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4 Semanas de Prazer - Julianna Costa
4 Semanas de Prazer - Julianna Costa
4 Semanas de
P RAZER
© 2014 by Universo dos Livros
Todos os direitos reservados e
protegidos pela Lei 9.610 de
19/02/1998.
1a edição - 2014
Diretor editorial
Luis Matos
Editora-chefe
Marcia Batista
Assistentes editoriais
Aline Graça
Nathália Fernandes
Raíça Augusto
Rafael Duarte
Preparação
Marina Constantino
Revisão
Carolina Zuppo Abbed
Yasmin Albuquerque
Âmala Barbosa
Arte
Francine C. Silva
Valdinei Gomes
Capa
Zuleika Iamashita
C87c
– Ahmm… Dom?
– Chamou?
Voltei para a cozinha e quase esbarrei
de frente com Greg. Ele me segurou
pelos braços e me apoiou para que eu
pudesse liberar o peso do meu pé.
Segurei seus braços sem nenhuma
intenção de largá-lo. Ele tinha terminado
de lavar a louça e a cozinha estava um
brilho. O que lhe faltava de habilidades
culinárias lhe sobrava de habilidades
com limpeza. E eu me peguei me
perguntando como sua casa tinha
conseguido ficar tão infernalmente
bagunçada. Talvez a sujeira tivesse
sido, de fato, especialmente para me
irritar.
– Será que você podia me explicar
uma coisa – ele tinha “diversão”
estampada no sorriso, e eu soube
imediatamente que havia algo errado.
– O que foi?
– Não sei. É só que… Não me parece
seu estilo.
Ele levantou o conjunto de roupa
íntima de arco-íris e eu revirei os olhos
para ele.
– É da vizinha – tomei o conjunto das
suas mãos.
– Ahmm… – seu queixo caiu e ele
ficou assim por uma fração de segundo –
Por que temos roupa íntima da vizinha
em casa? A pessoa… Que você ficou no
sofá… Foi…
Não consegui não rir.
– Não, Holt. Foi com um homem que
eu fiquei naquele dia. Não que seja da
sua conta, mas já fiquei com mulheres,
se você precisa saber. Em mais de uma
ocasião.
Seu queixo continuou caído. Ele
estava imaginando. Isso mesmo, meu
bem. Me imagine nua com uma mulher.
– Fui fazer compras com o pessoal da
vizinhança. A sua vizinha aí do lado
comprou isso e veio junto com as
minhas coisas. – Achei melhor resumir a
história. Ele não precisava saber que eu
tinha humilhado a menina na frente do
seu namoradinho.
– Tudo bem. Você já ficou com
mulheres – ele tinha esquecido
completamente do sutiã da vizinha –
Será que eu posso conseguir um vídeo
disso, também?
– Rá-rá – mostrei a língua pra ele.
– Você faz isso um bocado – apontou.
– Mostrar a língua pros outros.
– Não é pros outros – reclamei. – É
só pra você.
Acho que eu o ouvi murmurar um
“Ah, bom” antes de sair.
O trabalho que Holt precisava fazer
exigia quase nenhuma ajuda. Ele
conseguiria terminar tudo sozinho e bem
rápido. Parte de mim achou que ele tinha
usado o trabalho como uma desculpa
para não ter que me encarar durante o
fim de semana e, depois de quase uma
hora trancada no escritório com ele,
percebi que estar tão perto dele e, ao
mesmo tempo, tão longe, não estava
fazendo bem para minha saúde.
Andei até o quintal da frente e cruzei
os braços. As latas de lixo estavam
vazias. Tanto a comuns quanto as de
reciclagem.
Meu olhar seguiu sozinho para a casa
de Andy.
Eu posso fazer isso – disse Andy.
Voltei para casa e comecei a separar
o lixo: metal, papel, vidro e plástico.
Proteção ao planeta à parte, era até uma
tarefa divertida. E mantinha a mente
ocupada.
– Criou uma consciência foi?
– Porra! Você precisa parar de fazer
isso.
– Fazer o quê?
– Se aproximar dos outros de fininho
e gritar algo em seus ouvidos.
