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15 estágios finais da A maioria dos magmas de silicato, como vimos, solidifica-se numa gama considerável

cristalização magmática de temperaturas. O últ imo material a crista lizar consiste de um fluido composto prin-
cipalmente de água e constituintes do fe ldspato a lcalino ; sódio, potássio, alumínio
e sílica. Geralmente, mas não sempre, a sílica está em excesso sôbre a quantidade
necessária para formar feldspato, de maneira que o fluido residual forma um material
sólido com a composição do granito.{Êste tipo de fluido pode ser produzido em pe-
quenas quantidades pela cristalização de magma basáltico e em quantidades maiores
pela cristalização de magma granítico ou granodiorítico; êle ta mbém pode se formar
pela fusão inicial de ma terial rochoso heterogêneo durante extremo metamorfismo.
É um fluido geológico comum muito interessante, pois contém freqüentemente, além
de água, sílica e constituintes d.o feldspato, uma quantidade de constituintes secun-
dários que formam tipos curiosos de rochas e alguns depósitos de minérios: Examina-
remos agora os detalhes da formação e cristalização de tais fluidos residuais.

15-1. TIPOS DE PROVAS DISPONIVEIS

Dispomos aqui de uma base muito menos sólida do que no caso das rochas
ígneas normais. Os dados de labora tório são consideràvelmente mais reduzidos pela
boa razão de que o manuseio de gases corrosivos a altas temperaturas e pressões é
um problema experimental bastante dificil. Os estudos teóricos estão limit ados pela
grande quantidade de variáveis que devem ser levadas em consideração e pela falta de
dados a partir d_os quais poderí amos dar valôres razoáveis a essas variáveis. Quanto
às obJervações, os dados geológicos estão longe de serem satisfatórios, pois os ma-
teriais encontrados no campo não são os equivalentes sólidos dos fluidos residuais
como tais, mas somente o resíduo deixado depois que grande parte do fluido escapou
para a atmosfera, para a água do solo ou para o oceano. Uma grande parte da dis-
cussão neste capítulo deverá ser necessàriamente especulativa, baseada parcialmente
em princípios tisico-químicos gerais, parcialmente em dados experimentais e par-
cialmente em indícios obtidos a partir de observações geológicas.
Para começar. podemos esperar que o fluid o residual da cristalização de um
magma apresente uma certa concentração de substâncias de baixo ponto de fusão,
as assim chamadas substâncias voláteis, que estavam origina lmente dissolyidas no
11 fundente silicoso. A natureza geral dêsses voláteis pode ser deduzida da composição
dos gases vulcânicos (Capítulo 16), das pequenas inclusões fluidas nos minerais de
rochas ígneas, e do tipo de al_teração encontrada nas paredes rochosas ao redor de
massas intrusivas. Tais provas sugerem que os voláteis podem variar consi-
deràvelmente de uma massa magmática para outra, consistindo predominan-
temente de água com pequenas quantidades de dióxido de carbono, ácido clo-
rídrico, ácido fluorídrico, compostos de enxôfre, nitrogênio e compostos de boro.
Em adição aos volá teis, a evidência geológica indica a presença de compostos metá-
licos, principalmente NaCl com menores quantidades de compostos de potássio,
cá lcio, magnésio, ferro e traços de muitos ou tros. Alguns dos metais secu ndários
podem apresentar altas concentrações localizadas ; bons exemplos são cobre, ch umbo
e zinco nos sublimatos vulcânicos, e berílio, lítio, urân io e tório em alguns diques
pegmatítico~. Generalizando, podemos concluir que o fluido resid ual contém ma-
teriais de, pelo menos, três espécies: substâncias com moléculas notàvelmente estáveis
que são gasosas nas temperaturas magmáticas, compostos que são muito solúveis
cm ág ua, e elementos cujos (ons não se enquadram fàci lmente nas estruturas dos mi-
62 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ESTÁGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMÁTICA 63

nerais silicosos em crescimen;o. Êstes materiais, por assim dizer, são os desajustados fundidade de 10 km) e, neste caso, podemos ter uma mecanismo possível para as
do magma, constituintes que, por uma razão ou outra, não podem comumente se erupções vulcânicas explosivas. Por outro lado, a ebulição não se dará se a quanti-
tornar parte das rochas ígneas normais. dade de voláteis fôr pequena de maneira que a pressão de vapor máxima atingida
Para darmos a esta discussão um caráter geológico concreto, usaremos o modêlo antes que a cristalização se complete seja inferior à pressão litostática. Serão as paredes
convencional de uma massa magmática resfriando numa "câmara" bem definida a da câmara de mag ma impermeáveis a um líquido silicoso viscoso, mas livremente
alguns quilômetros ou dezenas de quilômetros abaixo da superfície da terra. O fluido permeáveis aos gases? Nestas condições, nada impediria a separação de uma fase
residual será visto como que formando os interstícios entre os cristais em crescimento, gasosa durante a cristalização, pois a única pressão a ser vencida é a pressão atmos-
como que se depositando em bolsões e fissuras na massa sólida circundante e como férica na profundidade da câmara de magma ou, no máximo, a pressão hidrostática
que escapando parcialmente para dentro das rochas que encapsulam a massa mag- da água nas fissuras acima da câmara de magma. Assim, a ebulição de um líquido
1!1ática. Na melhor das hipóteses, tal modêlo é tremendamente supersimplificado. em resfriamento pode ou não ocorrer, dependendo de uma variedade de fatôres que
Ele é completamente irrealista quando consideramos a fusão incipiente durante o não podem sequer ser avaliados semiquantitativamente.
metamorfismo, onde o fluido que estamos considerando seria mais "inicial" do que Se houver ebulição (note-se que êste é um fenômeno diferente da ebulição comum)
"residual". Mas, para evitar uma monótona repetição, consideraremos a conveniência esta ebulição resultará de um resfriamento e será conseqüência direta de um aumento
de usar um único modêlo, modêlo êste que tem os méritos da simplicidade mecânica de pressão de vapor devido ao confinamento de gases dissolvidos numa massa líquida
e da correspondência demonstrável com, pelo menos, um tipo de situação geológica cada vez menor. A um aumento de pressão de vapor devido a simples aquecimento
onde os fluidos residuais estiveram ativos. segue-se a ebulição comum. A temperatura na qual um líquido magmático hipotético
pode ferver por ·resfriamento é freqüentemente chamada segundo ponto de ebulição.
15-2. RELAÇÕES DE FASE
Solubilidade da Água em Fundentes de Silicatos
O "Segundo Ponto de Ebulição" Dados experimentais de misturas silicato-água dão uma idéia quantitativa apro- ·
Imaginemos uma massa magmática resfriando em ~lgum ponto abaixo da super- ximada das temperaturas, pressões e composições envolvidas na separação de uma
fície. Inicialmente, tomemos a temperatura e pressão como sendo suficientemente fase gasosa de um magma. Tais experiências são difíceis e muitos dos dados mais anti-
altas, e que o magma consiste numa única fase líquida. Os materiais potencialmente gos provàvelmente não sejam de confiança. Trabalhos recentes de Burnham e Jahns
voláteis estão dissolvjdos no líquido, alguns dêles quimicamente ligados aos grupos (1962), resumidos na Fig. 15-1 , indicam que a quantidade dissolvida num líquido gra-
silício-oxigênio e outros movendo-se nos espaços entre os grupos. Começa a crista- nitico 1aumenta indefinidamente com a pressão, mas não excederia 15 % no pêso a
lização e o sistema agora consiste numa fase líquida e numa ou mais fases sólidas. temperaturas e pressões que podem ser esperadas num magma em resfriamento. A
(É possível uma segunda fase líquida consistindo em su lfetos ou, em composições mistura de silicatos usada nesta investigação, obtida de um pegmatito, contém um
extremas, mesmo uma segunda fase silicosa líquida, mas, no momento, desprezaremos pouco mais de sílica e um pouco menos de CaO e K 2 0 do que o granito médio, mas
tais possibilidades.) Com o decorrer da cristalização, o volume do líquido remanes- trabalhos exploratórios de outros pesquisadores indicam que a solubilidade da água
cente torna-se cada vez menor e nesse volume decrescente concentram-se os voláteis. não é consideràvelmente afetada por uma mudança de composição, mesmo de granito
Surge aqui a questão: confinados num volume cada vez menor, os voláteis separar-se-ão para basalto. Se aceitarmos os dados da Fig. 15-1 como típicos de um fundente ·gra-
eventualmente como uma fase gasosa? Em outras palavras, o líquido ferverá? nítico, poderemos estimar que o líquido residual de uma massa intrusiva a uma pro-
Esta é uma pergunta muito mais complicada do que parece à primeira vista. fundidade de 10 km ferveria quando a cristalização durante o resfriamento tivesse
Existem dois fatôres que atuam no sentido de modificar a pressão de vapor do líquido aumentado o seu teor de água para cêrca de 7 %.
em resfriamento: a tensão de vapor tende a diminuir por causa do resfriamento e, A temperatura mais alta na qual uma "segunda ebulição" pode ocorrer é a tem-
ao mesmo tempo, tende a aumentar pois os constituintes mais voláteis tornam-se peratura na qual os cristais começam a aparecer num fundente em resfriamento, em
cada vez mais concentrados. Qual dêstes fatôres é mais importante? Óbviamente, outras palavras, ao longo do líquidus do sistema silicato-água. A temperatura do
a resposta deve depender da quantidade e da natureza dos voláteis presentes. Mesmo líquidus para o pegmatito do estudo de Burnham e Jahns está representada como uma
se esta questão pudesse ser respondida em favor de um aumento líquido da tensão função do vapor d'água na Fig. 15-2. Além da pegmatita, o diagrama inclui o líquidus,
de vapor, a separação de uma fase gasosa não estaria garantida, pois a ebulição só determinado experimentalmente, da albita e uma curva de fusão incipiente para o
se dá quando a pressão do vapor excede a pressão externa. Qual é a pressão externa? granito (Tuttle e Bowen, 1958, pág. 83). O efeito de uma pequena quantidade de água
Aqui se evidencia porque o nosso modêlo não é adequado. Senão as paredes da câmara sôbre os pontos de fusão das três substâncias é notável. Note-se, por exemplo, que o
de magma impermeáveis e infinitamente resistentes, de modo que a pressão possa granito sêco não começa a fundir até que a temperatura chegue acima de 900ºC, mas
aumentar indefinidamente? Neste .caso a ebulição poderia ser imped·qa; mas tal na presença de 1000 atm de vapor d'água, a fusão incipiente ocorre perto dos 700ºC.
quadro, levado aos seus extremos, e evidentemente absurdo. Serão as pai!.edes da câ- A parte de alta pressão da curva do granito não é absolutamente certa; a temperatura
mara de magma impermeáveis mas limitadas em sua capacidade de conter o gás pela da primeira fusão torna-se quase constante com o aumento da pressão, mas acima de
pressão das rochas sobrepostas? Neste caso a ebulição ocorrerá se a quantidade de 4 kilobárias não há certeza de ela subir ou descer ligeiramente.
material volátil fôr suficientemente grande para produzir uma pressão de vapor acima A separação de uma fase gasosa rica em água a partir de um magma pode se dar
da pressão litostática (por exemplo, aproximadamente 2500 atm a uma pro- por uma abundância de pressão, bem como de concentração, durante a cristalização.
4 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA
ESTAGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA 65

