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ESTUDOS NA TEOLOGIA
DE LUCAS-ATOS
DOCENTE
MESTRADO
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Dr. Brian Kibuuka
Universidade de Paris I - Panthéon-Sorbonne (AnHiMA)
Universidade Estadual de Feira de Santana
ESTUDOS NA TEOLOGIA
DE LUCAS-ATOS
EMENTA
O curso Teologia de Lucas e Atos explora completamente a teologia do
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PROGRAMA DO CURSO
INTRODUÇÃO
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UNIDADE I - Lucas
UNIDADE II - Atos
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AVALIAÇÃO
Leitura e resumo da obra: MOREIRA, G. L., Lucas e Atos: Uma Teologia da
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BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL
ARENS, Eduardo. Ásia Menor nos tempos de Paulo, Lucas e João. Aspectos Sociais e econômicos para a compreensão do
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BERGANT, D.; KARRIS. R., Comentário Bíblico, vol. III –Evangelhos, Atos dos Apóstolos,
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INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO
O Evangelho de Lucas é o testemunho da aproximação e do
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INTRODUÇÃO
O Evangelho de Lucas é o primeiro volume de uma obra magistral
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INTRODUÇÃO
Segundo Lucas 1:1, o autor fez uma pesquisa junto às testemunhas
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INTRODUÇÃO
O Cânon de Muratori identifica Lucas como médico e companheiro de Paulo
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INTRODUÇÃO
Muitos, como Brown, Kümmel, Köester e Vielhauer concordam com
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INTRODUÇÃO
Para Lucas, há uma continuidade entre a promessa de Salvação a Israel
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feita por Deus através dos profetas e Jesus Cristo com seu Evangelho
Universal. Para Schnelle (2017), a comunidade lucana vivia em crise e
era necessário refletir sobre a relação de Israel com os Cristãos, ricos e
pobres e com o Estado Romano. Jesus é o Senhor e Salvador de todos
os homens, principalmente dos pobres e dos excluídos. Em um contexto
cercado por magia e filosofia, Lucas apresenta Jesus como o “Novo
Caminho” que leva a Salvação.
A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
Marcantes no estilo literário de Lucas são os prefácios, as seções de abertura
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A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
a expressão ἐγένετο δέ [aconteceu] (Lucas 6.6ª, 7.11ª, 8.1ª,40,
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A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
Em relação às seções conclusivas, elas contém em Lucas, distintamente dos
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A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
J. Cadbury propôs, em The Style and Literary Method of Luke
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A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
Lucien Cerfaux produz uma lista de termos característicos que tornam Lucas e Atos
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A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
Frans Neirynck e F. van Segbroeck, no texto “Caractéristiques stylistiques,” ETL 61, 1984, p. 304-
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339, fazem um inventário de obras que proporcionam uma análise vocabular de Lucas e Atos,
como:
Plummer, Luke, p. lii–liii, lix–lx; Hawkins, Horae Synopticae;
T. Vogel, Zur Charakteristik des Lukas nach Sprache und Stil: eine philologische Laienstudie, 2
ed., Leipzig: 1899, p. 61-68;
Adolf von Harnack, Lukas der Arzt, der Verfasser des dritten Evangeliums und der
Apostelgeschichte, Leipzig: 1906, p. 29-46, 51-54, 69-72, 138-150; Sprüche und Reden Jesu.
Die zweite Quelle des Matthäus und Lukas, Leipzig: 1907, p. 6-87;
Cadbury, Style and Literary Method; R. Morgenthaler, Statistik des neutestamentlichen
Wortschatzes, Zurique: Gotthelf-Verlag, 1958, p. 51, 181, 182-183;
J. Jeremias, Die Sprache des Lukasevangeliums: Redaktion und Tradition im Nicht-Markus-
Stoff des dritten Evangeliums, Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1980.
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A) O ESTILO DE LUCAS-ATOS
Neirynck e van Segbroeck condensam o índice de Boismard–Lamouille,
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a Boa Nova e a Salvação (Lucas 4.31-9.50). De fato, Lucas usa duas vezes a
expressão “para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus” (Lucas 4.43 e 8.1). Nessa
seção, aparece eventualmente o verbo “salvar” relacionado às palavras “acreditar”
ou “ ter fé”. (Lucas 7.50, 8.12, 8.48, 8.50). Nessa parte, tem grande importância o
discurso na planície, que corresponde em parte ao sermão da montanha de Mateus.
Em Lucas, o sermão da planície é precedido da eleição dos Doze, que marca a sua
importância. Depois do sermão da planície, Lucas coloca Jesus e João em paralelo
pela última vez. Então vem uma seção em que a Palavra é central, com duas
parábolas, e depois outra seção em que o tema da fé se torna mais insistente.
Finalmente, Jesus forma o grupo dos Doze e anuncia a sua paixão duas vezes.
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O grande tema que domina todo o caminho é que Deus salva aquele
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Jesus vão para Jerusalém anualmente (Lucas 2.41). O trajeto de Jesus para
Jerusalém é anunciado (Lucas
9.31). Em seguida, Jesus faz um longo trajeto de dez capítulos para Jerusalém
(Lucas 9.51, 53, 13.22, 17.1, 18.31, 19.28). Após a ressurreição, os discípulos
que se dirigem para Emaús precisam voltar para Jerusalém (Lucas 24.13-35).
Por fim, após a ressurreição, Jesus ordena que os discípulos não se afastassem
de Jerusalém até a promessa do Pai se cumprir (Atos 1.4). Além disso, Atos 2
inicia com a descrição dos povos que vieram do mundo conhecido para
Jerusalém
[1] Para maiores detalhes, ver FITZMYER, J. A., The Gospel According
to Luke: Introduction, Translation, and Notes, v. 1, Garden City:
Doubleday, 1981.
estilo literário e estrutura. Em outras palavras, a comparação dos textos gregos desses
dois evangelhos sugere a probabilidade de que Marcos fosse uma das διηγήσεις
[narrações] (Lc 1.1) disponíveis para a consulta e apropriação de Lucas. Além disso, os
cerca de 230 versos comuns a Mateus e Lucas não encontrados em Marcos apontam
para uma fonte escrita, “Q”, fonte que continha lógiai sob a forma de discursos e
ensinamentos de Jesus. O terço que resta do evangelho, atribuído a uma fonte especial
“L”, trata do nascimento e da infância de Jesus (1-2), da cena programática de Jesus na
sinagoga de Nazaré (4.16-30), das parábolas familiares do bom samaritano (10.29-37)
e do filho pródigo (15.11 -32), da história de Zaqueu (19.1-10), e do aparecimento de
Jesus ressuscitado aos dois discípulos no caminho de Emaús (24.13-35).
mundo helenístico de língua grega um lugar natural para iniciar uma busca
pela audiência do evangelho. Pesquisadores tendiam a presumir que Teófilo
era um líder do grupo que Lucas tinha em mente quando escreveu seu
evangelho. Mas esta é uma presunção errônea. Como resultado de um
cuidadoso levantamento das convenções literárias de origem helenística na
composição prefácio, H.J. Cadbury, na obra The Making of Luke-Acts,
Londres: Macmillan, 1927, foi capaz de demonstrar que a relação de autor e
destinatário era geralmente formal e raramente afetava o conteúdo de uma
obra.
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Ainda que a obra mencione um Teófilo e ainda que esse seja um personagem
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[1] KLEIN, G., “Lukas 1,1 - 4 als theologisches Programm”, in DINKIER, E. (ed.), Zeit
und Geschichte. Dankesgabe an Rudolf Bultmann zum 80, Tübingen: Mohr, 1964, p.
193-216.
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A natureza ambígua de muitos dos termos empregados em Lucas 1:1-4 é mais uma razão para
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[1] FITZMYER, J., The Gospel According to Luke (1-IX), The Anchor Bible, Garden City:
Doubleday, 1981, p. 290-301.