– Não me aproximei de fininho e
não…
– Sua lingerie ainda está comigo –
mudei de assunto. Acho que Andy
poderia se considerar a primeira pessoa
do universo com a qual eu odiava
discutir. – Na verdade, todas as suas
compras do outro dia. Quando eu
terminar isso aqui, vou pegar para você.
– Não tem pressa. – Tinha algo de
envergonhado em sua voz.
– Olha, se você achou aquela porcaria
de sutiã bonito não tem porque se
envergonhar.
– Será que você pode parar de ser
grossa?
– Não estou sendo grossa, garota.
Estou sendo objetiva. É diferente.
– É grosseria para mim – reclamou.
– Porque você é virgem. Eu entendo,
mas olhe…
Ela emitiu um rosnado
incompreensível e foi embora. E eu era
a grossa?
Andy entrou batendo a porta e eu
fiquei parada encarando sua casa. Se a
teoria de Holt fosse verdade, ela
também teria um motivo para ser tão
impossível daquele jeito.
Talvez fosse um motivo parecido com
o meu. Odiava isso, mas desde a revista
em quadrinho, eu não conseguia mais
olhar para aquela garota sem pensar em
mim mesma.
Eu podia tentar fazer algo por ela.
Teria que sair da minha zona de
conforto, mas poderia ajudá-la. A
pergunta era: será que valia a pena
insistir? Mesmo que à primeira vista ela
fosse insuportável?
Respirei fundo e voltei para dentro de
casa.
Aquilo não ia acabar com Holt me
amando ou com Andy virando minha
melhor amiga.
Estava ali só para arrumar a bagunça
de Holt e ir embora. Voltar para a minha
vida. Já tinha me metido em confusões
demais. Era melhor eu me lembrar dos
meus objetivos e voltar a me concentrar
neles. Ou então ia só gastar energia.
– Suas coisas.
– Eu disse que não tinha pressa. –
Andy pegou os pacotes das minhas mãos
e os colocou no chão ao lado da porta. –
E você… Você pode ficar andando por
aí? Seu pé não parece legal. Nem seu
braço… O seu amigo te espancou foi?
– Não – estreitei os olhos para ela.
– Ah… Porque eu super entenderia se
ele tivesse feito isso.
– Obrigada – resmunguei, virando de
costas.
– Por que você faz questão de ser tão
desagradável?
– Porque as pessoas me julgaram
inferior a minha vida inteira por ser
filha de um zelador. Porque minha mãe
riu quando eu disse que ia entrar no
curso de direito e disse que com a minha
bunda eu tinha melhores chances na vida
conseguindo um marido rico. Porque
meus colegas de faculdade eram elitistas
filhinhos de papai que não suportavam
o fato de que minhas notas eram
melhores do que as deles. Porque eu
sempre tive que, na minha vida inteira,
trabalhar quatro vezes mais pesado do
que qualquer outra pessoa para atingir
metade do sucesso. Porque todas as
vezes que eu me importei com outras
pessoas elas me abandonaram, me
traíram, me usaram ou me
decepcionaram. Porque eu estou muito
bem sozinha e, quando eu sou gentil, as
pessoas acham que podem se aproximar.
E quando elas se aproximam quem se
fode sou eu. Então, não, eu não faço
nenhuma questão de ser agradável e de
ficar cercada de pessoas que só vão me
trazer problemas.
Eu estava naquela situação mais uma
vez: última gota d’água. Não aguentava
mais todos me questionando por que eu
era como eu era.
– Calma. Foi só uma pergunta.
– Não, não foi só uma pergunta,
Greenpeace. Foi uma tentativa de me
ofender. De novo. Parabéns, dessa vez
você conseguiu.
– É muito ceticismo da sua parte.
Nem todo mundo vai te magoar.
– Mas o risco é bem grande. E eu
optei por não me arriscar mais. A
decisão é minha, será que dá pra todo
mundo começar a respeitar isso?
– Você parece ter se aproximado do
seu amigo. O Holt.
– É. E que bem isso me fez?
Fiquei encarando a menina com fúria
nos olhos.
– Parece que você está descarregando
seus problemas em mim. Nunca te
abandonei, nem te traí, nem nada do
tipo. Então, por favor, pare de me olhar
como se eu fosse o resumo de todos os
problemas da sua vida. – Ela não soava
exatamente constrangida. Era mais…
indignação.
