Os resultados de pesquisas indicam um mercado crescen- A ocorrência da doença nos seringais de cultivo da região
te e promissor. Mas, não existe investimento sem riscos. Para amazônica e o desenvolvimento tecnológico das plantações
36
BORRACHA
novembro/dezembro 2020
de grande porte, dedicada exclusivamente ao processamento
da madeira desta espécie.
No Brasil e no mundo
da Ásia, associados ao aumento da demanda, principalmente O produto látex representa quase 2% do PIB. A partici-
pela indústria automobilística, fizeram a participação brasilei- pação já foi de até 25% no início do século 20, e que naquela
ra no mercado internacional cair. época o café era um dos carros-chefes da exportação brasilei-
O País saiu da condição de primeiro exportador mundial, ra, com grande expressão no PIB.
no final dos anos 1800, para importador de até 90% de sua Além disso, o cultivo de seringueira possui um fator so-
demanda em meados do século seguinte. Então, aqueles que cial diferenciado. O látex é extraído durante 10 meses no ano;
entrarem no mundo da produção de borracha natural vão en- nos dois meses em ue não é possível sangrar, há outras ativi-
contrar um mercado promissor, mas que não lhes permite dis- dades essenciais a serem realizadas, ocupando a mão de obra
tanciar de informações tecnológicas atualizadas e bem em- rural permanentemente.
basadas. Para pequenas áreas, uma família pode cuidar de cinco
a 10 hectares de seringueira em produção, permitindo ain-
Cultivo de seringueira para borracha natural da que outras atividades rurais sejam realizadas. Assim, em-
prega-se, com boa qualidade de vida, grande contingente de
A borracha natural possui usos específicos que asseguram mão de obra rural.
seu consumo, dadas as suas propriedades elastâmeras e mecâ- Em países asiáticos, a produção de látex é feita principal-
37
BORRACHA
Borbrás
mente por pequenos produtores. Assim, é comum ter famí- Maior demanda
lias responsáveis por 1,0 a 2,0 hectares, de onde tiram o seu
sustento. Não existem locais específicos de demandas concentradas
de látex. Enganam-se os que pensam que no entorno de São
Área plantada Paulo está a maior demanda de borracha natural. A maior
concentração de indústrias beneficiadoras de látex está em
Calcula-se que no Brasil existam mais de 50.000 hecta- São Paulo, porque mais de 50% dos plantios estão neste Es-
novembro/dezembro 2020
38
BORRACHA
Rentabilidade x retorno
novembro/dezembro 2020
sido alcançada com 4,5 a cinco anos. Mas, melhorando-se
principalmente a adubação adequada, ela começa a aconte- crescimento do sistema radicular em profundidade. A aduba-
cer com 5,5 anos. ção fosfata no início da implantação é de fundamental impor-
tância para que haja um crescimento da raiz em profundidade,
Manejo do plantio à colheita propiciando resistência aos veranicos. Lembre-se que se trata
de uma planta perene. Logo, será importante não “morrer de
Maior atenção deve ser dada à matocompetição e aduba- sede” durante os veranicos.
ção adequada. A matocompetição ocorre principalmente com
a braquiária, uma vez que a maioria dos seringais é plantada
em áreas de pastagem. Em povoamentos jovens, esta gramí- Orientação é fundamental
nea “rouba” com eficiência todo adubo da seringueira e atrasa
consideravelmente o seu crescimento. Nunca ignore uma boa assistência técnica. Con-
A adubação adequada tem que levar em consideração o sulte sempre os engenheiros florestais dedicados a esse
fornecimento de magnésio e micronutrientes, principalmen- cultivo. Troque experiências nas associações estaduais
te o chamado “grupo do ferro”: ferro, cobre, zinco e boro. É e valorize a produção de sementes, pois elas ajudam a
comum observar seringais com deficiências de magnésio (a reduzir os custos de manutenção do seringal. Obser-
formulação para seringueira deve ser NPK + MG). Uma vez ve o desenvolvimento dos diversos clones. Um clone
instalados os sintomas de deficiência destes nutrientes, a recu- bom garante o sucesso, ao mesmo tempo que clones
peração é penosa e demorada. ruins inviabilizam o cultivo.
