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Concorrência schumpeteriana

MENDES, Maria Laura Cruz

A teoria da concorrência, desenvolvida em linhas básicas por J.Schumpeter têm sido


aprimorada nas últimas duas décadas por autores da corrente neo-schumpeteriana, que
majoritariamente, também são identificados pela abordagem evolucionista ou evolucionária,
isto é, em contraste com o enfoque estático tradicional, a concorrência na economia
capitalista visualizada como um processo evolutivo, e portanto dinâmico, gerado por fatores
endógenos ao sistema econômico, notadamente as inovações que emergem incessantemente
da busca de novas oportunidades lucrativas por parte das empresas em sua interação
competitiva.
Não há propriamente, na tradição da Economia como ciência, nenhuma “teoria da
concorrência” anterior ao advento da obra de Schumpeter. No entanto, existem diversas
“noções” de concorrência que, mesmo sem constituir alguma teoria sistemática, tiveram um
papel importante em relegar a concorrência a uma posição meramente acessória na teoria
econômica. Dessa forma, a noção “clássica” de concorrência — adotada por Smith, Ricardo
e seus contemporâneos — está associada à livre mobilidade do capital entre diferentes
indústrias, implicando a livre entrada (livre iniciativa) ou ausência de “barreiras à entrada”.
No início do capitalismo, essas barreiras (ou a falta delas) estavam relacionadas com
privilégios monopolistas, ou seja, restrições institucionais ou legais à livre concorrência e à
livre iniciativa. A concorrência era vista como um processo que se desenrola ao longo do
tempo, pelo qual os investimentos são atraídos pelas indústrias que proporcionam maior taxa
de lucro, afastando-se das de menor rentabilidade. Seria esse contínuo fluxo intersetorial de
capitais, possibilitado justamente pela concorrência entre capitais — ou seja, por sua
mobilidade entre indústrias —, e o responsável pela suposta tendência à igualação das taxas
de lucro entre distintas atividades nas economias capitalistas.
Entretanto, é característico do enfoque teórico da Economia Clássica, especialmente
em sua vertente ricardiana (e, hoje, “neo-ricardiana”), sua preocupação maior com o
resultado desse processo — ou seja, com a formação de uma taxa de lucro uniforme entre
indústrias, e os respectivos preços “naturais” ou de equilíbrio intersetorial. Nesse quadro, a
concorrência não é objeto de análise em si, mas só interessa pelos seus efeitos tendenciais ou
de longo prazo, associados à teoria da determinação dos preços e da taxa de lucro de
equilíbrio.
Segundo Marx, a concorrência também era considerada mais como um processo
auxiliar — embora importante — para atingir determinados fins previstos pela teoria, do que
como um objeto em si mesmo digno de ser teorizado. Para Marx, a concorrência não tem o
status de gerar por si mesma efeitos relevantes na economia capitalista; ela cumpre apenas
um papel intermediário de “executar” as “leis do movimento” dessa economia, determinadas
em nível mais “fundamental” (das relações de produção e das leis do capital) que o nível
“superficial” da concorrência, incapaz de criar ou afetar essas determinações. Isso não exclui
o reconhecimento da importância da concorrência, em Marx, como um pressuposto para a
teoria do valor e do capital; Bem como sua aceitação, no essencial, da visão clássica da
concorrência como “mobilidade dos capitais”, atuando como o mecanismo básico para a
tendência à formação de uma taxa de lucro uniforme. Outrossim, Marx também tinha uma
percepção aguda da concorrência como um mecanismo permanente de introdução de
progresso técnico, capaz de tornar endógena à economia capitalista a capacidade de mudança
estrutural via inovações — na sua linguagem, de tornar o “desenvolvimento das forças
produtivas” uma “lei de movimento” básica da economia capitalista. Esse é um elemento
crucial para uma teoria dinâmica da concorrência, que será retomado por Schumpeter muito
mais tarde.
