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Maceió – AL
2017
Wellington José Gomes da Silva
Maceió – AL
2017
Não constituía espetáculo lá muito edificante os
grupos de crianças completamente nuas, pelas
ruas; mesmo assim não pudemos deixar de nos
divertir com um negrinho que corria de um lado
para outro, orgulhoso de seu par de sapatos, a
única peça de vestimenta – se assim se pode dizer
que tinha no corpo. Todavia, os sapatos constituem
um sinal de alforria e por isso, tanto o garoto como
seus pais, tinham, sem dúvida, motivo para se
sentirem orgulhosos.
Inicialmente, quero agradecer a minha família, aos meus pais, José Cícero e
Luiza Virgilio, que sempre me incentivaram e, em nenhum momento, questionaram
minha escolha em seguir nesta vida de aventura. Mas, antes de tudo, preciso
agradecer a eles pelos valores ensinados, pelos sacrifícios que fizeram para que
este momento pudesse se concretizar. A minha irmã, Welissa Laisa, que, em casa é
meu escape nesta árdua tarefa, com quem me divertia nos momentos de maior
tensão; ela responsável, muitas vezes, por me retirar do século XIX.
Ao professor Dr. Gian Carlo, pela confiança, pelo incentivo, por me guiar nas
horas precisas.
Enfim, agradecer a Deus, pois Seu amparo foi primordial para a realização
deste estudo.
RESUMO:
The law of 1871, in addition to defining freedom of the womb, established the
creation of the Emancipation Fund and granted slaves the right to earn money. The
project would be the first interference of the Government in the seigniorial authority,
nevertheless, the progressive emancipation attended, especially, to the interest of
the slavistas. From then on, the mechanisms of manumission would create several
entanglements in the management of both the abolitionist program and the slave
regime. And Alagoas was another province to experience the transformations of the
law. Initially, in addition to enrollment, the Province relied on the process of private
manumission, masters who, through conditional and unconditional liberties, started
the project of emancipation in Alagoas. In the same period, we find slaves unable to
emancipate. Subsequently, the same law would establish criteria for the classification
of captives, and through the emancipation fund countless captives won freedom in
the Province: children, adults, men and women who had their main characteristic in
individuality. From this, we will seek to unveil the varied contexts perfected by slaves
and masters in the slave-owning Alagoas years before the abolition.
Introdução ............................................................................................................... 10
Introdução.
1
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania negra no Brasil.
São Paulo. Companhia das letras, 2009. p. 125.
11
Em oposição a essa postura, novas pesquisas que vêm sendo realizadas pelo
País demonstram que o Fundo de emancipação trouxe inúmeras consequências
para o regime escravista. As diferentes possibilidades do projeto foram analisadas
por Fabiano Dauwe, que indicou que a Lei apresentou diferentes consequências em
cada localidade, ou seja, não é possível determinar um desempenho padrão para
execução do projeto, mas observar os contextos originados pelo mesmo4. Proposta
similar foi desenvolvida por Lenira Lima, que examinou os reflexos da Lei Rio Branco
nas relações escravistas, destacando os artifícios reproduzidos por senhores e
escravos para usufruir das novas regras que regiam a instituição5.
2
CONRAD, Robert. Os Últimos anos da escravatura no Brasil 1850-1888. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira. 2.ed. 1878.
3
COSTA, Emília Viotti. Da senzala à colônia. 4ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 1998.
4
DAUWE, Fabiano. A Libertação gradual e a saída viável: os múltiplos sentidos da liberdade pelo
fundo de emancipação de escravos. Dissertação (Mestrado em história) Universidade Federal
Fluminense, Rio de Janeiro, 2004.
5
COSTA, Lenira Lima da. A lei do ventre livre e os caminhos da liberdade em Pernambuco,
1871-1888. Dissertação (mestrado em história) Universidade Federal de Pernambuco-UFPE.
6
MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2003.
7
MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Entre as mãos e os anéis: A Lei dos Sexagenários e os
caminhos da abolição no Brasil. 2ºed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2008.
12
Dessa maneira, notamos que a Lei Rio Branco suscitou novas conjunturas à
gestão do regime escravista. Logo, nossa pretensão é observar de qual maneira a
lei interferiu na escravidão na Província? De que forma o processo de liberdade
gradual foi executado em Alagoas? E como cada localidade continuou o andamento
das alforrias? De qual maneira os escravos e os senhores alagoanos atuaram no
ambiente escravista após a Lei do Ventre Livre? E qual a importância do Pecúlio
nesse para a liberdade dos escravos?
8
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 1: As artes de fazer. Petrópolis: Vozes. 2005.
9
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1987.
10
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
14
11
Através da Constituição de 1824, além de reconhecer a escravidão, o Império conservou os
privilégios e as hierarquias construídas durante os séculos do domínio Português. MATTOS, Hebe
Maria. Escravidão e cidadania no Brasil Monárquico. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.p.34.
17
12
Estamos nos referindo ao processo de eliminação da negociação de africanos entre Brasil e África,
denominado comércio até 1831, e tráfico após a regulamentação da Lei de 7 de novembro de 1831,
amplamente conhecida como “Lei para inglês ver”. RODRIGUES, Jaime. O infame comércio.
Propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850). Campinas, SP:
Editora da Unicamp, CECULT, 2000. pp. 77-92.
13
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro das
Sombras: a política imperial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora, UFRJ, Relume-Dumará, 1996. p. 296.
14
Terminada a Guerra de secessão entre as regiões Sul e Norte dos Estados Unidos, em
1865, as atenções sobre o fim da escravidão se voltaram para o Brasil, o único país
independente da América a manter a instituição. COSTA, Emília Viotti da. A abolição. 9.ªed.
São Paulo: Editora UNESP, 2010. p. 43.
15
Com a guerra do Paraguai, o governo brasileiro adiou qualquer decisão sobre o regime. Contudo,
durante o conflito o Império regulamentou o projeto de liberdade para os escravos que lutassem no
campo de batalha. Idem, pp. 47-49.
18
16
CONRAD, Robert. Os Últimos anos da escravatura no Brasil 1850-1888. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira. 2.ed. 1878. p.77
19
17
Idem, p.84
18
Idem, p. 100.
19
A necessidade de soldados na Guerra do Paraguai forçou o governo a buscar combatentes entre
os escravos brasileiros, que teriam como recompensa a liberdade em seu retorno ao País. Disponível
em:http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3725-a-6-novembro-1866-554505
publicacaooriginal-73127-pe.html
20
Jornal Diário das Alagoas, edição 22 de janeiro de 1866. Arquivo Público de Alagoas. APA.
20
Podemos verificar que o projeto de Pimenta Bueno contém alguns dos itens
de liberdade que serão legalizados em 1871, ou seja, haveria um consenso sobre os
procedimentos que deveriam ser tomados pelo governo imperial para eliminar a
escravidão. Contudo, a proposta de liberdade gradual foi unânime entre os projetos,
pois não se considerava qualquer alternativa de eliminar a escravidão de maneira
imediata. Dessa forma, as tentativas de abolição foram semelhantes aos aspectos
encontrados no processo de finalização do comércio e tráfico Atlântico;
procedimento lento e conflituoso que buscava associar o projeto emancipacionista
nacional com a dependência que o país tinha da mão-de-obra cativa, sem causar
maiores danos para economia e os proprietários de escravos.
21
Conrad, op. cit., 89.
22
COSTA, A abolição, op. cit. p. 42.
21
23
DAUWE, op. cit., pp. 34-35.
24
Idem, pp.37-38.
22
25
Idem, p.39.
26
Idem, pp. 42-43.
27
Idem.
28
Idem
23
29
COSTA, A abolição, op. cit., p.45.
30
Idem, p. 45.
31
Idem, p. 43.
24
32
Idem, p.54.
25
projeto não deixou de atacar a autoridade dos escravistas. Outras cláusulas da lei
retiraram dos senhores o direito de controlar o acesso à alforria: em seu 3º artigo, a
lei determinou a criação de um Fundo de Emancipação para libertar escravos em
todo o Império, enquanto o 4º artigo concedeu aos escravos o direito à formação de
pecúlio, e, após juntar o valor suficiente, poderiam pagar por sua liberdade. Tais
disposições deram maior possibilidade aos escravos na conquista da liberdade e
alteraram a rotina das últimas décadas da escravidão.
