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Texto elaborado para analisar o caso em que um membro luterano foi impedido de participar da

Santa Ceia pelo seu pastor


Os nomes apresentados são fictícios para preservar a identidade das pessoas

Breve histórico do Problema:

Em outubro de 2019, um cartaz, contendo um versículo bíblico de uma versão bíblica católica, foi afixado
no púlpito, no interior do templo de uma congregação luterana. Este cartaz ficou cerca de um mês exposto.
Um membro idoso, entendendo que o texto não era bíblico, pois a versão era diferente da versão usada na
congregação, pediu ao pastor uma explicação.
O pastor decidiu dar a explicação ao membro na frente de 20 pessoas. A partir daí começou uma discussão
entre o pastor e o membro na frente de todos. As 20 pessoas testemunharam que tanto o membro como o
pastor falaram coisas agressivas. Contudo, o pastor nunca admitiu que tenha feito algo errado e nunca
mais aceitou ter uma conversa privada com esse membro. Algumas reuniões com as diretorias da
congregação e do distrito ocorreram para tentar resolver o problema. Mas o pastor continuou sempre firme
em sua versão que ele estava correto e o membro errado e nunca aceitou ter uma conversa com o membro.
Durante 2 anos, o membro permaneceu afastado das atividades presenciais da congregação, mas sempre
ficou acompanhando os cultos on-line.
Em janeiro de 2022, um pastor aposentado da IELB passou a frequentar como membro da congregação e
começou a fazer visitas ao membro idoso, que estava afastado. Eles conversaram muito e esse pastor disse
que falaria com o pastor da congregação para que membro e pastor pudessem ter uma conversa cristã. O
pastor da congregação continuou negando a conversa.
Em maio de 2022, o membro tomou coragem de ir a um culto. Ele tentou tomar a Santa Ceia, mas foi
impedido pelo pastor da congregação.
O membro idoso deixou o culto e algumas semanas depois disso teve um infarto e faleceu.
A família, desde então, tem solicitado ao pastor, à congregação e à direção da IELB explicações sobre
porque a Ceia foi negada ao seu ente querido. Até a data de hoje (26 Nov 22), ninguém quis dar tais
explicações.
A dúvida que fica é: por que o reverendo da congregação estava tomando a Ceia e negou isso ao membro
idoso? O pastor concedeu o perdão a si mesmo e negou ao seu membro.
Abaixo, segue um texto, mostrando que as atitudes do pastor estão em desacordo com a Bíblia e o Livro de
Concórdia.

SANTA CEIA: QUEM É INDIGNO?

Um pastor tem autoridade para impedir alguém de tomar parte na Santa Ceia?