– Só vim entregar suas coisas –
concluí, tentando recuperar o fôlego e a
calma. Entre perder minha autoconfiança
na frente de Holt e o meu autocontrole
na frente de Andy, aquele lugar estava
me transformando em outra pessoa.
– Se ficar aqui é tão ruim, por que
você não vai embora? – ela exclamou
quando eu já estava a alguns passos de
distância.
– Porque Holt está me chantageando
com uma gravação de sexo!
Foda-se.
Foda-se tudo nessa merda.
Cansei.
– É o quê? – seu queixo caiu
descomunalmente, e ela olhou chocada
na direção da casa do vizinho.
Eu ia virar de costas e deixar que ela
pensasse o que quisesse, mas Andy
correu atrás de mim e me segurou pelo
braço.
– Você precisa denunciá-lo para a
polícia!
Suspirei, pedindo encarecidamente ao
meu autocontrole que voltasse logo.
– Não é o que você está pensando.
Ele é um cara decente e eu sou uma
pessoa horrível. – repeti roboticamente,
acenando como quem conduz uma
sinfonia – Foi uma brincadeira.
As palavras saíram doces da minha
boca.
Holt nunca colocaria aquele vídeo na
internet. Ele simplesmente não faria
isso. Independente de eu cumprir o
acordo ou não. Mas eu já estava ali e
podia ter perdido minha confiança e meu
controle, mas, por Deus, eu não perderia
o meu orgulho. Ia até o fim com essa
história toda.
– Ele está querendo te dar uma lição,
é? – ela riu, e eu percebi que ela tinha
mudado de lado.
– Pode fingir que não está achando
tão bom?
– É difícil – riu. – Você é muito chata.
Observando de fora pode parecer
louco. Mas, de repente, eu não
conseguia parar de achar graça na
situação e fiquei rindo com uma maluca
no seu gramado.
– Olha… – ela começou. – Você
parece meio mal e eu… eu não estou
fazendo nada. Você quer… – ela indicou
a porta da própria casa.
Eu não morria de amores pela garota,
mas me esconder de Holt pareceu uma
boa ideia.
– Dom?
– Na cozinha, alimentando o seu
cachorro infernal – ela gritou. – Max!
Quieto! – ela misturava gritos com risos
e eu imaginei que ela e Max estavam
começando a se entender.
Enfiei a cabeça pela porta.
– Tudo certo com vocês dois?
– Não exatamente. – Max tinha
colocado as patas da frente no balcão e
estava disputando uma tigela de cereais
que, eu imaginei, Dominique tivesse
colocado para ela. – Isso aí se recusa a
comer o que a gente serve.
Ela estava coçando suas orelhas e
empurrando sua tigela para longe.
Dominique estava com uma regata que
marcava seus seios fartos, a alça escura
do sutiã caindo pelo braço. Tinha uma
colher enfiada na boca e um sorriso no
rosto enquanto brincava e reclamava
com meu cachorro.
Fiquei parado na porta sorrindo.
Eu poderia voltar para casa todos os
dias para aquela cena e seria feliz.
Ou melhor: Dominique poderia voltar
comigo.
Ela acabaria de ter destruído alguém
em uma audiência com toda a sua
inteligência e sagacidade. Eu assistiria
fazendo nada além de sussurrar as
informações que ela solicitasse, para
que a outra parte não fosse ouvida.
Voltaríamos para casa, transaríamos no
chuveiro e depois ela ia colocar aquela
regata. Faria uma tigela de cereal e
brincaria com Max enquanto a alça do
seu sutiã cairia pelo seu ombro. E eu
ficaria sentado em um canto sendo feliz
só por fazer parte daquilo.
A felicidade pode ser tão simples.
– Preciso tomar um banho – falei.
Precisava sair dali antes que a pedisse
em casamento ou algo igualmente
absurdo. – Desço em quinze minutos.
– Tá. – Talvez ela fosse dizer mais
alguma, mas Max estava pulando mais
uma vez. – Para! Cachorro enviado por
Satanás! Chega! – Ela levantou com a
sua tigela e estava tentando sair do
alcance das patas do labrador.
Subi as escadas ainda rindo. Coloquei
a roupa suja no cesto e liguei a ducha.
A água quente lavou meu corpo e eu
inspirei o vapor.
De um modo geral, estava muito
satisfeito com a minha vida.