Por outro lado, tudo deve ser feito para haver um bom
39
SERINGUEIRA
O
percevejo-de-renda é um problema grave para os pro- O fungo entomopatogênico disponibilizado pelo IB des-
dutores de seringueira, já que a praga pode reduzir em de 1997 é à base de Simplicillium lanosoniveum, um inimigo
30% a produção de látex, em 30% o crescimento da ár- natural da mosca do percevejo-de-renda. Por isso, seu uso re-
vore e em 45% o diâmetro do colo da planta. duz a ocorrência da praga, diminui os custos de produção e
O Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agri- ainda reduz os impactos ambientais da atividade. Estima-se
cultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, disponibi- que em 2019, o Simplicillium lanosoniveum foi aplicado em
liza, há mais de 20 anos, um fungo para controle biológico do 9.000 hectares plantados com seringueira em São Paulo, Goi-
percevejo-de-renda. O agente pode reduzir em até 60% os ás, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
custos com aplicação de defensivos agrícolas. De acordo com Antonio Batista Filho, pesquisador do IB
40
SERINGUEIRA
Como funciona?
novembro/dezembro 2020
percevejo é necessário que o produtor tenha conhecimento da tureza. Os agentes de controle biológico agem em um alvo
população de insetos que atacam sua plantação e a partir daí específico, não deixam resíduos nos alimentos, são seguros
tome a decisão para aplicar o produto. “Semanalmente, as áre- para o trabalhador rural, protegem a biodiversidade e pre-
as com seringais devem ser vistoriadas e quando o número de servam os polinizadores.
adultos por folha for superior a cinco insetos, o produtor deve Referência no Brasil e no mundo em controle bioló-
tomar medidas para reduzir a população do percevejo”, afirma. gico, o IB tem forte atuação junto ao setor produtivo, ten-
do orientado a criação e manutenção das biofábricas, que
desenvolvem esses produtos biológicos para serem aplica-
dos nas lavouras.
Ao todo, mais de 80 biofábricas de todo o Brasil rece-
bem orientação dos pesquisadores do IB. Em 2019, o Ins-
tituto assinou 23 contratos para transferência de tecnologia
a essas empresas, localizadas em São Paulo, Minas Gerais,
Mato Grosso e Paraná.
O IB mantém o Programa de Inovação e Transferência
de Tecnologia em Controle Biológico (Probio), que reúne
Marineide Vieira
41
ARAUCÁRIA
CONEXÃO ARAUCÁRIA
Shutterstock
S
urgida há milhões de anos, a araucária, árvore símbolo do Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), com financia-
Sul do Brasil, corre sério perigo. Um estudo da Universi- mento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
dade de Reading (Reino Unido) aponta que até 2070 a Social (BNDES) e da empresa Japan Tobacco International
espécie deve ser extinta, sobrevivendo em pequenos refúgios – ( JTI), que é também uma parceira operacional no desenvol-
se houver cuidados adequados. vimento das atividades.
Os motivos para isso são a destruição de seu habitat – atu- O projeto vai recuperar cerca de 330 hectares em peque-
almente, já reduzido em 90%, o aquecimento global, o cons- nas propriedades rurais distribuídas nos municípios de São
tante desrespeito à legislação de proteção da espécie e a redu- Mateus do Sul, São João do Triunfo, Palmeira, Rio Azul,
ção de sua diversidade genética. Mallet, Rebouças e Paulo Frontin, no Sudoeste do Estado pa-
Nesse contexto, o projeto Conexão Araucária, executa- ranaense. Dessa forma, também pretende que as áreas aten-
do junto aos agricultores familiares do Paraná, está em ação dam ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) e este-
para restaurar áreas de floresta onde originalmente se desen- jam em conformidade com o Código Florestal.
