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UNIRIO

Civilização Bizantina
Lucca Dutra Santos de Castro
27/01/2022

Conflitos e Campanhas militares no reinado de Justiniano, o Grande


(527-565)

Flavius Petrus Sabbatius Iustinianus (posteriormente também Augustus) não


possuía nenhuma predestinação de nascença ao trono bizantino. Nasceu na região da
atual fronteira entre Macedônia e Sérvia, (à época a região era conhecida como Ilíria) em
482. De origem camponesa, teve ascensão ao trono graças a seu tio e predecessor,
Justino I. Também de origem camponesa, Justino sucedeu Anastácio I em 518, tendo sido
escolhido pelo senado e exército por sua reputação de comandante e soldado. Com a
ascensão de seu tio, Justiniano se tornou um político importante no império, tendo sido
cônsul e Comes (conde), mais tarde, já no último ano de reinado de seu tio, foi nomeado
co-imperador, o sucedendo completamente em 527, após sua morte.
Segundo relatos de contemporâneos, entre os quais Procópio de Cesaréia,
Justiniano era um homem ambicioso, dedicado ao extremo no exercício de seu governo,
chegou inclusive a ser conhecido como “o imperador que nunca dorme”, era também
autoritário, firme e gozava de seu prestígio imperial muito bem. Justiniano recebeu
também uma educação rigorosa para a época, (diferentemente de seu tio Justino) se
tornando um político hábil e um versado em teologia.
O início do reinado de Justiniano começou conturbado, o recém imperador herdou
um conflito com os Sassânidas que já ocorria desde os tempos do imperador Anastácio,
com certas pausas entre os conflitos, logo, desde o ano um, o reinado de Justiniano
começou em guerra. O imperador enviou seu melhor general, Belisário para o combate
contra os persas, a campanha durou aproximadamente quatro anos, o que não agradou
Justiniano, pois sua atenção estava voltada para o ocidente, onde buscava reconquistar
as antigas terras ocidentais do império romano (Renovatio Imperii).
Fora de domínio imperial havia meio século, a parte ocidental não havia sido
governada por nenhum imperador desde 476, ano em que Zenão I, imperador no oriente,
recebeu uma delegação enviada por Odoacro, que havia derrubado Rômulo Augusto,
imperador no ocidente e buscava reconhecer somente a autoridade do imperador em
Constantinopla, declarando que não havia a necessidade de um imperador no ocidente e
que ele mesmo poderia representar a autoridade imperial. A reação de Zenão, anos mais
tarde, foi de enviar os Ostrogodos, povo foederati (federado) a Ravena para derrubar
Odoacro, o rei ostrogodo, Teodorico foi nomeado magister militum e cumpriu seu papel,
se tornando representante do imperador romano na região. Apesar de um acordo entre
Teodorico e Zenão, na prática, o domínio do ocidente deixou de ser romano com a queda
de Rômulo Augusto e se manteve assim até o reinado de Justiniano, que buscou
revitalizar o império romano como um todo, reconquistando os territórios perdidos, afinal,
à época se enxergava os domínios no ocidente como de direito romano, mas governado
por outros, e o império em Bizâncio era o império romano, não era visto como um Estado
à parte, o império ainda existia, apenas com parte do território perdido.
Assim sendo, com tal objetivo em mente, Justiniano necessitava de paz no oriente
próximo para dar início a sua reconquista do ocidente. Em 532, apressado para cessar o
conflito com os persas, Justiniano negociou com o xá Cosroés uma “paz eterna”, o que se
mostraria não mais que uma trégua, mas que seria o suficiente para dar início à sua
campanha no ocidente.
Além do motivo geopolítico de se enxergarem como soberanos da Europa
ocidental, a reconquista empreendida por Justiniano tinha também um motivo religioso. A
igreja que o império seguia, respeitava as cláusulas do Concílio de Nicéia (325), que
repudiava o arianismo (corrente religiosa estabelecida por Ário, Diácono de Alexandria), o
qual dizia que a natureza divina de Cristo era inferior a Deus, sendo o pai (Deus) o
primeiro e o filho (Jesus) seu inferior, assim negando a santíssima Trindade. Muitas das
tribos germânicas se converteram ao cristianismo ariano, já que o católico romano era
muito ligado à autoridade imperial, a qual os germânicos procuravam se afastar, dessa
forma, uma guerra contra eles era também uma guerra contra a heresia de Ário
condenada em Nicéia séculos antes.