Nunca tive problemas em manter
relacionamentos sérios. Mas nunca
estive particularmente apaixonado por
nenhuma de minhas namoradas também.
E essa experiência de viver com uma
mulher era interessante. Apesar de que,
se eu me casasse com Dominique, nunca
iria querer ela em casa o dia inteiro. Ela
ia enlouquecer, ia me enlouquecer e
nunca daria certo. E, além do mais,
nunca seria uma situação aceitável para
ela.
Esfreguei o xampu no cabelo com
força para trazer minha mente de volta à
realidade.
Casar com Dominique. Gregory…
Escute o que você está falando.
Tudo bem que eu já estava batendo na
porta dos trinta e que a vontade de me
acomodar começava a crescer dentro do
peito sem ser convidada. Mas a gente
tinha transado uma vez e eu estava
pensando em casamento.
Gregory Holt, você virou uma mulher
do século passado.
Com todo o respeito às mulheres e ao
século passado.
Deixei o rosto contra a água. Um
toque delicado no meu quadril me
assustou e eu respirei fundo dentro do
jato de água. Virei tossindo.
Dominique estava nua. Nua e
molhada. Nua e molhada, junto comigo,
nu e molhado.
Isso não ajudou a minha tosse.
Nem um pouco.
– Calma – ela riu, colocando a mão
no meu peito.
Meu pênis ainda estava flácido, mas
não ia ficar assim por muito tempo.
– Vai me matar afogado? Eu sabia que
você devia ter um plano – sorri,
puxando-a para um abraço.
– Droga. Fui desmascarada. – Ela deu
um murro leve no meu braço. – Mas o
plano era te afogar só depois.
– Depois?
– Depois – repetiu, sugestiva.
– Ah… Então acho que eu vou morrer
feliz.
Beijei sua boca e desci a mão pela
sua bunda. Minha nossa… aquela bunda.
A apertei com gosto, forçando-a a
mover a pélvis na minha direção. Dom
ia reclamar de alguma coisa, mas eu
mordi sua boca e não deixei ela se soltar
do beijo. Suas mãos estavam no meu
pescoço e eu a tinha molhada em meus
braços. Espremi seu corpo contra o meu
e senti meu pau latejando contra seu
quadril.
Dom dobrou os braços e empurrou
meu tórax para longe. Eu não sabia o
que ela estava fazendo, mas eu sabia que
ela era uma mulher que não aceita ser
contrariada quando decide algo. Apertei
meus lábios de desejo e a observei.
Gotas de água se acumulavam e
escorriam em cada nuance do seu corpo
e eu desejei segurá-la e mantê-la parada
por alguns minutos para que eu pudesse
só memorizar cada detalhe.
Ela segurou minhas mãos ao lado do
meu corpo para que eu não a tocasse e
me beijou. Primeiro na boca, depois no
pescoço. Dom me soltou e sorriu pra
mim de um jeito tão safado que eu tive
vontade de jogá-la contra a parede e
fodê-la até ela gritar “Chega”. Mas ela
se ajoelhou no box e eu achei que
estivesse sonhando. E quando ela passou
a língua pela cabeça do meu pau, tive
certeza.
– Eu disse que queria você na minha
boca, não disse? sussurrou contra minha
ereção e enfiou minhas bolas na boca.
Aninhei meus dedos em seus cabelos e
segurei sua cabeça contra mim enquanto
aquela boquinha de veludo me lambia e
me chupava.
Dominique puxou o ar, prendeu a
respiração, e eu a assisti enfiar meu pau
inteiro na boca. Uma vez e outra. E mais
uma. Eu estava gemendo sem controle.
Sentia sua boca ao meu redor, seus
lábios protegendo os dentes, meu pau
chegando na sua garganta.
Fez um movimento involuntário para
frente, e percebi que devia estar quase
gozando. Tentei diminuir a velocidade,
mas ela não parou. Não estava mais
enfiando meu pau até sua garganta, mas
estava deixando que eu fodesse sua
boquinha, o que era praticamente tão
paradisíaco quanto.
Alisei seus cabelos e mantive meus
olhos em sua boca, assistindo ao
movimento de sua bochecha no ritmo
das minhas estocadas. Ela se empinou e
arranhou meus testículos com suavidade.
