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1) Caracterizar quanto aos aspectos gerais e distribuição os

microrganismos integrantes dos gêneros Clostridium e Corynebacterium.


Gênero Clostridium:

O gênero Clostridium é formado por bactérias gram-positivas tradicionalmente esporuladas e


algumas anaeróbicas obrigatórias. A maioria são bacilos retos ou curvos, variando de pequenas
formas bastonetes cocoides a formas longas, filamentosas, com extremidades arredondadas ou
reta.

O gênero Clostridium é amplamente distribuído na natureza sendo encontrado na sua maioria


no solo, na água, em esgotos, em vegetações, em sedimentos marinhos e no trato
gastrointestinal do ser humano e em outros vertebrados, além de insetos também.

Em sua maioria as espécies componentes do gênero são avirulentas, embora algumas possam
ser isoladas de infecções endógenas, enquanto outras são patógenos reconhecidos. Os
patógenos humanos mais frequentes ou importantes são:

- C. botulinum → botulismo

- C. difficile → diarreia e colite pseudomembranosa

- C. perfringens → infecção alimentar e gangrena gasosa

- C. septicum → mionecrose

- C. tetani → tétano

Gênero Corynebacterium:

O gênero Corynebacterium é formado por bactérias bastonetes gram-positivas com formato


irregular de crescimento aeróbico ou anaeróbico facultativo, agregados ou em cadeias curtas,
imóveis, incapazes de formar esporos e catalase-positivos. A maioria das espécies do gênero
Corynebacterium produz ácido lático como subproduto da fermentação de carboidratos, crescem
bem em meios de cultura comumente utilizados nos laboratórios. Mas, algumas espécies
precisam de suplementação dos meios com lipídios para que ocorra um bom crescimento. As
Corynebacterium podem ser encontradas no solo, em águas e vegetais, e normalmente
colonizam a pele, o trato respiratório superior, trato gastrointestinal e trato geniturinário de
humanos.

Todas as espécies do gênero Corynebacterium são patógenos oportunistas, mas relativamente


poucas espécies são associadas a doenças em seres humanos, sendo as principais:

- C. diphtheriae → Difteria (respiratória, cutânea); faringite e endocardite;

- C. jeikeium → Septicemia, endocardite, infecções de feridas, infecções relacionadas a corpos


estranhos (cateter, derivação, prótese);

- C. urealyticum → Infecções do trato urinário (incluindo pielonefrite e cistite incrustada alcalina),


septicemia, endocardite, infecções da ferida;

- C. amycolatum → Infecções de feridas, infecções relacionadas a corpos estranhos, septicemia,


infecções do trato urinário, infecções do trato respiratório.

- C. pseudotuberculosis → Linfadenite, linfangite ulcerativa, formação de abscesso, difteria


respiratória;

- C. ulcerans → Difteria respiratória.

Entre as espécies citadas, a mais conhecida é o Corynebacterium diphtheriae, que é o agente


etiológico da difteria.
2) Explicar os mecanismos patogênicos dos microrganismos integrantes
dos gêneros Clostridium e Corynebacterium que infectam o Homem.
O gênero Clostridium é composto por bastonetes gram-positivos, em sua maioria esporulados e
anaeróbios estritos. Esses organismos são ubíquos em solo, água e esgotos e fazem parte da
microbiota gastrointestinal residente no homem e nos animais.

A Clostridium perfringens é uma bactéria capaz de produzir enzimas histolíticas, desta maneira,
a partir de fosfolipase, hemolisinas, proteases, hialuronidases e colagenases, a bactéria é capaz
de digerir substâncias do conjuntivo e atingir diversos tecidos e células, tendo ação necrosante
e causando lise de células, endotélio, hemácias, leucócitos e plaquetas. Além disso, a espécie
produz também enterotoxinas e neurotoxinas, provocando toxicidade hepática e hipotensão
cardíaca.

