Você está na página 1de 10

Gustavo Brazão - 2021.

TENÍASE E CISTICERCOSE, CESTÓDEOS


1. DEFINIÇÃO
Os parasitas cestódios são membros do reino animal, filo Platelmintos, subfilo Cestoda. Exibem
diferentes estágios do ciclo da vida sendo sua fase adulta a Tênia.

Tipos de Hospedeiro:
 Hospedeiro definitivo: hospedeiro no qual a tênia se desenvolve.
 Hospedeiro intermediário: abriga a forma larvária do parasita.
A Tênia é adquirida por meio da ingestão de tecidos não cozidos que abrigam as formas
larvárias. Após a ingestão ela se desenvolve e adquire a fase adulta.
O ser humano é hospedeiro DEFINITIVO de:

 Gênero Taenia: Taenia saginata, Taenia asiática, Taenia solium.


 Diphyllobothrium spp.
 Hymenolepis nana.
 Dipylidium caninum (hospedeiro acidental -> vem das pulgas dos cães).
Os seres humanos podem ser hospedeiros DEFINITIVOS OU INTERMEDIÁRIOS de:

 Taenia solium: os seres humanos são os hospedeiros obrigatórios da fase de tênia


(tênia do porco), mas também podem abrigar a forma cística (cisticercose).
 Hymenolepis nana: ambos os estágios normalmente se desenvolvem em uma única
pessoa (forma cisticercoide -> parede intestinal / tênia -> lúmen intestinal).
Os seres humanos são APENAS hospedeiros INTERMEDIÁRIOS de:

 Echinococcus granulosus (hidatidose cística).


 Echinococcus multilocularis (hidatidose alveolar).
 Taenia multiceps, Taenia spp (cenurose).
 Espécies de Spirometra (esparganose).
Gustavo Brazão - 2021.2

Infecção e Desenvolvimento do Verme:


INFECÇÃO EM HOSPEDEIROS DEFINITIVOS: Após a ingestão, as larvas excistam e o
escólex fixa-se ao intestino. Os segmentos, denominados proglótides, desenvolvem-se no colo,
que fica na base do escólex e são deslocados do escólex por novas proglótides, formando uma
cadeia chamada de estróbilo, o organismo completo é então a tênia.
INFECÇÃO EM HOSPEDEIROS INTERMEDIÁRIOS: A infecção ocorre após a ingestão
dos ovos. Sob a influência dos líquidos gástricos e intestinais, os ovos eclodem, liberando as
larvas invasivas (oncosferas), que migram para os tecidos, onde produzem formas teciduais.
Essas formas nos tecidos variam e podem incluir:

 O Cisticerco: uma bexiga contendo um único escólex invaginado.


 O Cenuro: uma bexiga com múltiplos escólices.
 A Hidátide: estrutura cística com uma camada germinativa, que forma numerosos
protoescólices.
 O Plerocercoide: forma sólida observada em espécies de Spirometra.
Gustavo Brazão - 2021.2

2. INFECÇÕES POR TÊNIAS INTESTINAIS

Espécies Diphyllobothrium (tênia do peixe):


As tênias do gênero Diphyllobothrium são grandes parasitas segmentados, adquiridos pela
ingestão de peixes de água doce malcozidos ou em conserva.
Manifestações Clínicas: Poucos sintomas/nenhum. A principal manifestação clínica é a
observação de proglótides eliminadas nas fezes.
Uma espécie, Diphyllobothrium latum, contém os receptores de vitamina B12 na superfície da
tênia, que podem competir com o hospedeiro, levando à deficiência da vitamina B12 -> Anemia
perniciosa.

Hymenolepis nana:
Hymenolepis nana é a tênia anã humana. Hymenolepis diminuta, uma tênia do rato, também
pode causar infecção em seres humanos.
Manifestações Clínicas e Diagnóstico: Maioria assintomáticas, porém algumas crianças
podem ser infectadas por centenas ou milhares de vermes, que podem causar dor abdominal,
fezes de consistência mole, diarreia e má absorção. O diagnóstico depende da observação dos
ovos característicos nas fezes.

Dipylidium caninum:
É uma tênia comum em cães e gatos. Ela também pode se desenvolver em crianças que
ingeriram pulgas, porém é incomum.
Manifestações Clínicas e Diagnóstico: assintomática, diagnóstico depende da identificação de
ovos nas fezes ou da identificação das proglótides.
Gustavo Brazão - 2021.2

Taenia asiatica:
Tênia, só que da Ásia. O diagnóstico, o tratamento e a prevenção da infecção por T. asiatica são
semelhantes aos da infecção por T. saginata.

Taenia saginata:
Taenia saginata (tênia da carne bovina), é uma infecção intestinal comum em todo o mundo.

