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SODOMA - Um Jogo Perigoso - Caroline Andrade
SODOMA - Um Jogo Perigoso - Caroline Andrade
SODOMA | 1ª Edição
Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil
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com a reprodução da obra intelectual protegida.
Sumário
SINOPSE
PRÓLOGO
O ARMÁRIO
CAPÍTULO 01
DEIXE-ME SER LIVRE
Ginger Fox
CAPÍTULO 02
A AVENTURA ESTÁ LÁ FORA
Ginger Fox
CAPÍTULO 03
SEGREDOS ENTRE AS PAREDES
Ginger Fox
CAPÍTULO 04
A CORAGEM DE NÁUTILUS DIANTE DA QUIMERA
Ginger Fox
CAPÍTULO 05
SEGREDOS REVELADOS
Ginger Fox
CAPÍTULO 06
SABOR DE MORANGO
Ginger Fox
Jonathan Roy
CAPÍTULO 07
A LIBERDADE DO SÚCUBO
Ginger Fox
CAPÍTULO 08
LETRAS GARRAFAIS
Ginger Fox
CAPÍTULO 09
SODOMIA
Ginger Fox
CAPÍTULO 10
SOBREMESAS
Ginger Fox
CAPÍTULO 11
DONO DO JOGO
Ginger Fox
Jonathan Roy
CAPÍTULO 12
MEIAS FINAS E COLAR DE PÉROLAS
Ginger Fox
CAPÍTULO 13
FRUTO PROIBIDO
Ginger Fox
CAPÍTULO 14
CAMADAS POR CAMADAS
Ginger Fox
CAPÍTULO 15
CULPE MEU TRANSTORNO, QUERIDA
Ginger Fox
CAPÍTULO 16
DOCE VENENO
Ginger Fox
CAPÍTULO 17
A VERDADE ESTÁ À SUA FRENTE
Ginger Fox
CAPÍTULO 18
NÃO É TER, É SER!
Baby Roy
CAPÍTULO 19
PERFEITAS
Ginger Fox
CAPÍTULO 20
QUAL SEU SEGREDO?
Jonathan Roy
CAPÍTULO 21
O REFLEXO DE DOIS ESPELHOS
Ginger Fox
CAPÍTULO 22
DOR E PRAZER
Ginger Fox
CAPÍTULO 23
A CHAVE MESTRA
Ginger Fox
CAPÍTULO 24
OLHOS QUE CONDENAM
Ginger Fox
CAPÍTULO 25
ACREDITA EM MIM?
Ginger Fox
CAPÍTULO 26
HORMÔNIO DO AMOR
Ginger Fox
CAPÍTULO 27
GOMORRA
Ginger Fox
CAPÍTULO 28
ALMA SUBMISSA
Jonathan Roy
CAPÍTULO 29
ELA
Charlote Roy
Baby Roy
CAPÍTULO 30
A MÁSCARA
Ginger Fox
CAPÍTULO 31
FUGA FRACASSADA
Ginger Fox
CAPÍTULO 32
A CAÇADA
Ginger Fox
Baby Roy
CAPÍTULO 33
SEM CONTROLE
Ginger Fox
CAPÍTULO 34
TRAIÇÃO É UM CEGO COMEÇO
Jonatan Roy
Ginger Fox
CAPÍTULO 35
SEGUNDO MINHA MÃO, SINTA MEU CORAÇÃO
Ginger Fox
CAPÍTULO 36
ESTAMOS NO FIM, ME DESCULPE POR TE DECEPCIONAR
Ginger Fox
Jonathan Roy
CAPÍTULO 37
O PRESENTE FINAL
Baby Roy
Ginger Fox
EPÍLOGO
Ginger Fox
Agradecimentos
Outras obras:
Primeira série:
História e conto Irmãos Falcon
Únicos
Estou paralisado, onde estão meus sentimentos?
Eu não sinto mais as coisas, sei que eu deveria.
Estou paralisado!
Onde está o meu verdadeiro eu?
Estou perdido e isso me mata por dentro, estou com medo de viver, mas estou
com medo de morrer. E se a vida é dor, então eu enterrei a minha há muito
tempo, mas eu continuo vivo.
E isso está me controlando, onde eu estou?
Eu quero sentir alguma coisa, estou dormente por dentro, mas não sinto
nada, me pergunto por quê?
E na corrida da vida o tempo passa por mim, eu me sento e assisto, com as
mãos nos bolsos. As ondas vêm quebrando sobre mim, mas eu só as assisto.
Eu só as assisto!
Estou debaixo da água, mas me sinto como se estivesse no topo, estou no
fundo e não sei qual é o problema.
Estou numa caixa, mas eu sou aquele que me trancou lá sufocando e ficando
sem oxigênio, estou paralisado.
— Prometa-me que vai me ligar sempre que puder, que não vai deixar
de se cuidar e dormir certinho e, pelo amor de Deus, se alimente corretamente
e não coma apenas porcaria. — Sorrio para minha mãe, pegando minha mala
em seus dedos. — Ainda acho uma péssima ideia ter aceitado esse serviço,
Gim.
— Lá vamos nós de novo. — Meu pai revira os olhos, me puxando
para um abraço e beliscando minhas bochechas. — Já conversamos que será
bom para ela. Se cuida, sabe que amamos você.
— Eu também amo muito vocês. — Ergo meu rosto, depositando um
beijo em sua face.
— Oh, meu Deus! Se queria tanto um trabalho, por que não arrumou
por aqui mesmo? — Minha mãe está soluçando. Ela ergue um lenço e limpa
seu rosto.
— Pelos céus, Mole! Ginger já tem vinte e três anos. — Papai me
solta, caminhando para ela e abraçando-a com força.
— Mãe, é apenas até o fim do verão. E Norfolk nem é tão longe assim
de Columbia. — Lhe dou uma piscada, abrindo meus braços para poder
abraçar os dois.
— É uma ilha na Austrália! — minha mãe responde rápido. — Ainda
acho que não é o certo. E Tom, como vai ficar? E o casamento de vocês?
Devia estar se preocupando com isso.
— Mãe, já conversamos sobre isso. Tom e eu estamos bem com
minha decisão, depois do verão vamos nos casar. O que sobra para eu fazer
além de esperar ele terminar seu estágio?
— Cuidar dos preparativos do seu casamento — ela dispara, me
fuzilando com o olhar.
Olho para meu pai, desistindo de tentar conversar com ela. Ele
balança a cabeça suavemente em positivo, compreendendo que ela não irá e
não quer entender. De certa forma, papai foi o único que pareceu feliz quando
aceitei o serviço.
— Olha só, estamos quase na hora. — Ele ergue o pulso, deixando a
atenção em seu relógio. — Seu voo já está perto de sair. Deve se apressar,
Gim.
Beijo meu pai rapidamente, alisando os cabelos da minha mãe quando
me afasto, sorrindo para os dois.
— Eu amo vocês!
Meus passos seguem firmes para o corredor onde será o embarque.
Antes de entrar e passar pela catraca, me viro uma última vez, sorrio e me
despeço deles, acenando. Estou estranhamente animada com a decisão que
tomei. Não que trabalhar como acompanhante em uma ilha perdida no
Oceano Pacífico, que apenas descobri no Google Maps, tenha sido meu
sonho ou projeto de vida. Mas, no momento que encontrei o anúncio em uma
agência virtual, pareceu ser tudo que eu precisava. Meus dias estavam
ficando extremamente estressantes, me deixando à beira do colapso, de uma
forma tão sufocante, que nem o último trimestre da faculdade de
Administração tinha me deixado daquela forma. O pedido de casamento
inesperado de Tom durante o jantar da minha formatura foi um tiro à queima-
roupa, mas não porque não me via ao seu lado. Sim, eu sempre soube que
Tom seria o homem da minha vida, que dividiríamos nossa história, mas,
naquele momento, o que era um destino tão certo, acabou parecendo um
ponto final na minha vida. Era como se todos os nossos planos anteriores
estivessem sendo atropelados pelo pedido de casamento. Minha mãe, eufórica
e feliz, gritava de felicidade, tão radiante como se fosse a própria noiva. Eu
não conseguia sentir nem um décimo da emoção que ela estava sentindo.
Meu pai, sereno, apenas sorria discretamente, olhando para mim com uma
pergunta muda sendo demonstrada em suas sobrancelhas grossas e negras: É
realmente isso que quer?
Eu não sabia.
Não que duvidasse que poderia criar uma união sólida com Tom.
Nunca tive chance de pensar em uma vida longe dele, já que morávamos na
mesma rua, brincávamos desde crianças e somos filhos de famílias
tradicionais. Ele era o garoto mais lindo e carinhoso da escola. Foi o primeiro
menino que beijei e o único cara com quem transei. Fomos o casal mais
provável nas estatísticas. Às vezes me pegava arrumando alguma picuinha
apenas para ter uma discussão banal e ter um sexo de reconciliação que ia um
pouco mais longe do que o papai e mamãe, como era de costume. Raramente
brigávamos, sempre compatíveis em tudo: música, filme, time de futebol,
comidas... A única coisa que Tom e eu não dividíamos era a curiosidade
sobre o que tinha além de tudo aquilo. Do inesperado e dessa vontade de
conhecer outros lugares e outras pessoas que me consumia, de saber mais
sobre meu próprio corpo, de saber mais sobre as várias formas de prazer e ser
feliz. Tom foi do meu melhor amigo para meu namorado e agora meu noivo,
eram dez anos ao lado dele. Talvez fosse isso que eu queria, ser sua esposa, a
mãe dos seus filhos. Não teve troca de alianças ou um pedido romântico, foi
algo corriqueiro, dentro de uma pizzaria mediana no centro da cidade,
comemorando minha graduação em uma profissão que nem era meu sonho.
Foi quase o mesmo que falar: Ei, quer dividir essa pizza que está comendo
comigo?
E eu, com a boca suja de mostarda, apenas balancei a cabeça em
positivo. Porque sim, já que era algo que iria acontecer mais cedo ou mais
tarde. Apenas veio cedo demais. Quando terminei a faculdade, ainda não
sabia o que faria ou para onde iria, mas eu desejava desbravar para longe das
fronteiras de Columbia. Então o pedido de casamento veio, e com ele todas as
loucuras que minha mãe tinha dentro dela sendo soltas, como casar na igreja,
com direito a todas as pompas matrimoniais para sua única filha. Ao invés de
estar vendo quais seriam as melhores empresas para me candidatar para uma
vaga de emprego, estava analisando tecidos, flores, vestidos, músicas e
convidados. Desde quando tem tanta variedade de papel para um convite de
casamento? Estava vendo minha vida toda sendo decidida entre o branco gelo
e o branco pérola, como se fosse a decisão mais importante do mundo. Com
um sorriso forçado no rosto, me via sofrendo entre minha mãe e minha sogra,
para aprender a ser a esposa perfeita do futuro âncora do jornal das sete. Em
uma madrugada me peguei chorando compulsivamente, e em meio à crise de
choro me senti egoísta por não estar feliz com o meu futuro casamento. Tom
ir para a Califórnia apenas me deixou mais angustiada, já que deixou toda a
euforia de sua mãe junto com a minha sobre mim. Eu sabia que seria
importante para a carreira dele o estágio no jornal da Califórnia, era o sonho
da vida dele se tornar um ótimo âncora, que se destacaria em rede nacional.
Em mais uma noite estava a futura noiva tendo uma crise de melancolia, e me
vi pesquisando sobre trabalhos temporários durante o verão, apenas para ter
algo realmente importante para me preocupar além de flores do campo ou
com qual vestido a daminha de honra devia entrar. Acho que a conversa com
o meu pai, que tinha acontecido dois dias antes, foi a martelada final em cima
do prego que estava sangrando meu coração.
— Aproveite esse verão, conheça um lugar que nunca foi, converse
com pessoas que possam trazer outros conhecimentos. Faça algo sozinha,
você e uma mochila. — Seus dedos seguram os meus, e me perco em seu
olhar calmo. — Não estou dizendo que não sou a favor desse casamento, mas
talvez fosse bom, pelo menos uma vez, fazer o que você realmente quer,
tomar suas próprias decisões, cometer erros e acertos, descobrir onde foi
parar aquela pequena Ginger curiosa, que sempre se metia em aventuras e
encrencas, mas que era feliz.
Eu a ouço. Ouço a voz há muito tempo silenciada da pequena Ginger,
que em algum momento se perdeu, gritando dentro de mim. Desvio meus
olhos do meu pai, sentindo meu coração tão apertado, como se estivesse
sendo estrangulado.
— A vida é como uma história, onde você é sua própria escritora.
Aceite um conselho desse velho que te ama. — Meu pai segura meu queixo,
trazendo meu olhar de volta para o seu. — Só podemos escrever uma única
vez nesse caderno, então escreva algo belo, minha doce menina.
E foi assim. Depois que ele se despediu, saindo do meu apartamento,
me vi lendo sobre a vaga em Norfolk. Eles solicitavam uma acompanhante
para cuidar de um garoto de treze anos durante o verão. Não tinha muita
informação além disso, apenas um generoso pagamento e não necessitava de
experiência. Meu primeiro serviço na vida foi de babá, quando completei
quinze anos, para poder comprar meu estojo de maquiagem. Até terminar o
colegial, era dessa maneira que passava meu tempo na adolescência. Talvez
cuidar de um menino não seria tão ruim quanto ficar o verão todo vendo
minha mãe fazer o casamento dos seus sonhos. Com essa ideia, as palavras
do meu pai, um empurrão dado com a ajuda de duas taças de vinho e quase
jurando que não daria certo, me candidatei, enviando um pequeno vídeo de
apresentação.
No outro dia, depois de passar a manhã toda trancada dentro do
apartamento e me negando a atender as ligações da minha mãe, ao abrir
minha caixa de e-mail, fui surpreendida pelas letras em negrito em resposta.
Contratada.
Em menos de uma semana tinha acertado todos os trâmites, recebido
a passagem, que foi paga pela família do menino, e conversado com Tom por
chamada de vídeo. Tinha usado uma lingerie sexy por debaixo do meu
roupão, para mostrar a ele.
— Gostou? Comprei esses dias, quando pensei em você. — Sorri,
deslizando meus dedos pelo sutiã rendado. — Se quiser, pode até ganhar um
striptease.
Tom ri em resposta, balançando a cabeça em negativo.
— Se cuida, Gim. E a gente deixa isso para o ao vivo.
— Se cuida também. Te amo...
Ele simplesmente desligou, sem um beijo de boa noite ou um “estou
com muita saudade”. Poderia até ter dito “me masturbei pensando em você
nesses dias”, mas nada, absolutamente nada saiu dos seus lábios além de “se
cuida”.
Maquiada, com saudade de sexo e frustrada, abri o aplicativo de
mensagem, vendo a foto que ele tinha me mandado na noite passada, dentro
do quarto dele. Me masturbei imaginando uma transa quente com ele, como
eu sempre fazia. Tom não era o tipo galã, mas eu amava seu pau, que sempre
me preenchia, por mais que nunca tivesse visto outros paus além do dele ao
vivo, apenas pelos vídeos adultos. Tom era lindo, alto, com ombros largos.
Seu rosto quadrado trazia uma forma máscula, algo apenas dele. Sua cor
clara, com cabelos castanhos e olhos marrons eram minha perdição, e sempre
pensava nele me fodendo em algum lugar com risco de alguém nos pegar,
onde transaríamos forte e bruto. E era assim que gozava com a ajuda da
minha imaginação nos últimos tempos, até minhas pernas ficarem moles.
Mas era sempre apenas isso, apenas minha imaginação. Ergui o aparelho para
desligar, mas meus olhos ficaram presos no pequeno detalhe colorido que
aparecia no reflexo do espelho atrás da cama de Tom. Meu dedo deu zoom na
foto, vendo um borrão distante vermelho, que parecia um vestido arrumado
em um cabide e pendurado em sua porta. Descartei a ideia que pudesse ser
um vestido, talvez fosse alguma roupa do colega de quarto de Tom. No outro
dia estava embarcando para Norfolk, seguindo o conselho do meu pai, eu e a
mochila. E quando voltasse seria a perfeita e bela esposa de Tom Daver, o
futuro âncora promissor do jornal das sete.
Jon está sentado ao meu lado, olhando para o prato de comida, tendo
o mesmo desânimo que o meu. Não que eu seja uma pessoa ingrata ou
enjoada, mas apenas fico pensando: quem oferece sopa de polvo para uma
criança comer? Onde está a carne, a salada e a batata frita?
— E o que faz em Columbia, Ginger? — Charlotte Roy, a senhora
bem maquiada com seu vestido elegante, me olha serenamente, sentada à
minha frente, do outro lado da grande mesa.
Lorane tinha a apresentado como a anciã da família, recebendo uma
olhada de advertência da elegante senhora, que aparenta ter mais de sessenta
e oito anos, mas com uma lucidez perspicaz.
— Senhorita Fox está dando o jantar para Jon. — Lorane, sentada na
cadeira ao lado da velha, fala direta, não me deixando nem abrir a boca.
— Creio que Jon não sofre de nenhuma deficiência mental ou motora,
consegue se alimentar sozinho, Lorane. — A pequena mulher ergue a taça de
vinho, leva aos lábios e engole calmamente, olhando para mim. — Ande,
criança, não tenho mais idade para suspense. Responda.
Ouço o riso baixo de Jon, com seus fones de ouvido ainda presos em
suas orelhas. Ele ergue seu talher, mexendo no prato de sopa.
— Bom, terminei a faculdade de Administração há pouco tempo...
— E não pensou em trabalhar na sua área?
Me pego gostando da sincera mulher, que fala as palavras
diretamente, sem rodeio.
— Na verdade, não tive muito tempo. Acabei engatando em outros
projetos, e quando vi estava vindo trabalhar aqui. — O som do salto batendo
lentamente no piso me faz calar. A mulher loira, em seu vestido vermelho
colado, entra como uma borboleta, irradiando cor na sala de jantar.
— Deus, já está interrogando a pobre Ginger, tia? — Sinto o leve
toque dos seus dedos em meus ombros, enquanto ela puxa a cadeira ao meu
lado, se sentando delicadamente.
— Olá, aberração, não sabia que tinha chegado. — Baby respira
lentamente, fechando seus olhos e abrindo um pequeno sorriso quando ouve
os cumprimentos da velha.
Não entendo por que a chama dessa forma. Talvez as roupas quase
vulgares de Baby a fazem ser uma aberração aos olhos de tia Charlote.
— E eu não sabia que tinha sobrevivido ao último derrame!
— Paro o desgosto de Lorane, meu coração foi forte para voltar. —
Me engasgo com o caldo viscoso da sopa, quase o cuspindo para fora quando
a delicada senhora solta essas palavras, que arranca uma risada inesperada e
baixinha ao meu lado.
Empurro meu pé, encostando no de Jon, rindo para ele, o que o faz
finalmente abrir por completo seu sorriso para mim. Ao voltar meus olhos
para as mulheres, me pego sendo encarada por três pares de olhos.
— Jon, se alimente — Lorane fala baixo, mas o suficiente para fazê-
lo voltar sua atenção para o prato de sopa e tirar o sorriso do rosto.
E lá se foi a brecha que ele tinha aberto para mim, voltando a ficar
retraído. O som da cadeira sendo arrastada chama minha atenção para a ponta
da longa mesa. O homem de face dura, com semblante carrancudo, se ajeita,
ficando ereto. Se achava Baby alta, esse homem redefine a expressão da
palavra grande, e não só por altura, mas ele por completo é grande e
musculoso. Solta os botões do terno azul escuro, se sentando na sequência,
com sua respiração pesada.
— Olá, Jonathan, achei que não jantaria hoje. — Ele esboça o que
devia ser o mais perto de um olhar calmo para a senhora de idade.
— Desculpe pelo atraso, titia... — A voz rouca e grossa, junto com
sua aparência, me faz perceber que o esposo da senhora Lorane não está a um
passo de morrer, e nem é um velho ricaço.
Mas sim “O” homem ricaço.
Ele é estranhamente sombrio, quase como se toda a sala se fechasse,
se calando com sua entrada. Seu rosto quadrado, com corte de cabelo militar,
o deixa mais taciturno; suas mãos grandes batem seus dedos levemente na
mesa, olhando para seu prato sem interesse algum. E quase como um passe
de mágica, lá está a curiosa Ginger, o analisando intrigada. Sinto minhas
bochechas arderem com vergonha quando em um ágil movimento, sua cabeça
vira em minha direção, deixando seus olhos presos aos meus. São
esmagadores, repletos de intensidade, em um azul-claro quase puxado para o
cinza, como os de Baby, a diferença é que os dele me lembram um dia
chuvoso com céu opaco. Nesse momento deveria ter desviado meus olhos
dos seus, mas ainda continuo a examinar cada linha marcada que ele traz em
sua feição carrancuda. A barba rala por fazer não o deixa com aspecto de
desmazelo, mas sim rústico, belo e perigoso ao mesmo tempo. O leve tremor
ao canto dos seus lábios chama a minha atenção para sua boca, que é reta,
mas destaca seu lábio inferior, que é maior que o de cima, harmonizando com
seu rosto másculo. O nariz fino e reto segue o desenho das sobrancelhas
negras, que se destacam em sua pele clara. Sim, realmente é um homem
estranhamente sombrio, mas belo de uma forma esmagadora.
— Roy, essa é Ginger. — Baby vira seu rosto para mim, quebrando
minha inspeção no homem carrancudo. Pisco algumas vezes e sinto meu
rosto arder o dobro ao ter consciência que Baby está me olhando com um
sorriso maroto em seus lábios carnudos, pintados de vermelho.
— Boa noite, senhorita Fox. — O som da sua voz é impessoal, tão
gélido quanto o resto da residência ou das cortinas sem vida do quarto de Jon,
o que acaba me deixando desconfortável.
Sem coragem e cheia de vergonha por ser pega encarando-o, apenas
balanço minha cabeça, o cumprimentando. A chegada do jovem rapaz, que
tinha apelidado de Coringa, quebra o estranho silêncio da mesa. Com as
piadas mordazes de Bob, continuo a olhar a sopa de polvo intocada em meu
prato, me sinto uma criança que foi pega bisbilhotando o brinquedo da
coleguinha. O resto do jantar ocorre no mais absoluto silêncio, e, por algumas
vezes, me pego desejando poder usar o recurso dos fones de ouvido, como
Jon usa agora. Me sinto aliviada por ele finalizar o jantar deixando seu prato
menos cheio do que o meu, que continua intocável, pedindo licença para se
retirar. Ainda me sinto perdida quando me jogo na cama, ao fim da noite,
depois que ajudei Jon a se deitar. Não obtive mais sucesso em arrancar
nenhum tipo de expressão dele. Suspiro derrotada, obrigando meu corpo a se
levantar e ir para o banho. Não tenho coragem de usar a banheira, estou
cansada da viagem, então tomo apenas uma ducha e é ótimo. Depois de vestir
minha camisa velha de basquete, que mais parece um vestido, que para na
metade das minhas coxas, caminho até a janela grande, abro suas portas e
recebo com alegria o vento que traz um aroma de maresia quando passa por
mim. Solto o coque dos meus cabelos, desembaraçando um pouco dos cachos
que ficaram presos o dia todo. Nunca, em toda minha vida, vi uma noite
estrelada tão linda. O som das ondas se desfazendo na areia me faz sorrir,
nunca tinha estado tão próxima do mar. Estico meus braços, deslizo meus
dedos sobre as barras de mármores da sacada, fecho meus olhos, e apenas por
esse segundo em silêncio, com a noite estrelada e eu, constato que não pensei
em Tom ou em casamento o dia todo. E por mais estranho e egoísta que isso
possa parecer, estou feliz.
— Ainda acho desnecessário ter contratado alguém. — O som da voz
nervosa de Lorane fala rápido, chamando minha atenção. Viro meu rosto,
vendo-a a duas sacadas de distância da minha, a luz acesa do cômodo, com as
portas abertas.
— Não pedi sua opinião sobre a minha decisão. — A voz impessoal
de gelo responde seca, cortando-a na mesma hora.
— Você nunca pede nada, apenas ordena. — Para um casal de marido
e mulher, os dois parecem tão apaixonados quanto um bovino pelo
açougueiro.
— Exatamente! E agora ordeno que saia do meu quarto!
Ouço os xingamentos que não parecem nada sofisticados saindo da
boca da mulher elegante que conheci essa manhã, sendo seguidos pelo som
forte de uma porta sendo batida com raiva. Me encolho com a sonoridade da
pancada, arregalo meus olhos, assustada. Antes mesmo de poder bater em
retirada, ou desviar minha vista para qualquer merda de lugar que não seja a
varanda, lá está ele, parado, silencioso, com uma mão no bolso da calça e a
outra segurando um copo de uísque, me encarando em sua varanda. Pela
segunda vez no mesmo dia, sou pega no flagra, bisbilhotando. A mão que
contém a bebida se ergue para mim, em um cumprimento. Desvio meus olhos
para o chão e volto para o quarto o mais rápido que posso.
— A curiosidade matou o gato, Ginger — me recrimino por não saber
controlar meus olhos curiosos quando estão perto desse homem.
Uma semana passa mais rápido do que se possa imaginar, ainda mais
quando todo dia é uma coisa nova. Jon não fala pelos cotovelos, mas também
não é silencioso por completo, como nos primeiros dias. Em algumas manhãs
tinha conseguido arrancar dele um bom dia. Às vezes tinham algumas coisas
nele que me assustavam, como o ocorrido da terceira noite, quando acordei
no meio da madrugada com uma sensação estranha e me deparei com Jon
parado ao lado da cama, me encarando. Quase infartei de tanto medo que
tive. Mas quando acendi a luz, vendo seu estado, foi meu coração que se
partiu com dor. O levei de volta à sua cama, o deitando lá. Naquela noite, não
foi apenas os pesadelos noturnos de Jon que chamaram minha atenção, mas
sim os cortes finos que ele tinha em seu braço, feitos apenas para lhe causar
dor, mas ainda assim era algo alarmante. Tentei conversar com Lorane sobre
os ferimentos que Jon estava causando nele mesmo, mas ela me silenciou,
dizendo que ele já se tratava com um psicólogo e não queria que eu
continuasse com o assunto. Mas para um menino que estava tendo
acompanhamento médico, Jon não parecia estar tendo nenhum tipo de
progresso.
No quarto dia, tentando fazê-lo conversar comigo enquanto guardava
na cômoda as roupas dele, que Lira, umas das empregadas, tinha trazido, o vi
quase tendo uma crise nervosa porque guardei suas camisas pretas junto com
as coloridas. Em silêncio, Jon separou todas, arrumou uma a uma e dividiu
por cor e tamanho. Deixei uma cueca branca dentro da gaveta onde apenas
cuecas pretas estavam guardadas, querendo saber se sua reação seria a
mesma, e sim, Jon estalou seus dedos agoniados, olhou para mim e para a
gaveta. Não se aguentando, ele se levantou da cama, indo para lá e guardando
a cueca branca junto com as outras da mesma cor. Na biblioteca, onde ele
gostava de passar suas tardes, testei com ele algumas teorias, e deixei alguns
livros fora de ordem. Jon ficou nervoso, arrumou um a um outra vez; e o lápis
torto sobre a mesa do escritório foi corrigido quase como milimetricamente
para estar na mesma sequência dos outros.
Depois, no quarto dia, sozinha, após o jantar e pôr ele para dormir,
liguei para uma amiga minha da época da faculdade, que tinha conhecido no
auditório de aulas de psicanálise. Relatei as estranhas atitudes dele, e ao fim
ela confirmou o que eu suspeitava. Jon tem grandes chances de ter TOC[3].
Mesmo tão novo, o transtorno já está se agravando, o que apenas o fará ficar
em um estado pior em sua fase adulta se não for tratado. Recordava-me da
palestra que consegui assistir em um dia que Tom teve que trabalhar até
tarde, o professor falou sobre transtornos psicológicos, o que acabou
deixando o Transtorno Obsessivo-Compulsivo em destaque. Da mesma
forma que podia ser algo hereditário, o TOC também poderia vir de algum
trauma ou abuso da infância. E mais uma vez lá estava eu, conversando com
Lorane, e mais uma vez ela me silenciou. Na quinta noite não foi com Jon
parado ao lado da minha cama que acordei, mas sim com seus gritos às três
horas da manhã, o que me fez correr para o quarto dele e o encontrar quase
despido, apenas com uma cueca, com seu corpo trêmulo caído no tapete, no
meio do quarto. Ele gritava chorando, abraçando seu próprio corpo. Corri
para Jon e dobrei meus joelhos quando caí à sua frente. Ele se encolheu mais,
gritou quando meus dedos tocaram em seu ombro, como se meu toque o
ferisse. Recolhi meus dedos com espanto, o vendo lá tão frágil com seu choro
doloroso, e nada no mundo poderia ser tão quebrado quanto o choro do
menino. Entre seu esperneio e gritos alterados, o puxei para mim, o
envolvendo em meus braços, apertando forte seu corpo ao meu.
Sempre tive a clara ideia de que nada é mais sólido e importante para
um ser humano quanto o acolhimento de outro ser, o abraço, a empatia e a
segurança que traz paz para sua alma. Sussurrava palavras ternas em seu
ouvido, disse que ele ficaria bem, que foi apenas um pesadelo. E pouco a
pouco ele foi acalmando, adormecendo em meus braços entre seus soluços.
Meus olhos vagaram por seu corpo, vendo o desenho da sua coluna vertebral
que salientava sobre suas costas magras. Alisei seus cabelos azuis, beijei o
topo da sua cabeça, o abracei mais forte e ouvi sua respiração diminuindo
com seu sono. A bermuda de Jon estava caída ao canto, sabia que ele tinha
dormido com ela, eu mesma o pus para se deitar e apaguei a luz do quarto.
Jon não estava só de cueca quando foi dormir. O deitei lentamente no tapete,
me arrastei para perto da cama e puxei seu travesseiro e sua coberta. Depois
de arrumar Jon, o cobri e voltei para o meu quarto apenas para pegar meu
travesseiro, mas congelei ao som da porta da saída sendo batida no quarto de
Jon. Voltei o mais depressa possível até a porta que liga nossos quartos,
adentrei o quarto de Jon, parei de frente para a porta que ouvi ser batida,
segurei a maçaneta e a rodei vagarosamente, e, com um click, a porta que eu
tinha trancado antes de dormir estava aberta, e o som que ouvi não era da
minha cabeça. Senti meu coração batendo rápido, vendo o corredor escuro.
Eu não estava louca, tinha absoluta certeza de que tinha trancado aquela
porta, da mesma forma que sabia que tinha mais alguém escondido dentro
daquele quarto, que devia estar dentro do banheiro, e quando fui até meu
quarto, usou esse pequeno tempo para fugir. Passei a chave outra vez, a
trancando novamente, sentindo meus dedos trêmulos e meu coração
disparado.
Joguei meu travesseiro ao lado de Jon, me deitei com ele, e por aquela
noite não consegui mais fechar meus olhos. Dessa vez não levei isso para
dona Lorane, para não ser silenciada novamente, eu fiz o que achava que era
certo. Na sexta noite, Jon estava dormindo na minha cama junto comigo, e a
porta que dividia os cômodos estava trancada, sendo bloqueada pelo guarda-
roupa que tinha trocado de lugar e arrastava para frente da porta sempre que a
noite caia. Eu não sabia se poderia contar para Baby o que tinha acontecido, e
nem se ela sabia sobre o transtorno e mutilação de Jon, por mais alegre e
falante que ela ficasse perto dele, sempre demonstrando um afeto sincero.
Mas ainda assim, a única sensação que tinha era que ninguém realmente dava
importância para o mal que estava acontecendo ali. Todos traziam segredos
obscuros, que se escondiam entre as paredes da mansão.
— Oh, meu Deus! Como espera viver dessa forma? — Rio para Baby,
que está sentada ao meu lado, observando Jon caminhar na praia.
Estou feliz por finalmente ter conseguido tirar ele de dentro da
biblioteca. Ele está mais leve, até mais tranquilo, desde o dia que o trouxe
para dormir no meu quarto. Jon não se abriu quando perguntei a ele se
alguém estava o machucando, ele apenas ergueu os fones ao ouvido, me
dizendo da sua forma, com seus gestos, que queria ficar em silêncio. Por não
querer pressioná-lo, resolvi não lhe perguntar mais, porém ainda assim
continuo em alerta com os sinais que andam acontecendo.
— Na verdade, não é tão ruim assim... — Encolho meus ombros,
virando meu rosto para ela, que me encara.
— Sério? — Sou obrigada a rir com a forma como ela pergunta isso.
Tenho tido uma afinidade com Baby, uma sensação rara, que acontece
poucas vezes na vida, quando você encontra alguém e tem certeza de que ela
será sua melhor amiga, é quase como se ela fosse minha alma gêmea. Baby é
hipnotizante. Não só por sua beleza, mas por seu carisma. Ela fala livremente,
sem vergonha e é espontânea. Compartilho com ela todos os tipos de loucuras
que às vezes eu acabava pensando e nunca tive com quem dividir. Baby tem
trinta e três anos, conheceu mais lugares do que eu conheceria em duas vidas,
mesmo se reencarnasse várias vezes. Ela ama desenhar roupas, algumas ela
manda fazer apenas para uso exclusivo. Tínhamos falado de tudo, desde a
marca do meu anticoncepcional, que tomo há anos, até sobre o sonho dela de
abrir sua própria linha de roupas.
