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Os beligerantes correspondem a uma categoria de sujeitos de direito

internacional público de base territorial. A beligerância designa uma rebelião


organizada que ocupa uma parcela do território e executa um conflito armado
contra o governo estabelecido, visando a mudança de regime político. Uma vez
que não é possível responsabilizar o Estado pelos atos dos revoltosos, surge a
necessidade de lhes reconhecer personalidade jus-internacional. O
reconhecimento dos beligerantes depende dos seguintes elementos: (i) grupo
de rebeldes dotados de organização, (ii) que controlam parte do território e
população (iii) e colocam em causa a legitimidade do governo vigente. Os
principais efeitos do reconhecimento são: (i) sujeição das partes em conflito ao
Direito Internacional da Guerra e (i) imposição aos Estados terceiros de um
dever de neutralidade, que se traduz num impedimento de auxiliar militarmente
qualquer uma das partes

Introdução
Inicialmente devemos explicar a diferença entre a insurgência e a
beligerância, para melhor entendimento do respectivo texto.

Estes institutos estão dentro dos sujeitos do Direito Internacional público


considerados semi-estatais, insurgentes e beligerantes são países que lutam
pela sua soberania. Os insurgentes são grupos que se revoltam contra
governos, mas cujas ações não assumem a proporção da beligerância, como
no caso de ações localizadas e de revoltas de guarnições militares, e cujo
status de insurgência é reconhecido por outros Estados, exemplo de
movimento insurgente foi a Revolta da Armada (1893). Os beligerantes são
países reconhecidos, que pretendem impor um novo governo, mas, não são
reconhecidos como Estado só reconhecem o povo, mas não o governo que o
impõe e o fato de que esse grupo foi reconhecido pelo governo de outro
Estado, não obriga outros Estados a reconhecê-lo, os beligerantes são
movimentos contrários ao governo de um Estado, que visam a conquistar o
poder ou a criar um novo ente estatal, e cujo estado de beligerância é
reconhecido por outros membros da sociedade internacional. Celso de
Albuquerque Mello afirma que o “reconhecimento como beligerante é aplicado
às revoluções de grande envergadura, em que os revoltosos formam tropas
regulares e que têm sob o seu controle uma parte do território estatal”, como
nas guerras civis, fundamentando o instituto no princípio da autodeterminação
dos povos e nos valores humanitários que perpassam as relações
internacionais. O reconhecimento de beligerância é normalmente feito por
uma declaração de neutralidade e é ato discricionário. Com as sensibilidades
existentes nas relações internacionais, é normal que o primeiro Estado a fazê-
lo seja aquele onde atue o beligerante. A prática do ato, porém, não obriga
outros entes estatais a fazer o mesmo. As principais consequências do
reconhecimento de beligerância incluem a obrigação dos beligerantes de
observar as normas aplicáveis aos conflitos armados e a possibilidade de que
firmem tratados com Estados neutros. O ente estatal onde atue o beligerante
fica isento de eventual responsabilização internacional pelos atos deste, e
terceiros Estados ficam obrigados a observar os deveres inerentes à
neutralidade.
Podemos exemplificar a Santa Sé, há uma discussão sobre personalidade
desta, que começou quando foi invadida pelo general Cadorna (Unificação
Italiana), já que aí a Santa Sé perdeu a base territorial.

A questão foi resolvida com os Acordos de Latrão (1929) entre Santa Sé e


Itália que pôs fim à Questão Romana (em que o papado não reconhecia o
Estado Italiano e os católicos não podiam participar da política italiana – esta
última, até fim do séc. XIX); o acordo político: dá plena soberania,
propriedade e jurisdição da Santa Sé (que tem personalidade internacional –
Governo, tem também estatuto de território) sobre o Vaticano (Estado). Quem
tem personalidade internacional é a Santa Sé! Participa em convenções, etc.
Já o Vaticano é neutro a partir de Latrão, Santa Sé é a reunião da Cúria
Romana e do papa.

E existem cardeais residentes no Vaticano, as pessoas que residem


permanentemente no Vaticano e, aquele que deixar de ser cardeal ou aquele
que deixa de morar lá perde a nacionalidade do mesmo. Diz Rezek;

De todo modo, é amplo o reconhecimento de que a Santa Sé, apesar de não


se identificar com os Estados comuns, possui. Direito Internacional Público
por legado histórico, personalidade jurídica de direito internacional. (Curso de
Direito Internacional Público- 13ª Ed, REZEK Francisco, pag. 277).

Então no que tange os sujeitos semi-estatais pode-se dizer que existe uma
clara semelhança entre a beligerância e a insurgência, entretanto, aquela
reveste-se de maior amplitude do que esta, segundo Alfred Verdross, os
insurgentes são “beligerantes com direitos limitados”.