Não obstante, a concepção clássica foi também adotada — e estendida — por
Marshall, cuja maior contribuição nesse terreno foi dar contornos mais precisos à noção
neoclássica de concorrência, predominante ainda hoje. Na sua versão atual, trata-se da noção
de concorrência perfeita, associada ao atomismo de mercado (tanto na oferta como na
demanda). em que as empresas individuais são tomadoras de preço (price takers), ou seja,
incapazes de afetar o preço de mercado, determinado pelo equilíbrio entre oferta e demanda,
com preço de mercado igual a seu custo marginal. As implicações normativas dessas
hipóteses são fundamentais para o enfoque estático de eficiência alocativa, predominante em
praticamente todas as aplicações de política econômica.
Finalmente, a teoria de concorrência perfeita proposta por Schumpeter tem como
principal característica sua inserção numa visão dinâmica e evolucionária do funcionamento
da economia capitalista. Por ela, a evolução desta economia é vista ao longo do tempo (e por
isso é dinâmica e evolucionária) como baseada num processo ininterrupto de introdução e
difusão de inovações em sentido amplo, isto é, de quaisquer mudanças no “espaço
econômico” no qual operam as empresas, sejam elas mudanças nos produtos, nos processos
produtivos, nas fontes de matérias primas, nas formas de organização produtiva, ou nos
próprios mercados, inclusive em termos geográficos. Sendo assim, qualquer inovação, nesse
sentido amplo, é entendida como resultado da busca constante de lucros extraordinários,
mediante a obtenção de vantagens competitivas entre os agentes (empresas), que procuram
diferenciar-se uns dos outros nas mais variadas dimensões do processo competitivo, tanto os
tecnológicos quanto os de mercado (processos produtivos, produtos, insumos, organização;
mercados, clientela, serviços pós-venda).
Ademais, a concorrência schumpeteriana caracteriza-se pela busca permanente de
diferenciação por parte dos agentes, por meio de estratégias deliberadas, tendo em vista a
obtenção de vantagens competitivas que proporcionem lucros de monopólio, ainda que
temporários. Por isso mesmo, concorrência não é o contrário de monopólio. Se
bem-sucedida, a busca de inovações em sentido amplo, deve gerar monopólios, em maior ou
menor grau e duração. Se eles serão ou não eliminados eventualmente, por meio de novos
concorrentes e/ou imitadores, é algo que não pode ser preestabelecido. Na ocorrência de
retornos crescentes à escala, como é frequente, vantagens monopolísticas tendem a se
consolidar, em vez de desaparecer. A concorrência é um processo (ativo) de criação de
espaços e oportunidades econômicas, e não apenas, ou principalmente, um processo (passivo)
de ajustamento em direção a um suposto equilíbrio, nem supõe qualquer estado de equilíbrio,
como nos enfoques clássico e neoclássico. O desfecho do processo de concorrência não é
predeterminado, mas depende de uma interação complexa de forças que se modificam ao
longo do mesmo processo — mecanismos dependentes da trajetória (path dependence),
tornando muitas vezes impossível prever a própria existência, que dirá as características de
um estado terminal. Esse, por sinal, é um traço típico de processos evolutivos.
Nessa concepção, concorrência implica o surgimento permanente e endógeno de
diversidade no sistema econômico capitalista, também como convém a um processo
evolutivo. Importa mais a criação de diferenças, por meio das inovações em sentido amplo,
do que sua eliminação, mesmo que tendencial, como nos enfoques clássico e neoclássico.
Há muitas dimensões da concorrência, sendo a concorrência em preços apenas a mais
tradicional e mais simples, mas não a mais importante ou a mais frequente. A concorrência se
dá também por diferenciação do produto (inclusive qualidade) e, especialmente, por
inovações, que no sentido schumpeteriano, envolve toda e qualquer criação de novos espaços
econômicos (novos produtos e processos, novas formas de organização da produção e dos
mercados, novas fontes de matérias-primas, novos mercados). Essa ênfase na diferenciação
dos agentes e na multiplicidade dos instrumentos de concorrência e dos ambientes
concorrenciais consolidam a centralidade de elementos como a diversidade estratégica e a
variedade tecnológica na análise da concorrência.
A empresa é a unidade de análise da concorrência schumpeteriana, por ser a unidade
de decisão e de apropriação dos ganhos. O mercado é o seu locus, definido como o espaço de
interação competitiva principal entre as empresas em sua rivalidade e orientação estratégica.