O começo da reconquista do ocidente se deu um ano após a paz com os
sassânidas, começando no norte da África que estava sobre domínio Vândalo há um
século. O pretexto para a invasão do reino Vândalo foi a usurpação do trono por Gelimer,
que depôs seu primo, rei Hilderico em 531. Com Belisário sendo enviado ao norte da
África, tem início a guerra Vândala.
O reino Vândalo se assemelhava em termos de território ao antigo império de
Cartago, inclusive esta era sua capital, sua extensão ia desde a atual Tunísia, até as ilhas
da Sicília, Córsega, Sardenha e Baleares.
Belisário lidera as forças bizantinas e realiza uma campanha eficaz contra Gelimer,
segundo as fontes de Procópio de Cesaréia em sua obra “História das Guerras”, cujo livro
escreveu baseado em seu testemunho acompanhando Belisário em suas campanhas, as
forças romanas na guerra vândala eram surpreendentemente pequenas, não mais que
15.000 homens, 10.000 da infantaria, sendo metade romana e metade federada (incluindo
hunos e hérulos).
O conflito no norte da África dura até 534, em apenas um ano as forças de
Belisário se mostram vitoriosas, após a queda de Cartago, Gelimer capitula. Em seguida à
conquista, os territórios do reino vândalo são incorporados ao império, Salomão, um
general bizantino, sucede Belisário no comando das tropas no norte da África, ficando
então como governador. A situação na região se torna instável com rebeliões berberes,
assim, Salomão é vencido e morto em 544. A situação só se estabiliza na região em 548,
onde João Toglita, outro general bizantino retoma a província e mantém o norte da África
(com exceção do atual Marrocos), sob domínio romano.
Um evento de extrema importância para a história bizantina que aconteceu um ano
antes do início da guerra vândala e que pode configurar um conflito ou ato bélico foi a
revolta de Nika, ocorrida em 532. A revolta teve início no hipódromo de Constantinopla,
um importante edifício para a cidade, no local, não haviam apenas corridas e outros
eventos esportivos, era também um lugar de importância para a política no império. O
hipódromo era junto ao palácio, de forma que o imperador pudesse acessar sua cabine no
hipódromo por dentro do palácio, nesse local, a população se reunia para ouvir o
imperador, para aclamar um se fosse o caso, para participar da vida política na cidade…
Um local como esse teriam grupos de pessoas ligados não só às corridas de cavalo,
como também à política em si, dessa forma, as torcidas também funcionavam como
partidos políticos, cada uma tinha seus ideais. As principais facções eram os Verdes e os
Azuis, os últimos, representavam uma população mais rica e tradicional de
Constantinopla, englobavam membros da igreja e proprietários rurais, geralmente
recebiam apoio dos nobres e imperadores por serem um “partido” das classes mais altas.
Já os Verdes, representavam uma camada mais popular, com comerciantes e artesãos
em suas fileiras, eram também defensores de uma participação democrática e eram
monofisistas (mono-única, physis-natureza), ou seja, aceitavam apenas uma natureza em
Cristo, a divina, sendo eles monofisistas, os Azuis eram contrários ao monofisismo, assim
como o próprio Justiniano, porém, o imperador não buscou apoiar um grupo ou outro.
De acordo com certas fontes, a revolta teve início após uma disputa entre facções
acerca do resultado de uma corrida no hipódromo, alguns indivíduos foram presos e
assim sendo, foram condenados. Esses indivíduos eram membros tanto dos Azuis quanto
dos Verdes, fazendo com que as duas facções, sendo influentes, pressionassem para a
absolvição dos presos. O processo se desenrolou sem resultados concretos, fazendo com
que a população se revoltasse com a autoridade do governo, a revolta parte também de
um descontentamento popular acerca dos altos impostos cobrados. Como Justiniano não
declarou apoio a nenhuma das facções, se tornou impopular com as duas, tanto ele como
seus ministros Triboniano e João da Capadócia. Com tais razões, a população se
revoltou, os Azuis e Verdes se uniram e logo causaram desordem na capital do império, a
população saiu às ruas bradando “Nika”, palavra grega para “vitória” ou “sê vitorioso”,
batizando assim o nome da revolta.
Constantinopla foi saqueada por seis dias, edifícios públicos, como o prédio do
senado, foram queimados, a cidade foi pilhada e o caos estava instaurado, nem com a
