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SAÚDE

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Está na cara
Cuidados com acnes e espinhas podem descomplicar a fase da puberdade.

A acne é um dos principais pesadelos dos adolescentes, que, de uma hora para a
outra, ficam com os rostos cobertos por espinhas e cravos. Trata-se de uma doença
inflamatória crônica comum nos folículos pilossebáceos, causando lesões inflamadas,
pápulas, pústulas, nódulos e cistos, e lesões não inflamadas − os comedões.
De acordo com a dermatologista Ana Vitoria Ribeiro Perecini, que atua em Belo
Horizonte (MG), essa característica na pele surge geralmente na adolescência pelo
estímulo androgênico nas glândulas, atingindo cerca de 80% da população, com pico
entre 11 e 24 anos. A fisiopatologia da acne inclui interação entre hiperprodução de
sebo glandular, hiperqueratinização folicular, colonização bacteriana e liberação de me-
diadores inflamatórios no folículo e na derme adjacente. Os hormônios androgênicos
(masculinos) estão diretamente ligados ao estímulo das glândulas sebáceas. Daí um dos
motivos de a acne ser mais predominante no sexo masculino.
Segundo Betina Stefanello, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia,
as causas da acne estão relacionadas a alterações hormonais, fatores genéticos, ação e
proliferação de bactérias e aumento da atividade de glândulas sebáceas. Além disso, outras
causas podem desencadear ou agravar a acne, como uso de anabolizantes, vitaminas,
corticosteroides e outros medicamentos. “O processo começa quando um poro da
pele, formado por um pelo e uma glândula sebácea, é bloqueado pelo excesso de óleo e
células mortas. Quando esses poros bloqueados inflamam, surgem as espinhas”, explica.
Existem hábitos diários que propiciam o surgimento da acne. Higiene inadequada
das mãos, por exemplo, pode levar bactérias para o rosto e contribuir para a obstrução
dos poros. Além disso, a médica destaca que esfregar a pele com força na hora da lim-
peza pode fazer com que pequenos machucados surjam e facilitar a entrada de micro-
-organismos. Até mesmo o acúmulo de produtos antiacne, como secativos, pode causar
um machucado e ocasionar uma cicatriz. O uso de produtos oleosos e inadequados
ao tipo de pele também pode estimular a produção de sebo. Por isso, é fundamental
que a escolha dos produtos seja feita de forma personalizada, adequando a formulação
manipulada para as características de cada um.

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SAÚDE
NUTRIÇÃO

Nos adolescentes, os fatores comportamentais se somam


à influência dos hormônios, que causa a hiperprodução Tratamentos tópicos
de sebo, e a outros fatores que implicam a patogênese da • Agentes de limpeza: para remoção do sebo, não se
acne, como explica Ana Perecini: “Há também alteração da deve exagerar, pois podem exacerbar a acne. Usar desen-
qualidade do sebo produzido, hiperqueratinização folicular gordurantes leves e não alcóolicos. São úteis os agentes
(formação de comedão), colonização bacteriana do folículo com peróxido de benzoíla pois controlam a acne leve
por Propionibacterium acnes (P. Acnes) e inflamação folicular com seborreia.
e dérmica subjacente”. • Retinoides: de primeira linha, inibem formação e reduzem
Existem diversas maneiras de lidar com essa doença tão o número de microcomedões; normalizam descamação
comum, e o ideal é que o tratamento seja individualizado, do epitélio folicular e melhoram penetração de drogas;
com formulações manipuladas. “É importante tanto para são anti-inflamatórios. Úteis em todas as formas de acne,
eliminar as lesões que já incomodam quanto para prevenir porém seus efeitos adversos podem limitar o uso: eritema,
cicatrizes físicas e emocionais”, enfatiza Stefanello. descamação e ardor, que podem ser controlados com
A dermatologista Ana Perecini conta que o primeiro hidratação; interessante uso na manutenção para evitar
passo é definir a doença que acomete o paciente, e o grau. recorrência. Proibido uso na gravidez e na amamentação.
Além disso, é importante avaliar hábitos de vida, alimen- O ácido retinoico pode causar malformação no feto e
tação, cuidados de higiene, uso de produtos adequados e afetar o desenvolvimento do bebê.
se o paciente está disposto a fazer o tratamento. Também é • Peróxido de benzoíla: diminui população do C. ac-
necessário orientar a rotina de cuidados com a pele. nes (bacteriostático), reduz formação de comedões e é
Em caso de pele oleosa, por exemplo, ela indica o uso de anti-inflamatório.. Sem relato de resistência bacteriana.
produtos oil free ou antioleosidade. “É importante manter • Antibiótico tópico: eritromicina (2% e 4%); clin-
a hidratação da pele para não alterar o microbioma e per- damicina (1% e 2%) em solução e gel. Age nas lesões
mitir boa adaptação ao tratamento, mantendo a barreira de inflamatórias. Uso por 6 a 8 semanas.
proteção íntegra. Deve-se corrigir defeitos de queratinização • Ácido azelaico: indicado para acne papulopustulosa
folicular, diminuir a atividade de glândulas sebáceas, eliminar leve a moderada e na manutenção; é comedolítico e com
a bactéria causadora da acne (Propionibacterium acnes) e efeito clareador leve.
reduzir o processo inflamatório”, explica. • Ácido salicílico: comedolítico. Usado em agentes de
limpeza e hidratantes.
Tratamentos
Segundo a médica Ana Perecini, há uma tendência atual
a utilizar antibiótico somente em casos de exacerbação de
lesões inflamatórias e pustulosas importantes, para evitar
resistência bacteriana e não modificar muito o microbio-
ma. Para acne graus 1 e 2, normalmente o tratamento é
apenas tópico, à exceção para casos refratários. Adoles-
centes com grau 3 e 4 têm indicação de tratamento oral
(como antibióticos cloridrato de tetraciclina, minociclina,
doxiciclina ou azitromicina por 8 a 12 semanas) aliado ao
tratamento tópico.
O tratamento pode incluir o uso de ceratolíticos,
antimicrobianos e anti-inflamatórios. São exemplos de
substâncias utilizadas: a forma tópica de ácido retinoico,
adapaleno, peróxido de benzoila, ácido azelaico, eritromi-
cina e clindamicina. Entre os cosmecêuticos, destacam-se
os reguladores de oleosidade e agentes adstringentes, como
extratos de hamamelis e própolis, e agentes matificantes
(sílicas) e umectantes, como lactatos e ácido hialurônico.
Entre as diversas vantagens da manipulação de fórmulas
na dermatologia está a escolha de veículos adequados para
cada pele, a exemplo dos géis para peles oleosas e emulsões
oil free, com emolientes não comedogênicos para as peles
acneicas desidratadas.