Segundo o artigo XXVIII da Confissão de Augsburgo, são deveres de um pastor (bispo) pregar o
evangelho, perdoar pecados, julgar doutrina e rejeitar doutrina que é contrária ao evangelho, e excluir da
congregação cristã os ímpios cuja vida ímpia seja manifesta, sem emprego de poder humano, mas, apenas,
pela Palavra de Deus (pág. 57 do Livro de Concórdia).
Sobre a exclusão ou excomunhão é importante ressaltar que excomunhão verdadeira, cristã,
consiste em privar pecadores manifestos e obstinados do sacramento ou outra comunicação da igreja, até
que se emendem e evitem o pecado (IX artigo de Esmalcalde, pág. 337 do Livro de Concórdia).
Apenas pelo exposto acima já fica claro que um pastor tem autoridade para impedir que uma pessoa
que aos olhos de todos viva em pecado tome parte da Ceia. É preciso que a vida ímpia seja manifesta.
Lutero fala ainda sobre pecador obstinado, ou seja, aquele pecador que não quer desistir de sua vida ímpia.
Para que a igreja identifique e reconheça o pecado manifesto, é preciso que os líderes apresentem
diante da Igreja a acusação, confirmada por pelo menos duas testemunhas (Mt 18.16), demonstrando que o
ato praticado pelo indivíduo é de fato um pecado, mostrando claramente que o fato se constitui contra uma
Lei de Deus e dê chances para que o acusado possa se defender (lembrem-se dos julgamentos de Jesus,
Estevão e Paulo, quando eles tiveram a oportunidade de fazer sua defesa). Tudo isso quando estamos
falando de um pecado que um cristão comete publicamente contra as leis da Igreja. Quando se trata de um
pecado que é cometido contra um indivíduo, antes de tudo isso, é preciso ainda que haja primeiro o encontro
privado entre o irmão ofendido e o irmão ofensor, conforme Mt 18.15-17.
Mas é preciso que o pastor seja muito cauteloso sobre essa autoridade que tem de excluir alguém da
Ceia ou de dar qualquer outra ordem, pois os crentes têm o dever de acatar as ordens pastorais apenas
quando essas são emanadas com base na Palavra. Fora isso, resta ao crente não cumprir tais ordens (Gl 1.8).
Aos pastores e líderes da Igreja cabe ter em mente as palavras do apóstolo Paulo em 2 Co 13.10:
“Essa autoridade é para fazer vocês crescerem e não para destruí-los.” Ou seja, uma autoridade que
deve ser exercida com base na Palavra de Deus e com amor. E não baseada no achismo e autoritarismo.
Não há dúvidas que um pecador recorrente deve ser corrigido, mas é preciso que a Igreja seja
moderada nas suas ações a fim de que o pecador não fique tão triste a ponto de se desesperar; além disso, é
importante que a Igreja sempre demonstre que o ame (2 Co 2.7-8).
Aliás, é importante ressaltar que os luteranos pertencem a uma Igreja Confessional, que reconhece
a Bíblia como a Palavra infalível de Deus. Toda a Palavra e não apenas parte dela. Também reconhece o
Livro de Concórdia como um livro que deve ser consultado especialmente para podermos ter um correto
entendimento bíblico. Nenhum pastor ou membro tem o direito de ensinar ou propagar um entendimento
sobre trechos bíblicos que estão em desacordo com o Livro de Concórdia.

Quem são as pessoas indignas de receber a Santa Ceia?

a) O que dizem as Escrituras Sagradas sobre a Ceia

“Enquanto estavam comendo, Jesus pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e o deu
aos discípulos, dizendo: —Peguem e comam; isto é o meu corpo. Em seguida, pegou o cálice de
vinho e agradeceu a Deus. Depois passou o cálice aos discípulos, dizendo: —Bebam todos vocês
porque isto é o meu sangue, que é derramado em favor de muitos para o perdão dos pecados, o
sangue que garante a aliança feita por Deus com o seu povo”.
Mt 26.26-28
Jesus destinou a Ceia a todos, sem excluir ninguém. Jesus não excluiu nem Judas da Ceia
(Lc.22.20-22). Judas já estava em pecado no momento em que recebeu a Ceia, pois havia combinado com os
líderes do templo trair seu Mestre. Jesus sabia disso. Em seu coração e em seu pensamento Judas estava
vivendo em pecado no momento da Ceia, pois Jesus nos ensinou que pecamos até em pensamento. Mesmo
sabendo de tudo isso, Jesus deu a Ceia a Judas.

“De maneira que, cada vez que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a
morte do Senhor, até que ele venha. Por isso aquele que comer do pão do Senhor ou beber do seu
cálice de modo que ofenda a honra do Senhor estará pecando contra o corpo e o sangue do Senhor.
Portanto, que cada um examine a SUA consciência e então coma do pão e beba do cálice. Pois, a
pessoa que comer do pão ou beber do cálice sem reconhecer que se trata do corpo do Senhor,
estará sendo julgada ao comer e beber para o seu próprio castigo”
1 Co 11.26-29

É muito importante a leitura completa do texto 1 Co 11.19-34 para entender que muitos membros
da igreja de Corinto estavam aproveitando a Ceia para encher a barriga. Paulo alerta aos coríntios que é
preciso que as pessoas reconheçam que a Ceia é o verdadeiro corpo e sangue de Cristo e quem não
conhece isso (e todo luterano confirmado sabe disso) pode trazer castigo a si mesmo. Além disso, Paulo
ensina que cada um deve fazer seu próprio exame de consciência antes de participar da Ceia. Paulo não diz
que é preciso que exista um terceiro “julgando” a consciência do outro. Aliás, como um ser humano poderia
fazer tal julgamento? Só Deus conhece nossos corações e mentes.

“Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes
darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um
coração humilde; e vocês encontrarão descanso”.
Mt 11.28-29
Aqui vemos que Jesus mais uma vez não exclui ninguém. Todos aqueles que estão sofrendo são
chamados por Jesus. E são chamados para o arrependimento, para uma mudança de vida e para terem
conforto por meio da Palavra e dos Sacramentos. E esse chamado é feito todos os dias (2 Co 6.2) até o dia de
nossa morte ou até a vinda de Cristo. A partir daí, o justo juiz, aquele que conhece os corações, Cristo, irá
afastar os infiéis (Mt 25.41, Lc 13.27). Antes da segunda vinda de Jesus, a Igreja precisa estar apta a receber
a todos.

“ —Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!
Depois abaixou-se outra vez e continuou a escrever no chão. Quando ouviram isso, todos foram
embora, um por um, começando pelos mais velhos. Ficaram só Jesus e a mulher, e ela continuou
ali, de pé. Então Jesus endireitou o corpo e disse: —Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém
para condenar você? —Ninguém, senhor! —respondeu ela. Jesus disse: —Pois eu também não
condeno você. Vá e não peque mais!
Jo 8.7-11
O corpo e sangue de Cristo nos é oferecido para perdão dos pecados. Por isso é importante
entendermos quem merece esse perdão. Nos versículos acima, fica claro que Jesus recebeu a mulher que foi
pega em adultério, um pecado à época que levava à pena de morte. Jesus a recebeu, teve um contato
particular com ela (somente o Pastor e a ovelha) e não a condenou pelo adultério. Ou seja, a perdoou. Mas
fez a recomendação: não peque mais. Jesus acolhe o pecador. Jesus fala intimamente com o pecador. E ele
nos orienta a seguir seu exemplo (Jo 15.14). Ou seja, pastores e membros devem seguir os exemplos de
Jesus. Acolher o pecador, contudo, sem ser condescendente com o pecado.

“Vocês, autoridades, são os pastores de Israel. Ai de vocês, pois cuidam de vocês mesmos, mas
nunca tomam conta do rebanho! Vocês bebem o leite das ovelhas, usam a sua lã para fazer
roupas e matam e comem as ovelhas mais bem tratadas, porém não cuidam do rebanho. Vocês não
tratam as fracas, não curam as doentes, não fazem curativos nas machucadas, não vão buscar as
que se desviam, nem procuram as que se perdem. Pelo contrário, vocês tratam as ovelhas com
violência e crueldade. E, por não terem pastor, elas se espalharam. Animais ferozes mataram e
comeram as ovelhas. As minhas ovelhas andam perdidas pelos morros e pelas altas montanhas.
Estão espalhadas por toda parte. Ninguém busca essas ovelhas, ninguém procura encontrá-las”.
Ez 34.1-6

“Eu mesmo serei o pastor do meu rebanho e encontrarei um lugar onde as ovelhas possam
descansar. Sou eu, o SENHOR Deus, quem está falando. —Procurarei as ovelhas perdidas, trarei
de volta as que se desviaram, farei curativo nas machucadas e tratarei das doentes. Mas destruirei
as que estão gordas e fortes, porque eu sou um pastor que faz o que é certo”.
Ez 34.15-16
Esses trechos de Ezequiel 34 deixam claro que nossa missão como cristãos não é apenas acolher e
bem receber os pecadores. Vai muito além. O texto deixa claro que os verdadeiros pastores de Cristo devem
ir em busca das ovelhas perdidas e não ficarem parados esperando por elas. E muito menos expulsar uma
ovelha desgarrada quando ela voluntariamente busca sua Igreja. Cabe ressaltar que isso não é válido apenas
aos pastores luteranos, mas a todos os membros também.
Esse trecho de Ezequiel é coerente com a ordem que Jesus nos deu: “Portanto ide, fazei discípulos
de todas as nações …”(Mt 28.19), ou seja, os cristão precisam ter a iniciativa e ir ao encontro dos afastados
ou daqueles que ainda não conhecem o nosso Salvador. Também é coerente com o ensino de Jesus em Mt
28.19, quando o pastor deixa 99 ovelhas e vai atrás da ovelha perdida, tendo a oportunidade o pastor de ter
um encontro personalizado (privado) com sua ovelha, para que ele possa ouvi-la, entendê-la, curá-la,
alimentá-la, guardá-la, etc. Só por meio de uma relação privada entre pastor e membro é que um pastor pode
conhecer melhor sua ovelha e pode aconselhá-la. Do alto do púlpito um pastor não tem condições de avaliar
se os membros estão realmente compreendendo a mensagem de Deus.