A Clostridium tetani é uma bactéria capaz de produzir toxinas, como a tetanolisina (hemolisina)
e a tetanospamina (neurotoxina). A neurotoxina tem destaque nos quadros de tétano, uma vez
que é capaz de bloquear a liberação de neurotransmissores inibitórios (GABA e Glicina),
causando excitação sináptica e contração local seguida de contrações na face e disseminação.
Tal fenômeno implica em paralisia espástica e contrações dolorosas.

A Clostridium botulinum é uma bactéria capaz de produzir uma neurotoxina, a toxina botulínica.
Essa substância é capaz de agir no sistema nervoso ao bloquear a liberação de
neurotransmissores excitatórios (acetilcolina), consequentemente bloqueando o estímulo
colinérgico. Essa perturbação causa paralisia flácida, paralisias digestivas, diarreias ou
constipação e insuficiência cardiorrespiratória.

A Clostridium difficile é uma bactéria capaz de produzir uma enterotoxina que atrai neutrófilos e
estimula a liberação de citocinas, e uma citotoxina que aumenta a permeabilidade da parede
intestinal, com diarreia subsequente.

O gênero Corynebacterium é composto por bastonetes gram-positivos não esporulados,


aeróbios ou anaeróbios facultativos e agrupados aos pares ou em cadeias curtas (paliçada).
Esses organismos são ubíquos em plantas e animais e normalmente colonizam pele, trato
respiratório superior, trato gastrointestinal e trato geniturinário de humanos.

A Corynebacterium diphtheriae é uma bactéria capaz de gerar toxicose a partir da produção da


exotoxina diftérica. Essa substância age no organismo bloqueando a síntese proteica a partir da
inativação do fator de alongamento-2 (EF-2), um fator envolvido na movimentação das cadeias
peptídicas originadas nos ribossomos. Consequentemente, ocorre morte celular, levando à
necrose tissular local que gera processos inflamatórios. O paciente cursa com difteria faríngea,
hipóxia e difteria cutânea, tendo como complicações sistêmicas neuropatia, nefropatia e
hipertrofia e insuficiência cardíaca.

3) Citar as formas de transmissão dos microrganismos integrantes dos


gêneros Clostridium e Corynebacterium.
Formas de transmissão de Clostridium:

Clostridium perfringens:

Cepas do tipo A são responsáveis pela maioria das infecções humanas;

Infecções de tecidos moles tipicamente associadas com contaminação bacteriana de feridas ou


traumas localizados;
Intoxicação alimentar associada com produtos de carne contaminados armazenados a menos
de 60 °C, o que permite o crescimento em grande número.

Clostridium tetani:

Contaminação de ferimentos;

Cortes, arranhões (na superfície ou profundos)

Contaminação a partir de fezes de animais depositadas na terra ou na areia.

Clostridium botulinum:

No caso do botulismo alimentar, a transmissão ocorre devido à ingestão de alimentos


contaminados pela toxina botulínica;

Já no botulismo infantil a transmissão acontece pela ingestão de esporos presentes no mel.

Clostridium difficile:

Exposição a antimicrobianos está associada com crescimento rápido de C. difficile e doença


subsequente (infecção endógena);

Esporos podem ser detectados em quartos hospitalares de pacientes infectados (especialmente


em torno de leitos e banheiros), podendo ser uma fonte exógena de infecção.

Formas de transmissão de Corynebacterium:

Disseminação pessoa a pessoa pela exposição a gotículas respiratórias ou contato com a pele.

4) Caracterizar os quadros clínicos causados por Corynebacterium


diphtheriae.
Difteria respiratória: início súbito com faringite exsudativa, dor de garganta, febre baixa e mal-
estar; uma pseudomembrana espessa se desenvolve na faringe; complicações cardíacas e
neurológicas são as mais significativas em pacientes críticos.

Difteria cutânea: uma pápula pode se desenvolver na pele, progredindo para uma úlcera que não
cicatriza; sinais sistêmicos podem ocorrer.

Complicações sistêmicas: neuropatia periférica, miocardite, parada cardíaca.