volviam as araucárias, visando à preservação desta e de ou-
tras espécies e à proteção das nascentes de rios. Um impor- Preservação
tante exemplo que foi compartilhado no Dia da Árvore, em
21 de setembro. Por meio de técnicas de restauração, a iniciativa visa re-
A iniciativa é desenvolvida pela Sociedade de Pesquisa em compor Áreas de Preservação Permanente (APP) – matas ci-
42
ARAUCÁRIA
Plantio em Jaciel
liares, topos de morro e encostas – além de Unidades de Con- Moutim, Rio Azul
servação, tais como parques nacionais, com espécies nativas da
Floresta com Araucárias do bioma Mata Atlântica.
Ela se diferencia de outros projetos de restauração por
novembro/dezembro 2020
centes estão escoando com mais facilidade, sem sentir a estia- a visita técnica da SPVS em sua propriedade.
gem”, conta o produtor de tabaco, que também cultiva verdu- Na visita técnica é feita uma avaliação das APP (en-
ras, soja, milho, batata doce e cria galinhas. torno de nascentes, margens de rios, lagos e lagoas, en-
costas, entre outras) e, caso seja necessária a intervenção,
Projeto é proposto o Plano de Restauração, conforme a legislação
ambiental e em concordância com o proprietário. Nes-
A expectativa é de que, com o tempo, o projeto também te momento o proprietário deve assinar uma autorização
contribua para o desenvolvimento da agricultura. “Práticas sus- para restauração, e assim garantirá o benefício em sua pro-
tentáveis, como o Conexão Araucária, são importantes para a priedade.
sustentabilidade da natureza, com a qual a JTI tem um com- No momento mais adequado, a SPVS fará a restaura-
promisso, mas também com a sustentabilidade do nosso ne- ção conforme o plano acordado com o proprietário.
gócio e dos agricultores. A recuperação da biodiversidade re- A SPVS orienta o proprietário sobre como fazer a ma-
gional, o maior controle biológico das pragas, o aumento da nutenção das mudas para que elas cresçam fortes e prote-
presença de polinizadores, melhorias na fertilidade do solo, jam os cursos d’água como devem. Qualquer problema
a melhoria na qualidade e quantidade da água e o auxílio da na restauração executada pelo projeto deve ser reportado
regulação climática são alguns dos benefícios que temos por ao Técnico de Agronomia da JTI.
meio desse projeto e são essenciais para termos as condições Em algumas propriedades, a SPVS realiza o monito-
de continuar produzindo cada vez mais e melhor”, afirma Fla- ramento da evolução dos plantios para avaliar os resulta-
vio Goulart, diretor de Assuntos Corporativos e Comunica- dos do projeto e prestar contas aos financiadores.
ção da JTI.
43
AMAZÔNIA
E
studos realizados por unidades de pesquisa da Embra-
pa em diferentes regiões brasileiras comprovam que o
manejo florestal por espécie é uma inovação com po-
tencial de agregar renda e sustentabilidade à região amazô-
nica.
Adequar a intensidade de exploração, diâmetros e os ciclos
de corte às peculiaridades de cada espécie, e não ao volume to-
tal de árvores nas áreas manejadas, garante retorno econômico
mais rápido ao produtor e mantém o equilíbrio da diversidade
da floresta. Os índices técnicos, que levam em conta as carac-
terísticas de crescimento e a taxa de recuperação das espécies
florestais, podem ser implementados para a modernização dos
protocolos vigentes na legislação brasileira.
novembro/dezembro 2020
44
AMAZÔNIA
Exploração quiá (Caryocar villosum [Aubl.] Pers). Todas são espécies ex-
ploradas comercialmente.