Profundidade equivalente aproximada, km


8 16 24 32 40 Profui:iqidade equivalente aproximada, km
8 16 24 32 40

20 1100 º

o
uo 1000 º
"'o.
<CI) Líquido + gás

e
C)
15
o
-:E
700 º --- ---
E Pegmatito
a 10 6000

e:"'
"'...u 2 4 6 8 10
o
o.. Pressão de H 2 0, quilobárias
5 Líquido
FIG. 15-2. Efeito do vapor d'água sôbre a curva líquidus do pegmatito de Harding e sôbre a da
a/bita, e sôbre a temperatura de fusão incipiente do granito. As temperaturas para a
curva liquidus do pegmatito e as de inicio de fusão do, granito estão próximas das tem-
peraturas do mínimo ternário no sistema silica-álcalijeldspato (Fig. 14-3); a tempe-
2 -1 6 8 10 ratura de fusão do mineral a/bita isolado é consideràvelmente mais alta. Fontes: Para
Pressão em quilobárias a/bita e pegmatito, Burnham e Jahns, 1962, p. 732. Para granito, Tuttle e Bowen, 1958,
p. 83.
FIG. 15-1. Solu611idade da água num fundente granítico a temperaturas ligeiramente acima das
da curva líquido saturado. Os números ao longo da curva indicam as temper,aturas apro-
ximadas das quais os pontos experimentais foram obtidos. O fundente utilizado foi de a possibilidade de que parte do material pode se dissolver no vapor e escapar com êste.
um P,egmatito em Harding, N Mex. Fonte: Burnham e Jahns, 1962, p. 735. Mas as condições das experiências que estamos considerando aqui diferem radical-
mente das condições normais de laboratório, e uma solubilidade mensurável de sílica
e silicatos na água sob forma gasosa, a altas pressões e temperaturas, é confirmada
Aqui também podemos fazer uma· previsão quantitativa aproximada a partir da Fig. por uma série de observações. Uma descrição exata das fases do sistema experimental,
15-1. Se, por exemplo, um magma granítico a 700ºC, contendo 10 % de água dissol- incluiria, então, uma ou mais fases cristalinas sólidas, uma fase líquida de silicatos
vida deslocar-se de uma profundidade de 20 km para uma profundidade de 4 km, contendo alguma porcentagem de água dissolvida e uma fase fluida consistindo numa
êle deverá perder mais da metade de sua água, uma vez que a 1000 atm a solubilidade solução rica em água supercrítica.
é reduzida para cêrca de 4 %- Na natureza, a situação seria ainda mais complicada, pois a fase fluida que se
separa durante o resfriamento, ou durante cristalização, conteria não somente pe-
Vapor d'água como Solvente quenas quantidades de sílica e silicatos dissolvidos, mas também quantidades muito
Estamos descrevendo o vapor que se separa como água pura, mas, na realidade, maiores das substâncias mencionadas nos parágrafos de introdução como consti-
isto é uma simplificação. Nas temperaturas e pressões das experiências de Burnham tuintes dos voláteis vulcânicos. A composição de tal so lução gasosa a a ltas tempe-
e Jahns, a água está bem acima do seu ponto crítico (veja a próxima Sec.) e tão com- raturas pode ser apenas estimada, mas a evidência das emanações vulcânicas e do
primida que a sua d@nsidade é comparável com a da água líquida comum. Em tais fluido prêso em pequenas cavidades dos minerais ígneos sugere que a solução pode
condições, a água gasosa (ou supercrítica) apresenta considerável capacidade como ser bastante concentrada, particularmente cm cloreto de sódio. Com tal solução,
solvente, de maneira que o "gás" que aparece nas experiências deve conter quantidades não podemos ter mais certeza de que ela se acha acima do ponto crítico, uma vez
apreciáveis de sílica, sódio e potássio. À primeira vista isto parece estranho, uma vez que sabemos que os sais dissolvidos elevam o ponto crítico da água. Se acontecer,
que estamos acostumados a considerar o vapor d'água como não tendo nenhuma ca- seja inicialmente, seja durante o decorrer do resfriamento, de a temperatura · da so-
pacidade como solvente; na realidade, freqüentemente separamos os materiais não lução gasosa cair abaixo do ponto crítico, tornar-se-á possível a separação de outras
volát.eis da água por aquecimento, sepa.rando o vapor d'água e nem sequer considerando fases. Em adição às fases sólidas, podemos imaginar agora três fases fluidas :""o 'fun-
dente de silicato viscoso remanescente, um líquido rico em água contendo boa quan-
INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ESTÁGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMÁTICA

1idt1dc d sa is dissolvidos, e um vapor rico em água. Para explorarmos mais a fundo


I< das as possibilidades, desviar-nos-emos um pouco para considerar o fenômeno
g ·ral do ponto crítico em sistemas de componentes múltiplos.
10 por cento /
/
de NaCl em pêso
500
16-3. O PONTO CRITICO

