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Engenheiro Agrônomo
ENGENHARIA DE
AVALIAÇÕES APLICADA EM
PROPRIEDADES
RURAIS
▪ tratamento científico e por fatores ▪ perícias em desapropriações e servidões
São Paulo – SP
2021
sumário
1 Introdução......................................................................................................................................................................................9
2 Conceitos Básicos..................................................................................................................................................................... 12
4 Métodos de Avaliação..........................................................................................................................................................19
4.1 Métodos para identificar o valor de um bem, de seus frutos e direitos.................................................................................21
4.2 O uso apenas de opiniões de terceiros na avaliação pelo método comparativo............................................... 21
4.3 Métodos para identificar o custo de um bem............................................................................................................. 23
4.4 A aproximação do valor pelo mercado.......................................................................................................................... 23
4.4.1 O primeiro passo – a vistoria do imóvel objeto da avaliação..................................................................... 24
4.4.2 Exemplo de um bem em apreço......................................................................................................................... 25
4.4.3 A composição de um imóvel rural..................................................................................................................... 28
4.4.4 A amostra..................................................................................................................................................................30
4.4.5 Os atributos.............................................................................................................................................................. 33
4.4.6 Exemplos de amostras........................................................................................................................................... 33
14 A Norma ABNT NBR 14653-3:2019 para Avaliação de Imóveis Rurais Comentada...................... 208
17 O IBAPE/SP....................................................................................................................................................................................... 319
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................... 320
1
Introdução
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dos imóveis, e as influências externas devem A aplicação das técnicas básicas de avalia-
ser interpretadas tendo em vista a conjuntura ção em propriedades rurais é significante per-
econômica. to do contexto de tantos assuntos.
Para entender o significado destas in- O trabalho do engenheiro de avaliação ru-
fluências externas é essencial que o enge- ral é o de identificar, presumir e analisar todas
nheiro de avaliação rural compreenda a as informações relevantes e interpretá-las no
dependência do valor de terras rurais na contexto dos princípios econômicos, aplicando
economia agrícola. O valor das terras tende as técnicas apropriadas que resultarão na es-
a incrementar em tempos de preços de com- timativa de valor. É a capacidade de entender
modities elevados e decrescer quando estas a rede de influências sobre o valor das terras
commodities baixam. e na habilidade de analisá-las e relacioná-las
Por causa da estreita relação entre o custo com a propriedade em estudo que diferencia o
da produção de uma commodity e o lucro ori- engenheiro de avaliação rural profissional.
ginário desta atividade, a avaliação de proprie- Para a avaliação de propriedades com vo-
dades agrícolas demanda um conhecimento cação rural faz-se necessário que o profissio-
detalhado do processo de produção agrícola. O nal tenha conhecimentos de engenharia agro-
conhecimento do sistema de produção de uma nômica e suas especialidades como florestal e
commodity em particular e o gerenciamento zootecnia, além dos conhecimentos gerais de
deste empreendimento na específica região engenharia de avaliações e do mercado imobi-
rural são essenciais. Ambas as qualidades da liário rural.
produção agrícola e a capacidade de manter
Como muito bem define o ilustre eng.
esta produção são considerações significantes.
Paulo Grandiski, além destes princípios aci-
Elas dependem de dois ingredientes: a capaci-
ma relatados, sabe-se também que os preços
dade inerente de produção da propriedade e a
qualidade de uma administração com capaci- das transações imobiliárias têm um grande
dade de antecipações. componente racional, lógico, da ordem de 70
a 90% na sua formação, e outro emocional, da
No cerne do valor das terras agrícolas
ordem de 10 a 30%, em que os preços oscilam
esta a capacidade de produção do solo na qual
de forma aleatória, dependendo do maior ou
a produção agrícola toma lugar. Isto pode ser
menor poder de barganha ou habilidade dos
incrementado ou diminuído pela administra-
compradores e vendedores, interesse específi-
ção. Boas práticas culturais, conservação do
co naquele imóvel, etc.
solo cuidadosa e modificações técnicas podem
aumentar a produção. Na outra ponta, negli- E continua o eng. Grandiski: “todo enge-
gência pode diminuir seriamente a capacidade nheiro de avaliação honesto se propõe a encon-
de produção até dos melhores solos. trar o “verdadeiro valor de mercado do imóvel”.