Eu não ia aguentar.
Nem mais um segundo.
A empurrei para longe um pouco
bruscamente demais e ela olhou pra mim
confusa.
– Vem – chamei.
Ela ia falar alguma coisa.
Claro que ia. Dominique Thoen
sempre precisava questionar uma ordem.
Mas meu pau estava furiosamente
duro, eu estava pronto para ejacular
para todos os lados e não queria que ela
não gozasse.
A segurei com força e a joguei contra
a parede. Pensei em pedir desculpas
pela violência, mas ela estava rindo
excitada, então simplesmente continuei.
Levantei uma de suas pernas pelo joelho
e meti com força sem diminuir a
brutalidade. Ela começou a gemer meu
nome e eu queria que ela parasse, ou eu
ia gozar imediatamente.
Afastei meu tórax do seu e diminuí a
velocidade em uma tentativa de
reassumir o controle. Mas aquilo foi
pior ainda. Ela rebolava devagar e
enfiava os dedos na boca, para depois
levá-los aos mamilos em uma dança
erótica que fazia minhas entranhas
ferverem.
Aqueles seios perfeitos se
movimentando no nosso ritmo, o quadril
grudado no meu…
Puta merda.
Por que ela tinha que ser tão gostosa?
– Dom, eu não aguento mais.
– Aguenta sim. – Ela arranhou meu
peito. – Não goza ainda, Holt. Me fode
mais um pouquinho.
Eu a beijei e fiz exatamente o que ela
mandou. Estava ficando quase
impossível me conter, mas eu me
segurei. Mais e mais. Não sei de onde
eu estava tirando forças para resistir ao
gozo com meu pau enfiado até o talo
naquela morena perfeita.
E quando ela começou a gemer mais
alto, eu aumentei a velocidade. Quanto
mais alto ela gemia, mais fundo eu
enfiava e com mais força. Até ela gritar.
E ela gritou.
Gritou meu nome.
Bem alto.
E ouvir seu grito rouco e louco de
desejo chamando meu nome foi mais
excitante do que todo o resto.
Eu gozei dentro dela com a boca
contra o seu pescoço.
Capítulo 13
“Não entenda isso como uma ofensa.
Damas nunca me encantaram.”
– Tchau, querido.
Respondi com um sorriso e tentei
esconder o excesso de alegria que eu
sentia. Já estava com um pé fora do
Porsche quando ele me puxou pelo
braço para mais um beijo.
– Juro que não canso disso –
murmurou nos meus lábios. – Quero te
beijar para sempre.
Passei os nós dos dedos pelo seu
rosto apreciando o contato de cada
centímetro de sua pele.
– Não faça promessas que não pode
cumprir, Holt – sussurrei de volta, beijei
seu rosto e desci.
– Ei! – ele baixou o vidro da janela
quando passou por mim. – Pretendo
cumprir. – Piscou um olho para mim
antes de acelerar pela rua de volta ao
trabalho.
Andei até a casa de Thierry. Queria
resolver essa coisa toda com Shelbi de
uma vez, voltar para casa, tomar um
banho e colocar a lingerie mais sensual
que eu tivesse.
Voltar para casa.
Eu estava realmente ficando cada vez
mais à vontade.
A sala de Thierry estava cheia: ele,
Rick, Andy, Shelbi e Madeleine. Até
Madeleine… Toda a vizinhança
desocupada reunida. Legal.
– A gente foi com ela até lá buscar o
contrato de casamento que você disse
que queria ver. Ela demorou um bocado
para achar – Andy reclamou, cruzando
os braços na frente do corpo.
– Certo. Deixa eu dar uma olhada. –
Cumprimentei o grupo rapidamente e me
afastei com Andy. – Você conseguiu
conversar com ela e descobrir o que
aconteceu?
– Ela só chora – deu de ombros. – Só
se acalmou agora há pouco. Mas pelo
que eu entendi, ela voltou do dia do
salão toda pronta para seduzi-lo e ele
nem notou a diferença. A Shelbi passou
a noite triste e, ontem, no feriado, ele
disse que tinha que trabalhar. Ela o
seguiu. E aí viu… Bem… Acho que
você pode imaginar.
Baixei os olhos para o contrato e o li
rapidamente.
– Ela tirou fotos dele traindo ela?