— Ok, talvez não seja o mais esperado, mas Tom me faz feliz da
maneira dele.
— O cara tem nojo de fazer anal, Gim! O que pode esperar dele além
de uma vida sexual frustrada? — Tampo meu rosto, rindo alto.
Conversei com Baby em pouco tempo o que nunca tinha falado nem
para mim mesma em voz alta a minha vida toda. Contei sobre como me
sentia estranha por ser curiosa sobre meu corpo, sobre sexo e sobre me sentir
sempre frustrada com o velho papai e mamãe que Tom me oferece, e ela, de
uma forma única, não me fez me sentir uma pessoa com sérios transtornos
sexuais, mas sim me ouviu sem julgar, sem fazer cara de espanto, apenas me
ouviu. Para Baby, eu não era inapropriada, era só a velha Ginger curiosa.
Contei para ela sobre meu desejo platônico pelo meu professor no último
semestre da faculdade, com o qual ficava imaginando vários momentos entre
nós, em como poderia ser fodida por ele em cima da mesa ou no seu
escritório. Mas sempre que batia o sino eu passava pela porta da sala para ir
embora e as fantasias e desejos ficavam lá, e eu voltava feliz para Tom, o
fazendo ser meu professor sexy e quente. Baby não faz eu me sentir uma
pessoa louca, mas sim uma mulher curiosa que deseja desbravar mais de si
mesma.
— Já disse isso para ele, Gim? Alguma vez olhou para Tom e falou:
quero uma transa forte e bruta? — Baby fala sobre esses assuntos com
tamanha naturalidade, que apenas me deixa mais confortável para deixar
expostos meus pensamentos.
Nunca tive tempo para arrumar amigas, nem na época do colégio e
nem na faculdade. Achava estranho ter que me comunicar com outras
pessoas, ainda mais sobre assuntos assim.
— Uma vez a gente estava transando, estava legal, eu estava quente e
desejando mais... — Fecho meus olhos, lembrando daquele dia. Tom estava
feliz, tínhamos comprado o apartamento e estávamos eufóricos. — Então
pedi para ele me dar um tapa — sussurro, perdida em minhas lembranças. —
Apenas um tapa, sabe? Qualquer lugar que fosse: na bunda, nas coxas, até no
rosto, se ele quisesse.
— E ele bateu? — Ela me olha mais atenta, abrindo um sorriso.
— Não. Na verdade, ele broxou por completo. — Por mais que tente
esquecer, nada apaga da minha mente o olhar de repulsa que Tom me deu
naquele dia. — Ele disse que mulher decente não ficava pedindo aquelas
coisas.
— Oh, meu Deus, que babaca! — Baby responde rápido, erguendo
seus dedos e alisando meu rosto. Me pego sendo sugada por seus olhos
claros, tão vivos. Estou acostumada com esses carinhos espontâneos que ela
faz. — Ele é um idiota, Gim. Com toda certeza não sabe o que uma mulher
realmente gosta.
— Tom, na verdade, é um cara bom. Ele foi criado da mesma forma
que eu, em uma família tradicional, acho que apenas não está preparado para
as minhas fantasias.
— Não se trata de educação, Gim. Sexualidade nasce com a pessoa,
não importa seu gênero. É algo natural e espontâneo, que floresce dentro de
nós, e não tem que ter vergonha. O sexo, a união dos corpos, é algo belo! —
Baby fala de uma forma baixa, quase como se estivesse ronronando.
É em choque que me pego ali, sentada na areia ao lado dela, com meu
corpo quente e a respiração eufórica, como se esperasse que ela me beijasse,
imaginando como seria o toque dos seus lábios nos meus. Seus dedos
escorrem por minha face, acariciando a lateral da minha bochecha de uma
maneira íntima, com seus olhos cinza analisando cada reação minha. Pisco
meus cílios rapidamente, ainda perplexa pela reação do meu corpo, recebendo
apenas um sorriso dela, em cumplicidade.
— Sexualidade é bela, pequena. Não sinta vergonha.
— É fácil falar quando se é o tipo de mulher linda como você, Baby.
— Desvio meu rosto na direção de Jon, não tendo coragem de olhar para ela
outra vez. — O que aconteceu com os pais de Jon? — Mudo de assunto,
ouvindo o ritmo da sua respiração mudar do calmo para o pesado.
— James, quando era mais novo, se envolveu com uma garota de
programa. E um belo dia ela voltou trazendo Jon com ela, dizendo que era
filho dele.
— James é o pai, certo? Onde ele estava quando Jon nasceu? — Baby
tem sua atenção voltada para Jon, o olhando agora com um lampejo de
tristeza.
— James já não estava mais lá. — Fico em silêncio, pensando se devo
perguntar como ele morreu ou não.
— Ainda bem que ele tinha o senhor Roy e dona Lorane para poder
ficar com o menino — respondo baixo, riscando a areia com meus dedos.
— Na verdade, James também deixou Lorane. — Ergo meu olhar
para Baby, sem entender. — Lorane era noiva de James quando ele se foi.
Roy, por pena da situação dela, se casou, apenas para não deixá-la
desamparada ou fazer algum tipo de escândalo.
— Nossa, eu jurava...
— Que os dois se amam? — Baby balança a cabeça em negativo. —
Acho que Roy nunca amou nada de verdade em sua vida. Não começaria por
Lorane, isso eu posso garantir.
— Eu nem sei o que dizer...
— Não precisa dizer, tem coisa que é visível. Meu irmão preferiria
foder um buraco de fechadura ao entrar no meio das pernas daquela cadela
fria. — Arregalo meus olhos para Baby, ficando mais confusa.
— Eles não dormem juntos? — Baby abre um largo sorriso de
deboche, balançando a cabeça em negativo.
— Não, nunquinha. Treze anos de casamento da mais pura e perfeita
fachada.
— Nossa! — Solto um assobio longo, arqueando minhas
sobrancelhas, intrigada com essa relação de conveniência dos dois. — Treze
anos!
Meus dedos voltam a riscar a areia, tento imaginar qual tipo de
escândalo poderia ser tão grave para valer um casamento de treze anos.
— Treze anos, menina. Lorane não é santa, isso eu sei, e Jonathan...
Bom, ele é o Jonathan.
— Bom, o importante é que ele ama você, assim como Jon, certo? —
Não vi o senhor Roy desde o primeiro jantar, é como se ele tivesse
desaparecido da mansão nos últimos dias. — Se não amasse, não teria ficado
cuidando do sobrinho.
— Irá descobrir, antes do verão acabar, que todos trazemos demônios
diferentes dentro da gente, Gim. Alguns apenas conseguem trancafiá-los com
mais naturalidade, Roy é um mestre nisso.
— Por que não damos uma volta por aí hoje, ao invés de ficarmos
trancados aqui dentro da biblioteca? — Tamborilo meus dedos no encosto da
cadeira, próximo à estante de livros, vendo Jon sentado à minha frente com
seu rosto focado na leitura.
Seus olhos desviam por um segundo do livro, me encarando. Balança
sua cabeça em negativo e volta sua atenção para Vinte mil léguas
submarinas[4]. Jon deve saber ditar esse livro do começo ao fim. A aventura
do Capitão Nemo em seu submarino Náutilus, movido à eletricidade, onde
Verne retrata um homem com sua criação, que se liberta ao se afastar da
população, indo desbravar o oceano com seu submarino que por muitas vezes
foi confundido com algum monstro dos confins do mar. Viveu aventuras
inesquecíveis, como: caçar em uma floresta submarina com armas de pressão;
comer animais nunca antes provados na superfície da Terra; ver pérolas do
tamanho de uma bola de boliche, cultivadas pelo próprio capitão Nemo nas
profundezas do oceano; ter conhecimento de uma passagem secreta que
permitia uma viagem submarina muito mais veloz; lutas com polvos
gigantes; entre outras aventuras. Ao olhar para Jon, é o Capitão Nemo que
vejo, tão recluso em seu mundo, preferindo o silêncio do oceano à
aglomeração da população à sua volta. E, por isso, é esse, entre todos os
livros, a história que Jon mais ama.
— Jon, vamos lá. Você gostou de ir à praia no outro dia. Hoje
podemos ir só eu e você, o que acha? Vamos explorar a ilha? — Me levanto,
caminho angustiada dentro da biblioteca, por estar enclausurada aqui dentro,
sendo que tem um sol lindo do lado de fora.
Retiro o celular do bolso da calça, verifico pela quinta vez que não há
nenhuma mensagem nova de Tom. Novamente ele tinha marcado de fazer
uma chamada de vídeo e tinha me deixado na mão. Estava tão animada por
poder, finalmente, apresentar Jon para ele.
— Podemos achar algum lugar que tenha muita fritura, gordura e
milkshake, depois do banho de mar. — Desisto de Tom, deixando para ligar à
noite para ele.
O pequeno sorriso se abre ao canto dos seus lábios, encolhendo um
pouco mais seus ombros, prendendo o livro em seus joelhos finos.
— Não que eu esteja desmerecendo Júlio Verne com essa perfeição
de livro. Mas por que hoje não podemos ser o Capitão Nemo e procurar por
nossas próprias aventuras?
Jon franze seu cenho, pensativo, me olhando com um novo brilho no
olhar. Seus cabelos azuis, que caem sobre sua testa, destacam sua pele clara,
e ele pisca seus longos cílios negros.
— “... Não vivi 10 meses aquela existência extranatural?” — Ergo
meu tom de voz, apontando meu dedo para a janela, enquanto estufo meu
peito e recito pavorosamente a última frase que Júlio Verne usou para
encerrar o livro. — “Quem jamais pôde sondar as profundezas do abismo?”
— falo bravamente, espalmando minha mão ao peito, como o romancista
francês.
Jon me olha espantado, por me ver ditando Vinte mil léguas
submarinas. Suas bochechas claras ficam rosadas, mostrando suas covinhas
quando ele abre um grande sorriso. Aponto para ele, para que possa concluir
o desfecho final do livro.
— “Dois homens entre todos os homens têm, agora, o direito de
responder. O Capitão Nemo e eu."
Minha mão se ergue na sua altura, ficando parada no ar, esperando-o
bater. Seus olhos azuis param em minhas mãos, sem se moverem.
— Vai, bate. Não pode deixar alguém no vácuo com o bate aqui. —
Rio para ele, balançando minha mão.
— O que é isso? — Por um instante sinto meu peito se apertar,
quando ele faz essa pergunta, me deixando saber que algo tão simples e bobo
nunca foi feito com ele.
— Bate aqui é o que os amigos fazem quando acontece algo legal. —
Ergo sua mão, batendo-a na minha, e aponto para ele. — Bate.
— Você é minha amiga? — Ele está confuso, mais perdido do que
antes, como se estivesse duvidando que fosse digno de amizade.
Me abaixo, ficando na sua altura e deixando nossos olhos na mesma
linha.
— Eu sou sua amiga, Jon. — Retiro o livro dos seus dedos, erguendo
minha mão para ele. — Primeira regra da amizade: nunca deixe um amigo no
vácuo no bate aqui.
A feição suave e alegre que ele me presenteia faz meu coração ficar
tão quentinho, como se tivéssemos dado finalmente o maior passo de todos.
Ele bate em minha mão, rindo animado. Sorrio feliz por termos
compartilhado esse momento.
— Mandou bem, Jon! — Puxo ele, retirando seu corpo do sofá e
bagunçando seus cabelos com minhas mãos.
— Gosto de milkshake de morango. — Não posso evitar de dar um
grito, acompanhado de um pulinho, com sua decisão.
— Vamos nos trocar e ver o que tem na garagem, bebê.
— Jon, vai indo para a garagem, vou avisar a senhora Lorane que
vamos sair. — Ele balança sua cabeça em positivo, caminhando para a escada
e segurando a mochila em seus dedos.
Perco quase trinta minutos revirando a mansão, procurando pela
mulher sumida, até que acho Lira na lavanderia, e ela me conta que talvez eu
encontre Lorane na estufa de orquídeas, que fica na ala leste da mansão.
Quando me aproximo da porta, ouço sons abafados lá dentro. A janela
grande, que tem vidraças esfumaçadas, me deixa apenas ver algumas sombras
do lado interno. O som mais audível de um gemido dá para ser ouvido
perfeitamente quando paro na frente da porta.
— Senhora Lorane. — Dou duas batidas suaves, levando minhas
mãos para trás e enganchando meus dedos no bolso traseiro do short jeans,
esperando pela porta ser aberta.
Algo se quebra dentro da estufa, deve ser um vaso, pelo estrondo que
faz. Demora apenas alguns segundos para a porta ser aberta. A mulher
elegante, que não está nada arrumada nesse momento, respira rápido. Arruma
o relógio em seu pulso e me encara.
— O que quer? — Estou com meus olhos focados atrás dela, vendo a
sombra da segunda pessoa dentro da sala se afastando para o canto. —
Senhorita Fox?
A mulher dá um passo para fora, bloqueando minha visão e fecha a
porta.
— Bom, eu... — Volto meus olhos para seu rosto e vejo o canto da
boca dela levemente borrado com batom. — Queria saber se posso dar uma
saída com Jon.
Seus olhos recaem sobre mim, indo do meu cropped[5] amarelo de
renda para meu short jeans desfiado, parando na rasteirinha dourada em meus
pés. Essa mania estranha dela, de ficar analisando cada roupa que uso com
ares de reprovação, está começando a me incomodar. Em nenhum momento
foi falado que eu teria que vestir algum uniforme ou andar de burca[6] pela
mansão.
— Não acho que seja necessário sair com ele — ela responde rápido,
se vira e me larga lá, com cara de besta, olhando a porta fechada.
— Droga! — resmungo baixo entre meus dentes, viro em meus
calcanhares e praticamente corro atrás dela. — Senhora Lorane...
Ela não para, apenas continua sua marcha reta, batendo os saltos finos
no chão a cada pisada.
— Senhora, está um dia bonito lá fora. Jon aceitou o convite.
É como falar com uma parede. Não entendo por que ela não deseja
que ele saia de dentro desse lugar. Seria bom para ele respirar um pouco de ar
puro, sair dessa mansão.
— Jon devia estar estudando um pouco mais hoje, ao invés de estar
querendo fazer um passeio, senhorita Fox.
Já estamos passando por outro corredor, cheio de quadros, o qual
nunca tinha visto. As pinturas expressionistas chocam os admiradores de sexo
natural. Algumas são fotografias grandes, que apenas demonstram o contorno
do corpo humano, focando principalmente nas genitálias. Com toda certeza,
eu ainda não tinha vindo para a parte leste da mansão, meu cérebro nunca se
esqueceria dessas imagens.
— Hoje é sexta-feira, Jon está de férias. Talvez uma folga dos estudos
possa lhe fazer bem também. Nessas duas semanas que estou aqui, Jon saiu
apenas uma única vez, ao fim da tarde.
Quase caio para trás quando ela se vira abruptamente, parando de
caminhar.
— Não acho apropriado, senhorita Fox. — Deus, como eu odeio essa
palavra: apropriado!
— O que não é apropriado? — Estou tão concentrada, imaginando
meus dedos apertando o pescoço dessa megera, que apenas noto que estamos
de frente para uma porta aberta quando a voz impessoal fala, cortando nós
duas como gelo.
Sei que sou uma grande covarde por não conseguir virar meu rosto
para olhar para ele, mas a vergonha por saber que ele tinha me visto me
masturbando durante a madrugada, na varanda do meu quarto, ainda me faz
querer abrir um grande buraco abaixo dos meus pés, para me esconder.
— Fiz uma pergunta. — Meus dedos se esmagam na barra do short
quando ouço o som da cadeira sendo arrastada. Os passos pesados são
poucos, antes de sentir a respiração pesada próxima de mim.
— Senhorita Fox quer retirar Jon da mansão. Acho que não seria
apropriado sair com ele nesse sol quente. — Lorane é rápida na resposta, me
fazendo parecer uma irresponsável ao apontar o sol quente.
Sei que Jon é muito clarinho, sua pele não pega muito sol, e
queimaduras podem ser graves, por isso estou com dois frascos de protetor
solar na mochila, para proteger ele. Não sou uma idiota, não faria ele ficar
esticado na areia, no sol do meio-dia, queimando como um camarão.
— E devo presumir que a senhorita Fox acha apropriado? — Minha
pele sente arrepios com sua voz intensa, e os pelos da minha nuca se erguem
feito pelo de gato quando um grande cachorro bravo rosna perto dele.
— Na verdade, não usaria a palavra apropriado — sussurro, batendo
meus pés no chão.
Pensar que posso falhar de alguma forma com Jon, se não o tirar
daqui para passear, porque não tive coragem de olhar para o senhor Roy, é o
suficiente para chutar minha vergonha por conta do show de masturbação
gratuito para bem longe.
— A palavra que usaria seria essencial. Uma necessidade, senhor
Roy. — Ergo meu olhar para o homem sério, que está tão próximo que posso
sentir o ar quente da sua respiração tocando minha testa.
Acho que naquele dia do jantar não tinha reparado em como ele é
extremamente alto, e mesmo no terno negro ainda posso ver seus músculos,
que acentuam o tecido de alfaiataria. O homem é quase da largura da porta,
um armário musculoso cheio de testosterona.
— Essencial. — Ele abre seus lábios, dizendo a palavra calmamente.
— Sim, Jon passa muito tempo aqui dentro. — Olho para dona
Lorane, que está nesse momento a um passo de me estrangular da mesma
maneira que eu desejei fazer com ela há instantes. — Estou levando protetor
solar para cuidar dele, e não vou deixá-lo pegar muito sol. Mas ficar aqui
dentro também não ajuda o fortalecimento da sua pele.
Volto meus olhos para o senhor Roy, que apenas me observa, sem
demonstrar nenhum tipo de compadecimento com meu pedido.
— Hoje decidimos deixar a biblioteca e desbravar a ilha, como o
Capitão Nemo.
— Está incentivando-o por conta de um filme animado? Devo
presumir que você deva ser a Dory, para esquecer facilmente de todas as
recomendações que lhe dei.
Eu vou matá-la! Deus, estou realmente pensando seriamente sobre
isso!
— Na verdade, tenho uma excelente memória, senhora — respondo
baixo, tentando disfarçar minha raiva. — Serei Náutilus, não um peixe. E me
recordo muito bem de me dizer que poderia usar algum veículo da mansão
quando ele quisesse passear.
— Deveria passar mais tempo na biblioteca do que na estufa, Lorane.
Isso lhe ajudaria a entender referências literárias. — O rosto da mulher fica
tão vermelho, que sinto empatia pela forma rude e fria como a voz do senhor
Roy sai.
— Quer saber — ela ergue suas mãos, balançando sua cabeça com
desgosto —, a decisão é sua, Jonathan. — Lorane se recompõe rapidamente,
trazendo a fachada fria para a sua face, se vira na mesma hora e sai a passos
duros.
Fico observando a ponta do seu vestido sujo na parte de trás. Pelo que
Baby me contou, não era o senhor Roy que estava na estufa com ela. E se não
era o seu marido que estava lá, quem seria? Porque, claramente, ela estava
tendo um momento íntimo entre as orquídeas. Mordo a lateral dos meus
lábios para conter a curiosidade incontrolável que me assalta. Com uma
bufada alta de um búfalo, perto demais para meu gosto, tomando posse do
meu espaço pessoal, me vejo sendo sugada pelos seus olhos azuis quando me
viro. Esse homem é meticuloso, com uma força de dominação esmagadora, e
está me prendendo apenas com a intensidade do seu olhar. Ele é um gatilho
maldito para minha vagina sacana, que perde o controle na sua presença. Me
recordar que foram exatamente esses olhos que imaginei me observando
quando me masturbei na sacada me faz hiperventilar outra vez.
— Então, pequena Náutilus, deseja desbravar a ilha com Jon? —
Mordo com mais força a lateral da minha boca, com meu coração acelerado
em batidas descoordenadas.
— Sim, será bom para ele e... — Me perco com os movimentos
precisos que seus braços fazem, destacando ainda mais a grossura dos
músculos sobre o terno. Seu corpo se move lento, a passos curtos, me
fazendo recuar.
Suas mãos grandes vão ao bolso da calça e seu peito se movimenta
espontaneamente para frente, quando comprimidos. O primeiro botão da
camisa branca social chama minha atenção para a cicatriz fina que segue a
linha da garganta, está desbotada e envelhecida com o tempo, se misturando a
cor da sua pele. Olhando-o tão próximo agora, posso perceber que sua pele
não é tão clara como a de Baby, traz um bronzeado natural, lhe deixando
quase dourado.
— Essencial, creio que foi essa palavra que usou. — Não tenho muito
o que dizer, ficar tão próxima a ele em um corredor vazio é perigoso para
minha saúde mental. Apenas balanço minha cabeça em confirmação.
É somente quando ele se afasta, ficando com seu corpo reto voltado
para perto da porta aberta, que posso perceber que estava com minhas costas
colada na parede. Tinha perdido espaço e tempo, tudo em questão de
segundos, apenas por conta de uma respiração quente e do seu olhar
dominador.
— O que está aguardando? Pode ir. Espero que encontre a aventura
que procura, senhorita Fox.
Perigo extremo!
É isso que meu cérebro me alerta ao ouvir sua fala mansa, que agora
não está em nada parecida com a voz impessoal e gélida de segundos atrás,
mas ainda deixa explícito em seu olhar que é um predador nato. Não sei dizer
qual melhor animal feroz se enquadra a ele, um traiçoeiro tigre de bengala ou
um letal leão africano. Independentemente de qual seja, ele sabe que está no
topo da cadeia alimentar, e, nesse momento, sua presa sou eu. Ele está
brincando comigo, testando minha reação, e gosta de ver a resposta que meu
corpo dá para ele com minha respiração acelerada. Com o resto de força que
me sobra, me viro rapidamente, batendo em retirada, como um soldado que
acaba de encarar seu inimigo. Não olho para trás um segundo sequer, mesmo
tendo certeza de que ele ainda está lá. Os pelos da minha nuca, arrepiados,
me garantem isso. A verdade é que o estranho homem carrancudo é uma
perigosa quimera[7], e eu entrei em seu radar de caça.
CAPÍTULO 05
SEGREDOS REVELADOS
Ginger Fox
Dizer que tivemos grandes aventuras seria mentira. Acho que a maior
de todas foi um siri nervoso que tentou beliscar meus pés quando pisei nele
sem querer, me fazendo sair correndo como uma louca. Jon apenas ria,
torcendo seu corpo e segurando sua barriga, gargalhando ao me ver
desesperada com aquele terrível animal. Pela manhã aproveitamos a praia e,
mesmo contra seu gosto, praticamente o lambuzei de cima a baixo de protetor
solar. Só depois disso pudemos tomar banho de mar. Como qualquer menino
que adora água, Jon simplesmente irradiava alegria a cada caldo que a onda
lhe dava. Aproveitei aqueles momentos espontâneos e descontraídos para
saber um pouco mais sobre como era sua vida quando não estava aqui. Jon
passa o resto do ano em um colégio interno na Alemanha, que Lorane tinha
achado para ele. Algumas vezes sua avó materna vem para visitá-lo no verão.
Ele falou muito sobre as aulas preferidas, mas em nenhum momento citou
algum amigo. Quando estava secando seu corpo, notei um pequeno arranhão
que ele tem nas costas, que está começando a desaparecer. Fiquei em
silêncio, observando minhas unhas, sem saber se eu tinha feito aquilo nele.
Jon se bate muito durante a noite, mas seus sonos não são mais agressivos
como nos primeiros dias. Jon se sente em paz dormindo no meu quarto. Eu
me lembraria de tê-lo o arranhado sem querer.
Deitada na areia, aproveitando o sol depois de termos brincado
bastante na água, com meus olhos fechados, sinto um toque lento em cima do
meu seio esquerdo, raspando por cima do bico, como uma carícia íntima.
— Jon! — Me sento em alerta, o vendo se retrair por conta da minha
reação. Não queria ter assustado ele, mas a forma como acariciou meu seio
não é o tipo de toque que um menino da idade dele deve saber. — Não pode
tocar nas partes íntimas do meu corpo.
Falo calma, mas é o suficiente para ele saber que não pode nunca
mais fazer isso. Meus dedos, trêmulos, passam por meus cabelos, para
disfarçar meu nervosismo. Jon está me olhando confuso, se fechando
enquanto circula seus braços finos sobre seus joelhos.
— Eu sinto muito, só queria lhe deixar feliz — sussurra de forma
envergonhada, abaixando seu rosto para esconder sua face perto da sua perna.
— Não fique brava comigo, quero que seja minha amiga.
Esfrego meu rosto, agoniada, respirando rápido e compreendendo o
que passou pela cabeça dele. Jon queria me agradar, achando que se me
tocasse eu ficaria feliz, como uma troca. Uma maldita troca de favores
sexuais! Fico com mais raiva por ver, claramente, que minhas suspeitas
estavam certas. Respiro fundo, me sentindo enojada com o que fazem com
esse menino, usando sua carência por afeto para roubar sua inocência. O que
eu posso fazer? Quem eu posso culpar? Será minha palavra contra a de todos
dentro daquela casa, e o verdadeiro culpado se calará para sempre. Voltarei
para Columbia sabendo que fracassei com Jon. Tinha embarcado nessa
viagem para ter tudo que desejei: conhecer lugares novos, conversar com
pessoas diferentes, mas foi o pequeno Jon que cruzou meu caminho, e agora
ele precisa mais de mim do que eu precisava dessa viagem. Respiro fundo
outra vez, até me sentir pronta para falar com ele, sem estar com a voz
nervosa.
— Jon, não estou brava com você. — Minha mão toca em seu ombro,
endireitando seu corpo vagorosamente. — Uma coisa é certa em sua vida: eu
sempre vou ser sua amiga.
Tento prender o meu choro, que ameaça descer. Abaixo meus dedos,
deixando-os em minha perna, olhando com carinho para ele.
— Não é saudável uma criança tocar no corpo de um adulto.
— Não sou uma criança. — Ele funga, encolhendo seus braços.
— Tem razão, treze anos o faz ser quase um pré-adolescente. Mas,
ainda assim não é correto tocar em um adulto. E muito menos um adulto
tocar em você. Isso é crime. — Meus dedos vão de encontro aos seus e
seguro sua mão, o fazendo olhar para mim. — Jon, pode confiar em mim, eu
posso lhe ajudar. Preciso apenas que me dê um nome.
Seus olhos se abaixam, ficam por um tempo nos meus dedos, que
estão segurando sua mão. Sinto meu coração bater acelerado, desejo que ele
apenas me fale. Preciso apenas de um maldito nome para tirar ele desse
sofrimento.
— Olha só, que surpresa agradável! — O espinhento Bob, com sua
voz ácida e humor cínico, corta a ligação que tinha conseguido com Jon.
Meu rosto se move para o corpo que parou atrás de Jon, o encarando
com raiva. Sinto a mão fina, que segurava em meus dedos, se soltar. Jon se
levanta, caminhando para perto do mar, ficando mais fechado que uma
concha que guarda uma preciosa pérola. Droga de Coringa maldito!
— Jon, brinca só mais um pouco que já vamos! — grito para ele, mas
seu corpo magro apenas continua a caminhar, sem se virar para mim.
— Mas já? Acabei de chegar! — Bob se senta na areia, tomando o
lugar de Jon ao meu lado.
Tenho que conter minha língua, a mordendo, para não lhe dar uma
resposta malcriada.
— Vamos almoçar. — Desvio meu rosto de Bob, xingando-o
mentalmente por ter chegado justamente agora.
— Nem acredito que conseguiu tirar esse rato albino de dentro
daquela mansão. — Esmago minhas unhas na palma da minha mão, cravando
com força, desejando poder socar sua boca de Coringa.
— Jon não é albino, apenas não sai para pegar sol o tanto que deveria,
e acho que rato não se enquadra nele. Pelo que sei, quem vive nos cantos e
sobrevive das migalhas dentro daquela mansão é você, e não Jon. — Um
sorriso cínico e descarado se abre nos seus lábios.
— Acredita mesmo que eu que sou o rato dentro daquela mansão,
Ginger?
— Acho que não ficaria feliz em saber qual animal usaria para lhe
representar, senhor Bob. — Ele joga a cabeça para trás, rindo e balançando-a
em negativo.
— Que horror! Pelo amor de Deus, apenas Bob. Deixe suas
cerimônias para os outros. — Sua mão se estica, pousando sobre a minha. —
Acho que já temos intimidade para usar apenas o primeiro nome, Gim.
Seus olhos ficam mornos com a fala mansa. Puxo meus dedos, os
retirando debaixo dos seus, fechando meu semblante.
— Não temos intimidade, senhor. E se não se importar, gostaria que
me chamasse de senhorita Fox. — Puxo a mochila que está na areia e retiro a
toalha de dentro dela para secar Jon e poder sair o mais rápido possível de
perto dessa barata nojenta.
— Tanto faz. — Ele dá de ombros, voltando seus olhos para Jon. —
A verdade é que esse garoto é tão estranho quanto o resto da família. — Me
viro com raiva, pronta para lhe mandar à merda. — Mas o estranho mesmo...
Ele me corta antes que eu comece a falar, voltando seus olhos ao
longe, vendo o jipe estacionado.
— Foi Jonathan deixar usar o carro pessoal dele. — A informação me
desorienta, me fazendo ficar receosa e olhar para o carro.
— Na verdade, não pedi permissão para usar o carro dele. Não sabia
que era o veículo pessoal do senhor Roy. Foi me passado que poderia usar
qualquer veículo da garagem quando quisesse sair com Jon. — Droga, isso
sim pode me deixar encrencada!
— Não acho que vai ser o fim do mundo, Jonathan tem tanto dinheiro
que nem sabe mais onde aplica. Provavelmente, o valor do carro deve ser
troco de padaria para ele. Aos trinta e cinco anos, o filho da puta está com a
vida toda ganha!
É tão visível sua amargura e como ele nem sequer se preocupa em
disfarçar sua inveja.
— Ainda assim, é dele. Não vou estragar, não escolhi vir para cá para
dar prejuízo.
Bob vira seu rosto para mim, me olhando atentamente, como se
estivesse analisando minhas palavras.
— Você não entendeu ainda, não é? — Seu sorriso de Coringa
aumenta, me encarando como se eu fosse uma grande piada. — Não foi você
que escolheu vir, foi Jonathan que escolheu você. Nada acontece dentro da
mansão Roy sem que o diabólico Jonathan permita. Se está aqui agora,
aproveitando a praia, com o carro dele, foi porque ele permitiu.
Não tenho resposta para lhe dar, afinal, foi o senhor Roy que
autorizou eu poder sair com Jon, mas essas informações de Bob me fazem
queimar meus neurônios. Se nada acontece dentro da mansão sem o senhor
Roy dar sua permissão, então ele pode saber o que está acontecendo com Jon
e mesmo assim não fazer nada?
— Aquela família é feita de dinheiro e desgraça. Apenas isso. —
Presto atenção nas palavras de Bob, aproveitando seu momento de amargura
para entender mais sobre aquelas pessoas.
— Por que o chama de diabólico? — Bob ri, brincando com a areia e
apontando para Jon.
— Porque é exatamente o que ele é. Veja, a avó materna de Jon briga
há anos na justiça pela guarda do menino, e sempre perde por conta do
exército de advogados de Jonathan — ele suspira, tombando sua cabeça para
o lado. — E mesmo assim ele dá uma generosa mesada para a velha, para
poder mantê-la por perto. No verão, ele a traz para cá, a hospedando em uma
de suas casas, para ela poder passar os fins de semana com Jon.
Fico em silêncio, pensando sobre isso. O senhor Roy interpreta,
literalmente, o ditado popular: mantenha seus amigos por perto e seus
inimigos mais perto ainda.
— Quase toda ilha pertence à família Roy. O pai deles fez fortuna
com petróleo, para, no fim, descobrir que era corno. — Bob se engasga,
rindo, contando sobre isso. — Jonathan tinha cinco anos na época, quando o
pai meteu uma bala na cabeça da vadia da mãe dele, na frente do garoto.
— Como assim?
— Assim, erguendo o revólver e disparando. — Ele ergue seus dedos,
imitando um disparo.
— Eu entendi isso, senhor. Quero saber como na frente dele? — Bob
apenas ri, como se a desgraça na infância do senhor Roy fosse uma piada
engraçada.
— Ele estava no quarto quando o pai atirou na mãe. Ele viu tudo.
Depois disso seu pai foi preso e confirmou o crime. Disse que tinha matado o
amante dela também. Acho que ele sumiu com o corpo do palerma, porque só
o dela foi encontrado. — Ele faz um gesto com as mãos na frente do meu
rosto, abrindo e fechando seus dedos, como se eu fosse uma criança besta. —
Depois disso, James foi criado pela adorável e mesquinha tia Charlote,
esperando Jonathan completar a maior idade para sair do colégio interno e
assumir seu legado na família.