“Portanto, se você estiver oferecendo no altar a sua oferta a Deus e lembrar que o seu irmão tem
alguma queixa contra você, deixe a sua oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com
o seu irmão. Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus”.
Mt 5.23-24.
Apesar do trecho acima não falar diretamente sobre a Ceia, ele fala sobre a necessidade de se
reconciliar com o irmão antes de pedir perdão de seus pecados. Como a Ceia também oferece perdão de
pecados, é importante que o cristão siga essas orientações antes de se apresentar à Ceia do Senhor. Contudo,
o trecho não sugere a figura de um sacerdote que vai examinar isso e impedir que uma pessoa ofereça a sua
oferta. Mais uma vez aqui fica subentendido que o seguidor de Cristo deve fazer seu próprio exame de
consciência, não cabendo a um terceiro fazer essa fiscalização.
Falando especificamente sobre o problema ocorrido entre meu amado amigo e o P. Arnaldo. É
importante ressaltar que por diversas vezes meu amado amigo tentou se reconciliar com o Pastor. Ele sempre
deixou claro que esperava por uma conversa pessoal com o Pastor. Eu mesmo deixei isso claro ao P.
Arnaldo, telefonando para ele em janeiro de 2020, tendo como testemunha a sra. Rosaura. Eu disse ao pastor
que meu amado amigo queria falar com ele. Mas o pastor se negou. Ele disse que era um assunto a ser
tratado pela Diretoria. Por outras vezes eu escrevi à Diretoria e disse em reuniões que meu amado amigo
ansiava por esse encontro pessoal. A sra Isadora e o Pastor Pedro também conversaram com o P. Arnaldo e
pediram para ele conversar com meu amado amigo. Mas sempre foi negado uma conversa mais privada.
Houve por parte da Diretoria da Congregação e do Distrito tentativas de resolver a situação, mas
sempre dentro um formalismo, na condição de juízes: diretoria plena com secretário redigindo ata, ouvindo
tudo sem dar opinião e no fim impondo uma decisão sem base bíblica (vide a carta que a Diretoria de
Cafarnaum enviou a mim, nos acusando de cometer pecados e irregularidades, sem apontar quais foram
nossas falhas, quais foram as Leis de Deus que desrespeitamos, sem nos dar direito à ampla defesa, de
termos acesso aos áudios das reuniões, às atas).
É importante lembrar um trecho da carta enviada a mim pela Diretoria de Cafarnaum, assessorada
pelo Pastor Arnaldo, tratando sobre o assunto do coral: “Instar que você mostre aos seus amado amigo e irmãos
as irregularidades cometidas por vocês, para que eles procurem regularizar sua situação na congregação de
Cafarnaum, desculpando-se por seus exageros e que, uma vez exortados, continuem congregando conosco na
paróquia Aleluia, atendidos pelo pastor devidamente chamado para tal;”
Foram acusações sobre irregularidades no mundo do subjetivismo. Não foram explicitadas as
irregularidades e pecados e nem apresentaram testemunhas que confirmassem isso. Não foi dado direito de
contra argumentar. Ou seja, uma decisão julgadora às margens das Escrituras.
“desculpando-se por seus exageros e que, uma vez exortados, continuem congregando conosco na paróquia
Aleluia”.
Nessa frase acima fica claro que a Diretoria de Cafarnaum impôs uma condição para que meu