– Até onde eu sei, não. Acho que a
gente vai precisar perguntar.
– Shelbi? – Me aproximei com
cuidado e sentei ao seu lado. Madeleine
pulou para a ponta do sofá deixando que
eu passasse. – Andy me contou sobre o
que você viu ontem.
Percebi que todo o Clube dos
Biscoitos deveria estar tentando animá-
la pelas últimas horas e provavelmente
estavam conseguindo, porque quando
mencionei o nome dele, seu olhar
congelou e lágrimas começaram a se
formar. Todos ao meu redor me
encararam com ares de reprovação.
– Só preciso saber se você tem
alguma prova do que viu. Tirou alguma
foto?
– Não – comentou chorosa. – Só
consegui correr de lá.
– A gente vai precisar de provas de
que ele te traiu. Assim, quando você se
divorciar, ele não terá direito a nada
seu.
– Dominique… Não sei se é isso que
eu quero. E se tiver sido só uma vez?
– Não foi, Shelbi! Eu e Dominique já
falamos com você sobre isso – Andy
respondeu por mim.
– Mas o que foi que vocês viram?
Ela precisava saber de uma vez. Se
fosse me dar um tapa na cara, que desse
logo e acabasse com isso.
– Eu conheci o Eric sem saber que ele
era seu marido, Shelbi. Ele não
mencionou nenhuma vez. Eu ainda não
estava com o Holt. Eric deu em cima de
mim e nós transamos.
Ela abriu a boca na minha direção e
não foi a única.
– Sabia que essa daí não valia nada –
Madeleine achou importante mencionar.
– Cala a boca, velha chata! – Andy
correu a minha defesa, mas eu conseguia
me defender sozinha.
– Não sabia que ele era casado. Mas
ele não presta, Shelbi. É um fato
comprovado. Se você quiser gritar
comigo ou me dar um tapa… Tudo bem.
Mas eu realmente não sabia.
– E chamou ele de pau pequeno
quando descobriu. Bateu a porta na cara
dele e disse para que sumisse. Eu estava
lá e vi com meus próprios olhos! – Andy
levantou o dedo do meio para uma
Madeleine que pareceu ultrajada.
Shelbi engoliu a seco e se abraçou.
Estava chorando quando disse:
– Vocês têm certeza de que era ele?
– Shelbi! Pare de se enganar. Por
favor – respondi.
– Dominique… Não sei se quero me
divorciar dele. – Ela não parecia estar
com raiva de mim quando disse isso. Só
havia uma emoção reconhecível em sua
voz.
– Sabe, sim. Você só está com medo.
– Não precisa ficar com medo,
Shel… – Andy segurou seu braço e
tentou reconfortá-la.
– É, a gente vai te dar todo o apoio.
Você não vai ficar sozinha hora nenhuma
– Rick acrescentou.
– Estamos todos com você, garota. –
Thierry deu um beijo gentil em sua testa.
– É, todos nós. – Madeleine se
aproximou e eu tive que ficar
impressionada.
– O que me diz, Shelbi?
– Eu não saberia nem por onde
começar… – Havia um brilho diferente
nos seus olhos. Ela devia ter passado o
dia ouvindo discursos de incentivo dos
vizinhos e agora se sentia protegida o
suficiente para tentar fazer aquilo.
– Primeiro a gente precisa se
certificar de que ele não vai levar nada
que seja seu no divórcio.
– Como assim não levar nada dela? –
Andy quis saber.
– Acho que ela quer dizer que a
Shelbi deve garantir que, quando o
divórcio acabar, vai levar pelo menos
metade de tudo que o Eric tem –
Madeleine, a especialista em
casamentos, acrescentou.
– Não, não é isso. O dinheiro da
família é todo da Shelbi. Eric usa o seu
dinheiro, não é?
Todos os olhos da sala se voltaram
para ela, impressionados.
– Quer dizer que você nem precisa
dele para sobreviver? – Andy parecia
indignada. – Então, por que diabos se
submeteu a ele por tanto tempo?
– Andy. Não seja assim – Thierry
aconselhou.
– Estou só dizendo que…
– Não é importante, Andy! – Agora
era Rick quem se manifestava.
Ele tinha o dom de saber quando um
assunto não precisava ser discutido.