Digiro tudo, impactada, não sabendo o tanto de desgraça que traz essa
família.
— E então, nossa querida Lorane caiu de paraquedas quando se
apaixonou por James. Ela era doente nele, obcecada, e quando ele se foi,
ficou depressiva a ponto de tentar se matar. — Ele aperta seus lábios,
demonstrando sua raiva ao falar sobre Lorane. — E o diabólico Roy formou
um plano, casou-se com a idiota da sua ex-cunhada para ela não fazer um
escândalo, manchando o nome da família outra vez. Logo em seguida,
chegou Smigol[8] para completar o circo do horror dentro daquela mansão!
Não me contenho, não nesse momento, quando ele aponta para Jon, o
comparando com Smigol. Minha mão em punho, fechada, estoura em seu
braço com força, o fazendo desequilibrar e cair na areia.
— Ei, qual é seu problema?! — Ele me olha surpreso. Me levanto
com raiva, apenas puxando a mochila com a toalha e erguendo meu dedo do
meio para ele.
— Você é um verme, uma barata nojenta, não um rato! Apenas uma
barata invejosa! Nunca mais se refira a Jon dessa maneira na minha frente,
seu babaca!
Bob se move rápido, usando minha mão para se levantar. Sinto uma
rápida fisgada em meu pulso. Ele ri, olhando para mim e limpando sua
bermuda.
— Não precisava se doer por conta do seu “precioso” Jon! — Sinto
mais raiva ainda com sua provocação, pronta para socar a cara metida dele.
Vejo-o dando dois passos para trás, mas meus olhos não estão nele e
sim no arranhão que fica no meu pulso, deixando uma gota de sangue
escorrer. Levo meus olhos para as mãos dele. A última unha da sua mão
esquerda, a do dedo mindinho, é comprida, afiada o suficiente para me
machucar, e áspera o bastante para arranhar uma pele sensível.
— Fica longe do Jon, ou juro por Deus que vou capar você!
Deixo-o lá, com sua boca aberta sem resposta. Caminho para Jon, o
protegendo e trazendo-o para meus braços quando me aproximo, saindo de
perto daquele garoto o mais rápido que podemos. Não sei se é ele que está
machucando Jon, mas, com toda certeza, ele está no topo da minha lista de
suspeitos.
CAPÍTULO 06
SABOR DE MORANGO
Ginger Fox
A única coisa que indica que esse local não está abandonado é o
grande S negro pichado na parede, e as pernas de um manequim viradas para
cima, com seu braço apontando para a direita. Saio do carro não me sentindo
nem um pouco confortável com a roupa que Baby me fez vestir. O vestido
branco de couro colado, frente única, traz apenas um grande e grosso zíper,
que corre do começo dos meus seios até o final da barra. Ele, de fato, é lindo
e perfeito, e foi desenhado pela própria Baby, mas presumo que quando ela o
fez, não estava pensando em uma mulher que veste 42. Estou sem calcinha,
sem sutiã e com um par dos meus saltos baixos, que tinha jogado na mala
quando arrumei minhas coisas para vir para a ilha. Caminho com dificuldade
sobre as pedras finas no chão. Baby está a verdadeira mulher fatal em Instinto
selvagem[20], o que deixaria Sharon Stone[21] orgulhosa por sua pupila, sexy
em seu vestido vermelho tomara que caia. Ela se vira, sorrindo para mim e
me dando uma piscada. Estende sua mão para mim, seguro em seus dedos e,
nesse momento, saciar minha curiosidade parece algo tão certo quanto estar
ao seu lado. Baby nos leva na direção que o manequim de ponta-cabeça
aponta, parando perto de uma escadaria velha que leva ao subsolo. A porta
pichada com um S em letra maiúscula é aberta antes mesmo dela bater. O
homem alto, parecendo um urso marombado, com regata fina e uma máscara
em sua face, nos encara. Passando seus olhos dela para mim, ele volta o olhar
confuso para Baby, e rapidamente ela retira o convite dourado da sua bolsa
de mão, entregando para mim.
— Mostre a ele, Gim. — Pego o convite dos dedos dela, erguendo
para o homem. Ele volta a encarar Baby, mais intrigado do que eu quando
recebi o convite.
— É isso aí, acho que alguém arrumou uma preferida — Baby fala
rindo para o segurança. Ele balança a cabeça em positivo, dando um sorriso
para nós duas.
Retirando o convite dos meus dedos, ele puxa várias pulseiras do
bolso da calça, entregando uma verde para Baby e uma vermelha com risco
dourado para mim. Baby me ajuda a arrumar a minha depois que prende a
sua. Fico olhando, tentando entender por que nossas cores são diferentes.
Baby segura meu pulso, nos levando para dentro, entre corredores escuros e
estreitos. Ela empurra umas cortinas de plástico, como as que se vê em
açougue, atravessando um estacionamento vazio.
— Por que nossas cores são diferentes? — Passo meus dedos sobre
minha pulseira, ainda intrigada.
— Estou livre, isso quer dizer que o sinal está aberto, por isso a cor
verde. — Ela para diante de um elevador antigo, abrindo as portas.
— Então eu estou proibida? Por isso minha cor é vermelha, estou com
sinal fechado? Achei que era uma mulher livre agora.
Baby nos empurra quando o elevador chega, nos fazendo entrar e
apertando o botão do segundo subsolo. Ela vira seu rosto para mim, ficando
de frente. Seus dedos vão ao busto do meu vestido, os puxando um
pouquinho para baixo, deixando a visão do vale entre meus seios livres. Ela
ergue uma das mãos, alisando meu pescoço, brincando com os cachos
enquanto sorri, mordendo a lateral da sua boca. Mesmo estando de salto,
ainda assim me sinto um smurf[22] ao lado dela.
— Na verdade, está livre apenas para mim. — Ela sorri mais alegre,
depositando um beijo rápido em meus lábios. — A risca dourada quer dizer
que está sobre os cuidados de um dos conselheiros. Ou seja, Jonathan
controla os paus que querem entrar em sua boceta essa noite.
Não consigo responder. O elevador para, abrindo suas portas e um
mundo diferente se inicia à minha frente.
— Chegamos! Bem-vinda a Sodoma, Gim! — Baby puxa meus
dedos, nos embrenhando entre as pessoas lá dentro.
Eles não optaram por Sodoma e Gomorra. Anularam Gomorra da
mesma forma que Deus fez com as duas cidades, resgatando apenas Sodoma,
a moldando para o século XXI. Um lugar envolvido em luxúria, sendo
mesclado entre luzes baixas vermelhas e cheiros de corpos suados e muito,
MUITO cheiro de sexo. O som eletrônico entra em meus tímpanos, e meu
coração salta rápido e forte, igual as batidas.
— TOME! — Baby grita próximo ao meu ouvido, me entregando
uma taça. Vejo o garçom se afastando, tendo nada mais que a bandeja em
suas mãos, o corpo completamente nu.
A mulher que está estendida na mesa, sendo chupada por um rapaz,
tem seus olhos vendados e uma mordaça em sua boca. Os observadores em
volta dela acompanham cada arfar que seus seios dão. Na ponta dos bicos, os
plugs parecem prendedores de varais, estão firmemente presos, o que me faz
pensar se a dor é maior que o prazer, ou o prazer e a dor se tornam um só.
— SEMPRE QUE ALGUÉM SE APROXIMAR, ERGA SEU
PULSO E O DEIXE VER SUA PULSEIRA! — Baby volta a gritar,
quebrando meu contato visual com o sexo na mesa ao canto.
Estendo meu braço para ela, balançando minha cabeça em positivo,
mesmo dentro de mim tendo um desconforto por saber que, de alguma forma,
estou sendo controlada. Ela sorri, movendo sua taça para seus lábios. Levo a
minha à boca, sentindo as bolhas do espumante entrando em minha garganta.
Acho que nunca tinha tomado champanhe na minha vida e, se tivesse
tomado, com certeza não seria tão bom como esse. O bar grande, em forma
oval ao centro, tem pessoas que parecem comuns em um primeiro momento,
apenas um fato as diferencia: as roupas de silicone coladas. Algumas usam as
vestimentas por completo, cobrindo-as dos pés à cabeça, outras usam roupas
casuais, como se estivessem em uma boate comum, parecem que acabaram
de sair de algum clipe da Lady Gaga. Uma mulher com roupa colada negra,
passa ao meu lado, segurando uma corrente, e logo atrás dela caminha um
homem, sorrindo com a coleira no pescoço. Ele usa uma máscara negra de
couro, que tampa seu rosto todo, deixando apenas a boca de fora. Sou
obrigada a virar para acompanhar o passeio dos dois, para ter certeza de que
vi um cinto de castidade nele. O pau do homem está envolvido por uma
cápsula de metal chaveada. Viro meu espumante de uma vez só, ainda
perdida naquele mundo novo, que brilha em cores neon vermelha à minha
volta. Baby retira a taça vazia dos meus dedos, entregando outra cheia para
mim, nem notei o momento que ela pegou novas taças. Com seus dedos ainda
presos aos meus, os olhares curiosos das outras pessoas vão para nós duas,
sempre parando em mim. Ela para perto do que deve ser a pista de dança,
soltando meus dedos apenas para erguer sua mão, a deixando cair sobre meu
ombro. Sorrio para ela, não conseguindo conversar nada por conta da música
alta. Ela dança, seguindo o ritmo da música, balançando seu quadril de forma
provocadora. Observo atrás dela os grandes espelhos que estão espalhados
por todo o lugar. Fico pensando se esses são espelhos mágicos também, como
o do armário do senhor Roy. Viro a taça de champanhe em um gole só, e ao
erguer meu rosto, vejo em cima das nossas cabeças mais espelhos. Baby
abaixa a taça da minha boca, retirando-a outra vez da minha mão ao estar
vazia.
Ela apenas estende as duas taças vazias, seus olhos não se viram nem
procuram por alguém, e em seguida as taças são retiradas da mão dela. E
então, como se o único serviço dessa noite fosse nos servir, lá está o
desnudado garçom. Rio para Baby depois de fechar meus olhos para não ver
a bunda peluda dele. Ela segura sua taça e passa uma para mim. Deixo meu
corpo se perder na batida junto com ela, a sintonia que temos vai
aumentando, deixando nossos corpos mexerem na mesma medida. Me viro,
requebrando meu quadril e levando o champanhe à boca. Olho intrigada uma
gaiola de cachorro de porte grande com um homem magro lá dentro. Ele está
de quatro, como um animal, espremido, mas não parece nem um pouco
insatisfeito com a situação, ainda mais tendo um homem alto e másculo, com
o pau para fora, caminhando na direção da gaiola, para que o rapaz enjaulado
o chupe. Nada do que vejo aqui dentro me deixa assustada ou com medo, eu
apenas desejo ver mais, me inundando com minha curiosidade desenfreada.
Me viro para Baby, que segura seus cabelos na altura da nuca, rebolando
lentamente. Ela pisca seus olhos, sorrindo para mim, esticando suas mãos
para minha cintura, e vamos descendo juntas até o chão, com nossas testas
coladas. Baby aumenta seu sorriso quando nossos corpos se levantam,
compartilhando o ritmo. Ela nos vira, deixando-me tomar o lugar dela. Vejo
seus olhos indo rapidamente para trás de mim, e com agilidade nos move,
colando minhas costas em seu peito. Sinto os bicos duros dos seios
siliconados raspando em minhas costas nuas. Uma de suas mãos vai ao meu
cabelo, os puxando para cima, e a outra arrasta a frente do meu corpo. Sinto
sua unha raspando minha pele, me deixando agitada ao abrir meus olhos.
Vejo um grande quadro, que é uma réplica de vênus na parede, que está à
nossa frente. Baby desliza seus dedos por cima dos meus seios, e deixo minha
mão livre escorregar em sua perna, sentindo a maciez da sua coxa. Bebo esse
champanhe como se fosse água, aumentando ainda mais minha sede. Sinto o
beijo quente que ela deposita em meu pescoço, e meus dedos se apertam mais
na perna dela. Estico meu braço, imitando Baby e deixando a taça vazia
pendurada, e rapidamente ela é retirada da minha mão. Minha cabeça tomba
para trás, rindo, assim que ela é retirada. Não pego outra taça, deixo meus
olhos concentrados no quadro, escorregando meus próprios dedos pelo meu
pescoço, indo para trás e acariciando os cabelos de Baby. Ela move nossos
quadris juntos, requebrando sugestivamente, e é quase como se eu soubesse
que estou sendo observada. Não pelos olhares das pessoas à nossa volta, mas
sim por quem está atrás do quadro.
— Você confia em mim? — Baby sussurra em meu ouvido, dando um
beijo em minha pele.
Vira meu corpo rapidamente, me deixando olhar em seus olhos que
estão dilatados de luxúria e de muita traquinagem. Eu poderia ir embora,
poderia dizer que não, mas minha curiosidade será meu fim, isso é fato.
— SIM! — grito para ela. Baby para de dançar, segurando meu rosto
em suas mãos e esfregando a ponta do seu nariz na minha face.
— Essa é minha garota. — Ela usa a ponta dos seus dentes para
mordiscar meus lábios, soltando-os em seguida.
Pequena Náutilus,
Ala leste, corredor final, porta branca, às 23h45 em ponto. O quarto
estará destrancado, apenas entre e acenda a luz do abajur na cabeceira da
cama. Se desfaça da roupa lentamente, até restar apenas as meias finas e o
colar em seu corpo. Quando a porta se abrir, poderá entrar.
J. R.
Quando eu era menina e ia à missa com minha mãe aos domingos, ela
nos sentava sempre na quinta fileira à esquerda, ficávamos próximas ao
confessionário. Eu me pegava intrigada em como as pessoas conseguiam
ficar sentadas por muito tempo lá dentro, se confessando, sem sentir falta de
ar. Não tinha espaço para muitos movimentos, ou qualquer outra manobra,
era apenas ficar parada, sentada com suas coxas coladas e os dedos em cima
da sua perna, derretendo como um picolé em um dia quente de verão. Me
ocorria a ideia, naquela época, de que talvez já fosse uma forma de expurgar
seus pecados, por isso era tão estreito e escuro, limpando sua alma através da
transpiração do suor corporal. E isso ficou em minha mente por muito tempo
em todos os domingos, sendo corroída pela curiosidade, sentada naquele
banco, encarando a construção de madeira. O que me leva a trazer esse
pensamento antigo à tona nesse momento não é a falta de espaço, e muito
menos a escuridão, mas sim o calor, o cheiro que aumenta, o olfato que fica
apurado, a audição que vibra a cada gemido, o estouro de corpo batendo no
interior, a mudança de peso, da perna esquerda para a direita. E, claro, o suor,
muito suor, que faz meu corpo ficar melado, escorregadio, e todos os pecados
saírem das minhas entranhas, se transformando em líquido. E Jonathan é meu
pior pecado. Seu corpo é minha cela, e o seu pau, bom, seu pau é o chicote da
minha alma impura.
— Deus... — Minha cabeça cai para trás, abrindo minha boca e
ofegando com loucura, deixando minha mão presa à sua nuca.
Suas grandes mãos puxam minhas coxas para cima, até que minhas
pernas envolvam sua cintura, sem retirar um centímetro sequer do seu pau de
dentro de mim. A sensação do tecido fino da meia em minha pele, raspando
com a sua, é devastadora. Sinto seus dentes mordiscando meu queixo, entre
lambidas que ele dá em meu pescoço, movendo sua pélvis de mansinho, se
afastando, para poder voltar tão pesado e forte quanto um martelo que
aprisiona um prego na parede. As mãos em minhas coxas se afastam, subindo
pela lateral do meu corpo, e vão me torturando entre as batidas sacanas e
preguiçosas. Meus dedos se soltam do seu pescoço, achatando minhas mãos
nas laterais do armário, deixando meus braços quase dobrados. O barulho da
madeira rangendo, meus gemidos que escapam de mim sem freio, tão livres,
sem me preocupar se estão altos, se irão acordar os vizinhos, é apenas a
liberdade plena dentro desse espremido móvel. Não sou mais Ginger, a
curiosa, sou agora a mulher verdadeiramente comida, pois é isso que
Jonathan faz, ele se alimenta de mim a cada segundo que seu pau escorrega
lento dentro da minha boceta sensível, que ainda se contrai com os espasmos
das estocadas brutas que ele me deu segundos atrás. O couro da minha cabeça
nem sente mais dor com os puxões que Jonathan me deu, está inerte, assim
como minha bochecha dolorida, que me garante uma dor incômoda por ter
ficado colada na parede, com Jonathan segurando meu rosto, me prendendo
lá e me fodendo de costas. Não tenho mais poder sobre mim e muito menos
desejo saber a essa altura do campeonato se quero ter. De qualquer maneira,
quero tudo que ele me dá. Eu quero expurgar meus pecados, apenas para
cometer mais.
— Jonathan... — Seu nome escapa da minha boca, soando como uma
glorificação diante de um anjo sombrio e maléfico. — Oh, porraaa!!!
Comprimo meus lábios assim que sua língua lambe meu pescoço,
acertando a veia que pulsa forte e rápido. As mãos na lateral do meu corpo
descem outra vez, fincando seus dedos na minha bunda, apertando a lateral
de cada banda e afastando o máximo que pode, aumentando a bateria de
estocadas do seu pau, entrando e saindo fundo, profundo, me arremessando
mais à parede a cada vez que seu membro entra bruto. Minha boceta o suga
com prazer e fome insaciáveis. Ele é bom, ele é perverso, mas é o melhor pau
que já entrou em meu corpo, e continuará tendo o primeiro lugar do pódio até
depois que eu partir.
— O que deseja, Ginger? — A voz rouca sai embargada de luxúria e
poder. Sabendo que estou em suas mãos, me conduz a sentimentos soberbos e
nefastos, que se impregnam em minha alma.
— TUDO... — grito em êxtase por estar sendo tomada com força, até
sentir suas bolas a um passo de estarem dentro de mim.
Como se fosse o que ele desejava ouvir, sua risada baixa sai por seus
lábios, pincelando sua língua por minha face, até ter sua saliva se misturando
com meu suor. Seu corpo para sem aviso, me condenando à aflição de ter seu
pau dentro de mim, preenchendo cada canto da minha boceta, mas ficando
imóvel. Uma das mãos em minha bunda desliza por mim, subindo como uma
serpente, acariciando meu seio, o espremendo em sua mão. Sinto os nervos
dos meus dedos duros, forçando mais as paredes das laterais do armário,
como se pudesse destruí-las. A mão cruel, sem pressa alguma, queima minha
pele, soltando meu seio depois de dar um beliscão no bico sensível e duro, se
enfiando atrás da minha nuca. Dois dedos dele se prendem na gargantilha, a
puxando lentamente para trás, até ter quase a joia se enterrando em minha
pele.
— Tudo? — Ouço sua pergunta, mesmo estando com meu cérebro
nublado entre a euforia e o medo.
Ele volta a se mover, retirando seu pau quase todo, dobrando um
pouco seus joelhos e voltando a se erguer de uma única vez, entrando por
inteiro. Meus olhos dilatados em meio à escuridão não veem nada, apenas
sinto sua face colada à minha, esfregando sua barba em minhas bochechas,
como um predador que ambiciona brincar com sua presa antes do ataque
final.
— Acha que suportaria tudo, pequena Gim? — Seus dentes prendem
minha orelha em sua boca, respirando pesado.
E voltando a fazer o mesmo movimento, se retira quase por completo,
com leves movimentos de flexão nos joelhos. Se enterra segundos depois, se
arremessando dentro de mim e jogando qualquer resquício de lógica, que
ainda pudesse ter em minha mente, para fora. As pérolas queimam minha
garganta, causando a diminuição do meu oxigênio, e ele apenas puxa a
gargantilha com força. Meu corpo tenta avisar que está perigoso, no limite,
mas eu continuo a desejar mais. O medo de ser estrangulada, a falta de ar em
meus pulmões, o calor infernal dentro daquele armário, seu pau se retirando e
voltando a entrar, me empurrando para cima, sua barba raspando em minha
bochecha, tudo é um ciclo prolongado, e vou caindo, precisando de mais.
— Tudo, Gim? — Meus dedos deslizam fracos pela parede, se
segurando em suas costas. É como estar afogando e precisando de mais água
para entrar nos pulmões. Não desejo respirar, desejo me afogar.
— Sim... — Minha voz estrangulada sai baixa, entre gemidos e
tentativas de arfadas.
Sua outra mão desliza para o meio da minha bunda, pressionando a
ponta do dedo em meu ânus, a parte do meu corpo que quase nunca é usada,
mas que fica em alerta, se retraindo, enquanto ele continua a pressão. Seu pau
volta a se enterrar, com investidas lentas e contínuas, é como se ele estivesse
me fodendo de todas as formas: meu corpo, minha mente e minha alma. Tão
perfeccionista, intercala as socadas do seu pau e a pressão do seu dedo.
Minhas costas, esmagadas no fundo do armário, sentem toda carga que seu
peito faz sobre o meu, tendo como garantia de sustentação apenas minhas
pernas ao redor dele. Os dentes se cravam em meu ombro, dando outro puxão
na gargantilha, testando até onde eu aguento sua dominação. A invasão do
seu dedo em meu rabo me faz gemer, deixando seu pau mais lambuzado do
que já está. Balança seu quadril, lento e profundo. Seria uma morte gloriosa,
se fosse esse o fim que eu iria ter. As unhas das minhas mãos rasgam suas
costas, cravando tão fundo, o prendendo mais a mim. Sinto os tremores que
começam repentinos dentro de mim, aumentando sua velocidade como um
relâmpago, que chega primeiro soltando seu clarão de luz ao céu, seguido de
um trovão estrondoso, até explodir como uma corrente elétrica. Minha boceta
o engole, contraindo meus músculos em volta do seu pau quando o gozo
chega.
— Deus... Ooooh! — grito livre quando Jonathan liberta minha
garganta do aperto das pérolas. Respiro rápido, descontrolada, sendo tomada
por gemidos e soluços, gozando forte.
Suas mãos voltam para meu quadril, me fodendo com tamanha
loucura que poderia me partir ao meio. Estou em êxtase, sendo nocauteada
pela corrente sanguínea que está circulando a todo vapor. Meus músculos
estão contraídos como aço puro, e meu cérebro recebe uma descarga de
dopamina com o auge do clímax. Nem termino um gozo e já sinto outo
chegar. Seu pau se funde a mim como uma britadeira feita de carne, sem
remorso, apenas garantindo gritos altos, que saem por minha garganta. Meus
dedos trêmulos e suados arrastam-se por suas costas, até parar em seu
pescoço quando sua face se move para se esfregar em minha bochecha. Viro
meu rosto, causando o toque dos seus lábios nos meus. Ele não disse se
poderia lhe beijar, tocou em meu corpo todo, fodeu desde minha boceta ao
meu cérebro, mas a única coisa que não me deu foi seus lábios. Mas eu
precisava senti-los. O calor da boca macia, o gosto do suor salgado que
escorre e traz aos seus lábios um sabor tão intenso. Tudo é novo, gostoso e
quente. O beijo com vontade, devorando seus lábios, que me fazem sentir
fome e desejo, tendo os fogos de artifícios explodindo dentro de mim. Não é
um beijo calmo igual ao de Tom, e nem macio e suave como o de Baby. É
um beijo explosivo, o fazendo me foder tão duro a cada vez que minha língua
toca na sua, como se me castigasse por provar o fruto proibido que são seus
lábios.
Ele força mais sua boca, com brutalidade, quase como se não
soubesse o que está fazendo, confuso, descarregando toda sua ira dentro do
meu corpo a cada investida que me penetra. E eu despejo toda a energia que
tem dentro de mim através do nosso beijo, o moldando a mim, como ele
molda meu corpo a ele. Meus líquidos lambuzam seu pau em jatos quentes,
ainda presa dentro do orgasmo. Meus braços se apertam, o abraçando forte,
como se o pudesse tatuar em meu corpo. Seus dedos esmagam minha bunda
até arrancar gemidos de mim entre nosso beijo, tremendo seu corpo junto
comigo, gozando forte quando sua própria libertação é alcançada. Queria não
ter essa camisinha, apenas para saber como é ser inundada por ele, ter sua
quentura, sua viscosidade escorrendo entre os lábios inchados da minha
boceta, deslizando por minhas pernas. Sentir sua porra quente, saber que ela
está dentro de mim, que me marcou com seu cheiro, como sua. Nossas bocas
se separam, o fazendo colar sua testa na minha, respirando descompassado,
como eu. Desejo poder ter luz dentro desse armário escuro, apenas para ver
sua face. Agradeço por ele estar me segurando, pois minhas pernas molengas
deslizam, ficando penduradas, sem mais nenhum pingo de força restando em
meu corpo. Uma das mãos que me segura, se solta, parando apenas quando
seus dedos se aproximam do meu rosto. Sinto a ponta do seu dedo
contornando minha boca, desenhando meus lábios. Sua testa se afasta da
minha, ficando com seu rosto a pouca distância do meu. Sua respiração
quente acerta minha pele suada, me tendo tão perto, e mesmo nesse breu
posso sentir o magnetismo do seu olhar.
— Tudo? — A voz rouca sai baixa e grossa.
— Tudo! — respondo rápido, deixando a palavra ser dita sem rodeios.
Movo minha cabeça para frente, quebrando a pequena distância entre nossas
bocas, o beijando lento dessa vez, sem pressa, apenas o provando. Jonathan
está imóvel, sem reação, com apenas movimentos lentos em seu peito.
Deixo sua língua tocar na minha e vou lhe devorando, o tomando da
mesma forma que fez comigo. Jonathan me aprisionou de várias formas. Em
corpo quando me fodeu naquela sala de Sodoma, em mente quando me
torturou na beira da piscina, em espírito quando cativou minha alma dentro
desse armário. O Leão tinha razão quando citou em um trecho do livro:
“nada acontece duas vezes da mesma maneira”. Eu tinha encontrado meu
guarda-roupa, meu corpo chegou até Nárnia, mas Jonathan não é meu Leão,
ele é minha Feiticeira.
E mesmo não sabendo qual será o preço a ser cobrado, eu quero tudo!
CAPÍTULO 14
CAMADAS POR CAMADAS
Ginger Fox
Jon não está bem, ele está gritando por ajuda através da melodia. E
ninguém ouve o pedido de socorro estampado em seus olhos tristes. Encaro a
porta do escritório, apertando o celular em minha mão. Caminhar até aqui não
foi uma escolha fácil, ainda mais que desejei, do fundo do meu coração, que
Baby estivesse em qualquer outro lugar dessa mansão, menos no escritório do
senhor Roy. Não porque sinto vergonha, e nem porque não usufruí da noite
passada, mas sim por uma única coisa: o bolo de chaves que caiu do bolso
dele quando puxou sua roupa da gaveta da mesinha de cabeceira da cama.
— Sim, ele tem. Por isso daquele bolo maldito de chaves — Baby
fala, sorrindo. — Ele não suporta saber que as cópias estão separadas ou
desorganizadas, por isso ele as guarda com ele. Às vezes, quando ele me
inferniza, eu deixo algo fora do lugar ou torto perto dele, apenas para me
vingar, porque sei que irrita o Roy.
Minhas lufadas de ar entram aceleradas, tudo são teias de aranhas.
Teias que vão me prendendo e não me levam a lugar algum, apenas mais
informações que me deixam confusa. Tento me recompor do impacto que o
transtorno do senhor Jonathan me causa, analisando o que Baby fala. Fazer
isso com o senhor Roy não é legal. Por mais que ache que é uma brincadeira,
Baby se engana. Para alguém que sofre com TOC, ter desordem ao seu redor
é doloroso e angustiante, a fere profundamente, aumentando a gravidade da
sua doença. Entende-se o TOC por obsessão de pensamentos, ideias e
imagens, que invadem a pessoa insistentemente, sem que ela queira, como
um disco riscado que se põe a repetir sempre o mesmo ponto da gravação.
Eles ficam patinando dentro da cabeça.
— Baby, TOC não é uma doença genética, passada de tio para
sobrinho, teria que ser hereditário do pai ou da mãe. E nem é algo que deve
ser usado para se vingar, é um distúrbio mental que precisa ser levado a sério
e ser tratado — falo baixo, olhando para meus dedos em minha perna. — O
mais lógico com Jon são as mudanças bruscas, algum trauma ou um
acontecimento marcante que trouxe o transtorno para a vida dele.
Baby desvia seu rosto do meu, deixa seus olhos presos no mar, fica
em silêncio e deixa morrer o sorriso que tinha em seus lábios.
— Jonathan tem seus motivos para ser da forma que é. Mas Jon está
bem... — ela responde baixo, com o olhar vago, como se estivesse com seus
pensamentos longes demais.
Sim, eu compreendo o que levou a desencadear o transtorno do
senhor Roy. Assistir o pai matar a própria mãe deve ter lhe causado
machucados eternos dentro da sua alma e da sua mente.
— Se Jon está sendo molestado, por que ele nunca me contou, Gim?
— Seus olhos ficam vermelhos. — Por que ele não me contou? Jon é tudo
que eu tenho de bom em minha vida.
— Jon contou, Baby. Não em palavras ou gestos, mas em cortes. —
Ela prende seus olhos vermelhos de choro aos meus, soltando sua mão do
meu rosto.
— Cortes?
— Jon se corta. — Estendo meu braço para ela, o erguendo e
mostrando a pele próxima às minhas axilas. — Ele se mutila em partes que
poucos podem notar. Aqui. — Abaixo meu braço, esticando meu pulso para
ela. — Aqui. Ele se machuca para poder tirar a dor de dentro dele, causando
uma nova dor.
Baby desmorona entre choro e soluços. Seu corpo tomba para frente
do meu, me deixando abraçar e esconder sua face em meu ombro.
— É minha culpa, Gim. Minha culpa Jon ter chegado a esse ponto. —
Abraço-a forte, negando com a cabeça.
— Não, Baby, não foi sua culpa. Não foi.
— Foi minha culpa... Apenas minha.
Fico em silêncio, apenas a confortando com meu abraço. Não tenho o
que dizer, a culpa não é dela. Não é o tipo de coisa que pensamos que
acontece com a gente, até que acontece. A única coisa que sei é que a vaca da
Lorane não contou a ninguém o que acontece com Jon. E uma grande dúvida
martela minha mente...
Por que ela não contou?
— Contou isso a mais alguém? — Baby funga, limpando sua face e
erguendo seus olhos para mim.
— Não. Sobre a desconfiança do abuso falei apenas com você.
— Isso é bom. Não vamos contar nada a ninguém ainda, nem
interrogar Lorane.
— Como não, Baby? — Aperto meus dedos em seu ombro, a fazendo
me ouvir, não podemos esconder isso.
— Gim, se Lorane não contou nada sobre os diagnósticos clínicos,
pode ser porque ela teve suas desconfianças, e não contou para proteger o
homem que ama. Se encurralarmos ela, perdemos Bob.
— Ela poderia ajudar ele a fugir — sussurro, compreendendo o ponto
de vista dela.
— Sim, da mesma forma que ela pode fazer Jon passar por um
menino louco, que está apenas querendo chamar atenção. — Solto meus
ombros, deixando meus dedos caírem na areia, por saber que aquela mulher
tem escrúpulo para fazer uma maldade dessa com Jon.
— Ela não voltou ainda para a mansão, nem Lorane e nem Bob. — A
mulher, junto com aquele merdinha, tinham desaparecido desde domingo.
— Os dois devem estar se comendo em algum canto imundo — Baby
fala com raiva. — Deus, como eu odeio aquela mulher! Amaldiçoo o dia que
ela entrou em nossas vidas.
Baby xinga baixo, erguendo seus olhos para mim.
— Ela some com frequência? — Baby balança a cabeça em positivo,
tirando suas mechas loiras da frente do rosto.
— Vou lhe contar uma coisa sobre aquela cadela, que apenas Roy e
eu sabemos. — Baby solta o ar, mordendo seus lábios. — Lorane sofre com
dores de cabeças extremamente agressivas, ainda mais quando algo a
incomoda. Ela achou um médico mais demente do que ela, que faz terapia de
choque. Domingo, quando tive que sair, foi para levá-la para fazer o
tratamento, porque ela estava incontrolável.
— Deus, que horror! — Tampo minha boca, sem saber o que dizer.
Eu tinha visto a forma como ela estava brava, lembro perfeitamente
da visão de Baby entrando na mansão e as duas discutindo. Mas nunca
imaginei que Lorane precisasse optar por um método tão agressivo como
terapia de choque.
— Aquela vagabunda me largou na clínica. Eu passei a noite toda
procurando por ela, e apenas no outro dia descobri que ela estava com Bob,
quando ela me mandou uma mensagem.
Não sei mais o que dizer, nem o que pensar. Apenas estou sendo
engolida por todos os segredos que vão aparecendo feito camadas à minha
frente. Fora Baby, não existe nada de saudável nessa família.