ú
Definições ll
Pontos críticos de ll
/,
O dióxido de carbono, sob pressão num tubo de vidro de parede grossa, apre- soluções de NaCl /,
senta uma separação bem definida de líquido e vapor. Se o tubo fôr aquecido, o menisco não-saturadas
~/,
400 !.
que separa as duas fases tornar-se-á mais fino e menos curvo; a 35º êle, repentinamente
!.
desaparecerá. Se o tubo fôr resfriado, o menisco reaparecerá à mesma temperatura. /
5 por cento
Dizemos que o dióxido de carbono tem uma temperatura crítica de 35º, significando 1
Tensão de vapor de
de NaCl em pêso
que acima desta temperatura não podem existir duas fases fluidas. A pressão mínima
necessária para manter um líquido à temperatura crítica, ou _logo abaixo, é a pressão 8....._o ll
soluções de NaCl
crítica. Acima da temperatura crítica, nenhuma pressão pode causar o aparecimento /, Saturada ---.....____
~
de um líquido. O volume crítico é o volume específico na temperatura crítica e na ,g- 300 2 por cento 1 /, 10 por cento em pêso"v
/ /
pressão crítica. "'"' de NaCl em pêso /
/
A nomenclatura é um tanto confusa no que diz respeito às fases logo acima e ~ A /
/l., 5 por cento em pes~ /
logo abaixo do ponto crítico. Uma substância imediatamente acima do seu ponto
crítico não pode ser descrita propriamente como uma "fase gasosa" ou "fase líquida",
Ponto crítico
uma vez que ela apresenta a capacidade da primeira em se expandir indefinidamente
daágua C
e a compacidade molecular da segunda. O têrmo "fluido" é aplicável, mas êste têrmo
também refere-se a líquidos e vapôres comuns - a qualquer material capaz de fluir 200
sob a ação de fôrças infinitesimais. Alguns a·utores restringem o têrmo "gás" a subs-
tâncias acima dos seus pontos críticos e "vapor" a fases de baixa densidade abaixo
dos seus pontos críticos; mais comumente, os dois têrmos são indistintamente empre-
gados abaixo do ponto crítico. Na presente discussão, uma substância acima da sua
temperatura crítica será chamada tanto de "gás" como "fluido" ou, especificamente,
"fluido supercrítico" quando o significado não fôr suficientemente claro no texto.
Note que um fluido supercrítico pode ter qualquer densidade, desde a de um gás 100
rarefeito até a de um líquido a baixa temperatura. A capacidade dos gases quentes e
comprimidos em disso lver substâncias não-voláteis, referida na última seção, só se
aplica a fluidos supercríticos de alta densidade. Isto, evidentemente, requer altas
pressões. O estado supercrítico em si não é causa de maior solubilidade; um gás su-
300º 350º 400º 450"
percrítico de baixa densidade tem tão pouco poder solvente como o vapor da subs-
tância perto do ponto de ebulição. Mas os fluidos supercríticos de alta densidade Temperatura, ºC
apresentam espaçamento molecular equivalente ao do de um líquido e seria de esperar
que apresentassem o mesmo poder solvente. Repetindo: não é comumente a alta FIG. 15-3. Curvas de tensão de _vapor e curva do ponto crítico de soluções de NaCI. Fonte: Ólander
temperatura, mas sim a alta pressão que torna materiais não-voláteis solúveis no e Ifonder, 1950.
vapor d'água que esca·pa de um magma.
solução aquosa de 2 % de NaCI (aproximadamente 0,4M) tem um ponto crítico de
Efeito dos Solutos 399º, e uma solução a 5 %, 424º, enquanto que a água pura tem um ponto crítico de
374º. Êstes pontos estão indicados na Fig. 15-3, que é uma extensão do canto superior
O ponto crítico de uma substância é modificado pela adição de solutos, como direito da Fig. J 3-1. Em ambos os diagramas, o ponto C, na extremidade superior çla
acontece com os pontos de ebulição e congelemanto. Experimentalmente se verificou curva de pressão de vapor, é o ponto crítico da água pura (374ºC, 224 Kg/cm 2 ). A
que os solutos de maior volatilidade abaixam o ponto crítico, enquanto que solutos curva de pressão de vapor para a água não continua além dêsse ponto, uma vez que
menos voláteis, com algumas exceções, elevam o ponto crítico. Por exemplo, uma a tempera tura e pres ões superiores não existe distinção entre líquido e gás. As três
CIII INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ESTAGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA 69

linhus C()l111nuas e linus da fig. 15-3 são curvas semelhantes de pressão de vapor para
so luçt es de Na I a difcrenles concenlrações; estas soluções apresentam pressões
de vapor menores e pontos crí1icos maiores do que a água pura. A linha tracejada
fina que e eslende além do ponlo C é o lugar geométrico dos pontos críticos de soluções
de Na l cada vez ma is concentradas. A área acima dessa linha representa uma fase
íluida ún.ica e a área abaixo da linha indica equilíbrio entre soluções não-saluradas
e vapor. A linha tracejada inferior é a curva de pressão de vapor das soluções saturadas,
cm outras palavras, a linha representando 9 equ ilíbrio trifásico entre sal sólido, so-
lução e vapor. Para mostn;r as relações detalhadamente, necessit a ríamos de um dia-
grama tridimensional, com as relações NaCJ/H 2 0 como a terceira variável.
Num magma parcialmente solid ificado, os diversos sólidos em equilíbrio com
os fluidos residuais estariam presentes em grandes quantidades. Daí surge uma ques-
tão pertinente que deve ser formulada sôbre os dados experimentais referentes ao
NaCl: suponhamos que o NaCI sólido acha-se presente em grande excesso quando é,
o
a temperatura e pressão sobem acima dos limites indicados na Fig. 15-3, de maneira "'
que a soiução torna-se indefinidamente mais concentrada; poderia esta solução sa-
turada, em contato contínuo com o sólido, atingir o ponto ·crítico? Em outras pala-
vras, com o NaCI sólido presente, existirá um ponto onde o líquido e o vapor apro- ...8.
ximam-se da mesma composição? Pelo falo de que a curva dos pontos crílicos e a +
curva de saturação (as duas linhas tracejadas) na Fig. 15-3 divergem tão acentua-
o
"O
:=
g
damente, podemos supor que a resposta seja negativa. Felizmente, para êste sis1ema ~ "'
dispomos de suficientes dados experimentais para verificar nossa suposição (Ôlander .
z
ü
~
e Liander, 1950 ; Sourirajan e Kennedy, 1962). z
Os dados para uma gama de lemperaturas . enlre 350 e 700ºC e para pressões
a1é 1300 bárias es1ão indicados pelas linhas contínuas grossas na Fig. 15-4, e são
.."
"O

tJ
·;::1
1 S18~
t:gZ
- +
'C
exlensões das duas linhas tracejadas da Fig. 15-3. As duas curvas são extrapoladas ...
tJ B.~,8
além dos dados experimentais por linhas finas que não estão desenhadas em escala. 8.
Na parte esquerda do diagrama encontramos o diagrama para água pura - um
;:
...o
~-8~
:8E
.
componenle - idêntico ao da Fig. 13-1; no lado direito, o diagrama correspondente "'
:,
........ clj