Muitas vezes, Lucas-Atos faz alusão ao Antigo Testamento grego de uma forma opaca,
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e até mesmo ininteligível para alguém não-familiarizado com sua linguagem. Sendo
assim, não seria possível aos não-cristãos terem tanta familiaridade com o texto
lucano, numa clara indicação de que o público-leitor não seria os não-cristãos alheios
as particularidades do judaísmo. A.D. Nock, na obra Conversion: The Old and the New
in Religion from Alexander the Great to Augustine of Hippo, Oxford: The Clarendon
Press, 1933, p. 79, afirma que não há no mundo grego qualquer indicação de um
conhecimento profundo da Septuaginta, exceto quando ela era ouvida por aqueles que
frequentavam sinagogas ou estavam preocupados em escrever tratados polêmicos
contra o cristianismo, uma vez que a LXX era um livro volumoso, caro e inacessível.
“New Testament Communities in Transition: A Study in Matthew and Luke”, TS, 37,
1976, p. 567-597, tenha, ao contrário de Mateus, muitas comunidades em vista ao
invés de uma única comunidade.[1] Mas os argumentos de LaVerdiere, W. G.
Thompson e O’Toole não apresentam as devidas comprovações textuais. Uma posição
preferível, no entanto, é que Lucas, assim como os outros evangelistas, tinha uma
comunidade cristã específica em mente.
[1] Igualmente, O’TOOLE, R. F., “Luke's Position on Politics and Society in Luke-Acts”,
in: CASSIDY, R. J.; SCHARPER, P. J. (eds.), Political Issues in Luke-Acts, Maryknoll:
Orbis Books, 1983, p. 1-17.
Este uso repetido da imagem rebanho sugere que Lucas achou a imagem
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Lucas é o único dos quatro evangelistas que inicia seu livro com
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comunidades autônomas em áreas específicas sob o controle militar dos magistrados romanos.
Essas comunidades foram chamadas de civitates, e cada um deles consistia em um centro
urbano ocupando uma área definida de terra, seu território. Comum a praticamente todas as
cidades do Império era o padrão geral de magistrados anuais eletivos, um conselho (cúria). Os
membros do conselho eram chamados de decuriões. Em cada cidade, os decuriões e os
magistrados (quase sempre eleitos entre os decuriões) constituíam a aristocracia local. Os
decuriões eram na verdade classificados como um ordo, ou seja, uma categoria social com uma
definição oficial. Os dois ordines por excelência eram os ordines senatorial e equestre em Roma.
Senadores e cavaleiros compreendiam, respectivamente, os estratos superior e inferior da
nobreza romana, enquanto os decuriões eram a pequena nobreza local nas cidades provinciais.
Apenas uma pequena porcentagem da população foi incluída nesses ordines.
[1] MACMULLEN, Ramsay. Changes in the Roman Empire: Essays in the Ordinary.
Princeton: Princeton University Press, 1990
variáveis:
classe econômica (significando o acesso à riqueza e aos
meios de produção).
status (significando prestígio, nascimento nobre, etc.).
poder.
[1] GARNSEY, Peter. Social Status and Legal Privilege in the Roman Empire.
Oxford: Oxford University Press, 1970.
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poder, estava seu desdém, muitas vezes beirando o ódio, pela massa da
população, que tinha pouco ou nenhum acesso a esses recursos. A elite se
considerava moralmente superior ao resto, atitude que é bem ilustrada pelo
uso da palavra boni para se referir a eles durante o final do período
republicano.
infeliz - aqueles que haviam sido privados de sua liberdade por credores aos quais não
conseguiam pagar suas dívidas. Ste Croix aplicou proveitosamente o termo 'fiadores de
dívida' a devedores como esses e 'servidão por dívida' à sua condição.[1] Eles não eram
escravos no sentido técnico; se a dívida fosse paga, eles poderiam recuperar sua liberdade
sem a necessidade de alforria. Embora o credor pareça não ter o direito legal de fazer o
devedor saldar a dívida, esse deve ter sido o curso normal. Não haveria muito sentido em
apreender um devedor inadimplente e, em seguida, incorrer nas despesas de mantê-lo
ocioso, exceto se ele fosse considerado como tendo bens ocultos ou parentes compassivos e
endinheirados.
[1] STE CROIX, G. Early Christian attitudes to property and slavery. Oxford: Basil Blackwell,
1975.
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ἀπηλλάχθαι ἀπ᾽ αὐτοῦ, μήποτε κατασύρῃ σε πρὸς τὸν κριτήν, καὶ ὁ κριτής σε
παραδώσει τῷ πράκτορι, καὶ ὁ πράκτωρ σε βαλεῖ εἰς φυλακήν. λέγω σοι, οὐ μὴ
ἐξέλθῃς ἐκεῖθεν, ἕως καὶ τὸ ἔσχατον λεπτὸν ἀποδῷς.
Quando fores com o teu adversário ao magistrado, esforça-te para te livrares desse
adversário no caminho; para que não suceda que ele te arraste ao juiz, o juiz te
entregue ao meirinho e o meirinho te recolha à prisão. Digo-te que não sairás dali
enquanto não pagares o último centavo.
da escala social. Em termos de subsistência, no entanto, eles provavelmente estariam em melhor situação do
que os pobres livres: os escravos pelo menos tinham donos a quem poderiam procurar comida e abrigo. Uma
série de passagens dos autores clássicos mostram que ocasionalmente os pobres retribuíam o ódio que
recebiam da elite governante. Salústio, por exemplo, observa que a plebe romana favorecia a conspiração de
Catilina. Na maior parte, porém, os pobres aceitavam sua sorte, como podemos inferir de sua passividade, em
silêncio e deferência. Alguns deles, no entanto, tomaram cuidado para garantir que suas almas descansassem
pacificamente pelo menos na conclusão de suas lutas nesta vida, filiando-se a associações que proporcionassem
um enterro decente para seus membros. Essas associações cobravam uma taxa de entrada e uma pequena
assinatura mensal e não eram autorizados por lei a se encontrarem mais com os ricos no Oriente romano mais
do que uma vez por mês. Durante o primeiro e segundo séculos d.C., de acordo com Waltzing,[1] associações
desse tipo, que passaram a ser chamadas de collegia tenuiorum, eram encontrados em grande número em todas
as partes do império.
[1] WALTZING, J. P. Étude historique sur les corporations professionnelles chez les romains. Lovaina, 1895.
vidas sem pelo menos uma vez se perguntar de onde viria a próxima refeição. Até
o momento, não existe um tratamento adequado e sistemático da fome no
Império Romano. Historiadores antigos, com algumas exceções notáveis,
mostraram pouco interesse neste assunto. Devemos agora delinear algumas das
razões para a frequência da fome e suas consequências para os pobres urbanos.
adotaram as práticas dos sem-teto urbanos que podem ser vistas até hoje nas
grandes cidades: tirar proveito de qualquer forma de cobertura, natural ou
artificial, que as autoridades cívicas permitiam. Durante as últimas décadas do
quarto século d.C., João Crisóstomo relatou que os sem-teto em Antioquia do
Orontes dormiam na palha nas colunatas de banhos e templos. Gregório de
Nissa escreveu sobre os mendigos que lotavam as cidades: “O ar livre é sua
morada, seus alojamentos são os pórticos e esquinas e as partes menos
frequentadas do mercado”. Há poucos motivos para acreditar que este também
não fosse o caso no primeiro século d.C. em todas as cidades do Oriente.
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próximas dos centros das cidades viviam em cortiços. Em Roma e em outros lugares,
especialmente em Óstia, havia cortiços de vários andares chamados insulae, contendo
vários apartamentos que eram alugados a inquilinos. A natureza dessas edificações e a
qualidade de vida de quem os habitava foram bem descritas por Homo. Algumas das
insulae eram bem construídas, mas as mais pobres não. Havia um perigo constante de
entrar em colapso ou serem destruídas pelo fogo. Aqueles usados pelos pobres eram
superlotados, escuros e insalubres, geralmente sem água encanada ou banheiros.
Parece que em Roma, onde a superlotação urbana era intensa, as insulae eram mais
altas do que em outros lugares, às vezes atingindo seis andares, ao contrário dos três
exemplares conhecido de outras cidades.
parábola:
8 Quando por alguém fores convidado para um casamento, não procures o primeiro
lugar; para não suceder que, havendo um convidado mais digno do que tu,
9 vindo aquele que te convidou e também a ele, te diga: Dá o lugar a este. Então, irás,
envergonhado, ocupar o último lugar.