amado amigo e irmãos pudessem se congregar, ou seja, que eles se desculpassem e fossem exortados. Em
outro trecho, a Diretoria destaca que no caso da discussão do coral o P. Arnaldo agiu de forma 100% correta
e que apenas meu amado amigo errou. Isso, mesmo tendo 20 testemunhas que presenciaram que as duas
partes se exaltaram. Quase 3 anos depois da discussão, tanto o pastor Arnaldo como o meu amado amigo
reconheceram seus exageros e pediram perdão um ao outro. Ou seja, o entendimento da Diretoria à época da
carta estava equivocado.
O que o P. Arnaldo e Diretoria fizeram quando enviaram a carta em setembro de 2020 deixou meu
amado amigo numa situação bem complicada. Eles queriam que meu amigo mentisse a ele mesmo e diante
de toda igreja que ele era o único culpado pelo problema ocorrido no coral. Um cristão jamais deve mentir.
Mas ainda sobre Mt 5.23-24, a dúvida que fica é por que o P. Arnaldo estava tomando a Sta Ceia e
proibiu meu amado amigo de tomar. Já que o problema ainda não tinha sido resolvido entre ambos, por que
o P. Arnaldo concedeu a si mesmo o perdão de Deus e negou a meu amado amigo? Por que o P. Arnaldo
negou-se a ser o Pastor de meu amado amigo? Quando um pastor deixa de se comunicar de forma privada
com seu membro, ele deixa de exercer sua função de pastor (conforme a Bíblia), restando apenas as funções
sacerdotais.
Soube que houve uma Assembléia que esse assunto foi tratado, mas até o momento a Diretoria de
Cafarnaum tem se negado a dar uma cópia dessa reunião à Cleusa (membro da congregação e filha do
membro vítima) para podermos ter ideia do que foi tratado. Será que foi a Assembléia que promoveu o
perdão do P. Arnaldo e deu a autorização para ele tomar a Ceia? A Assembléia tem autoridade para isso? E
por que não foi dada a mesma autorização a meu amado amigo? Aliás, nossa família nem foi comunicada
sobre isso. Todos sabiam que minha família não estava frequentando os cultos por causa do problema ainda
não resolvido. Custava o Pastor ou algum membro da Diretoria ter nos avisado? Será que não faltou
transparência nesse processo?
Soube que o Sr Oswaldo fez um comentário na Assembléia, afirmando que Pastor e meu amado amigo
tinham errado e não apenas meu amado amigo. Mas isso foi ignorado pela diretoria e pelo Conselheiro
Distrital. O Sr Oswaldo foi uma testemunha ocular da discussão e é uma pessoa com grande conhecimento
da Palavra. Por que não levar em conta o que ele disse? Espero que esses fatos tenham sido registrados em
ata e que a Diretoria de Cafarnaum faça a sua obrigação em fornecer uma cópia desta ata à minha irmã. Todo
membro tem o direito de ter acesso a ata. E as quase 20 testemunhas que viram a discussão no coral e viram
que ambos erraram naquele dia e não apenas meu amado amigo, por que se calaram na assembleia?
Fora tudo isso, ao longo desses 3 anos tivemos a pandemia e alguns pequenos problemas de saúde do
meu amado amigo que dificultaram a comunicação entre as partes. Então, não podemos usar Mt 5.23-24 de
forma categórica, afirmando que meu amado amigo deixou de tentar seguir essa orientação. O pastor
Arnaldo também deixou e mesmo assim estava tomando a Ceia. Aliás, como pastor, a obrigação de procurar
meu amado amigo era dele como já explicado (vide Ezequiel 34).

