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SÍNDROME PARKINSONIANAS

SÍNDROMES
PARKINSONIANAS

NEUROLOGIA 1
SÍNDROME PARKINSONIANAS

SÍNDROMES
PARKINSONIANAS

CONTEÚDO: VICTOR EVANGELISTA


CURADORIA: VICTOR EVANGELISTA

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 5

A DOENÇA DE PARKINSON ........................................................................ 5

2.A - Introdução ............................................................................................................5

2.B – Epidemiologia ......................................................................................................6

2.C - Fisiopatogenia .....................................................................................................6

Genética na Doença de Parkinson ...........................................................................8

2.D – Manifestações Clínicas .....................................................................................8

2.D.1 - Manifestações motoras.................................................................................9

2.D.2 - Manifestações não motoras ..................................................................... 13

2.F – Diagnóstico........................................................................................................ 14

2.F.1 - Passo 1 ............................................................................................................ 15

2.F.2 - Passo 2 ............................................................................................................ 15

2.F.3 - Passo 3 ............................................................................................................ 16

2.G – Tratamento ....................................................................................................... 16

2.G.1 - Manejo não farmacológico ........................................................................ 17

2.G.2 - Tratamento farmacológico........................................................................ 17

Quando iniciar terapia farmacológica? ................................................................ 17

Quais drogas temos como opção?........................................................................ 17

Quais podem ser os efeitos adversos da terapia dopaminérgica?.............. 18

2.G.3 - Tratamento cirúrgico .................................................................................. 19

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Estimulador Cerebral Profundo ............................................................................. 19

2.G.4 - Tratamento paliativo................................................................................... 19

2.H – Prognóstico ...................................................................................................... 19

Outras Síndromes Parkinsonianas ............................................................ 20

Condições Hereditárias e Degenerativas ........................................................... 20

3.A.1 Doença de Lewy ............................................................................................. 20

3.A.2 - Atrofia de Múltiplos Sistemas .................................................................. 21

3.A.3 - Paralisia Supranuclear Progressiva........................................................ 22

3.A.4 - Degeneração Corticobasal........................................................................ 23

3.A.5 - Doença de Wilson ....................................................................................... 23

3.A.6 - Neurodegeneração associada a acúmulo de ferro cerebral (NBIAs)25

3.B – Condições Adquiridas (Parkinsonismos secundários) ......................... 25

3.B.1 - Parkinsonismo Vascular ............................................................................ 25

3.B.2 - Parkinsonismo Induzido por Drogas ...................................................... 26

3.B.3 - Parkinsonismo pós Encefalítico ............................................................... 27

3.B.4 - Parkinsonismo pós traumático ................................................................ 27

3.B.5 – Hidrocefalia de Pressão Normal ............................................................. 27

3.B.6 - Calcificação dos Núcleos da Base .......................................................... 28

3.B.7 - Parkinsonismo por Manganês ................................................................. 28

3.B.8 - Parkinsonismo infeccioso e Demência-de-Guam .............................. 29

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 30

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INTRODUÇÃO A DOENÇA DE PARKINSON

