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O reino 

Fungi é um grupo de organismos eucariotas (ou eucariontes), que inclui micro-


organismos tais como as leveduras, os bolores, bem como os mais familiares cogumelos.
Os fungos são classificados num reino separado das plantas, animais e bactérias. Uma
grande diferença é o fato de as células dos fungos terem paredes celulares que
contêm quitina e glucanos, ao contrário das células vegetais, que contêm celulose. Estas e
outras diferenças mostram que os fungos formam um só grupo de organismos
relacionados entre si, denominado Eumycota (fungos verdadeiros ou Eumycetes), e que
partilham um ancestral comum (um grupo monofilético). Este grupo de fungos é distinto
dos estruturalmente similares Myxomycetes (agora classificados em Myxogastria)
e Oomycetes. A disciplina da biologia dedicada ao estudo dos fungos é a micologia, muitas
vezes vista como um ramo da botânica, mesmo apesar de os estudos genéticos terem
mostrado que os fungos estão mais próximos dos animais do que das plantas.
Abundantes em todo mundo, a maioria dos fungos é inconspícua devido ao pequeno
tamanho das sua estruturas, e pelos seus modos de vida crípticos no solo, na matéria
morta, e como simbiontes ou parasitas de plantas, animais, e outros fungos. Podem tornar-
se notados quando frutificam, seja como cogumelos ou como bolores. Os fungos
desempenham um papel essencial na decomposição da matéria orgânica e têm papéis
fundamentais nas trocas e ciclos de nutrientes. São desde há muito tempo utilizados como
uma fonte direta de alimentação, como no caso dos cogumelos e trufas, como agentes
levedantes no pão, e na fermentação de vários produtos alimentares, como o vinho,
a cerveja, e o molho de soja. Desde a década de 1940, os fungos são usados na produção
de antibióticos, e, mais recentemente, várias enzimas produzidas por fungos são usadas
industrialmente e em detergentes. São também usados como agentes biológicos no
controlo de ervas daninhas e pragas agrícolas. Muitas espécies produzem
compostos bioativos chamados micotoxinas, como alcaloides e policetídeos, que são
tóxicos para animais e humanos. As estruturas frutíferas de algumas espécies contêm
compostos psicotrópicos, que são consumidos recreativamente ou em cerimónias
espirituais tradicionais. Os fungos podem decompor materiais artificiais e construções, e
tornar-se patogénicos para animais e humanos. As perdas nas colheitas devidas a
doenças causadas por fungos ou à deterioração de alimentos podem ter um impacto
significativo no fornecimento de alimentos e nas economias locais.
O reino dos fungos abrange uma enorme diversidade e táxons, com ecologias, estratégias
de ciclos de vida e morfologias variadas, que vão desde os quitrídios aquáticos
unicelulares aos grandes cogumelos. Contudo, pouco se sabe da
verdadeira biodiversidade do reino Fungi, que se estima incluir 1,5 milhões de espécies,
com apenas cerca de 5% destas formalmente classificadas. Desde os
trabalhos taxonómicos pioneiros dos séculos XVII e XVIII efetuados por Lineu, Christiaan
Hendrik Persoon, e Elias Magnus Fries, os fungos são classificados segundo a sua
morfologia (i.e. caraterísticas como a cor do esporo ou caraterísticas microscópicas) ou
segundo a sua fisiologia. Os avanços na genética molecular abriram o caminho à inclusão
da análise de ADN na taxonomia, o que desafiou por vezes os antigos agrupamentos
baseados na morfologia e outros traços. Estudos filogenéticos publicados no último
decénio têm ajudado a modificar a classificação do reino Fungi, o qual está dividido em um
sub-reino, sete filos e dez subfilos.

Etimologia

O Wikcionário tem o verbete fungi.

A palavra portuguesa fungo deriva do termo latino fungus (cogumelo), usado nos escritos


de Horácio e Plínio, o Velho.[8] Por seu lado, fungus é derivado
do grego sphongos/σφογγος ("esponja"), que se refere às estruturas e morfologia
macroscópicas dos cogumelos e bolores. O termo micologia, derivado do
grego mykes/μύκης (cogumelo) e logos/λόγος (discurso),[9] para denotar o estudo científico
dos fungos, terá sido usado pela primeira vez em 1836, pelo naturalista inglês Miles
Joseph Berkeley na obra The English Flora of Sir James Edward Smith, Vol. 5.[10]

Características
Antes da introdução dos métodos moleculares de análise filogenética,
os taxonomistas consideravam que os fungos eram membros do reino Plantae devido a
semelhanças nos seus modos de vida: tanto os fungos como as plantas são na sua
maioria imóveis, e apresentam semelhanças na morfologia geral e no habitat em que se
desenvolvem. Tal como as plantas, muitas vezes os fungos crescem no solo, e no caso
dos cogumelos formam corpos frutíferos conspícuos, que por vezes se assemelham a
plantas como os musgos. Os fungos são agora considerados um reino separado, distintos
das plantas e animais, dos quais parecem ter divergido há cerca de 1 bilhão de anos. [11]
[12]
 Algumas caraterísticas morfológicas, bioquímicas, e genéticas são partilhadas com
outros organismos, enquanto outras são exclusivas dos fungos, separando-os claramente
dos outros reinos:
Caraterísticas partilhadas:

 Com os demais eucariotas: como nos restantes eucariotas, os núcleos das células dos
fungos estão limitados por uma membrana e contêm cromossomas que
contêm ADN com regiões não-codificantes chamadas intrões e regiões codificantes
chamadas exões. Além disso, os fungos possuem organelos citoplasmáticos
delimitados por membrana tais como mitocôndrias, membranas que contêm esterois,
e ribossomas do tipo 80S.[13] Têm um conjunto caraterístico de carboidratos e
compostos armazenados solúveis,
incluindo polióis (como manitol), dissacarídeos (como a trealose)
e polissacarídeos (como o glicogénio, que também é encontrado em animais[14]).
 Com os animais: os fungos carecem de cloroplastos e são organismos heterotróficos,
requerendo compostos orgânicos preformados como fontes de energia.[15]
 Com as plantas: os fungos possuem uma parede celular [16] e vacúolos.[17] Reproduzem-
se por meios sexuados e assexuados, e tal como os grupos basais de plantas (como
os fetos e musgos) produzem esporos. Tal como os musgos e algas, os fungos têm
núcleos tipicamente haploides.[18]
 Com os euglenoides e bactérias: os fungos mais desenvolvidos, os euglenoides e
algumas bactérias, produzem o aminoácido L-lisina em passos específicos
de biossíntese, a via do alfa-aminoadipato.[19][20]
 As células da maioria dos fungos crescem como estruturas tubulares, alongadas e
filamentosas designadas hifas. Estas podem conter múltiplos núcleos e crescer a partir
das suas extremidades. Cada extremidade contém um conjunto de vesículas -
estruturas celulares compostas por proteínas, lípidos e outras moléculas orgânicas -
chamado Spitzenkörper.[21] Tanto fungos como Oomycetes crescem como células hifais
filamentosas.[22] Em contraste, organismos de aspecto semelhante, como as algas
verdes filamentosas, crescem por divisão celular repetida ao longo de uma cadeia de
células.[14]
 Em comum com algumas espécies de plantas e animais, mais de 60 espécies de
fungos apresentam bioluminescência.[23]
 Alguns chegam a possuir uma cor esverdeada, outros esbranquiçada.
Caraterísticas únicas:

 Algumas espécies crescem como leveduras unicelulares que se reproduzem


por gemulação ou por fissão binária. Os fungos dimórficos podem alternar entre uma
fase de levedura e uma fase com hifas, em função das condições ambientais. [24]
 A parede celular dos fungos é composta por glicanos e quitina; enquanto os primeiros
são também encontrados em plantas e a última no exosqueleto dos artrópodes,[25][26] os
fungos são os únicos organismos que combinam estas duas moléculas estruturais na
sua parede celular. Ao contrário das plantas e dos Oomycetes, as paredes celulares
dos fungos não contêm celulose.[27]

Omphalotus nidiformis, um cogumelo bioluminescente.

A maioria dos fungos carece de um sistema eficiente para o transporte de água e


nutrientes a longa distância, como o xilema e o floema de muitas plantas. Para ultrapassar
estas limitações, alguns fungos, como os do género Armillaria, formam rizomorfos[28] que
são morfológica e funcionalmente semelhantes às raízes das plantas. Outra característica
partilhada com as plantas consiste numa via bioquímica para a produção de terpenos que
usa ácido mevalónico e pirofosfato como precursores.[29] Porém, as plantas têm uma via
bioquímica para a produção de terpenos nos seus cloroplastos, uma estrutura que os
fungos não possuem.[30] Os fungos produzem vários metabolitos secundários que são
estruturalmente semelhantes ou idênticos aos produzidos pelas plantas. [29] Muitas das
enzimas de plantas e fungos que produzem estes compostos diferem entre si
na sequência de aminoácidos e outras características, o que indica origens e evolução
separadas destas enzimas nos fungos e plantas.[29][31]

Diversidade

Orelha-de-pau (Polyporus sanguineus)

Os fungos têm uma distribuição mundial, e desenvolvem-se numa grande variedade de


habitats, incluindo ambientes extremos como desertos, áreas com elevadas concentrações
de sais[32] ou radiações ionizantes,[33] bem como em sedimentos de mar profundo.[34] Alguns
podem sobreviver às intensas radiações ultravioleta e cósmica encontradas durante as
viagens espaciais.[35]
A maioria desenvolve-se em ambientes terrestres, embora várias espécies vivam parcial
ou totalmente em ambientes aquáticos, como o fungo quitrídio Batrachochytrium
dendrobatidis, um parasita responsável pelo declínio global das populações de anfíbios.
Este organismo passa parte do seu ciclo de vida na forma de um zoósporo móvel, o que
lhe permite propulsar-se através da água e entrar no seu hóspede anfíbio. [36] Outros
exemplos de fungos aquáticos incluem aqueles que vivem em zonas hidrotermais dos
oceanos.[37]
Estão descritas formalmente pelos taxonomistas cerca de 100 000 espécies de fungos,
[38]
 mas a biodiversidade global do reino dos fungos não é totalmente compreendida. [39] Com
base em observações do quociente entre o número de espécies de fungos e o número de
espécies de plantas em ambientes selecionados, estima-se que o reino dos fungos
contenha cerca de 1,5 milhões de espécies.[40] Em termos históricos, em micologia, as
espécies têm sido distinguidas por vários métodos e conceitos. A classificação baseada
nas caraterísticas morfológicas, como o tamanho e forma dos esporos ou das estruturas
frutíferas, tem dominado tradicionalmente a taxonomia dos fungos. [41] As espécies podem
também ser distinguidas pelas suas caraterísticas bioquímicas e fisiológicas, tais como a
sua capacidade para metabolizar certos compostos bioquímicos, ou a sua reação a testes
químicos. O conceito biológico de espécie discrimina as espécies com base na sua
capacidade de acasalamento. A aplicação de ferramentas moleculares, como
a sequenciação de ADN e a análise filogenética, no estudo da diversidade melhorou
significativamente a resolução e aumentou a robustez das estimativas da diversidade
genética nos vários grupos taxonómicos.[42]

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