Embora a unidade de análise seja a empresa, há, portanto, um componente subjetivo de
avaliação estratégica, isto é, as condições ambientais. As condições ambientais são decisivas
— seja no nível de mercado, onde se dá efetivamente o processo de concorrência, seja no
nível mais geral, sistêmico, onde se definem as externalidades e as políticas que afetam a
concorrência.
A interação, ao longo do tempo, entre as estratégias das empresas, isto é, as
estratégias competitivas, de um modo geral, e as estruturas de mercado preexistentes gera
uma dinâmica industrial, pela qual a configuração de uma indústria, em termos de produtos e
processos (tecnologias) utilizados, vai se transformando ao longo do tempo. As estruturas de
mercado são relevantes, mas não algo único nem imutável. Essas estruturas são em grande
medida endógenas ao processo competitivo, e sua evolução deve ser vista no contexto da
interação dinâmica entre estratégia empresarial e estrutura de mercado. Nesse enfoque,
concorrência não é um “dado” ou um conjunto de “precondições” necessários para o
equilíbrio competitivo, como em teorias supracitadas, tampouco é um processo de
ajustamento e posições de equilíbrio, com eliminação de lucros anormais e de desvios
considerados fortuitos, como visualizado nas teorias clássica e neoclássica. É, na verdade, um
processo de interação entre empresas voltadas à apropriação de lucros — à valorização dos
ativos de capital — que não pressupõe nem conduz a algum equilíbrio. Ao contrário, está
relacionada a desequilíbrios oriundos do esforço de diferenciação e criação de vantagens
competitivas pelas empresas, que se esforçam por retê-las na forma de ganhos monopolistas,
ainda que temporários e restritos a segmentos específicos de mercado.
No que tange a abordagem neoschumpeteriana, em sua analogia evolucionária
proposta por Nelson e Winter são introduzidas as noções básicas de busca (“search”) de
inovações, procedidas pelas empresas a partir de estratégias; e de seleção (“selection”) dos
resultados econômicos dessas mesmas inovações, realizada pelo mercado — o ambiente de
seleção por excelência — e, secundariamente, por outras instituições (centros de pesquisa,
universidades, etc). Este tipo de análise microdinâmica e os modelos desenvolvidos por esses
e outros autores da corrente evolucionária neo-schumpeteriana baseiam-se na interação
temporal entre as estratégias empresariais, que envolvem o referido processo de busca de
inovações e o processo de seleção pelo mercado dessas mesmas inovações. A trajetória
resultante — a evolução temporal da indústria, em que se vai modificando endogenamente
por meio das inovações e de sua seleção pelo mercado, a configuração ou a estrutura da
indústria em termos de produtos, tecnologias, participações e concentração de mercado etc.
— é o principal objeto de análise.
Em suma, a concorrência schumpeteriana é uma teoria em que a criação de novas
oportunidades lucrativas — a dimensão ativa da concorrência, capaz de promover
incessantemente diferenciação entre os agentes e transformações na esfera econômica — é
tão ou mais importante que a tendência a eliminação de vantagens ou de diferenças entre os
agentes — a dimensão passiva da concorrência. O destaque dado no enfoque schumpeteriano
ao conceito de inovações em sentido amplo reflete essa idéia crucial: não se trata apenas de
enfatizar a mudança tecnológica, mas toda e qualquer mudança no espaço econômico,
promovida pelas empresas em busca de vantagens e consequentes ganhos competitivos. É
esta — a dimensão “ativa” da concorrência, criadora de todo tipo de variedade dentro do
sistema econômico capitalista, e não eventuais “ajustamentos” a uma nova posição de
equilíbrio, como nas tradições anteriores.
A análise normativa empregada universalmente em teoria econômica é, ainda hoje, a
baseada nos conceitos de bem-estar social e correspondente eficiência social ou alocativa.