10 Pelo contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar; para que, quando
vier o que te convidou, te diga: Amigo, senta-te mais para cima. Ser-te-á isto uma honra
diante de todos os mais convivas.
11 Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. (Lucas
14.7-11)
uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus
parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te
convidem e sejas recompensado.
13 Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos
e os cegos;
14 e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que
recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição
dos justos. (Lucas 14.8-14)
(1) 14.1-6
Platão, Críton 53a:
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[53a] nem de qualquer outra das cidades gregas ou dos estrangeiros, mas
você saiu desta cidade menos do que os coxos e os cegos e os outros
aleijados. Muito mais do que os outros atenienses, você estava satisfeito
com a cidade e, evidentemente, conosco, suas leis; pois quem ficaria
satisfeito com uma cidade separada de suas leis? E agora você não vai
cumprir o seu acordo? Você o fará se seguir nosso conselho, Sócrates; e
você não se tornará ridículo indo embora da cidade. Considere transgredir
dessa forma e cometer esses erros, você fará bem a si mesmo...
(1) 14.1-6
Habet Trebius propter quod rumpere somnum
MESTRADO
(1) 14.1-6
Os cínicos, gostavam de metáforas e comparações da medicina, um campo
MESTRADO
(1) 14.1-6
Pois ele observou que um grande número se reunia em Corinto por causa dos
MESTRADO
portos e das hetairas, e porque a cidade era situada, por assim dizer, na
encruzilhada da Grécia. Consequentemente, assim como o bom médico deve
ir e oferecer seus serviços onde os enfermos são mais numerosos, assim,
disse ele, o homem de sabedoria deve morar onde os tolos são mais
numerosos a fim de convencê-los de sua loucura e reprová-los. (Dion
Crisóstomo, Orationes 8.5)
(1) 14.1-6
(1) 14.1-6
A hidropisia aparece como metáfora cínica para uma paixão consumidora, (Plutarco,
MESTRADO
Moralia 561c), para os vícios e ignorância que somente a filosofia poderia curar,
sendo suas salas de aula, hospitais, e suas palestras como medicamentos. Dentro
desse campo mais amplo de analogias médicas, surge uma comparação,
especialmente popular nos círculos cínicos, do doença da hidropisia como o vício da
avareza. A comparação pode recuar até Antístenes, mas uma vez que a atribuição é
uma questão incerta e como Antístenes apenas implica a analogia hidropisia-
avareza, é melhor ver isso com cuidado (Diógenes Laércio 6,6). Antístenes foi o
fundador da Escola Cínica em Atenas, que disse ter falado da ganância dos tiranos
como uma 'doença grave e dolorosa' (Xenofonte, Symp. 4.37).
(1) 14.1-6
(1) 14.1-6
(1) 14.1-6
Aqueles... que não se separam de nada, embora tenham grandes posses, mas sempre querem mais,
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golpeariam aquele que se lembrava do que Aristipo disse como ainda mais absurdo. “Se um homem
come e bebe muito”, ele costumava dizer, “mas nunca fica satisfeito, ele vai a um médico, pergunta o
que o aflige, o que está errado com seu sistema e como se livrar da desordem; mas se o dono de
cinco sofás sai à procura de dez, e o dono de muitas mesas compra mais mesas, e embora ele tenha
terras e dinheiro em abundância, não está satisfeito, mas empenhado em mais, perdendo o sono e
nunca saciado por qualquer quantia, ele imagina que não precisa de alguém que lhe receite e
aponte a causa de sua angústia?” ... [Nós] presumimos que quem bebe sem parar precisa se aliviar,
não se encher. O mesmo ocorre com os que ganham dinheiro ... Aquele que tem mais do que o
suficiente e ainda anseia por mais, não encontrará remédio em ouro e prata [etc.]... mas se expulsar
a fonte do mal será purgado. Pois sua doença não é pobreza, mas insaciabilidade e avareza... e a
menos que alguém remova isso, como uma tênia de sua mente, ele nunca deixará de precisar de
supérfluos - isto é, de querer o que não precisa. (Plutarco, Moralia 524a-d)
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DE LUCAS-ATOS
(1) 14.1-6
(1) 14.1-6
saciar, falaria com seu médico sobre isso; então, se, com os bens
acumulados, você sentisse apenas desejo por mais, você deixaria
de se aconselhar com alguém a respeito disso? (Horácio, Epodo
2.2.146-149)
(1) 14.1-6
mais sede fica. Hoje em dia só conta o dinheiro: a fortuna traz honras,
amizades; o pobre homem em todos os lugares está baixo. (Ovídio, Fasti
1.215-16; no contexto de uma reclamação sobre o 'desejo frenético de
riqueza')
(1) 14.1-6
(1) 14.1-6
Lucas, portanto, podia se dar ao luxo de traçar a comparação oblíqua e elíptica. Pode-se
MESTRADO
afirmar que o cenário literário e o contexto temático da figura em Lucas 14 é uma cena da
ceia de elite, com críticas à gula e à ganância autoindulgente. O cenário evoca a grande ceia
greco-romana (cf. Lucas 14.16), uma marca registrada e símbolo do status dos ricos gregos e
romanos e que polemistas, satíricos e moralistas helenísticos frequentemente exploravam
em suas tiradas e paródias. Lucas conta com a familiaridade geral de seus leitores com essa
figura de comparação. Para que isso seja plausível, precisamos atestar que a figura era de
domínio público. A hidropisia como consequência de um jantar suntuoso pertence às críticas
convencionais ao banquete extravagante das classes altas. A relação do homem hidrópico
com os fariseus indica que a religião farisaica era rigorosa com prescrições rituais, mas
tolerante com a ganância e com a injustiça que relegava pessoas à pobreza, doença e morte.
(2) 14.7-14
MESTRADO
(2) 14.7-14
(2) 14.7-14
(2) 14.7-14
quem foi colocado acima de nós, mas sim como podemos ser
totalmente agradáveis aos colocados entre nós, tentando
imediatamente descobrir neles algo que pode servir para iniciar e
manter a amizade... Pois, em todos os casos, um homem que se opõe
ao seu lugar à mesa está se opondo ao seu próximo e não ao seu
anfitrião, e ele se torna odioso para ambos. (Septem sapientium
convivium [Moralia] 149a-b)
(2) 14.7-14
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(2) 14.7-14
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(3) 14.15-24
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A formação de um novo agrupamento social iniciado pelo esforço de um chefe de família rico,
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Em relação às riquezas, sabe-se que era preciso um par de bois para trabalhar
MESTRADO
(3) 14.15-24
afirma:
Amas que mantemos para nosso prazer, concubinas para
nosso bem-estar físico diário e esposas para gerar filhos
legítimos e ter guardiães de confiança de nossas famílias.
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1.9.2 OS GENTIOS
As referências à viúva de Sarepta e a Naamã em Lucas 4.25-27 uma
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1.10 OS MARGINAIS
1.10.1 Os ricos
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1.10.1 OS RICOS
Lucas omite uma perícope que, em sua forma marcana, revela uma notável
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prodigalidade no que diz respeito aos bens. É o caso da mulher que ungiu Jesus com
o precioso unguento, enquanto ele era acolhido por Simão, o leproso, em Betânia
(Marcos 14.3-9). Os discípulos objetam que este unguento poderia ter sido vendido
por trezentos denários e o dinheiro dado aos mendigos. O poder de compra desta
soma de dinheiro pode ser convenientemente medido a partir de uma comparação
com Marcos 6.37, onde duzentos denários são especificados como a quantia
necessária para fornecer uma refeição para cinco mil homens. Mas Jesus ignora as
objeções de seus discípulos; ele diz a eles que eles têm os mendigos (ptochoí)
sempre com eles e que eles poderão ajudá-los quando quiserem.
incluem:
a parábola do Louco Rico (Lucas 12.13-21)
a ordem de vender suas posses e dar esmolas (Lucas 13.33)
a instrução de convidar mendigos, para banquetes (Lucas 14.12 -14)
o ditado sobre fazer amigos do injusto Mammon (Lucas 16.9)
a história do homem rico e Lázaro (Lucas 16.19-31)
o incidente do governante rico (Lucas 18.18-30)
Menófilo Azanitus: "Desde que a Providência, que ordenou todas as coisas e está
profundamente interessada em nossa vida, estabeleceu-se em ordem perfeita, dando-
nos Augusto, a quem ela encheu de virtude que ele poderia beneficiar a humanidade,
enviando-o como um salvador, tanto para nós quanto para nossos descendentes, que
ele poderia acabar com a guerra e organizar todas as coisas, e desde que ele, César, por
sua aparência (superou até mesmo nossas antecipações), superando todos os
benfeitores anteriores, e nem mesmo deixando para a posteridade qualquer esperança
de superar o que ele fez, e desde o aniversário do deus Augusto foi o início das boas
notícias [εαγγλλι] para o mundo que veio pela razão dele”, que a Ásia resolveu em
Esmirna.
texto dos Atos dos Apóstolos. Há duas versões dele: o texto alexandrino,
contrastado por códices muito famosos, como o Sinaítico e o Vaticano, e o
chamado texto ocidental, representado principalmente pelo códice Beza
em Cambridge. Isso é normal para outros livros do Novo Testamento, como
os Evangelhos, e as diferenças entre as duas versões são muito pequenas.