(hipotético) do NaCI puro. Na realidade, êles deveriam estar em planos diferentes: 'õ
(1)
Ü'E6
u ,..
o desenho é uma projeção de uma figura tridimensional, cujo terceiro eixo é a com- =
posição NaCl- H 2 0; o diagrama de um componente para H 2 0 pode ser considerado
como estando na face dianteira da figura e o diagrama do NaCl na face posterior;
as duas linhas contínuas (CZ e TEU) são linhas no espaço entre as duas faces. A linha
contínua superior CZ liga pontos críticos de so luções não-saturadas com soluções
ricas em água perto do lado esquerdo em C e ricas em NaCl perto do ponto crítico
é,
do NaCI puro em Z. A linha contínua inferior TEU liga os pontos triplos das duas
substâncias putas e, da mesma forma que os pontos triplos, representa o equilíbrio
en tre duas fases fluidas e uma fase sólida. (Esta linha é a vista arestal de uma super-
ficie curva na figura tridimensional com um lado da superficie representando com-
posições de uma solução líquida e o outro composições de uma solução gasosa.)
g o
Embora faltem dados experimenlais para o ex tremo do lado NaCI do diagrama, os
dados existentes mostram claramente que a curva de pressão de vapor para soluções
"'
saturadas tem um máximo e, conseqüenlemente, não intercepta a curva dos pontos
críticos. Isto significa que as duas fases fluidas podem coexistir a qualquer tempera-
lur~. Em outras palav ras, não se pode atingir um ponto crí'tico enquanto houver
NaCl sólido presente.
Substâncias muito menos solú veis que o NaCI comportam-se de maneira di-
ferente. A sílica, por exemplo, aumenta muito pouco o ponto crítico, mesmo quando
70 INTRODUÇÃO A GEOQU(MICA ESTAGIO$ FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA 71

há um excesso de sólido presente, simplesmente porque a solubilidade é muito baixa


a temperatura ao redor dos 400º. Esta situação é indicada diagramàticamente na
parte esquerda da Fig. 15-5. O desenho não está em escala, pois a curva de pressão Pressão, quilobárias (lado direito do diagrama)
de vapor para soluções de sílica saturadas (EQ) está tão próxima .da curva de pressão
de vapor para água pura que as duas seriam distinguíveis em qualquer escala razoável
e os pontos críticos de tôdas as soluções de sílica até a saturação estão separados
do ponto crítico da água por uma fração de grau. Neste sistema, a curva do pontos
--- --- ---
críticos CQ intercepta a curva de pressão de vapor em Q, o " ponto crítico final "; em ,8 .. ; -
outras palavras, em Q a pressão de vapor torna-se igual à pressão crítica (ou a com-
oê>9
posição da "solução" torna-se idêntica à composição do "vapor") e a distinção entre t~ g.v.,
líquido e vapor desaparece. Daí, acima da temperatura representada por Q, somente =.. "
~ 'tl

pode existir uma única fase fluida em contato com síl ica sólida.
"'o
O lad o direito da Fig. 15-5 também é interessante. Êste é o extremo de altas tem- ~
peraturas, mostrando a extremidade misturas com muita sílica e somente um pouco
de água. Aqui também usamos uma projeção bidimensional de uma figura tridimen-
sional ; as curvas de um componente da sílica pura (hipotéticas) podem ser consi-
deradas como estando na parte posterior e as linhas contínuas (ZR e U R) estendem-se
no espaço em direção à face H 2 0 (frontal). A linha contínua grossa indica dados expe-
rimentais (Kennedy e outros, 1962) enquanto que as linhas finais são hipotéticas
não estando desenhadas em escala. Tanto o ponto crítico como o ponto de fusão
da sílica são baixados pela adição de água ; é particularmente interessante a consi-
derável baixa do ponto de fusão , de 1720º a menos de 1200º por uma pressão de va-
por de água de menos de 2 kilobárias. Os trabalhos experimentais demonstram a
existência de um ponto crítico final (ponto R) onde as composições do líquido e do
vapor em equilíbrio com sílica sólida tornam-se idênticas. A curva de pontos crít icos
para soluções ricas em sílica deve se estender deste ponto até o ponto crítico (desco-
nhecido) da Si0 2 pura, indicada diagramàticamente em Z. Contràriam'ente ao que
ocorre no sistema NaCl- H 2 0 , nem a curva de pontos críticos nem a curva de pressão
o
de vapor para soluções saturadas é contínua de um membro extremo a outro. Em o
<O
outras palavras, as soluções saturadas, perto de ambas as extremidades das séries, +
têm pontos críticos e somente uma única fase fluida pode existir em contato com o ...o
u,
o
quartzo sólido numa larga gama de pressões e temperaturas.
i ...
o

Em resumo, as relações de pontos críticos numa solução saturada de uma subs- +


tância não volátil podem seguir um dos dois modelos. Um soluro pode se tornar
s o
indefinidamente mais solúvel com o aumento da temperatura de maneira que existe ..
o]
\
\
\ q
~
:,
o
"'
uma série contínua de soluções desde a água pura até o soluto puro (por exemplo, i' O' \
NaCl) ; neste caso, não se pode alcançar o ponto crítico enquanto houver presença ::::i hl
~ - - - - - -~. l:"1 o
excessiva de soluto e as duas fases fluidas podem coexistir a qualquer temperatura. \
Ou, então, um soluto pode apresentar apenas solubilidade limitada e, neste caso, a o
\
r.; l:Q
so lução terá um ponto crítico ligeiramente acima do ponto crítico da água pura (por o
exemplo, Si0 2 ) ; a temperaturas acima dêste ponto e abaixo do ponto correspondente
para a solubilidade limitada da água no soluto fundido só pode existir uma fase fluida
em contato com excesso de soluto. Presumivelmente, a maioria das substâncias de
o
g g o
o
o
o
o
o
o
r-
alta solubilidade, especialmente substâncias cuja solubilidade aumente rápidamente "' "'
com o aumento da temperatura, apresentarão o primeiro tipo de comportamento, Pressão, bárias (ladc esquerdo do diagrama)
mas não se podem fazer previsões quantitativas com os dados experimentais atual-
mente disponíveis.
12 INTRODUÇÃO A GEOQUIMICA ESTAGIO$ FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMÁTICA 73