33
Dessa maneira, Joaquim Nabuco classificou a Lei do Ventre Livre, argumentando que a mesma
não apresentou poucas disposições em favor dos escravos. Afirmando que a vida dos escravos não
mudou, senão na pequena porção dos escravos que tem conseguido libertar-se. Nabuco, Joaquim.
O abolicionismo. Petrópolis, Rio de Janeiro, 2012. pp. 96-100.
34
Decreto nº 5.135 de 13 de novembro de 1872.
26
38
MACHADO, Maria Helena P. T. Crime e escravidão: trabalho, luta e resistência escrava nas
lavouras paulistas (1830-1888) 2ª ed. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2014. p. 41.
39
SHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: Cientistas, instituições e questão racial no Brasil.
1870-1930. São Paulo: Companhia das letras, 1993. p. 42.
28
40
AZEVEDO, Célia Maria Marinho de Azevedo. Onda negra medo branco: o negro no imaginário
das elites século XIX. 3ª ed. São Paulo: Annablume, 2004. p.158.
41
Idem, p.162.
29
como uma dádiva, além da afeição que o senhor nutria pelo cativo, e o próprio
reconhecimento dos seus bons serviços42, iniciativa que vimos na produção do
projeto de emancipação.
42
CUNHA, Manuela Carneiro da. Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África. 2ª
ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 74.
43
SANT’ANA. Moacir Medeiros de. Mitos da escravidão. Maceió, Secretária de Comunicação Social.
1989. pp. 42-44.
44
Prudêncio foi assassinado em Pernambuco, após resistir à prisão, matando dois policiais. Idem, p.
42.
30
das suas propriedades. Por isso, o direito de indenização era uma das exigências
dos escravocratas na formação do projeto de liberdade gradual.
47
MALHEIRO, Perdigão. A escravidão no Brasil: ensaio histórico, jurídico, social. 3. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1976. p. 154.
32
48
Juiz municipal de Camaragibe, 1876. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1423.
49
Segundo o censo de 1872 residiam no município de Passo de Camaragibe 2.478 escravos.
33
50
Juiz municipal de Camaragibe, 1876. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1423.
51
Documentos do chefe de polícia, 1877. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1734.
52
Idem.
34
Joaquina estaria vetada de ser escolhida para liberdade durante os seis meses
seguintes.
53
MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2003. pag.102.
54
AZEVEDO. op. cit., p.114
35
55
COSTA, Da senzala à colônia. op. cit., p. 424.
56
Artigo 4º Lei Nº 2.040, de 28 de Setembro 1871.
57
O dilema alertava para a contradição entre o direito de propriedade e o direito de liberdade,
expunha senhores e escravos a uma situação de extrema indecisão, onde ambos buscavam
resguardar os seus direitos. A indefinição de determinadas situações exigiu a interferência da justiça
para sua resolução. CHALHOUB, op. cit., pp. 125-132.
58
Idem, p.150.
36
59
Idem, p. 225.
37
A reflexão de Chalhoub esclarece que a Lei não foi concretizada apenas pela
ação das autoridades no Parlamento, e, sim, conquistada pelos próprios cativos,
espaços legais que foram moldados no decorrer da escravidão. Essa análise nos
revela que tais mudanças não aconteceram apenas na letra da lei em 1871, mas
iniciaram na década de 1820, quando o governo iniciou as discussões que
envolviam o fim do comércio de escravos. Já na década de 1850, o desejo do
progresso e da civilização exigiu mudanças no trato da escravidão, assim como o
crescimento do movimento abolicionista e a própria atuação dos cativos
expressavam a progressiva vulnerabilidade do regime escravista na segunda
metade do século XIX.
60
CHALHOUB, op. cit., p. 199.
38
61
GRINBERG, Keila. Liberata: a lei da Ambiguidade: as ações de liberdade na Corte de apelação do
Rio de Janeiro, século XIX. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. pp. 98-99.
39
62
Relatório dos escravos manumitidos no município de São Miguel dos Campos 1876. Arquivo
Público de Alagoas 1876
40
Logo, João vivia como liberto pela falta do registro, mas, na verdade, Luiz
Gomes o matriculou como Mathias e, segundo o próprio ex-escravo, João não foi
registrado. Em 1885, após a regulamentação da Lei dos Sexagenários, o proprietário
tentou efetuar a matrícula, fato negado pelo coletor local, pois João já vivia como
liberto há algum tempo. No entanto, o mesmo estava preso, o que considerava
ilegal, pois, sem a matrícula, não poderia ser tratado como escravo. O delegado
aceitou o argumento de João e o libertou da cadeia64.
63
COSTA, Lenira Lima da. A lei do ventre livre e os caminhos da liberdade em Pernambuco,
1871-1888. Dissertação (mestrado em história) Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.
pp. 37-38.
64
Idem.
65
Entrega do escravo Simão, fevereiro de 1877. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1734.
41
Fonte: Lista dos escravos matriculados pelo senhor José Joaquim Calheiros de Mello. Arquivo público
de Alagoas. APA. Caixa 1734.
66
CONRAD, Robert. Os Últimos anos da escravatura no Brasil 1850-1888. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira. 2.ed. 1878.p.136
67
Relatório do Ministério da Agricultura, 1873, p.6.
42
Alagoas foi uma das províncias que enviou o resultado das matriculas para o
Ministério da Agricultura e, aparentemente, não enfrentou grandes problemas em
realizar sua tarefa, remetendo ao governo Central os dados de mais de 32 mil
escravos. Através desses relatórios, formamos um quadro comparativo com
informações da primeira lista de matriculados e o censo da população escrava,
ambos em 1872. Vejamos:
68
Relatório do Ministério da Agricultura, 1872. p.4.
69
Relatório do Ministério da Agricultura, 1873. p.6.
70
CONRAD, op. cit., p.136
43
O quadro acima não deixa dúvidas quanto à morosidade nos registros, onde
nove Províncias e o Município Neutro deixaram de enviar os dados referentes à
matrícula; contudo, não poderemos delimitar os reais motivos que levaram a níveis
de ineficácia tão altos. Os resultados sugerem que essas localidades enfrentaram
sérios problemas administrativos durante o período das matrículas. Os resultados
das províncias de Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo podem ser um
reflexo disso, pois a quantidade de matriculados foi muito inferior quando comparada
com os dados da população escrava de cada Província.
71
NETO, José Pereira de Santana. A alforria nos termos e limites da lei: o fundo de emancipação
na Bahia (1871-188) Dissertação (mestrado em história) Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2012.
44
Ano Quantidade
1872 32.193
1873 19.920
1874 33.242
1875 30.216
Fonte: Relatórios do Ministério da Agricultura entre 1873-1876.
Conrad revela que D. Pedro II, juntamente com seus conselheiros, voltariam a
ampliar o prazo para as matrículas, que foi estendido até novembro de 1875. Da
mesma maneira, definiu que os escravos sem registro até 30 de setembro de 1873
não seriam mais libertados72. Precisamos ressaltar que a demora na etapa inicial do
projeto causaria consequências na sua finalidade à concessão de liberdade, pois os
cativos só poderiam ser emancipados após a conclusão do registro especial.
Está nítida a visão pessimista que o autor tinha sobre o fundo, o que fica mais
evidente ao comparar os seus resultados com as alforrias particulares. Porém, ele
não é o único a mencionar esse fato. A historiadora Emília Viotti da Costa retrata o
assunto de maneira mais detalhada, comparando o número de alforriados em São
Paulo, no ano de 1879, com o Fundo de Emancipação. Em seus dados, ela aponta
que o fundo havia concedido a liberdade a 372 pessoas, isso em 79 municípios,
enquanto que, por ação particular, foram 3.410 libertos77. Podemos verificar que
ambos os autores destacam a ineficiência numérica do Fundo de Emancipação, no
entanto, em seu conjunto, a Lei foi responsável por romper o domínio senhorial,
abrindo brechas legais aos escravizados, instituindo métodos de liberdade que estes
sabiam manipular, ou seja, sua influência em minar a escravidão é tão importante
quanto a sua finalidade numérica.
Apesar das frustrações em torno dos resultados do Fundo, notamos que a Lei
originou mudanças na reação dos próprios escravizados. Logo, salientamos que a
classificação para liberdade também dependia do cativo, era o seu comportamento
que delimitava sua classificação. Sendo assim, a liberdade através do Fundo de
Emancipação não foi uma ação exclusiva do Império, mas, no mínimo, uma decisão
74
Idem, pp. 138-140.
75
Idem, pp. 241-247.
76
Idem, p. 141.
77
COSTA, Da senzala à colônia, op. cit., p.459.
