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ESCOLA SECUNDÁRIA DE SANTA MARIA MAIOR

“A FÍSICA DA LUA E DAS MARÉS”

DISCIPLINA: FÍSICO-QUÍMICA

PROFESSOR: JOSÉ MANUEL SANTOS


ELABORADO POR: CAROLINA JORGE – Nº2 |CAROLINA POMBAL – Nº3 | LEONOR FERNANDES – Nº11
ÍNDICE

Produção escrita…………………………………………………………………………………………………………..3

Anexos..……………………………………………………………………………………………………….………………7

Fontes de Informação…………………………………………………………………………………………….….10
A física, para além de ser uma disciplina multifacetada e objeto de estudo das mentes mais brilhantes da
história, é o que explica a grande maioria dos acontecimentos e fenómenos que existem na Terra, dos mais
complexos aos mais mundanos.

Deste modo, ao olharmos para o mundo que nos rodeia, decerto que não são escassos os exemplos de
aplicações da física. Muitas vezes, estas são eventos que tomamos como garantido, que conhecemos desde
que nascemos através do conhecimento popular e cuja verdadeira origem nos é desconhecida.
Naturalmente, tomando em consideração a nossa cidade e a costa vigorosa que lhe é inerente, escolhemos
como foco deste trabalho a relação existente entre a física e as marés, e consequentemente, com a Lua.

As marés são movimentos oceânicos que ocorrem periodicamente, caracterizadas pela subida e descida no
nível de água. O movimento de subida (fluxo) é vulgarmente conhecido como marés altas e o de descida
(refluxo) conhecido como marés baixas.

Este fenómeno, fruto de inúmeros mitos populares, foi inicialmente estudado a fundo pelo infame Galileu,
cujo impacto na ciência se estende até aos dias de hoje. A teoria de marés de Galileu é apresentada na
Quarta Jornada, último capítulo do “Diálogos sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo” (obra que o
levou a ser condenado pela Santa Inquisição em 1632). Galileo critica várias explicações anteriores das
marés, entre as quais, a de um sacerdote jesuíta, Marcantonio de Dominis, que supunha que a Lua atraía a
água dos mares. Esta suposição de que a Lua influenciava as marés era muito antiga, proveniente de
observações de correlação entre as fases da Lua e as marés. A ideia de uma força de atração surgiu assim
prematuramente, mas estava geralmente associada a ideias astrológicas. Talvez por este motivo, tal
conceção tenha parecido inadequada a Galileo. Quase no final de seu livro, Galileo chega a criticar Kepler
(astrónomo, astrólogo e matemático alemão a quem são atribuídas as leis de Kepler) admirando-se que ele,
"de engenho livre e agudo, e que tinha em mãos os movimentos atribuídos à Terra, tenha dado ouvidos e
concordado com o predomínio da Lua sobre a água, e a propriedades ocultas, e infantilidades
semelhantes.”

Apresenta então sua proposta, sob a forma de uma comparação. Se tomarmos um recipiente com água e
se ele for agitado para um lado e para o outro, a água não se manterá nivelada e horizontal, mas oscilará,
subindo de um lado e descendo do outro. Galileo utiliza como exemplo um barco navegando, mas cheio de
água: se ele for acelerado repentinamente, a água irá para trás e subirá nessa parte, descendo, pelo
contrário, na proa. Se o navio for retardado ou parado bruscamente, a água subirá na proa e descerá na
popa. Galileo compara esse fenômeno ao que ocorre no Mediterrâneo, afirmando que as partes da Terra
também se aceleram e retardam periodicamente. Para o demonstrar, Galileo emprega o seguinte
raciocínio: a Terra tem dois movimentos principais, no sistema de Copérnico, um em tomo de seu eixo e
outro em torno do Sol. A associação desses dois movimentos faz com que alguns pontos da Terra tenham
maior velocidade resultante e outros uma menor velocidade, como se vê pela figura anexada (figura 1): no
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ponto D, as velocidades de rotação e de translação somam-se; em F, estas subtraem-se. Ora, como cada
parte da Terra está em certos instantes na posição F (ao meio-dia) e em outros instantes nas posições G, D
e E (ao anoitecer, meia-noite e ao amanhecer, respetivamente), cada parte da Terra é sucessivamente
acelerada e retardada: "(...) na associação desse movimento diário com o anual, resulta um movimento
absoluto das partes da superfície terrestre, ora acelerado, ora retardado.” Ou seja: a combinação dos dois
movimentos produz acelerações e retardamento nos movimentos de cada parte da Terra. Assim como no
barco, a aceleração ou o retardamento fazem oscilar a água de um lado ou o outro, da mesma forma que o
movimento irregular das partes da Terra produz, segundo Galileo, as marés.