As síndromes Parkinsonianas, também co- 2.A - Introdução


nhecidas como Síndromes Rígido-Acinéti-
A Doença de Parkinson é uma doença neu-
cas ou síndromes extrapiramidais hipoci-
rodegenerativa progressiva, que repre-
néticas, representam um grupo de desor-
senta a causa mais comum que existe de
dens que fazem parte dos distúrbios do
síndrome Parkinsoniana. Relatos acerca da
movimento (condições caracterizadas por
Doença de Parkinson datam desde a
anormalidades do movimento na ausência
época de da Vinci, que já havia descrito
de fraqueza, sejam elas excesso de movi-
‘’pessoas cujas almas não conseguiam
mento, chamado de hipercinesia, ou falta
controlar seus movimentos, embora suas
de movimento, chamado de hipocinesia).
extremidades ficassem tremendo continu-
As síndromes parkinsonianas são defini- amente’’. Mas foi James Parkinson quem
das por um quadro de diminuição e lentifi- primeiro fez uma monografia exclusiva-
cação dos movimentos voluntários, acom- mente dedicada à condição, chamada ‘’En-
panhados de uma ou mais características saio sobre a Paralisia Agitante’’, em 1817.
como rigidez muscular, tremor ou instabili- Ali, ele descreveu as características clínicas
dade postural. Elas recebem o seu nome da doença com tanta exatidão, que Char-
devido ao seu protótipo e principal causa cot decidiu popularizar a doença com seu
ser a Doença de Parkinson. nome em homenagem anos depois. (a mo-
nografia se encontra disponível na internet
Apesar da Doença de Parkinson ser a para os amantes de história da Neurolo-
causa mais comum de síndrome parkinso- gia).
niana, diversas outras condições são inclu-
ídas nesse grupo, desde desordens here- Atualmente, apesar dos muitos avanços
dodegenerativas até causas adquiridas. feitos no entendimento de sua patogênese
Devido a maior raridade de ocorrência des- e da descoberta de terapias cada vez mais
sas outras doenças, a abordagem diagnós- eficazes em aliviar os sintomas, ainda se
tica delas pode ser didaticamente reali- trata de uma doença incurável que pro-
zada por uma falsificação do diagnóstico gride invariavelmente para incapacidade
de doença de Parkinson – ou seja, iremos motora apesar dos nossos esforços, da
pensar nelas quando notarmos caracterís- qual ainda não conseguimos responder al-
ticas atípicas para o quadro clássico da gumas das perguntas mais básicas, como
Doença de Parkinson. ‘’de onde ela vem?’’ e ‘’como ela surge?’’.

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2.B – Epidemiologia principalmente na pars compacta da subs-


tância negra e no locus ceruleus da ponte,
Em 2016, um estudo estimou a prevalên-
mas degeneração neuronal também pode
cia global da Doença de Parkinson em 6,1
ser vista em outros núcleos do tronco,
milhões de pessoas. Ela é mais comum em
como o núcleo dorsal do vago. Essa prefe-
pessoas mais idosas, então dependendo
rência da doença por neurônios da Subs-
da idade média da população, pode ter
tância Negra resulta em perda gradual de
prevalências locais diferentes.
neurônios dopaminérgicos que se proje-

Vários fatores de proteção e de risco já são tam para o putâmem (diferente do que

bem definidos para a doença. Dentre os fa- ocorre no processo de envelhecimento

tores de risco, os que mais se destacam normal, que afeta principalmente as proje-
são idade avançada e história familiar, mas ções de dopamina para o núcleo caudado).

vale mencionar que traumatismos cranio- A depleção de dopamina resultante disso

encefálicos de repetição, morar em área se correlaciona com o grau de bradicinesia

rural e ingerir água de poço também cur- clínica, e pode explicar também outras ma-

sam com maior risco da doença. Dentro nifestações da doença, além de justificar a

dos fatores de proteção, tabagismo e his- boa resposta que esses pacientes apre-

tórico de ingestão de café são os mais bem sentam ao tratamento com drogas dopa-

documentados. minérgicas.

2.C - Fisiopatogenia Os mecanismos fisiopatológicos precisos


que levam à essa neurodegeneração ainda
A fisiopatologia da Doença de Parkinson é não são completamente compreendidos,
complexa e ainda não totalmente compre- mas envolvem uma cascata de eventos
endida. Na análise macroscópica, não se que resulta de interações entre fatores ge-
notam alterações grosseiras cerebrais (ex- néticos e anormalidades de processa-
ceto por atrofia cerebral, que pode ser mento de proteínas, estresse oxidativo,
branda em pacientes mais idosos), e o disfunção mitocondrial, inflamação, regu-
mais notável ao realizar os cortes para vi- lação imune e outros fatores ainda desco-
sualizar estruturas profundas é a despig- nhecidos.
mentação da Substância Negra mesence-
fálica no tronco cerebral. Não há consenso sobre os critérios patoló-
gicos definidores da Doença de Parkinson,
Na patologia, alterações características mas a maioria dos especialistas acredita
nos pacientes são perda neuronal e gliose, que os Corpúsculos de Lewy constituem o

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principal marco patológico da condição. Mais recentemente, essa visão patológica