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ESPAÇO DO EMPREENDEDOR

O QUE FORMULAR?
Peróxido de benzoíla...............................................................................................................2,5% a 5%
Fosfato de clindamicina..............................................................................................................1% a 2%
Gel não-iônico qsp..............................................................................................................................30g
*Clindamicina: usada na forma de fosfato de clindamicina, em concentrações equivalentes à base
(Fator de equivalência 1,19). Produto controlado pelo SNGPC (antimicrobiano).

Posologia: a critério médico, aplicar fina camada à noite nas lesões. Ao acordar, lavar e fazer uso de
fotoprotetor (UVA+UVB) não apenas na lesão, como em toda a área adjacente. O tempo de tratamento
deve ser estipulado pelo médico prescritor. Uso tópico e adulto. Não indicado para gestantes.
Indicação: acne de acordo com avaliação médica.

Fontes: 1. Batistuzzo, J. A. O; Itaya, M.; Eto, Y. Formulário Médico Farmacêutico, 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
2. Ribeiro, Claudio. Cosmetologia aplica a dermoestética, 2ª edição. São Paulo: Pharmabooks, 2010.
3. Small, R. et al. Guia Prático: Peeling Químicos, Midrodermoabrasão & Produtos tópicos. Dilivros: Rio de Janeiro, 2014.

O tratamento médico da acne deve ser personalizado de acordo com o grau da lesão apresentada.

Acne grau I (comedonal) Apresenta apenas comedões fechados e abertos; acne não inflamatória.

Presença de poucas ou várias pápulas e pústulas, além dos comedões,


Acne grau II (suave)
mas não se observa nódulos.

Acne grau III (moderada) Presença de várias a muitas pápulas e pústulas, com nódulos e cistos.

Presença de pápulas e pústulas numerosas ou extensivas, muitos


Acne grau IV (severa)
nódulos inflamatórios e formação de abscessos e fistulas.

É uma forma rara e grave da acne, na qual ocorre instalação abrupta


Acne grau V (fulminante) acompanhada de manifestações sistêmicas como febre, leucocitose
e artralgia.

Fontes: 1. Small, R. et al. Guia Prático: Peeling Químicos, Midrodermoabrasão & Produtos tópicos. Dilivros: Rio de
Janeiro, 2014.
2. Souza, M.V.M.; Junior, D. A. Ativos dermatológicos e nutracêutico – 9 volumes. São Paulo: Daniel Antunes Junior, 2016.
3. Carvalho. W. et al. Cosmetologia Aplicada à Estética. Editora Farmacêutica: São Paulo, 2019.

Saiba mais on-line:


Encontre sugestões de formulações, dicas farmacotécnicas e especificações farmacopeicas dos insumos citados neste texto em
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SUOR

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ESPAÇO DO EMPREENDEDOR

Alívio para o
pinga-pinga
Produtos manipulados potencializam efeitos positivos
do tratamento de hiperidrose e bromidrose