No entanto, a teoria de Galileo apresenta inconsistências que levaram à desaprovação dos seus
contemporâneos. A incoerência desta com as observações já efetuadas até à época é fácil de constatar: as
marés deveriam, de acordo com essa explicação, apresentar um ciclo de 24 horas, mas o seu ciclo é, na
realidade, cerca de 12 horas. Além disso, a maré alta deveria corresponder a uma hora fixa do dia (pois
dependeria da posição do ponto considerado em relação ao Sol) e, no entanto, observa-se que seu horário
varia. Por mais que Galileo tente adaptar sua teoria aos fenômenos (e vice-versa), o ajuste é inadequado e
assim, apesar de constituir uma nobre tentativa, não foi Galileo que descobriu o segredo por detrás do
movimento das marés.

Na realidade, foi Sir Isaac Newton - matemático, físico, astrônomo, teólogo e autor inglês – que resolveu
este enigma, alvo de muitas outras tentativas de resolução ao longo dos séculos. Newton apresenta a sua
explicação das marés como resultado do conceito de atração gravitacional universal, apresentado nos
“Principia” (uma obra de três volumes publicada em 5 de julho de 1687) como consequência das
observações feitas até então no sistema solar, isto é, das Leis de Kepler do movimento planetário. A lei da
gravitação universal afirma que, se dois corpos possuem massa, ambos estão submetidos a uma força de
atração mútua proporcional às suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que
separa seus centros de gravidade. A teoria de Newton considera a Terra esférica e igualmente coberta por
água, em toda a sua extensão, com uma camada de água de espessura muito pequena, perante o seu raio.
Outro pressuposto utilizado considera que as partículas líquidas não têm coesão, atritos e inércia,
obedecendo imediatamente às forças que as solicitam e como tal rapidamente encontram as posições de
equilíbrio.

Perante a perturbação de um astro, como a Lua, o volume de água adquire uma forma esferoide, como
mostra a figura 2. Nesse esferoide, os pontos de maior altura da água, M e N, fazem parte do eixo que une
o centro de gravidade da Lua com o da Terra. O movimento de rotação da Terra levará a que os pontos M e
N, passem por pontos geográficos diferentes ao longo do dia, originando o fluxo e refluxo do mar em várias
latitudes. É de realçar o facto de, tal como está ilustrado na figura 2 e é evidente na figura 3, a elevação dos

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oceanos não se dá apenas do lado corresponde ao astro que o atrai (seja Lua ou o Sol), sendo que também
ocorre no lado diametralmente oposto.

Para se compreender esta igualdade das marés no duplo lóbulo, basta recorrermos aos princípios da física
Newtoniana. Considere-se o sistema Terra- Lua, em que os dois astros mover-se-ão, rodarão, em torno do
seu centro de massa. Assim para qualquer ponto sobre a superfície terrestre, e no seu referencial próprio,
ele está sujeito a duas acelerações: uma devida à ação da Lua, outra que resulta do efeito de rotação do
m
referencial em torno do centro de massa do sistema. A primeira aceleração é dada por a p=G em que
R2p
Rp é a distância entre o ponto e a Lua, m é a massa da Lua e G a constante de gravitação universal. A
m
segunda aceleração é materializada pela interação entre a Lua e a Terra e é igual a=G 2 , sendo r a
r❑
distância entre os dois astros. Se se pensar agora em dois pontos particulares sobre a superfície terrestre,
M e N (figura 2), aqueles que num determinado instante se encontram, respetivamente, mais perto e mais
m m
longe da Lua, obtém-se para as acelerações devido à ação da Lua, a M =G 2 e
a N =G 2 ,
(r −R)❑ (r + R)❑
ambas dirigidas no sentido da Lua. Se calcularmos as mesmas grandezas, calculadas agora no referencial
próprio (observador situado na Terra), é evidente que os valores de aceleração terão igual módulo, mas
simétricas (devido a (r+R) e (r- R)), responsáveis pelos lóbulos.

