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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE FORTALEZA/CE

Autos Nº ...

Gabriela, já qualificada nos autos em epígrafe a folhas ..., por


intermédio de seu advogado que a esta subscreve, cujo instrumento de
procuração segue anexo (documento 1), vem, respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, tempestivamente, apresentar RESPOSTA À
ACUSAÇÃO, com fundamento legal nos artigos 396, caput e 396-A, ambos
do Código de Processo Penal, aduzindo os seguintes argumentos de fato e
de direito.​

I - FATOS

A acusada, Gabriela, trata-se de pessoa desprovida de recursos para


subsistência, possuindo filho menor de 2 (dois) anos de idade. Expulsa de imóvel em
comunidade carente em que residia, após sofrer agressões provenientes de seu
ex-companheiro amoroso, Patrick, pai de seu filho, abrigou-se em em locais públicos
e igrejas, visto que sua família reside em outro estado.

Gabriela manteve-se sobrevivendo por meio de doações para alimentação e


subsistência. Eis que conforme observara seu filho chorando, acometido de
enfermidade pela insuficiência de sua alimentação, a ré buscou emprego e ajuda,
entretanto não os conseguiu obter, a fim de amenizar o sofrimento de seu filho.

Diante de sua penúria, não viu opção, senão, ingressar em um grande


supermercado local em busca por alimentos. Desprovida de pecúnia, subtraiu dois
pacotes de macarrão, com valor de R$18,00 (dezoito), apenas para saciar a fome de
seu dependente, tendo sido percebida pelo segurança do estabelecimento e
ocorrendo a apreensão dos alimentos.

Após os fatos, a denúncia foi oferecida e posteriormente recebida por este Ilustre
Juízo, que determinou a citação e a notificação do acusado para apresentação desta defesa
escrita.
II - DIREITO

A) DO MÉRITO

1- DO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

Conforme Art. 24 do Código de Processo Penal

“ Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. “

Trata-se de situação de estado de necessidade.

Observa-se que no presente caso, as condutas se identificam em plenitude,


cumprindo os requisitos em lei. Observado o perigo atual, diante das enfermidades advindas
de má alimentação de seu filho, sendo este o terceiro cuja proteção do direito saúde e vida
almejara-se, além da acusada em si, não ocorrendo estas por vontade própria, eis que fora
expulsa de sua residência necessitando distanciar-se pelas agressões sofridas e a
incapacidade de prover sustento próprio, havendo as tentativas de suprir a prática do furto
buscando emprego e atuando como pedinte de doações. Sendo razoável a ocorrência do
ato em detrimento do bem jurídico vida e saúde, própria e alheia.

Por estas razões, deve-se entender como causa de absolvição sumária da acusada,
conforme Art. 397, I do Código de Processo Penal

Art. 397. O juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato

2- DO EXCLUDENTE DE TIPICIDADE MATERIAL

Conforme os entendimentos dos tribunais superiores, encaixaria-se o princípio de


insignificância, por preencher os requisitos da:

1. Mínima ofensividade da conduta do agente

Observa-se que no presente caso, não foi praticado nenhum tipo violência ou ameaça em
qualquer grau.

2. Nenhuma periculosidade social da ação


Ocorre que o bem furtado, trata-se de valor ínfimo, não resultando em qualquer dano social,
ainda mais por tratar-se de um grande supermercado da região, assim sendo, não haveria
um fatídico dano e prejuízo ao estabelecimento.

3. Grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e inexpressividade da lesão jurídica


provocada.

Pela condição em que se encontrava o querelado de subnutrição, o valor irrisório furtado,


com o objetivo do próprio sustento imediato, deve entender-se que não há reprovabilidade
do comportamento pela busca da subsistência num estado de perigo de existência. O valor
do alimento furtado é inexpressivo, não havendo um real prejuízo em razão da falta do bem
subtraído e a possibilidade de ter optado por bens mais onerosos, optou-se apenas o
necessário para suprir sua necessidade imediata.

Caracterizando-se assim, o furto famélico em conformidade com julgado do STF,


Habeas Corpus 112262/MG.

“ O furto famélico subsiste com o princípio da insignificância, posto não integrarem binômio
inseparável.”

“É cediço que a) O princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as


seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma
periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d)
inexpressividade da lesão jurídica provocada”

Conforme Art. 397, III, do Código de Processo Penal

Art. 397. O juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:

III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime

Entendendo-se a possibilidade de excludente de tipicidade material.

III - PEDIDO

Ante o exposto, é a presente resposta para requerer o quanto segue:

a) requer-se a absolvição sumária da acusada, nos termos do artigo 397, I, do Código de


Processo Penal,por excludente de ilicitude.

b) Não entendendo o cabimento de excludente de ilicitude, requer-se-à absolvição sumária


da acusada, nos termos do Art. 397, III, do Código de Processo Penal, por excludente de
tipicidade material.
c) Não sendo o caso de absolvição sumária, requer a produção de provas por todos os
meios admitidos em direito e, posteriormente, seja proferida sentença absolutória consoante
os artigos 386, III, VI e VII, do CPP;

Nestes termos em que,


pede deferimento

Local e Data

Advogado, Oab

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