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Adaptação é uma prática de transformar um gênero específico em outro modo, que é na verdade uma
revisão em si. Nessa transformação, que gênero se afasta de si mesmo, perde sua conexão com o texto-
fonte e transforma-se em uma identidade separada. Como essa nova identidade é “a identidade de outra
pessoa verdade”, tem suas propriedades únicas e específicas. Nesse sentido, existe uma estreita relação
entre adaptação e intertextualidade, com base na noção de que cada adaptação é o produto da inter-
relação entre Texto:% s.
A adaptação levanta o problema da “originalidade” e da autoria como resultado do problema da
autenticidade. De uma forma ou de outra, uma adaptação está relacionada a outro trabalho, mas um texto
criativo separado em si mesmo, às vezes prestando pouca atenção às ideias do autor do texto-fonte.
A adaptação pode ser abordada metaforicamente como “um pedestal, mas talvez uma piscina - onde, em
meio ao turbilhão de contingência histórica e expectativa cultural [...] eles [autores] têm a oportunidade de
afundar ou nadar” (Lehmann 160). O autor do texto-fonte pode afundar como o autor de o texto-alvo nada
longe do espírito do texto-fonte.
Esse processo pode ser bem observado no romance de Michael Cunningham, The Hours (1998), e a
adaptação cinematográfica de Steven Daldry em 2002 do mesmo nome. The Hours foi inspirado em Mrs.
Dalloway de Virginia Woolf (1925), empregando imagens e temas semelhantes, enquanto o filme de Daldry
é uma adaptação do romance de Cunningham. Há três autores aqui; e isso é a preocupação desta peça em
analisar até que ponto todos os autores “afundou” ou “nadou”, usando a metáfora descrita acima. Ao fazê-
lo, tentamos oferecer respostas às perguntas perenes dos estudos de adaptação: “Que relação um filme
deve ter com sua fonte?” “Deve ser “fiel?” e “Pode ser?” (Beja 80).
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No início do romance As Horas, Cunningham dá um extrato do diário de Woolf (1923): “Não tenho tempo
para descrever meus planos. Eu deveria falar muito sobre As Horas e minha descoberta; como eu saio linda
cavernas atrás de meus personagens; Acho que isso dá exatamente o que eu quero; humanidade, humor,
profundidade. A idéia é que as cavernas se conectem& cada vem à luz do dia no momento presente”
(Woolf 1). Usando este extrato Cunningham aplica a intertextualidade para relacionar indiretamente todos
os eventos no romance para a vida de Woolf. Neste trecho, Woolf menciona que em seu romance Mrs.
Dalloway, existem alguns aspectos de seus personagens que são deixados em branco, e Cunningham tenta
preencher as lacunas em seu romance. Daldry leva esse processo adiante no filme, conectando a escritora
Virginia Woolf (Nicole Kidman), a leitora Laura Brown (Julianne Moore), a a experimentadora Clarissa
Vaughan (Meryl Streep) e a observadora (a espectadores). As ideias de vida-morte, homens-mulheres,
sanidade-insanidade, solidão, lesbianismo, frigidez, falta de compreensão no casamento são todos
retratados no filme através das três personagens femininas. Cunningham desenha seus personagens de tal
forma que eles de alguma forma refletem a própria visão de mundo de Woolf; mas esta reflexão se divide
em três, conforme todos os personagens encarnam a alma de Woolf, assim definida: “Ainda ela ama o
mundo por ser nu e indestrutível, e ela conhece outras pessoas que deve amá-lo também […] Por que mais
que lutamos para continuar vivendo, não importa quão comprometido, não importa o quão apressado?”
(Cunningham 14). Isto dá a sensação de que estamos olhando para o personagem de Woolf de um, senão
dois remove; esse efeito é ainda mais enfatizado no filme de Daldry, que foi filmado a partir das
perspectivas do diretor Daldry e da atriz Kidman. Em certo sentido, não estamos recebendo uma visão do
“real” Woolf, mas sim olhando para a forma como um grande autor tem sido (re- ) construída no passado e
no presente. Este é um dos principais consequências da adaptação; não é apenas intertextual, mas nos
atrai considerando os processos pelos quais as adaptações são construídas.
Cunningham, em seu romance, mostra esse processo em ação por meio de três histórias diferentes, que
nos dão personagens fictícios completamente novos apenas incidentalmente relacionado à vida de Woolf.
Certamente há ecos de O romance de Woolf – como, por exemplo, no trecho de Mrs. Dalloway citado
anteriormente, bem como em frases como “Ainda há muitas flores para comprar” (Cunningham 9). No
entanto, é usado para diferentes propósitos: no romance, é projetado para fazer os leitores refletirem
sobre a própria semelhança de da obra de Cunningham aos textos de Woolf. No filme essa dessemelhança
é intensificada, pois a linha é entregue por Meryl Streep: os espectadores recebem assim a experiência de
uma atriz de cinema (com uma persona específica na tela), entregando as linhas de uma reconstrução
moderna de Woolf, que é em si uma
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