Posições monopolísticas são tratadas, na microeconomia tradicional, como associadas a uma
restrição da oferta e a preços acima do nível competitivo, supondo que a empresa esteja
maximizando lucros a curto prazo. A noção de poder de mercado é diretamente definida por
essa capacidade de fixar preços acima dos custos marginais e unitários, obtendo lucros acima
do “normal”. Nesse enfoque estático, o poder de mercado permite ao monopolista
apropriar-se de parte do excedente do consumidor (efeito distributivo) e acarreta redução de
eficiência alocativa para o consumo da sociedade (efeito alocativo conhecido como perda de
bem-estar social ou ônus de monopólio). Nesse quadro, supõe-se que a preservação de
posições monopolistas têm por efeito, assim como por desígnio, exercer um tal poder
discricionário sobre os preços de forma mais ou menos automática. Os casos de oligopólio
recebem um tratamento essencialmente semelhante, embora menos unívoco.
Em princípio, agentes oligopolistas racionais deveriam operar como um monopólio
com maximização conjunta de lucros, que por sua vez seriam repartidos por quotas. Condutas
concertadas, explícitas ou tácitas, implicam preços e lucros supra competitivos, embora não
necessariamente no nível de maximização conjunta, e em geral em nível a princípio
indeterminado. Seja como for, o resultado é tratado analogamente ao monopólio, isto é, como
manifestação e exercício de poder de mercado, com prejuízo líquido alocativo para a
sociedade. As exceções amplamente aceitas são apenas os chamados monopólios naturais —
e, por extensão, “oligopólios naturais” —, decorrentes de escalas mínimas eficientes das
empresas que, devido a uma presença importante de economias de escala e/ou de escopo, são
significativos em comparação com o mercado. Tais situações tendem a ser aceitas como um
custo social em perda de bem-estar a ser concedido em troca do benefício social de maior
eficiência estática (custos unitários mais baixos), desde que o monopólio seja submetido à
regulação pública para assegurar que os preços de fato socializem tal benefício.
Em todo esse tratamento analítico convencional perpassa a ênfase no preço e o viés
estático, inclusive para expressar poder de mercado; ambos objeto de crítica original por
parte de Schumpeter (1943) e dos autores neo-schumpeterianos, que vêm buscando
recentemente tratar das implicações normativas da teoria schumpeteriana da concorrência.
Quanto ao primeiro aspecto (preço), vale ressaltar que no enfoque schumpeteriano a
concorrência não se reduz à concorrência em preços, assim como o poder de mercado não se
expressa apenas neles. A concorrência, especialmente no âmbito das grandes empresas
oligopolistas, se dá com instrumentos muito mais poderosos e eficazes, capazes de criar todo
tipo de diferenciação (tecnológica, produtiva, comercial, organizacional, de mercado,
estratégica) entre os concorrentes na busca pela apropriação de ganhos diferenciais ou
quase-rendas monopolistas — caracterizado por Schumpeter como inovações lato sensu. —
Nesse contexto, o poder de mercado é bem mais diversificado nas causas e formas de
manifestação, assim como nas possíveis formas de controle, do que o simples mecanismo de
preços.
Quanto ao viés estático, Schumpeter argumentou que os comportamentos restritivos
associados convencionalmente às grandes empresas monopolistas e oligopolistas são apenas
um momento, não raro temporário, do processo concorrencial, por ele visto dinamicamente
como de “destruição criativa” das estruturas econômicas preexistentes. Evitar que esses
ganhos monopolísticos sejam rapidamente exauridos por imitação fácil e difusão precoce é
condição indispensável para assegurar retorno econômico aos investimentos voltados às
inovações bem-sucedidas, viabilizando um fluxo razoável das mesmas e os efeitos dinâmicos
de bem-estar decorrentes. Distinguir entre esses casos e os de mero abuso de posição
dominante no mercado é, em princípio, difícil, provavelmente não comportando regras
simples e gerais. No entanto, é essencial que uma política de concorrência, e
consequentemente a análise econômica antitruste, reconheça a importância do problema,
para melhor enfrentá-lo.
Uma política de concorrência — às vezes chamada de política de “defesa da
concorrência” — tem por finalidade precípua tanto proteger como estimular a concorrência
nos mercados onde ela esteja ameaçada, seja por intermédio da própria legislação antitruste,
seja pela ação dos órgãos por ela incumbidos desse tipo de intervenção nos mercados.