O engenheiro de avaliação rural deve ter Conceitos mais recentes, como os adotados
um amplo conhecimento de economia agrí- pela norma para avaliação de imóveis urbanos
cola, tendências de valor de terras, mercado do IBAPE/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações
de commodities, produções e colheitas, com- e Perícias de Engenharia de São Paulo), explici-
posição e produtividade de solos, recursos tam que esse valor corresponde ao valor médio
hídricos, conservação de solos e meio am- praticado no mercado, dentro da aleatória de
biente, tanto quanto peculiaridades do finan- flutuação normal dos preços, descrito no pará-
ciamento rural. grafo anterior.”
introdução 11
2
Conceitos Básicos
“Valor é apenas uma sombra feita pelos •• Terra como natureza – ambiente natu-
humanos, com seus desejos ou escolhas” ral determinado pelas condições climá-
(Cachorros de Palha, John Gray, 2009) ticas, topográficas e edáficas;
•• Terra como fator de produção – fonte
natural de alimentos, fibras, materiais
Segundo nos ensina Demétrio (1991), do de construção, minerais e outras maté-
ponto de vista jurídico terra (ou “bem de raiz”) rias-primas utilizadas na sociedade mo-
pode ser conceituada como: qualquer porção derna. Está estreitamente ligado ao con-
da superfície terrestre sobre o qual podem ser ceito de terra como “bem-de-consumo”;
exercidos os direitos de propriedade que dizem •• Terra como situação – modernamente,
respeito não somente à área da superfície, mas grande importância é atribuída ao con-
ceito de terra como situação, isto é, sua
também a coisas como a cobertura vegetal na-
localização em relação a mercados, vias
tural, as construções e outras benfeitorias feitas
de acesso e outros aspectos socioeconô-
pelo homem (plantações, por exemplo).
micos. Em avaliação de imóveis rurais a
Ainda segundo Demétrio, o conceito eco- situação do imóvel aparece, em escala
nômico de terra é muito amplo e abrange o de grandeza, logo após a capacidade de
somatório dos recursos naturais e daqueles uso, na estimativa do valor das terras;
criados pelo homem, sobre os quais a posses- •• Terra como propriedade – tem conota-
são de qualquer porção da superfície terrestre ções com os direitos e responsabilida-
permite controle. des que indivíduos ou grupos exercem
Demétrio subdivide a terra em: espaço, sobre a posse e uso da terra.
natureza, fator de produção, bem de consumo,
Já perante a legislação, a Lei nº 4504/64,
situação, propriedade e capital, cujas defini-
que dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá ou-
ções são:
tras providências, define:
•• Terra como espaço – espaço cúbico (jazi-
das minerais) e espaço acima da superfí- Art. 4º Para os efeitos desta Lei, definem-se:
cie (construções e explorações agrícolas); I – “Imóvel Rural”, o prédio rústico, de
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área contínua qualquer que seja a sua tecnológico predominante e a renda
localização que se destina à exploração familiar a ser obtida;
extrativa agrícola, pecuária ou agroin- b) não excedendo o limite referido na
dustrial, quer através de planos públicos alínea anterior, e tendo área igual ou
de valorização, quer através de iniciativa superior à dimensão do módulo de
privada; propriedade rural, seja mantido inex-
II – “Propriedade Familiar”, o imóvel ru- plorado em relação às possibilidades
ral que, direta e pessoalmente explorado físicas, econômicas e sociais do meio,
pelo agricultor e sua família, lhes absorva com fins especulativos, ou seja defi-
toda a força de trabalho, garantindo-lhes ciente ou inadequadamente explora-
a subsistência e o progresso social e eco- do, de modo a vedar-lhe a inclusão no
nômico, com área máxima fixada para conceito de empresa rural;
cada região e tipo de exploração, e even-
tualmente trabalho com a ajuda de ter-
ceiros; Já na Lei nº 8.629 de 25/02/93, que dis-
III – “Módulo Rural”, a área fixada nos ter- põe sobre a regulamentação dos dispositivos
mos do inciso anterior; constitucionais relativos à reforma agrária,
IV – “Minifúndio”, o imóvel rural de área e previstos no Capítulo III, Título VII, da Consti-
possibilidades inferiores às da proprieda-
tuição Federal, temos o seguinte:
de familiar;
V – “Latifúndio”, o imóvel rural que:
a) exceda a dimensão máxima fixada na Art. 4º Para os efeitos desta lei, concei-
forma do artigo 46, § 1º, alínea b, desta tuam-se:
Lei, tendo-se em vista as condições ecoló- I – Imóvel Rural – o prédio rústico de área
gicas, sistemas agrícolas regionais e o fim contínua, qualquer que seja a sua locali-
a que se destine; zação, que se destine ou possa se destinar
à exploração agrícola, pecuária, extrativa
vegetal, florestal ou agroindustrial;
Art. 46. O Instituto Brasileiro de Reforma II – Pequena Propriedade – o imóvel rural:
Agrária promoverá levantamentos, com a) de área até quatro módulos fiscais,
utilização, nos casos indicados, dos meios respeitada a fração mínima de par-
previstos no Capítulo II do Título I, para a celamento; (Redação dada pela Lei
elaboração do cadastro dos imóveis rurais nº 13.465, de 2017)
em todo o país, mencionando: III – Média Propriedade – o imóvel rural:
§ 1º Nas áreas prioritárias de reforma a) de área superior a 4 (quatro) e até
agrária serão complementadas as fichas 15 (quinze) módulos fiscais;
cadastrais elaboradas para atender às
finalidades fiscais, com dados relativos
ao relevo, às pendentes, à drenagem, aos O módulo fiscal, assim como a Fração Mí-
solos e a outras características ecológi- nima de Parcelamento, de cada município do
cas que permitam avaliar a capacida- Brasil é encontrado na página do INCRA na
de do uso atual e potencial, e fixar uma internet.