Mas este não é o caso dos Atos dos Apóstolos, nos quais as duas versões
diferem consideravelmente.
εἰ υἱὸς εἶ τοῦ θεοῦ, βάλε σεαυτὸν ἐντεῦθεν κάτω· γέγραπται γὰρ ὅτι τοῖς ἀγγέλοις αὐτοῦ
ἐντελεῖται περὶ σοῦ τοῦ διαφυλάξαι σε.
Então ele o levou para Jerusalém, colocou-o no beiral do templo e disse-lhe: Se você é filho de
Deus, jogue-se daqui de baixo, porque está escrito: Ele te encomendará aos seus anjos para te
guardar. E levar-te-ão nas mãos para que o teu pé não tropece em pedra alguma. (Lucas 4:9-10).
δύναμιν.
E disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo deve padecer e ressuscitar dos
mortos ao terceiro dia, e que em seu nome se pregaria o arrependimento
para remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
(Lucas 24:46-47).
Sabei, pois, que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios; eles a
ouvirão. (Atos 28:28).
Vede que agora eu, impelido pelo espírito, vou a Jerusalém, sem saber
o que lá me acontecerá; Só sei que o Espírito Santo em cada cidade me
dá testemunho de que me esperam prisões e tribulações. (Atos 20:22-
23).
169 Dr. Brian Kibuuka
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ESTUDOS NA TEOLOGIA
DE LUCAS-ATOS
Não encontro nele nenhum crime que mereça a morte; então vou
dar-lhe uma lição e deixá-lo ir. Mas eles pediam em alta voz para que
fosse crucificado e seus clamores aumentavam. (Lucas 23:22-23).
Καίσαρά τι ἥμαρτον.
Não cometi nenhum crime contra a lei dos judeus, nem contra o
templo, nem contra César. (Atos 25:8).
μαστίζειν;
do livro dos Atos dos Apóstolos, tomando-o apenas como uma espécie de
romance apologético. Ainda hoje, alguns como R. Pervo (1987) falam de Atos
como um romance de aventuras, pelo menos no que diz respeito ao gênero
literário. No entanto, prevalece entre os estudiosos, independentemente de
sua filiação religiosa, que se trata de um livro realmente histórico, mesmo
com todas as contingências típicas de uma obra da Antiguidade.
No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era
procurador da Judeia; Herodes Tetrarca da Galileia; Filipe, seu irmão, tetrarca de
Iturea e Traconítida, e Lisânias tetrarca de Abilene; Durante o pontificado de Anás e
Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. (Lucas 3:1-2).
ἱερωμένης καὶ Αἰνησίου ἐφόρου ἐν Σπάρτῃ καὶ Πυθοδώρου ἔτι δύο μῆνας ἄρχοντος
Ἀθηναίοις, μετὰ τὴν ἐν Ποτειδαίᾳ μάχην μηνὶ ἕκτῳ καὶ ἅμα ἦρι ἀρχομένῳ Θηβαίων ἄνδρες
ὀλίγῳ πλείους τριακοσίων ἡγοῦντο δὲ αὐτῶν βοιωταρχοῦντες Πυθάγγελός τε ὁ Φυλείδου
καὶ Διέμπορος ὁ Ὀνητορίδου.
No décimo quinto ano, quando Crisis, a alta sacerdotisa de Argos, estava no quadragésimo oitavo
ano de seu pontificado, Enéias era éforo em Esparta, e Pitódoro tinha sido arconte quatro meses em
Atenas, no décimo mês do noivado de Potideia, no início da primavera, na primeira vigília da noite,
uma força armada de cerca de trezentos tebanos entrou em Plateia, uma cidade da Beócia, que era
aliada de Atenas, sob o comando de dois beoarcas, Pitangelo, filho de Fileides, e Diemporo. , filho de
Onetorides. (Tucídides, História da Guerra do Peloponeso 2.2).
εἰς Νέαν πόλινκἀκεῖθεν εἰς Φιλίππους, ἥτις ἐστὶν πρώτη[ς] μερίδος τῆς
Μακεδονίας πόλις, κολωνία. Ἦμεν δὲ ἐν ταύτῃ τῇ πόλει διατρίβοντες ἡμέρας
τινάς. τῇ τε ἡμέρᾳ τῶν σαββάτων ἐξήλθομεν ἔξω τῆς πύλης παρὰ ποταμὸν οὗ
ἐνομίζομεν προσευχὴν εἶναι, καὶ καθίσαντες ἐλαλοῦμεν ταῖς συνελθούσαις
γυναιξίν.
Embarcamos em Trôade e fomos direto para Samotrácia e no dia seguinte para
Neápolis; daí para Filipos, que é a principal colônia da demarcação macedônia. Nesta
cidade paramos por alguns dias. No dia de sábado saímos do portão, para a margem
de um rio, onde imaginávamos que haveria um lugar de oração. Sentamo-nos e
começamos a falar com as mulheres que tinham vindo. (Atos 16:11-13).
186 Dr. Brian Kibuuka
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ESTUDOS NA TEOLOGIA
DE LUCAS-ATOS
carregá-los palavra por palavra na memória, de modo que meu hábito foi fazer com que os falantes dissessem o
que, em minha opinião, lhes era exigido pelas várias ocasiões, naturalmente aderindo o mais próximo possível
ao sentido geral do que eles realmente disseram. [2] E no que diz respeito à narrativa dos acontecimentos,
longe de me permitir extraí-la da primeira fonte que me veio à mão, nem sequer confiei em minhas próprias
impressões, mas ela se baseia em parte no que eu mesmo vi, em parte no que outros viram por mim, a precisão
do relatório sempre sendo testada pelos testes mais rigorosos e detalhados possíveis. [3] Minhas conclusões
me custaram algum trabalho pela falta de coincidência entre relatos das mesmas ocorrências por diferentes
testemunhas oculares, ora decorrentes de memória imperfeita, ora de parcialidade indevida de um lado ou de
outro. [4] A ausência de romance em minha história, temo, diminuirá um pouco seu interesse; mas se for julgado
útil por aqueles pesquisadores que desejam um conhecimento exato do passado como um auxílio para a
interpretação do futuro, que no curso das coisas humanas deve se assemelhar se não o refletir, ficarei
satisfeito. Enfim, escrevi meu trabalho, não como um ensaio para ganhar os aplausos do momento, mas como
um bem para sempre. (Tucídides, História da Guerra do Peloponeso 1.22).
como Políbio no século II a.C. No entanto, foi cada vez mais aceita por historiadores
gregos e latinos. É o caso, por exemplo, de Salústio em sua Guerra Jugurtina; ou de
Josefo em sua Guerra Judaica. Já no século II d.C. é o recurso utilizado por Tácito em
seus Anais. Lucas parece tê-lo usado nos Atos dos Apóstolos, de modo que tanto os
discursos de Pedro, como de Estevão e Paulo, onde a história da salvação é muitas
vezes sintetizada, ligada à de Israel, seriam reconstruções de Lucas segundo a
mentalidade, opiniões, formas de abordagem e expressões da igreja primitiva. Isso não
faz com que esses longos e repetidos discursos percam qualquer valor, nem do ponto
de vista histórico, pois reflete os sentimentos da comunidade cristã primitiva; nem do
ponto de vista teológico.