A problemática política e a luta pela soberania


Todos países que lutam pela sua soberania na sua maioria preenchem todos
os respectivos requisitos para ser um país autônomo e separado de acordo
com que lutam incansavelmente, ou seja, possuem um território mais ou
menos exíguo, mas uma população considerável com cultura e ideologia
totalmente distinta do país originário do que a se situa no país, suas
instituições políticas “podem” ser estáveis e seus regimes corretamente
estruturados, ainda que vez por outra originais. Em uma respectiva parte do
país cultiva-se uma língua, cultura e hábito distintos do país que a detém.
Então o que falta para a separação do respectivo espaço fragmentado de
forma abstrata se conctretizar?

Em um trecho Rezek explica um dos motivos da não separação desses


insurgentes;
A soberania tem ainda hoje a paradoxal virtude de dar a cada Estado o poder
de determinar, por si mesmo, se lhe parecem ou não soberanos os demais
entes que, a seu redor, se arrogam a qualidade estatal. Irrecusável, por isso,
é a liberdade de que todo Estado desfruta para, numa concepção minoritária,
ou mesmo solitária — e, ao ver dos demais, exótica —, negar a condição de
Estado ao ente que lhe pareça destituído de personalidade jurídica de direito
internacional público. A afirmação inversa não é menos verdadeira. Não há o
que impeça um Estado de reconhecer num governo exilado, numa autoridade
insurreta, num movimento de libertação, a legitimidade que outros Estados ali
não reconhecem, e de, consequentemente, manter relacionamento de índole
diplomática — ainda que sob denominação variante, por conveniência — com
tal entidade. (Curso de Direito Internacional Público- 13ª Ed, REZEK
Francisco, pag. 277).

Ressaltam-se aqui os grupos separatistas de países insurgentes que lutam


pela sua soberania que na maioria das vezes são negadas pelo Estado
soberano. Podemos citar aqui o Flanders e Valões, grupos separatista da
Bélgica, pacífico em busca de um novo governo, a divergência entre as partes
emergem de questões culturais que muito tempo vem causando tensões no
país. No norte Flamenco, mais rico e com raízes culturais nos Países Baixos,
no sul onde existe a região dos Valões uma região mais pobre e com raízes
culturais francesas fazem da Bélgica um país que pouco se identifica
culturalmente e que abre espaço para a possibilidade de uma separação no
respectivo país. Com a formação da Bélgica pelas regiões de Flanders e
Valânia, o país se tornou uma monarquia constitucional, com eleições
parlamentares. O francês foi adotado como idioma oficial, mesmo como a
maioria da população Flamenca de idioma holandês e apenas em 1967 foi
aprovada e reconhecida uma constituição nacional em holandês, as duas
partes do país ainda se desenvolvem constituindo características muito
peculiares. Hoje a situação atual é o partido nacionalista NVA (nova aliança
flamenga) favorável a separação da parte norte do país venceram as eleições
legislativas em 2010 e atualmente anunciou trégua permanente.
Deve-se ressaltar aqui que foi supra mencionado grupo separatista como
forma de protesto retaliações políticas e não com cessar fogo, armados e
outras maneiras que possa minimizar ainda mais a possibilidade de
separação do respectivo país. A Europa é o continente que mais vivencia
essa situação de “desejo de independência”. Tal situação preocupa a União
Europeia, que teme que caso um grupo separatista ganhe a causa provoque
um efeito cascata nos demais movimentos.

Mas a repercussão infelizmente são conflitos fortemente armados que lutam


pela soberania de uma forma bem hostil, dificultando ainda mais a separação
e a autonomia do governo separatista. Podemos exemplificar os grupos
separatistas europeus terroristas que reivindicam o domínio de diferentes
territórios como ETA do povo basco no norte da Espanha, este grupo defende
a criação de um Estado Basco independente (Euzkadi, Azkatasuna), protesta
contra a ditadura franquista do general Franciso Franco, da Espanha, que
proibia qualquer tipo de demonstração nacionalista basco. Após a morte do
ditador teve mais força o ETA. O grupo separatista IRA um exército
republicano Irlandês, mais conhecido como IRA (do Inglês, Irish Republican
Army) é um grupo paramilitar católico que intenciona que a Irlanda do Norte
separe-se do Reino Unido e seja reanexada á Republica da Irlanda.

Os movimentos separatistas surgem por diferentes motivos. Podem ter cunho


político, étnico ou racial, religioso ou social. Em sua maioria, trata-se de
colônias ou territórios pequenos que se sentem desvalorizados pelos
governos principais de seus países e buscam na independência uma forma
de valorizar e garantir mais direitos e investimentos à sua população.

Toda a problemática da separação é terminantemente e indubitável que seja


política. Quando uma região ou território se torna independente mudam-se
fronteiras, alianças, relações econômicas e blocos, e os “novos” países têm
que iniciar uma série de reformas, criando instituições próprias como Banco
Central, Forças Armadas, entre outras, e o “novo” país precisa ser
reconhecido por outros países.

Cabe então indagar se é rentável e se os problemas cessariam se houvesse


toda a separação tão desejada dos respectivos grupos e territórios
separatista. Nem sempre por meios violentos e armados os povos conseguem
se separar, sendo até mesmo reprimidos mais ainda pela maioria ou o país
soberano, outros a partir das represálias conquistam seu domínio sem
garantir a tal independência, algumas acabam sendo pacificadas e outras
ainda lutam pela sua soberania a partir de toda a sua ideologia. Para alguns
casos, a independência não traria vantagens para os territórios que ainda são
colônias. Em geral, eles são países pequenos com pouca rotatividade
econômica, causando uma grande dificuldade para a separação destes.