Po1110 r/ti ·o em Magmas tada a cristalização ; neste caso, o número máximo de fases fluidas seria dois. (3) Não
apareceu uma fase rica em água, fôsse porque a quantidade de água dissolvida ori-
cndo impo ível prever o efeito de sais simples sôbre o ponto crítico, o efeito ginalmente era tão pequena que foi utilizada na cristalização das micas e anfibolas,
de uma mistura complexa num magma parece, à primeira vista, ser totalmente impre- ou, então, porque o excesso de silicatos alcalinos aumentou sua solubilidade no fun-
visível. Neste caso, estamos lidando não somente com muitas substâncias não-~oláteis dente ; neste caso só poderia existir uma fase fluida. Dizer qual das três possibilidades
mas também com uma variedade de solutos voláteis. Em algum estágio do process~ é a mais provável, depende das quantidades de água, sais e voláteis no fundente ori-
de resfriamento atingirá tal mistura o seu ponto crítico (segundo caso acima) ou per- ginal e êstes valôres não são geralmente determináveis. É concebível que tôdas as
manecerá abaixo dêle em tôdas as temperaturas (primeiro caso)? Não é poss,ível obter três possibilidades estejam representadas em massas magmá ticas diferentes.
uma resposta a partir de bases teóricas e os dados experimentais não são conclusivos.
Por um lado, as experiências de Burnham e Jahns indicam que a água e os cons-
tituintes principais do granito têm miscibilidade limitada. Em outras pa lavras\ uma Significado do Ponto Crítico
mistura granito-água comporta-se como uma mistura sílica-água, enquadrando-se no
egundo caso descrito acima - como seria, talvez, de esperar, uma vez que os prin- Por que é importante a existência ou não do estadô crítico nos fluidos magmá-
cipais constituintes do granito são os muito insolúveis quartzo e aluminosilicatos. ticos residuais? Podem ser sugeridas duas razões. A primeira, cujo interêsse atual
Existe uma complicação adicion_al, pois o grande número de componentes torna pos- é apenas histórico, é a idéia de que fluidos supercríticos podem apresentar proprie~
sível a existência de uma fase silicosa líquida em adição a uma ou mais fases sólidas, dades fora do comum, particularmente uma especial capacidade em dissolver e subs-
porém entre a fase gasosa rica em água e uma mistura sólido-sólido ou uma mistura tituir minerais. Na literatura geológica mais antiga, os processos que supostamente
sólido-líquido, existe uma nítida separação. A fase gasosa pode conter somente pe- dependiam de fluidos supercrí ticos eram freqüentemente chamados "pneumato lí-
quenas quantidades de sílica e de componentes do feldspato e, num fundente em res- ticos", em oposição aos processos "hidrotérmicos", que se supunha limitados a con-
friamento idealmente simples ela estaria necessáriamente acima do seu ponto crítico. dições subcríticas. Trabalhos experimentais modernos mostraram que tal distinção
Por outro lado, uma abundância de NaCl ou outros sais solúveis no fundente é ilusória, uma vez que não existe descontinuidade na ação dissolvente de uma subs-
original poderia conduzir à separação de uma solução gasosa concentrada que estaria tâ ncia ao passar por sua região crítica. Os fluidos supercríticos podem, de fato, ser
abaixo do seu ponto crítico (primeiro caso acima), mesmo na gama de temperatura solventes poderosos, mas, como já vimos, sua capacidade dissolvente depende simp les-
de cristalização de um magma, 600 a 700ºC. A presença de voláteis como o HCI e mente de suas pressões e temperaturas e não de seu estado supercrítico em si.
o C0 2 tem uma influência oposta sôbre o ponto crítico, de modo que as previsões
tornam-se mera especulação. A segunda e mais importante razão para preocuparmo-nos com os fenômenos
Uma complicação paralela é o fato experimental de que os silicatos alcalinos críticos está no número de fluidos independen tes que se pode imaginar que formem
simples K 2 Si0 3 e Na 2 Si0 3 são muito solúveis a altas temperaturas afetando o ponto durante os últimos estágios da crú;talização de um magma granítico. A partir de
crítico do mesmo modo que o NaCI. Parece possível que estas substâncias estejam observações rea lizadas nas vizinhanças de contatos graníticos, quatro efeit os geoló-
presentes num fundente em quantidades maiores e menores .do que a necessária para gicos distintos podem ser atribuídos aos fluidos residuais: formação de veios pegma-
combinar com Al 2 0 3 na formação de feldspato; se tal excesso estivesse presente ori- títicos (rochas de quartzo-feldspato de granulação grosseira), formação de veios ap lí-
ginalmente, êle não deixaria indícios nas rochas formadas no· final, uma vez que o ticos (rochas de quartzo-feldspato com granulação de fina a média e textura sacarina),
excesso seria simplesmente dissolvido na água do solo e removido. Um excesso su- formação de veios- de quartzo-sulfetos e alteração das paredes rochosas. É possível
ficientemente grande de Na 2 Si0 3 e K 2 Si0 3 , como foi demonstrado experimental- que os efeitos de alteração sejam causados pelas mesmas soluções que formam peg-
mente por Tuttle e Bowen (1958), tornaria a água muito mais solúvel no fundente matitos ou veios, mas é dificil explicar os veios de pegmatitos, aplitos e sulfetos como
per_mitindo que o fundente permanecesse líquido até temperaturas tão baixas como produtos das mesmas soluções. Torna-se muito mais fácil uma explicação para as
400ºC. Neste caso, poderia não haver separação de uma fase rica em água e a com- composições e text uras radicalmente diferentes se nos pudermos referir a dois ou mais
posição do fundente va riaria de modo contínuo durante a cristalização, desde um produtos diferentes e a maneira mais óbvia de obter fluidos diferentes é por uma se-
líquido viscoso rico em sílica, no comêço, até um líquido mais fluido, rico em água, paração de fase. A separação de fases fluidas, seja por simples vaporização, seja pela
o
no fim, de forma que somente haveria uma única fase fluida durante processo. Tal " egunda ebulição", somente será possível se o fluido inicial estiver a baixo da sua
caso extremo é pouco provável, mas mesmo um pequeno excesso de silicatos alcalinos lcmperatura crítica ; o "fluido inicial", neste sentido, pode ser tanto o fundente de si-
complicaria consideràvelmente as relações de fases. licato original (caso dois do parágrafo precedente) como um outro fluido rico em
~ Podemos então imaginar uma série de possibilidades: (Ú uma fase rica em ág ua água e sais (caso um). Assim, os possíveis tipos de explicações que podemos usar para
poderia se separar do fundente silicoso, durante a cristalização, contendo tal quan- s fen ômenos magmáticos finais estão severamente limitados pelas informações que
tidade de sal dissolvido que estaria a baixo do seu ponto crítico, fôsse no comêço, dispomos ou pelas suposições que podemos fazer quanto à presença ou ausência de
fôsse após o início da queda das temperaturas; neste caso, poderiam coexistir, no fluidos supercríticos em fundentes cristalizantes completos.
máx imo, três fases fluidas em presença dos silicatos em cristalização. (2) Uma fase
rica em água poderia se separar, fôsse diluída ou misturada com tal quantidade de Nas próximas seções usaremos esta discussão sôbre o ponto crítico como um •
matéria volátil que teria permanecido acima do ponto crítico até depois de comple- fundamento ao considera rmos a origem de pegmatitos, aplitos e veios.
74 INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ESTAGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA 75