b) O que diz o Livro de Concórdia

Lembremos das palavras de Lutero sobre o Sacramento do Altar no Catecismo Menor: “Mas
verdadeiramente digno e bem preparado é aquele que tem fé nestas palavras: “Dado em favor de vós” e
“derramado para a remissão dos pecados”. Aquele, porém, que não crê nessas palavras ou delas duvida é
indigno e não está preparado, pois as palavras “por vós” exigem corações verdadeiramente crentes”.
Lutero deixa claro que quem tem fé está bem preparado.
Já no Catecismo Maior Lutero diz que “o sacramento não se fundamenta em nossa dignidade. Pois
não nos batizamos como tais que sejam dignos e santos; nem nos confessamos como se fôssemos puro e sem
pecado, mas ao contrário, como pobres e míseros homens e, precisamente , por sermos indignos. A menos
que se trate de alguém que não deseja graça e absolvição e não tem a intenção de corrigir-se. Aquele,
porém, que gostaria de alcançar graça e consolo deve impelir a si mesmo e a ninguém permitir que o
intimide. Falará assim: “Muito quisera ser digno, mas não venho baseado em dignidade, porém firmado
em Tua Palavra, porque Tu o ordenaste; e venho como alguém que gostaria de ser teu discípulo; minha
dignidade que fique onde puder”.
Lutero deixa claro que todos nós somos indignos diante de Deus pela nossa condição pecaminosa e
isso não nos exclui do direito de sermos batizados e tomarmos a Ceia. Apenas as pessoas que não querem a
graça de Deus e seu perdão é que são indignos de receber a Ceia. O trecho acima em negrito deixa claro que
todo luterano confirmado não deve permitir que ninguém o intimide ou o proíba de ter acesso à Ceia.
Já na Fórmula de Concórdia encontramos o que segue: “Cremos, ensinamos e confessamos também
que existe apenas uma espécie de convivas indignos, a saber, os que não crêem. A respeito deles está
escrito: “O que não crê já está julgado (Jo 3.18). Por uso indigno do santo sacramento, esse juízo cresce,
torna-se maior e é agravado (1 Co 11.27,29)”. E ainda: “Cremos, ensinamos e confessamos que nenhum
crente verdadeiro, enquanto retém a fé viva, por fraco que seja, recebe a Santa Ceia para o juízo. A Santa
Ceia foi instituída especialmente para cristãos fracos na fé, contudo, penitentes para consolo e
fortalecimento de sua débil fé”.
Mais uma vez o Livro de Concórdia deixa claro que apenas os não crentes é que são indignos de
receber a ceia. E ainda, nenhum crente verdadeiro, enquanto retém a fé viva, por fraco que seja, recebe a
Santa Ceia para o juízo.