46
78
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano 1: As artes de fazer. Petrópolis: Vozes. 2005.
79
MATTOSO, op. cit., p.. 157.
47
O caso de Catharina não foi algo exclusivo, visto que tirar proveito de falhas
do regime foi aspecto marcante, especialmente quando aconteciam no aparelho
repressivo. O contexto local teve forte influência nas iniciativas de reação, e, nesse
caso, a cidade do Recife representa bem a conexão entre fugas e as brechas do
sistema escravista. O historiador Marcus Carvalho nos assegura que, entre os anos
de 1817 e 1824, o quilombo do Malunguinho viveu seu período de apogeu, aspecto
que coincide justamente com a instabilidade política e econômica da cidade. As
disputas entre as elites locais abriu brechas no regime, o que favoreceu a fuga dos
escravos. Durante sua existência, até o fim década de 1830, o quilombo funcionou
como polo de atração para os escravos fugitivos, além de se tornar símbolo da
resistência escrava em Recife81.
80
O liberal, ed. 186, 6 de setembro de 1878. APA.
81
CARVALHO, Marcus J. M. Rumores e rebeliões: Estratégias de resistência escrava no Recife,
1817-1848. Tempo, vol. 3- nº 6, p. 49-72, 1998. p.55.
82
O Rio São Francisco foi alternativa igualmente usada pela escrava Lucrécia em direção a Sergipe,
e Romão estaria em Penedo; é possível que o Rio fosse à alternativa de fuga para o mesmo. SILVA,
Wellington José Gomes da. A busca de um novo destino: Os escravos e a conquista da liberdade
na Alagoas provincial. 1878-1888. Monografia (Graduação) em História. Universidade Federal de
Alagoas. UFAL, 2015.p.58.
48
entendido pelo autor como estratégia, local onde ocorre o cálculo de relação de
força que seria capaz de isolar um sujeito de vontades próprias87. Portanto, o
controle do regime escravocrata e o domínio senhorial funcionavam como o “lugar”
capaz de reprimir a autonomia dos cativos.
Tal iniciativa tinha uma clara finalidade, continuar exercendo algum comando
sobre os cativos mesmo após a liberdade. Foi isso que demonstrou Hebe Mattos ao
investigar a concessão de alforrias e o processo de deserção nas fazendas de
Campos, interior do Rio de Janeiro:
87
CERTEAU, op. cit., p. 45.
50
Não havia mais como reprimir pela força as deserções. [...] A seus
senhores restava tentar antecipar-se à desagregação definitiva do
poder senhorial, para preservar sua autoridade moral e a
88
organização do trabalho, como faziam os proprietários paulistas .
88
MATTOS, Hebe. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista. 3º ed.
Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2013. p. 225.
89
Relatório do ministério da Agricultura, 1876, p. 15.
90
Idem, p.16.
51
Rio de Janeiro e São Paulo, ambos com mais de 3 mil libertos , além do Rio Grande
do Sul e Minas Gerais, com mais de 2 mil cada91.
Titulo
Província gratuito Titulo oneroso F. emancipação Total
Amazonas 147 3 150
Pará 1267 936 76 2279
Maranhão 2868 2868
Piauí 643 419 124 1186
Rio Grande do Norte 513 324 48 885
Pernambuco 2220 563 341 3124
Alagoas 346 570 122 1038
Espírito Santo 694 281 77 1052
Corte 1317 1317
Rio de Janeiro 3392 492 674 4558
Santa Catarina 678 142 44 864
Total 16086 3747 1509 21342
Fonte: Relatório do Ministério da Agricultura 1879.
91
Idem, p. 16.
52
92
CARVALHO, Liberdade, op. cit., p.214.
93
MATTOSO, op. cit., p. 208.
94
Em 1865, os tribunais declararam inadmissível a revogação de alforria. Idem, p.180. O 9º artigo da
Lei do Ventre Livre também proibia a revogação de alforrias.
53
95
CHALHOUB, op. cit., pp.135-136.
96
Relatório do Ministério da Agricultura 1879. Dados referentes ao ano anterior.
97
Relatório do Ministério da Agricultura 1876. p. 16
98
Não foi detalhada a modalidade das alforrias particulares. Relatório dos escravos manumitidos no
município de São Miguel dos Campos em 1876. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1527.
54
99
Relatório dos manumitidos município de Atalaia 1876. Arquivo Público de Alagoas. APA.
100
PIRES, Maria de Fátima Novaes. Cartas de Alforria: "para não ter o desgosto de ficar em
cativeiro". Revista Brasileira de História, v. 26, p. 141-174, 2006.
55
O caso desses jovens comprova que a pouca idade dos cativos não impediu
os senhores de usar os seus serviços, haja vista que os cinco emancipados de
Atalaia já estavam aptos para o serviço da agricultura; levando em conta as
observações de Moacir Sant’na, é possível que trabalhassem na produção de
açúcar ou algodão, principal produto cultivado no município104. Já os emancipados
de São Miguel eram especializados no ofício da costura. A idade do trio demonstra
que o ensino de algum ofício ocorria desde muito cedo. Os cativos eram preparados
para realizar uma ou mais funções específicas. Tais episódios atestam o comentário
realizado por Kátia Mattoso, ao afirmar que “seria entre os 7 e 8 anos que a criança
teria seu primeiro choque; a partir de então, as exigências dos senhores tornam-se
101
Idem, p. 9-10
102
Lista dos escravos Emancipados no município de Atalaia. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1527.
103
Lista dos emancipados no município de São Miguel dos Campos 1880. Arquivo Público de
Alagoas.
104
SANT’ANA. Moacir Medeiros de. Contribuição à história do açúcar em Alagoas. Recife:
Instituto do açúcar e álcool e museu do açúcar 1970. p. 110.
56
105
MATOSSO, op. cit., p. 129.
106
COSTA, Robson. Vozes na Senzala: Cotidiano e resistência nas últimas décadas da escravidão,
Olinda, 1871-1888. Recife: ed. Universitária da UFPE, 2008. p. 102.
107
GONÇALVES, Andréa Lisly. As margens da liberdade: estudo sobre a prática de alforrias em
Minas colonial e provincial. Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2011. p. 197.
108
Lista dos escravos manumitidos na Vila de Assembleia, 1876. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1527.
57
109 109
SANT’ANA, História à contribuição do açúcar em Alagoas. op. cit. pp. 110-111.
110
MATTOSO, op. cit., p. 194
58
Observamos seus locais de residência; são três: Murici, São Miguel dos
Campos e Traipu. Neste último, a prática de alforriar por partes foi mais recorrente, o
município teve seis cativos emancipados com cláusulas de serviço. O destaque para
suas alforrias fica por conta das avaliações. Mesmo possuindo metade da sua
liberdade, os escravos alcançaram cifras acima de 1 conto de réis111. Os altos
preços seriam uma realidade para o período de emancipação, Félix Lima Júnior
relata que, em 1879, a escrava Francelina, preta, de 30 anos, seria negociada em
Maceió ao total de 800$000112. Apesar de alto, o valor dela foi inferior a muitas
indenizações pagas através do Fundo de Emancipação. Por exemplo, em 1880, o
escravo Pedro, trabalhador agrícola, de 34 anos, foi avaliado por 1 conto de réis em
Anadia113.
111
Lista dos escravos emancipados em Anadia em 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
976.
112
JÚNIOR. Félix Lima Júnior. A escravidão em Alagoas. Maceió. s/ed. 1974.p.87.
113
Fundo de emancipação do município de Porto Calvo 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1624.
114
Esse é o termo utilizado na documentação para identificar os escravizados que teriam sido
alforriados condicionalmente. Félix indica que essa seria uma prática comum entre os senhores
alagoanos, negociar metade tanto com senhores quanto com os próprios cativos. Idem, p.19.
59
115
Não foi alegado na lista os motivos para divergência no preço dos escravos classificados. Lista
dos escravos classificados para liberdade no município de Camaragibe em 1880. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1097.
116
Lista dos escravos classificados para liberdade no município de Traipu. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1527.
117
CARVALHO, Marcus. Liberdade op. cit., p. 248
60
118
Processo de revogação de Alforria, chefe de Polícia 1880. Arquivo Público de Alagoas 1876. APA.
119
CHALHOUB, op. cit., pp. 135-138.
120
CHALHOUB, op. cit., p. 137.
61
121
MATTOS, Hebe. Das cores do silêncio: p. 228
62
122
GONÇALVES, op. cit., p.241
63
123
MATTOSO, op. cit., p. 177.