– Calem-se todos! – ordenei. – Temos
que conseguir provas de que Eric
quebrou uma das cláusulas contratuais e
traiu Shelbi.
– Dei dinheiro para ele começar os
investimentos… – Precisava de sua
atenção, mas ela estava bem longe,
relembrando o começo de sua vida. –
Foi por causa dos meus investimentos
que ele conseguiu o trabalho que tem
hoje…
– Safado – resmunguei, e Shelbi me
observou com olhos de reprovação. –
Diga você também, chame ele de safado!
Ela abriu um sorriso discreto.
– Crápula arrogante – Madeleine
sugeriu.
– Descarado desonesto – Thierry e
Rick entraram no clima e logo a sala
inteira estava proferindo ofensas contra
Eric.
– Safado – Shelbi conseguiu sussurrar
finalmente. – Descarado, traidor, sem
vergonha. – A cada palavra ela tomava
mais força e era bonito de assistir.
Logo ela estava chorando e xingando
ele de todos os nomes horríveis que
conseguia pensar em alto e bom som.
– O que eu faço, Dominique? – Ela se
virou para mim, com o coração
satisfeito e aliviado.
– A gente pega ele te traindo.
– Então, você vai ficar com ele de
novo? – Andy quis saber.
– Garota, desencana dessa ideia. Não
vai acontecer.
– Mas como a gente vai pegar ele
então?
– Poderíamos nos revezar – Rick
sugeriu. – Cada um segue ele por um
tempo. O cara não consegue se
controlar, não é? Quando ele fizer de
novo… Será flagrado.
– Não gosto de depender do acaso. –
Toquei minha boca com o indicador e
formulei um plano rápido. – Shelbi,
você teria algum problema se
armássemos para cima dele?
– Não. – Senti convicção em sua voz.
– Madeleine. Você ficaria com um
homem casado com a benção da esposa?
– Ela me olhou descrente – Estou
falando sério.
– Eric não vai dar em cima da velha.
– Greenpeace, silêncio. Sou eu quem
está dando as ordens. Ficaria,
Madeleine?
Ela olhou de um lado para o outro e
encontrou apenas olhares de apoio e
aprovação.
– Ficaria, mas como…
– Eu me preocupo com essa parte.
Eric vai aparecer te procurando em
breve. Rick!
– Sim?
– Vamos precisar preparar a casa de
Madeleine. Câmeras por todos os lados.
Pode organizar isso?
– Com certeza.
– Teste tudo pra ter certeza de que vai
funcionar e mostre a Madeleine onde
precisamos que ela fique. Não precisa ir
até o fim com ele, ouviu? Só algumas
fotos e vídeos de beijos e ou dele dando
em cima de você e pronto. Rick! Outra
coisa…
– O quê?
– Shelbi! – Virei para ela – Acha que
consegue pegar o celular dele sem que
ele perceba?
– Acho… Acho que sim…
– Pronto. Faça isso. Rick, você
consegue burlar a senha e acessar
mensagens de texto, e-mails e tudo o
mais?
– Sem problemas – sorriu.
– Vamos precisar disso tudo.
– E eu? Faço o quê? – Andy
perguntou.
– Shelbi vai dizer para Eric que vai
passar um tempo aqui te ajudando com
um projeto de arte. Para que ela não
precise voltar para casa se não quiser.
Você cuida dela.
– Quando a gente começa?
– Acho que consigo fazer Eric te
procurar esse fim de semana,
Madeleine.
– O que você vai dizer para ele?
– Não se preocupem. Eu sou criativa.
– Desculpa.
Ele vinha empurrando o carrinho de
compras atrás de mim e repetia isso a
cada noventa segundos. Alternava os
pedidos com uns beijos no meu pescoço,
e eu estava achando difícil resistir.
– Tá. Da próxima vez, tenta me
perguntar antes de deduzir o pior.
– Eu sei. Mas é porque…
– Porque o quê? – Virei para ele e
parei o carrinho quase cheio.
– É difícil acreditar que é verdade.
– Não é difícil só para você, Gregory.
Mas você prometeu que ia ser forte por
nós dois. Essa de coisa de
relacionamento? É horrível para mim!
Eu não tenho nenhuma experiência! Fico
perdida sem saber o que fazer. E só
aceitei tentar porque você disse que ia
ser forte por nós dois. Aí, no primeiro
sinal de problema, você abre as pernas e
joga a toalha.