ESTUDOS NA TEOLOGIA
DE LUCAS-ATOS
argumento dos Atos, compreende desde o ano 30 de nossa era até o ano 63.
Durante esses trinta e três anos, quatro imperadores se sucederam no Império
Romano. Seus nomes são:
Tibério
Calígula
Cláudio
Nero
Não é o caso de Calígula, cujo nome é omitido dos Atos, apesar dos
conflitos do imperador com os judeus de Jerusalém, que darão origem a
um dos livros do judeu da época, Fílon de Alexandria, conhecido pelo
título De legatione ad Caium. Em vez disso, Cláudio é mencionado pelo
nome duas vezes em Atos (Atos 11:28; 18:2). Por sua vez, Nero só
aparece aludido com o nome genérico de César (Atos 25:8-12 e 21;
26:32; 27:24; 28:19) e duas vezes com o de Augusto, que em grego é
Sebastos. (Atos 25:21 e 25).
maioria dos quais veio das classes mais baixas, principalmente libertos. Ele
estabeleceu uma administração praticamente nova, fundada no que chamaríamos
de quatro ministérios (scrinia): O Departamento de Finanças (a rationibus), o
escritório de correspondência e chancelaria geral (ab epistulis), o ministério de
apelações ou da justiça (a cognitionibus) e a preparação de documentos oficiais (a
studiis). Ele também estava preocupado em realizar muitas obras públicas, não
tão suntuosas quanto necessárias para o bem-estar do império, como as do novo
porto de Roma, mais ao norte da foz do Tibre.
expulit.
descendente da casa Claudiana, embora sua mãe tenha passado por adoção, primeiro para a família Liviana, depois
para a família Juliana. Desde a mais tenra infância, as vicissitudes perigosas eram seu destino. Mesmo exilado, ele foi
companheiro de um pai proscrito, e ao ser admitido como enteado na casa de Augusto, teve que lutar com muitos
rivais, como Marcelo e Agripa e, posteriormente, Caio e Lúcio César. Novamente seu irmão Druso gozou em maior
grau da afeição dos cidadãos. Mas ele estava mais do que nunca em terreno perigoso depois de seu casamento com
Julia, quer tolerasse ou escapasse da libertinagem de sua esposa. Em seu retorno de Rodes, ele governou a casa do
imperador, agora sem herdeiros, por doze anos, e o mundo romano, com domínio absoluto, por cerca de vinte e três.
Seu caráter também teve seus períodos distintos. Foi uma época brilhante em sua vida e reputação, enquanto sob
Augusto ele era um cidadão privado ou ocupava altos cargos; ele teve um tempo de reserva e astuta assunção de
virtude, enquanto Germânico e Druso estavam vivos. Novamente, enquanto sua mãe vivia, ele era uma mistura de
bem e mal; ele era famoso por sua crueldade, embora velasse suas libertinagens, enquanto amava ou temia Sejano.
Finalmente, ele mergulhou em toda maldade e desgraça, quando o medo e a vergonha foram expulsos, ele
simplesmente cedeu às suas próprias inclinações. (Tácito, Annales 6.51).
esbeltos, olhos e têmporas côncavos, testa larga e grossa, cabelos ralos, mas nenhum perto
do topo, e o resto do cabelo estava desgrenhado. portanto, era considerado criminoso e fatal
para um transeunte olhar para ele de cima, ou chama-lo de bode por qualquer motivo. De
fato, a natureza trouxe um aspecto horrível e tétrico mesmo de propósito, configurando-o
como um espelho para todo terror e medo. Ele não era saudável no corpo nem no espírito. [2]
Ele não tinha saúde nem do corpo, nem da mente. Quando criança, foi afligido por uma
doença crônica, e a sua juventude foi tão aflita com trabalhos, que às vezes ele era incapaz de
entrar, ficar de pé, se recompor e suportar seu peso sem um súbito fracasso. Ele próprio
sentira necessidade de saúde mental, e de vez em quando, pensava em se aposentar e
purificar o cérebro. Acredita-se que ele estava embriagado com uma poção de amor de sua
esposa Cesônia, mas que se transformou em raiva. (Suetônio, Vita Caligulae 50.1-2).
201 Dr. Brian Kibuuka
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tiques nervosos. Em sua família, ele sempre foi considerado um tolo e inútil para a
vida pública, apesar de ser um intelectual e ter escrito vários livros de história. Ele
também gostava um pouco de beber. Era, no entanto, um homem de tratamento
afável e simples, embora mutável, evasivo no que diz respeito às honras e de
espírito democrático, apesar de ter sido por vezes acusado de proceder
impiedosamente.
grosso com a pele cheia de manchas, barriga inchada e pernas finas. Seu
comportamento era o de um louco, especialmente em seus últimos anos. Ele
mandou matar sua mãe Agripina e sua própria esposa Otávia, neste caso para se
casar com Popeia. O tutor de Nero era o filósofo espanhol L. Aneo Seneca, e eram
seus amigos o seu irmão Gálio, o poeta hispânico M. Aneo Lucano, e o famoso
Petrônio, conhecido em Roma como o "árbitro da elegância ". Não nos resignamos
a deixar sem copiar aqui, mesmo que seja longo, o que o historiador Tácito deixou
escrito sobre ele, que viveu os fatos quando criança, tanto mais que se refere ao
assunto que nos interessa, ou seja, à presença da comunidade cristã em Roma.
Esses reinos ou protetorados aliados eram pelo menos uma dúzia, a maioria no leste. Nos planos de
MESTRADO
Augusto para a defesa do império, desempenharam um papel muito importante, pois serviram de
amortecedores contra invasões de inimigos como o poderoso império dos partos, que incluía
também os medos e elamitas, povos mencionados nos Atos dos Apóstolos (Atos 2Ç9). Estes eram
geralmente pequenos reinos, às vezes minúsculos como Abilene, Calcis e Olba. Embora realmente
pertencessem ao Império Romano, gozavam de grande autonomia. Eram governados por monarcas,
às vezes com o nome de rei, outras com o de etnarca ou tetrarca, que tinham administração própria
e até um exército mercenário. Raramente, e geralmente apenas em momentos de perigo, as legiões
romanas penetraram em tais estados satélites. Mas, por outro lado, seus monarcas tinham que ser
escolhidos ou pelo menos confirmados pelo imperador, tinham que se submeter às diretrizes
políticas do império e, o que era mais penoso, pagar pesadas homenagens à metrópole romana,
embora a exigência fosse executada por autoridades regionais.
tarde por um príncipe do Ponto, e não se tornou parte da província romana até a
época de Galba (68-69 d.C.). Havia também outros estados-santuário na
Capadócia, que foram progressivamente absorvidos pela administração desta
província romana.
Traconite, bem como a margem ocidental do lago Genesaré no tempo de Agripa II.
Todo o conjunto, por ocasião da morte deste régulo por volta de 92 ou 93 d.C.,
passou a crescer de acordo com sua situação geográfica as províncias da Síria e da
Judeia.
Chipre, Sérgio Paulo, que se diz ter sido um "sábio" (Atos 13:7) e que, ao que
parece, se converteu ao cristianismo. Lucas dá-lhe o título grego ἀνθύπατος, que
é tecnicamente o equivalente da palavra latina procônsul.
Lucius Sergius Paulus é conhecido por pelo menos uma inscrição encontrada em
MESTRADO
Antioquia da Pisídia e provavelmente também por mais duas, embora nos últimos
casos não seja certo que seja a mesma pessoa. Os Sérgios eram uma das famílias
patrícias de Roma.