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SAÚDE MENTAL
SUOR
NUTRIÇÃO

“Suar em bicas”. A expressão popular que se refere ao efetivo é necessário, primeiramente, determinar a causa da
suor e parece exagerada é uma realidade incômoda que hiperidrose, pois caso seja manifestada em estado primário,
atinge de 2% a 3% da população, de acordo com a Socie- deve-se investigar uma possível patologia associada. “O
dade Brasileira de Dermatologia. Marcada pela sudorese tratamento mais comum é tópico, com aplicação de anti-
excessiva mesmo sem a presença de fatores desencadeantes transpirantes à base de sais de alumínio. Em alguns casos, o
como calor ou estresse, a hiperidrose é caracterizada pelo tratamento também poder ser sistêmico, com o uso de drogas
hiperfuncionamento das glândulas sudoríparas e surge, anticolinérgicas que impedem a estimulação das glândulas
com frequência, na adolescência, devido à intensidade sudoríparas, mas devido aos efeitos colaterais, essa opção é
das alterações hormonais. muito pouco prescrita”, explica Fernanda.
Em seu estágio classificado como primário, a condição Segundo a dermatologista, os produtos manipulados
afeta mãos, pés, axilas, cabeça e rosto. Na forma secundária, oferecem a vantagem de combinar ativos, potencializando o
surge por fatores como o hipertireoidismo, obesidade ou benefício ao paciente. “Associar irgasan e alantoína à fórmula
efeito colateral de alguma medicação. “Nessa forma, a su- de cloridrato de alumínio – torna o produto menos irritante
dorese pode ser generalizada. A hiperidrose, principalmente à pele e trata a bromidrose (ver quadro). Quando prescre-
para adolescentes, acarreta constrangimento social, uma vez vemos manipulados e conseguimos personalizar a dose dos
que o suor excessivo se apresenta em situações cotidianas e ativos, a obstrução das glândulas sudoríparas se torna maior
o adolescente passa a sentir medo”, avalia a dermatologista e melhora o controle clínico da condição”, explica Fernanda.
e cirurgiã que atua em São Paulo (SP), Fernanda Bombo- De acordo com o biomédico e fisioterapeuta Thiago
natti. Ela explica que o aumento da temperatura ambiente, Martins, que atua em Belo Horizonte (MG), produtos ma-
febre e a ingestão de alimentos condimentados podem nipulados eventualmente combinados com outras técnicas
acentuar o quadro. Em casos mais graves pode ocorrer o recomendadas pelo profissional habilitado são benéficos para
gotejamento espontâneo da região afetada, o que faz com os adolescentes. “Podem ser utilizadas pomadas, cremes e
que a pele fique macerada ou fissurada. desodorantes antitranspirantes aplicados diretamente no
De acordo com a especialista, para um tratamento local do suor em excesso.”

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ESPAÇO DO EMPREENDEDOR

Podem, por exemplo, ser prescritas soluções e cremes


antiperspirantes contendo sais de alumínio associados a
agentes bacteriostáticos como o irgasan e agentes calmantes
(alantoína, extrato glicólico de camomila). No caso da hi-
peridose plantar, uma boa alternativa é optar pela forma de
talco. Também é possível criar formulações antiperspirantes
aluminium free contendo óleo de melaleuca e inibidores
enzimáticos das bactérias.

Bromidose
O suor eliminado pelos poros é constituído basicamente
por água e alguns sais que não se decompõem, por isso
praticamente não exalam cheiro. Mas nas axilas, genitais e
couro cabeludo há as glândulas sudoríparas apócrinas, que
liberam também restos celulares e do metabolismo e podem
produzir odores desagradáveis quando expostos à ação das
bactérias e fungos em ambientes em que ocorram calor,
umidade e falta de luz. A exacerbação dessa característica
é chamada de bromidrose.

O QUE FORMULAR?
Cloridrato de alumínio*...............................................................................................................5% a 7%
Irgasan**...........................................................................................................................................0,5%
Alantoína..........................................................................................................................................0,5%
Álcool 70% qsp...............................................................................................................................100ml
Dispensar em frasco spray.
*Sais de alumínio na forma de cloridrato e sesquicloridrato (menos irritante) são normalmente
utilizados no controle da transpiração, com propriedades adstringentes e bactericidas. Essas
substâncias fecham os poros, reduzindo a produção de suor.
**Irgasan (triclosan) é um bacteriostático de amplo espectro, que pode auxiliar nos cuidados da
hiperidrose axilar e bromidrose.

Posologia: a critério do profissional habilitado, aplicar após o banho nas axilas, 1 vez ao dia, e
quando necessário. O tempo de uso deve ser estipulado pelo prescritor, normalmente até a melhora
dos sintomas. Depois, descontinuar o uso. Uso adulto e tópico.
Indicação: solução antiperspirante propileno free, com cloridrato de alumínio, alantoína e irgasan.

Fontes: 1. Batistuzzo, J. A. O; Itaya, M.; Eto, Y. Formulário Médico Farmacêutico, 5ª ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
2. Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais. Revista Anfarmag – 2014 – JUL/AGO/SET- Nº 102.
3. Ribeiro, Claudio. Cosmetologia aplicada a dermoestética, 2ª edição. São Paulo: Pharmabooks, 2010.
4. Souza, M.V.M.; Junior, D. A. Ativos dermatológicos: dermocosméticos e nutracêuticos – 9 volumes. São Paulo: Daniel
Antunes Junior, 2016.

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