124
MALHEIRO, op. cit., p.152.
64
125
Existem duas versões para a decisão de Rui Barbosa: a primeira, de que o ministro da fazenda
pretendia evitar uma possível cobrança indenizatória dos senhores após a abolição; a segunda,
buscava apagar da história nacional a mácula do trabalho servil, eliminar qualquer vestígio de que a
República teria sido construída a partir do trabalho escravo. SANT’ANA, Mitos da escravidão, op.
cit., 42.
126
A Lei de Pena de Morte para os escravos foi instituída a partir da tentativa do Levante dos Malês,
na Bahia, em 1835. A condenação seria aplicada para os escravos que matassem ou atentassem
contra a vida dos senhores, esposa, familiares e feitores. Fonte: Lei nº4 10 de Junho de 1835.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM4.htm
127
SOUZA, Gustavo Pinto de. Crimes de escravos e africanos livres nos espaços prisionais do
Brasil oitocentista. SILVA, Gian Carlo de Melo. (Org) Os crimes e a história do Brasil: abordagens
possíveis. Maceió: EDUFAL, 2015. pp. 91-92.
65
128
PIRES. Maria de Fátima Noves. O crime na cor: escravos e forros no alto sertão da Bahia. (1830-
1888) São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2003. pp. 121-123.
129
Idem, p.200
66
III. Os condenados;
IV. Os fugidos ou que o houverem estado nos seis meses anteriores á reunião da
junta;
V. Os habituados á embriaguez.
§ 3º O escravo que estiver litigando pela sua liberdade, não será contemplado na
execução do art. 42; mas ser-lhe-ha mantida a preferencia, que entretanto houver
adquirido até a decisão do pleito, se esta lhe for contraria.130
130
Decreto 5.135 13 de novembro de 1872.
131
JÚNIOR. Félix Lima Júnior. A escravidão em Alagoas. Maceió. s/ed. 1974. SANT’ANA. Moacir
Medeiros de. Mitos da escravidão. Maceió, Secretária de Comunicação Social. 1989.
132
JÚNIOR, 1976, op. cit., p. 29.
67
133
Lista dos crimes perpetrados por escravos no município de Porto Calvo, 1876. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1423.
134
MACHADO, Crime e escravidão: op. cit., p. 96.
68
135
Lista dos crimes perpetrados por escravos no município de Camaragibe. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1423.
136
Lista dos crimes perpetrados por escravos no município de Murici. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1423.
137
O roubo de cavalos foi ação comum na província, Diégues Júnior comenta essa prática a partir
dos anúncios de jornais, relatando que o animal era elemento nobre na vida do Banguê. JÚNIOR,
Diégues. O Bangue nas Alagoas, op. cit., p. 114. Lista dos crimes perpetrados por escravos no
município de Imperatriz, 1876. Arquivo Público de Alagoas.
138
Seria em Alagoas, especificamente no município de Pilar, que no 26/04/1876, ocorreria a última
execução do Império por intermédio de lei de 10 de junho 1835, Francisco foi condenado a pena de
morte pela participação no assassinato dos senhores de Prudêncio, seu cúmplice juntamente com
Vicente. JÚNIOR, Escravidão em Alagoas, op. cit., 30
69
Dessa maneira, precisamos destacar que a Lei do Ventre Livre contribuiu para
diminuir os crimes, como afirmou José Carvalho, entretanto, não o excluiu totalmente
do cotidiano escravista alagoano. Entre tentativas e assassinatos, encontramos 17
casos, demonstrando, portanto, que a violência física continuou sendo uma reação
contra a escravidão. O caso do escravo Roberto mostra que ele enxergou, por meio
dessa atitude, a possibilidade de continuar longe do cativeiro. Esses registros
139
MACHADO, Crime e escravidão, op. cit., p. 118.
140
Lista dos crimes perpetrados por escravos no município de Maceió, 1876. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1423.
141
Lista dos crimes perpetrados por escravos no município de Penedo, 1876. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1423.
70
A análise do juiz indica que a Lei não teve influência sobre o índice de crimes
em Porto Calvo, ou seja, a mesma apresentou resultado paliativo, com cada
localidade expondo um resultado particular, mas, no qual, os escravos responderam
de diferente forma a sua implementação. Tão versátil quanto a execução das regras
de seleção foi o decorrer do julgamento dos escravos. Identificamos que alguns
foram apenas desclassificados da conquista da alforria, fato ocorrido com Roberto e
mais dois criminosos de Porto Calvo. Apesar da tentativa ou mesmo do assassinato,
o trio conseguiu ser absolvido das acusações, ficando livres da prisão, mas não do
retorno ao cativeiro. Possivelmente, essa situação aconteceu com maior frequência.
Celia Azevedo descreve uma série de crimes na província paulista após 1871, e
avalia da seguinte maneira a relação entre assassinato e sentença,
142
Aviso dos crimes perpetrados por escravos até 1876, juiz municipal de Porto de Pedras 1876.
APA. Caixa 1423.
143
AZEVEDO op. cit., p. 167
71
Por outro lado, todos os juízes que emitiram o parecer sobre a Lei
concordaram em um quesito: muitos cativos trabalhavam com o intuito de formar seu
144
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1987. p. 198
72
145
MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. O plano e o pânico: Os movimentos sociais na década
da abolição. 2.ed.São Paulo: Editora da Universidade Federal de São Paulo, 2010. p. 91.
76
146
Relatório Provincial de 1877, p.14.
78
Média
Escravos Despesa do por % dos
Província Alforriados Pecúlios Estado Preço Total escravo pecúlios
Minas Gerais 5264 171:939$485 3 975:148$032 4 147:087$517 787$821 4,1
Rio de
Janeiro 5068 52:395$012 3 860:325$080 3 912:720$092 772$044 1,3
Bahia 3615 258:873$878 1 468:234$390 1 727:108$268 477$762 15
São Paulo 3470 98:505$177 2 537:508$802 2 636:013$979 759$658 3,7
Pernambuco 2537 73:503$624 1 221:218$170 1 294:721$794 510$336 5,7
Maranhão 2211 97:649$532 1 194:543$448 1 292:192$980 584$438 7,6
Ceará 1805 23:177$859 178:217$334 201:395$193 111$576 11,5
R. Grande do
Sul 1466 151:482$445 620:928$588 772:411$033 526$883 19,6
Município
Neutro 1037 35:000$000 560:000$000 595:000$000 573$770 5,9
Paraiba 926 37:418$554 297:202$492 334:621$046 361$362 11,2
Alagoas 818 49:168$884 411:148$612 460:317$496 562$735 10,7
Piaui 800 16:296$677 273:495$144 289:791$821 362$240 5,6
Sergipe 756 36:046$967 329:784$503 365:831$470 483$904 9,9
Pará 687 74:055$717 354:835$593 428:891$310 624$296 17,3
Espírito
Santo 489 35:317$946 279:734$979 315:052$925 644$280 11,2
Santa
Catarina 425 16:391$817 167:464$532 183:856$349 432$603 8,9
R.Grande do
Norte 387 13:463$308 135:663$500 149:126$808 385$341 9
Goiás 236 20:228$000 107:445$725 127:673$725 540$990 15,8
Paraná 225 11:915$837 125:409$627 137:325$464 610$335 8,7
Mato Grosso 162 14:622$465 112:058$960 126:681$425 781$984 11,5
Amazonas 52 10:405$343 26:737$635 37:142$978 714$288 28
Total 32 436 1 297:858$527 18 237:105$146 19 534:963$673 602$262 6,6
Fonte: Relatório do Ministério da Agricultura, 1887.
147
Artigo 25, decreto 5.135 de 13 de novembro de 1872..
148
Relatório Ministério da Agricultura, 1874, p. 7.
149
Idem,p.7
80
150
Idem,p.7
81
matriculados foi muito próximo ao registrado pelo censo demográfico de 1872 151,
fato que possivelmente contribuiu para o resultado das alforrias nas províncias.
151
Os números das duas províncias foram os seguintes: Espírito Santo, 22.659 escravos
contabilizados e 22.659 matriculados, enquanto em Santa Catarina foram contabilizados 14.984 e
13.884 foram matriculados. Censo demográfico de 1872 e Relatório do Ministério da Agricultura 1876,
p.10.
152
DAUWE, Fabiano. A liberdade gradual e a saída viável: Os múltiplos sentidos da liberdade pelo
fundo de emancipação de escravos. Dissertação (mestrado em história) Universidade Federal
Fluminense, Rio de Janeiro, 2014.p.25.