Eles são inclusões neuronais intracitoplás- tradicional da Doença começando com de-
micas eosinofílicas compostas principal- generação de neurônios dopaminérgicos
mente de alfa-sinucleina, uma proteína da Substância Negra foi desafiada, e um
pré-sináptica. Mas essa definição possui neuropatologista chamado Heiko Braak
diversos problemas. Os corpos de Lewy propôs que as alterações na verdade co-
não são específicos da Doença de Parkin- meçariam no bulbo olfatório e na medula
son, e podem ser encontrados em diversas oblonga (bulbo) do tronco cerebral, e só
outras doenças neurodegenerativas e in- depois progrediriam rostralmente num
clusive em cérebros de pessoas normais processo ao longo de anos para a Substân-
idosas. cia Negra e córtex cerebral. Essa teoria aju-
daria a explicar por que alguns achados
O termo Sinucleinopatias foi cunhado en-
não motores da doença, como diminuição
tão para representar o grupo de desordens
da função olfativa, constipação intestinal e
que cursa como marcador patológico prin-
distúrbios do sono, podem ocorrer até
cipal a presença de agregados anormais
anos antes das manifestações motoras
de alfa sinucleina. Dentro desse grupo en-
clássicas.
contramos, além da Doença de Parkinson,
a Doença de Lewy e a Atrofia de Múltiplos Em resumo, a doença parece vir de intera-
Sistemas, que também são causadoras de ções complexas de fatores genéticos e
síndrome Parkinsoniana. Inclusões como processos celulares, que levam a perda
os Corpúsculos de Lewy são classica- neuronal distribuída em localizações típi-
mente consideradas como tóxicas, mas cas no sistema nervoso. Seja qual for o ga-
ainda não sabemos se elas têm papel tó- tilho inicial ou progressão do processo pa-
xico ou neuroprotetor (e assim só repre- tológico, tudo se culmina em perda de neu-
sentariam uma defesa do organismo ao rônios dopaminérgicos na Substância Ne-
processo patológico) na doença. Essa falta gra, que parece ser o substrato necessário
de especificidade de achados patológicos para a manifestação cardinal da doença –
há tempos levanta a possibilidade de que a bradicinesia. Nos próximos anos espera-
a Doença de Parkinson possa não ser uma mos descobrir ainda mais sobre os misté-
entidade específica, mas sim uma sín- rios por trás de todas essas questões, com
drome clínica resultante de diferentes cau- esperanças de que esse melhor entendi-
sas patológicas. mento nos ajude no desenvolvimento de
medicamentos que alterem a história natu-
ral da doença.

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Genética na Doença de Parkinson (por volta de 40 anos). Características não


usuais são distonia já na apresentação, hi-
Embora a maioria dos casos da Doença se-
perreflexia e progressão lenta da doença.
jam considerados esporádicos, há cada
vez mais evidências de fatores genéticos PARK 8 – LRRK2 – leva a quadros autos-
influenciando na sua patogênese, princi- sômicos dominantes sem patologia de cor-
palmente nos casos de Doença de Parkin- pos de Lewy. É uma mutação bastante
son de início precoce (menores de 50 prevalente, principalmente entre portu-
anos). gueses, judeus e população árabe norte
africana. Clinicamente, é um parkinso-
Diversas mutações em genes já foram des-
nismo assimétrico dopa responsivo com
critas, e padrões de herança diversos já fo-
desordem de comportamento proemi-
ram encontrados. Causas monogenicas da
nente, incluindo ataques de ansiedade, de-
doença parecem representar 1,4% dos ca-
pressão, paranoide e suicídio, mas sem de-
sos. Cada gene implicado pode resultar em
clínio cognitivo. Tremor de perna unilateral
características distintivas da doença, e pa-
na apresentação e distonia de pé são ca-
drões de herança, história familiar, curso
racterísticas proeminentes.
dos sintomas e presença de outras mani-
festações podem nos ajudar a suspeitar PARK 9 – degeneração palidopiramidal
clinicamente delas. Alguns exemplos se- com paresia da mirada para cima supranu-
guem: clear e demência (doença de Kufor-Rakeb)
– Quadro de início precoce (por volta de 15
PARK1 – mutações do gene da alfa sinu-
anos) com parkinsonismo rapidamente
cleina – forma autossômica dominante,
progressivo, espasticidade e paralisia su-
com quadro de Doença de Parkinson tí-
pranuclear da mirada para cima.
pica, só que com início mais precoce e
curso mais rapidamente progressivo. 2.D – Manifestações Clínicas