promessa da destituição dos dois ministros impopulares a multidão se acalmou,
Justiniano cogita a fuga, porém sua esposa, a imperatriz Theodora o convence do
contrário.
Casada com Justiniano desde 525, Theodora é uma personagem bastante atuante
no reinado de seu marido, participava de decisões políticas e, como no episódio em
questão, foi crucial para manter a autoridade imperial na cidade e impedir que esta caísse
nas mãos de opositores. Theodora teve uma origem adversa, embora as fontes divirjam,
muitas apontam que tenha sido filha de um domador de ursos para o circo e que por
anos, tenha seguido a carreira de atriz, o que na época era uma profissão mal vista,
ligada ao ofício da prostituição, fazendo com que a imperatriz tenha sido duramente
criticada por seus opositores, inclusive por Procópio de Cesaréia em sua obra “História
Secreta”, descoberta apenas no século XVII
Qualquer que tenha sido sua origem, seu papel presente no governo do marido, em
especial no episódio da revolta de Nika se fez imprescindível, pois segundo Theodora: “do
púrpura se faz uma fina mortalha”, evidenciando que era melhor morrer nas cores
imperiais, lutando pelo trono do que morrer no exílio, sem amparo, sem poder. Justiniano
então, decide ficar e proporcionar a esta situação uma solução militar. Sob o comando de
Belisário, que entrou com seu exército na cidade, as tropas imperiais prenderam os
revoltosos no hipódromo, e num conflito sangrento, os massacrou, causando por volta de
30.000 mortos e encerrando a rebelião.
Após a revolta, muitos monumentos ficaram destruídos, sendo assim, Justiniano se
empenhou em reconstruir a cidade, onde realizou diversas obras públicas, entre elas a
reconstrução do senado e, a mais importante de todas, a reconstrução da catedral da
cidade, que foi batizada de Hagia Sophia (sabedoria divina) e é um dos principais edifícios
de toda a idade média, sendo a sede do patriarcado de Constantinopla. Hagia Sophia fez
parte de uma série de obras públicas realizadas no reinado de Justiniano e relatadas por
Procópio de Cesaréia em sua obra “Sobre os Edifícios”.
Após a campanha contra os vândalos, Justiniano direcionou seu exército para a
península itálica, dominada pelos ostrogodos. O pretexto para a invasão, foi o assassinato
de Amalasunta, sucessora de seu pai, rei Teodorico, o Grande, por seu marido Teodato.
Amalasunta possuía relações amistosas com Justiniano desde que este chegou ao poder
em 527, inclusive havendo uma negociação entre os dois líderes para a cessão da
península ao império. A posição pró bizantina de Amalasunta gerou uma oposição interna
na aristocracia gótica, que ao se aliar com o marido de Amalasunta, Teodato, promoveu
um golpe, derrubando a regente e a exilando, cometendo o assassinato mais tarde
naquele mesmo ano de 535.
Justiniano, aliado de Amalasunta e com o objetivo de reconquistar a península
itálica para o império, enviou seu exército sob o comando de Belisário para o combate. A
força inicial era de apenas 10.000 homens, sendo o exército reforçado em 537 e 538
chegando a 24.000 homens de contingente.
O início do conflito foi favorável a Belisário que conquistou Nápoles, Roma e a
capital Ravena, trazendo novamente tais importantes cidades de volta ao império. Em
540, Belisário levou o novo rei ostrogodo, Vítiges como prisioneiro para Constantinopla, a
guerra estava, aparentemente ganha. Porém, uma nova resistência ostrogótica se
levantou, dessa vez sobre a liderança do rei Tótila, que se provou um exímio comandante,
vencendo o exército bizantino que já estava fatigado devido aos anos de conflito, às
deserções em massa e à peste.
A peste de Justiniano como foi apelidada, teve seu surto inicial no início da década
de 540, semelhante à peste bubônica que assolaria a Europa séculos mais tarde, esta foi
igualmente letal. Apesar das fontes divergirem e apresentarem uma margem de número
de óbitos muito grande, a peste teria vitimado cerca de 50 a 100 milhões de pessoas, um
número muito alto levando em conta a população europeia naquela época. Tendo
inclusive o próprio imperador sido vítima dessa doença, embora tenha sobrevivido. O
império entrou em crise, tanto econômica quanto social, as campanhas militares de
Justiniano foram duramente afetadas, pois a peste se espalhou para a Europa ocidental,
causando um grande número de mortos.
A guerra na Itália duraria até 553, tendo sido extremamente custosa em vidas e