16-4. VEIOS DE PEGMATITOS E APLITOS plausivelmente explicado pela grande solubilidade dos silicatos alcalinos simples e
sua conseqüente saída da so lução.
Pegmatitos e aplitos típicos têm uma composição mineral semelhante: predo- . Uma segunda re_sposta, provàvelmente a mais viável, é fornecida por algumas
minantemente quartzo e feldspato alcalino, freqüentemente um pouco de biotita ou experiências de Jahns e Burnham (1957). Numa experiência típica, uma mistura de
muscovita, e menos comumente, hornblenda. A diferença entre êles é textura!, tendo quartzo, K-feldspato e Na-feldspato é aquecida até a fusão, juntamente com uma .
os pegmatitos cristais muito maiores do que os do granito comum e apresentando quantidade medida <ie água pouco menor que a necessária para a saturação, e, depois,
tipicamente muita variação na textura e composição, tendo os aplitos uma textura a mistura é deixada para resfriar lentamente. A cristalização, a partir do líquido ho-
de sacarina superficialmente semelhante à do arenito, permanecendo continuamente mogêneo, começa com a separação de um agregado de quartzo-feldspato, de gra-
uniforme ao longo de grandes distâncias. Os pegmatitos são, de longe, os mais espe-, nulação fina, nas paredes do recipiente. A cristalização causa um aumento cada vez
taculares dos dois, tendo seus cristais, às vêzes, tamanhos enormes e apresentando maior da concentração de água no líquido remanescente e, eventualmente, são atin-
notável segregação em zonas ricas em quartzo e feldspato. Os pegmatitos são notáveis gidas condições para uma "segunda ebulição". Uma fase rica em água se separa sob
pela freqüência com que nêles ocorrem de pequenas quantidades de turmalina negra forma de bôlhas e o caráter da cristalização modifica-se abruptamente. Nas bôlhas
e granada rosa ; alguns contêm grandes quantidades de minerais muito menos comuns, formam-se cristais de quartzo e feldspato relativamente grandes e bem formados,
minerais de um grupo característico de elementos que inclui lítio, berílio, nióbio, tornando-se maiores com o aumento da proporção da fase rica em água. A crista-
tântalo, estanho, terras raras, urânio, tório, tungstênio e zircônio. A palavra "peg- lização se dá principalmente a partir da fase viscosa rica em silicato, mas a existência
matito", embora geralmente se refira a veios com quartzo e feldspato alcalino como de uma fração rica em água fornece o espaço para o crescimento dos cristais. Por
constituintes principais, não está restringida a tais composições, podendo ser utili- fim, forma-se um sólido cristalizado que apresenta uma graduação desde o material
zada para variedades de rochas ígneas quaisquer, similares e grosseiramente granu- de aspecto aplítico no exterior, até um material de granulação grosseira, com a textura
ladas. Pegmatitos de nefelina-sienito, por exemplo, contêm principalmente nefelina e do pegmatito, no cen.tro. A experiência pode ser modificada variando-se a quantidade
feldspato, e pegmatitos de gabro consistem de plagioclásio grosseiramente granulado original de água e mantendo pressões diferentes durante a cristalização. Se a pressão
mais hornblenda. Em geral, os pegmatitos têm um teor menor de minerais máficos e um fôr suficientemente alta durante tôda a experiência a fim de evitar a formação de uma
teor maior de plagioclásio sódico do que as rochas ígneas nas quais êles ocorrem. fase aquosa, o produto cristalizado terá, em tôda sua extensão, a textura finalmente
Os pegmatitos e aplitos são comumente encontrados como veios atravessando rochas granulada do aplito. Se a proporção de água fôr grande e se a pressão permitir que
ígneas intrusivas, muitas vêzes se estendendo além dos contatos com rochas meta- a ebulição ocorra no início da experiência, a quantidade rela.tiva de "aplito" em re-
mórficas adjacentes. Além dos veios com paredes paralelas, êles podem formar bolsões lação à de "pegma tito" será pequena. Variando a pressão e a temperatura durante
e massas irregulares dentro de intrusivos. Os pegmatitos são também comuns como a cristalização, Jahns e Burnham conseguiram produzir relações de zoneamento e
bolsões e fios em rochas metamórficas longe de contatos intrusivos. O aplito e o peg- substituição como as dos pegmatitos naturais. É notável a semelhança de alguns
matito são muitas vêzes encontrados juntos no mesmo veio, algumas vêzes. separados produtos experimentais com as rochas naturais.
por um contato aguçado e, às vêzes, esmerilhando-se mutuamente. As misturas utilizadas por Jahns e Burnham diferem dos fundentes que formam
Por sua composição e modo de ocorrência, essas duas rochas há muito têm sido pegmatitos naturais em, pelo menos, uma característica importante, a de que êles
consideradas como material cristalizado a partir do líquido residual de um magma não contêm outros solutos - por exemplo, HCl, HF, C0 2 , NaCI e silicatos alcali-
silicoso. A textura grosseira dos pegmatitos tem sido habitualmente atribuída à cris- nos - que provàvelmente acompanhem um magma na natureza. Contudo, a seme-
talização a partir de um fundente residual particularmente rico em água. Isto parece lhança das misturas com os fluidos residuais naturais é próxima o suficiente para
uma explicação razoável, mas contrária aos resultados experimentais descritos acima fazer uma generalização razoàvelmente segura de que os aplitos representam um fun-
que indica"m que a quantidade de água dissolvida nos fundentes graníticos está limi- dente residual que cristalizou sem separação de uma fase aquosa, e os pegmatitos,
tada entre 10 e 15 %. Como pode se desenvolver o fluido residual postulado, rico em um fundente _no qual estão presentes duas fases durante a formação dos cristais. As
água, se a água se evaporará para fora do fundente antes que a cristalização tenha ido duas espécies de materiais podem, eventualmente, formar veios independentes por
muito longe? Foram sugeridas duas respostas possíveis pelos trabalhos experimentais completo, dependendo do teor de voláteis e das relações pressão-temperatura nos
recentes. vários estágios do resfriamento, ou, então a ebulição pode ocorrer de maneira irregular
durante o resfriamento, de modo que o pegmatito e o aplito formam-se imediatamente
Uma resposta depende da demonstração de Tuttle e Bowen, mencionada acima, adjacentes um ao outro. Os pegmatitos que ocorrem em rochas metamórficas a uma
de que a quantidade de água miscível com um fundente de silicato será muito maior certa distâ ncia de qualquer intrusivo podem representar o fluido rico em água que
se o fundente contiver álcalis e sílica em excesso sôbre a quantidade · necessária para se forma por fusão incipiente da rocha original. Assim, o tf.lb j lho de Jahns e Burnham
formar feldspato. Por êste mecanismo o fundente residual pode ser imaginado tor- forneceu um mecanismo baseado solidamente na experiência que explica satisfato-
nando-se cada vez mais fluido e mais rico em água à medida que se resfria, perma- riamente as principais características de aplitos e pegmatitos observados na natureza.
necendo _líquido abaixo de temperaturas como 600ºC. Por isso, os pegmatitos for-
mar-se-iam muito depois, no decorrer do resfriamento, a partir de um líquido tão 15-5. VEIOS DE OUARTZO-SULFÊTO E DEPÔSITOS DE SUBSTITUIÇÃO
fluido que cristais grandes poderiam desenvolver-se làcilmente. Uma dificuldade está Mais dificil de ser considerada é a separação a partir de um magma do material ,
na ausência de prova de excesso de álcalis nos pegmatitos ao redor, mas isto pode ser que fundamentalmente conduz à cristalização de veios de quartzo-sulfêto. A com-
,e INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ESTAGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA n
pos1ça de tais depós itos apresenta uma ampla gama, desde o quartzo puro até mis- titos, de modo que o fluido teria de deslocar-se para longe de seu ponto de origem;
t ums aproximadamente puras de sulfetos metálicos. Os su lfetos podem ser simples mas isto não é fora de propósito, uma vez que os fluidos formadores de minérios se-
como pirita e galena, ou sulfossais complexos como enargita e jamesonita Os depó- riam mais ricos em água e, em conseqüência, presumivelmente mais móveis do que
si tos de veios podem conter carbonatos, juntamente com quartzo ou pràticamente o fluido formador de pegmatito, que seria deixado para trás.
c m a exclusão do quartzo, podendo ocorrer os metais como elementos nativos (por Esta hipótese, atrativa na sua aparência, não é satisfatória para explicar as re-
exemplo, ouro), óxidos (por exemplo, pirolusita, cassiterita), ou carbonatos (por exem- lações geológicas. Poder-se-ia razo.àvelmente prever, por exemplo, que, algumas vê-
plo, rodocrosita), bem como sob a forma de sulfetos. Para não alongar, os depósitos zes, o fluido rico em água não escapasse do fluido rico em silicato e que seu teor de
serão referidos como "veios", mas as mesmas associações de minerais ocorrem tam- sulfetos fôsse depositado com os minerais pegmatíticos. Como um ponto de obser-
bém como disseminações dispersas e depósitos de substituição. Tais veios e depósitos vação, contudo, os sulfetos não ocorrem comumente com pegmatitos a não ser em
de substituição constituem uma das mais importante classes de minérios metálicos. quantidades diminutas. Os pegmatitos podem conter minerais metálicos, mas êles
Muitos veios e áreas de substituição de quartzo-sulfêto ocorrem dentro e nas são em grande p.a rte minerais não-sulfatados de um grupo especial de metais - lí-
adjacências de intrusivos ígneos, de modo que parece evidente uma origem comum. tio, berílio, estanho, urânio, tório, nióbio, tântalo - bastante diferentes das associações
Por outro lado, um número considerável de tais depósitos é Cflcontrado a grandes usuais em veios e depósitos de substituição. Uma parte ainda mais contundente da
distâncias de intrusivos, alguns mesmo em áreas que não aparentam indícios de ati- prova cóntra a hipótese é a ausência, ou, pelo menos, a grande escassez, de transições
vidade ígnea ; os depósitos de zinco do vale do Mississipi são um bom exemplo. Por observadas entre veios pegmatíticos e veios de quartzo-sulfêto. Com certeza, se os
isso, não é de nenhum modo certeza que todos os veios de quartzo-sulfêto tenham pegmatitos e os veios fôssem formados a partir de frações diferentes do mesmo fluido
uma origem relacionada com atividade ígnea, mas uma quantidade suficiente dêles original, seriam razoàvelmente comuns gradações entre os dois tipos de material ;
apresenta uma associação íntima com intrusivos para sugerir que o resfriamento de um dos notáveis fatos observacionais sôbre depósitos de minérios é que nos veios de
um fundent-e de silicato é, pelo menos, um método possível de formação. pegmatitos e de quartzo-sulfêto, quando êles ocorrem conjuntamente, apresentam con-
Em virtude dos veios e depósitos de substituição terem composições muito di- tatos aguçados. Contatos gradacionais foram observados e têm sido ocasionalmente
ferentes das composições das rochas ígneas, em virtude de seus minerais geralmente citados na literatura; mas, em quase todos os casos, um exame posterior mais cuida-
apresentarem uma ordem de cristalização evidente, com o último mineral a se formar doso revelou que a suposta gradação não existia. As evidências de campo tornam
freqüentemente se constituindo em cristais euhédricos em cavidades abertas, e em claro que os fluidos responsáveis por veios de pegmatitos e de quartzo-sulfêto devem
virtude de serem as temperaturas de formação, como determinado numa variedade estar suficientemente separados, seja na origem, seja no decorrer dos tempos, de modo
de modos, bastante abaixo das temperaturas nas quais seus constituintes devem ter que os dois tipos de depósitos não podem interpenetrar-se gradativamente.
sido fundidos, êstes depósitos são quase certamente formados por cristalização de
As separações de fase oferecem alguma possibilidade posterior que possa enfrentar
uma solução aquosa quente em lugar de serem formados por resfriamento de um
esta dificuldade? Na discussão prévia do ponto crítico, foi descrito um estabeleci-
fundente de silicato residual. Esta é uma distinção que não pode ser levada muito
mento concebível de circunstâncias (alternativa I da pág. 72) nas quais três fases
longe, porque os pegmatitos também são depositados a partir de solução, no sentido
fluidas, em lugar de duas, estariam presentes durante parte da história do resfria-
de que seus materiais foram anteriormente misturados com água e com outros vo-
mento. Isto exige que a fase rica em água da separação original contenha tanto material
láteis que desapareceram: mas a quantidade de água presente, em relação à· quanti-
não-volátil dissolvido que seu ponto crítico seria uma centena ou mais de graus acima
dade de material depositado, deve ser muito maior nos veios de quartzo-sulfêto. A
do ponto crítico da água pura. Tal fluido, quando resfriado além do seu ponto crítico,
diferença está no fato de que comumente falamos de "veios" de pegmatito, como oposto
poderia separar-se em duas fases, ambas ricas em água, mas uma delas sendo um vapor
de "veios" de quartzo-sulfêto, embora a distinção em nomenclatura não seja univer-
razoàvelmente tênue, com muito menos sal dissolvido que a outra. Tal vapor poderia
salmente .seguida.
ser o material que, após resfriamento e condensação severos, deveria constituir o
Se assumimos que os veios de quartzo-sulfêto, como os de aplitos e pegmatitos,
flu ido responsável pelos veios de quartzo-sulfêto?
podem ser · um produto dos últimos estágios da cristalização magmáticas, qual é a
relação entre as três espécies de material? Na seqüência hipotética de eventos durante Esta hipótese tem a vantagem de que o vapor, a altas temperaturas, seria, pre-
a transformação de um fundente de silicatos homogêneo numa rocha ígnea sólida, sumivelmente, muito menos viscoso do que o fluido pegmatítico ou o aplítico, por
em que ponto se formariam as soluções que iriam depositar fundamentalmente quartzo isso deveria separar-se dêles completamente. Além disso, a maior parte de seu ma-
mais sulfetos dos minerais metálicos comuns? terial dissolvido provàvelmente iria permanecer em solução até que a temperatura
A suposição mais simples, baseada na linha de raciocínio da última seção, seria tivesse diminuído dezenas ou centenas de graus, de modo que as transições para os
supor que um fluido, análogo ao fluido experimental, rico em água de Jahns e Bur- pegmatitos seriam improváveis. Pode-se estender a hipótese supondo que um vapor
nham, fôsse o precursor dos depósitos de veios. Talvez o líquido residual da diferen- subcrítico dêste tipo fôsse capaz de separar-se do magma original a qualquer instante,
ciação se separasse em dois fluidos depois que parte de seu quartzo e feldspato cris- talvez localmente quando a pressão fôsse severamente reduzida, e não seria limitado
talizasse para formar aplito; quando os dois fluidos estivessem presentes simultâ- a locais onde previamente se formaram aplito e pegmatito; isto seria considerado
neamente, uma cristalização posterior da parte ricá em silicato daria pegmatito ; a para depósitos de minérios adjacentes a intrusivos onde os pegmatitos e aplitos são
fase remanescente rica em água, sob posterior resfriamento, deveria depositar quartzo escassos ou ausentes. Mas esta hipótese é ·nada mais que livre especulação, uma vez
e sulfetos. Os depósitos de minérios são muitas vêzes bastante separados dos pegma- que não há boas provas de campo para a suposta seqüência de separações e não há
Ili INTRODUÇÃO A GEOOUIMICA ESTAGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA 79