— Acha que ele o estuprou? — Baby me olha aflita, voltando a
encher seus olhos de lágrimas.
— Há várias formas de abusar de alguém, necessariamente ele não
precisa entrar no corpo de Jon para molestá-lo. Não tenho certeza se isso
aconteceu, Jon não traz marca no corpo dele que possa mostrar que foi
abusado sexualmente. — Respiro fundo. — Sei que é horrível dizer isso, mas
o espiei quando foi para o banho uma vez, para ver se via alguma marca ou
algo que aponte a violação, mas além de cortes e uma vez que vi um
arranhão, nada tem no corpo dele.
Baby entende o que quero dizer. Bob pode estar obrigando Jon a tocá-
lo e tocando no corpo de Jon. Apenas o fato de imaginar Jon sendo obrigado
a fazer qualquer coisa com aquele escroto, já me enche de nojo e raiva.
— Jon é o masturbador dele — ela fala com raiva, apertando sua
boca.
— Pode ser. — Inalo com força o ar, fechando meus olhos com dor
em meu coração.
— Agora que sei disso, poderá me ajudar a proteger Jon, e assim
ficarmos de olho em Bob.
— Vamos seguir adiante, como você falou — sussurro, desaminada
por saber que Bob ainda vai ficar mais tempo rondando Jon.
— E quando eu tiver certeza, vou fazer aquele merdinha engolir o pau
dele depois que eu o arrancar fora. — A voz de Baby é fria, trazendo uma
rouquidão, quase se igualando a do seu irmão. Abro meus olhos, a encarando,
e vejo seu maxilar trincado e olhos de ódio.
Aquela mulher que me encara por alguns segundos não parece ser
Baby, é alguém cruel, com um olhar frio, que levará a cabo sua palavra. Me
arrumo, aproximando-me mais dela, enquanto olhamos o mar em silêncio e,
por um breve momento, é como ter Jonathan sentado ao meu lado. O homem
frio, pragmático, silencioso e maléfico.
— Com licença, madame Roy. — Olho para o quarto dourado, com
cortinas brancas e uma grande cama, digna de uma rainha, dentro dele.
— Céus, até que fim chegou! Entre, entre... — Vejo a pequena
senhora saindo do banheiro enrolada em um roupão de seda cor-de-rosa,
balançando sua mão ao ar, me chamando para entrar. — Pode ir, Lira.
Obrigada por ter sido prestativa.
— Obrigada. — Sorrio para Lira, a vendo se afastar e fechando a
porta do quarto ao sair.
O sorriso que tem estampado no rosto da pequenina mulher astuta se
desfaz, deixando um olhar sério em seu lugar, assim que a empregada se
retira.
— A senhora queria falar comigo... — A ponta do seu dedo, que traz
cheiro de creme corporal, se ergue, ficando a centímetros da minha boca, para
que faça silêncio.
Olho confusa para ela, que apenas caminha para a porta, abrindo só
uma brecha, para que possa olhar pelos corredores. Leva sua cabeça para fora
rápido, como um pequeno suricate[27], que sai da toca para conferir se existe
algum predador e volta para a segurança do seu buraco outra vez. Sorrio com
a comparação. A pequena mulher me lembra exatamente o pequeno animal,
com olhos ligeiros e pelo castanho, por conta de sua altura, seus olhos
perspicazes, que nunca perdem nada, e o coque castanho dos seus cabelos.
— Bom, ela realmente já foi. — Ela fecha a porta, passando a chave e
me dando um sorriso de cumplicidade. — Minha mãe sempre dizia que se
quer saber algo que se passa dentro de uma casa, pergunte aos empregados.
Eles sempre sabem de tudo.
Não sei se rio com a forma dela ou se sinto empatia pela pobre Lira,
que é sempre silenciosa dentro da mansão. Eu nunca a vi pelos cantos apenas
para ouvir o que se passa por trás das paredes, mas acho melhor não
expressar minha opinião.
— Venha, mocinha! — Ela ergue sua mão para mim, caminhando
para o canto do quarto, onde uma porta está aberta. — Normalmente, quem
me ajuda quando faço bagunça é Baby, mas ela apenas se retirou para seu
quarto, não descendo nem para o jantar. — Sei disso. Baby se trancou em seu
quarto depois que voltamos da praia. — Tive que jantar sozinha. — A velha a
recrimina, parecendo uma criança que foi abandonada.
Ao pararmos na frente da porta aberta, vejo as caixas caídas ao chão,
com vários papéis.
— Fui tentar puxar uma só e acabou que o resto veio junto — tia
Charlote suspira com desgosto, erguendo seus olhos pedintes para mim. —
Poderia me ajudar? Não queria ter que pedir à Lira para mexer em minhas
memórias, e já que Baby não dá sinal algum que vá sair do quarto, me restou
apenas você a quem recorrer.
— Claro, sem problema algum. — Sorrio para ela, me abaixando e
pegando a primeira caixa que está tombada por cima das outras. — Jon quis
ir se deitar cedo, então tenho tempo para lhe ajudar. — Movo a caixa,
pegando os papéis que tinham caído para fora dela.
São cartas antigas, pequenos papéis de balas e ingressos de teatro que
já tinham sido usados. Sorrio com carinho. Sua caixa está repleta de memória
afetiva.
— Sei que deve parecer apenas lixo para alguns... — Ela se aproxima
de mim, pegando uma das cartas e deixando sua face refletir ternura por suas
memórias. — Mas são importantes para mim.
Ela alisa a carta com tanto carinho, como se fosse realmente a coisa
mais importante da sua vida.
— Veja, essa foi a última carta que Boxtom, meu marido, me
escreveu. — Soltando um suspiro demorado, ela devolve a carta para dentro
da caixa. — Vinte e cinco anos de um casamento feliz.
— Deve ter sido difícil ter superado a perda dele — falo baixo para
ela, a vendo caminhar para sua penteadeira.
Tia Charlote abre a gaveta da lateral da sua penteadeira, retirando uma
garrafa de uísque e dois copos de lá, os enchendo em seguida. Me viro,
guardando a caixa na prateleira de cima, onde está vazio.
— Enterrar Boxtom foi mais fácil que assinar os papéis de divórcio.
— Ela caminha devagar, entregando um copo para mim quando volto meu
corpo para ela.
— Se separaram? — Ela balança a cabeça em positivo, virando seu
copo de bebida.
— Eu amava, amava meu marido, nos divertíamos muito. Boxtom era
o marido ideal que toda mulher desejaria ter. Cuidava de mim, me enchia de
presentes, de viagens, joias e carros.
Bebo com calma a bebida que ela me oferece, me abaixando para
pegar a segunda caixa. Como a tampa está bem lacrada, apenas ergo meu
braço, a guardando em seu lugar.
— Estávamos em Moscou quando a tragédia aconteceu. — Entorno o
resto de bebida na boca, desviando meus olhos dos seus na mesma hora. —
Mas isso você já sabe, não é? Sabe sobre a tragédia?
Ela estende sua mão para pegar o copo, me olhando incessantemente.
Merda, sou péssima em guardar segredos!
— Seus olhos contam tudo que sua boca não fala, mocinha. — Tia
Charlote volta para sua garrafa, enchendo os copos outra vez.
— Sim... — cochicho sem jeito, me sentindo envergonhada. — Bob
me contou um dia desses sobre os pais do senhor Roy e da Baby.
— Aquele garoto é impertinente. — Caminhando a passos
retardatários, ela tem seus olhos cravados em mim. — Mas ele não mentiu.
— Ela estende o copo outra vez, para que eu o pegue.
— Obrigada, vou tomar só mais esse. Por hoje, dois copos de bebida
já são mais que suficientes. — Fico constrangida diante dela, me sentindo
uma intrusa no passado da família, mas com tantas dúvidas e curiosidades
sendo maiores que as anteriores. O que acarretou a separação da tia Charlote?
— A senhora voltou para cuidar deles?
— Sim, eu voltei na mesma hora — a velha suspira, se sentando na
beira da cama, à minha frente, com uma das suas mãos na perna e a outra
segurando seu copo.
Nesse segundo, enquanto olho tia Charlote, ela me faz lembrar de
estrelas do cinema da década de 70, que por mais que o tempo tenha passado,
retirando sua glória, ainda assim traz o porte e a elegância de outrora.
— Seria o que meu Reimond teria feito por mim. Ele teria feito isso
por mim se eu tivesse sido mãe. — Sua fala é melancólica, se perdendo em
suas recordações. — Boxtom não concordou muito com o fato de eu ter
ficado com as guardas das crianças, ele queria continuar as viagens, os bailes
de gala entre os congressos. A vinda das crianças mudava toda a vida fútil
que tínhamos. Então ele me mandou escolher.
O que vejo em seus olhos não é arrependimento. A pequena anciã
demonstra coragem e amor pelos seus sobrinhos.
— A senhora os escolheu. — Me silencio, tomando minha bebida, e,
dentro de mim, sei que se fosse posta a uma decisão assim, teria a mesma
escolha.
Abaixo-me, pego a última caixa e fixo sua tampa, a erguendo e
levando-a para perto das outras duas.
— Eu pedi o divórcio a ele, disse que estaria livre para seguir seu
caminho, pois o meu já estava traçado ao lado dos meus sobrinhos — ela
suspira calma, gesticulando com sua mão, como se dissipasse os
pensamentos. — Vivi alguns namoricos aqui e ali durante minha vida, mas
amar de verdade, amei apenas um homem. Por isso que quando Boxtom
morreu, não sofri tanto, porque já tinha perdido ele em vida, muito antes dos
olhos dele fecharem.
Sinto empatia por seu sofrimento, quase ao ponto de atravessar aquele
quarto e a abraçar com todo carinho que posso, mas ainda assim me obrigo a
ficar em meu lugar.
— Quando amar alguém assim, entenderá que perder alguém em vida,
se desligando do seu caminho, virando apenas lembranças, é pior que perder
ela para a morte.
Não sei o que lhe responder. Amei muito Tom em algum momento da
minha vida, ou amava o que tinha idealizado, o sonho que construí em cima
dele, mas a verdade é que meu amor por Tom não é como ela descreve.
Ainda sinto a dor da descoberta da traição, porém ao mesmo tempo me sinto
bem por, de alguma forma, ter terminado nosso relacionamento, que tinha se
tornado tortuoso. Ergo meus dedos, limpo minha face, respiro com força,
empurro meus pensamentos sobre minha vida amorosa fracassada para longe.
— Bom, acho que guardei todas. — Tento forçar um sorriso amarelo
em minha face, sabendo que não tenho sucesso algum.
— Muito obrigada, mocinha. — Ela ergue seu copo, tomando o
último gole. Faço o mesmo com a minha bebida.
Movo meu corpo, olhando seu pequeno closet cheio de joias, sapatos,
roupas e bolsas estocados, mas sou fisgada por uma moldura escondida ao
fundo, na prateleira do meio. Abaixo meu copo, olhando atentamente para
ela. Um homem elegante está escorado em um Rolls-Royce preto, modelo
antigo, e ao fundo uma grande casa branca, tão bela, com jardim florido. O
menino ao seu lado, usando uma roupa de jogador de tênis, olha fixamente na
direção de quem bate a foto, sem expressar sorriso algum. Sua fisionomia é
tão familiar, com seus cabelos negros como a noite, a pele clara e os olhos
azuis brilhosos, me fazendo lembrar de Jon. Se fosse um pouco mais
encorpado, poderia dizer que é ele nessa foto, com seis ou sete anos. Ergo
meus dedos, segurando o porta-retratos, olhando para a fisionomia do
homem, que é alegre, sorridente e demonstra uma grande felicidade. Ele traz
traços idênticos ao do menino ao seu lado. O menino silencioso é tão
parecido com Jon, que tenho a certeza de que deve ser o senhor James,
mesmo não o conhecendo. A sobrancelha, o nariz fino, tudo faz me lembrar
de Jon.
— Esse é o senhor James Roy, o pai de Jon? — pergunto sorrindo,
olhando na direção da velha senhora sentada na cama.
Ela espreme seus olhos, tentando focar na imagem. Sua cabeça logo
balança rapidamente em negativo.
— Não, esse é Reimond com Jonathan. — Charlote alarga um sorriso,
olhando com carinho para o menino. — Meu Roy sempre foi um menino
grande para sua idade, tinha cinco anos nessa foto e já aparentava ter seis. Foi
a última foto que meu irmão tirou com seu filho.
Volto meus olhos para o retrato, sentindo meus dedos trêmulos, não
conseguindo ter firmeza ao segurar o porta-retratos.
— Senhor Roy. — Me calo, estendendo meu braço e guardando o
porta-retratos no local de onde o retirei. — A senhora teria alguma foto do
pai do Jon?
— James? Creio que não. Ele odiava bater foto. James simplesmente
fugia. Baby é a única que deve ter pelo menos uma foto dele.
Meu olhar é perdido, minhas pernas estão fracas e minha boca tão
seca quanto meus olhos arregalados, que fitam o chão.
— Acho que podemos terminar aquela garrafa agora. — A voz
animada de tia Charlote me faz erguer minha cabeça, negando rapidamente
com movimentos ligeiros.
— Eu... preciso ir. — Ergo minha mão, apontando para a porta. —
Preciso... Eu sinto muito, mas não posso acompanhá-la.
Ouço seu agradecimento quando saio do quarto, mas não consigo
responder e apenas faço gestos de confirmação com a cabeça. Minha mente
está sendo consumida por cada detalhe daquela foto. As feições, o jeito
quieto, tudo naquele garoto se assemelha a Jon.
“Nunca, nunca, em nenhuma hipótese, Jonathan faria algum mal a
Jon.”
Ouço a voz de Baby dentro da minha cabeça, martelando a cada passo
que dou, e ando acelerada pelos corredores.
“Ele quer Jon aqui, na ilha, ao lado dele. Jon é importante para ele.
Por isso eu sei que ele nunca faria nada contra aquele menino.”
Claro que ele nunca faria nada contra Jon, está ali a resposta, está
entre as falas de Baby. Por isso ela tinha tanta certeza de que o senhor Roy
jamais machucaria seu sobrinho. Porque a verdade é que Jonathan é o pai de
Jon. O distúrbio do TOC não é apenas por conta de algum trauma que Jon
está sofrendo, é realmente hereditário.
— Deus! — Tampo minha boca, correndo para o meu quarto o mais
depressa que posso, apenas conseguindo respirar quando minhas costas
batem na porta, a fechando atrás de mim.
Olho para a face adormecida de Jon, tendo a luz baixa iluminando um
pouco ele, aumentando minhas dúvidas e confusão.
Por que criar o próprio filho como sobrinho? Por que o largar em um
colégio interno por tantos anos? O que mais tem escondido sobre essas
camadas de segredos que habitam essa mansão?
CAPÍTULO 16
DOCE VENENO
Ginger Fox
É como ter um martelo sobre meu peito, algo que me prende, sugando
minha alma a cada batida. Os flashes, as palavras...
Jonathan não está sendo generoso com avó de Jon, não é uma mesada,
é o pagamento do silêncio dela. Ele compra o silêncio dela para manter
mascarada a mentira que esconde. As lágrimas caem por minha face, rolando
por meu queixo. Meus dedos esmagados se apertam com tanta força, a ponto
de cravaram-se na carne da palma da minha mão.
— Sua cadela burra! Acha mesmo que Lorane se importa com aquele
demente do Jonathan ou até mesmo com esse garoto retardado? — Ele
aponta para Jon, rindo ainda mais.
Estico meu braço, retirando com minha mão o vapor que está
embaçando o espelho do banheiro. Não tenho ideia de como consegui dormir
por mais de doze horas, passado a tarde inteira e a noite apagada dentro do
meu quarto, como se meu cérebro tivesse sido desligado. Me recordo
vagamente quando Jonathan se foi. Acho que em algum momento, quando o
quarto já estava tão escuro, ele tinha voltado. O vulto próximo à cama
respirava lento, meus olhos pesados se abriram vagarosos, mas o sono era tão
grande, que logo voltei a dormir. Ainda não sei se estava acordada ou se foi
apenas um sonho o intruso dentro do quarto. Se não fosse o cortador de
grama fazendo barulho próximo à janela, às sete horas da manhã, por Robert,
possivelmente eu ainda estaria dormindo. Não sei ao certo se meu estado de
coma adormecido foi provocado pela porrada de sexo agressivo, pelo
comprimido (o qual suspeitava não ser um relaxante muscular) ou pelo meu
estado emocional abalado. Na pior das hipóteses, deveria ser a mistura de
todas as situações anteriores, fazendo assim meu declínio se tornar mais
longo ao cair nos braços de Morfeu. Meus dedos se erguem, raspando em
minha garganta, e vejo os hematomas roxos, que estão visíveis na pele. Meus
seios doloridos ao mais leve toque ou raspar da tolha, latejam com os bicos
sensíveis. As marcas de mordidas mostram perfeitamente a grande arcada
dentária que tinha perfurado a minha pele, não ao extremo para causar
ferimentos graves, mas forte o suficiente para ficarem por um longo período
expostas nas mamas. Meus dedos erguem meus cabelos enquanto viro meu
corpo devagar, torcendo meu pescoço, olhando para a lateral do meu corpo.
Não me recordo de como tantas marcas apareceram dessa forma, parece que
levei uma surra.
Sim, tenho ciência que Jonathan elevou o jogo para outro patamar em
cima daquela cama, mas estava tão nublada e perdida no êxtase que me
consumia, que em nenhum momento senti dor pela agressividade dele. Ainda
curiosa com todas essas dores, que agora vêm fortes em meu corpo, deslizo
meu dedo para minha bunda e sinto a parte interna dolorida, quase ao ponto
de estar assada. Uma fisgada de uma dor incômoda me faz torcer o nariz
quando meu dedo toca o buraquinho, que foi castigado por duras estocadas de
um pau afoito. Até disso eu tinha me desprendido. O tabu do sexo anal, que
Tom sempre fazia parecer tão errado e feio, tinha sido jogado para fora dos
meus pensamentos, e naquele momento me fixei apenas na respiração quente
de Roy em minha nuca, que me arrepiava por inteira. Seus beijos bruscos se
tornaram longos, quase arrancando meu fôlego. Ele tinha me castigado,
percebo isso ao deixar meus olhos presos na marca da cintada, que apresenta
outras marcas de tapas perto dela. O começo foi lento, como um passeio em
uma montanha-russa, trazendo apenas aquele frio na barriga, até eu estar
relaxada e meu corpo se acostumar com seu pau dentro do meu ânus,
investindo lentamente, alargando o buraco que o recebia. Foi o mesmo que
ter uma faca dentro de mim, uma faca grossa, de cabeça larga, que me
cortava lentamente, me induzindo entre a dor e a excitação. O pico de dor se
intercalou, virando prazer, me fazendo querer mais, mais do seu pau, do seu
suor que colava seu peito em minhas costas, dos seus beijos selvagens, mais
de tudo que ele me oferecia.
Foi mágico ao ponto de não conseguir compreender como de
carinhoso e atencioso, Roy foi para brutal e selvagem em questão de
segundos, e mesmo assim eu desejei mais. Jonathan tinha me castigado por
ter feito ele ficar vulnerável tanto quanto eu estava. Aquela sensação de
prazer a dois, sentida apenas por amantes antigos, que nem em dez anos de
relacionamento com Tom eu tive, foi o que desencadeou sua ira. E mesmo
assim eu me perdia, me rendia em sua selvageria, o instigava a perder seu
controle comigo, ansiava em luxúria e gemia a cada aperto, puxão, tapa e
mordida que recebia dele. Os baques fortes, o estalo da cama... Ainda posso
sentir a ardência entre minha bunda apenas pela mera lembrança de como ele
se retirou de dentro de mim, me virando na cama para me puxar para seus
braços. Meus dedos presos em sua nuca, as pernas que sabiam perfeitamente
o caminho da sua cintura, e apenas o deleite de ter sua mão espalmada nas
minhas nádegas, as abrindo, e ao mesmo momento voltando a perfurar meu
cu. Me recordo de quando assistia aqueles vídeos pornôs de madrugada ou lia
os contos eróticos no caminho da faculdade para casa e pensava em como
aquelas mulheres conseguiam se sentir confortáveis em serem apenas um
buraco e receber impactos, mesmo sabendo que a maioria estava apenas
mentindo para as câmeras. Mas na realidade é diferente. Da maneira que Roy
me fodia, eu o deixava ter acesso total a mim, não tinha controle sobre suas
penetrações e nem o ritmo que ele conduzia, estava à mercê do prazer e da
dor, e eu gostei daquilo. Foi ali que eu perdi a noção de tudo à nossa volta.
As mordidas eram bem-vindas, seus dentes cravando em minha pele eram
incentivados pelas minhas unhas, que rasgavam suas costas. Os impulsos
recebidos pelo quadril me faziam sentir apenas uma fome assustadora e
prazer absoluto.
“Jonathan é dono do jogo, e ele vai jogar com você, vai usar todos os
sentidos e sentimentos que tem dentro do seu corpo contra você...”
“... Cada pecado que tem dentro de você vira à tona em sua pior
face.”
As palavras de Baby me acertam com força total e compreendo
justamente o que ela quis me alertar. Roy desencadeia dentro de mim os
desejos mais lascivos e perversos. O olhar negro e brilhoso no espelho, que
sente uma ponta de admiração em cada marca do meu corpo, pertence a
mulher que sempre desejei ser, e eu não tenho nenhuma ideia de como lidar
com ela. Esfrego meu rosto, angustiada, respirando com força. Desvio meu
olhar do espelho, não suportando mais ver meu reflexo, puxando o roupão
atrás da porta do banheiro e cobrindo meu corpo o mais depressa que posso.
Amarro firmemente o laço, trazendo meus cabelos para frente, em uma frágil
ideia de que realmente consiga disfarçar os chupões. Ao olhar meu pulso,
vejo que o calombo do aperto do cinto de couro se faz presente, puxo as
mangas do roupão em nervosismo, não erguendo meu olhar outra vez para o
espelho. Estou perdida entre meus pensamentos. Quando abro a porta do
banheiro, tenho a certeza de que apenas sairei desse quarto quando Jon
chegar. Mas meus passos param no momento que noto sua presença. Um
sorriso triste adorna sua face cansada. As olheiras, de quem passou a noite em
claro, ganham maior visibilidade em sua pele pálida. O delicado robe de seda
vermelho, com suas plumas na bainha, está cobrindo seu corpo com o laço
tão firme quanto o meu.
— Achei que poderia gostar de um café. — Sua cabeça se abaixa,
desviando seus olhos dos meus, deixando a cascata loira cair por sua face,
prestando atenção na bandeja em sua mão. — Eu sei que foi errado entrar
sem bater. Tive medo de que não abrisse, por isso fui obrigada a roubar
aquele bolo horroroso de chaves do meu irmão.
Sua voz é afobada, fazendo as palavras saírem disparadas por sua
boca, forçando uma risada quase ao ponto de parecer histérica. A bandeja
treme a cada passo que dou. Ela aperta seus dedos nas laterais, respirando
angustiada. Já estou à sua frente, retirando a curta distância que tinha entre
nós, levantando meus dedos para a bandeja.
— Gim, eu... — Seu rosto vermelho, com olhos marejados, se ergue
para mim, comprimindo seus lábios em choro.
— Eu sinto muito, Baby. Sinto muito pela forma como agi e pelas
coisas que falei... — Retiro a bandeja da sua mão, observando a xícara de
café com duas torradas, que ela tinha arrumado com uma delicada flor ao
canto. — Não tenho esse direito. Não cabe a mim querer contestar suas
escolhas sobre o que foi e é melhor para Jon.
Deixo a bandeja ao pé da cama, voltando a prender meu olhar ao seu
quando a encaro. Meus dedos seguram os seus entre os meus, afagando sua
mão com carinho.
— Eu nunca senti ou sentiria nojo de você, nem fiquei com raiva. Eu
sinto muito, Baby.
Seu corpo já está colado ao meu, tendo seu choro embalando o quarto.
Abraço-a forte, a deixando saber que sua amizade é importante para mim, que
o vínculo que tínhamos construído nessas semanas será perpétuo. Não quero
que ela se afaste da minha vida.
— Me perdoa... Me perdoa, Gim. Eu devia ter contado... Devia ter te
contado antes de Sodoma. — Baby enrola seus braços com mais força em
meu corpo, enterrando seu rosto em meu ombro, soluçando em meio ao choro
que derrama.
— Está tudo bem...
Deixo-a chorar para poder tirar tudo que está dentro dela, lhe
machucando. Baby precisa desse choro tanto ou até mais do que eu precisei
ontem, dentro do escritório de Jonathan. Levo-a lentamente para a cama, a
fazendo se sentar, voltando para retirar a bandeja do pé da cama, a levando
para a cômoda. Olho um segundo para a cômoda vazia. Acho que Roy levou
a outra bandeja com ele quando saiu do quarto, depois que me obrigou a
tomar aquele suco. Volto para a cama, me sentando do outro lado, sentindo a
dor que extravasa pelo seu choro. Não é mais a loira fatal que está encolhida
ao meu lado na cama, chorando, quando me deito, me aproximando dela, é
apenas uma mulher frágil, completamente perdida e ferida. Meus braços se
esticam, ficando sobre sua cintura, movendo meu rosto para perto e
encostando minha testa à sua, apenas a deixando saber que estou ali e que ela
pode ter seu tempo para libertar sua alma através das lágrimas que derrama.
Não importa o quanto demore, eu continuarei ali.
— Você tinha razão sobre Jon — sussurra em voz baixa, depois de
um longo tempo chorando, quando já está calma.
Levo uma das minhas mãos para debaixo da minha cabeça, olhando
sua face triste com olhos vermelhos e inchados.
— Não, Baby. Eu não tenho. Você teve seus motivos para se afastar
dele, fez o que pensou ser melhor para ele. — Minha outra mão em sua
cintura se estica, retirando sua mecha loira de cima do seu rosto, deixando
sua face livre. — Você fez o que qualquer mãe faria, pôs o futuro do seu filho
acima do seu.
— Foi medo. Eu não fui mãe, eu não fui o pai. Eu silenciei minha voz
que gritava dentro de mim para ficar com ele, você estava certa quando disse
isso. Eu abandonei a única pessoa que precisava de mim. — Ela fecha seus
olhos, balançando sua cabeça lentamente para os lados. — Eu falhei com Jon,
achei que seria mais seguro para ele estar longe de mim, longe do que eu sou,
e ainda assim a maldade o alcançou.
— Não é sua culpa. — Seguro seus dedos entre os meus, apertando
com delicadeza. — O que é que esteja acontecendo com Jon, não é sua
culpa...
— É sim, Gim. A maldade sempre esteve ligada a essa família... E eu
não protegi meu filho dela, da mesma forma que ninguém nos protegeu.
Baby fala sobre sua mãe, algo dentro de mim sabe disso. Agora
compreendo por que Baby não se refere a ela como mãe. Baby não teve uma
figura materna. Tia Charlote, mesmo aborrecida com Baby, deixa visível sua
ternura pela loira quando olha para ela, e reflete seu carinho por Jonathan em
cada sorriso quando o vê, mas ainda assim ela não é a mãe deles. A maldade
que Baby se refere é a traição da sua mãe, que desencadeou toda a desgraça
dos irmãos, por isso ela se intitula como tóxica e se achou sem estrutura para
ser mãe de Jon na época.
— Baby, você não tem culpa. Nem sobre Jon e nem sobre seu
passado. — Trago nossas mãos até estarem perto do meu coração, sem
desviar meus olhos dos seus. — A maldade está em todo lugar, não pode ser
controlada, apenas evitada.
— Como veio parar aqui, Gim? — Ela usa sua outra mão para limpar
seu rosto, respirando calma. — Como veio parar no meio dessa família
doente?
Rio, negando com a cabeça, tirando um meio sorriso dela.
— Vocês não são doentes, Baby. — Esfrego a ponta do meu nariz na
lateral do seu dedo, sorrindo para ela. — Você não é uma aberração. Você é
você, a Baby.
Estico minhas pernas, que estão encolhidas, me espreguiçando na
cama, enquanto ela vai se virando de barriga para cima.
— Eu tive um namorado uma vez, logo que Baby nasceu. — Tampo
minha boca, bocejando e virando meu rosto para ela. Os olhos brilhantes
estão parados no teto enquanto observa o lustre.
— E como foi?
— Ele era lindo. Nos conhecemos em Ibiza, me recordo até hoje
daquele dia. — Ela tomba seu rosto, se virando para mim com vergonha. —
A gente estava dois meses juntos, eu sabia que em algum momento teria que
contar a verdade para ele, até porque em alguma hora ele iria querer me ver
nua.
Nós duas rimos quando ela move suas sobrancelhas em um gesto
engraçado.
— Troy me mandava flores, joias, mensagens...
— Bom, só isso o torna perfeito. Tom apenas me mandava códigos de
boletos quando ele esquecia de pagar as contas — falo rindo, a vendo revirar
seus olhos e soltar sua gargalhada que tanto amo.
— Tom é um palerma de merda. — Sua mão bate sobre a minha,
segurando meus dedos outra vez.
— Que ele é, isso eu sei. Agora quero saber sobre Troy. — Ela respira
fundo, voltando a olhar para o teto.
— Bom, Troy já estava mais que agitado e me surpreendeu antes que
eu pudesse literalmente surpreendê-lo, contando a verdade sobre o brinquedo
surpresa que tinha no meio das minhas pernas. — Ela ri, não trazendo nem
um traço de felicidade, e já imagino como irá terminar sua história.
— Ele tentou te machucar? — Me sento na cama, olhando para o
rosto de Baby. Já tinha lido algumas manchetes no jornal de espancamento
das mulheres transgêneros, onde acabavam sendo gravemente agredidas ou
mortas ao serem descobertas pelos companheiros.
— Não, pelo contrário. Ele fez tudo o que uma mulher sonha, desde
as rosas vermelhas ao jantar à luz de velas. Me levou para dançar e quando
chegamos no apartamento dele... — Baby fecha seus olhos outra vez,
escondendo sua tristeza. — Deus, estava repleto de rosas vermelhas
espalhadas por cada canto. Quando o vi se ajoelhar à minha frente, entrei em
choque e comecei a chorar compulsivamente, sem conseguir parar.
Troy havia caído de amores pela loira fatal, tão linda e exótica. E
Baby se sentiu perdida por não ter lhe contado a verdade, deixando chegar
nesse ponto. Mentira nunca é saudável ou proveitosa, em algum momento a
verdade vem à tona e tudo que se constrói na areia a onda leva.
— Quando parei de chorar, percebi que aquilo nunca seria para mim.
As rosas, o romantismo, o amor... Eu não teria aquele conto de fadas. — Seus
olhos se abrem, perdidos, focando em minha face. — Ele até que foi
cavalheiro quando pediu para que me retirasse do apartamento dele, sem
olhar no meu rosto depois que contei a verdade.
— Você nunca mais tentou?
— Não havia lugar para mim, Gim. Não me encaixava como uma
pessoa hétero e nem como homossexual. Uma pessoa trans é julgada e
condenada por todos que acham que um transexual é travesti. — Não sei o
que dizer, a verdade é que eu nunca compreendi ao certo a diferença entre os
dois termos.
— Eu confesso que nunca vi os rótulos. Homens, mulheres, gays,
lésbicas, travesti, trans... Eu sempre vejo todos como seres humanos,
independente das suas escolhas. — Sorrio para ela, tentando lhe mostrar que
eu a amo de todas as maneiras. — Mesmo eu nunca entendendo ao certo a
diferença de uma trans ou uma travesti.
— E é isso que te torna especial para mim, Gim. Porque você me viu,
você apenas me viu. — Baby se vira, se arrumando na cama e puxando
minha mão para que eu me deite outra vez ao seu lado. — Deixa te explicar:
um transexual do gênero feminino nasceu homem, mas não se sente como tal.
Nos modificamos com a transição de gênero, usando roupas femininas, uso
de hormônios e eventualmente alguns decidem pela cirurgia de mudança de
sexo. Já os travestis, ainda que tenham o mesmo desejo de parecer com o
sexo oposto e invista em roupas e também em hormônios femininos, mantém
o órgão genital masculino. — Meus olhos se movem entre nós, deixando
minha vista presa em sua virilha, voltando a olhar para ela. — Travestis são
homens que sabem ser homens, mas que se apresentam socialmente como
mulheres.
— Nunca pensou em fazer a mudança?
— Sim, em alguns momentos eu pensei, mas não desejei. Não achava
que precisava de uma cirurgia para definir meu gênero, apenas precisava de
coragem para me aceitar, para saber quem eu sou, mesmo nunca sendo aceita
pelos outros, até que um dia eu achei meu lugar.
— Foi aí que entrou Sodoma em sua vida? — Baby balança sua
cabeça, confirmando minha pergunta. Com seu olhar mais calmo, uma nova
face dela é apresentada a mim nesse momento, sem mentiras, sem medos ou
barreiras, apenas um ser humano frágil como eu.