recursos para Bizâncio. Devido às derrotas sucessivas para Tótila, Justiniano destitui
Belisário do comando das tropas na Itália, (provavelmente convocando-o de volta para se
preparar para um conflito com os persas que já se anunciava) substituindo-o por Narses,
que recebeu um reforço de cerca de 30.000 homens. Durante a batalha de Tagina, em
Julho de 552, Narses derrotou o exército de Tótila, este morrendo em batalha. Os
ostrogodos resistiriam por mais um ano, sob a liderança de um novo rei, Teia, que após
um cerco a Roma, foi emboscado na Campânia em uma batalha que recebeu o nome de
“batalha do Vesúvio”, onde foi derrotado e morto. Sendo assim, Narses conquistou uma
vitória definitiva para Bizâncio na península itálica, pondo fim ao duro conflito que já
durava quase duas décadas.
Outro teatro da guerra justiniana foi a Hispânia, à época governada pelos
Visigodos, estes que passavam por dificuldades internas e externas. O reino Visigodo
inicialmente se estendia por toda a península Ibérica até a maior parte da Gália (com
exceção do norte), atual França, porém, foram expulsos desta pelos Francos, outro povo
germânico que se expandia do norte da atual França e a atual Bélgica. Liderados por
Clóvis, apontado como primeiro rei francês da dinastia merovíngia, os Francos
empurraram os Visigodos para além da Aquitânia e dos Pirineus, limitando-os à península
Ibérica. Perdendo território e sofrendo diversas derrotas para os Francos, os Visigodos
também sofriam de problemas internos, pois a população de tradição e cultura católica
romana que ainda vivia na península Ibérica os viam como invasores, por serem
germânicos e heréticos por serem arianos, tal cenário possibilitou uma vantagem para
uma retomada bizantina.
A invasão da Hispânia propriamente dita se deu a partir de 550, onde as tropas
bizantinas cruzaram o estreito de Gibraltar (que ainda não possuía esse nome) e tomaram
o território de Cádiz a Valença, entretanto, não foi o primeiro contato bélico entre Bizâncio
e Toledo. Durante a campanha de Belisário no norte da África, o reino Vândalo pressionou
o reino Visigodo para o apoio com tropas, e mais tarde, no ano de 548, a cidade de
Septem (Ceuta) no norte da África de domínio Visigodo foi atacada. Segundo o Bispo
Isidoro de Sevilha, autor de Historiae Gothorum, os bizantinos atacaram de forma astuta
em um domingo, já que era um dia sagrado onde não se promoviam movimentos
belicosos, um ataque nesse dia seria um elemento surpresa. Assim foi feito, os bizantinos
tomaram a cidade e foram chamados de heréticos pelos Visigodos arianos por terem
atacado em um dia santo.
Dois anos após a tomada de Sceptem foi feito a invasão da Hispânia, o pretexto
novamente foi motivado por um conflito interno. Em 549 subiu ao trono Visigodo Agila,
Atanagildo, um nobre e opositor a Agila requereu ao império tropas para tomar o poder,
sabendo da política expansionista de Bizâncio. Houve então a invasão, as tropas
bizantinas tiveram êxito em tomar o sul da Hispânia, derrubar Agila e empossar Atanagildo
no trono.
Porém, o conflito não cessou, Atanagildo se mostrou descontente com a presença
bizantina, pelo fato de não terem se retirado após o fim do conflito, e sim absorvido o sul
da Hispânia ao exarcado de Cartago. O fato de serem uma autoridade imperial e católica
acolheu os habitantes Hispânicos não germânicos de fé católica que ainda habitavam a
península, que se refugiaram dentro do limes do exarcado bizantino.
A guerra então, reacendeu, Atanagildo atacou os bizantinos, buscando expulsá-los
da península. A balança do conflito inicialmente pendeu para o lado Visigodo, com
algumas vitórias consideráveis para Atanagildo, porém com o tempo as tropas de Bizâncio
conseguiram defender o exarcado de Cartado e mantê-lo na Hispânia. Atanagildo
enfrentou um estado de guerra quase que constante com o império até a sua morte em
567, onde tentou em vão expulsar os bizantinos da Hispânia e cessar o conflito interno
entre católicos Hispânicos de origem romana e godos arianos.
A guerra de Renovatio Imperii empreendida por Justiniano marcou seu reinado,
porém o império não só atacou e se expandiu nesse período, também se defendeu. Um
caso de defesa foi contra seus rivais de longa data, os persas sassânidas, que
aproveitaram as longas campanhas no ocidente que enfraqueceram o império, para