Portanto, nessa perspectiva teórica schumpeteriana, ela não pode ser vista como
intrinsecamente antagônica à existência de posições monopolistas ou oligopolistas, ou seja,
de poder de mercado diferenciado.
A criação e ampliação de poder de mercado, em primeiro lugar, tanto ou mais que a
atenuação de assimetrias, em segundo lugar, constituem aspectos inseparáveis do processo
de concorrência. No primeiro caso, por assim dizer, sua dimensão que chamamos de “ativa”,
transformadora das estruturas econômicas mediante inovações e reprodutora das
desigualdades de poder econômico entre os agentes; e no segundo sua dimensão que
denominamos “passiva”, de ajustamento a eliminação de diferenças, por imitação, inovações
secundárias e entrada nos mercados. Em qualquer caso, nem o equilíbrio, nem a equalização
das assimetrias, nem a supressão do poder econômico são características do processo
concorrencial, que dirá suas propriedades principais, como suposto pela teoria tradicional.
Por fim, é necessário uma referência ao âmbito da concorrência e de um de seus
atributos principais, a competitividade. Embora tanto concorrência como competitividade
tenham como unidade a empresa no nível da ação estratégica, o mercado é de fato, como
reconhecido na tradição antitruste, um espaço privilegiado tanto na teoria como na
intervenção normativa e reguladora. Do ponto de vista teórico, isto se deve não só ao fato de
o mercado ser o locus da concorrência, mas especialmente porque os instrumentos da disputa
competitiva são definidos por características técnico-produtivas específicas de cada indústria
e por características do produto associadas à demanda; isto é, no âmbito do mercado;
podendo mesmo configurar determinados padrões de concorrência — quando apresentem
alguma regularidade. Além disso, aspectos regulatórios, infra-estruturais, sociais e mesmo
macroeconômicos — sistêmicos, em suma — agem de forma decisiva para calibrar a
intensidade do processo competitivo e eventualmente reforçar a competitividade das
empresas ali atuantes e, por extensão, da indústria correspondente. Preservar e fortalecer a
concorrência, nesse quadro, implica a criação/reprodução de um ambiente competitivo, que
compreende estratégias empresariais inovativas e a adoção de critérios de eficiência
produtiva, no plano das empresas. Atinente ao plano de mercado, a presença sistemática de
pressões competitivas internas e potenciais (ameaça de entrada) e de fatores sistêmicos
favoráveis à concorrência e à competitividade, seja oferecendo externalidades positivas
(infra-estrutura adequada, mão-de-obra qualificada etc), seja assegurando condições
macroeconômicas favoráveis ao crescimento e ao financiamento, seja mesmo por meio de
legislação adequada e outros instrumentos de defesa da concorrência e da política industrial.
A implicação mais clara dessas considerações é que a concorrência e a
competitividade não surgem de forma espontânea, mas dependem de modo crucial da
adequação das condições ambientais e, por extensão, de medidas de política econômica. Em
outras palavras, concorrência e competitividade devem ser construídas, tanto por iniciativa
da política econômica com apoio da própria legislação antitruste e regulatória, quanto pelas
estratégias das próprias empresas, pressionadas pela concorrência local ou (principalmente)
pela mundial, num contexto globalizado como o atual.
Nessa linha de raciocínio, é possível concluir que fortalecer a concorrência não
implica obrigatoriamente “enfraquecer” as empresas. No enfoque schumpeteriano, a
concorrência fortalecida requer um ambiente intensamente competitivo, o qual, por sua vez,
supõe empresas competidoras fortes, isto é, empresas competitivas, por sua capacitação e por
sua eficiência técnica, produtiva e organizacional. Na visão schumpeteriana da concorrência,
um mercado atomístico, composto de empresas economicamentes insignificantes e
desprovidas de qualquer poder de mercado, enquanto paradigma competitivo, é uma
lamentável ficção da ortodoxia econômica que, se verdadeira, debilitaria o ambiente
competitivo e o processo de concorrência ao ponto de tornar este último inoperante, com
consequentes prejuízos ao consumidor e ao bem-estar social, quando visto em perspectiva
dinâmica.

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