classificação das terras para os fins de
realização de estudos microeconômicos, A norma ABNT, por sua vez, definiu imó-
visando, essencialmente, à determinação vel rural como “imóvel rústico de área contí-
por amostragem para cada zona e forma nua, qualquer que seja sua localização, que se
de exploração: destine à exploração agrícola, pecuária, extra-
a) das áreas mínimas ou módulos de pro- tiva vegetal, florestal, agroindustrial ou aqueles
priedade rural determinados de acor-
destinados à proteção e preservação ambien-
do com elementos enumerados neste
parágrafo e, mais a força de trabalho tal”, acrescentando este último uso ambiental
do conjunto familiar médio, o nível que não existe nas definições anteriores.
conceitos básicos 13
3
Abordagem pelo valor de mercado
ou por valores específicos
14
o local, em uma data de referência, observada a • Valor de liquidação ou de venda forçada
atual e efetiva tendência mercadológica nas cir- • Valor especial
• Valor hipotecário ou para garantia real
cunvizinhanças, entre os diversos usos permi- • Valor sinergético
tidos pela legislação vigente” (conceito muito • Outros
semelhante ao “high and best use” que aparece
nas normas internacionais). Cuja base conceitual é aplicável à avaliação
de bens de qualquer natureza, sejam móveis
O antigo conceito de valor único foi de-
ou imóveis, tangíveis ou intangíveis.
finitivamente alterado após o XXII Congresso Que, de acordo com o artigo 4º, parágrafo
Pan-americano de Avaliações – UPAV, realiza- “e”, do Estatuto da UPAV, é dever da União
do na cidade de Fortaleza em 2006 (em con- compilar e difundir os princípios e normas
primordiais da técnica de avaliação para a
junto com o COBREAP), que publicou a seguin-
sua aplicação continental.
te a declaração:
DECLARA
“DECLARAÇÃO DE FORTALEZA O valor de um bem depende da finalidade
Os abaixo-assinados, delegados das orga- da avaliação e da definição aplicável para
nizações filiadas à União Pan-americana o caso específico em análise, no momento
de Associações de Avaliação (UPAV), estabelecido para o trabalho avaliatório.
reunidos no hotel Gran Marquise Sol Me- A União Pan-americana da Associações
liá de Fortaleza, Estado do Ceará, Repú- de Avaliações (UPAV) adota a definição
blica Federativa do Brasil, por ocasião contida na Norma IVS-1:
do XXIIº Congresso Pan-americano de “5.2 – Valor de Mercado – a quantia es-
Avaliações, organizado pelo Instituto timada pela qual um bem poderia ser
Brasileiro de Avaliações e Perícias de En- negociado na data da avaliação, entre
genharia (IBAPE), um comprador disposto a comprar e um
vendedor disposto a vender, em uma tran-
CONSIDERANDO sação livre, através de comercialização
Que, pela Resolução Nº 20, aprovada na adequada, em que as partes tenham agi-
Primeira Convenção Pan-americana de do com informação suficiente, de maneira
Avaliações, reunida em Lima, Peru, em prudente e sem coação.”
Dezembro de 1949, na qual se assentaram A Assembleia da UPAV aqui reunida exor-
as bases para a posterior criação da UPAV, ta às organizações que a compõe a dar a
adequada divulgação a esta declaração
emitiu-se a seguinte recomendação:
entre seus associados nacionais, de ma-
“Que o valor de um imóvel em um dado
neira a obter a maior eficácia possível ao
momento é único, quaisquer que sejam os
aqui disposto.
fins para os quais ele é usado.”
Que, no XIXº. Congresso Pan-americano
de Avaliação, realizado em Isla Margarita, Em Fortaleza, Brasil, aos vinte dias do
Venezuela, recomendou-se a adoção das mês de abril de 2006.”
Normas IVS pelos países filiados à UPAV.
Que as Normas IVS-1, “Bases de Valor de Ou seja, o engenheiro de avaliação rural
Mercado”, e IVS-2, “Bases de Valor que precisa definir com clareza qual valor está sen-
não de Mercado”, estabelecem diversas
do identificado em seu trabalho, em função do
definições de valor, tais como:
• Valor de mercado objetivo e da finalidade da avaliação: se valor
• Valor em uso de mercado ou valor específico, e neste caso,
• Valor de empresa em marcha qual valor dentre os já definidos.
• Valor para seguro ou em risco
• Valor tributável Conforme o item 6 da norma ABNT NBR
• Valor de resgate ou de sucata 14653-1:2019 nos ensina, temos:
1
International Valuation Standards Council – www.
ivcs.org
2
Royal Institution of Chartered Surveyors – www.
rics.org