 Gado bovino -> hospedeiro intermediário -> abriga os cisticercos teciduais nos
músculos.
 Seres humanos -> Hospedeiros definitivos obrigatórios -> abrigam a tênia.
Manifestações Clínicas e Diagnóstico: Podem-se observar sintomas leves como:

 Náuseas.
 Desconforto abdominal.
 Anorexia.
 Prurido.
As proglótides móveis podem causar desconforto à medida que saem do ânus e podem ser
observadas nas fezes. Os ovos também podem ser observados nas fezes, entretanto, os ovos das
três espécies de Taenia são morfologicamente indistinguíveis.

Taenia solium:
Taenia solium, também conhecida como tênia do porco, pode causar tanto infecção pela tênia
quanto infecção larvar, denominada cisticercose. Nessa parte só se fala da infecção por tênia.
Os vermes adultos se desenvolvem daquele jeito que foi explicado lá em cima e medem 3,05 a
6,10 metros de comprimento.
No interior das proglótides maduras, há desenvolvimento de milhares de ovos microscópicos.
Os ovos são excretados nas fezes ou eliminados com as proglótides. Em contrapartida, a
ingestão dos ovos resulta no desenvolvimento da infecção larvar, denominada cisticercose.
Ou seja, você sendo um portador de tênia pode se autoinfectar e adquirir cisticercose,
moral da história NÃO COMA MERDA.
Manifestações Clínicas e Diagnóstico: Mesma coisa da T. saginata.

Diagnóstico e Tratamento:
Dianóstico clínico é difícil, por ser assintomático, laboratorialmente realiza-se o parasitológico
de fezes. Tratamento com Niclosamida ou Praziquantel.
Gustavo Brazão - 2021.2

3. INFECÇÕES POR CESTÓDIOS TECIDUAIS (FORMAS


INTERMEDIÁRIAS)

3.1 TAENIA SOLIUM (CISTICERCOSE)

Os seres humanos desenvolvem a Cisticercose ao ingerir ovos da tênia, que migram até os
tecidos, onde formam cistos. Geralmente esses ovos estão presentes nos próprios seres
humanos, em suas fezes. Portanto, os casos podem se dar por autoinfecção.
A presença de cisticercos no sistema nervoso central (SNC) é denominada neurocisticercose. A
neurocisticercose inclui cisticercos em várias regiões:

 Parênquima cerebral: Neurocisticercose parenquimatosa.


 Ventrículos.
 Espaço subaracnóideo. Neurocisticercose
 Coluna vertebral. extraparenquimatosa.
 Olho.

Fisiopatologia:
Como já dito, a cisticercose pode se manifestar em diversas áreas do corpo, e a patogenia e a
biopatologia variam de acordo com a localização dos cisticercos e a resposta inflamatória do
hospedeiro. A cisticercose parenquimatosa parece ser a mais recorrente.
Cisticercos no Parênquima Cerebral: Inicialmente suprimem a resposta inflamatória do
hospedeiro (estágio vesicular), se desenvolvendo por vários anos até perder essa capacidade de
inibição. A partir disso há uma forte resposta inflamatória, que se caracteriza pela formação de
granulomas manifesta por convulsões no hospedeiro (estágio coloidal). A resposta inflamatória
continua e passa a ter participação de linfócitos Th2, gerando fibrose e edema (estágio granular)
e pode ter sucesso em eliminar os parasitas ou então (como na maioria dos casos) gerar
granulomas calcificados que podem acabar promovendo novas inflamações recorrentes que
geram novas convulsões e perduram por anos (estágio calcificado).
Gustavo Brazão - 2021.2

Cisto Viável Cisto com Inflamação Cisto em Fibrose Cistos Calcificados

Cisto Vesicular Cisto Coloidal Cisto Granular


Cisto Calcificado
Cisticercos nos Ventrículos Cerebrais: podem causar hidrocefalia obstrutiva.
Cisticercos no Espaço Subaracnóideo: podem causar aracnoidite crônica, que pode se
manifestar por:

 Vasculite e AVC.
 Hidrocefalia comunicante.
 Meningite basilar.
 Efeito expansivo (menos comum).
Cisticercos na coluna vertebral: manifestados na forma de radiculite.
Cisticercos no Olho.
Cisticercos no tecido subcutâneo.
Cisticercos no Músculo.

Manifestações Clínicas:
As manifestações clínicas variam a depender da localização, mas, de maneira geral, todas as
formas da doença podem estar associadas a cefaleias. Cisticercos parenquimatosos estão
associados a convulsões, enquanto a cisticercose ventricular e subaracnóidea está associada à
hidrocefalia.

Diagnóstico:
As principais manifestações clínicas da neurocisticercose não são específicas dessa doença:
crises convulsivas e hidrocefalia.
Gustavo Brazão - 2021.2

IMAGEM:
As principais ferramentas utilizadas para o diagnóstico de neurocisticercose consistem em
exames de neuroimagem, sendo os principais:

 TC: sensível para identificar as calcificações parenquimatosas, que aparecem como


nódulos de 2 a 5 mm. A TC também pode revelar cisticercos parenquimatosos ou
hidrocefalia obstrutiva.