82
153
Relatório do Ministério da Agricultura 1876, p. 10. Infelizmente não existem registros oficiais sobre
a quantidade de escravos classificados para liberdade por municípios.
154
Os escravos foram selecionados em 17 municípios da Província e continuava sendo realizada.
Relatório Provincial 1874, p. 15.
155
Relatório Ministério da Agricultura, 1876, p.15.
156
Relatório Provincial 1876, p.89.
83
alforrias ocorreu devido à junta classificadora não conseguir realizar a seleção dos
escravos para liberdade.
157
Idem, p. 90.
158
Relatório Ministério da Agricultura, 1876, p. 14.
159
CORAD, op. cit., p. 138.
160
Fundo de Emancipação do município de Porto de Pedras, 1877.
84
Essa prática nem sempre obteve êxito. Em Pernambuco, o coletor das rendas
João Batista Gomes tentava combater essa iniciativa. Em 1880, o mesmo
questionava a avaliação de Felismino, mestre de açúcar, que foi estimado em
1:100$000. O coletor considerava a quantia um absurdo, especialmente por tratar-se
de um escravo de 40 anos, que há 16 anos sofria com uma úlcera, e seria incapaz
de exercer suas atividades164. Ao indagar a alta avaliação, João Batista frustrava os
planos do senhor em lucrar com a liberdade de Felismino, da mesma forma, que
coletor poderia assegurar maiores recursos para o Fundo de Emancipação.
161
Agrícola, trabalhador que lavra a terra, que vive dos frutos da terra cultivada por suas próprias
mãos. Brasiliana. Dicionário de língua portuguesa – Luiz Maria da Silva Pinto 1832. Disponível em:
http://dicionarios.bbm.usp.br/en/dicionario/3/agrícola acessado em 20/01/2017.
162
Idem.
163
Idem.
164
COSTA, Lenira Lima da. A lei do ventre livre e os caminhos da liberdade em Pernambuco,
1871-1888. Dissertação (mestrado em história) Universidade Federal de Pernambuco-UFPE. pp. 59-
61.
85
165
Lista dos libertos através do Fundo de Emancipação do município de Porto Calvo, 1877. Arquivo
Público de Alagoas. APA. Caixa 1691.
166
Idem.
167
Relatório da província das Alagoas, 1876, p.89.
168
Fundo de Emancipação do município de Passo de Camaragibe, 1877. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1691.
169
Livro de receita de transmissão de São Miguel dos Campos 1880-1881. Arquivo Público de
Alagoas. APA. 3314.
86
170
Relatório Ministério da Agricultura, 1879, p. 27.
171
NETTO, Fernando Franco & ANTOCZECEN, Inês Valéria. Fundo de Emancipação de escravos:
Aplicabilidade e as irregularidades em Castro/PR. In: VII Encontro de Pós-graduação em História
Econômica & V Conferência Internacional de História Econômica. Niterói, 2014. Rio de Janeiro. p. 11.
172
Idem, p. 13.
87
dois contos de réis, fato que causou a exclusão de alguns cativos, momentos antes
de serem emancipados. O relatório das atividades declara que o juiz municipal
exigiu aos membros da junta classificadora a liberdade de determinado escravo,
atitude irregular, pois todo o processo de emancipação era de responsabilidade da
junta. Contudo, o pedido do juiz foi atendido, resultando na reclassificação das
alforrias. José não configurava entre os classificados, mas, após a solicitação do
juiz, o escravo foi incluído na segunda colocação, e conseguiu ser emancipado
juntamente com Maria, sua mãe. Após a liberdade de ambos, toda a família da
escrava estava livre do cativeiro, o que poderia render maior mobilidade a todos, até
mesmo uma possível saída do município173.
173
Fundo de Emancipação do município de Murici, 1877. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1691.
174
Idem.
88
175
DAUWE, op. cit., pp. 91-92.
176
Relatório Provincial, 1877, p. 30.
89
Dessa maneira, percebemos que a quota foi sendo executada por etapas em
Alagoas e o número de emancipados foi ampliando sucessivamente. À medida que
os municípios finalizavam os seus serviços, o presidente anunciava os novos
resultados. Em 1877, Pedro Antônio divulgava que outros cinco municípios
emanciparam mais 36 indivíduos. Em Alagoas, percebemos que a emancipação
ocorreu em etapas intercaladas, iniciando em 1875 e finalizando quatro anos depois,
como vemos no quadro abaixo.
177
A emancipação em etapas acabou gerando o desencontro de informações entre os resultados
apresentados entre os governos nacional e provincial. O relatório da Província de 1880 inclui 11
emancipados a mais do que o relatório apresentado pelo governo dois anos antes. Segundo o
relatório provincial de 1878 e 1879, alguns municípios ainda não haviam executado a emancipação,
como foi o caso de São José da Laje e Anadia. Relatório Provincial 1880. p. 56.
178
Relatório do Ministério da Agricultura 1879, p. 27.
179
NETO, José Pereira de Santana. A alforria nos termos e limites da lei: o fundo de emancipação
na Bahia (1871-1878). Dissertação (mestrado em história) Universidade Federal da Bahia. Salvador –
UFBA. 2012. p. 48.
90
Sendo assim, o ambiente rural não impediu que alguns escravos formassem
pecúlio, especialmente os que exerciam algum ofício. Quanto aos trabalhadores
agrícolas, a situação foi oposta: apenas Maria, 7 anos, possuía a quantia de
32$000180. Provavelmente esse dinheiro seja fruto de alguma doação de familiares
com o intuito da escravinha obter prioridade na classificação da liberdade. Em Porto
Calvo e Murici, os escravos agrícolas adultos de ambos os sexos não possuíam
qualquer economia. Possivelmente, a exigência do trabalho na produção açucareira
dificultou o acesso às formulas de acumular o dinheiro.
180
Fundo de Emancipação do município de Porto calvo, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1691.
181
Idem.
91
182
Censo demográfico de 1872.
183
Os 24 escravos foram emancipados através da aplicação de 3 quotas, 1ª quota 1875, 4
emancipados/ 2ª quota 1880, 10 emancipados/ 1884, 10 emancipados. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixas 1691, 1097 e 287. . Arquivo Público de Alagoas. APA.
184
Fundo de emancipação do município de Murici 1884. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1691.
185
Relatório do Ministério da Agricultura 1877, p. 14.
92
186
Relatório do Ministério da Agricultura, 1878, p. 11.
93
187
MACHADO, O plano e o pânico, op. cit., p.97.
94
188
Relatório do Ministério da Agricultura, 1881, p. 6. A diferença exata foi de 108.142 escravos.
189
As províncias do café alforriaram, de forma conjunta, 26.825 escravos, da seguinte maneira:
Espirito Santo: 1.209/ Município Neutro: 3.008 / Rio de Janeiro 10.259 / São Paulo: 5.627 / Minas
Gerais: 6.722. Idem, p. 11.
95
190
As demais províncias contribuíram assim: Ceará: 2.303 / R. Grande do Norte: 916 / Paraíba: 819 /
Pernambuco: 3943 / Sergipe: 712.
191
Relatório Agricultura 1879. p. 22.
192
CONRAD, op. cit., p. 138.
193
Fundo de Emancipação do município de Alagoas, 1880. Arquivo Público de Alagoas APA. Caixa
1097.
194
CONRAD, op. cit., p. 139.
96
195
Idem, p. 363.
196
Relatório do Ministério da Agricultura, 1881. p. 18.
197
Idem, p.5. O relatório revela que Alagoas possuía 34.587 escravos em 1880. A diminuição ocorreu
da seguinte forma: saíram da província: 6.035; entraram: 4.749; manumitidos 1.438; Uma diferença
total de 4.981.
198
Idem, p. 20.
97
199
SANT’ANA, História à contribuição do açúcar em Alagoas. op. cit., p.112.
200
Censo demográfico de 1872.
201
Relatório Provincial, 1874, p. 15.
202
Fundo de Emancipação do município de Alagoas, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1097.
203
Idem.
204
Idem.
98
205
Relatório do Ministério da Agricultura, 1881, p. 20.
206
DAUWE, op. cit., p.77
99
207
Natural de Porto Calvo, Manuel Joaquim Mendonça de Castelo Branco seguiu carreira na política.
Foi deputado geral por Alagoas entre os anos de 1850-1872 e 1876-1885. Nas duas últimas décadas,
como membro do partido conservador. ABC das Alagoas. Disponível em
http://www.abcdasalagoas.com.br acessado em 20 de janeiro de 2017.