Na lógica atual, a exploração é pautada pela recuperação Entre elas, considerando uma intensidade de exploração
do volume total de árvores de uma determinada área. “Com de cerca de 90%, ou seja, quase a totalidade das árvores ap-
isso, acabamos retirando as espécies mais abundantes sem le- tas ao corte, o breu vermelho apresentou a maior taxa de re-
var em conta a recuperação do estoque dessas espécies, e tam- constituição, de 65%, e a maçaranduba a menor taxa: 2%. Já a
bém sem considerar a disponibilidade de estoque de outras timborana e o piquiá obtiveram taxas de recuperação de 12 e
espécies ao longo dos anos”, explica Lucas Mazzei, pesqui- 6%, respectivamente.
sador da Embrapa Amazônia Oriental (PA). Para o engenheiro florestal Josué Evandro Ferreira, que é
No estudo com a maçaranduba, que é uma das principais o responsável técnico pelos planos de manejo da empresa Ci-
espécies de interesse do mercado madeireiro nacional, verifi- kel, atualmente a exploração legal é a mesma para espécies de
cou-se que o ciclo de corte de 35 anos, combinado com uma rápido e de longo crescimento. “Sabemos que têm espécies que
intensidade alta de exploração, não é suficiente para a recupe- se recuperam em 20 anos, mas outras precisam de 100 anos”,
ração dessa espécie. Isso porque, segundo Mazzei, a maçaran- complementa.
duba é abundante, mas tem um crescimento lento. Ele acrescenta que a pesquisa vem cada vez mais dando
Os indivíduos jovens dessa espécie podem levar mais de subsídios para que o manejo funcione bem e mantenha a flo-
uma centena de anos para atingir o diâmetro mínimo de cor- resta de pé. “O manejo florestal por espécie é plenamente vi-
te (DMC) de 50 cm. “Então, a exploração contínua dessa es- ável, mas precisa de divulgação, principalmente nos órgãos
pécie em ciclos consecutivos de 35 anos não garante o mesmo de fiscalização, pois a lei já indica que é possível customizar
retorno financeiro e compromete a recuperação do estoque o manejo de acordo com índices técnico-científicos”, afirma.
nas áreas exploradas, já que os indivíduos jovens levam muito A atividade deve caminhar na direção da sustentabilida-
mais tempo para se recuperar”, afirma o cientista. de, ou seja, “entrar na floresta e extrair o que ela oferece no
momento, respeitando o ciclo de recuperação de cada espécie,
Extrair o que a floresta é seja de 15, 20, 30 ou 100 anos”, pontua.
capaz de recuperar
Ciclos de corte e diâmetros precisos
Na Fazenda Rio Capim, município de Paragominas, re- são mais eficientes
gião nordeste do Pará, a Embrapa Amazônia Oriental, em
parceria com a empresa Cikel, avaliou a taxa de recuperação A Embrapa Florestas também realiza pesquisas com espé-
dos estoques de árvores para diferentes espécies. Essa taxa é o cies na Amazônia, e utiliza outro enfoque. A base de seu tra-
volume de árvores que em 35 anos alcança o diâmetro míni- balho é a combinação de dados da estrutura da floresta e o
mo de corte. “Esse cálculo é simples: quanto menor a taxa de diâmetro ideal de corte por espécie, visando o aumento da pro-
recuperação, menor o crescimento das espécies”, alerta Maz- dutividade. “Essa metodologia é baseada no conhecimento de
zei. que algumas classes diamétricas são mais produtivas que ou-
Além da maçaranduba, as espécies avaliadas foram a tim- tras”, explica a pesquisadora Patricia Mattos.
borana (Pseudopiptadenia psilostachya [DC.] G. P. Lewis & M. Na microrregião de Sinop, no Mato Grosso, foram realiza-
P. Lima), breu vermelho (Protium altsonii Sandwith) e o pi- dos estudos com dez espécies amazônicas. Uma das pesquisas,
realizada no município de Santa Carmem, indicou que, para al-
gumas espécies florestais comerciais, a produção é maior em
novembro/dezembro 2020
condições de ciclo e diâmetro mínimo de corte menores que
Sustentabilidade é o maior desafio
os previstos na legislação atual.
do manejo florestal
Entre as espécies estudadas estão a cupiúba (Goupia gla-
bra Aubl.), cambará (Qualea albiflora Warn), cedrinho (Eris-
A madeira é um importante produto da balança
comercial do Pará, que em 2019 movimentou mais de
US$ 200 bilhões, segundo a Federação das Indústrias
do Estado do Pará (Fiepa).