– Nossa, você está com muita raiva.
– Muitos Baxters questionando minha
ética nos últimos dias.
– Não me chame assim, Dom. Por
favor.
– Você me chamou de piranha
aproveitadora! Eu chamo você do que eu
quiser.
Ele começou a rir. Por algum motivo,
Holt estava achando minha fúria hilária.
– Você fica muito linda com raiva.
– Fico perigosa também. Cuidado. Eu
mordo.
– Não te chamei de piranha
aproveitadora. Só fiquei com ciúmes e
parei de ver com clareza. – Me puxou
em um daqueles abraços maravilhosos e
eu tive que virar o rosto para longe dele
ou desistiria da minha teimosia. – Me
desculpa, por favor? – Ele moveu o
rosto, tentando alinhar sua boca com a
minha e eu me distanciei em uma
provocação infantil. – Hum? – pediu
mais uma vez, com o sorriso a
milímetros do meu.
– Vou pensar no seu caso.
Ele me beijou e eu o perdoei.
Porcaria…
– Agora… Posso te perguntar o que
são algumas dessas coisas que você
colocou no carrinho?
– Tipo o quê?
– Não entendo como vamos servir
esses morangos, o chantilly ou os
iogurtes de chocolate para os vizinhos. –
Pelo sorriso sacana na sua cara, ele
tinha certeza do que eu estava
planejando.
– Tem um experimento que eu quero
fazer e não é porque você foi um imbecil
que eu vou desistir.
– Hmmm… E me envolve? Seu
experimento? – Eu adorava aquele
sorriso safado. Queria aquela boca me
chupando todinha e depois dizendo que
era louco por mim.
– Se você se comportar, talvez.
– Eu juro que me comporto! –
Levantou uma mão, em uma promessa
exagerada e eu ri.
Filho da puta.
Filho da puta.
Eu não conseguia parar de encará-lo.
Ele tinha ficado com Dominique. Com a
minha Dominique. Eu queria engoli-lo.
Queria jogar uma lata de cerveja na sua
cabeça, qualquer coisa…
Imbecil, idiota, sacana, traidor,
cachorro, filho da puta, cara de pau,
descarado, sem noção, nojento, verme,
podre, canalha, bunda mole.
Ele se aproximou. Acho que eu estava
o encarando demais.
– É uma bela casa.
– Obrigado – respondi seco.
– Você devia vir nos visitar um dia.
Você e sua esposa.
– É? – Mordi a língua.
– Com certeza. Eu e a Shelbi íamos
adorar recebê-los.
– Talvez daqui a alguns dias. Tenho
que dar um trato na Dominique antes.
– Um trato?
– É. A Shelbi não mencionou? Dom é
ninfomaníaca. Tem dias que ela fica com
tanto tesão que eu mal posso sair de
casa. É de um jeito que eu mal considero
traição quando ela fica com outros
homens. – Ele estava tentando não sorrir
e não deixar o queixo cair. Estava
falhando grotescamente em ambos os
quesitos. – Então, tenho que dar um
trato nela antes. Para não passar
vergonha na sua casa.
– Ah, sem problemas. Eu e a Shelbi
somos… Muito compreensíveis.
– É, mas a Dominique ultrapassa os
limites às vezes. – Suspirei e fingi estar
muito preocupado. – Você parece uma
pessoa discreta, será que eu poderia… –
Fingi hesitar – Não. Acabamos de nos
conhecer. – Comecei a me afastar –
Seria bem inapropriado.
– Não, por favor, fique à vontade.
Também sou homem – riu. – Sei como
podem ser os problemas conjugais.
Encarei meu inimigo mortal por
alguns segundos enquanto interpretava
um homem que cogita compartilhar ou
não um segredo.
– Dominique está com uma coisa pela
vizinha. Essa tal de… Mad… alguma
coisa.
– Madeleine?
– Essa! – sorri. – Deu que quer um
ménage com a mulher. Ninguém tira
essa ideia da cabeça dela. Estou
começando a ficar constrangido. Mas
enfim… Já disse a ela que não tem
condição.
– Hmm… Entendo. É… fazer o quê?
Dom, você me deve uma.
Uma bem grande.