PARK2 - Parkin - Causa parkinsonismo de A Doença de Parkinson faz classicamente


início precoce e progressão lenta, podendo parte do grupo dos distúrbios do movi-
cursar com distonia, hiperreflexia e compli- mento, ou seja, doenças aonde as manifes-
cações precoces relacionadas a terapia do- tações que dominam o quadro são dificul-
paminérgica. dades de gerar ou inibir movimentos mo-
tores, na ausência de fraqueza. Embora
PARK6 – PINK1 - Causam parkinsonismo
isso seja verdade, também vemos que
autossômico recessivo de início precoce
cada vez mais vêm sendo descritas

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manifestações não motoras da doença, para o outro lado, se mantêm assimétricas


mostrando ser uma condição complexa durante toda a história natural da doença.
com envolvimento difuso do sistema ner-
Bradicinesia – É a manifestação obrigató-
voso central, e não somente de estruturas
ria e mais característica da doença. Ela é
que regulam a motricidade.
definida como uma lentificação do movi-
Como visto acima, a doença pode ter idade mento, associada a uma perda progressiva
de apresentação bastante variável, porém de amplitude na realização de movimentos
sua incidência aumenta conforme o avan- repetitivos.
çar da idade, tornando ela uma condição
Ela está presente no início da fase motora
mais comumente vista em idosos. É uma
da doença em até 80% dos pacientes, e
doença de caráter progressivo, e os sinto-
com a progressão se desenvolve em todos.
mas vão piorando ao longo de anos, le-
É tida como a principal causa de incapaci-
vando a uma incapacidade cada vez mais
dade nesses pacientes. Apesar de ela ser a
severa.
característica mais comum, é também a
2.D.1 - Manifestações motoras mais difícil dos pacientes descreverem
com precisão, e o clínico precisa estar
A Doença de Parkinson é o protótipo da
atento pois ela pode ser relatada como
Síndrome Parkinsoniana, uma síndrome
‘’fraqueza’’, ‘’desajeitamento’’, ‘’cansaço’’ e
extrapiramidal caracterizada pela tétrade
até dor.
de:
Dependendo do local do corpo afetado, ela
- Bradicinesia
pode se manifestar de diferentes formas.
- Rigidez muscular Nos braços, ela normalmente começa dis-
talmente com perda da destreza manual,
- Tremor dificultando atividades como abotoar rou-
pas, amarrar sapatos e escrever. Eles po-
- Prejuízo dos reflexos posturais
dem se queixar de escrita reduzida e ter
Importante de se notar é que todas essas problemas com cheques não sendo mais
características motoras na Doença de Par- aceitos por alterações nas suas assinatu-
kinson possuem em comum o fato de se ras. Nos membros inferiores, ela se mani-
iniciarem de forma unilateral, e apesar de festa com marcha mais lenta e de passos
com a progressão poderem se espraiar curtos, com os pacientes precisando au-
mentar a frequência dos passos para

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compensar a perda de amplitude (festina- podemos pedir para o paciente realizar