— Quando pedi a Jonathan que me autorizasse a entrar, ele ficou em
silêncio por três dias, não me deu nenhum sinal que me daria sua permissão
— ela suspira, revirando seus olhos. — Até que um dia, quando já estava
desistindo, ele entregou o convite para mim. Eu acho que nunca me senti tão
bem em um lugar como lá...
Sua mão se ergue, alisando meus cabelos e sorrindo. Sinto o aroma
doce que vem da sua pele com cheiro de morangos, que apenas a ela parece
pertencer.
— Você se sentiu bem? — Viro meu rosto, beijando sua mão quando
ela se aproxima dos meus lábios.
— Me senti viva. Não precisava mais me esconder, não havia disfarce
e nem medo de deixar um homem me ver...
— Sua primeira vez foi em Sodoma? — Estou com a maior cara de
incredulidade, mordendo minha boca e olhando interessada para ela.
— Sua curiosidade é muita grande para alguém tão pequena, Gim.
— Eu sei... — Tampo meu rosto para segurar o riso, batendo meus
pés na cama ao ter certeza de que Baby teve sua primeira vez com um
homem dentro de Sodoma. — Meu Deus... Como foi?
Baby ri, se virando outra vez de barriga para cima, prendendo seus
dedos uns nos outros sobre seu ventre.
— Baby... Anda, me conta — falo, já sentindo minha nuca se arrepiar
em curiosidade.
— Foi diferente. — Ela tomba sua face para mim, dando de ombros e
sussurrando em deboche.
Abro minha boca, indignada por ela estar usando o mesmo argumento
que usei para falar do Jonathan com ela.
— Não acredito que vai usar minhas palavras contra mim, Baby?! —
Puxo o travesseiro que está perto das minhas pernas, batendo nela.
— Bem que eu deveria te deixar morrendo de curiosidade, já que
passei a noite em claro, aflita, enquanto a senhorita estava dormindo feito
pedra depois de trepar por horas com meu irmão. — Baby usa o mesmo
travesseiro que bati nela para me acertar. Seguro-o em meus braços, o
puxando para mim e o abraçando. — Seu quarto está fedendo a sexo e sua
cama a porra de macho, sua safada!
— Acho que ele gozou nesse travesseiro que está deitada, ou será que
foi nesse? — Ergo o travesseiro para meu nariz, o cheirando enquanto a
provoco. Ela me olha fingindo cara de nojo, sorrindo para mim. — Foi nesse
aqui, ainda está com o cheiro dele.
Esfrego meu nariz mais forte, apenas para sentir o leve aroma de
Jonathan. Não é a porra que o travesseiro cheira, mas sim o seu suor másculo
misturado ao seu perfume amadeirado. Se eu pudesse me ver nessa cena
agora, saberia precisamente como é um drogado em cocaína diante de uma
risca de pó. Estou viciada em Jonathan.
— Credo! Vou te internar na primeira clínica que achar, para fazer
reabilitação, sua nojenta... — Baby fala rindo, voltando a olhar para o teto.
— Vai, anda, não me enrola. Conta como foi. — Meus olhos se
esticam para ela, ainda tendo o travesseiro próximo do meu rosto e meus
braços o apertando forte. Talvez eu realmente precise de uma reabilitação em
minha vida depois de Roy.
— A reunião iria acontecer em Moscou. Eu não desejava esperar até o
verão para eles estarem aqui na ilha, então peguei um avião e fui para a
Rússia...
— Você foi até a Rússia para dar? Depois eu que sou a nojenta. —
Baby vira sua face para mim, me recriminando com o olhar.
— Não sou eu que estou abraçada a um travesseiro com porra, Gim.
— A risada escapa pela minha boca, e enterro meu rosto entre a fronha,
abafando a gargalhada.
— Talvez devesse levar a porra de Roy para um laboratório e
desenvolver um elixir[33] que acalme as histerias de mulheres sexualmente
frustradas. Freud teria aprovado essa ideia.
— Oh, meu Deus! Cale a boca, Ginger. Nem Freud poderia aprovar
essa ideia, e outra, você mesmo acabaria com seu estoque de elixir, pelo tanto
que está viciada nele. — Baby ri mais ainda, espreguiçando seu corpo na
cama.
— Provavelmente, eu faria isso. — A loira se vira rápido, ficando de
lado na cama, sorrindo para mim enquanto alisa meu rosto. — Vai, anda,
continua. Prometo que não vou atrapalhar.
Ela suspira, deixando seus longos cílios baterem com duas piscadelas,
olhando para mim.
— Ralf Sanger — ela fala lentamente, olhando para mim, agora séria.
Já ouvi esse nome, apenas não me lembro de onde. E então como uma
pólvora que estoura, a imagem do homem sério e engomadinho que passa na
televisão e tem cartazes dele por todo os Estados Unidos, brilha em minha
mente.
— O ex-vice-presidente norte americano? — Baby balança a cabeça
em positivo, abrindo um sorriso para mim. — Nãoooo! Caralho! Mas ele não
é do partido republicano? É todo cheio de pompa, conservador e vive falando
sobre a moral e os bons costumes.
— Esse mesmo. Lembra o que te falei? Todos escondemos nossos
demônios, Gim. Ralf não foge à regra. — Ela respira fundo, fazendo
suspense, enquanto me deixa em cólicas com minha curiosidade.
Deus! Vejo aquele homem pregando tanta merda na televisão, que dá
até urticária apenas por saber que alguém consegue pensar tão retrógado
quanto ele.
— O clube aquela noite funcionou em um hotel desativado. No
começo, eu me sentia perdida, olhando para tudo como se estivesse em uma
loja de doce sem saber qual eu experimentaria. Havia uma russa, ao centro do
hall do hotel, fazendo um duplo anal. — O grande “O” na minha boca é
impossível de segurar enquanto meus olhos se arregalam, olhando para Baby.
— Uauuu...
— Sim, muito. Eu apenas fiquei lá, sem ação. Ela se encontrava sendo
esmagada por dois homens, e seus gritos não eram de quem estava sofrendo.
— Baby faz um bico, movendo sua cabeça enquanto nós duas rimos da pobre
ou sortuda russa, ainda não sei como classificá-la. — Pois bem, eu não saí de
lá, queria ver até o fim, até onde ela aguentaria. Um garçom me trouxe um
copo de vodca, dizendo que era cortesia de um dos donos da festa. Fui tão
ingênua que nem me toquei que as festas de Sodoma não possuem donos, e
sim conselheiros.
Aperto o travesseiro, com meus olhos e tímpanos bem abertos, não
perdendo nada do relato da sua história, deixando minha imaginação
sucumbir, como se estivesse lendo algum daqueles contos eróticos.
— Ralf é um dos conselheiros de Sodoma na América do Norte, e
como estava na Rússia, ele foi à reunião do clube em Moscou para prestigiar
Czar, o conselheiro de Moscou. — Ela pisca, brilhando seus olhos ao falar do
homem. — Irá conhecer ele, estará presente na próxima reunião aqui na ilha.
— Quem? — sussurro perdida, olhando para ela. Na verdade, nem sei
se irei querer estar nessa próxima reunião.
— Czar. Mas depois falamos sobre o russo mal-humorado. —
Balanço minha cabeça confirmando, animada. — Eu fiquei com a bebida que
o garçom me deixou, mas ao aceitar a vodca, também estava aceitando o
convite do homem misterioso que me mandou. Mas fiquei lá, bem plena, sem
saber disso, e continuei a olhar a cena da russa escandalosa.
Baby conta em detalhes como a mulher estava acoplada aos dois
homens, que tinham seus pênis bem fundo no ânus dela, metendo ao mesmo
tempo e seguindo um só ritmo, suados, com as respirações entrecortadas ao
centro do hall mal iluminado.
— Devia estar no meu segundo copo, quando senti o leve deslizar em
meu ombro, o que me arrepiou por inteira. — Baby deixa a ponta dos seus
dedos correrem sobre meu braço, e sinto meus pelos se arrepiarem. — A
respiração forte está em minha nuca, tão baixa que poderia fazer eu me
ajoelhar naquele hall.
Não pisco, acho que até minha respiração seguro, esperando o
desfecho do enredo. Pareço a menina curiosa com o fim do livro que minha
mãe lia toda noite para mim, a diferença é que não são fábulas que prendem
minha atenção nesse momento, mas sim a primeira foda de Baby.
— Ele depositou um cálido beijo, quase comportado, em meu
pescoço, e sua mão, que estava em meu braço, escorregou para minha
cintura.
A mão de Baby se espalma no meu quadril, dando um leve apertão.
Deveria dizer a ela que estou dolorida, mas ainda assim me calo,
porque é como sentir o que ela tinha sentido naquela noite.
— Eu tinha tanta atenção naquela cena de sexo brutal à minha frente,
que meu corpo perdeu os movimentos, me deixando à mercê dos dedos fortes
que me desbravavam.
Automaticamente, minha mente traz a experiência que tive com Roy
naquela saleta de observação. Estava tão fundida a imagem de Bob trepando
com Lorane, que minha mente se desligou, deixando apenas meu corpo reagir
a cada toque de Jonathan.
— Apenas percebi que estava com meus seios de fora quando senti o
ar gelado do ar-condicionado tocar em minha pele em chamas. Ele estava me
torturando com leves círculos sobre o bico do meu seio. O filho da puta era
bom, ele sabia disso. Meu pau, que estava escondido entre minhas pernas,
estava começando a ficar ereto, me fazendo sentir o dobro de dor por tê-lo
preso. — As unhas arrastam por minha barriga, parando próximas ao meu
ventre e escorregando lentamente.
É como se estivesse lá. A voz suave de Baby conta cada sensação e
faz meu corpo sentir cada toque dela, me transportando para uma noite fria
em Moscou.
— Ele me assustou quando sua mão escorregou para baixo do meu
vestido. — Sinto a seda do robe sendo afastada, até ter sua mão em minha
coxa desnuda. — Não tinha como fugir, nem escapar, pois seu outro braço
estava aprisionando minha cintura. Então o deixei desbravar, mesmo sentindo
medo de como ele iria reagir. Sua respiração ficou duplamente pesada quando
tocou bem no meio da minha virilha, escorregando para trás.
A mão dela desliza, parando na polpa da minha bunda, apenas
acariciando em círculos.
— Ele não falou, nem sequer perguntou se eu aprovaria, apenas
arrastou o vestido colado para cima. Sua mão já arrastava a calcinha por
minha perna. Eu sentia todo meu corpo dolorido, quase gritando para ele me
foder bem ali...
Meu rosto se enterra no travesseiro assim que seu dedo raspa a frente
da minha vagina. Baby o desliza lentamente, apenas me torturando enquanto
mordo o travesseiro, sentindo cada vez mais o cheiro de Roy.
— Minhas pernas foram afastadas com o auxílio das dele,
empurrando para o lado, e sua mão grande afastou minha bunda. Meu pau,
que estava duro, simplesmente pulou para frente. — Arfo, sendo tomada por
chamas enquanto ela esfrega em círculos meu clitóris. — Ele não se afastou,
fez o contrário disso, prendeu mais forte seu braço em minha cintura,
deixando sua mão acariciar meu pênis lentamente, beijando meu pescoço.
Meus olhos ainda presos na russa que era fodida, com seu corpo suado
brilhando, me fazia gemer baixo ao passo que ele ia me masturbando.
— Baby... — Minha voz é quase um choro, abafada no travesseiro.
Meu corpo reage rápido aos círculos que ela faz. Solto o travesseiro,
erguendo meu rosto e levando minha mão para o braço dela.
— Ele era bom, era ágil na mesma medida que era devasso...
— Ohhh, Baby... Por favor... — Prendo mais forte sua mão, sabendo
que estou na borda. Meus olhos estão fechados, mordo meus lábios, me
perdendo entre a imagem da cena que ela me descreve e a sensação que ela
me proporciona.
— O roçar do seu pau em minha bunda foi firme, me deixando saber
que ele desejava estar tão fundo em mim quanto aqueles homens estavam na
russa. Meu corpo tremeu quando gozei na mão dele, que me masturbava
fodidamente bem.
Mordo minha boca com força, para segurar o gemido que quer
escapar, enquanto as pequenas ondas vão atingindo meu corpo.
— Foi exatamente ali, presa a uma coluna de mármore, gritando entre
a dor e o prazer em ter ele enterrado fundo dentro de mim, que gozei de novo
sendo preenchida por sua porra quente que escorreu por minhas pernas,
quando o corpo dele tremeu, colando sua pélvis em minha bunda até eu poder
sentir suas bolas inchadas tocarem em minha pele. — Minha boca se
entreabre assim que o orgasmo me atinge, deixando os dedos de Baby
melados.
Meu coração bate forte, quase saindo por minha boca, relaxando meu
aperto em seu braço. Quando abro meus olhos pouco a pouco, sou fisgada
pelos olhos brilhantes, como uma tarde ensolarada com céu chuvoso, me
encarando.
— Eu soube que ficaria ali para sempre, que meu mundo seria para
sempre Sodoma — Baby sussurra, retirando seus dedos da minha boceta e os
depositando na lateral da minha coxa. — Aquilo era o que eu sou, aquele
sexo era minha essência, não era só a foda. Era tudo. Era não ter que se
esconder ou ter medo de ser julgada. Quando estou em Sodoma, sei que por
apenas aquelas horas lá dentro, a Baby pode ser amada.
Meus pensamentos voltam lentos, tento normalizar minha respiração,
vendo a pequena tristeza que reflete em seu olhar.
— Nunca serei amada. Não terei aquele sexo baunilha e muito menos
saberei o que é ser amada com carinho...
Retiro o travesseiro que tem entre nós, erguendo minha mão para sua
face. Em meio às suas íris azuis acinzentadas, enxergo a boba Ginger em seus
olhos. Baby não fala, mas dentro dela deseja a vida pacata e monótona de um
relacionamento verdadeiro ao lado de alguém. Se sentar em um sofá abraçada
ao fim do dia, assistindo TV, compartilhar seus medos, seus sonhos e suas
conquistas com seu parceiro. A loira que tenho à minha frente é o reflexo da
mulher livre que eu quero ser, e a Ginger boba dentro de mim é o espelho de
Baby. Somos o reflexo de dois espelhos. Uma almeja poder viver a vida da
outra. Eu quero que ela veja que merece todo o amor que existe no mundo
para ela, e é esse desejo que me faz me aproximar lentamente, deixando meus
lábios tocarem os seus, a beijando com o mais puro amor.
CAPÍTULO 22
DOR E PRAZER
Ginger Fox
— Você está bem? — Viro meu rosto para Baby, enquanto desço a
escada segurando a bandeja que ela tinha me levado.
— É só dor de cabeça. Acho que é alguma reação ao remédio que
tomei ontem... Ele me fez dormir como pedra e deixou um gosto ruim em
minha boca hoje cedo quando acordei.
— Que remédio tomou, Gim? — A empregada, que passa silenciosa,
olha para mim rapidamente, desviando seu olhar. Sinto minha face arder com
vergonha, é como se seus olhos estivessem me julgando por ter visto o senhor
Roy dentro do meu quarto ontem.
Deus! Imagina o que ela pensaria se tivesse visto Baby há pouco
tempo lá dentro do quarto comigo?!
— Eu não sei qual é o nome, o senhor Roy que me deu. Ele disse que
era um analgésico muscular, sei lá. Pelo tanto que dormi, era um calmante. —
Baby para no fim da escada, segurando meu braço.
— Jonathan nunca lhe daria um calmante. — Seus dedos se erguem
em minha face, analisando meus olhos. — Eu não tinha percebido, agora que
reparei como suas pupilas estão dilatadas, Gim.
— Foi de tanto dormir... — Baby nega com a cabeça, ficando com seu
rosto vermelho.
— Não, não é remédio. Está com a face de quem usou algum tipo de
droga. — Sou obrigada a rir com o que ela fala.
A única química pesada que experimentei em toda minha vida foi a
porra de Jonathan, mas acho que ele ainda não se enquadra como uma droga
ilegal.
— Oh, pare, Baby. Foi apenas o tanto que dormi, apenas isso. — A
mansão está silenciosa. Fora Lira, não vi mais ninguém.
Quando deixo a bandeja sobre a pia, percebo que até a cozinha
organizada e bem-arrumada está vazia. Lavo com pressa o prato e a xícara,
deixando-os no escorredor de louça. Talvez possa ir à farmácia comprar um
remédio para dor de cabeça, antes que Jon volte. Ainda tenho Lorane para me
preocupar. Não tinha visto a mulher possessa desde o café da manhã
assustador de ontem.
— Como está Lorane? Ela está mais controlada? — Me viro para
Baby, que ainda tem seus olhos presos aos meus.
— Está no quarto dela, trancada, depois da conversa que teve com
Roy. — Baby olha para os lados, tendo certeza de que estamos sozinhas. —
Gim, o que mais aconteceu ontem além do comprido e do sexo bruto com
Roy?
Pisco, esfregando a lateral da minha testa, sentindo o gosto de ferro
voltar em minha boca.
— Bom, teve o café da manhã, a avó de Jon, nossa conversa no seu
quarto... Depois o escritório de Jonathan. — Baby me dá um sorriso pequeno,
balançando a cabeça enquanto ri baixinho. — Depois o meu quarto, muita
coisa dentro do quarto. Eu tomei um banho e me deitei, e então um sono
pesado me pegou, era como se alguém tivesse me desligado da tomada.
Não me lembro nada fora do que seria normal. Retirando o sexo
violento com Roy, eu não tinha feito alguma coisa que pudesse me deixar
assim.
— Ontem à noite, eu não sei se estava dormindo ou acordada, mas por
um acaso entrou no meu quarto? — Ela balança sua cabeça em negativo, me
deixando mais confusa. — Estranho, acho que foi sonho então, ou era o
senhor Roy.
— Não. — Baby é direta ao me responder. — Jonathan teve que sair
para resolver assuntos na ilha.
— Eu não sei então o que era. Mas podia jurar que tinha alguém
dentro daquele quarto...
Minhas palavras se silenciam enquanto esfrego meu rosto. Talvez
tenha sido só um sonho, mas ele parecia real durante aquele nevoeiro...
Minha mente me lembra de mais alguma coisa importante que aconteceu
ontem.
— A cama de Jon... — sussurro mais para mim do que para ela,
soltando meus dedos ao lado do meu corpo.
— O que tem? — Já estou com meu coração acelerado, batendo forte,
encarando Baby.
— Ontem... Ontem de manhã eu tinha algo para lhe contar, e como
tudo aconteceu feito uma avalanche, me esqueci do que realmente era
importante. — Seguro os braços de Baby, respirando apressada. — A cama
de Jon. Alguém gozou em cima da cama dele...
O rosto de Baby congela, ela está como uma pedra. Não estou louca
quanto a isso. Meus dedos já soltam seus braços enquanto corro desesperada
para a escada. Entro no quarto com um rompante, destrancando a porta do
quarto de Jon. Não entendo, alguém trocou a roupa de cama, mas esse serviço
é meu... Sou eu quem entrega a roupa suja para Lira e organiza o quarto dele,
mas claramente a roupa de cama é outra.
— Por que correu, Gim? — Baby está com o rosto vermelho e suado,
tentando respirar normal por conta de ter corrido.
— Alguém trocou... O lençol sujo que estava aqui sumiu, Baby.
Tiraram o lençol sujo que tinha aqui. Eu vi, não estou louca. Eu sei o que vi
em cima dessa cama ontem de manhã. — Baby caminha para a porta do
quarto dele, conferindo se está trancada.
— Vou procurar por Lira, para saber se ela entrou aqui para trocar o
lençol...
— Quem mais além de Jonathan poderia ter as cópias da chave? —
Ela fica em silêncio, pensativa.
— Seria muito difícil alguém pegar todas as chaves para fazer cópias
sem que ninguém notasse... — Baby olha para a cama, fechando seu punho,
vejo a ira que a toma.
— Talvez não fosse preciso fazer cópias... Só uma basta. — Essa
mansão é antiga demais, suas chaves teriam que ser feitas fora da ilha, o que
tomaria tempo. Então não é preciso de cópias se tiver apenas uma, uma única
chave.
— Como apenas uma chave? Eu não acredito que sonhou, e muito
menos que esteja louca em relação ao que viu em cima da cama. Aquele
escroto do Bob pode muito bem ter feito cópias do seu quarto e do de Jon, ele
não teria como abrir as portas com uma...
— Sim, Baby, ele pode.
Olho para a porta de Jon, vendo que a chave continua lá, na
fechadura. Uma cópia ficaria travada por ter outra chave do outro lado, ele
teria que ter a chave correta, uma chave que abre todas as portas.
— A chave mestra[44]. Alguém está usando a chave mestra para abrir
as portas.
— Essa chave foi perdida há muito tempo. Tia Charlote a perdeu e
nunca mais encontrou...
— Encontraram a chave.
Meu corpo se encosta na parede, enquanto meu coração bate
acelerado. Não estava louca e nem dormindo, alguém entrou no meu quarto
ontem enquanto eu estava aérea. Baby estava em seu quarto, aflita, e
Jonathan tinha saído da mansão. Tia Charlote, por mais que goste de ficar
ouvindo os sons da mansão, tem possibilidade de ter bebido ontem o
suficiente para lhe apagar, por conta da situação desagradável do café da
manhã. Jon não estava em casa, então eu era a única pessoa frágil naquele
momento. Meu rosto se vira, olhando para a porta do meu quarto. Minha
chave não está lá, ela foi retirada da fechadura, por isso Baby conseguiu usar
as cópias de Jonathan. Desencosto da parede, caminhando para a minha
porta. O pequeno metal está caído ao chão, próximo à parede. A chave não
tinha caído, ela tinha sido jogada. O frio se ergue por minha espinha, fazendo
eu me arrepiar. Sinto o suor em minhas mãos, aperto a chave em meus dedos.
O medo me corrói por saber que estava vulnerável. Aconteceu mais alguma
coisa dentro desse quarto, que me derrubou, não foi o remédio nem Jonathan.
O que está deixando passar, Gim?
Meu cérebro lateja entre a dor de cabeça e a pergunta que me martela.
O que eu estou deixando passar?!
CAPÍTULO 24
OLHOS QUE CONDENAM
Ginger Fox
Quando eu tinha quinze anos, podia sentir meu corpo com impulsos
incontroláveis e sentimentos estranhos. Ao ir ao médico, ele me disse que
eram hormônios adolescentes. Ele me perguntou se eu era sexualmente ativa,
mas é claro que menti, porque minha mãe estava na sala e não queria que ela
soubesse que trepava com Tom três vezes ao dia, no banco de trás do carro
velho dele. Quando ele foi para o campus da faculdade, eu ainda estava a dois
anos de terminar o colegial, então nosso sexo diminuiu drasticamente, o que
me deixou incomodada e frustrada. Culpava a saudade que sentia dele por
estar longe e não nos vermos mais todo dia, e não o fato que a falta de sexo
estava me tragando, apenas trancafiando mais fundo a necessidade que me
corroía. A verdade é que não eram hormônios de adolescente, e pensando
bem agora, com toda certeza, não era apenas a saudade de Tom. Fazer sexo
para mim é tão natural quanto beber água, e é aí que mora o perigo. Uma
pessoa normal deve beber dois litros e meio de água por dia, mas eu não. Eu
bebo quatro litros. Como eu disse: sexo é como água, e se eu deixar meus
instintos soltos, pratico o dobro. Foi aí que me perdi. Se eu não tivesse tido
vergonha de deixar minha mãe saber que eu não era mais virgem e contado
para o médico que com quinze anos eu já transava em uma velocidade
absurda, tinha grandes chances dele ter diagnosticado meu apetite sexual
desenfreado, que se desencadearia na vida adulta. Cada vez que penso sobre
essa dependência em sexo com Roy, tenho certeza que estou viciada nele.
Expurguei para fora toda minha alma impregnada de luxúria.
Recordo-me de uma matéria que li na faculdade, contando sobre uma
mulher que tinha tido oitenta e quatro parceiros em três meses, ou seja, ela
dava para caralho! Minha mente analisou curiosa: como alguém pode ser
viciado em sexo? Então descartei a ideia de ser compulsiva com foda na
época. Até descobrir o chifre que levei do meu noivo, o único pau que eu
montava era o do Tom. Pois bem, a resposta para a pergunta acima é simples:
eu apenas não tinha esse discernimento na época. Não precisa,
necessariamente, de diversos paus, o que precisa é de sexo brutal. Depois de
bebidas alcoólicas, cocaína, heroína, maconha, drogas farmacêuticas ou
qualquer outra porra criada em laboratório, temos uma droga exclusiva e
produzida pelo nosso próprio corpo: nossos hormônios refinados e
clinicamente comprovados, sendo disparados dentro do nosso cérebro
naturalmente. Não achamos eles em esquina e nem com traficantes a $15
pau[49] a bucha[50], não tem como chegar na farmácia com uma prescrição
médica e solicitar o genérico para a atendente. Podemos apenas encontrar
essa belezinha quando estamos passando por alguma contração muscular,
produzindo leite materno, tendo empatia por outras pessoas, medo ou um
grande apego. Mas, no meu caso, é apenas uma coisa que me leva a mais
pura e liberta produção de ocitocina[51] dentro do meu corpo: Jonathan Roy.
Já foi comprovado que sexo todo dia não faz mal a ninguém, ao
contrário, é até aconselhável, mas tudo que é em demasia se torna maléfico à
saúde. O vinho está aí para provar minha teoria: gostoso, encorpado e deixa
uma sensação de plenitude e bem-estar. Devo ter visto em algum lugar que
faz bem para o coração, por isso os médicos recomendam tomar apenas uma
taça por dia, mas beba uma garrafa todo dia, durante um mês, para ver quais
serão as consequências. Seu organismo se vicia nele, fica dependente, e você
apenas pensa em quando vai chegar a hora da próxima taça. O que ingeri
nessas últimas semanas não foi uma taça e nem uma garrafa, foram tambores
do hormônio do amor[52], produzido em massa dentro de mim. E quando ele
acabava, meu corpo pedia por mais, mesmo estando no limite do
esgotamento, me afundando entre a dor e o desejo.
E o filho da puta, tirano e sadomasoquista do Jonathan Roy, sabe que
me tem na palma da sua mão, fodidamente ao pé da letra, tanto quanto o
pedaço de bolo de chocolate que ele leva aos lábios, mastigando calmo,
enquanto me observa na ponta da mesa, tomando seu café da manhã,
conciliando sua atenção entre mim e sua tia Charlote, que lhe fala sobre as
novas cortinas que chegaram.
Quem o vê aqui, elegante e charmoso, com seu terno negro sob
medida, não pensa que me fodeu de barriga colada ao capô do seu R8,
abafando meus gritos com minha própria calcinha, estocada em minha boca,
com sua mão estourando em tapas em meu rabo, dentro da garagem trancada,
algumas horas atrás, como o louco pervertido que realmente é. Minha lingerie
ainda está dentro do bolso esquerdo da sua calça. Percebi com o tempo que
ele tem costume de raptar minhas calcinhas como um prêmio pós-foda. Tento
fazer rapidamente uma pesquisa mental sobre qual lugar da mansão ainda não
tinha estado amarrada, amordaçada, algemada, gemendo em meio a um
orgasmo e me sentindo viva a cada penetração selvagem com a qual Roy me
presenteia, mas nada me vem à cabeça. Até a mesa da sala de jantar me faz
ter lembranças, me fazendo fechar minhas pernas, as comprimindo. Jonathan
tinha se banqueteado entre minhas coxas muito além dos pratos gourmet que
a cozinheira serve a ele, deixando o mais devasso sorriso estampado em sua
cara, passando a língua por seus lábios brilhosos depois de ter lambido até o
último líquido que minha boceta expelia com meu gozo, usando o dedo para
retirar a porra que escorregou ao canto da boca e chupando com fome. O
sorriso de predador se alargou em sua face, ele se levantou da cadeira apenas
para puxar minhas pernas para fora da mesa, arrastando minha bunda até a
beirada e me fodendo até meu corpo entrar em pane. Desvio meus olhos da
mesa, com minha face ardendo de vergonha por me recordar disso justamente
agora. Desde quando me transformei nisso? Nessa criatura noturna
promíscua, que vibra a cada toque de Jonathan? Meus olhos recaem sobre
meus pulsos, marcados com calombos que estão quase desaparecendo, me
deixando ter a resposta. Sei precisamente em qual momento ele foi posto ali,
em qual momento levei xeque-mate em seu jogo e me submeti de vez a Roy.
Há duas semanas estava abrindo as portas do inferno, de onde não teria mais
retorno.
— Não vai se ajoelhar de volta para outro homem, pequena Náutilus.
— A mão quente e firme acaricia minha bunda, afagando manhosa a pele
dolorida, a qual ele tinha castigado.
Soluço, mordendo a tira de látex que amordaça minha boca. Minha
vista, ofuscada pelas lágrimas, tenta fixar meus olhos em minhas mãos
algemadas, presas à cabeceira da cama de Jonathan. Eu tinha que ser uma
maldita mentirosa se falasse que não fiquei curiosa para saber como era seu
quarto, mas devia ter desconfiado do olhar tirano que tinha em sua face, me
encarando da sua varanda às duas da manhã, enquanto me convidava para
ir ao seu quarto. Nem olhei tanto assim para a grande cama de madeira
tabaco com lençol negro, ou para os outros detalhes da decoração, mas sim
para os utensílios expostos dentro do guarda-roupa aberto, que estavam me
esperando. Eu poderia ir, me virar e bater em retirada, correndo de volta
para o meu quarto, mas a maldita curiosidade é meu declínio. Ainda pensava
se o que houve dentro do meu quarto era só coisa de momento ou se era
alguma porcaria de fetiche encruado que eu tinha. Olhar em seus olhos
profundos e magnéticos, se oferecendo para saciar toda a descabida
curiosidade que me habitava, foi o que eu precisava para balançar minha
cabeça em positivo, o que me levaria para um caminho sem volta. Isso o fez
abrir um sorriso perverso, cheio de promessas luxuriantes.
Meu cérebro trabalha contra mim quando Roy deixa suas mãos
pousarem em meu corpo. Ele simplesmente se isola e para de funcionar, me
deixando à mercê das exigências do meu prazer. Sou fisgada por sua loção
pós-banho e nada parece mais sexy do que esse homem ereto em sua
masculinidade, usando nada mais que uma calça de pijama negra de seda,
com seu peitoral exposto, ainda úmido, e cabelos molhados do banho. A mais
pura testosterona, que exala de cada centímetro desse macho, me nocauteia.
No primeiro round, já estou caída de barriga para baixo na cama, tendo
meus pulsos algemados e o vestido florido casto sendo erguido. A brisa
fresca, que entra pela varanda, acerta minha pele. No segundo round, boca
amordaçada, arrepios de ansiedade e medo, e um olhar de satisfação em sua
face aristocrata. Ele me explica que eu devo dobrar meus joelhos,
arrastando-os para próximo do meu abdômen, e abaixar minha cabeça entre
meus braços, escondendo minha face no colchão. Isso será um aviso meu
para Jonathan parar meu castigo, o deixando saber que eu cheguei ao meu
limite. Roy fala sobre meu castigo em um tom manso, explicando como se
fosse para uma criança, que ficar de joelhos para outro homem o deixa
zangado. Tento raciocinar sobre o que ele diz, lembrar de quando me
ajoelhei para alguém, mas é difícil trazer minhas lembranças ao mesmo
tempo que Jonathan acaricia minha bunda erguida para ele. Meu corpo
sente a ardência do couro assim que o mesmo estala em minha pele. Não teve
aviso prévio, nem preparação, apenas o choque e a queimação ao ser
açoitada. Tanto meus dedos dos pés quanto os das mãos se contorcem, e
mordo forte o látex em minha boca, como se pudesse cortá-lo. As primeiras
lágrimas escorrem por minhas bochechas, mas o alívio imediato se faz ao
toque da sua mão, massageando a região atingida. Minhas costas retraem ao
ter a ponta de couro do chicote deslizando por minha coluna, contornando
meu quadril inclinado para Jonathan. Minha respiração trava, puxando meu
pulso assim que a leve batida do couro acerta entre minhas pernas, em cima
do meu clitóris. Junto com a dor, o mais carnal prazer cresce, e isso me leva
à lona, aceitando cada chibatada que ele desfere em minhas nádegas, me
deixando completamente quente e excitada, ansiando pela queimadura do
couro assim como pelo afago que suas mãos me presenteiam. Os dedos
traquinos se movem entre os lábios inchados da minha vagina masoquista. O
timbre da sua respiração pesada, o som do chicote, que acerta cada vez mais
rápido e firme, me ludibria entre suas carícias roubadas, apenas para
dominar meus demônios. Submeto-me e me entrego até não sobrar nada
além de um estado de nirvana.
— Deseja parar, pequena Náutilus? — Ouço sua voz entre o nevoeiro
de prazer e queimação. Meu corpo está suado, posicionado de quatro em
cima da cama, minha cabeça tombada entre meus braços.