 RM: é mais sensível para a identificação dos cisticercos, na visualização do escólece e


na graduação do processo inflamatório e no diagnóstico das formas
extraparenquimatosa, principalmente no espaço subaracnóideo e nos ventrículos.
Características da Imagem:
Normalmente, os cisticercos são redondos, com 1 a 2 cm de diâmetro. O líquido cístico é
habitualmente isodenso com o líquido cerebrospinal.

Nos cisticercos não inflamados, as paredes podem não ser visíveis. Entretanto, a maioria dos
casos exibe realce das paredes císticas ou dos tecidos circundantes e edema associado.
Em alguns casos, o escólex pode ser visível como nódulo sólido de 1 a 2 mm, cilindro ou espiral
no lado das lesões císticas.

LABORATORIAL:
Ainda não se consegue estabelecer um exame laboratorial 100% sensível e específico,
principalmente nos casos de lesões únicas.
Testes sorológicos: auxiliam na confirmação do diagnóstico.
Imunoensaios Enzimáticos:

 ELISA (GOLDMAN): tanto o ELISA quanto os demais testes que utilizam o antígeno
bruto estão associados a baixa sensibilidade e especificidade e não são confiáveis.
 ELISA (SALOMÃO): tem sido o mais utilizado no diagnóstico da NC por apresentar
significativa sensibilidade e especificidade, ser de fácil e simples execução, com baixo
custo.
Gustavo Brazão - 2021.2

 EITB: Apresenta melhores resultados que o ELISA, porém é mais complexo e de custo
mais elevado.
 IMUNOBLOT: altamente específico para o diagnóstico. A sensibilidade é excelente
nos casos de cisticercos extraparenquimatosos ou parenquimatosos múltiplos. Todavia,
a sensibilidade é baixa em pacientes com lesões únicas com realce ou que apresentam
apenas calcificações.
 Via PCR: são sensíveis e mais específicos para casos viáveis e estão cada vez mais
disponíveis.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:
A NC deve ser considerada diagnóstico diferencial de algumas patologias que cursam com
convulsões como:
 HIC.
 Meningites crônicas.
Os diagnósticos diferenciais que podem aparecer similares no exame de imagem são:
 Tuberculomas.
 Gliomas e lesões neoplásicas.
 Metástases císticas.
 Microabscessos
 Neurotoxoplasmose.
 Outros cistos parasitários (cisto hidático).

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS:
Servem para definir a neurocisticercose como diagnóstico definitivo ou, então, como
diagnóstico provável. Os critérios são:
Absolutos:
 Demonstração histológica do parasito por meio de biópsia.
 Cistos com escólex visualizados por meio de exames de neuroimagem.
 Visualização de vesícula cisticercótica retiniana no exame de fundo olho.
 Resolução espontânea de lesão única pequena captante de contraste.
Maiores:
 Evidência de lesões altamente sugestivas de NC nos exames de neuroimagem.
 Pesquisa positiva de anticorpos anticisticercose por meio de EITB.
 Resolução de lesão cística intracraniana com albendazol ou praziquantel.
Menores:
 Evidência de lesões altamente sugestivas de NC nos exames de neuroimagem.
 Manifestações clínicas sugestivas de NC.
 ELISA positivo no líquor para anticorpos ou antígenos positivos no líquor.
 Evidência de cisticercose fora do SN.
Epidemiológicos
 Procedência de zona endêmica
Gustavo Brazão - 2021.2

 Viagens frequentes às áreas endêmicas


 Evidência de contato doméstico com indivíduos com teníase

Tratamento:
Devido à natureza benigna da maior parte das formas da NC, o uso de cisticidas é questionado.
Cisticidas:
Geralmente são utilizados em conjunto com corticoides e são utilizados em Cistos viáveis
(estágio vesicular?), Coloides e em casos de Cisto subaracnóideo.
As substâncias antiparasitárias mais utilizadas são:

 Praziquantel ( ou isoquinolona).
 Albendazol (ou derivado imidazólico): the GOAT, mais barato e dizem ser mais eficaz,
especialmente para NC extraparenquimatosa.
Corticoides: devem ser sempre utilizados como tratamento anti-inflamatório.
Antiepilépticos: para o controle das crises convulsivas. São fundamentais no prognóstico da
doença.
Cirurgia: A abordagem neurocirúrgica deve ser considerada quando há:

 Cistos parenquimatosos comprimindo estruturas cerebrais ou nervos cranianos.


 NC intraventricular.
 Formas espinais com compressão medular ou de raízes.
 Cisticercose ocular.
 Hidrocefalia.
 HIC.

Resumo Tratamento:

DVP: derivação ventriculoperitoneal (cirúrgico).

Prevenção:
Consumo de água tratada; higienização correta dos alimentos; higienização das mãos ao
manipular alimentos; banho e lavagem frequente das mãos, especialmente depois das
evacuações e antes das refeições; atenção a práticas sexuais.
Gustavo Brazão - 2021.2

3.2 HIDATIDOSE CÍSTICA

3.3 HIDATIDOSE ALVEOLAR

Você também pode gostar