ção), além da diminuição do balançar dos movimentos de pronação-supinação do
braços característica da doença. Com o antebraço. Nos membros inferiores, pode-
tempo, congelamentos da marcha podem mos pedir para ele bater com o pé no chão
ocorrer, principalmente ao passarem por repetidamente ou quando sentado com as
entradas estreitas ou ao mudar o aspecto pernas pendentes fazer movimentos de
do piso aonde estão andando. A virada pedalar (manobra do pedalar de Maul-
desses pacientes fica lenta, precisando dar tasch). Lentificação desses movimentos
vários passos para os lados antes de iniciar com diminuição progressiva da amplitude,
a volta (virada em bloco). No rosto, ela se até um momento que os movimentos pa-
manifesta com perda das expressões faci- ram e o paciente os reinicia, é caracterís-
ais, dando um aspecto frio e indiferente ao tico.
paciente.
Importante salientar que a quantidade de
Ao exame clínico, a bradicinesia pode ser rigidez e tremor não se correlaciona com a
aparente já na inspeção geral – o paciente severidade da bradicinesia.
fica sentado completamente parado, com
Alguns eventos dramáticos como disparar
falta de expressão e gesticulação normal,
de um alarme ou barulho de um tiro podem
diminuição da frequência do piscar dos
fazer o paciente com DP conseguir fazer
olhos (o normal é pelo menos 10 piscadas
por um período várias atividades rapida-
por minuto), diminuição do volume da voz
mente, como se não possuíssem a doença
e cadencia da fala e sialorreia. Pesquisa-
(cinesia paradoxal). Isso dura cerca de 1
mos por ela pedindo ao paciente para rea-
minuto em média e o mecanismo para tal
lizar movimentos amplos e repetitivos com
fenômeno é desconhecido, mas parece in-
diferentes partes do corpo, observando a
dicar que as vias voluntarias para ação es-
velocidade, amplitude e ritmo deles. Pode-
tão intactas, e a doença interfere com ou
mos pedir para ele realizar movimentos de
bloqueia seu uso normal.
extensão e flexão do indicador e polegar,
com as pontas dos dedos se encontrando Rigidez muscular – ela é definida como um
uma na outra (manobra ‘’finger tapping’’), aumento de resistência à movimentação
podemos avaliar bradicinesia na escrita do passiva (hipertonia), com características de
paciente, com as letras diminuindo ao ser constante durante toda amplitude de
longo de uma frase, ou pedindo para ele movimento e não ser velocidade depen-
desenhar uma espiral numa folha, e vendo dente, características que diferenciam ela
a distância entre as linhas. Também

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

da hipertonia espástica vista em quadros Tremor – O tremor na Doença de Parkin-


piramidais. Ela ocorre em 75-90% dos pa- son é classicamente descrito como um tre-
cientes com Doença de Parkinson. mor de repouso, ou seja, um tremor que
predomina quando a parte do corpo tre-
A rigidez pode ser observada durante a
mulante está suportada pela gravidade e
inspeção geral, pela postura fletida de
não se encontra engajada em manter uma
tronco e membros característica do paci-
postura ou realizar atividades propositais.
ente, ou pela presença da mão estriatal
A frequência típica do tremor fica entre 3 e
(uma postura de mão com extensão das in-
7 Hz. Tremor pode ser o sintoma de apre-
terfalangianas proximais e distais e flexão
sentação em até 80% dos casos, e quase
das metacarpofalangianas).
todos os pacientes irão desenvolver tremor
A rigidez é testada na beira do leito através em algum ponto do curso da doença.

de manipulação passiva dos membros. Ela


O tremor usualmente começa intermiten-
pode somente vir à tona pedindo ao paci-
temente, de forma unilateral, mais comu-
ente para realizar movimentos com o
mente na mão, e depois se espraia para
membro contralateral ao testado (Sinal de
outras partes do corpo com a progressão
Froment). Muitos tem o fenômeno da roda
da doença. O lado no qual o tremor se ini-
denteada associado a rigidez, que consiste
cia tende a ser o lado mais afetado pela do-
em um padrão de resistência desarru-
ença durante todo seu curso. Importante
mado, quebrado, resultante de um tremor
notar que a distribuição do tremor pode
subjacente que está escondido pela rigi-
nos ajudar em termos diagnósticos, sa-
dez. Se observa uma resistência aos movi-
bendo que Doença de Parkinson não cos-
mentos passivos, principalmente na mus-
tuma causar tremor de cabeça (mais co-
culatura antigravitacional. Manobras como
mumente uma manifestação de tremor es-
balançar o tronco do paciente estando ele
sencial ou tremor distônico), e sabendo
em pé e observar o movimento passivo dos
que um tremor unilateral de perna, apesar
braços e elevar as pernas e soltá-las es-
de incomum, é bastante específico da con-
tando o paciente sentado com as pernas
dição. O tremor das mãos costuma ser ti-
pendentes e observando diminuição do
picamente de flexão e extensão dos dedos
balanças das pernas podem ser úteis para
ou punho, usualmente com pronaçao-su-
detectar quadros sutis (algumas das diver-
pinaçao do antebraço. Embora muitas ve-
sas manobras descritas por Robert War-
zes seja chamado de tremor de rolar de pí-
tenberg em seu livro ‘’Diagnostic Tests in
lulas (pill rolling) ou contar de moedas, a
Neurology’’).