Algo ao fundo me pede para dobrar meus joelhos e me arrastar, até
meu corpo se inclinar em rendição, mas estou flutuando. Minha mente vaga
distante, apenas sentindo ondas de choques que me cortam, tanto de dor
como de deleite, e são elas que fazem minha cabeça se erguer, enrijecendo
meus braços e cravando ao máximo minhas unhas na palma da mão,
estalando a cabeceira da cama.
Eu quero tudo!
— Minha boa menina. — Sua voz carregada de desejo sai rouca dos
seus lábios, no momento que ele puxa meu cabelo, forçando minha cabeça
para trás, até meus olhos estarem fixos no teto. Me toma de uma única vez,
pele a pele, as bolas inchadas batendo duro em minha polpa. Sugo seu pau o
máximo que posso dentro da minha boceta.
Sim, eu sou sua boa menina. Nesse momento sou qualquer coisa que
ele me ordene: escrava, submissa, masoquista, apenas para ter a descarga
de ondas de prazer me assaltando. Engasgo com minha saliva assim que seu
dedo intruso escorrega em meu ânus, o fodendo da mesma forma que seu pau
estoura em meu útero. Alargo minhas narinas para respirar, intercalando
com os gemidos. O puxão se torna mais intenso quando sua mão roda meus
cabelos entre ela, até estarem tão presos que ele pode arrancar com um
único puxão. Me fode impetuoso, selvagem, fora de controle, com seu modo
dominante completamente ativado. A mordida dissimulada em minha orelha
é absorvida em arrepios e choques por ter sua respiração afobada próxima à
minha pele, mas nada me tem tão ligada quanto sua voz rouca, sussurrando
ao pé do meu ouvido:
— Na próxima vez que se ajoelhar, será para engolir cada gota da
minha porra, Ginger. — Jonathan se afunda, impulsionando meu corpo para
frente ao sentir o baque, colando sua pele em minha bunda ardida.
Isso traz o oposto de dor e desconforto. Estou tão sensível e quente,
que apenas me derreto entre soluços baixos, absorvendo a fricção das peles
sendo roçadas.
— Não cometa esse erro de novo, Gim. Esse seu pequeno corpo de
prazer pertence apenas a um Mestre. — O dedo intruso no interior da minha
bunda se retira, me torturando com movimentos lentos do seu pau dentro de
mim.
Quero gritar, rasgar minha garganta para retirar cada som de prazer
e do que me traga em tormento. Jonathan abaixa um pouco seu quadril, em
entradas lentas e contínuas. Tê-lo vagaroso dentro de mim é quase uma
morte. Meu corpo todo anseia pela liberação, implorando em meio às
lágrimas de prazer que escorrem por minha face. Seu pau me invade em uma
batida calma, num tortuoso vai e vem, e quando me abandona quase por
completo, é apenas para voltar fundo e duro com seu pau rígido, garantindo
sua posse com seus dedos presos em meus cachos.
— Me deixe saber que entendeu, pequena Náutilus? — Choro o dobro
quando ele enverga mais meu pescoço para trás, com o aperto firme em
meus cachos, me obrigando a olhar para ele.
Inalo seu cheiro com a aproximação da sua face, deixando a ponta da
sua língua fluir por minha bochecha, capturando as lágrimas em uma única
lambida. Seus olhos azuis brilham em desejo infernal, sorrindo perverso,
como se seu paladar aprovasse as lágrimas misturadas ao meu suor. É aqui
que me perco. Meu ser vibra por poder satisfazer Roy, tanto quanto o
demônio maléfico dele fica feliz ao saborear minha lágrima. Tão majestoso
em seu poder sobre mim, meu peito inflama, em desejo, lhe dando sua
resposta com um leve balançar do meu quadril. O som alto do tapa de mão
aberta em minha bunda vem acompanhado de um grito entrecortado, que
escapa da minha boca amordaçada com o látex. Roy força o colchão,
erguendo sua perna e posicionando ao lado da minha coxa, segurando meu
quadril com as duas mãos, aliviando meu couro cabeludo, que é libertado,
me fodendo agressivo. Oh, sim! Meu corpo compreende e aceita sua posse no
momento que ele volta a se retirar, retornando com força a cada estocada
acelerada e tão descontrolada quanto as ondas de choque que me atingem,
me levando para a queda livre entre o gozo, onde um orgasmo acaba e outro
começa.
Eu sou uma miserável de uma viciada, e Jonathan é meu traficante
preferido, meu inferno, minha ruína, meu mestre. Não precisa de oitenta e
quatro parceiros para ser viciada em sexo, apenas um. Um que bote seu
raciocínio para fora da sua cabeça já é o suficiente para lhe viciar no
hormônio do amor.
— Deve ter bastante coisa para pôr em ordem quando voltar para
Columbia, não é Ginger? — Pisco rapidamente e retiro a nuvem de
lembranças pervertidas da minha mente. Volto minha atenção para tia
Charlote, que me encara.
— De certo, tenho algumas coisas para colocar em ordem. — Sorrio
amavelmente para ela, vendo seus olhos expressivos, que me analisam com
atenção.
Desvio do seu olhar, encarando meu pão em meus dedos, e respiro em
desânimo. Tenho muita coisa para pôr em ordem. O rumo da minha vida
toda, essa é a verdade. Tom continua sendo um banana, não contou para sua
mãe, apenas me mandou uma mensagem avisando que precisou viajar para
cobrir uma matéria em Camarões e que precisa de um prazo maior para
conversar com ela. Sei que ele está tentando ganhar mais tempo, em sua
mente deve achar que quando voltar tudo será como era antes. Ele não
entende! Nada será mais como antes! Nem nossa relação, nem eu! Como
prefiro ter uma conversa pessoalmente com minha mãe, acabo deixando Tom
ganhar o tempo que precisa.
Na primeira noite que entrei em Sodoma, me dei apenas uma
passagem de ida para um mundo desconhecido, em meio aos desejos sexuais
mais obscuros.
— Essa é a parte boa da juventude, ainda podemos pôr tudo em
ordem. — Charlote ergue sua xícara de café, levando aos lábios e tomando
com calma. — O que pensa em fazer quando voltar?
— Arrumar um trabalho em tempo integral, talvez volte para a
faculdade...
— Não pensa em ter filhos, senhorita Fox? — O pão em minha mão
chega a cair, pela surpresa que tomo ao ouvir sua pergunta, que me deixa
atrapalhada. A tosse seca de Baby sai estrangulada, com ela sentada ao meu
lado.
— Cristo! Velha mexeriqueira, pare de ficar fazendo perguntas
descabidas! Está deixando Gim sem jeito. — Baby ergue o guardanapo,
limpando sua boca e olhando para mim, segurando um riso.
— Seria uma pergunta descabida se tivesse sido direcionada a você,
aberração! — Ouço o som do riso de Jon, sentado ao meu lado, ouvindo as
duas trocando farpas logo cedo, como de costume. — Já passei da idade de
ficar fazendo rodeios em conversas, fiz uma pergunta simples...
— Na verdade, ainda não pensei sobre filhos, madame Roy —
respondo sua pergunta antes que as duas voltem a brigar. — Talvez um dia,
quem sabe...
— Vai ser uma ótima mãe um dia, Gim. E ai da senhorita se não me
convidar para ser madrinha. Quem sabe, Jon e eu podemos ir visitar você um
dia em Columbia, não é, Jon? — Baby estica seu pescoço por cima da mesa,
olhando para Jon, que está sentado do meu outro lado e apenas confirma com
um leve balançar de ombros. — Posso até levar você, velha agourenta, para
sair um pouco dessa ilha.
— Como se precisasse de você para sair. — Tia Charlote solta o ar,
demonstrando desgosto e pousando seus olhos em Lorane.
Vejo a mulher elegante, apática, olhando seu café intocado. A cadeira
vazia ao seu lado deixa uma sensação ruim toda vez que eu olho para o
acento. É como se eu pudesse ver Bob ali, sentado, com seu sorriso de
Coringa e frases debochadas. Ninguém fala nada, não houve uma pergunta
sequer sobre o que realmente aconteceu com aquele menino, se ele
escorregou, tropeçou ou se foi empurrado. Bob não despertou depois da
cirurgia, seu estado de coma se agravou, o deixando ser mantido vivo por
aparelhos. Lorane e Baby seguem a vida, como se não soubessem a verdade
por trás daquele acidente. Eu ainda o vejo caído no chão toda vez que passo
pela escada.
— Fique trancafiada aqui dentro, então! O importante é que Jon e eu
vamos visitar Gim e seu filho.
— Deus, Baby! — Viro, a encarando, sentindo meu rosto arder. — Eu
não penso em ter um filho amanhã.
— Mas terá, é nova. Vai achar um cara sexy, que não seja um
palerma, e fazer minis Gingers curiosas com ele...
O som da garganta soltando um pigarro se faz na ponta da mesa.
Jonathan está com sua face voltada para seu desjejum, o encarando com a
mais pura amargura. A loira fatal se cala e fica com as bochechas coradas,
olhando depressa para sua fatia de bolo, como se tivesse acabado de cometer
um crime. Roy não olha em minha direção um segundo sequer, apenas fica
focado em deixar a xícara centralizada na mesma direção do seu prato de
bolo, organizando seus talheres. Roy não fala absolutamente nada sobre si ou
seu passado. Por todos esses dias dividindo mais que calor humano feito
coelhos, ainda o vejo como um mar escuro e fundo demais para se mergulhar.
Jonathan me permite enxergar apenas a ponta do grande iceberg que ele é. As
informações que tenho são apenas as que Baby me conta, e até isso é vago,
com pontas soltas, as quais me vejo enrolada, quebrando minha cabeça para
descobrir. É como se ele possuísse um radar toda vez que o olho, pois não
demora para suas íris azuis estarem petrificadas, me encarando, fazendo meu
rosto arder em vergonha por ser pega no flagra, o estudando. Abaixo
rapidamente minha cabeça, como se tivesse realmente fazendo isso porque
quero e não porque meu corpo responde rápido à sua dominação.
— Vai esquecer de mim? — Movo meu pescoço, repousando meu
olhar na face triste que sussurra ao meu lado, em um tom suficiente apenas
para que eu possa escutar. Jon leva o copo de suco à boca, com seus fones de
ouvido desligados, repousados na nuca e pendurados no pescoço.
— Nunca — cochicho para ele, batendo lentamente meu ombro ao
seu, o vendo deixar um sorriso curto no canto dos lábios.
Jon é a única coisa que não é confusa em minha vida. Ele se tornou
minha fonte de alegria, a qual ainda me faz saber quem eu sou.
— Pois não, Lira? — A voz de Jonathan sai ríspida. Ergo minha
cabeça, vendo a empregada que entra silenciosa e fica parada perto da outra
ponta da mesa.
Por mais que Baby tenha me confidenciado que Lira negou ter
entrado no quarto para trocar a roupa de cama manchada de esperma, ainda
tenho minhas dúvidas sobre a empregada.
— Aquele homem está aí de volta, senhor.
— Mas que inferno! Já não contamos tudo para aquele bastardo? —
Baby é a primeira a ficar nervosa, encarando Lorane, que respira
descompassadamente.
A mãe de Bob chegou um dia depois que o filho entrou em coma,
expulsou Lorane do hospital e deu queixa na polícia. Durante dois dias, a
mansão ficou infestada de policiais, que conversaram com todos que estavam
na mansão no dia do acidente. De alguma forma, aquilo foi apenas um teatro,
dava para ver que eles estavam apenas fazendo o protocolo, pois, no terceiro
dia, o inquérito foi fechado. Mas a mãe de Bob não veio sozinha, ela trouxe
junto um namorado que é detetive particular, que havia feito diversas
perguntas sobre o que realmente aconteceu com Bob naquela manhã de
quinta-feira. Jonathan era o único que se mantinha imparcial, lidando com o
homem desconfiado. Avistei o sujeito de longe apenas uma vez, quando
estava entrando na biblioteca com Jon. Ele é taciturno, com semblante
fechado, e totalmente descrente sobre o ocorrido que lhe foi contado sobre a
queda de Bob. A mãe de Bob e o namorado dela não compraram a história
que ninguém dentro da mansão tinha visto o menino cair. Lorane fica alterada
toda vez que tem que se aproximar do homem, já Baby o odeia dos pés à
cabeça por ele ficar a encarando, como se tudo que sai da sua boca fosse
mentira.
— Leve-o até o escritório, Lira. Diga que já vou, preciso dar uns
telefonemas primeiro. — Jonathan deixa suas palavras frias soltas ao ar, retira
o celular do bolso, se levanta da cadeira e caminha para a outra sala.
Antes que todos fiquem com seus nervos aflorados, o que é visível na
face de Lorane, Baby e tia Charlote, dou atenção a Jon, vendo se ele já
terminou seu café para tirá-lo daqui o mais rápido possível.
— O que acha de irmos à praia hoje? — cochicho para ele, deixando
nossos planos apenas entre nós dois.
— Podemos ficar na biblioteca ou dar uma volta pela residência.
Acho que não viu a casa do lago que tem depois do jardim. — Balanço a
cabeça em confirmação. Já tinha visto um lago distante da janela do meu
quarto, mas ao fim das terras dos Roy é tudo fechado, como uma floresta
particular.
— Eu não sabia que tinha uma casa lá. Achei que era apenas mato...
— Rio para ele, vendo seus olhos brilharem fortes.
— Eu lhe dei uma ordem, Lira!? O que espera? — O timbre mais
grosso e alto se faz na sala, fazendo tanto eu como Jon olharmos assustados
para Jonathan, que retorna para a mesa.
— Senhor, o detetive já está na biblioteca. — Olho perdida para ela,
assim que compreendo suas palavras. — Mas não deseja falar com o senhor.
— Eu não vou falar com esse idiota de novo! — Lorane solta um soco
na mesa, olhando desesperada para Baby.
— Só o que me falta ser eu a ter que falar com aquele cretino! —
Baby traz repulsa em sua face. — Deus! Roy, esse homem já passou de todos
os limites...
— O detetive quer falar com a senhorita Fox.
— Eu?
— Com a Gim?
Baby e eu falamos juntas. Incrédula, a loira fatal segura meu pulso e
me olha, preocupada. O que esse homem poderia querer saber de mim, que já
não tivesse contado para a polícia local?
CAPÍTULO 27
GOMORRA
Ginger Fox
Os cabelos caem por suas costas, deixando apenas as duas alças finas
do vestido visíveis em seu ombro. Os pés pequenos batem no chão
lentamente, no compasso da música que toca nos fones de ouvido em sua
orelha. Olho em volta, vendo a biblioteca silenciosa, onde apenas ela se
encontra, buscando alguma leitura. Gim não desceu para jantar, passou o dia
todo trancafiada no quarto com Jon e Baby, me deixando estressado por sua
ausência, com a qual me penitenciou. Na hora da refeição, apenas Baby
estava presente. A comida intragável ficou no prato, sem ser tocada, a cada
segundo que passei olhando sua cadeira vazia.
— Por que ela não desceu? — Baby me encara, balançando seus
ombros e limpando sua boca enquanto mastiga.
— Não sei, me diga você. — Aperto com força demasiada o copo,
travando meu maxilar e recebendo um olhar recriminador de Baby.
— Jon preferiu jantar no quarto. — Lorane deixa sua voz ser ouvida,
o que apenas contribui para minha falta de apetite. — Jonathan, ainda não
conversamos sobre como está a situação...
Desvio meu olhar de Baby para ela, cerrando meus dentes, e prendo
meus impulsos de querer matá-la a sangue frio, afogada com a porcaria da
garrafa de vinho, a qual socaria na sua boca, fazendo-a engolir até a última
gota.
— Não vai jantar, querido?
Levanto-me da cadeira, balançando minha cabeça em negativo para
tia Charlote.
Olho uma última vez para a cadeira vazia, esmago meus dedos ao
lado do meu corpo e me retiro da sala de jantar. Atravesso a passos duros o
hall, quando ouço o chamado:
— Jonathan, espere... Droga, Roy, espere! — Baby se precipita ao
segurar meu braço, mas logo o retira, quando olho para sua mão e volto a
encarar sua face em um aviso silencioso. — Roy... — Ela passa seus dedos
por seus cabelos, em nervosismo, os jogando para trás, inalando o ar com
agonia. — Deixe-a. Precisa se afastar de Gim.
— Você quer que eu me afaste ou é ela?
Arqueio minha sobrancelha, dilato minhas narinas e respiro pesado.
O corpo dela se encolhe. Ergue sua cabeça para o topo da escada e usa seus
braços para se abraçar. Baby sempre faz isso quando está aflita, se sentindo
encurralada.
— Ela não disse. Na verdade, Gim não fala nada. Mas já deu,
Jonathan! — Sua face se volta para mim, me encarando com dor. — Está
nítido que isso não vai acabar bem. Está a empurrando rápido demais. Está
fodendo com ela há três semanas seguidas! Gim está visivelmente
dependente.
— Não me recordo de você reclamar quando ela fodeu com você
dentro daquele quarto. — Baby fica com sua face vermelha, demonstrando a
indignação em seu olhar.
— Aquilo que aconteceu foi diferente, e foi por isso que te contei.
Porque nós duas não planejamos, não faz parte de um jogo maquiavélico,
apenas aconteceu. — Sim, eu sei, e não culpo Baby por se perder naqueles
olhos negros.
— Mesmo assim, por mais que aconteceu, você sabia das regras. — A
encaro, vendo-a se calar.
— Oh, mas que inferno, Jonathan! Já falei que não foi algo
planejado. E sim, sei perfeitamente bem que não podia me deitar com ela, já
que está jogando com você. — Ela balança sua cabeça com desgosto,
olhando para o chão. — Eu também te disse que há várias formas de amar, e
eu a amo de todas as maneiras. A amizade dela me faz feliz, Roy. E é por
essa amizade que sei que isso não vai acabar bem. Da mesma forma que
conheço as regras do seu jogo, conheço as consequências dele.
Baby solta seus braços, esfregando sua face com dor, voltando a me
olhar com medo.
— Por favor, Jonathan, liberte-a. Deixe-a terminar essas últimas
semanas e voltar para a casa dela enquanto ela ainda tem uma vida. —
Ginger irá partir em breve. Tento não pensar em como isso me incomoda. —
Dê um basta nisso antes que a marque para sempre. — Os olhos grandes de
Baby se movem para minha mão, segurando meus dedos entre os seus. —
Você, mais do que ninguém, sabe o estrago que feridas perpétuas podem
fazer na alma...
O som da troca de farpas que vem da sala de jantar faz Baby se virar,
olhando para onde tia Charlote e Lorane discutem.
— Apenas pensa no que falei, por favor. — Baby se afasta
rapidamente, indo dar um fim à briga.
Observo a escada, aprisionando meu desejo de subir os degraus e
estar com ela. Apenas me movo em silêncio para o meu escritório,
abastecido com várias memórias do seu corpo quente e macio. Sou um
doente por ficar revivendo cada uma delas. No computador, abro a tela para
que volte a tocar a canção que ela tinha sussurrado para mim, e Gim me
conta através da melodia o que seu coração sente. Direciono a cadeira para
trás, virando meu corpo, me perdendo entre o pântano e a letra da canção.
“Em uma época na qual o sol se põe soll Em uma época na qual
- o sol
' se' p
sinto meu coração ir se partindo a cada batida lenta. — Deus, o que Roy está
fazendo é perigoso! — Baby esfrega seu rosto com aflição, inalando o ar com
força. Encho o copo e estendo para ela, que aceita, o virando rápido. — Por
que ele está fazendo isso, tia? Tento entender, mas não compreendo.
Nenhuma pessoa no mundo iria querer abrir as feridas depois que elas se
fecharam. — Ela limpa sua boca com o dorso da mão, entregando o copo
para mim.
Pego o copo, virando o líquido dentro dele, me perdendo enquanto o
encho e a deixo caminhar de um lado ao outro dentro do quarto. Baby não
entende. As feridas de Jonathan nunca foram curadas, elas se modificaram, se
transformando em uma gangrena, que se alimenta dele de dentro para fora.
— Ele procura por ela. Sempre procurou. Por todo esse tempo, é a
ELA que Jonathan busca. — Baby bate firme em seus braços, esfregando
com aflição sua pele.
— Não... — sussurro, soltando meus ombros quando deposito a
garrafa na penteadeira. — Jonathan está buscando o que foi tirado dele.
— Como não?! Pelo amor de Deus! Você acabou de ver o mesmo que
eu! — Ela aponta para a porta, com sua face vermelha. — Diga-me, não era
exatamente assim que papai ficava? Sugado, alienado, tão preso que não
enxergava o mal à sua frente?
— Deus, Reimond! ELA SURTOU! Como não pode ver isso? —
Caminho para ele, segurando seus braços e o fazendo me encarar. — Ela
não tem controle das próprias emoções! Quase me agrediu apenas porque
entrei no quarto para ver meus sobrinhos. Se não tivesse me afastado de
Jonathan, ela tinha me batido. A doença dela só está se agravando, tem que
interná-la em um hospício, onde ela vai ter a ajuda necessária para lidar
com suas loucuras!
— Está exagerando, Charlote! — Ele me afasta, respirando cansado.
É visível como meu irmão está abatido. Reimond envelheceu vinte anos em
cinco anos de casamento. O amor que sente por essa mulher o está
destruindo, o deixando cego. — Ela apenas tem ciúme de Jonathan, é
normal.
— Não! Não é normal! Não tem nada de normal nessa mulher! Algo
está acontecendo! Algo ruim e mau está acontecendo... — Quero estapear
seus ombros, qualquer coisa que o tire desse maldito feitiço que essa mulher
jogou sobre ele!
Meu irmão sempre foi afeiçoado por coisas quebradas, mas ele não
compreende que ela não tem salvação. É incontrolável seu grau de
psicopatia. Ela não sente amor de verdade por nada, apenas posse.
Ainda posso ver seus olhos azuis quebrados, me encarando com dor,
diante da nossa última conversa em minha casa, antes que eu viajasse com
Boxtom. Carrego a culpa dentro da minha alma até hoje, por tê-lo deixado
partir sem lhe dar um abraço, sem lhe dizer o quanto eu o amava. A bebida
queima, deslizando por minha garganta, aliviando o remorso que sempre me
empurra para o fundo.
— Devia ter olhado para a senhorita Fox, Baby. — Solto o copo,
puxando a cadeira estofada da penteadeira, a usando para sustentar meu
corpo e minha alma exausta.
— Oh, pare, tia! Não preciso olhar para Ginger para saber que ela está
caída por Jonathan...
— Mas devia ter olhado mesmo assim, teria visto o mesmo que eu. —
Baby se cala, esfregando suas mãos, uma na outra, estalando seus dedos. —
São os reflexos das emoções da senhorita Fox que brilham no olhar dele.
Você me diz que Jonathan busca por ela, mas está erroneamente enganada.
Roy busca pelo que ficou perdido dentro daquele armário. Seus sentimentos
que, de alguma forma, a curiosa menina o permite nutrir através dela.
— Roy está voltando para aquele armário apenas para se machucar
outra vez. Passados não foram feitos para serem revividos... — Baby desaba
na cama, mantendo sua face virada para a janela e acompanhando a noite. —
Jonathan busca pela morte. Ele sempre correu atrás dela como um fiel
amante, e é apenas isso que ele quer, tia.
— Não, Baby. Seu irmão busca se sentir vivo, e a senhorita Fox o faz
se sentir assim... — Meus olhos se viram, ficando presos ao reflexo triste no
espelho.
— Preciso que me escute, Chá. — As lágrimas não param, não
consigo ser forte. Meus dedos se apertam ao aparelho de telefone,
espalmando minha mão no vidro, o vendo tão perto e distante de mim ao
mesmo tempo dentro da prisão.
— Por que não conta a verdade? Deus! Por que não conta,
Reimond?! Seus filhos precisam de você! Sua empresa! Seu legado! Tudo o
que construiu está desabando e ainda a protege. — Não há mais nada em seu
olhar, a não ser um grande abismo. — Estão falando que você participava de
culto satânico, que foi por isso que a matou, mas nós dois sabemos a
verdade...
— Eu não posso e você não pode! Está me entendendo, Chá?! Nunca
pode falar para ninguém! Isso fará esses ratos de jornais ficarem fuçando
onde não devem, meus filhos ficarão expostos!
— Reimond, não posso lhe ver assim atrás das grades, sem fazer
nada, quando sei toda a verdade! A mídia aponta você como um monstro
frio, mas o único monstro sem coração era ela! — Bato no vidro com ódio,
com rancor. Deus! Eu devia tê-lo afastado, devia ter me esforçado mais para
abrir os olhos dele. Mas Reimond estava cego, obstruído pela doença que
chamava de amor, que nutria por aquela mulher monstruosa.
— Eu não posso lhe pedir isso, sei que não tenho o direito, Charlote.
Mas você é a única que confio para cuidar deles... — Ele abaixa seus olhos,
visivelmente não tem mais desejo em nada. Esse não é o meu irmão, não é o
homem inteligente que tinha saído do nada e erguido seu império em meio ao
petróleo.
— Reimond... por favor. — Quero quebrar o vidro, quero abraçá-lo e
dizer que não foi culpa dele, mas sei que ele já partiu no momento que
disparou a bala que a matou. Ele a odiava na mesma medida que amava, e
sabia que estava se destruindo por dentro.
— Comprei uma mansão há um tempo, em Norfolk. É uma ilha
pequena, mas terá segurança lá, tanto para você como para Jonathan e
James. Estarão protegidos, longe de especulações. — Limpo meu rosto,
ouvindo sua voz baixa que fala do outro lado da linha. — Há coisas que
precisam ficar nas sombras, Chá. Não participo de um culto satânico, mas
preciso manter silêncio para garantir a segurança dos meninos e o futuro
deles.
— Está falando daquele lugar que estava frequentando? — Reimond
esmaga seu punho, olhando sério para mim, me fazendo calar. Sua face se
vira para o policial distraído na porta, voltando em seguida para mim.
— Há lugares que depois que entramos, não temos como sair, por
isso vai se afastar de todos. Já providenciei tudo. Quando chegar o momento,
eles vão cuidar do futuro dele...
— Reimond, você vai... Vai sair daqui. Apenas conte a verdade diante
do tribunal. Nenhum júri no mundo pode condenar o que você fez, porque
qualquer ser humano com sentimento reagiria da mesma maneira diante da
monstruosidade que foi feita a Jonathan. — Ele está bravo. Sua respiração
pesada fica mais alta, esmagando o aparelho dele, enquanto se aproxima do
vidro.
— Você não entende, Charlote! Não posso jogar essa porra no
ventilador sem pôr meus filhos em risco! Não vou cometer esse erro de volta.
— Meu irmão balança a cabeça em negativo, olhando perdido para o nada.
— Preciso que faça um favor para mim, Chá... — Ele não vai falar, seus
olhos garantem isso. Reimond nunca me contou no que ele está metido de
verdade, apenas que pessoas poderosas estão envolvidas, e sei que é isso que
o faz se calar. Alguma coisa ruim está o cercando. — O urso marrom que
fica no berço de James, dentro do meu quarto, tem que dar um jeito de pegá-
lo e escondê-lo, como se sua vida dependesse disso. Deixa que o resto eu vou
cuidar para vocês. Vou cuidar de vocês, Chá.
Reimond se matou dois dias depois que eu o visitei, deixando uma
carta confessando ter matado Sonja com um tiro na cabeça, depois de ter
assassinado o suposto amante, alegando que jamais encontrariam o corpo
dele. Naquela noite, chorei encolhida ao canto do meu quarto, abraçada ao
urso marrom de olhos de vidro que ele pediu para eu buscar na casa dele.
Não tinha tido coragem de olhar, eu sabia que não teria estômago, mas
quando me ligaram falando que ele tinha sido encontrado enforcado dentro
da sua cela, abri a maldita pelúcia, peguei a fita que estava acoplada à
câmera escondida em suas entranhas, e chorei mais, horrorizada com toda
crueldade que assisti no videocassete.
Meu irmão não era um monstro. E mesmo que nunca ninguém saiba,
eu sei, eu sou a única a carregar comigo a face do verdadeiro monstro
dentro daquele quarto. Sinto meu corpo desmoronar junto com minha alma,
em meio a soluços de dor. Não acredito na desgraça que se abateu sobre
minha família, nem em como tudo acabou, mas garanti cuidar dos meus
sobrinhos e manteria minha palavra para meu irmão, os protegeria de tudo
que eu pudesse.
E foi o que fiz, por cada ano que se seguiu. A única coisa que não
consegui fazer foi proteger Jonathan dele mesmo. Ele não é mais meu menino
sorridente e carinhoso, é apenas um ser vazio de olhos mortos, idênticos ao
do monstro que lhe atacou. Jonathan saiu daquele armário, mas sua alma não.
Ela ficou presa junto a dela entre a escuridão.
Baby Roy
“Baby, mais uma vez, não sou masoquista! Não sinto prazer em ser
humilhada e nem em ser espancada, ok?! Foi só coisa de momento.”
São poucas as coisas que realmente se possui controle na vida.
Passamos grande parte do tempo acreditando em algo sólido, mas basta
apenas uma pequena mudança, o mais leve bater de asas de uma borboleta, e
tudo muda à nossa volta, trazendo alterações drásticas, as quais fogem por
completo do nosso domínio e nos deixa sem controle, e com a mais bela e
harmoniosa teoria do caos. Uma desordem que nos empurra e nos leva a
enxergar os mais doentios deleites que consomem o canto mais sombrio de
nossas almas. E eu avisto todos eles! Sinto cada molécula, cada célula do
meu corpo respondendo a um único Mestre. Provavelmente, na formação do
meu DNA, a submissão já estava inserida por todos os cromossomos,
chegando à tona no meio do meu caos.
Meus braços, esticados para trás, amarrados na lateral das barras de
ferro, contêm cada nervo disperso. Os dedos das mãos estão com as pontas
rígidas. A dor e o desconforto não me afligem mais, nem meu pescoço
envergado para trás com meus olhos dilatados encarando a luz baixa dentro
da sala quente, repleta de ruídos que escapam pela minha boca. A possessiva
coleira posta em minha garganta não tem apenas o objetivo de trazer sua
marca, mas sim me manter presa, ligada por uma corrente atrás da minha
nuca até a base de metal onde minhas mãos estão amarradas,
impossibilitando de trazer meu rosto para frente, aumentando a respiração
que entra por minhas narinas com meu peito duplamente estufado.
Posta como tributo na beirada da mesa, permaneço sentada em cima
das minhas pernas, com os tornozelos amarrados e tendo mais consciência da
ponta do salto quase entrando em minha pele. Meu maxilar está travado por
estar abrigando a bola de espuma vermelha dentro da minha arcada dentária,
amordaçada à lateral da face, mas ela não é grande como a primeira que usei
na cadeira de ginecologista, é menor, quase do tamanho de um morango,
porém grande o bastante para restringir qualquer palavra que tento falar. Não
que me meu cérebro esteja em plena lucidez funcional, pelo contrário, me
sinto flutuando. Mas se me dissessem que um dia deixaria alguma pessoa
amarrar um pequeno laço no bico do meu seio, o esticando por um fio
resistente, eu negaria, mas cá estou eu, tendo dois corações latejando em cada
ponta das minhas tetas. A centelha de dor que me sugou no início virou fogo,
me incendiando. O medo se camufla com a luxúria. O objeto emborrachado
que tenho tão bem instalado dentro do meu rabo por uma ponta de pau de
silicone, e a outra estocada funda na minha boceta, me instiga entre a dor e o
prazer. Ter o consolo de borracha me fodendo por cada buraco não me parece
mais uma má ideia, não quando contraio as paredes dos meus órgãos, o
sugando tão fundo quanto posso, ficando dilatada a cada segundo que a
chibata de couro com ponta de espátula acerta meu clitóris, com brutas
batidas, fazendo meu corpo responder duplamente com força. O clitóris
pulsa, vibrando como um motor que está tendo sua potência testada, vendo
até onde ele consegue chegar se afundasse o pé no acelerador, e eu flutuo,
dopada de euforia. O suor escorrega por minha pele quente abaixo da
máscara, tão sensível e viva. Da primeira unha do meu pé até o último fio de
cabelo preso na trança, absorvo tudo: do mais lento raspar da ponta dos seus
dedos por minha barriga ao pequeno puxão no fio preso aos meus seios, que
me levam ao pico de dor e prazer. A outra mão que segura o consolo
dobrável o puxa, como uma alça de mala, voltando a estocar ele dentro dos
meus órgãos. Dupla penetração nunca me pareceu tão correta quanto estar
sendo fodida por um brinquedo erótico.
Os dedos da minha mão se esmagam, se torcendo, sentindo o couro
em meu pulso se apertando a cada vez que repuxo meu braço quando a onda
de prazer me pega. Deixo a lágrima quente escorregar por minhas bochechas
quando meu Mestre se afasta, apenas para voltar a castigar o nervo sensível
entre minhas pernas. Morro, choro com mais angústia e dor, querendo que ele
apareça e não se afaste de mim, porque não sei o que é pior: o nada ou o tudo.