208
Idem.
209
Veremos, adiante, que escravos banda forra foram avaliados em até 1:000$000.
210
Lista dos escravos classificados para liberdade em Camaragibe, 1880. Arquivo público de
Alagoas. APA. Caixa 1097.
211
SCHWARTZ. Suart. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550 -1835.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.265.
100
212
A divisão entre os dois municípios ocorreu no ano de 1886, através da lei 861. MENDONÇA,
Carlos Alberto Pinheiro. Enciclopédia Municípios de Alagoas. Instituto Arnon de Mello. 3ª ed.
Maceió, 2012. p. 419.
213
Fundo de Emancipação do município de São Jose da Laje, 1880. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1097.
101
214
Criado de acompanhar pessoas nobres. Moço de acompanhar, de levar recados. Biblioteca
Brasiliana. Dicionário de língua portuguesa – Luiz Maria da Silva Pinto 1832. Disponível em:
http://dicionarios.bbm.usp.br/en/dicionario/3/pajem. Acessado em 22/12/2016. Idem.
215
GOMES NETO, Álvaro de S. O Fundo de Emancipação de Escravos no Termo de Lages, Santa
Catarina. In: II Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, 2005, Porto Alegre. II Encontro
Escravidão no Brasil Meridional, Porto Alegre, 2005. Porto Alegre: Oikos, 2005. p. 12.
216
Idem.
217
Censo demográfico de 1872.
218
Relatório do Ministério da Agricultura 1881, p. 20.
219
Relatório do Ministério da Agricultura. 1879, p.27.
102
escravos domésticos, do total de 134 vendas220. O que equivale a mais de 40% das
negociações.
220
JÚNIOR, Manuel Diégues. op. cit., pp. 183-184.
221
MATTOSO, op. cit., p. 191.
222
Thompson, Edward Palmer. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.p.
18.
223
Lista dos escravos classificados para liberdade no município de São Miguel dos Campos, 1880.
104
meio do arbitramento judicial, porém essa medida os impedia de ser libertos pelo
Fundo de Emancipação. É provável que a ciência desse fato tenha coibido os
escravos de buscar sua liberdade através da justiça.
Os dois casos indicam que, mesmo com a Lei, muitos cativos continuaram
enfrentando dificuldades para conseguir sua manumissão, especialmente no âmbito
da negociação particular, e, apesar de não possuírem o mesmo poder de antes,
muitos proprietários continuaram criando barreiras para não perder sua propriedade.
A possível tentativa de Abraão ou Miguel em pagar por sua alforria poderia terminar
de maneira frustrada. No espaço privado, os senhores ainda poderiam recusar a
iniciativa. Assim fez José Manoel de Morais, que rejeitou conceder a liberdade de
Sebastiana em 1879. O senhor considerou baixo o valor de 600$000 apresentado
pela escrava à justiça, alegou que essa quantia foi estimada quando ainda era
criança, portanto, o preço estava defasado. O processo foi finalizado após dois anos,
quando Sebastiana acrescentou mais 600$000 ao valor depositado anteriormente 224.
224
Os cálculos indicam que a Sebastiana tinha aproximadamente 20 anos. MENDONÇA, Joseli Maria
Nunes. Entre as mãos e os anéis: A Lei dos Sexagenários e os caminhos da abolição no Brasil.
2ºed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2008. pp.196-198.
225
MATTOSO, op. cit., p. 171.
105
litoral norte, recebeu, em 1880, o valor de 5:300$000 para destinar às alforrias, valor
suficiente para emancipação de dez escravos, todos homens, com as indenizações
oscilando entre 250$000 e 900$000 réis. Os maiores valores foram destinados aos
escravos que realizavam algum ofício; são eles: Joaquim, carreiro com 40 anos, e
Gonçalo, mestre sapateiro, de 45 anos. Ambos custaram aos cofres públicos,
respectivamente, 900$000 e 700$000226.
Em Murici, foram mais oito libertos, uma mulher e sete homens, todos
agrícolas, como destacamos anteriormente; nenhum escravo do município
conseguiu acumular pecúlio. A semelhança na atividade econômica entre Porto
Calvo e Murici nos permite fazer uma comparação entre as indenizações pagas nas
duas localidades, pois encontramos escravos que possuíam profissões e idades
similares, mas as avalições foram completamente distintas. Em Murici, o escravo
Domingos foi alforriado por 450$000, enquanto por Rogério foi paga a quantia de
300$000227; ambos possuíam 50 anos, além de trabalharem igualmente como
agrícolas.
226
Fundo de Emancipação do município de Porto de Pedras, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1097.
227
Idem.
228
Fundo de Emancipação do município de Murici, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1097.
229
Fundo de Emancipação do município de Porto de Pedras, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1097.
106
cidadão, não pesará sobre pessoa alguma num mundo onde em que
a caridade é deixada aos particulares230.
Logo, o escravo deveria merecer a alforria e entendê-la como uma dádiva dos
senhores, ou seja, por meio do Fundo de Emancipação, o governo tentou reproduzir,
entre os recém-libertos, os princípios ensinados durante o cativeiro. Tal atitude fica
mais explícita ao Império regulamentar a participação dos senhores no processo de
entrega das alforrias231. Sendo assim, as manumissões deveriam ser interpretadas
como uma benesse concedida entre os proprietários e o Estado; portanto, pretendia-
se produzir entre os libertos um sentimento de gratidão no qual o Império e os
senhores teriam sido os responsáveis pela sua libertação.
230
Mattoso, op. cit., p. 187.
231
Decreto 5.135, Art. 42. Determinava que: Os juízes de órfãos, em audiência previamente
anunciada, declararão libertos, e por editais o farão constar, todos os escravos que, segundo a ordem
da classificação, possam ser alforriados pela respectiva quota de emancipação; e entregar-lhes-hão
suas cartas pelo intermédio dos senhores. Decreto nº 5.135 de 13 de novembro de 1872.
107
232
Sant’ana Moacir Medeiros. op. cit., p. 110.
233
Segundo o censo demográfico de 1872, o município de Anadia possuía 23.675 moradores;
desses, 2.184 eram escravos.
234
Relatório do Ministério da Agricultura, 1881, p. 20.
108
235
Fundo de Emancipação do município de Anadia, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
976.
236
COSTA, Lenira, op., cit. A Lei do Ventre Livre e os caminhos da liberdade em Pernambuco
2007, 93-94.
237
Thompson, op. cit. p.45.
109
Dessa maneira, os escravos que residiam mais distante das principais regiões
econômicas precisavam ser mais versáteis para constituir o seu pecúlio, e, como
vimos, dos cativos que possuíam alguma economia em Anadia, cinco eram
agrícolas, ou seja, apesar das limitações sociais e financeiras impostas por sua
condição, esses homens e mulheres conseguiram contorná-las e usaram o próprio
ambiente para criar espaços de acesso ao acúmulo de recursos monetários para
sair do cativeiro. Porém, a soma do pecúlio com a quota recebida pelo município
alcançou 5:788$790 réis, valor que impediu a emancipação de todos os escravos
classificados. Do quadro oito, não foram libertos os escravos Lourenço, Pedro, José
e Anacleta240; nesse caso, a associação entre a quota diminuta e as altas avaliações
adiou a emancipação do quarteto. Esses casos mostram que, mesmo classificados,
os escravos continuavam correndo o risco de não serem libertos.
238
A concessão de um pedaço de terra funcionava como mais um mecanismo de controle e
manutenção da ordem escravista, o que resultou numa economia própria para os escravos dentro da
escravidão, a chamada “brecha camponesa”. Reis, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e
Conflito: A resistência escrava no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p.28.
239
PIRES, Maria de Fátima Novaes.
240
Juntos, os quatro escravos somaram 3:350$000 réis. Fundo de Emancipação do município de
Anadia, 1880. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 976.
110
243
SANT’ANA, História à contribuição do açúcar em Alagoas. op. cit., pp. 110-111.
244
. A população total de Traipu era de 21.174 pessoas. Censo demográfico de 1872.
245
Relatório Provincial de 1873, p.15. e 1876, p. 90.
246
Lista de escravos classificados no município de Traipu. S/Ano. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1527.
247
Idem.
112
indenização dos escravos banda forra ultrapassou os 300$000248, valor três vezes
menor que o praticado em Anadia no mesmo ano. Poderemos verificar maiores
detalhes da escravaria do município no quadro abaixo:
248
Idem.