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

maioria deles não tem o componente rota- Prejuízo dos reflexos posturais - Repre-
tório do rolar de pílulas verdadeiro. senta um prejuízo dos reflexos de manu-
tenção da postura, que causam com que o
Para avaliar o tremor, precisamos inspeci-
paciente tenha um sentimento de desequi-
onar o segmento tremulante em 3 etapas:
líbrio e tendência a cair. Deve ser notado
1) Durante o repouso, como com os braços
que isso é uma manifestação TARDIA na
repousando em cima das coxas ou em
Doença de Parkinson, e a ocorrência de
cima de uma mesa, ou durante a marcha.
quedas nos primeiros anos do curso de
2) Com os membros em uma postura man-
uma síndrome parkinsoniana devem nos
tida, como com os braços esticados para
alertar para a possibilidade de um diag-
frente ou segurados com os cotovelos do-
nóstico alternativo.
brados em 90º (em posição de sentido). 3)
Durante a ação, como ao realizar a mano- Avaliamos ela clinicamente deixando o pa-
bra dedo-nariz. O tremor da doença de ciente em pé e nos posicionando atrás
Parkinson pode estar presente em qual- dele, e assim puxamos o paciente firme-
quer um desses momentos, mas é caracte- mente pelos ombros e observamos suas
risticamente pior ao repouso. O tremor pi- respostas reflexas (Pull-test). Pacientes
ora com estressores cognitivos, como pe- com reflexos posturais normais mantêm
dir para o paciente realizar cálculos men- seu equilíbrio dando um passo para trás.
tais ou falar os meses do ano de trás para Pacientes com prejuízo dos reflexos postu-
frente. Ele pode se manifestar como um rais podem ter que dar diversos passos
tremor reemergente quando o paciente sai para trás ou até nem ativarem o reflexo de
da posição de repouso para a posição pos- passos, e caírem em bloco. Sempre garan-
tural, tendo alguns segundos de parada do tir que você está atrás do paciente para
tremor, seguida de retomada dele com as evitar lesões.
mesmas características.
A perda dos reflexos posturais é uma
Como o tremor da Doença de Parkinson di- causa importante de incapacidade, e resul-
minui com ações propositais, ele usual- tam em lesões por quedas repetitivas, pro-
mente é a manifestação cardinal que me- gredindo até deixar os pacientes restritos
nos incapacita os pacientes, mas quando à cadeira de rodas. Dentre as manifesta-
ele é severo pode gerar dificuldades na es- ções motoras principais da doença, a ins-
crita e em outras atividades manuais. tabilidade postural é a que menos res-
ponde às terapias dopaminérgicas.

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

2.D.2 - Manifestações não motoras devemos considerar a possibilidade de ou-


tro diagnóstico.
Desde sua descrição, o foco na da Doença
de Parkinson sempre foi em cima das suas Distúrbios Gastrointestinais – Constipa-
manifestações motoras, mas ultimamente ção intestinal é muito comum na doença, e
vem cada vez mais sendo estudados efei- assim como os distúrbios do olfato, podem
tos da doença em outros sistemas. Atual- estar presentes já desde anos antes do iní-
mente é amplamente reconhecido que a cio das manifestações motoras.
condição não se limita às suas manifesta-
Distúrbios do sono – Diversos tipos de
ções cardinais, e sintomas não motores fa-
distúrbios do sono podem ocorrer na do-
zem parte importante do quadro clínico da
ença, como fadiga diurna excessiva, dis-
doença, ocorrendo em virtualmente todos
túrbio do sono REM, síndrome das pernas
os pacientes. Dentro delas, podemos citar
inquietas e movimentos periódicos dos
principalmente:
membros. Dentro desses, o distúrbio do
- Distúrbios do Olfato sono REM merece menção, por ser uma
ocorrência bem relatada dentro do grupo
- Distúrbios Gastrointestinais
das sinucleinopatias. Se caracteriza por
- Distúrbios do Sono perda da paralisia do sono, resultando na
atuação dos sonhos, podendo se manifes-
- Disfunção cognitiva tar com vocalizações e atos motores du-
rante a noite. Comumente os companhei-
- Distúrbios psiquiátricos
ros desses pacientes relatam já terem sido
Distúrbios do olfato – São muito comuns acordados a noite por movimentos ou sons
na Doença de Parkinson. Podem se mani- emitidos por eles, e eles podem já terem
festar como dificuldades na detecção ou inclusive caído da cama. Muitas vezes têm
identificação de odores. Muitas vezes, isso início também até anos antes das manifes-
passa despercebido pelo paciente e pre- tações motoras.
cisa ser buscado ativamente no exame fí-
Disfunção cognitiva – Disfunção cognitiva
sico. Esses déficits podem preceder o início
e demência são comuns na Doença de Par-
das manifestações motoras em anos, e são
kinson, mas tendem a se manifestar tardi-
tão comuns na doença que se encontrar-
amente, normalmente anos após os sinto-
mos pacientes com síndrome parkinsoni-
mas motores (diferenciando da Demência
ana e testes de função olfativa normais,
por Corpos de Lewy). A demência é