Agora, depois de termos estabelecido o papel que o nosso satélite natural tem sobre as marés, é
importante fazer uma distinção acerca do papel da Lua nas marés relativamente a outros astros que se
localizam nas proximidades da Terra. O Sol, a Lua e todos os planetas do nosso sistema solar exercem
atração sobre as águas e o solo do nosso planeta. No entanto, apenas a lua e o sol têm efeitos
significativos. O Sol, apesar de distante (140 milhões de km), possui uma massa extremamente elevada e,
por isso, exerce uma força gravitacional muito intensa. A Lua, apesar de ter apenas 1/81 da massa da Terra,
encontra-se a uma distância muito mais próxima (380000 km) quando comparada com a do Sol. Devido a
esta proximidade, é a Lua que governa e regula o movimento de marés e não a força gravítica exercida pelo
Sol.

Desde o início da humanidade que, para explicar fenómenos naturais e tudo aquilo que acontece à nossa
volta, se recorre ao sobrenatural e celestial. Assim, foram surgindo, ao longo dos anos, vários mitos e
crenças associados às ocorrências diárias, não sendo excluído o nosso objeto de estudo, a Lua, que também
é alvo de muitas especulações.

À medida que as civilizações se desenvolviam, a lua ganhava importância e influência crescentes em relação
à vida humana. No mundo antigo, os romanos acreditavam que a lua tinha uma influência enorme na
mente das pessoas. Para o povo babilónico, a lua era um símbolo da vida através de mudanças regulares na

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sua aparência. Devido à correlação com o ciclo menstrual feminino (o ciclo menstrual tem, em média, 28
dias e o mês lunar também), eles associavam o ciclo lunar à fertilidade das mulheres.

A crença popular de que a fase do ciclo lunar afeta a taxa de natalidade surgiu num passado muito distante.
Nos EUA acredita-se que a lua cheia esteja associada com o maior número de partos; na Índia, a lua nova; e
no Brasil, a mudança de lua.

A relação entre as fases da lua e a obstetrícia (principalmente a taxa de natalidade) já foi o foco de diversas
pesquisas. Muitos investigadores, tanto no passado quanto mais recentemente, estudaram a possível
influência das fases da lua na frequência e no tempo do parto. A relação da lua cheia com as taxas de
natalidade foi o foco de muitos desses estudos, ps ainda persiste a superstição de que a incidência de
partos aumenta significativamente durante essa fase da lua.

Um estudo realizado na Alemanha coletou dados de mais de 6.000 partos realizados entre os anos de 2000
e 2006 e relacionou a ocorrência dos mesmos com a fase da lua. A partir da análise dos dados não foi
possível identificar nenhuma correlação relevante entre a fase da lua e a ocorrência dos partos. Na figura 4,
é possível observar a rosa o número total de partos, em azul o número de partos sem considerar cesarianas
seletivas e em verde o número de partos sem considerar induções ou cesarianas seletivas. Como podemos
deduzir pelo gráfico, não existe nenhuma relação significativa com a fase da lua e o aumento no número de
partos. Neste mesmo estudo foram analisadas também a presença ou não de complicações do parto –
como o parto prematuro – com a fase da lua, e novamente nenhuma correlação foi identificada.

Um outro estudo publicado em 2005 no American Journal of Obstetrics and Gynecology avaliou a relação
de mais de meio milhão de partos com o ciclo lunar. Os partos realizados na Carolina do Norte entre os
anos de 1997 e 2001 foram correlacionados com 62 ciclos lunares e a análise estatística também não
conseguiu demonstrar alguma relação entre a fase da lua e o número de partos.

Outra tentativa de conectar a lua com o trabalho de parto é em função da sua influência sobre as marés. A
maré sobe mais na lua cheia e de maneira semelhante a lua poderia, de alguma forma interferir nos
líquidos corporais. De acordo com o exposto nas seções anteriores, compreendemos que os efeitos da
maré somente ocorrem porque o campo gravitacional, que tanto a Lua quanto o Sol exercem sobre pontos
diferentes da Terra, é variável em intensidade e orientação. Mas não há efeito de maré numa região de
volume tão pequeno quanto o de uma bacia ou mesmo de uma piscina, pois distintos pontos dessas
regiões estão praticamente equidistantes do astro atractor, sofrendo, como qualquer massa, um campo
gravitacional constante em todo o volume de líquido sendo, portanto, incapaz de o deformar. Da mesma
forma, líquido no útero da mãe não sofre efeitos da maré, ocorrendo apenas uma desprezível variação no
seu peso aparente (inferior a uma parte em seis milhões).