113
valor que seria recebido como indenização; vinte e dois senhores usaram esse
recurso em favor dos seus escravos249. Mas, qual o intuito dessa iniciativa
justamente no momento em que a expectativa era assegurar elevadas
indenizações? É possível que alguns desses senhores tentavam demonstrar ou
afirmar o afeto e a compaixão pelo escravo e, igualmente, a favor da sua
manumissão. Dessa maneira, poderiam manter os libertos na propriedade após a
emancipação.
249
Idem.
250
Idem.
251
Idem.
252
CUNHA, op. cit., p. 72.
114
Na maioria dos casos, o pecúlio dos escravos foi importante para garantir a
prioridade de classificação no município. Como vimos acima, Feliciano seria o único
escravo que teria a chance de pagar por sua liberdade. Dos cinquenta e três
classificados no município, somente quarenta e dois trazem o valor da avaliação,
alcançando preço médio de 545$238, quantia que foi superada por quinze escravos.
No quadro nove, podemos observar algumas das avaliações praticadas no município
e, na oscilação dos valores, verificamos que as indenizações muitas vezes não
correspondiam à qualidade dos escravos.
253
Lista de escravos classificados para emancipação em Traipu S/D. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1527.
254
Idem.
255
Idem.
115
256
MENDONÇA, Joseli. Entre as mãos e os anéis. op., cit. p. 279.
116
as conquistas, pois cabia aos escravos obter a aprovação dos senhores para a
formação das economias; logo, os espaços de autonomia são adquiridos tanto no
ambiente público quanto no particular.
258
Relatório do Ministério da Agricultura, 1881, p. 13.
259
CONRAD, op. cit., p. 139.
260
Relatório do Ministério da Agricultura, 1882, p. 12.
261
Idem, p.14.
118
262
Relatório Ministério da Agricultura, 1881, p. 12.
263
Relatório Provincial, 1884. p 52.
264
Nesse momento, a Província contava com 23 municípios, Relatório do Ministério da Agricultura,
1882, pp. 20-21.
119
265
Fundo de Emancipação do município de Porto Calvo, 1882. O censo imperial contabilizou 3924
escravos no município, contingente que o classificava como a segunda maior população de
escravizados da província, apenas atrás de Maceió, que possuía 4278.
266
A distribuição dos recursos, em 1882, rendeu a Porto Calvo a quantia de 2:177$487 e a Maceió
6:737$206.
267
Segundo o censo demográfico de 1872, o município de Atalaia possuía 1.888 escravos, o que
resultava em uma diferença de 2.036 escravos.
268
GOMES NETO, O Fundo de Emancipação de Escravos no Termo de Lages op. cit., p.10.
269
Idem.
270
A superioridade de valores para Atalaia poderia ser proveniente da interferência pessoal de
Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, o Barão de Atalaia, que ocupou durante os anos de 1882-1883
120
273
Fundo de Emancipação de Camaragibe, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1624.
Infelizmente, as informações foram sendo suprimidas no decorrer dos anos; na nova documentação,
não constam informações como profissão, aptidão para o trabalho e moralidade.
274
Fundo de Emancipação do município de Passo de Camaragibe, 1882. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1624.
275
SANTANA NETO, A alforria nos termos e limites da Lei, op. cit., p. 121.
122
da região276. Por meio da 3ª quota, o município emancipou três cativos sob o valor
de 2:774$408. Aos 59 anos, Ignácio foi avaliado em 600$000; Innocencio, 10 anos
mais jovem, foi emancipado por 900$000 e Joaquim, de 19 anos, foi avaliado em
1:200$000277.
276
MENDONÇA, Carlos Alberto Pinheiro. Enciclopédia Municípios de Alagoas. op. cit., p 74.
277
Fundo de Emancipação do município de Maragogi, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1624.
278
Venda do Escravo Luís, município de Imperatriz, 1875. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1423.
279
Fundo de Emancipação do município de Alagoas, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1624.
280
Idem.
281
Idem.
123
já tinham sido libertos por meio da quota anterior. A falta de recursos acabou
funcionando como um agente limitador, tanto para concessão de alforrias quanto,
consequentemente, para a evolução do próprio projeto emancipacionista, fato que
contribuiu para intensificar as críticas sobre o mesmo.
282
MENDONÇA, Carlos Alberto Pinheiro. Enciclopédia Municípios de Alagoas. Instituto Arnon de
Mello. 3ª ed. Maceió, 2012. p. 30.
283
Censo demográfico de 1872.
284
Fundo de Emancipação do município de Pilar, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1624.
285
Idem.
286
A lista de emancipação não possui a profissão das escravas; individualmente, foram avaliadas da
seguinte maneira: Gertrudes 700$000, Maria 750$000 e Joana 400$000. Fundo de Emancipação de
Atalaia, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa 1624.
287
Costa, Vozes na senzala, op. cit., p.112.
124
Em São José da Laje e São Miguel dos Campos, municípios voltados para
produção do açúcar, a semelhança ficou por conta da predominância em emancipar
escravos de poucos senhores. Em São Miguel dos Campos, foram cinco escravos
alforriados, que pertenciam a apenas dois senhores. Manoel José Taboca teve três
escravas classificadas, são elas: Zeferina, com 30 anos; Honoria, de 14 anos, e
Leonor, com apenas 12. A diferença de idade não impediu que todas as escravas
recebessem a mesma avaliação, 750$000 cada. Já o senhor Antônio José Teixeira
teve emancipadas as escravas Bernardina, de 15 anos, no valor de 700$000, e
Valchiria, com 40 anos, avaliada por 400$000288. No total, as quatro cativas estavam
acima do valor médio de 602$638 que verificamos anteriormente.
288
Fundo de Emancipação do município de São Miguel dos Campos, 1882. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 1624.
289
Fundo de Emancipação do município de São José da Laje, 1882. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1624.
290
MENDONÇA, Joseli. Entre as mãos e os anéis, op. cit., p.278.
291
MENDONÇA, Carlos. Enciclopédia Municípios de Alagoas. op. cit., p. 354.
125
292
Fundo de Emancipação do município de Quebrangulo, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1624. Não conseguimos encontrar qualquer referência sobre a quantia recebida pelo município.
293
A localidade chamava-se Mata Grande, por meio da Lei 516, de 20 de Abril de 1870, seu nome foi
alterado para Paulo Afonso, voltando a chamar-se Mata Grande somente em 1929. Disponível em
http://www.abcdasalagoas.com.br acessado em 20 de janeiro de 2017.
294
Fundo de Emancipação do município de Paulo Affonso, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 1624.
295
SANTANA NETO, A alforria nos termos e limites da lei. op. cit., pp. 62-63.
126
O último Município de que temos registros dessa quota é Anadia que estava
emancipando seis cativos, todos agrícolas, com idade entre os 19 e 49 anos, que
custaram 4:650$000. As escravas Izidoria e Arahauja, ambas com 49 anos,
renderam a seus senhores 200$000 cada, as menores avaliações. Entre os homens,
as indenizações foram mais elevadas. O escravo Francisco, agricultor, com 33 anos,
foi avaliado em 1:300$000. Antônio e Manoel também alcançaram altas cifras; o
primeiro, 1:100$000, e o segundo, 1:000$000 conto de réis. A trajetória percorrida
até o momento revela uma particularidade de Anadia: os senhores do município não
enfrentavam oposição das autoridades locais ou provinciais na formação dos preços,
desfrutavam de liberdade suficiente para estabelecer a indenização a ser recebida.
296
Idem, pp. 30-31.
297
Relatório Provincial, 1883, p. 23.
298
Relatório do Ministério da Agricultura, 1883, p.14.
299
COSTA, op. cit., p.59.
127
300
Relatório do Ministério da Agricultura 1883, p. 188.
128
Quotas
Ano concedidas Emancipados Pecúlio Valor total
1875 83:774$922 148 17:727$660 101:502$582
1880 104:656$550 184 13:083$886 117:740$436
1882 51:224$250 85 3:220$418 54:473$668
1883 61:108$960 107 4:033$650 65:142$610
Total 300:764$682 524 38:074$614 338:559$296
Fonte: Relatório da Província das Alagoas, 1884.
301
Relatório do Ministério da Agricultura, 1882, p. 13.
129
O Império não podia, ou não desejava, arcar com toda essa despesa,
e por isso as soluções seriam libertar menos escravos, ou libertá-los
por valores muito menores, ou, ainda, baixar drasticamente o preço
302
de cada escravo, o que parecia fora de cogitação .