Choque toxêmico: hipertrofia e insuficiência cardíaca, nefropatia, neuropatia.

5) Caracterizar os quadros clínicos causados por Clostridium tetani, C.


perfringens, C. botulinum e C. difficile.
Os quadros clínicos causados por Clostridium tetani são:

Tétano generalizado: é o quadro clínico mais comum, o paciente apresenta espasmo muscular
generalizado (com trismo, riso sardônico e opistótono) e envolvimento do sistema nervoso
autônomo em casos graves da doença (p. ex., arritmias cardíacas, flutuações da pressão arterial,
irritabilidade, sudorese profunda, desidratação e sialorreia).

Tétano localizado: é o quadro clínico caracterizado por espasmo muscular restrito à área da
infecção primária.
Tétano neonatal: é o quadro clínico caracterizado pela infecção do neonato, envolve
primariamente o cordão umbilical e apresenta taxa de mortalidade muito elevada (acima de 90%).

Os quadros clínicos causados por Clostridium perfringens são:

Infecções de tecidos moles, quadro clínico que engloba:

- Celulite: lesão de tecido subcutâneo com edema e eritema localizados, formação de gás nos
tecidos moles e exsudato sorosanguinolento.

- Miosite supurativa: acúmulo de pus (supuração) nos músculos lisos, sem necrose muscular ou
sintomas sistêmicos.

- Mionecrose: destruição do tecido muscular rápida e dolorosa. É de disseminação sistêmica com


alta mortalidade.

Gastroenterites autolimitadas: quadro clínico caracterizado por rápido aparecimento de cólicas


abdominais e diarreia aquosa sem febre, náuseas ou vômitos. É de curta duração e autolimitada
(24~48h).

Enterites: quadro clínico caracterizado por destruição necrotizante aguda do jejuno com dor
abdominal, vômito, diarreia sanguinolenta e peritonite.

Sepse.

Os quadros clínicos causados por Clostridium botulinum são:

Botulismo alimentar: quadro clínico causado por ingestão de alimento contendo a toxina
botulínica. O indivíduo apresenta inicialmente visão turva, boca seca, constipação intestinal e dor
abdominal. O quadro progride para fraqueza descendente da musculatura periférica com
paralisia flácida, gerando dificuldade de deglutição e posterior insuficiência respiratória e
cardíaca.

Botulismo infantil: quadro clínico causado pela produção de neurotoxina botulínica por C.
botulinum, que coloniza o trato gastrointestinal da criança de pouca idade. A criança apresenta
inicialmente sintomas inespecíficos (p. ex., constipação, choro fraco, atraso de crescimento), que
progridem para paralisia flácida e parada respiratória.

Os quadros clínicos causados por Clostridium difficile são:

Gastroenterites associadas a antibioticoterapias: quadro clínico que varia de diarreia


autolimitada, relativamente benigna, até colite pseudomembranosa grave e potencialmente letal.

6) Destacar e citar situações onde a toxina botulínica é utilizada na


medicina.
A toxina botulínica é uma exotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum que
bloqueia a liberação de acetilcolina e impede a transmissão de impulsos nervosos, resultando
na paralisia flácida. Apesar de ser uma toxina letal, a botulínica tem usos terapêuticos para várias
condições clínicas, como cefaleias crônicas. Ela também é útil no alívio de contrações
musculares dolorosas em condições como a paralisia cerebral, doença de Parkinson e esclerose
múltipla. As injeções na região dos ferimentos faciais impedem os movimentos musculares
durante a cicatrização e resultam na formação de uma cicatriz mais apresentável. A toxina
também foi aprovada para controlar espasmos involuntários das pálpebras (blefaroespasmo),
estrabismo e até mesmo suor excessivo (hiperidrose). Entretanto, a aplicação mais difundida tem
sido puramente cosmética, o BOTOX: injeções com toxina botulínica impede que haja contração
muscular no local onde foi aplicado e, assim, elimina as rugas (marcas de expressão) do local
da aplicação.

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