Me afogo no limbo do prazer. Sei agora o que aquela cabra da escultura de
Herculano estava sentindo, o olhar mesclado ao horror e a luxúria não era por
ter Pan a fodendo com crueldade, mas sim por despojar da ligação selvagem
e carnal que ele libertava de dentro dela. E é assim que estou agora: animal,
boçal, sem nenhum entendimento do que seja o meu limite, porque meu
corpo me diz que eu não o tenho. Não tenho restrição ou vergonha. Estou
finalmente liberta. Quero tudo que Jonathan faz comigo.
A face de Roy paira sobre a minha e vejo meu mundo todo refletido
nos olhos azuis repletos de desejo e dominação. Suas maçãs do rosto estão
vermelhas, com suor deslizando dos seus cabelos. A respiração quente dele
acerta meus lábios abertos, sinto a saliva enchendo minha boca, pois quero
essa maldita bola longe dos meus lábios para aplacar minha falta de controle
por seus beijos. Fecho meus olhos, puxando meus braços outra vez, até minha
clavícula estalar, sendo esticada em seu limite. A mão grande afaga meu
pescoço com poder e lhe dou todo o consentimento para me tomar como dele.
É sem volta. O que quer que isso seja, não tem saída, nem esquecimento, será
uma tatuagem perpétua dentro da minha alma, que apenas a ele pertence. O
comando, a obediência, o amor, meus pensamentos, tudo meu é apenas dele.
Seus olhos trazem uma profundeza na qual mergulho, não é só meu coração
que ele tem, Jonathan tem minha vida. Passei tantos anos buscando saber o
que tinha além, e é nele que termino, o fim da trilha, o pote de ouro ao final
do arco-íris. Ao ser submissa ao meu Mestre é que me sinto livre, onde todas
as dúvidas cessam, todas as perguntas se calam. Ele é meu perverso e imortal
Pan. Engulo a saliva, forçando o ar a entrar em meus pulmões, inalando seu
cheiro que me sentencia à dependência.
Suspiro a cada deslizar da mão áspera de Roy em minha pele quente e
encharcada de suor. As pálpebras se fecham, me levando para longe. Sinto a
carícia lenta da ponta do seu dedo em meu clitóris, enquanto ele volta a me
foder com o consolo duplo. Por mais que esteja sendo aplacada pelo
brinquedo dentro do meu rabo e da minha boceta, meu corpo se recusa a me
deixar cair no abismo do orgasmo, porque preciso dele. É o pau dele duro que
raspa em minha bunda que almejo como maior prêmio, e ele sabe disso. A
preguiça demasiada com a qual Jonathan me tortura, me faz saber que ele tem
total nitidez que meu corpo espera por ele. Roy me deixou tão condicionada
ao seu toque, que posso aguentar todas as torturas eróticas, mas ainda assim
meu corpo me negará o prazer se não for junto a ele. Essa é sua cartada final,
me ligar de todas as formas ao seu ser. Choramingo quando Roy se afasta, me
abandonando outra vez. Meu rosto tenta se virar, buscando por ele, mas
apenas fico com raiva pela restrição em minha garganta. Um grunhido escapa
dos meus lábios através da bola no momento que sinto as pontas de couro do
chicote deslizando pelo meu seio inchado. Arfo, prendendo a respiração,
acompanhando cada canto que o tecido grotesco e frio é passado. Meus olhos
se abrem em um lampejo assim que o chicote acerta com força a lateral do
meu corpo, resvalando em meu seio e em minha axila. Minha boceta se
encharca, engolindo o quanto pode o pau emborrachado. Como um alerta do
meu Mestre, o chicote é disparado outra vez em minha bunda já marcada por
suas palmadas. Minhas pernas se comprimem, flexionando os músculos
agitados, sentindo a injeção do hormônio do amor sendo disparado em meu
cérebro.
A dor pelo açoite, o prazer que rasga meu ser, tudo consome meu
cérebro. Choro de agonia e frustação por meu corpo não se libertar, por
desejo para Jonathan me ter. Estou perdida entre o nevoeiro da luxúria, tão
inerte que apenas soluço, cravando meus dentes na bola, sem consciência de
onde estamos, há quanto tempo estou aqui ou se já é a terceira ou a quinta
chicotada que minha bunda recebe. Não sinto meu corpo, que está tão dopado
e anestesiado, que não noto meu pescoço ser liberto e nem as amarras em
minhas pernas e mãos serem soltas. A única coisa que sinto é a dor aguda no
bico das minhas mamas quando são deixadas livres, estão inchadas por terem
ficado esticadas e retraídas. É uma queda no abismo, na dor, na luxúria e no
afago. Sem pensamentos coerentes ou qualquer ponto de equilíbrio, minha
boca continua aberta quando cuspo a bola emborrachada, apenas apertando
meus olhos e sendo tomada com fúria e dominação por seu pau, que invade
minha boceta escorregadia, que o recebe alegremente, sentindo saudade de
cada centímetro seu. A mão grande que prende minha cintura, esmaga a pele
em seus dedos, até eu sentir meus ossos se tremerem em submissão a
Jonathan. Meu rabo invadido é preenchido com o pau de borracha. Me causa
prazer ter o pau duro e latente de Jonathan me estocando fundo enquanto fode
meu rabo com o consolo. Minhas unhas se cravam à mesa, raspando por ela,
contraindo cada nervo dolorido da minha mão. Não sinto nada, nem um
resquício de dor, apenas o mais puro prazer. Selvagem, sem raciocínio, um
ser sem importância.
— Oh, Deus... — Meu rabo, flexionado para baixo, expulsa o
brinquedo intruso quando ele o tira pouco a pouco.
A mão em minha nuca trilha por minha coluna, me apalpando com
suavidade, alisando minha nuca, subindo por meu pescoço até meu rosto.
Viro minha face, beijando a mão que me domina, sugando seus dedos em
minha boca, apenas para sentir seu gosto.
— Tão quente, minha provocadora coelhinha. — Sua voz baixa, com
rouquidão, entra em minha mente, junto com seu dedo que entra e sai da
minha bunda.
— Oh... Por favor. — Tombo minha cabeça, implorando para que ele
me preencha, até estar botando para fora toda essa agonia que me toma.
Seu pau escorrega da minha boceta, sendo o pior dos castigos. Ouço
seus passos lentos, que são o contraste da sua respiração pesada. Jonathan me
vira como se eu fosse uma boneca de pano, me deixando presa em seus olhos,
arrastando meu corpo sobre a mesa até minha cabeça cair para fora. Meus
olhos se prendem em suas bolas inchadas, com seu pau brilhando por meus
fluidos. Abro minha boca teimosa e atrevida, escorregando-a por cima da
pele do escroto. O grito de dor escapa da minha boca quando ele belisca o
bico do meu seio, sensível pelo fio que o prendia.
— Provocadora! — Tento olhar para ele, que move seu pau, deixando
apenas a ponta desenhar minha boca. Meus pulsos são erguidos, ficando
presos sobre a encanação em U fixada na mesa. — Abra as pernas, Gim. E
não as feche.
Seu dedo comprime o outro bico da mama e fecho meus olhos,
arfando entre dor e deleite, pois o toque doloroso é como uma ligação direta
na minha vagina. Minhas pernas se abrem, fixando a ponta do salto na mesa,
deixando minhas coxas flexionadas, tendo apenas minhas costas colada à
mesa. Roy se aproxima outra vez para conferir as amarras em meu pulso, e
sem me controlar abocanho uma das suas bolas, sugando lento enquanto
escorrego minha língua à sua volta. O som do ferro sendo esmagado se faz
presente, com ele respirando forte, prendendo sua mão à minha.
— Ginger! — Não aceito sua ordem. O chupo mais afoita, me
deliciando com os sons quebrados da sua respiração. A outra mão solta o
encanamento para se prender na trança pendurada, dando um leve puxão.
Solto sua bola, sorrindo, olhando-o de baixo para cima. Sua cabeça
está tombada, me encarando com sua boca esmagada.
— Abra essa boca, sua coelhinha desobediente! — Não penso, meu
corpo apenas responde ao comando dele.
Com luxúria, deslizo minha língua pelos meus lábios em bom grado.
Me sinto feliz quando seu pau se introduz escorregadio, fodendo lento minha
cavidade, com meu maxilar que foi alongado pela bola de mordaça. Agora
me sinto leve, abrindo o máximo que posso da minha boca para receber mais
do seu pau. Meus olhos se expandem quando Jonathan acerta meu clitóris
com a ponta do chicote, em batidas leves, suaves, aumentando o embalo do
seu quadril até estar tão fundo dentro da minha boca, asfixiando meu nariz
com o tecido do seu terno. Arfo meu peito, tentando conciliar o fluxo de
sangue que bombardeia em meu cérebro, a falta de ar, as batidas retas e
certeiras do chicote em minha boceta, os músculos doloridos das minhas
coxas, sendo sustentadas pelo salto, o pau entrando e saindo da minha boca e
a viscosidade da minha própria saliva escorregando por cima da minha
máscara. Meus braços esticados para cima tentam se repuxar, mas meu corpo
treme com a carícia lenta sobre meu seio no momento que seu pau liberta
minha boca. Roy está tão perdido quanto eu. Seus olhos azuis brilham
intensos como faróis. Ele se move, se afastando de mim, deixando meu
mundo girar de ponta-cabeça quando sua respiração quente sopra em cima do
nervo castigado pelo seu chicote. Tento fechar minhas pernas, mas um grito
forte rasga minha garganta quando sua língua suga meus lábios grandes,
inchados de apanhar. Mas ainda assim quero que o mundo exploda enquanto
ele me chupa faminto e selvagem. A mão firme se prende em meu tornozelo,
contornando em círculos, e meu corpo responde a tudo que ele faz a mim.
Posso sentir a corrente de energia, o orgasmo que quase vem, mas que é
bloqueado assim que ele se afasta.
— NÃO... Nãooooo, Roy! — Choro com ódio, sentindo as lágrimas
quentes escorrerem por minha face. Torcendo meu corpo sobre a mesa,
repuxo meus braços e tento erguer minha cabeça para achá-lo, mas fracasso,
voltando a ficar com a cabeça pendurada. — Por favor... Jonathan, me deixe
gozar.
— Confia em mim, Gim? — Minha boca se entreabre e afrouxo
minhas coxas para o lado no momento que o pau emborrachado escorrega
para minha boceta.
— Roy, preciso de você... — Meu corpo implora pelo seu, e está me
matando Jonathan não me tomar.
A cabeça larga do seu pau grosso brinca por cima do buraco do meu
ânus, enquanto entra e sai com o brinquedo de dentro da minha boceta.
Jonathan vai se empurrando, apenas deixando metade dele dentro de mim. O
ritmo acelerado do brinquedo dispara, mas ele ainda continua parado, sem se
mover.
— Confia em mim, Gim? — A mão em meu tornozelo escorrega em
uma tortura carinhosa.
— Sim, sim, Jonathan, eu confio. — Palavras desesperada saem da
minha boca, tão fortes quanto meu coração palpitante.
Sofro com amargura quando seu corpo se afasta do meu, retirando
tanto seu pau como o pênis emborrachado, dizimando meu prazer em
migalhas. Jonathan liberta meus braços e os deixo cair em derrota ao lado do
meu corpo. Me viro sem controle, minhas pernas doloridas se arrastam sobre
a mesa, aliviando meu estado gelatinoso, e apenas vou me deixando cair. Não
aguentando ficar de pé, sustentada pelo salto alto, desabo no chão, respirando
angustiada, com lágrimas escorregando por minha face. Por que ele ainda
nega o que meu corpo quer? Estou no ponto final da minha demência e Roy
ainda segura meu êxtase. Meu rosto se ergue ao seu, o vendo retirar o blazer
do seu corpo, jogando-o em cima da mesa. O corpo dele inala com força o ar,
em seguida afrouxa sua gravata, tão concentrado em mim como estou nele. A
cadeira que está ao fundo é arrastada apenas um pouco, me dando uma
sensação de que a distância entre nós é maior. Jonathan se senta pesado, com
sua mão esmagando o chicote com brutalidade. A braguilha aberta da calça
mostra seu pau de fora, ereto e brilhoso com minha lubrificação. Meus cílios
piscam em alerta quando o chicote estoura no chão, deixando o timbre do
couro estalar no ar. Engulo em seco, me inflamando, com meu corpo
respondendo à ordem muda que suas íris diabólicas me dão. Roy vira seu
pescoço. Os dedos agitados estão embrenhados no nó da gravata, a
afrouxando com pressa, até tirá-la do seu corpo, e não trazem mais a mesma
preguiça usada para me torturar com movimentos circulares sobre meu
clitóris, estão afoitos, indigentes, se igualando às suas lufadas de ar nervosas.
Tombo minha cabeça para o lado, descansando-a em meu ombro, recaindo
meu olhar para o couro firme em sua mão. Ele o solta outra vez com mais
força, chicoteando o chão entre estalos, me chamando com sua forma
conquistadora.
— Me mostre, Gim. — Sua boca se aperta, com sua voz rouca
perversa cheia de luxúria, esperando minha queda ao prazer diante dele.
Ele quer mais que minha confiança, Roy quer minha rendição final.
Não há espaço para vergonha, orgulho ou qualquer outro sentimento de pudor
que possa tirar minha necessidade de obedecê-lo. E como uma boa e dócil
presa conivente, meus joelhos se prendem ao chão, engatinhando para meu
Mestre que me aguarda. As esferas brilhantes estão magníficas, ele respira
com mais urgência quando me vê dar o primeiro engatinhar rumo a ele. Seu
olhar é como uma carícia a cada segundo, preso em meus movimentos,
rendida a ele. Sim, eu estou rendida, canalizada ao homem onipotente
sentado à minha frente. Meus dedos frouxos dedilham sua perna quando, por
fim, chego até ele, tão sedenta quanto estava no início. O bastão do chicote se
prende em minha garganta, se afundando na pele, me fazendo fixar em seus
olhos. É bárbaro, abrasador, tão ardente como eu estou aqui, diminuída de
joelhos aos seus pés. Mas nunca me senti tão dona de mim como estou agora.
O que suas íris azuis refletem é minha dominação sobre seu controle. Não é
apenas o Mestre diante da submissa, é o acasalamento dos nossos demônios.
Sua mão arrasta a máscara do meu rosto, levando-a ao chão. A ponta do seu
dedo escorrega por minha face molhada de lágrimas e a selvageria me apossa
quando sua língua felina toca minha pele. Meu corpo já está sobre o seu no
mesmo momento que minhas mãos puxam sua camisa, estourando os botões
e arrastando o tecido para longe de mim. Colo meu rosto ao seu, movendo
meu quadril para se encaixar com o dele, abrigando seu pau dentro da minha
boceta que está em lavas, sendo o meu próprio corpo um vulcão em erupção.
O fodo animalesca, selvagem e indomável a cada cavalgada acelerada e
brutal do meu quadril, para o aprofundar até minha bunda açoitada sentir o
raspar da sua calça.
— Minha, cada canto, apenas minha... — Sua voz é minha desolação,
tão forte e enérgica quando ele joga o chicote ao chão, me aprisionado em
seus braços.
Abandono minha cabeça para trás, rindo em euforia, sendo preenchida
pela mais gloriosa loucura de ser liberta, tão sua quanto ele é meu.
— Oh, Deus! Sim... Sim! — grito, recebendo os baques e me sentindo
bem com o ritmo acelerado que Jonathan me fode.
Sim, ele me maltrata, me faz ser a pior versão de mim, mas me fode
malditamente bem, me amando de forma brutal, e não me canso, apenas
quero receber esse amor devasso. Existe o fazer amor, a foda bruta, e agora
Roy me cativa pelo poder do coito selvagem, duas feras que explodem um
nos braços do outro. E em meio à queda busco minha mais perversa droga.
Seus lábios aplacam a corrente elétrica que corta meu corpo de dentro para
fora. O esguicho forte vem certeiro, com meus músculos se contorcendo por
cada canto da minha perna, o lavando e apenas o deixando mais possesso,
orgulhoso, me fodendo com tanta pressão, arremessando meu quadril para
cima a cada estocada. Meu coração se eleva ao nível máximo, as batidas
parecem que vão rasgar meu peito. Morro o tomando, o prendendo a mim o
quanto posso, recebendo cada jato de porra que seu pau jorra dentro da minha
boceta enquanto nós dois gozamos. Mordo seu lábio inferior, o sugando para
minha boca. Meus braços circulam seu pescoço da mesma forma dominadora
que os seus, que se espremem em minhas costas. Nada será como antes, nada
me restará da velha Ginger, e não me importo. Não estou mais perdida entre
o nevoeiro, nunca estive tão lúcida como agora, junto a Jonathan, lânguida e
abrigada em seu poder, ouvindo sua respiração tão descontrolada quanto a
minha. Jonathan afasta sua face, encostando suas costas no encosto da
cadeira, olhando para meu rosto tão confuso, atordoado, como se fosse eu que
tirei seu controle, e não ao contrário. Sorrio para ele, acariciando sua barba
rala. Seus olhos brandos me aquecem com cada centelha de calor que existe
dentro dele.
— Eu cometi um erro, Gim. — Pisco atrapalhada, tentando
compreender o que ele está falando. — Não devia ter machucado você.
Suspiro, negando com a cabeça. Estou dolorida e marcada por cada
canto do meu corpo, mas que o inferno congele se eu for hipócrita de ousar
dizer que estou arrependida quando apenas sou preenchida por um prazer sem
tamanho.
— Você não me machucou... — Beijo seu nariz, alisando meu rosto
de forma carinhosa em sua face.
Não entendo por que ele está assim. Vi muitas faces de Jonathan, mas
é a primeira vez que ele abaixa a guarda, me deixando ver mais do que a
ponta do bloco de gelo que ele é. Minha outra mão espalma em seu peito,
comprimindo meus dedos, sentindo a bateria desgovernada que está seu
coração. Me aproximo pouco a pouco dos seus lábios, sem desviar dos seus
olhos.
— Mas eu vo... — O sussurro da sua voz é interrompido por algum
vidro que cai no chão.
Viro-me, olhando para trás de nós, encarando a realidade de onde
estamos. A sala, da qual me desliguei por completo, está preenchida pelos
homens de terno com suas máscaras nucleares. Vejo um copo estilhaçado,
quebrado no chão. Ergo meu olhar, percebendo que não foi um dos homens
de terno o responsável pelo copo quebrado, mas sim uma mulher de macacão
da cor bordô, colado ao corpo. Sua face está tampada por uma máscara de
silicone, que fecha seu rosto inteiro e traz uma renda fina sobre os olhos,
escondendo o resto da sua face. O movimento de Jonathan é ágil, como um
gato arisco, se levantando em um impulso da cadeira, nos rodando até estar
com minhas costas coladas à parede, sendo bloqueada pelos olhos dos
observadores.
— SAIAM! — O que sai da sua boca é um rugido alto, estourando
como um trovão, cheio de ira e ódio.
Fico em choque presa a ele. Estava tão dispersa, desligada por
completo de tudo à nossa volta, que não notei a presença de nenhum deles. A
única coisa que me prendeu em meio à loucura do prazer feroz que me
tomava foi Jonathan. E pela fúria do homem que me mantém segura com seu
corpo, tenho certeza de que não sou a única a me sentir assim.
Sem nenhum controle.
CAPÍTULO 34
TRAIÇÃO É UM CEGO COMEÇO
Jonatan Roy
Meus passos são tão duros quanto meus dedos esmagados ao lado do
corpo enquanto percorro o corredor do hotel à beira-mar. Tinha refreado
minha ira pela noite adentro, apenas dispersando minha raiva ao suave
suspiro de Ginger entorpecida ao meu lado quando voltamos para a mansão,
tendo ela adormecida em meus braços até o dia amanhecer. Não consigo me
afastar e nem deixar ela longe da minha cama quando seus olhos negros
brilham, me entregando seu mundo. Eu sou um canalha filho da puta, mas
estou viciado nela, no seu cheiro, em sua forma suave de se infiltrar dentro de
mim. Me perdi, e isso custou os malditos olheiros dentro daquela sala,
admirando Ginger com inveja e luxúria. Um erro tinha sido cometido e
cabeças estarão rolando antes do sol se pôr nessa ilha. Todos conhecem a
regra. Ao menos que desse minha autorização, os olheiros não podiam estar
dentro daquela sala. Escórias filhas da puta! A veia em meu pescoço salta a
cada fluxo de sangue disparado com raiva por minhas veias ao imaginar
como ela estava plena. Torço meu pescoço para aliviar a rigidez dos meus
ombros. Desejo arrancar cada maldito globo ocular dos condenados que
presenciaram a consumação entre mim e ela. Ginger foge à regra, ela chuta
toda minha alma sádica para fora, e eu me obstruo, me rendo a ela de uma
forma devastadora. Não era para ser assim. Era para ser apenas um jogo, eu
iria me sentir vivo ao fim, mas estou me sentindo consumado por um único
sentimento: a loucura de como vai ser quando ela descobrir o que fiz. Passo
pelos seguranças, que se afastam quando me aproximo, abrindo a porta do
quarto, onde dois dos ordinários de Sodoma estão conversando, olhando para
a janela.
— Quem autorizou? — Czar, espreguiçado em uma cadeira, é o
primeiro a me encarar. Ergue seu rosto para cima enquanto solta uma tragada
do cigarro.
Hu Li se levanta calmo, levando as mãos ao bolso da calça, deixando
seus pés baterem lentamente no chão. Observo o chinês sereno, o qual quem
olha não diz ser o maior ceifador da tríade. É um dos conselheiros mais
silenciosos que já ascendeu dentro de Sodoma, e o mais cruel e imparcial.
— Roy. — Sua cabeça se move para mim em cumprimento, mas
estou puto demais para ser respeitoso com ele, não depois de saber que seus
olhos enxergaram Ginger. — Não era do conhecimento dos olheiros que a
garota é sua companheira.
Meus dedos se esmagam, fuzilando Czar, que me encara com sua
sobrancelha arqueada, como se estivesse me desafiando a desmentir. Lógico
que os outros acreditaram que Ginger é minha companheira, ainda mais
depois de observar ela tão submissa. Cada canto dela me pertence, mas nunca
poderei tomá-la como minha. Estou entrelaçado ao passado de Baby e nunca
pretendi arrumar uma companheira, por isso me casar com Lorane me
pareceu válido. Posso foder de todas as formas, até explodir o cérebro de uma
mulher, mas jamais posso oferecer mais do que isso. Não posso prender ela a
mim, mesmo que saiba que eu voltarei a um estado cadavérico depois que
Ginger for embora. Esse sou eu, essa é minha alma podre, e soube disso
quando me afoguei em seu mar negro, tão belo. Eu irei machucá-la, irei
destruir sua alma. Passado é um local perigoso de se visitar, e Ginger veio a
mim como uma porta, onde eu poderia tentar entrar e voltar a sentir emoções
que me foram tiradas. O jogo foi apenas uma desculpa, uma manobra que
encurtava o caminho. Eu precisava voltar para aquele armário, precisava
voltar ao início, e a tomei com ódio, ira, a mais pura fome de fúria, a fodendo
tão duro e brutal apenas para resgatar alguma parte minha que me faltava.
Achei que se transformasse Ginger no monstro que me atacou, eu poderia
banir minha paralisia que me consome há tantos anos através dela. Mas os
lábios foram a decisão de minerva. Foram os doces lábios macios, curiosos,
que me condenaram. O primeiro beijo me pegou de surpresa, me deixando
atrapalhado. Minha mente distorcida por um instante tinha se silenciado e
apenas ela estava em meus braços. Ginger me pediu tudo e eu lhe dei
permissão para se infiltrar em minha mente assombrada.
— Ela não é minha companheira — sibilo baixo, ainda trazendo raiva
em meu peito. Mas agora é por ouvir minha própria voz dizendo isso longe
dos meus pensamentos.
— Não? — O russo se levanta, apagando a bituca do cigarro no
cinzeiro. — Se ela não é sua companheira, por que quase avançou na minha
garganta um tempo atrás?
— Não estou aqui para lhe dar satisfação, Czar! — rosno baixo,
dando um passo à sua frente. — Estou aqui porque uma maldita regra foi
quebrada!
— Todos os conselheiros têm conhecimento sobre as restrições um do
outro, Jonathan. Foi um erro cometido e ele já foi corrigido. Alguém abriu a
porta do quarto. Os olheiros apenas compreenderam depois, quando já
estavam fisgados demais na maestria com a qual você conduzia sua submissa.
— E salientando, que maestria sua pequena tem, Roy. — Meu braço
se move como um tiro, acertando sua garganta até ver sua face vermelha. —
Até eu me perderia diante da entrega dela.
— Não me provoque, Czar! — Ele se desvencilha, me encarando com
deboche.
— Um Mestre apenas perde o controle diante da sua companheira,
Jonathan. — O russo psicopata pisca para mim, arrumando sua jaqueta. —
Sua sorte é que tenho bom coração e gosto de você, Roy. Para sua alegria, vi
quem foi que abriu a porta do quarto, deixando os olheiros entrarem.
Czar dá um passo à frente, indo para a porta do banheiro. Volto meus
olhos para Hu Li, o encarando.
— Quem foi? — O chinês move sua cabeça para trás de mim, me
fazendo virar.
Freire está com seu rosto vermelho, sendo presa pelos braços de Czar.
Ele a solta, a empurrando para frente. Seu corpo se atrapalha, levando-a ao
chão, perto de mim.
— Como sabem, somos uma família. Ninguém fode com ninguém,
ainda mais com um conselheiro. — O russo deixa sua voz estrondosa sair
enquanto ri, levando as mãos ao bolso.
— Nós nos reunimos essa manhã com o resto do conselho por uma
teleconferência e relatamos o que Freire andou aprontando. — Hu Li a olha,
com desgosto, balançando a cabeça. — A decisão de Salomão é sua, decida
qual será o castigo dela.
— Eu não sabia... — Seus dedos tentam tocar a ponta do meu sapato,
mas me afasto com nojo, sentindo ódio por essa mulher maldita. — Juro,
Jonathan, não sabia que era você dentro do quarto...
— Tão falsa quanto esses silicones em suas tetas. — Czar caminha
lento, parando perto da janela e acendendo seu cigarro.
— Não podem me culpar por isso, eu não sabia...
— Você sabia, Freire! — Ranjo meus dentes, sentindo gana de matar
essa mulher. — Estava junto comigo e Czar quando todos os quartos foram
estipulados. Sabia exatamente qual seria o meu. Fez isso por ser uma vadia
vingativa!
— Eu ensinei tudo que você sabe, Roy. Tudo que aprendeu foi eu que
lhe instruí...
— Aposto dez paus que foi por ciúme — Czar responde rápido,
parando seus olhos em Freire. — Nos conte, Freire, o que sentiu quando viu
seu Mestre olhando para a submissa dele de uma forma que jamais olhará
para você?
A boca pintada de vermelho treme, desviando seus olhos para o outro
lado, ficando com seu corpo ereto à minha frente.
— Está banida, Freire. — Minha decisão é única, fazendo-a retornar
seus olhos para mim. Nada poderá lhe atingir tanto quanto a expulsar de
Sodoma.
— Não pode me banir... — Com medo, ela olha para os outros
conselheiros, em busca de ajuda.
— Você quebrou as regras de um Mestre dentro da casa dele, Freire
— Hu Li fala baixo, deixando seus dedos deslizarem sobre seu terno, o
endireitando.
— O que Jonathan decidir para seu futuro será acatado. Está banida
de Moscou. Nenhuma Sodoma na Rússia toda abrirá as portas para você.
— A tríade de Lótus lhe bane da Sodoma de Hong Kong.
Levo meus dedos ao bolso, encarando-a enquanto sua presença é
expurgada de Sodoma. Uma decisão de um conselheiro é a decisão de todos.
Freire está banida de todas as casas dos outros conselheiros, nenhuma porta
de Sodoma se abrirá para ela. Poderá retornar apenas se eu a chamar, mas
morreria seco antes de deixá-la voltar. Freire não é burra, está levando seu
rabo de cadela velha ao meio das pernas, sabendo que cada passo seu estará
em nossa mira. Um descuido, uma palavra contra e a retaliação será cobrada
alta demais para ela ter condição de pagar. Todos pagam, de um jeito ou de
outro. Sodoma é a única que vence.
— Vai se arrepender disso, Jonathan!
Dou um passo à frente, fazendo-a se calar e tropeçar para trás.
— Está ameaçando um Mestre, Freire? — Abaixo meu tom de voz,
olhando com ódio para ela, até sua cabeça se abaixar em submissão, olhando
seus sapatos.
— Não...
— Ótimo. Agora lhe aconselho que saia da minha ilha antes do
anoitecer, ou juro que ficará aqui para sempre.
Acompanho sua saída rápida para fora do quarto, ainda sentindo-me
enjoado com o rosto dessa mulher. Freire me ensinou muitas coisas, ter asco
dela foi uma das principais que aprendi.
— Bom, agora que resolvemos o caso da velha obcecada pelo pau de
Jonathan, preciso partir. Tenho assuntos para pôr em dia. — Czar se afasta da
janela, retirando os óculos escuros do bolso da jaqueta.
— Muitas garotas para observar, não é? — Hu Li sorri, o provocando.
— Há muito tempo que uma não chama minha atenção, todas são
iguais. Bom, se resolverem dar uma passada em Moscou, não me liguem, não
quero ver a cara de vocês por um tempo. — Rio com o russo arrogante, o
vendo sair a passos rápidos.
Czar é o melhor stalker[61] dentro da máfia russa, mas um sádico
imperativo perfeccionista. Sua maestria em perseguição é seu poder dentro do
conselho, não tem uma alma a qual ele não possa rastrear. Se um nome está
na lista dele, rapidamente é silenciado. Me aproximo da janela do quarto do
hotel, olhando o mar bravo. Ondas grotescas e revoltas, tão agitadas quanto
minha mente, que apenas se acalma quando se perdem nos olhos negros de
Ginger.
Ginger Fox
— Está tão linda, meu amor. — Tento sorrir ao som baixo e calmo da
voz do meu pai. Ergo meu olhar para o reflexo dele atrás de mim, no grande
espelho da sala do salão de festa. — Mas, ainda assim, me parece que algo
está lhe incomodando.
— Eu estou apenas um pouco cansada, papai. — Meus dedos
deslizam pelo longo vestido branco, parando meus dedos em minha barriga.
Mesmo com o grosso tecido, é como se eu pudesse sentir a cicatriz do tiro. —
Mamãe ainda está atormentando a pobre da cerimonialista?
Faço-o rir, tirando seus olhos de mim, enquanto balança suas mãos no
ar.
— Deus! A coitada da mulher está se escondendo dela no
estacionamento. — Me viro, sendo pega por seus olhos brandos, que me
analisam em silêncio.
— Mamãe só está um pouco eufórica. — Retiro o buquê de flores de
cima da mesinha de mármore, o erguendo em meus dedos e olhando para as
pétalas das rosas cor de pêssego.
— Um pouco chega a ser eufemismo, Gim. Sua mãe está fora de
controle. — O som dos seus passos me fazem elevar minha cabeça a tempo
de ver suas mãos saírem do bolso, segurarem meus ombros e os alisarem
devagar. — Realmente quer isso, Gim?
Fecho meus olhos para esconder as lágrimas que estão se acumulando
dentro de mim, lhe dando um sorriso quebrado. Eu tinha tentado, eu
realmente tinha tentado, do fundo do meu coração, mas nada será como antes.
Nada voltará a ser como era. Não há mais nada da antiga Gim. Sei que estou
me enganando, me iludindo, achando que seguirei em frente de onde tinha
parado ao lado de Tom em Columbia. Mesmo eles fazendo de tudo para não
perguntarem, pressionarem ou evitarem falar de Jon, meu apartamento nunca
me pareceu tão apertado e sufocante. As conversas banais sobre a decisão de
flores, salão de festa e tudo mais que poderia ser inútil, eu usava apenas como
uma válvula de escape para manter meu cérebro desconectado, mas ele era
traiçoeiro. Um cheiro, uma cor, qualquer simples referência e me
transportava de volta para aquela ilha. E mesmo assim empurrava as
lembranças, as trancafiava para não revivê-las. Mas agora, tão perto, a poucos
minutos do casamento, tenho noção que será o maior erro da minha vida. Não
tem como passar uma borracha no passado, nem continuar minha história
com Tom antes do verão mais marcante da minha vida.
Quando abro meus olhos, depois do que pareceu um longo pesadelo,
me vejo encarando uma cadeira vazia à minha esquerda, dentro de uma sala
branca. Meu rosto tomba para o outro lado, vendo o corpo alto que caminha,
entrando no quarto.
— Gim! Oh, Deus! Você acordou, meu amor. — Quero falar, mas não
consigo, nada sai da minha boca.
Os dedos de Tom estão quentes, segurando meu rosto em sua mão,
beijando minha testa. Sinto meu coração bater rápido e os sons dos
aparelhos aumentando. Não é ele que quero aqui, não são seus olhos que
desejo olhar.
— Está tudo bem, amor, vamos te levar para casa. Vamos cuidar de
você.
