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“O Brasil não é para principiantes.

” Costumamos ouvir essa frase quando se quer expressar que nosso país é complexo e
que as coisas por aqui costumam se desenrolar de formas muito particulares. O que parece mero senso comum foi levado
a sério pelos pensadores que se desafiaram a explicar a particularidade da sociedade brasileira em chave-própria,
formando uma área interdisciplinar que hoje chamamos de pensamento social brasileiro. Pensamento porque articula as
mais diversas áreas do conhecimento; social, porque preocupa-se em analisar os processos de formação de nossa
sociabilidade em suas diferentes perspectivas, e brasileiro porque se propunha a pensar os temas a partir de nossa
realidade, e não apenas importando teorias produzidas fora daqui para que fossem aplicadas aos nossos problemas e as
nossas coisas.

O documentário “Martírio”, de Vicente Carelli, baseia-se nas dificuldades enfrentadas pelos índios da Tribo Guarani-
Kaiowa na grande marcha pela retomada de suas terras ou -como eles dizem- “Tekoha” (Terra Sagrada), e a luta -que não
parecia ter fim- contra os empresários do agronegócio brasileiro. Tal episódio ocorre próximas à fronteira de Paraguai e
Mato Grosso do Sul, e conta todo o modo de vida da tribo expulsa de seu local de origem, que passam a viver em beira de
estradas e até mesmo em pequenos lotes que se encontram nas mãos de uma determinação judicial. O foco do Vicente, é
retratar através dos indígenas os episódios de expulsão que envolvem violências e exclusão de seus direitos.
A posse de terras indígenas é uma consequência direta das Revoluções, Francesa e Industrial. E como conta Maria Yedda
em “Terra Prometida”, a primeira iniciou-se com a crise agrária no século XVIII, marcada pela profunda desigualdade
social na França, que como consequência, iniciou-se a ocupação de terras por camponeses e desempregados, por várias
regiões do país. Em contrapartida, Maria conta que os movimentos dos franceses passaram a repercutir em outros países,
e neste momento de extensão alcança a Inglaterra, dando início à Revolução Industrial. Esta segunda, foi marcada pela
mudança do campo inglês e a expansão da relação do homem com a terra, chegando tempo mais tarde ao Brasil, com o
objetivo de colonização e tomar as terras indígenas, de modo que fossem relacionadas -para seu país de origem- às
riquezas.
Neste contexto, João Marcelo entra no debate sobre “A imaginação da terra: O pensamento brasileiro e a condição
periférica” que nos ajuda a refletir sobre o espaço social brasileiro e como é referido pelos historiadores a identidade
nacional. Com a colonização do Brasil, foi imposto uma visão europeia de que o país era um lugar de “ninguém”, lugar
aquele que deveria ter uma disciplina, reproduzindo hierarquias, através de subornos de povos locais como indígenas.
Haviam uma imaginação de que espaços rurais eram relacionados com problemas da revolução brasileira. O rural -pela
visão europeia- era um atraso para a era da modernidade no Brasil.
Por tanto, era preciso que o estudo sobre a sociedade emanasse de um sentido em que pudesse entender todo a sua relação
com os acontecimentos e pensamentos não só da visão europeia frente ao Brasil, como um todo. E para que possamos
entender esta relação, em “Reagregando o social”, o autor Bruno Latour, tem como objetivo nos apresentar a sociologia
de modo menos antropocêntrica, trazendo ao debate sociológico, os “não-humanos” para que possamos entender ainda
mais o homem, logo, logo, era preciso partir de uma ideia de que os objetos tem poder de ação. Seu estudo é baseado na
“Teoria-ator-rede”, que busca reestabelecer as relações entre o que chama de mediadores “humanos” e “não-humanos”.

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