p1·ov11 s cxpcrimcn1ai de que o terceiro fluido fôsse capaz de transportar os metais "normal" de diferenciação por cristalização sem algumas hipóteses adicionais. Fi-
pesados comuns em quantidades suficientes para formar depósitos de minérios. nalmente, temos o grande problema dos voláteis e de sua função nos estágios finais
1
Assim, a orige m fund amental dos fluidos formadores de minérios a partir de da cristalização.
um mag ma em resfri amento permanece obscura. Se êles se separaram, primeiramente Ao estudarmos o problema dos voláteis, encontramos algumas dificuldades
a alt as tempera tura s, conforme sugerido na reconstrução especulativa acima, como geoquímicas fora do comum. Em primeiro lugar, o problema está mal definido: temos
gases de a lt a densidade, sua história posterior deverá envolver resfriamento drástico apenas vagas e generalizadas idéias sôbre a natureza e quantidade dos voláteis que
e condensação parcial, uma vez que as provas parecem convincentes de que a depo- constituem o nosso problema. Talvez fôsse mais exato dizer que apenas inferimos
ição atual da maior parte dos minérios de quartzo-sulfêto é a partir de um líquido a existência dos voláteis de provas geológicas dificeis de serem decifradas, uma vez
cm lugar de um gás. As soluções aquosas líquidas com esta história, a temperaturas que a maioria dos materiais que constituíram essas provas desapareceram há muito
na ordem de 100 a 300ºC, seriam dificeis de distinguir das águas de solo quentes de tempo. Em segundo lugar, apenas podemos adivinhar as condições de temperatura,
outras origens: a água do solo aquecida contendo metais lixiviados das rochas pelas pressão e natureza mecânica do meio no qual êsses voláteis supostamente foram pro-
quais ela passou, a água obtida de atividade vulcânica, ou a água liberada durante duzidos e agiram. Em terceiro lugar, os dados termodinâmicos básicos para a pro-
metamorfismo progressivo de rochas sedimentárias e ígneas. As soluções responsáveis vável gama de condições com as quais temos de lidar são inadequados. Encontramo-nos
pela formação de minérios podem provir de quaisquer destas fontes e é bem provável face a face com um grande número de variáveis não controláveis e gamas de variações
que muitas vêzes sejam misturas provenientes de mais de uma fonte. A possibilidade muito amplas - condições essas que são a exata antítese dos meios cuidadosamente
de distinguir diferentes tipos de água do subsolo e os depósitos minerais formados controlados que podemos obter no laboratório químico. Não é, pois, de admirar que
a partir delas é uma questão muito debatida atualmente. aqui as regras da fisico-química pouco nos ajudem. Tudo que pudemos fazer neste
Esta discussão foi limitada a generalidades sôbre as possíveis relações entre os capítulo, foi imaginar simples hipóteses dentro dos amplos limites da evidência geo-
processos de cristalização magmática e de deposição de minérios. Questões mais lógica, desfazendo-nos das hipóteses que levam a flagrantes contradições com os dados
es~ecíficas sôbre o comportamento individual dos metais em soluções gasosas e lí- químicos. Ainda assim, ficamos com várias alternativas. Não podemos dizer que
qmdas a altas temperaturas serão abordadas no Capítulo 17. temos algo como uma única descrição concisa, baseada em princípios gerais, que
explique como se comporta um magma nos estágios finais do resfriamento.