302
DAUWE, op. cit., p.87
303
Relatório do Ministério da Agricultura, 1883, p. 189.
304
Relatório do Ministério da Agricultura, 1884, p. 374.
305
Fundo de Emancipação do município de emancipação Quebrangulo, 1884. Arquivo Público de
Alagoas. APA. Caixa 287.
130
306
Fundo de Emancipação do município de Porto de Pedras, 1884. Arquivo Público de Alagoas. APA.
Caixa 287.
307
Fundo de Emancipação do município de Murici, 1884. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
287.
308
Relatório do Ministério da Agricultura, 1883, p. 198.
309
Fundo de Emancipação do município de Murici, 1884. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
287.
310
Relatório do Ministério da Agricultura, 1884, p. 373.
311
Relatório do Ministério da Agricultura, 1885, p. 374.
131
312
MENDONÇA, Carlos. Enciclopédia Municípios de Alagoas. op. cit., p. 274.
313
Fundo de Emancipação do município de Limoeiro de Anadia, 1885. Arquivo Público de Alagoas.
APA. Caixa 1423.
314
Idem.
315
Tabela de valores estabelecidos através da lei nº 3.270, 28 de setembro de 1885.
132
316
Os dados em detalhes foram os seguintes: população de 1873: 1.505.228, até junho de 1885
seriam 1.133.273. As alforrias a titulo oneroso: 69.430, alforria gratuita: 108.226. Relatório do
Ministério da Agricultura 1885, p.34.
317
Por intermédio do fundo de emancipação, foram libertos 24.165 escravos. Idem, p. 32.
318
Relatório do Ministério da Agricultura, 1885, p. 34.
319
Idem, p.32.
133
especialmente por ter libertado cento e vinte escravos, na quota seguinte, foram
trinta e seis emancipações a menos, apesar de a Província ter recebido valores
similares nas duas quotas. Portanto, durante os anos da execução do projeto, cada
município ou província conviveu com experiências próprias, nas quais, senhores,
autoridades e escravos foram igualmente atuantes, tornando o processo de abolição
um jogo de disputas e influência, onde as relações de dependência já apresentavam
desgaste.
Maceió 6 Penedo 4
Alagoas 3 Piaçabuçu 1
Anadia 3 Pilar 3
Atalaia 7 Porto de Pedras 4
Camaragibe 6 Quebrangulo 2
Coruripe 3 Santana do Ipanema 1
Imperatriz 3 São Miguel dos Campos 7
Murici 2 Traipu 6
Pão de Açúcar 2
Fonte: Relatório da Provincial, 1886.
320
Relatório Provincial,1886, p. 15.
134
321
Fundo de Emancipação do município de Traipu, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1624.
322
Fundo de Emancipação do município de Alagoas, 1882. Arquivo Público de Alagoas. APA. Caixa
1624.
135
Considerações finais
O motivo de tanta cautela para legislar sobre o assunto tinha finalidade: evitar
que no Brasil acontecesse um conflito semelhante à guerra civil vivenciada pelos
Estados Unidos. As divergências política e econômica acabaram acentuando a crise
entre os parlamentares das regiões norte e sul, especialmente no período do
comércio interprovincial entre as décadas de 1850 - 1870. Notamos que o futuro dos
recém-libertos foi outro aspecto que norteou o desenvolvimento das medidas legais.
Tais anseios acabaram criando uma série de dificuldades para o Império chegar a
um consenso sobre a composição do projeto. Ou seja, a nova lei precisava suplantar
diferentes propósitos e proporcionar uma solução parcial, as mudanças precisavam
ser moderadas, não extinguindo, mas apenas reduzindo o domínio dos senhores,
pois o programa emancipacionista teria que permanecer sob o comando dos
escravocratas.
Sendo assim, podemos ressaltar que uma das maiores contribuições da Lei
Rio Branco foi alterar os pilares do sistema escravista brasileiro. Contudo, a partir da
sua aplicação em Alagoas, detectamos que o Governo Imperial alcançou o seu
propósito, as medidas cautelares contribuíram para retardar a abolição definitiva da
escravidão. Esse fato ressalta o caráter ambíguo da proposta, que conseguiu
retardar o fim do regime e ainda amenizar a perda dos proprietários. A dicotomia foi
140
Sendo assim, percebemos que o fim da abolição no Brasil envolveu uma série
de conflito políticos, sociais e econômicos, e que as medidas contra a instituição
precisavam se adequar à realidade do Império. A Lei não buscava reprimir o domínio
da classe escravista e sim organizar regras que atendessem às suas expectativas.
Logo, a liberdade gradual foi a saída mais prudente para o fim da instituição. O
direto à liberdade concedido aos escravos foi acompanhado pela manutenção do
domínio senhorial no processo de emancipação. Ou seja, a Lei foi especialmente
desenvolvida para atender ao interesse dos escravocratas; logo, a prioridade era
eliminar a escravidão modificando o mínimo possível os princípios da hierarquia
social construída durante os mais de trezentos anos nos quais a instituição vigorou
no Brasil.
141
Referências
Legislação do Império:
Recenseamento de 1872
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-
%20RJ/Recenseamento_do_Brazil_1872/Imperio%20do%20Brazil%201872.pdf
Biblioteca Nacional
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_ cartografia /cart67925/ cart67925
_6.
Caixa 287:
142
Caixa 976:
Lista dos escravos emancipados no município de Anadia, 1880.
Lista dos escravos emancipados no município de Anadia, 1881.
Caixa 1093:
Lista dos escravos classificados para emancipação em São Miguel dos Campos,
1880.
Caixa 1691:
Caixa 1097:
Caixa 1527:
Escravos manumitidos no município de Murici, 1876;
Escravos manumitidos no município de Atalaia, 1872-1875;
Escravos manumitidos no município de Assembléia, 1872-1875;
Caixa 1423:
Caixa 1624:
Lista dos escravos emancipados no município São Miguel dos Campos, 1882.
144
AZEVEDO, Célia Maria Marinho de Azevedo. Onda negra medo branco: o negro
no imaginário das elites século XIX. 3ª ed. São Paulo: Annablume, 2004.
CARVALHO, José Murilo de. Teatro das Sombras: a política imperial. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Editora, UFRJ, Relume-Dumará, 1996.
CARVALHO, José Murilo de. A vida política. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. (Dir.)
COSTA, Emília Viotti da. A abolição. 9.ªed. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
NETO, José Pereira de Santana. A alforria nos termos e limites da lei: o fundo de
emancipação na Bahia (1871-188) Dissertação (mestrado em história) Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2012.
PIRES, Maria de Fátima Novaes. Cartas de Alforria: "para não ter o desgosto de
ficar em cativeiro". Revista Brasileira de História, v. 26, p. 141-174.
SOUZA, Gustavo Pinto de. Crimes de escravos e africanos livres nos espaços
prisionais do Brasil oitocentista. SILVA, Gian Carlo de Melo. (Org) Os crimes e a
história do Brasil: abordagens possíveis. Maceió: EDUFAL, 2015.
Anexo
149
Escravos classificados para liberdade no município de São Miguel dos Campos 1880
Nome Idade Profissão Valor Pecúlio
Antônia 37 Cozinheira Não informado 200$000
Anania 19 Cozinheira Não informado
Agostinha 14 Cozinheira Não informado
Luiza 40 Costureira Não informado 200$000
Severino 41 Lavoura Não informado
Francis da Costa 49 Lavoura Não informado 100$000
Gaspar 54 Mest. Acúcar Não informado
Miguel 37 Padeiro Não informado 800$000
João Camarão 25 Lavoura Não informado
Abraão 40 Ferreiro Não informado 400$000
Carlota 30 Lavoura Não informado
Manoel 16 Alfaiate Não informado 500$000
Balseneo 13 Alfaiate Não informado 200$000
Sebastiana 11 Costureira Não informado 200$000
Maria 28 Cozinheira Não informado 100$000
Narcisa 15 Cozinheira Não informado 150$000
Caetana 25 Cozinheira Não informado 300$000
Ricarda 18 Lavoura Não informado 400$000
Sabina 45 Lavoura Não informado 200$000
Maria 22 Cozinheira Não informado 200$000
Guilhermina 16 Cozinheira Não informado 150$000
Antonia 29 Cozinheira Não informado 100$000
Elvira 7 Costureira Não informado 400$000
Antonia 38 Cozinheira Não informado 250$000
Antonia 29 Cozinheira Não informado 200$000
Paulina 35 Costureira Não informado 200$000