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A Evolução da Inteligência Humana

Um dos mais fascinantes temas da ciência diz respeito a como surgiu a inteligência humana
ao longo da evolução dos grandes primatas aos hominídeos, chegando até o ser humano
moderno. A inteligência é um tema fascinante justamente porque nos dá a chave para o
tesouro do entendimento sobre nós mesmos, e de como a selecção natural foi capaz de
produzir tamanha maravilha como o cérebro humano e suas assombrosas capacidades
num tempo evolucionário tão curto. Também fornece uma explanação sobre a natureza da
nossa singularidade no reino animal e porque nós somos assim hoje.

De facto, muitas facetas da evolução da inteligência humana são ainda matéria de


considerável mistério, porque ela não pode ser observada directamente no registo
paleontológico, tal como ocorre com um osso ou os dentes, por exemplo. A evidência
reunida por cientistas sobre a inteligência é obtida indiretamente, a partir da observação do
aumento do tamanho da capacidade craniana, de artefactos produzidos como resultado da
inteligência humana, tais como a fabricação de ferramentas, a caça cooperativa, a guerra, o
uso do fogo e o cozimento de alimentos, a arte, o enterro dos mortos, e poucas outras
coisas mais.

O aparecimento da inteligência, juntamente com a linguagem (e ambas são


indissoluvelmente entrelaçadas, como veremos adiante), foi um passo espectacular da
evolução animal. Ela apareceu em primatas, mas poderia ter sido desenvolvida igualmente
bem em outros mamíferos avançados, tais como golfinhos. Por que ela se desenvolveu em
primatas e não em outros gêneros animais? Provavelmente pela inerente instabilidade de
ambientes terrestres, quando comparados com os ambientes aquáticos, e quase
certamente devido a uma série de mudanças dramáticas no clima africano em certos pontos
da história geológica. Portanto, os fenómenos probabilistícos podem ser muito bem a
explicação porque estamos agora na posição de sermos os mais inteligentes de todos os
animais da Terra.

Este passo evolucionário foi espectacular porque deu origem a um círculo cada vez mais
rápido de retroalimentação positiva entre a evolução cultural (trazida pela linguagem) e o
desenvolvimento posterior do cérebro, ao aumentar enormemente o sucesso reprodutivo e
as chances de sobrevivência do organismo assim armados com um cérebro capaz de alta
flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de aprendizagem. Num período de um a dois
milhões de anos (praticamente um piscar de olhos em termos de tempo geológico), este
poderoso impulso de evolução neural levou ao que somos hoje e ao que o homem foi nos
últimos 100.000 anos.

Estaria a inteligência presente apenas nos seres humanos? É claro que não. A inteligência
humanas parece ser composta de um número de funções neurais correlacionadas e que
operam cooperativamente, muitas das quais já estão presentes em outros primatas, tais
como a desteridade manual, visão colorida estereoscópica altamente sofisticada e acurada,
reconhecimento e uso de símbolos complexos, coisas abstratas que representam outras)
memória de longo prazo, etc. De facto, a visão científica actual é de que existem vários
graus de complexidade de inteligência presente em mamíferos e que nós compartilhamos
com eles muitas características que anteriormente pensávamos que eram únicas ao homem
(tais como linguagem simbólica, como já foi provado que ocorre em primatas).

Os cientistas têm levantado hipóteses sobre a existência de uma "massa crítica" de


neurónios como sendo o pré-requisito para a "explosão" evolucionária da inteligência. Em
outras palavras, abaixo de um certo número de neurónios (ou tamanho do cérebro), a
inteligência é altamente limitada e não leva à invenção, imaginação, comunicação social
simbólica e outras coisas que não existem em cérebros não-humanos. Um número grande
de factores evolucionários convergentes determinaram um rápido aumento no tamanho e
complexidade do cérebro dos hominídeos e estes levaram à primeira espécie
verdadeiramente Homo. A massa crítica foi atingida e após isso foi apenas uma questão de
evolução quantitativa.

Mas o que é inteligência? Antes de embarcarmos numa viagem rumo ao entendimento de


sua evolução, devemos tentar conhecer melhor o objecto da nossa questão.

Parece que existem tantas definições de inteligência quanto existem cientistas a trabalhar
no campo. De acordo com a Enciclopédia Britânica (EB), "é a habilidade de se adaptar
efectivamente ao ambiente, seja fazendo uma mudança em nós mesmos ou mudando o
ambiente ou buscando um novo ambiente". Esta é uma definição inteligente, porque ela
incorpora os conceitos de aprendizagem (uma mudança em nós mesmos), manufactura e
abrigo (mudança do ambiente) e migração (encontrando um novo ambiente). A inteligência
é uma entidade multifactorial, envolvendo coisas tais como linguagem, pensamento,
memória, raciocínio, consciência (a percepção de si mesmo), capacidade para
aprendizagem e integração de várias modalidades sensoriais. De modo a nos adaptarmos
efectivamente, o cérebro deve usar todas estas funções. Portanto, "inteligência não é um
processo mental único, mas sim uma combinação de muitos processos mentais dirigidos à
adaptação efectiva do ambiente", prossegue a definição da EB.

Reconhecer quais são os componentes da inteligência é muito importante em termos de


montar uma "teoria da inteligência". Uma das teorias mais sólidas e interessantes foi
proposta por Sternberg (veja a seguir as componentes da inteligência) e relaciona-se
directamente ao que nós sabemos sobre a evolução. Ele propõe que a inteligência é feita
de três aspectos integrados e interdependentes: no mundo interno, as relações com o
mundo externo, as experiências que relacionam ao mundo externo e o interno.

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