Minhas pálpebras estão pesadas demais para ficarem abertas. As
deixo irem se fechando, me perdendo outra vez na escuridão. E nas outras
vezes que se seguem, entre acordar e ficar angustiada, ele também não está
aqui. O único Roy que vejo, depois de dez dias desde que acordei dentro
desse hospital, é a triste loira fatal.
— Deus! Achamos que iríamos perder você! — Seguro os dedos frios
de Baby em minha mão, apertando com o máximo de força que posso. Ela se
aproxima da maca, acariciando meus cabelos. Vejo sua face abatida, com
olheiras marcantes ao redor dos olhos. — Jonathan quase morreu junto com
você enquanto não soube que estava fora de perigo. Eu achei que ele iria
destruir esse hospital.
— Roy? — Minha boca seca se abre algumas vezes, tentando
respirar, sentindo dor em meu corpo. — Jonathan esteve aqui? Ele saiu da
ilha? — Baby desvia seu olhar para a porta, para ver se Tom está vindo, e
volta a me olhar triste.
— Ele não saiu do seu lado. Jonathan carregou você para o
helicóptero dos paramédicos, veio junto para o hospital. — Estou confusa,
com minha mente lenta por tantos medicamentos. Jonathan tinha saído da
ilha? Ele está aqui? Por que não me esperou? — Nem eu acreditei quando o
detetive me contou, depois que eu já estava consciente.
— Mas por quê... Por que ele não ficou? — Viro minha face, olhando
a cadeira vazia que ainda está ao lado da minha cama, perto da parede.
— Acho que Roy pensou que seria melhor partir depois que Tom
chegou. — Baby afaga minha mão lentamente, me olhando com dor. — Eu
sinto tanto, Gim. Deus! Como eu sinto dor pelo que aconteceu!
— Não foi sua culpa, Baby — sussurro, erguendo minha mão ligada
ao soro, tentando tocar em sua face. — O que houve com Jon?
Seus olhos ficam rasos, com lágrimas quentes que nascem em suas
íris cinza.
— Jon vai ser condenado pela morte da avó dele e pela de Bob. —
Meus olhos vão para o teto, sentindo tanta dor dentro de mim. — Bob entrou
em óbito semana passada. — As gotas das suas lágrimas caem em meu braço
e ouço seus soluços de dor. — Lira confessou ter esquartejado a própria tia,
depois que Jon a matou. Ele vai para um sanatório penal, até ter idade para
ser julgado como um adulto.
Ainda ouço a voz do acanhado magrelo. Seus olhos brilhantes em
meio aos risos, enquanto corríamos para a praia no fim da tarde. Seu corpo
jogado no sofá da biblioteca, sorrindo para mim enquanto lia. As conversas
paralelas que tínhamos no quarto até ele pegar no sono. Tudo vem à minha
mente enquanto olho o teto vazio do quarto de hospital. Sinto tanta dor
quando sua face fria e perversa se destaca entre as lembranças. Olho para
Baby, apertando seus dedos trêmulos em minha mão.
— Como está madame Roy?
— Titia está inconsolável, se culpando da mesma forma que se culpa
por não ter visto isso em Sonja. Ela acha que é culpada por Jon ter feito
aquelas coisas.
— Ninguém é culpado pelas coisas que Jon fez, Baby, nem ela e muito
menos você. — Vejo seu suspiro baixo, tentando limpar as lágrimas do seu
rosto.
Enxergo a culpa que Baby está carregando dentro de si. Ela disfarça,
olhando para a porta, tentando abrir um sorriso fraco.
— Deus, ele é mais palerma pessoalmente do que eu imaginava. —
Meu riso é cortado pela tosse que me atinge, me fazendo segurar minha
barriga, sentindo tudo doer dentro de mim.
Baby estampa seu olhar de preocupação, deixando sua atenção cair
em minha barriga.
— Você poderia ter morrido. Isso mataria Jonathan, por saber que se
sacrificou por ele.
Não pensei. Na verdade, nada passava na minha mente na hora que
vi Jon erguer seu braço. Apenas senti medo por Roy e meu corpo tomou a
decisão antes mesmo de sentir o impacto da bala, me jogando da mesa e
ficando à sua frente. O tiro acertou em cheio minha barriga. Mais alguns
centímetros e a bala teria atingido meu estômago. O projétil se alojou dentro
do meu corpo, estourando todos os músculos e veias que tinham à sua frente,
mas ainda assim faria tudo outra vez. Olho para a cadeira vazia, sentindo
como se fosse o ferimento aberto em meu coração, me encolhendo na cama.
— Ele não vem, não é Baby? Roy não vem.
— Ele se trancou em seu escritório, não sai de lá para nada, a não
ser quando o detetive chega, para passar informações sobre a situação de
Jon. — Fecho meus olhos, deixando as lágrimas rolarem, respirando com
dor. — Ele não quer te machucar mais, Gim. Jonathan quer que você seja
feliz...
Feliz se tornou uma palavra vazia. Não posso ser feliz depois de tudo
que aconteceu. Eu me senti feliz ao lado de Jon, me senti feliz nos braços de
Jonathan. O menino que eu me afeiçoei não é um magrelo frágil com olhos
carinhosos, mas sim uma alma morta. Vi seu olhar e ainda posso ver os
olhos de gelo de Jon quando apertou o gatilho. Não tinha remorso, não tinha
culpa, mas eu ainda olhava para ele, sentindo o sangue sair do meu corpo.
Enxerguei nele os olhos de Jonathan, os mesmos olhos frios da alma morta
que me observou sentado na ponta da mesa quando se chocou comigo a
primeira vez. Mas, naquele momento, não estavam mais frios, eram quentes e
brilhantes, com suas lágrimas repletas de medo. Os olhares tinham se
invertido, e mesmo agonizando baleada, pude enxergar a verdadeira face de
cada um. Jonathan tinha voltado para dentro dele, se trancado fundo, longe
demais para eu alcançá-lo. Me abandonou para seguir sem ele. Ao fim, Jon
conseguiu acertar seu alvo com êxito. Roy não quer mais sentir, não quer
estar ao meu lado, ele me manda partir com a sua ausência. E talvez, por
isso, eu tentei fazer o mesmo quando entrei no avião vinte dias depois com
Tom cuidando de mim. As juras que ele fez, o pedido de desculpas ao qual
minha mente se desligava, a segunda chance que dentro de mim eu sabia que
seria um erro, mas eu seguia em frente. Eu tentava qualquer coisa para
manter Roy afastado dos meus pensamentos.
Mas aqui estou eu, me sentindo tão solitária dentro desse vestido de
noiva, olhando com amargura para a cor de pêssego, da qual eu nem gosto.
Me tranquei dentro dessa farsa da mesma forma que Jonathan se trancou
dentro daquela ilha, o que me diferencia dele é que não quero mais estar
aprisionada. Não desejo estar aqui por mais nenhum segundo. Pegarei meu
medo e traumas, os segurando pelas mãos, e encararei um futuro
desconhecido. Ergo meus olhos para meu pai, inalando fundo o ar dentro dos
meus pulmões. A porta é aberta por minha mãe, que sorri para mim, eufórica.
E como um esparadrapo que se pode puxar uma única vez, para a dor ser
precisa e rápida, deixo as palavras saírem da minha boca, a acertando.
— Mãe, não vou me casar. — Deposito o buquê sobre a mesinha
outra vez, retirando a grinalda da minha cabeça, largando ao lado das flores.
Olho para meu pai, que está calmo e segura minha mãe em um
abraço.
— Como assim? Está nervosa? Isso é normal, Gim. Toda noiva fica
nervosa, eu fiquei no dia do meu casamento. — Ela olha para meu pai em
busca de ajuda, mas ele apenas sorri, negando com a cabeça e dando de
ombros. — E os convidados, a festa, o padre que está lhe esperando? Tom? O
que vai dizer?
— O mesmo que ela disse para você, meu amor, que não vai se casar.
— Meu pai beija a testa dela, alisando sua face com ternura. — Tirando o
buffet da festa, o resto a gente consegue reembolso.
— Reembolso? Deus! É o casamento dela! Gim, olha para mim,
amor! — Minha mãe se afasta dele, caminhando para mim e segurando meus
dedos em suas mãos. — Está traumatizada ainda, é normal isso lhe deixar
confusa.
— Mãe, nunca estive tão lúcida em toda minha vida.
— Não, não está. Se estivesse, não estaria pensando em abandonar
seu noivo no altar. Isso é coisa do seu pai, assim como ficar a favor daquela
viagem. Isso quase nos custou você... Poderia ter morrido por conta daquele
assalto na mansão...
Fecho meus olhos, respirando fundo, odeio mentiras. Mas, pela
primeira vez compreendi que algumas vezes a verdade não pode ser contada.
Foi Jonathan que ligou para meus pais repassando meu estado no hospital.
Minha mãe entrou em contato na mesma hora com Tom, o que o fez
embarcar para a Austrália após convencer meus pais que não fossem, os
acalmando ao afirmar que os manteria informados sobre o que tinha
acontecido. Foi Baby quem conversou com Tom, lhe dando uma versão
suave, onde contou sobre um assaltante que invadiu a mansão e acabou
matando Lorane e atirando em mim quando eu fui salvar Jon.
Respiro fundo novamente, abrindo meus olhos e encarando minha
mãe.
— Mãe, ouça o que estou lhe falando. Mas, por favor, escute bem,
pois é do fundo do meu coração. — Ergo seus dedos, trazendo-os para perto
do meu rosto, e a encaro dentro dos seus olhos. — Não amo o Tom. Eu não
vou me casar. — Beijo seus dedos, deixando-a compreender minhas palavras.
— E eu odeio a cor de pêssego com todas as minhas forças.
Solto seus dedos, apenas para poder lhe abraçar, beijando seu rosto,
ainda a tendo estática em meus braços. Levo meus olhos para papai, que
sorri, me apoiando com seu jeito calmo. Me afasto da minha mãe, beijando
sua testa com carinho.
— Eu te amo, dona Mole Fox. Te amo além de tudo, mas não posso
me casar sabendo que vou ser infeliz, mesmo que isso lhe magoe. — Acho
que ela ainda está em choque, por isso seus olhos nem piscam, me encarando.
Esfrego a ponta do meu nariz no seu, igual quando era criança.
Afasto-me dela, indo para meu pai e o abraçando, me deixando ser
preenchida com sua forma e apoio. Isso é o que mais amo nele. Não precisa
de palavras, é apenas sentir o amor de um pelo outro.
— Bom, eu ia entregar meu presente na hora do brinde do casal, mas
acho que posso fazer isso agora. — Me afasto dele, negando com a cabeça.
— Pai, não vai ter mais casamento, tente recuperar o dinheiro...
— Ou você pode trocar? — Meus olhos caem para sua mão, vendo as
passagens aéreas para o Havaí. — Também pode ir sozinha, a escolha é sua
agora.
— Pai... — Sorrio para ele, enquanto me entrega as passagens.
— Estão para hoje, às nove da noite. — As abano em meus dedos,
ficando aquecida com seu beijo em minha bochecha. — Se for agora, creio
que pode trocar para qualquer outro voo.
— Eu te amo, pai. — O abraço com mais força, beijando sua face.
— Também te amo, meu amor. — Ele dá um leve tapinha em minhas
costas, me afastando dele. — Agora vá, antes que ela saia do choque e te
arraste até o altar.
Rio com sua voz baixa cochichando, olhando para minha mãe. Já
estou atravessando o salão de festa, procurando por Tom em cada canto que
ele possa estar. Não sei porque não fico surpresa quando finalmente o
encontro na sala de casacos, o pegando entre os beijos com uma garçonete.
— Gim! — Ele a empurra para longe, tentando limpar sua boca suja
de batom, respirando nervoso.
Recaio meu olhar na menina afoita, que está vermelha, tentando
arrumar sua camisa.
— Poderia nos dar licença? — Me afasto da porta, para ela correr
para fora enquanto olha para o chão.
— Gim, eu... Droga! Olha, eu posso te explicar... Elas não são nada
para mim...
— Eu dei para dois paus em uma noite só! — Minha voz o corta
rápido, o deixando atrapalhado, com sua mão erguida no ar. — Fui usada sem
um pingo de respeito, com baques brutos, até me sentir tão leve quanto uma
pluma, e fiquei fodidamente satisfeita ao atingir o clímax. Transei tanto, que
até hoje deve ter sêmen pelo meu corpo.
— O quê? Do que você está falando? — Tom olha para os lados,
ficando agoniado.
— De sexo, Tom! De satisfação, de não me reprimir ou me sentir
inapropriada, de receber uma chuva de porra em uma sala cirúrgica, com
mais de oito homens dentro dela. — Meu peito se estufa, olhando fundo nos
seus olhos e o deixando ver a verdade. — Estou falando de transar de todas
as formas indecorosas, mas com um único homem, que me maltratava... mas
me fodia malditamente bem.
O rosto vermelho dele está em chamas, com seu punho se fechando ao
lado do corpo.
— Você... Você não fez isso, Ginger. Nunca faria algo tão...
— Inapropriado? — Arqueio minha sobrancelha, o indagando. —
Acho que devem existir umas cinco ou seis pessoas que discordam disso, já
que ficaram me observando sentar o máximo que minhas pernas aguentaram
em cima de um pau.
— GINGER! — Tom passa seus dedos nervosos pelos cabelos,
arrumando sua gravata torta em seguida. — Eu vou fazer de conta que não
ouvi essas suas loucuras e que você não me ofendeu terrivelmente, e vamos
seguir adiante com nosso casamento. Nada do que aconteceu no passado vai
voltar a acontecer depois que falarmos sim.
— Não vou me casar com você, Tom. — Minha voz sai calma, com
toda sinceridade. — Não porque vem me corneando, só Deus sabe há quanto
tempo. Não vou me casar com você porque não te amo. Porque eu quero mais
do que ser a perfeita esposa do futuro âncora de bosta do jornal das sete.
— Deus! O que fizeram com você? Olha como está agindo...
— Estou agindo como eu devia ter agido há muito tempo, como a
mulher inapropriada que sou. — Seguro a barra do vestido em minhas mãos,
prendendo as passagens de avião em meus dedos. — A propósito, Tom, antes
que me esqueça, eu também transei com uma mulher transgênero do sexo
feminino, e foi o melhor sexo baunilha que já fiz em minha vida!
Viro-me, o largando de boca aberta, sentindo meu coração pulsar em
vida desde aquela noite na hospedaria. Meu braço é enganchado, olho para
trás, vendo a face de Tom nervosa, rangendo seus dentes.
— Está fazendo isso por causa dele, não é? — Ele cospe como um
veneno, falando baixo. — O cara que ficou chamando enquanto estava
delirando na cama do hospital. Jonathan. Esse é o nome do filho da puta que
te transformou nessa vadia!
Puxo meu braço com força, para ele desvencilhar seus dedos da
minha pele. Eu não falo mais esse nome, apenas ouço ele em meus
pensamentos. Por um breve momento, meu corpo todo se recorda de cada
segundo que passei ao lado de Jonathan. Tudo o que vivi, cada instante,
toques, sons e sabor, tudo vem em minha mente como uma tromba d’água,
me acertando, me fazendo vibrar com todas as lembranças.
— Jonathan não me transformou, Tom. — Olho para a saída ao fim
do salão, sendo preenchida por uma saudade sem tamanho. — Ele me
libertou!
Caminho a passos rápidos, o deixando parado na entrada da porta.
— Isso é loucura, Ginger! — Meus dedos comprimem mais o tecido
em meus dedos, para poder libertar minhas pernas.
Olho o chão por um instante, sabendo que é muito mais que isso, é a
libertação, o verdadeiro ato de me sentir dona de mim. Mesmo sabendo que
meu coração e alma pertencem a um único Mestre, e que mesmo longe Roy
estará presente em cada segundo que eu viva. E esse é o presente que ele
falou que me daria ao fim do jogo, ser dona da minha essência, ser a mulher
inapropriada que sempre fui, me deixar escolher quais erros e acertos
cometerei. Mesmo estando longe, mas ainda assim onipresente dentro da
minha alma, aguardando para que um dia eu o encontre. Em algum dia, sem
hora marcada ou data estipulada. Sorrio, puxando todo ar para dentro dos
meus pulmões. Viro minha face por cima do meu ombro, encarando esse
banana.
— Não, Tom. Isso é SODOMA! — grito, chamando atenção de
grande parte dos convidados, que se viram para ver a noiva correndo,
segurando a barra do vestido pelo salão, rumo à saída.
Meus cabelos, que se soltam do penteado, caem por minhas costas a
cada segundo que acelero minhas pernas. O fluxo de sangue aumenta pelo
meu corpo, tendo a adrenalina me tomando. Apenas paro depois de entrar em
um táxi e pedir para ir direto para meu apartamento. Meus dedos se soltam do
vestido, olhando a passagem, sem um pingo de ideia de para onde irei ou o
que viverei. Mas estou indo para o começo. Antes do pedido de casamento
atropelado, a histeria com as loucuras da minha mãe, antes de Jon, antes de
Baby e, especialmente, antes de Jonathan. Estou voltando para o começo para
poder achar meu fim, quero descobrir o que tem além, desbravar para fora de
Columbia. Uma mochila e eu. É com esse pensamento que entro no
apartamento, pego apenas a mochila, algumas peças de roupas e meu
passaporte com os restos dos meus documentos. Paro apenas quando entro no
banheiro, depois de tirar a porcaria de vestido. Olho em silêncio para as
mechas que vão caindo na pia, uma a uma, enquanto a tesoura em meus
dedos vai podando, até eu não ver mais nenhum cacho, não ver qualquer
semelhança de Sonja comigo, além da minha cor. E me sinto maravilhada
com a mulher que me encara no reflexo do espelho. Não sei quem ela é, mas
estou indo rumo à descoberta, até que possa encontrar meu Mestre outra vez.
Fim!
EPÍLOGO
Ginger Fox
Apenas gratidão por essa história! Amei muito poder conhecer Ginger
e Jonathan, e ver o mundo dos dois se encontrando. Agradeço a eles por
serem personagens tão marcantes, assim como Baby, que me encantou.
Obrigada as minhas lindas Halana Oliveira e Janaina da Silva, por me
acompanharem nesse enredo instigante.
Agradeço minha doce Val, por estar mais uma vez comigo, me
deixando arrastá-la para minhas loucuras. Eu amo demais ter sua companhia
e amizade ao meu lado.
Gratidão a todas as colaboradoras, que contribuíram e fizeram parte
dessa história.
E obrigada a você, meu leitor que amo demais, por se permitir se
perder em Sodoma.
Outras obras:
Primeira série:
KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3
ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não indicado para menores
de 18 anos.
Quando um pesadelo deixa marcas. Quando em um dos piores momentos, nasce uma luz para guia-la.
Quando ela se apaixona por seu algoz e finalmente tudo está na mesa, o desejo carnal e selvagem se
revelam. Mas a ferida agora,
está aberta.
Vocês irão odiá-lo, cobiçá-lo e até mesmo deseja-lo. Conheçam Daario Ávila e embarquem em uma
aventura na Espanha, regada de erotismo e reviravoltas de tirar o fôlego. Será que o príncipe encantado,
pode se tornar um pesadelo?
Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os abatedouros da fazenda Ávila,
Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem
empatia. Moldado pela dor e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a vida e a morte, pelas as
águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara faz de tudo para salvá-lo, até o
que não deve. A pequena boneca solitária só não sabia que quem ela salvava não era apenas um
forasteiro com faces tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano do
seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a deixou marcada para sempre. Mas
ali, diante da face do mal encarnada entre os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão
antiga, não é medo que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.
Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida do monstro que entrou em seu
caminho. Tendo que escolher entre o homem que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu
ventre, partiu, deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou rastros, e
agora algo muito pior vêm atrás dela. Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal
maior, e o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o homem que tanto
assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher solitária que vê em seus sonhos, e
que agora está em carne e osso na sua frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada
vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha. Yara lutará com toda sua força para ter suas
filhas de volta. No meio da sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do
amor, e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco anos, sem despertar o monstro
que habita nele?
História e conto Irmãos Falcon
Recomendando para maiores de 18 anos
Este livro contém descrição de sexo explícito e palavrões
Doty só queria uma coisa: achar o miserável que engravidou Tifany e chutar seu rabo até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou do sério, fazê-la pagar
por sua língua afiada e boca suja.
Uma proposta!
Sete dias!
E tudo foi para os ares!
Bem-vindo à Arena
Billi tinha traçado seu destino, já não era mais o menino delinquente, tinha se transformado em um
homem, foi atrás do seu sonho e criou seu mundo em cada touro que montou aos 32 anos.
Arena Ranger lhe trazia apenas um desejo, o grande touro Asteroide 8 segundo que valeria sua carreira,
mas o pequeno cometa que cruzou seu caminho. Fez o Cowboy mudar seus planos.
Únicos
Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo de neonazistas
violentos, pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao encontrar o corpo do seu irmão junto a
um homem negro dentro do seu apartamento, ambos sem vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição
por catorze anos, jogado dentro da penitenciária federal, almejando apenas uma chance de descobrir
quem era o verdadeiro assassino do seu irmão. Sua chance veio acompanhada de um pro bono
misterioso, que lhe deu sua liberdade provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar com Eme, uma
stripper negra que o levou a questionar uma doutrina de uma vida inteira. Ele já não se sentia mais à
vontade com o grupo neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a aparecer pelas ruelas
do porto, assombrando todas as garotas de programa ao descobrirem que tinha um assassino em série
que matava por esporte, Handrey percebeu que mais alguma coisa tinha escapado junto com ele do
esgoto imundo que era seu passado.
Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não acreditava que
seu irmão havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má justamente três dias
antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito menos velhinho Noel. Então resolveu se vingar
do tirano e por fim lhe dar uma lição que nenhum deles jamais esqueceria.
Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às promiscuidades de Chicago,
como uma divindade do prazer, é proprietário do clube peculiar, nada ortodoxo e, sim, envolvente e
pecaminoso: a Odisseia, onde proporciona todas as experiências desejadas por seus clientes, para
aplacar seus prazeres mais obscuros. Mas, como todo semideus, Dom Lycaios tem sua fraqueza, e é
entre as paredes do seu templo da perdição que se vê sendo fisgado pela doce inocência de Luna, a
dançarina exótica, tão silenciosa e misteriosa, que o prende a cada movimento do corpo dela. Uma
perfeita sugar baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz aprisionado no canto mais
obscuro do seu ser. Luna não tem chances para escapar das manobras do implacável homem, que a
envolve em suas teias de aranha. Afinal, o prazer sempre fora o maior império de Sedrico.
[1]
Sigmund Freud, nascido em Sigismund Schlomo (6 de maio de 1856 - 23 de setembro
de 1939), foi um neurologista austríaco e fundador da psicanálise, um método clínico de
tratamento da psicopatologia através do diálogo entre um paciente e um psicanalista.
[2]
Jornalista que apresenta e coordena um programa de televisão. Frequentemente, um
profissional de destaque, que oferece ao programa sustentação, credibilidade e
identificação com os telespectadores.
[3]
Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
[4]
Uma das obras literárias mais famosas do escritor Júlio Verne.
[5]
O termo cropped significa "cortado" ou "cortar", em inglês. Por isso, essas blusas
femininas são um pouco mais curtas.
[6]
A burca, também chamada de chadri ou paranja na Ásia Central, é uma veste feminina
que cobre todo o corpo, até o rosto e os olhos, porém nos olhos há uma rede para se poder
enxergar. É usada pelas mulheres muçulmanas em alguns países islâmicos.
[7]
É uma figura mística caracterizada por uma aparência híbrida de dois ou mais animais.
[8]
Um personagem fictício das obras do filólogo e professor britânico J. R. R. Tolkien. Ele
foi introduzido na obra de fantasia O Hobbit de 1937 e se tornou um importante
personagem na sequência O Senhor dos Anéis.
[9]
Garota, você é a única que eu quero que me queira. E se você me quiser, garota, você
me tem.
[10]
Não há nada que eu, que não faria, eu não faria. Para acordar ao seu lado.
[11]
Você abre a porta. Vestindo nada além de um sorriso, caído ao chão.
[12]
E sussurra em meu ouvido: Querido, sou sua!
[13]
Oh, só de pensar em você eu fico tão louco, tão louco.
[14]
É um indivíduo que se dedica, com intensidade incomum, a conhecer e modificar os
aspectos mais internos de dispositivos, programas e redes de computadores. Hackers
podem ser motivados por uma infinidade de razões, tais como lucro, protesto, coleta de
informações de outras pessoas.
[15]
O Jardim Secreto é um livro infantil da autora inglesa Frances Hodgson Burnett,
primeiramente publicado completo em 1911. É considerado a mais importante obra de
Frances Hodgson Burnett, pois é o primeiro livro no qual um garoto e uma garota são os
personagens principais.
[16]
Um padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer
não se encontra na cópula, mas em alguma outra atividade.
[17]
Demônio sexual com aparência feminina.
[18]
Willy Wonka & the Chocolate Factory é um filme estadião 1971 do gênero musical
norte-americano, dirigido por Mel Stuart e estrelado por Gene Wilder como Willy Wonka.
[19]
De acordo com a Bíblia, é uma de duas cidades que teriam sido destruídas por Deus
com fogo e/ou enxofre caídos do céu. Portadoras de grandes pecados, incluindo suas
práticas sexuais.
[20]
Filme americano de suspense erótico de 1992.
[21]
Sharon Vonne Stone é uma atriz, produtora e ex-modelo norte-americana. Ela alcançou
o reconhecimento internacional por seu papel no thriller erótico Instinto Selvagem.
[22]
Desenho animado criado na década de 50, os Smurfs ainda hoje são extremamente
populares no mundo inteiro. Desde então, já receberam adaptações variadas em quadrinhos,
jogos, filmes e desenhos animados.
[23]
É um programa de treinamento e condicionamento físico, desenvolvido para melhorar
as capacidades fisiológicas de qualquer tipo de pessoa, desde atletas de elite, militares,
idosos ou jovens.
[24]
Elvis Aaron Presley (8 de janeiro de 1935 - 16 de agosto de 1977), também conhecido
como Elvis, foi um cantor, músico e ator norte-americano. Ele é considerado um dos ícones
culturais mais significativos do século XX e é frequentemente referido como o "Rei do
Rock and Roll" ou simplesmente "o Rei".
[25]
É um conto de fadas alemão. Foi coletado pelos Irmãos Grimm na edição de 1812 de
Contos infantis e domésticos. A história é sobre um imp que transforma palha em ouro em
troca do primogênito de uma garota.
[26]
É um romance de fantasia para crianças de C. S. Lewis, publicado por Geoffrey Bles
em 1950.
[27]
Suricata, suricate ou suricato é uma espécie de mamífero da família Herpestidae. É a
única espécie descrita para o gênero Suricata. Pode ser encontrada na África do Sul,
Botsuana, Namíbia e Angola. Estes animais têm cerca de meio metro de comprimento, em
média 730 gramas de peso e pelagem acastanhada.
[28]
Demônio sexual masculino do sono.
[29]
Refere-se à condição na qual a expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma
pessoa é diferente daquelas atribuídas ao gênero designado no nascimento. Mais
recentemente o termo também tem sido utilizado para definir pessoas que estão
constantemente em trânsito entre um gênero e outro. O prefixo trans significa "além de",
"através de".
[30]
Termo que descreve pessoas nascidas com características do sexo físico que não se
encaixam nas noções binárias típicas de corpos masculinos ou femininos.
[31]
Ejaculação feminina.
[32]
Cinta de plástico.
[33]
Xarope, remédio.
[34]
No dicionário, o termo Mestre é um sinônimo de catedrático, professor e mentor. No
SM, pelo menos em grande parte dos círculos, existem diferenças. Enquanto o Mestre seria
aquele que ensina interagindo de forma física (sem relação de posse).
[35]
Que assume o controle psicológico e/ou físico sobre o parceiro submisso.
[36]
É o protagonista masculino da trilogia, Cinquenta Tons de Cinza. Para o mundo
exterior, ele parece ser um jovem bonito e atraente no mundo dos negócios. No entanto, ele
tem uma "vida oculta".
[37]
Marlon Brando Jr. (Omaha, 3 de abril de 1924 – Los Angeles, 1 de julho de 2004) foi
um ator de cinema e teatro e diretor norte-americano.
[38]
Considerado uma obra-prima cinematográfica e um sucesso de bilheteria mundial, a
violência sexual e o caos emocional do filme levaram a uma grande polêmica internacional
sobre ele, que provocou vários níveis de censura governamental ao redor do mundo.
[39]
A Dominação e submissão são práticas ligadas ao universo BDSM. Também conhecido
como D/S, é a forma de se denominar uma relação desigual estabelecida entre duas
pessoas, onde todo o poder é dado ao dominante e cabe a parte submissa obedecer por livre
e espontânea vontade, realizando tarefas e obedecendo ordens que podem ou não ter
conotação sexual. A dominação pode ser física ou mental.
[40]
Daddy Kink é um fetiche, em que existe o daddy/mommy e o baby.
Baby - é o passivo da relação, aquele que é mimado e recebe ordens, as quais deve cumprir,
que normalmente age de uma forma infantil e fofinha, sexy.
Daddy/Mommy - é o ativo da relação, aquele que mima e dita as ordens, o que pune o baby
quando ele não cumpre alguma regra e tem que ser tratado como tal.
Punições - daddy/mommy bate no baby.
[41]
A dominatrix é uma mulher que assume o papel de dominadora em uma relação
BDSM.
[42]
A palavra bondage vem do inglês e francês e significa escravidão ou cativeiro. Mas,
atualmente, quando usamos essa palavra, nos referimos à prática sexual do BDSM. Ela
consiste em imobilizar o corpo da pessoa com quem você está fazendo sexo.
[43]
Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo.
[44]
Uma chave mestra é uma chave modificada que pode ser usada para abrir fechaduras. A
chave tem todos os vãos na máxima profundidade (999). Ela funciona porque faz com que
as elevações e os rebaixos da chave batam nos pinos (também conhecido como efeito bola
de bilhar) acima da linha principal, fazendo a fechadura se abrir.
[45]
Merda, em russo.
[46]
É o título de uma franquia de ficção científica criada em 1984 por James Cameron, com
o filme The Terminator.
[47]
Arnold Alois Schwarzenegger (Graz, 29 de julho de 1947) é um fisiculturista, ator,
empresário, político e astro americano, tendo servido como 38º Governador do estado da
Califórnia de 2004 a 2011.
[48]
Tentador.
[49]
Gíria para dinheiro.
[50]
Como são vendidas as drogas: malotes, dólar, bucha.
[51]
Ocitocina ou oxitocinona é um hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na
p90-hipófise posterior.
[52]
Ocitocina ou oxitocinona é conhecida como o hormônio do amor.
[53]
Crack é uma droga ilícita, ou seja, uma substância psicoativa de ação estimulante do
sistema nervoso central. O crack é um subproduto da pasta da cocaína, droga extraída por
meio de processos químicos, das folhas da coca.
[54]
Toda vez que eu te vejo, oh, eu tento me esconder. Mas quando nos encontramos,
parece que não consigo deixar para lá.
[55]
Roxette foi uma dupla de pop rock sueca formada por Marie Fredriksson e Per Gessle.
A dupla alcançou sucesso mundial entre o fim dos anos 1980 até meados da década de
1990.
[56]
Segundo a mitologia grega, Orestes matou a mãe e o amante dela para vingar a morte
do pai. Ao ser julgado por 12 cidadãos, houve empate e Atena, que presidia o júri, proferiu
o voto de desempate a favor de Orestes. Neste momento, o voto de desempate passou a ser
conhecido como Voto de Minerva.
[57]
Bruce Frederick Joseph Springsteen (Ramo Longo, 23 de setembro de 1949) é um
cantor, compositor, violonista e guitarrista dos Estados Unidos. Em sua carreira, iniciada
em 1969, Bruce já recebeu vários prêmios importantes, como vinte Grammys, quatro
American Music Awards e um Oscar.
[58]
Condição em que alimentos, líquidos, saliva ou vômito são aspirados para as vias
aéreas. Broncoaspiração é definida como a aspiração de conteúdo gástrico ou corpo
estranho na árvore traqueobrônquica.
[59]
Na religião e mitologia grega antiga, Pan (/pæn/] Grego antigo: Πάν, romanizado: Pán)
é o deus dos selvagens, pastores e rebanhos, natureza dos selvagens da montanha, música
rústica e impulso, e companheiro das ninfas. Ele tem os traseiros, pernas e chifres de uma
cabra, da mesma forma que um fauno ou sátrio.
[60]
Norman Bates é um personagem fictício criado pelo autor americano Robert Bloch
como o principal antagonista em seu romance de suspense de 1959, Psicose.
[61]
Stalker é uma palavra inglesa que significa "perseguidor ".
[62]
Uma trama em que um grupo de instrutores e adolescentes são assassinados um a um
por um assassino desconhecido enquanto tentam reabrir um acampamento de verão
abandonado.
[63]
Fobia é um sentimento exagerado de medo e aversão por algo ou alguém. A palavra
fobia pode ser considerada um sinônimo de medo extremo.