O Pará, juntamente com Rondônia, abriga a maior
parte das áreas de florestas públicas nativas elegíveis
ou já em processo de concessão para Manejo Florestal
de todo o País. São cerca de 1,5 milhão de hectares di-
vididos em seis florestas nacionais e em áreas estadu-
ais, que, segundo a legislação, devem ser manejadas de
forma sustentável para garantir a produção florestal e
manter a floresta em pé.
Planejar a extração madeireira e garantir ao mes-
mo tempo a conservação e a plena recuperação da flo-
resta, entretanto, é o maior desafio do manejo florestal
sustentável na Amazônia.
Maçarabuba Anapu
45
AMAZÔNIA
ma uncinatum Warn), itaúba (Mezilaurus itauba [Meissn.] Ele ressalta ainda que o manejo florestal sustentável ga-
Taub.) e amescla (Trattinickia burserifolia Willd), que represen- rante a manutenção da floresta de pé, retirando somente
tam 60% das espécies exploradas na microrregião. aquilo que a floresta produz, com geração de renda e susten-
Os trabalhos são desenvolvidos com amostras provenien- tabilidade. Mas, deve ser realizado com base científica. “Feito
tes de áreas com manejo florestal autorizado, sendo os dis- assim, é um dos grandes contrapontos ao desmatamento para
cos transportados para a Embrapa Florestas para medição dos garantir a continuidade da floresta. É importante lembrar que
anéis anuais de crescimento, técnica conhecida como dendro- todos os resultados devem ser debatidos com produtores e or-
cronologia. ganismos legisladores”, analisa o pesquisador.
A metodologia, como explica a pesquisadora da Embrapa
Florestas Patrícia Mattos, consiste em utilizar informações de Novos índices de referência
séries de crescimento que representam todo o ciclo de vida de
árvores de uma determinada espécie (frequentemente séries Já no estudo que teve como objeto o cedrinho (Erisma un-
com mais de 150 anos), para a determinação dos diâmetros cinatum Warm.), os resultados sugerem que o ideal seria ex-
ideais de corte por espécie. trair árvores com diâmetros a partir de 70 cm, superiores ao
“Esses dados são analisados juntamente com a estrutura previsto na legislação, entretanto, com ciclos de corte menores
da floresta, sendo possível determinar o volume que deve per- (25 anos). “São resultados para a microrregião de Sinop, con-
manecer após intervenção de manejo para garantir a produção siderando as especificidades locais”, alerta Mattos.
de mais madeira no próximo ciclo do que quando aplicados os O trabalho, segundo a cientista, pode servir de balizador
critérios presentes na legislação atual”, afirma. para otimização da exploração sustentável, contribuindo para
As análises mostram que, nessa microrregião, o ciclo de 35 um manejo que reduza custos e danos ao povoamento rema-
anos para extração de 30 m3 excede o tempo necessário para nescente da região.
recuperação do estoque de diferentes espécies, com o agra- Esses resultados são estratégicos para a manutenção da
vante de elevar perdas por mortalidade natural ao longo des- atividade produtiva no Mato Grosso, onde a equipe da Em-
se período. “Frequentemente observamos que um ciclo menor brapa Florestas começou a aplicar técnicas de dendrocrono-
é mais eficiente, pois aproveita melhor o potencial de cresci- logia ao manejo na região amazônica. A produção florestal de
mento das árvores, sem comprometer a floresta”, afirma o pes- madeira nativa representa a base da economia de 44 cidades,
quisador Evaldo Muñoz Braz. respondendo por 5,4% do PIB do Estado.
Segundo dados do Centro das Indústrias Produtoras e
Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (CI-
PEM), o segmento gera mais de 90 mil empregos diretos
e indiretos, com potencial de ampliação de 40% nos próxi-
mos anos.
46
View publication stats