O segundo procônsul, referido nos Atos, é Gálio, governador da Acaia no início dos
MESTRADO
anos 50 (Atos 18:12,17). De acordo com o que consta no texto bíblico, ele
desdenhosamente desconsiderou as tensões e tumultos causados pelas diferenças
entre judeus e cristãos, sem deixar Paulo falar, e até assistiu sem vacilar como, diante
do próprio tribunal, os próprios judeus espancaram o chefe da sinagoga. Este procônsul
é bem conhecido por fontes seculares, sendo seu nome completo L. Junius Anneus
Gallio. Ele era espanhol e irmão de Sêneca. Quando foi adotado pelo senador, também
de origem espanhola, L. Junio Gallión, mudou seu antigo nome: Marco Anneo Novato.
Ele menciona uma inscrição encontrada em Delfos, que parece ser datada do ano 51 ou
52 d.C. C. Seu irmão também fala dele, que lembra que ele teve que deixar seu posto na
Acaia por motivo de doença (Ep 104).
εἰ μὲν οὖν Δημήτριος καὶ οἱ σὺν αὐτῷ τεχνῖται ἔχουσιν πρός τινα λόγον,
MESTRADO
Se, em efeito, Demétrio e os artífices que estão com ele têm queixa contra
alguém, há audiências e procônsules; que apresentem suas reivindicações. (Atos
19:38).
O segundo tipo de províncias dentro do Império Romano era formado por aquelas
MESTRADO
No Oriente, a província imperial mais importante devido à sua localização estratégica era a Síria,
MESTRADO
mas algumas da Anatólia também se apresentavam como províncias imperiais, como Capadócia,
Galácia, Bitínia-Ponto, Cilícia e Lícia-Pamphília. E a Macedônia e a Acaia haviam sido, antes que
Cláudio as passasse ao senado, como vimos antes. Na obra de Lucas, fala-se expressamente da Síria
e do seu governador (Lucas 2:2). Em Atos a província é mencionada cinco vezes (Atos 15:23 e 41;
18:18; 20:3; 21:3). Também aparece uma vez expressamente citada nas cartas de Paulo (Gálatas
1:21). A província da Cilícia, onde Paulo nasceu, aparece com seu nome seis vezes em Atos (Atos
6:9; 15:23 e 41; 21:39; 22:3; 27:5) e uma vez nas epístolas paulinas (Colossenses 1:21), enquanto a
Capadócia aparece apenas uma vez em Atos (Atos 2:9) e uma vez na carta de Pedro (1 Pedro 1:1);
Galácia, duas vezes em Atos (Atos 16:6; 18:23) e três vezes nas cartas (Gálatas 1:2; 1 Coríntios
16:1; 1 Pedro 1:1); Bitínia-Ponto, duas vezes em Atos (Atos 2:9; 16:7) e uma vez nas cartas (1 Pedro
1:1); finalmente Lícia-Pamphília aparece quatro vezes em Atos (Atos 2:10; 13:13; 15:38; 27:5).
Como já indicamos, a província imperial mais importante de todo o Oriente era a Síria. Seu
MESTRADO
governador tinha o comando de quatro legiões, o que significa um exército pronto para a
guerra com mais de 30.000 soldados, se somarmos as forças auxiliares aos legionários. Era,
portanto, o centro vital da defesa militar dos limes orientais. Seus legados propretoriais
sempre foram figuras conhecidas da classe política romana. No ano 30, L. Elio Lamia, um
homem mais velho, que já havia sido cônsul no ano 3 d.C., e era o encarregado desta
província durante o império de Augusto e que, aparentemente, não residia realmente na
Síria. Ele foi nomeado prefeito da cidade de Roma no ano 32, segundo Tácito (Annales 6.27).
Naquele ano Tibério nomeou L. Pomponius Flaccus governador da Síria, que também havia
sido cônsul no ano 17. Morto pouco depois, o governo passou para as mãos de Lucius Vitélio
no ano seguinte ao exercício de um de seus consulados, ou seja, 35. Ele era um personagem
bem conhecido em Roma e foi o pai do futuro imperador Vitélio.
221 Dr. Brian Kibuuka
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ESTUDOS NA TEOLOGIA
DE LUCAS-ATOS
No ano 41, Cláudio nomeou C. Vibio Marso como governador da Síria, que será
MESTRADO
seu conselheiro para os graves problemas do Oriente. Ele terá alguma influência
em obscurecer a amizade entre o imperador e Herodes Agripa I.
Χριστιανούς.
no ano 30. Chamava-se C. Cássio Longino, e era, segundo Tácito (Ann XII, 12), um
jurista conhecido. No ano 50 já existe um novo governador, C. Umidio Durmio
Quadrato, que anteriormente ocupava o cargo de Questor na Cidade. Seu
sucessor é Cn. Domício Córbulo, nomeado por Nero no ano 60, e que perdurou
em seu cargo até o ano 63. Foi um grande político e não menos famoso militar que
se distinguiu por suas brilhantes campanhas na guerra armênia (Tácito, Annales
14-15).
Ainda existia um terceiro grupo de províncias, ou, se preferir, uma variante das províncias
MESTRADO
O procurador (epítropos em grego) que estava encarregado de uma dessas províncias, não podia
MESTRADO
exercer o comando das legiões. Embora tivesse soldados ao seu comando, estes consistiam em tropas
auxiliares (auxilia), ou seja, coortes de infantaria e alas de cavalaria, compostas por conscritos que
ainda não eram cidadãos romanos, e por isso não estavam integrados nas legiões regulares. As tropas
auxiliares eram geralmente nomeadas de acordo com o local onde haviam sido originalmente
recrutadas, por exemplo, Coorte II dos Trácios (Cohors II Thracum), ou Ala I dos Hispânicos (Ala I
Hispanorum). No caso de os governadores dessas províncias não conseguirem resolver problemas
graves que surgiram inesperadamente, usando apenas suas poucas tropas, então eles tinham que
recorrer ao apoio dos legados propretores das províncias imperiais vizinhas, e se encarregaram da
situação usando suas legiões. Isso lhes deu de fato uma espécie de tutela real sobre os modestos
governadores das províncias da procuradoria. Sem esta chave, a história dos acontecimentos na Judeia
não pode ser compreendida, pois o exército regular romano e o governador da Síria intervieram em
mais de uma ocasião como árbitro supremo nos momentos de crises políticas.
Os governadores da Judeia, no período que aqui nos interessa, foram os seguintes: Primeiro, Pôncio
MESTRADO
Pilatos, que tinha de 26 a 36 anos, e tinha constantes confrontos com os judeus. Certa vez, por introduzir
na cidade santa de Jerusalém as bandeiras imperiais que as tropas carregavam e que representavam
figuras odiosas aos judeus como a efígie do imperador divinizado (Josefo, Guerra dos Judeus 2.169-174;
Antiguidades Judaicas 18.3.1). Mais tarde, um novo confronto ocorreu quando Pilatos tentou pagar as
obras de abastecimento de água de Jerusalém com o dinheiro do templo. O tumulto terminou em uma
escaramuça em que os soldados participaram ativamente e que produziu muitos mortos e feridos (Josefo,
Guerra dos Judeus 2.175-177; Antiguidades Judaicas 18.3.2). Mais uma vez, e esta foi a última, pois custou
o cargo ao governador, o massacre ocorreu na região de Samaria, precisamente no monte Gerizim, porque
um indivíduo tentou proclamar-se Messias (Josefo, Antiguidades Judaicas 18.4.1-2). A esses
acontecimentos, devemos acrescentar aqueles que conhecemos principalmente dos Evangelhos, como o
massacre de alguns galileus que vieram ao templo de Jerusalém para oferecer sacrifícios ali (Lucas 13:1) e a
execução de Jesus de Nazaré junto com dois chamados bandidos, provavelmente nacionalistas e rebeldes
(Mateus 27:2 e 11-38; Marcos 15:1-28; Lucas 23:1-43; João 18:28-40; 19:1-22).
(anos 37-41), se ambos não são do mesmo personagem como alguns historiadores
suspeitam. Se a comunidade cristã não sofreu nenhuma perseguição por parte de Pilatos,
essa situação favorável deve ter perdurado até o ano 41. As desordens que levaram à
morte de Estêvão pelas mãos de alguns líderes judeus provavelmente ocorreram de
forma descontrolada durante o interregno entre a demissão de Pilatos e a chegada de
Marcelo. Por sua vez, o período que corresponde ao governo de Marcelo e Marullo
coincide com a atividade de Pedro e do diácono Felipe em Samaria e nas cidades da costa
mediterrânea, bem como com a conversão ao cristianismo de um dos centuriões da era
romana. guarnição de tropas auxiliares, residentes na capital da província, isto é, em
Cesareia (Atos 10:1-48).