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É também muito discutido, no que toca a mitos relacionados com a Lua, os efeitos que nosso satélite tem
sobre o desenvolvimento das plantas, sendo que estas crenças são tão antigas quanto globais. Os
agricultores das primeiras civilizações do Oriente e do Ocidente já consideravam o ritmo dos ciclos lunares
na agricultura e ainda hoje, muitos agricultores planejam suas tarefas de cultivo de acordo com o
calendário de semeadura lunar. Cientistas e investigadores dos séculos 20 e 21 mostraram seu interesse
pela influência da lua na agricultura, e consequentemente, este assunto tem sido objeto de diversos
estudos e projetos de pesquisa. Embora a ciência não tenha conseguido demonstrar todos os postulados
defendidos pela chamada «agricultura sensível» sobre a influência lunar nas plantas, muitos dos efeitos da
lua no movimento das marés e precipitação, fisiologia vegetal ou comportamento animal têm sido
provados cientificamente.

Uma das principais provas científicas da influência da Lua nas plantações é a relação entre a posição da Lua
e o campo eletromagnético da Terra, que por sua vez influencia o movimento da seiva da planta e seu
crescimento. Vários estudos têm mostrado que a gravidade ou força de atração da Lua e do Sol na
superfície da Terra exerce um poder de atração sobre todos os líquidos que estão na superfície da Terra.
Esse fenômeno, para além das águas dos oceanos (que sofrem subidas e descidas), também influencia o
surgimento da seiva que circula no interior das plantas, que é maior quando a Lua está mais próxima da
Terra (perigeu) do que quando está na área mais distante da órbita lunar (apogeu). Além disso, sabe-se que
os movimentos da seiva são cíclicos e que durante as fases de lua crescente e cheia são
predominantemente ascendentes, enquanto durante as fases de minguante e lua nova a seiva desce mais e
se concentra na zona da raiz.

Outro exemplo da influência lunar já demonstrado é a relação entre as diferentes fases e a fotossíntese.
Sabe-se que, em todas as plantas, a fotossíntese é muito mais intensa da lua crescente à lua cheia, onde
ocorre o maior aumento do processo fotossintético; e este fenômeno é cientificamente atribuído ao
aumento do luar na Terra. A luminosidade lunar pode ser favorável ou desfavorável nos estágios de
desenvolvimento dos insetos, já que há aqueles que se desenvolvem totalmente no escuro e outros que
são favorecidos pela luz da lua, o que obviamente também influencia o desenvolvimento das culturas
agrícolas.

A Lua, em toda a sua simplicidade e familiaridade, continua a ser uma fonte de mistérios e um dos
elementos mais estudados em toda a ciência. Como demonstramos ao longo deste trabalho, este satélite
natural influencia múltiplos aspetos na vida humana, ditando os movimentos das marés e contribuindo
mesmo para elucidar os agricultores na melhor época de cultivo. Consequentemente, é alvo de inúmeras
elaboradas superstições, como aquela que desmentimos neste trabalho e são precisamente estes aspetos
curiosos que lhe são inerentes que levaram à temática escolhida. Para além disto, e talvez o mais

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importante, foi um notável objeto de estudo para as maiores mentes da ciência, incluindo, para além de
muitos outros não referidos, Galileo e Newton, personagens imprescindíveis na história da Física.

"É uma bela e encantadora visão contemplar o corpo da Lua." ― Galileu Galilei, O Mensageiro
Estrelado, Veneza 1610: "Da Dúvida ao Espanto"

ANEXOS

Figura 1 – Diagrama de velocidades no modelo de Galileu

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Figura 2 – O duplo lóbulo

Figura 3 – conceção errada e correta sobre as marés, respetivamente;

Figura 4 - Relação entre a fase da lua e o número de partos, segundo estudo


publicado por Staboulidou e colaboradores Acta Obstetricia et Gynecologica, 2008

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Fontes de Informação

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