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

comumente do tipo subcortical, com lenti- - Fenótipo com instabilidade postural e


ficação psicomotora, dificuldades de me- desordem de marcha.
mória, função executiva e visuoespacial.
Mas cuidado – a progressão dos sintomas
Distúrbios psiquiátricos – Psicose, aluci- motores na doença é imprevisível, e o fe-
nações, distúrbios do humor como depres- nótipo clínico do paciente pode mudar com
são, ansiedade, apatia e abulia comumente o tempo.
ocorrem durante o curso da doença.
2.F – Diagnóstico
Outros – Muitas outras manifestações não
O padrão ouro para o diagnóstico da Do-
motoras podem perturbar esses pacientes,
ença de Parkinson é exame neuropatoló-
gerando incapacidades e diminuindo a
gico, mas conseguimos fazer um diagnós-
qualidade de vida. Podem ser: distúrbios
tico suficientemente acurado usando infor-
autonômicos como hipotensão postural,
mações da anamnese e do exame físico.
disfagia, disfunção sexual ou sialorreia;
Para isso, dependemos principalmente da
dor; achados dermatológicos como derma-
habilidade do médico de reconhecer as
tite seborreica e aumento da ocorrência de
manifestações clínicas cardinais da do-
melanomas.
ença.
2.E – Classificação
Os critérios diagnósticos da doença atual-
Tendo falado das manifestações motoras, mente se apoiam no reconhecimento das
vale a pena a menção de que muitos espe- manifestações motoras típicas associadas
cialistas consideram que a doença possua a critérios de suporte e ausência de crité-
diferentes fenótipos clínicos, que são de- rios de exclusão. Conforme a doença foi
terminados de acordo com quais manifes- sendo estudada, novos critérios de suporte
tações motoras se apresentam de forma e sinais de alarme vem sendo incluídos nas
mais severa no quadro. Esses são: considerações diagnósticas, incluindo exa-
mes complementares, mas ainda não exis-
- Fenótipo tremulante – aonde o predomí-
tem formas 100% acuradas de distinguir a
nio é de tremor. Tem como característica
doença de outras formas de parkinso-
uma progressão mais lenta doença, com
nismo in vivo.
menos prejuízos neuropsicológicos.
Podemos seguir alguns passos no nosso
- Fenótipo Rígido-Acinético – aonde pre-
raciocínio diagnóstico:
dominam a rigidez e bradicinesia, sem
tanto tremor.