Após o lapso de três anos, que corresponde à restauração do reino da Judeia na pessoa de
MESTRADO
Herodes Agripa I, o território volta a ser uma província romana, desta vez certamente
dirigido por um governador que levava oficialmente o nome de “procurador”, pois até então
parece que os governadores da Judeia recebiam a denominação de “prefeito”, conforme
consta na inscrição referente a Pilatos, encontrada em Cesareia em 1961. O novo
governador, que chegou no ano 44, chamava-se Cúspido Fado e ocupou a sede do governo
até o ano 46. Foi sucedido por A. Tibério Júlio Alexandre (46-48 d.C.), que era de origem
judaica alexandrina, mas convertido ao paganismo. Durante o primeiro desses mandatos, o
governo teve que reprimir sangrentamente a revolta de um partido de nacionalistas liderado
por Teudas e concentrado nas margens do Jordão, episódio descrito por Josefo
(Antiguidades Judaicas 20.5.1) e ao qual o Atos dos Apóstolos se refere (Atos 5:36),
colocando na boca de Gamaliel uma alusão um tanto anacrônica à atuação de Teudas.
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DE LUCAS-ATOS
No tempo do segundo procurador Tibério Júlio, Tiago e Simão, filhos do famoso bandido Judas, o
MESTRADO
Galileu, que se levantara muitos anos antes (6 d.C.) por ocasião da criação da cidade, foram
condenados à morte e crucificado, nova província da Judeia (Josefo, Antiguidades Judaicas 20.5.2).
Na realidade, é impossível saber se eram verdadeiros bandidos, ou melhor, nacionalistas, ou ambos
ao mesmo tempo, pois a palavra que os romanos usavam para esses casos era a mesma: bandido
(lat. latro, gr. lestés) . Isso era normal não apenas no caso da Judeia, mas em qualquer região do
império. Assim, para citar apenas um exemplo, Viriatus, o famoso líder lusitano, foi designado por
Estrabão com o nome de lestés (Geografia 3.4.5). Este Judas Galileu aparece também em Atos, por
ocasião do já mencionado discurso de Gamaliel (Atos 5:37). Durante o governo de Tibério
Alexandre, ocorreu uma grande fome no país, a que alude tanto Josefo (Antiguidades Judaicas
20.5.2), quanto os Atos dos Apóstolos (Atos 11:27-30). Barnabé e Paulo foram a Jerusalém para
entregar ali o produto da coleta coletada em Antioquia, a fim de aliviar as necessidades da
comunidade cristã.
231 Dr. Brian Kibuuka
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DE LUCAS-ATOS
O próximo governador da Judeia foi Ventidio Cumanus (48-52), em cuja época a situação
MESTRADO
O próximo procurador da Judeia foi Antonio Félix (52-60 d.C.), nomeado a pedido do Sumo Sacerdote e
MESTRADO
provavelmente de Agripa II, que, de sua posição privilegiada na corte de Roma na época, apoiou o
imperador Cláudio para o causa dos judeus. Félix era um liberto, promovido a cavaleiro, numa época em
que os libertos estavam na moda em Roma. Tremendamente ambicioso, ele conseguiu se casar
sucessivamente nada menos que três vezes com mulheres de linhagem real, uma das quais era Drusila, filha
do rei Herodes Agripa I e, portanto, da religião judaica. Durante o seu mandato, a situação na província
deteriorou-se progressivamente, apesar de o governador ter usado mão pesada, crucificando um grande
número de insurgentes nacionalistas. Entre esses desordeiros devemos mencionar o chamado "O Egípcio",
que conseguiu formar um partido de alguns milhares de seguidores no deserto. Estes foram finalmente
presos e muitos deles executados, mas o líder conseguiu escapar. Surgiram então os chamados
“matadores”, verdadeiros terroristas, que, do seu nacionalismo extremista e fanático, assassinaram
políticos e pessoas ilustres, sem excluir o próprio Sumo Sacerdote, que foi vítima de um dos seus ataques,
embora se dissesse que por trás desse ato concreto estava a mão do próprio governador (Josefo, Guerra
dos Judeus 2.252-270; Antiguidades Judaicas 20.7.1-3 e 8.1-7).
ἅμα καὶ ἐλπίζων ὅτι χρήματα δοθήσεται αὐτῷ ὑπὸ τοῦ Παύλου· διὸ καὶ
MESTRADO
Ao mesmo tempo Félix esperava que Paulo lhe desse dinheiro; É por isso que ele
frequentemente o chamava e falava com ele. Depois de dois anos, Félix recebeu
Porcio Festo como seu sucessor e, querendo agradar aos judeus, deixou Paulo
prisioneiro. (Atos 24:26-27).
equitibus Romanis aut libertis permisit, e quibus Antonius Felix per omnem
saevitiam ac libidinem ius regium servili ingenio exercuit, Drusilla Cleopatrae et
Antonii nepte in matrimonium accepta, ut eiusdem Antonii Felix progener,
Claudius nepos esset.
Foi o então imperador Nero quem nomeou o sucessor de Félix, que se chamava,
MESTRADO
como vimos, Porcio Festo, que ocupou o cargo por dois anos (60-62 d.C.). Ele foi
incapaz de parar os tumultos e o nacionalismo exacerbado dos judeus que
necessariamente levaria à guerra iminente e ao desastre total e ruína do povo
judeu. Festo morreu enquanto ainda estava no cargo, atrasando a chegada do
novo governador por vários meses. Em tais circunstâncias, ocorreu uma anarquia
na província, razão pela qual Tiago, irmão do Senhor, foi assassinado em
Jerusalém, fato não registrado no livro de Atos, mas em Flávio Josefo
(Antiguidades Judaicas 20.9.1) e na história de Eusébio de Cesareia (História
Eclesiástica 2.23.21-24).
Festo, no entanto, aparece extensivamente nos Atos dos Apóstolos (Atos 25-26).
MESTRADO
Falamos até agora das províncias romanas senatoriais, imperiais e procuratoriais; mas houve um
MESTRADO
caso excepcional no Império Romano, que escapou dessa classificação administrativa. Era a
província do Egito, adjacente à da Judeia, sobre a qual diremos apenas duas palavras, para não
deixar incompleta nossa visão do mundo romano oriental. O Egito, uma das províncias mais ricas de
todo o império, não pertencia a nenhuma das três classes estudadas até então. Fazia parte do
patrimônio pessoal do imperador e, portanto, não dependia diretamente do Estado romano como
tal. À frente dela, o imperador colocou livremente um prefeito (Gr. eparchós) da categoria social
dos cavaleiros com o título de Praefectus Aegypti. O mais curioso do caso é que ele tinha sob seu
comando, além das forças auxiliares, tropas legionárias, especificamente duas legiões. Essas forças
de cidadãos romanos eram teoricamente comandadas pelo próprio imperador, de quem o prefeito
era um simples subordinado. Porém, esse "subordinado" tinha um poder abrangente, quase de
natureza régia e muito superior ao de todos os magistrados romanos que estavam encarregados
das outras províncias.
normas já bem estabelecidas. Por ora, um dos cargos mais importantes, abaixo do
governador, era o de encarregado da administração financeira e responsável
perante o Estado pela arrecadação essencial de impostos. Nas províncias
senatoriais era o questor, da classe alta, assistido por um procurador de categoria
equestre. Nas províncias imperiais ele era simplesmente um procurador, e nas
procuratorianas, um vice-procurador, que podia até ser um liberto.