15-6. RECAPITULAÇÃO
PROBLEMAS
A formação de rochas ígneas a partir de misturas de silicatos fundidos é uma
parte da geologia na qual a fisico-química tem sido aplicada amplamente e com bons
resultados. A seqüência de cristalização dos minerais e a variedade de rochas. nas quais 1. Que condições são necessárias para que um líquido apresente um "segundo ponto
esta seqüência pode surgir são problemas estritamente químicos - limitados, na- de ebulição"? Pode êste fenômeno ser demonstrado com uma única substância
turalmente, pelas condições sob as quais ocorre a cristalização e por acidentes me- pura? Com uma mistura de somente duas substâncias? Com uma mistura de
cânicos que podem perturbar o decorrer do' resfriamento. Experiências de laboratório três substâncias?
com sistemas de silicato grosseiramente simplificados apresentam suficiente seme- 2. Considere uma massa hipotética de magma granítico, com dimensões horizontais
lhança com sistemas naturais, de modo que o processo de cristalização pode ser des- 100 por 100 km e uma espessura de 10 km, situada na crosta de modo que seu
crito em têrmos de alguns princípios físico-químicos. O principal dêstes princípios
é a regra das fases, que descreve a limitação quanto ao número de sólidos que podem
a
tôpo está 10 km abaixo da superfície. (a) Qual seria a pressão no tôpo da massa 1 soo
devido ao pêso das rochas sobrepostas? (b} Qual seria a pressão na base do magma? '"º'ó
coexistir em equilíbrio num sistema de uma determinada composição. Além disso, (e) Qual seria a temperatura ao nível do tôpo do ·massa, se o magma quente não 1
algumas generalidades sôbre a fusão de misturas e soluções (que, se assim o desejar- estivesse presente e se a temperatura fôsse determinada apenas pelo gradiente -b ,.,/'e.
mos, podem ser expressas na linguagem formal das energias livres e entropias de geotérmico normal (os valô res medidos estão entre 10 e 50ºC/km)? (d) Aproxi-
fusão), alguns dados específicos sôbre os pontos de fusão de compostos particulares madamente a que temperatura se solidificaria o último líquido do magma, as-
e temos um resumo claro e sucinto do comportamento dos fundentes ígneos. Dize- sumindo que o granito seja composto de partes mais ou menos iguais de quartzo, 1> t6o'.:
mos que se pode explicar a form ação das rochas ígneas com uma elegância não alcan- Na-feldspato e K-feldspato e que esteja sob uma pressão de vapor d'água igual l'-
çada em quase tôdas as outras partes da geologia. à pressão hidrostática? (e) Se o magma contiver 1 % em pêso de água dissolvida, "'-'"
Entretanto, muitos problemas periféricos com relação às rochas ígneas não se qual será o pêso de água presente? (j) Calcule o volume desta massa de água a
prestam fàc1lmente a uma explicação química. Primeiramente, temos a semelhança 700ºC e 1.000 atm, utilizando as simples leis dos gases. (g) Calcule o volume sob
entre as rochas que se deslocaram e introduziram outras rochas sob forma de massas as mesmas condições, utilizando o valor medido da ·densidade, 0,28 g/cm 3 .
fundidas e as rochas que foram alteradas em textura e composição, sem que tivesse
havido muito movimento, pelos processos do metamorfismo. Em segundo lugar, 3. A pressão crítica da água é aproximadamente 220 atm. A que profundidade na
temos as vanedades mcomuns de rochas ígneas - rochas alcalinas rochás ultramá- crosta tôda a água está num estado supercrítico (i.e., numa pressão supercrític,a,
ficas e muitas outras não facilmente' classificáveis - que não se encaixam no esquema mas não necessáriamente numa temperatura supercrítica)?
? ,;) ,/ ,, f'< g
80 INTRODUÇÃO A . GEOQUIMICA ESTAGIOS FINAIS DA CRISTALIZAÇÃO MAGMATICA 81

4. Quando a ág ua está contida num cilindro, sob um pistão móvel, de modo que ÕLANDER, A. e H. LIANDER, "The phase diagram of sodium chloride and steam
nã haja nenhum espaço com ar, é possível transformar a água de um líquido above the criticai point", Acta Chem Seand., vol. 4, págs. 1437-1445, 1950. Um estudo
a 25ºC e J atm em vapor d'água a 25ºC e 0,01 atm sem que haja, em nenhum ins- inicial do sistema NaCI- H 2 0 , notável pela clareza dos seus diagramas.
tante; separação de duas fases? Utilizando o diagrama pressão-temperatura para SMITH, F . G. , Ph ysieal Geoehemistry, Addison-Wesley Publishi:1g Co~pa_ny, Inc.,
a água (Fig. 13-1), indique a seqüência de operações pelas quais, isto ode ser. Reading, Mass., 1963. O Capítulo 6 contém uma breve d1scussao, porem '.n:orma-
conseguido. ! r, ~ ~ ,......·--·1-
--~J)_;;,
"~ ·~,
/) ~
,... · ................ - 7~ " c-,J.,J.
tiva, do fenômeno do ponto crítico e o Capítulo 12 dá um tratamento teonco de-
5. Quais das misturas seguintes poderia apresentar comportamento crítico (um ponto talhado dos sistemas silicato-água.
crítico ou pontos críticos extremos)? SOURIRAJAN, S. e G. C. KENNEDY, "The system H 2 0 - NaCl at elevated t_empera-
(a) 1 g de Kcr e 1.000 g de H 2 0
tures and pressures", Am. Jour. Sei., vol. 260, págs. 115-141, 1962. Dados expe;1_menta1s
(b) Uma mistura de KCl e água na qual o KCl sólido está sempre presente. sôbre a solubilidade do sal em água líquida, vapor d'água e água supercnuca.
(e) 0,1 g de Si0 2 e 1.000 g de H 2 0 TURNER, F. J. e J. VERHOOGEN, Igneous and Metamorphie Petrolog y, 2. ª ed.
(d) Uma mistura de Si0 2 e água na qual o Si0 2 sólido está sempre presente. McGraw-Hill Book Company, New York, 1960. O Capítulo 14 apresenta os funda-
6. Qual é a prova geológica para esta asserção: "Muitos pegmatitos são formados mentos termodinâmicos e diagramas de fase idealizados para sistemas envolvendo
pelas soluções residuais da cristalização dos magmas graníticos"? Qual é a evi-
componentes voláteis. . _
dência geológica de que nem todos os pegmatitos se formaram desta maneira? TUTTLE, O. F. e N. L. BOWEN, "Origin of granite in the light of expenmental stud1es
? Como as provas químicas suportam a hipótese de que os pegmatitos podem se in the system NaA1Siü 3 ü 8 - KAISi 3 0 8 - Si0 2 - H 2 0", Geai. Soe._Ameriea M emoir 74,
formar de duas maneiras diferentes? págs, 84-89, 1958. Experiências demonstrando o efeito dos silicatos alcalmo~ al~a-
7. A afirmativa a seguir é ou não correta? "Um veio pegmatítico forma-se pela cris- mente solúveis Na 2 Si0 3 e K 2 Si0 3 no abaixamento da temperatura de cnstahzaçao
talização de um fundente de mesma composição." Explique por quê. das misturas sílica-feldspato-água.
8. Como se pode provar que um veio de quartzo-sulfêto não é uma rocha ígnea,
i.e., formado pela cristalização de um fundente de aproximadamente idêntica
composição?

REFERl:NCIAS E SUGESTÕES PARA LEITURAS POSTERIORES

BURNHAM, C. W., e R. H. JAHNS, "A metod for determining the soluQility of water
in silicate melts", Am Jour. Sei., vol. 260, págs. 721-745, 1962. A solubilidade da água
em fundentes preparados a partir de um pegmatito e a partir de albita pura deter-
minada a pressões acima de 10 quilobárias.
JAHNS, R. H., "The study of pegmatites, Econ. Geology, vol. do 50.º aniversário, págs.
1025-1130, 1955. Discussão e crítica dos dados geológicos e das inferências sôbre
a origem dos pegmatitos.
JAHNS, R. H. e C. W. BURNHAM, "Preliminary results from experimental melting
and crystallization on Harding pegmatite", Geai. Soe. Ameriea Buli. , vol. 68, págs.
1751-1752, 1957 (resumo). Breve descrição de experiências destinadas a reproduzir
as condições de formação de pegmatitos.
KENNEDY, G. C,G. J. WASSERBURG, H. C. HEÀ.RD e R. C. NEWTON, "The
upper 3 - phase region in the system Si0 2 - H 2 0", Am. Jour. Sei., vol. 260, págs.
501-52i , 1962. Dados experimentais das relações de fase entre quartzo, tridimita
e dois fluidos (um rico em sílica e um rico em água) a temperaturas acima de lOOOºC
e pressões acima de 10 quilobárias. _ _
LUTH, W. G., R. H. JAHNS e O. F. TUTLLE, "The granite system at pressures of
4 to 10 kilobars", Jour. Geophys. Researeh, vol. 69, págs. 759-773, 1964. Uma extensão
do trabalho de Tuttle e Bowen para pressões de 10 quilobárias, sugerindo aplicações
na cristalização de aplito e pegmatito. ,
MOREY, G. W., "The solubility of solids gases'', Eeon. Geo/ogy, vol. 52, págs. 225-251,
1957. Uma boa discussão teórica de pontos críticos de soluções e uma revisão dos
dados experimentais.

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