Alguns grupos separatistas vangloriaram sua separação onde foram bem


sucedidas, podemos exemplificar; as repúblicas bálticas da Ex União
Soviética (Estônia, Letônia e Lituânia) em 1991 por referendo.

Para alguns casos a independência poderia não trazer soluções ou vantagem


para o território, pela pouca expressividade econômica e também a proteção
militar.

Os grupo separatista mais recente e bem polêmicos ultimamente é da


Ucrânia. A Ucrânia é um país localizado com grande divisão ética e cultural,
localizado na Europa Ocidental. Era constituída por 24 províncias e a Crimeia,
recentemente anexada à Rússia; além de duas cidades com estatuto
especial: Kiev, a capital, e Sevastopol. Possui alto poder bélico, tendo uma
força significativa do exército da Europa. O conflito entre a Ucrânia e a
Rússia, além das devidas considerações acima, é preciso ressaltar que é um
país fragmentado tanto do ponto de vista étnico e cultural.
Em uma parte (centro e oeste) concentra-se a maioria étnica de seus
habitantes, com origem, cultura e língua ucranianas. Há também, desde que o
país se tornou independente, forte vontade por parte dos habitantes desta
região de pertencerem à União Européia. Ao leste, porém, próximo da
fronteira com a Rússia, concentra-se a parte russa, com influência cultural,
linguística e política desta.

A crise contemporânea entre os países surgiu mais energicamente no final de


2013, quando o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich quando houve
uma pessão da população de Kiev a se aproximar comercialmente da União
Europeia, clamando pelo afastamento de acordos com a Rússia.
Alternativamente, porém, Yanukovich, que possui origem russa, acabou
preferindo fechar com Moscou, pedindo um empréstimo bilionário à potência.
Assim, manifestações tomaram conta da capital ucraniana, respondendo o
presidente com rigidez. Essa repressão instigou mais revolta, desencadeando
violentos embates.

Diante do ocorrido, no começo do ano de 2014 Yanukovich foi expulso da


Ucrânia, quando forças pró-União Européia tomaram o poder, se proclamado
os novos governantes. Realizaram-se eleições, onde a maioria da população
se mostrou favorável a permanência pró-ocidente no poder. Entretanto, o
então governante russo Vladimir Putin logo deu seu parecer, havendo a troca
de governo e caracterizado como golpe de Estado, não sendo reconhecido de
imediato. Após a manifestação russa, milhares de soldados não identificados
se concentraram na região da Criméia, ao leste do país, para sustentar
belicamente o movimento pró-Rússia. Porém, Vladimir Putin nunca aceitou
que tais "tropas anônimas" pertenciam ao seu governo. Tais conflitos
acabaram resultando na anexação da Criméia pela Rússia, em março de
2015, com um referendo (questionável e não reconhecido internacionalmente)
realizado na região, com a vitória dos separatistas. Ademais, com a anexação
ao país governado por Putin, outras regiões ucranianas de língua russa,
apoiadas pelas tropas russas, se mostraram motivadas a também romperem
com a Ucrânia. Porém é notório que a Rússia encontra constantemente atritos
com entidades internacionais (sobretudo ocidentais) avessas ao seu modo
hostil e duvidoso de resolver suas questões territoriais. Os EUA e a União
Européia vêm respondendo de algumas formas (retaliações políticas) às
Empresas russas, além de tornarem mais ásperos os diálogos com líderes
russos, depois do referendo que anexou a Criméia ao território russo.

Portanto o contexto político mundial atual demonstra a impossibilidade do


reconhecimento internacional integral de uma Criméia “independente”, bem
como de outras regiões de fala russa tendentes ao rompimento com a
Ucrânia. Até porque, a independência desta nova Criméia e, eventualmente
de outra região que conseguir a secessão da Ucrânia, pode ser justamente
relativizada tanto pela sua falta de Reconhecimento Internacional, quanto pelo
consequente domínio da Rússia.
Isso mostra mais uma vez que o cunho para a separação do território é
político de forma que seja também econômica, pois, a ideologia do todo país
percebe-se ser sempre de expansão e nunca visando a diminuição de
territórios, mesmo causando conflitos, na maioria das vezes armados e bem
retaliados.

Conclusão
Diante o exposto, não há dúvida quanto ao cunho político á respeito da
separação de territórios no que tange aos grupos separatistas, principalmente
no país Europeu onde mais se concentram maior grupos separatistas, e como
foi supra mencionado a intenção é sempre a expansão territorial e raramente
é fragmentado o país no qual se encontram grupos separatistas. Ou seja,
mesmo havendo uma ideologia, cultura e política totalmente distintas do país
originário o processo de separação deste respectivo território é bem
complicada e cautelosa, já que envolve economia, política e forças armadas e
principalmente a problemática da política.

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