Cada província tinha sua assembleia (lat. concilium; gr. koinón) composta pelos
MESTRADO
notáveis do país, que se reuniam para tratar de assuntos gerais e reivindicações. Mas
normalmente sua missão se reduzia a organizar o culto ao imperador, como símbolo de
obediência ao poder central. Os sacerdotes deste culto altamente politizado foram
escolhidos entre as figuras mais proeminentes da província e receberam o nome de
flamen no Ocidente, ou, sem mais delongas, sacerdos provinciale. Em algumas
províncias, como na Ásia e na Hispânia, havia distritos inferiores ou circunscrições
jurisdicionais que receberam o nome de conventus iuridici. No Egito, como sabemos,
tudo era especial. Havia um subgovernador, chamado iuridicus Alexandriae, e sob ele
os "epistrategistas", que atendiam aos vários distritos.
apesar de sermos cidadãos romanos, eles nos jogaram na prisão; E agora eles
querem nos tirar daqui? Isso não; Deixe-os vir e nos tirar daqui. – Os oficiais de
justiça transmitiram estas palavras aos pretores. Eles ficaram com medo quando
souberam que eram romanos. Eles vieram, se desculparam com eles e, soltando-
os, imploraram que deixassem a cidade. (Atos 16:37-39).
cometi contra os judeus, como tu sabes. Se sou culpado de algum crime ou cometi
algum crime que mereça a morte, não me recuso a morrer; mas se não há
fundamento no que me acusam, ninguém pode me entregar a eles: eu apelo a
César. – Então Festo deliberou com o conselho e respondeu: Você apelou para
César, você irá a César. (Atos 25:10-12).
por um lado, reivindicar o direito de que nenhum cidadão romano não pode ser
punido sem antes ser submetido a julgamento; além disso, para forçar o
cumprimento estrito da Lex Porcia e da Lex Iulia, que proibiam açoitar os
cidadãos romanos; e, finalmente, valendo-se da figura jurídica conhecida como
provocatio ad Caesarem, aplicada exclusivamente aos romanos, para exigir que
qualquer processo iniciado em um tribunal provincial possa ser levado
diretamente aos tribunais imperiais da metrópole. A alegação fraudulenta de
cidadania costumava levar à sentença de morte do falsário.
apenas alguns cidadãos do império usufruíssem de tais direitos. Neste caso, como
noutros, é necessário situar os acontecimentos no contexto cronológico preciso,
ou seja, em meados do século I d.C. C. Assim, por exemplo, no ano 212 d. C. O
imperador Caracalla estendeu a cidadania romana a todos os habitantes livres do
império, através do édito denominado Constitutio Antoniana.
não tinha direitos plenos e poderia ser submetido, em certas circunstâncias, a não
poucas humilhações por parte das autoridades imperiais. Os peregrinos podiam
ocupar cargos importantes nas cidades provinciais, e certamente havia muitos
deles que possuíam riquezas maiores do que a maioria dos cidadãos romanos.
Mas, para gozar de pleno reconhecimento social e ser protegido pela lei em
qualquer circunstância, era necessário adquirir a cidadania romana, o que não era
fácil na época, apesar de a tendência da política imperial consistir em abrir
progressivamente as portas.
fazia nas legiões – e isso já era de certa forma um privilégio – recebia a cidadania
imediatamente; aqueles que o fizeram nas tropas auxiliares não obtiveram a
cidadania até depois da dispensa. Mas em ambos os casos o tempo de serviço
militar variou entre 20 e 25 anos.
social dos escravos, ou seja, dos homens sem liberdade ou proteção legal. É muito
difícil determinar seu número, mas poderia ser estimado em quase 20 ou 30% da
população total do império. Isso depende de algumas regiões ou províncias, ou de
outras, pois o fenômeno social da escravidão, embora presente em todos os lugares,
não se espalhou uniformemente pelo território do império. Se até agora insistimos
quase incansavelmente que é necessário especificar os limites cronológicos de nossa
atenção ao falar do mundo romano, no que diz respeito ao tema da escravidão esta
advertência é essencial, pois é muito comum cair no erro de aplicando dados de épocas
muito diferentes, mas alheias, ao período que agora nos interessa, ou seja, em meados
do século I d.C. e, consequentemente, obter falsas conclusões.
E ele mesmo explorará a bondade do pão e da bebida com seu próprio gosto; ele
examina as vestes, as mangas e as coberturas dos pés. Ele também muitas vezes
tem o poder de reclamar daqueles que os atacam de forma cruel ou fraudulenta.
(De re rustica 1.8).
prudentiam tuam, hoc eruditionem decet. 'Servi sunt.' Immo homines. 'Servi sunt '
Immo contubernales. 'Servi sunt.' Immo humiles amici. 'Servi sunt.' Immo conservi, si
cogitaveris tantundem in utrosque licere fortunae.
De bom grado, aprendi com aqueles que estiveram com você que você vive
familiarmente com seus servos: isso convém à sua prudência, esse aprendizado.
“São escravos”. E além disso, são homens. “São escravos”. E além disso, são
companheiros de casa. “São escravos”. E além disso, são humildes amigos. “São
escravos”. E além disso, são meus conservos, se você cogitar que a fortuna pode
ser tanto de um quanto de outro. (Ep 47.1).
258 Dr. Brian Kibuuka
Universidade de Paris I - Panthéon-Sorbonne (AnHiMA)
Universidade Estadual de Feira de Santana
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DE LUCAS-ATOS
χειρί, ἐγὼ ἀποτίσω· ἵνα μὴ λέγω σοι ὅτι καὶ σεαυτόν μοι προσοφείλεις.
Se ele te prejudicou de alguma forma ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha
conta. Eu mesmo, Paulo, assino com o punho; Eu te retribuirei. (Filemon 18-19).
acima das relações jurídicas entre senhor e escravo. Mas nem Paulo, nem
qualquer outro personagem do Novo Testamento, nem os filósofos estóicos,
levantaram o problema da abolição da escravatura, que naquela época era
considerado um fato normal, consagrado por um costume que vinha de muitos
séculos atrás.
na ordem social e política, era a chamada "senatorial". Era formado por famílias de
personagens que haviam ocupado as mais altas magistraturas do estado, pois após sua
atuação acessavam diretamente o Senado. No século I, a classe senatorial constituía a
verdadeira nobreza romana, embora entre os seus componentes estivesse a chamada
nobreza patrícia, descendente de famílias tradicionais desde tempos imemoriais, e a
nobreza ou aristocracia plebeia, fruto da incorporação a esta classe social pelos
méritos destacados de personagens – novi homines –, que não pertenciam a tais
famílias, embora no século I d.C. ainda levou algumas gerações incorporadas à ordem
senatorial. Já dissemos que, para ocupar certos cargos, como o de governo da maioria
das províncias, era preciso pertencer a essa classe social.
ricas, cuja denominação social adveio do fato de que nos tempos da Roma Antiga eles
prestavam serviço militar com seu próprio cavalo, de acordo com suas reconhecidas
possibilidades econômicas. A partir desta classe social, o acesso era relativamente fácil à
classe alta após o exercício de uma alta magistratura, para a qual só era exigido ser cidadão
romano de nascimento, ou ainda através da nomeação direta do senado para integrar um dos
seus cargos, como veio sendo mais frequente nos anos que nos preocupam. Uma vez que o
indivíduo adquiria o cargo de senador, a posição social, que não necessariamente o cargo,
passava para seus filhos por herança. Os cavalheiros, facilmente distinguíveis pelo uso de
seu anel característico, constituíam a fonte de onde vinha a maioria dos funcionários e
controlavam as finanças do Estado com acesso até mesmo ao governo das pequenas
províncias, chamadas procuratorianas.
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embora gozando dos direitos romanos. O gozo de tais direitos, que não era um
privilégio pequeno na maioria das províncias do império, regularmente reservado
a alguns ricos, era algo muito normal e, portanto, muito menos estimável na Itália
e em algumas outras províncias vizinhas, especialmente na Gália, onde a
cidadania romana havia sido concedida quase em massa no tempo de Cláudio.
deles pobres e integrados numa massa indolente que vivia praticamente às custas
do Estado, que distribuía trigo como subsídio (annona) e entretinha aquela massa
ociosa com espetáculos públicos; daí a frase de Juvenal: Panem et circenses
(Sátiras 10.81).
Tudo o que dissemos até agora foi uma tentativa de apresentar simplesmente a
estrutura social muito complexa do povo que compunha o Império Romano em
meados do século I d.C. C. Sem sequer espreitar esse mundo, uno e múltiplo ao
mesmo tempo, seria muito difícil compreender as origens do cristianismo.
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