quebrar a “paz eterna” feita em 532, apenas oito anos depois, os persas invadiram a Síria,
abrindo passagem para o mediterrâneo. Justiniano preferindo livrar-se do conflito no
oriente para dar enfoque às conquistas no ocidente, comprou a paz com os persas
diversas vezes com o pesado tributo de duas mil libras de ouro por ano. A paz definitiva
com os sassânidas veio apenas em 562, no final do reinado de Justiniano, onde um
tratado foi realizado. Nesse tratado a paz estaria assinada por cinquenta anos, Bizâncio
deveria pagar tributo e não fazer qualquer propaganda cristã em território persa, estes
que recuaram da região do Lázio, antiga Colóquida, importante região que, a presença
persa em tal lugar ameaçava o império.
As fronteiras do império também foram ameaçadas nos Balcãs, hunos e eslavos
empreendiam diversos saques e incursões ao território bizantino. Era hábito esses povos
descerem a península balcânica e serem então expulsos pelas tropas bizantinas
presentes em fortes nos limes (estes construídos a mando de Justiniano em suas obras
públicas) onde realizavam a segurança das fronteiras. Os saques à Grécia e à Trácia
ocorriam anualmente, os hunos por sua vez eram repelidos mais facilmente, porém, os
eslavos eram mais inquietantes, o objetivo desse povo era conseguir uma conexão com o
mediterrâneo, logo escolheram a cidade de Tessalônica, na Grécia. Tessalônica estava se
tornando, no período Justiniano, a segunda maior cidade do império, ficando atrás apenas
da própria Constantinopla.
Os eslavos eram rechaçados pelos generais bizantinos, mas nunca destruídos, no
ano seguinte reapareciam sempre em número maior e oferecendo uma maior dificuldade
para Bizâncio. A ameaça eslava à Constantinopla tinha apenas o seu início no período
justiniano, em períodos posteriores os saques ameaçarão até a capital do império.
Segundo Alexander Vasiliev, historiador da civilização bizantina, a época de Justiniano
"assentou os fundamentos do problema eslavo nos Balcãs".
Uma campanha extensa, longa e ambiciosa no ocidente e uma defesa penosa e
custosa (de forma literal) no oriente, bem como reformas administrativas, jurídicas e o
empreendimento de obras públicas proporcionaram ao império uma crise econômica. O
historiador Procópio de Cesaréia percebeu a ruína do tesouro bizantino devido às
diversas ambições ilusórias de Justiniano. Os territórios a ocidentes não puderam ser
mantidos por muito tempo, logo, os povos germânicos conquistaram novamente os
territórios perdidos. Na virada para o século VII, os territórios na Hispânia foram perdidos,
os eslavos se apossaram da maior parte dos Balcãs, os Lombardos invadiram a península
itálica e deixaram apenas alguns domínios bizantinos no sul da península e no centro,
território do exarcado de Ravena, reduto ocidental da autoridade do império e da igreja de
Constantinopla. No século seguinte a Justiniano, a expansão do islã transformou
gravemente as fronteiras do império, tomando seus territórios no levante, Síria, Palestina,
Egito e o norte da África, território do Exarcado de Cartago.
O período justiniano marca o último respiro da civilização romana clássica, o
imperador Justiniano fora o último de origem latina, a falar latim e a redigir seu código de
leis em latim, em seguida o grego tomou conta e o império se tornou cada vez mais
distante do seu período clássico onde o mediterrâneo era não mais que um lago romano.
Os territórios a ocidente, alvos da ambição de Justiniano em trazer a autoridade imperial
de volta ao oeste, custaram muito em campanha e mal conseguiram ser mantidos e
governados após a morte de Justiniano e no reinado de seus sucessores. Com a exceção
de seus domínios na península itálica e nas grandes ilhas do mediterrâneo, o império era
somente oriental, e posteriormente limitou-se à Anatólia até sua derrocada final na mão
dos turcos otomanos em 1453.

Referências Bibliográficas:

- RAVEGNANI, Giorgio (2004). Os bizantinos na Itália. Bolonha: il Mulino.


- RAVEGNANI, Giorgio (2009). Soldados e guerra a Bizâncio. O século de Justiniano.
Bolonha: il Mulino.
- LEMERLE, Paul. História de Bizâncio. SP. Martins Fontes, 1991.
- VRYONIS, Speros (1967). Bizâncio e Europa. Lisboa: Editorial Verbo, 1967.
- VALENTE, Cynthia. As Relações Políticas Entre o Império Bizantino e o Reino Visigodo
de Toledo Durante o Século VI. Revista Mosaico v.11, p.123-130, 2018.

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