Conclusão

Todos nós luteranos sabemos que a Igreja Luterana não permite que não membros tomem a Ceia.
Isso é baseado especialmente nas Palavras de Paulo em 1 Co 11.26-29, em que o apóstolo afirma que é
preciso que os cristãos tenham pleno conhecimento que o pão e vinho não são elementos quaisquer, mas sim
o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, todo luterano passa por um prévio estudo
(confirmação ou profissão de fé) para que possa conhecer corretamente a doutrina da Igreja. A permissão de
acesso à Ceia é negada ao não membro apenas em virtude da dúvida que fica se essa pessoa tem ou não o
conhecimento verdadeiro sobre a Ceia. A negação não é por causa da dignidade da pessoa e não é porque
essa é menos virtuosa que um luterano.
A maioria dos textos bíblicos apresentados no início deste texto deixam claro que a Ceia promove o
perdão dos nossos pecados e também nos dá oportunidade de testemunharmos nossa fé em Cristo. Além
disso, os textos deixam claro que Jesus convida a todos nós pecadores. Jesus não faz distinção entre nós,
pois ninguém se apresenta diante de Deus de forma superior a outros, pois ao cometer um único pecado essa
pessoa passa a ter a mesma condição de outra pessoa que comete milhões de pecados. Jesus não chama
apenas os “dignos” para sua Ceia, mas a todos, assim como fez com Judas.
Os textos bíblicos deixam bem claro também que a Igreja precisa receber a todos. Mas não só isso.
A Igreja tem o dever de ir ao encontro dos afastados e também dos que ainda não conhecem Cristo.
Em relação especificamente ao fato de um pastor negar a Ceia a um membro da Igreja Luterana,
considerando o fato que esse membro não esteja vivendo uma vida na devassidão aos olhos de todos, não
seja um pecador contumaz aos olhos de todos e que não se nega publicamente a reconhecer Cristo como seu
salvador, e que ,ainda, tenha tido uma desavença pessoal no passado com um irmão ainda não resolvida, o
único texto bíblico que gera uma ligeira dúvida sobre se o pastor deve ou não a negar a ceia é o de Mt
5.23-24. Este texto deixa claro que quando temos um problema com alguém, devemos tentar a reconciliação
antes de nos apresentar diante de Deus. No caso específico de meu amado amigo e P. Arnaldo houve uma
tentativa de reconciliação por parte dos dois, houve a boa intenção de tentar resolver o problema pelas duas
partes. Mas uma parte queria que a conversa fosse privada (conforme Mt 18) e a outra que a conversa fosse
com a presença de membros da Diretoria. Houve falhas também por parte da Diretoria de Cafarnaum e
Diretoria Distrital, houve falhas de minha parte ao tentar ajudar na resolução desse problema. Talvez, por
isso a reconciliação entre meu amado amigo e P. Arnaldo não ocorreu antes. Assim, não é trivial usar Mt
5.23-24 como trecho bíblico decisivo para essa questão. Mesmo porque esse trecho não concede
autoridade ao sacerdote de impedir uma oferta de uma pessoa que ainda não resolveu o problema com seu
irmão. Isso é uma questão de exame da própria consciência e que apenas Deus pode julgar.
Para interpretarmos corretamente um trecho bíblico, é necessário termos uma visão mais ampla
sobre a Bíblia para tentarmos encontrar o real significado do trecho. Falando apenas sobre a Bíblia e sobre a
proibição de alguém tomar a Ceia, vemos que a maioria dos trechos apresentados neste texto não dão
permissão a um pastor negar a Ceia a um membro luterano (alguém que conhece o significado do pão e
vinho), pois Jesus concede sua graça e perdão a todos. Então, ao meditarmos sobre Mt 5.23-24 temos que ter
em mente que não há um ensinamento nesse texto sobre o direito de um pastor negar a Ceia a um
membro. Todos os demais textos apresentados deixam evidente que Cristo recebe a todos.
Mas considerando que ainda não haja clareza sobre isso à luz do textos bíblicos e que ainda amado
amigorem dúvidas, como LUTERANOS, temos o dever de buscar mais clareza no Livro de Concórdia. E
nem mesmo o Presidente da IELB pode ir de encontro a esses ensinamentos, pois nesse caso estaríamos
deixando de ser luteranos, estaríamos deixando de ser uma Igreja Confessional.
E quando vamos à fonte dos ensinos de Lutero e outros amado amigos da Igreja Luterana, fica
evidente que um pastor não pode negar a Ceia a alguém que tenha fé, que sabe que o vinho e o pão são
o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, que busca pelo perdão de Cristo e que não vive uma vida na
devassidão, debochando de Deus.

Aquele, porém, que gostaria de alcançar graça e consolo deve impelir a si mesmo e a ninguém permitir que
o intimide. Falará assim: “Muito quisera ser digno, mas não venho baseado em dignidade, porém firmado em Tua
Palavra, porque Tu o ordenaste; e venho como alguém que gostaria de ser teu discípulo; minha dignidade que fique
onde puder” .
Ou seja, o próprio Lutero deixa claro que o cristão deve fazer de tudo para participar da Ceia do
Senhor e não permitir que ninguém lhe negue esse direito.

Assim, estou convencido, com base nas Escrituras e no Livro de Concórdia, de que o Pastor Arnaldo
errou ao negar a Ceia a meu amado amigo. E uma vez que ele não reconheça seu erro e não peça perdão à
Congregação ou que não apresente à minha família e à Congregação suas razões por ter negado à Ceia ao
meu amado amigo, com base nas Escrituras e no Livro de Concórdia, ele leva toda a congregação ao erro,
colaborando com um ensino não adequado à Doutrina Luterana.

Campinas, 26 de novembro de 2022.

Danilo Habermann

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