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

2.F.1 - Passo 1 - Primeiro, devemos fazer doença, mas não são isoladamente crité-
o diagnóstico de uma síndrome parkinso- rios de exclusão. A presença de 3 deles ex-
niana. Para isso, precisamos de evidência clui a possibilidade de Doença de Parkin-
clínica de bradicinesia (critério obrigatório) son.
associado a rigidez ou tremor de repouso.
Podem ser: quedas recorrentes se inici-
Note que instabilidade postural tende a ser
ando dentro de 3 anos de doença; ausên-
uma característica tardia na Doença de
cia de progressão dos sinais motores; dis-
Parkinson, e se presente precocemente in-
fagia precoce; disfunção respiratória inspi-
clusive fala a favor de um diagnóstico al-
ratória, com estridor noturno; ausência de
ternativo, então não entra nos critérios di-
características não motoras da doença
agnósticos.
após 5 anos de início do quadro (hiposmia,
2.F.2 - Passo 2 – Agora, precisamos pro- constipação, distúrbio do sono REM); si-
curar fatores que irão nos ajudar a deter- nais piramidais não explicados por outra
minar ou excluir que a causa da síndrome condição (ex AVE prévio); parkinsonismo
parkinsoniana é Doença de Parkinson. bilateral e simétrico.
Para isso usamos critérios de suporte, red
• Critérios de Exclusão – São sinais que
flags e critérios de exclusão.
eliminam a possibilidade de se tratar de
• Critérios de suporte – São característi- Doença de Parkinson.
cas que aumentam a confiança de que o
Podem ser: sinais cerebelares; Lentificação
diagnóstico é Doença de Parkinson.
e limitação das sacadas (movimentos ocu-
Podem ser: Resposta boa e sustentada a lares rápidos) para baixo (lentificação e li-
terapia dopaminérgica; Flutuações moto- mitação das sacadas para cima pode ocor-
ras ou discinesias como efeito adverso da rer com a idade avançada e deve ser avali-
terapia dopaminérgica; Tremor de repouso ada cuidadosamente); diagnóstico de de-
de um membro; Presença de disfunção ol- mência do tipo frontotemporal dentro de 5
fativa (hiposmia); evidencia de desenerva- anos do início do quadro; sinais parkinso-
ção simpática cardíaca na cintilografia com nianos restritos aos membros inferiores
Metaiodobenzilguanidina (MIBG); Hipere- por mais de 3 anos; uso recente de bloque-
cogenicidade da substancia negra no Ul- adores dopaminérgicos; ausência de res-
trassom Transcraniano. posta a doses altas de Levodopa; perda
sensitiva cortical, apraxia ideomotora ou
• Sinais de Alarme (Red Flags) – São si-
afasia progressiva; neuroimagem funcional
nais de que pode ser potencialmente outra

15
SÍNDROME PARKINSONIANAS

do sistema dopaminérgico pré-sináptico Outros exames complementares, como


normal; documentação de outra condição Dat-Scan, Ultrassom Transcraniano e PET
que cause parkinsonismo. podem ajudar muito também na avaliação
diagnóstica, quando solicitados em suas
2.F.3 - Passo 3 – Agora aplicamos os cri-
indicações precisas.
térios.
No momento, só podemos fazer o diag-
• Chamamos de doença de Parkinson cli-
nóstico de Doença de Parkinson após o
nicamente estabelecida quando temos
surgimento das manifestações motoras da
parkinsonismo + ausência de critérios de
doença, mas a esperança é de que no fu-
exclusão + ausência de sinais de alarme +
turo teremos biomarcadores melhores que
presença de pelo menos 2 critérios de su-
possibilitem o diagnóstico ainda na fase
porte.
pré-motora, possibilitando tratamento

• Chamamos de Doença de Parkinson cli- com drogas modificadoras da história na-

nicamente provável quando temos parkin- tural da doença (que ainda serão desenvol-

sonismo + ausência de critérios de exclu- vidas) precocemente.

são + ausência de critérios de suporte e red


2.G – Tratamento
flags ou presença de 1 red flag contraba-
lanceada por 1 critério de suporte ou pre- A Doença de Parkinson talvez seja a do-
sença de 2 red flags contrabalanceados ença neurodegenerativa que possui a mais
por 2 critérios de suporte. ampla variação de tratamentos disponí-
veis. O manejo desses pacientes é com-
Devemos lembrar que o diagnóstico da
plexo, e requer uma abordagem individua-
Doença de Parkinson é um ‘’diagnóstico de
lizada considerando fatores como quais
gaveta’’ (citação direta do Professor Flávio
são os sinais e sintomas do paciente em
Costa), que precisa ser constantemente re-
questão, sua idade, estágio da doença,
visado em cada visita clínica, pois ao longo
grau de incapacidade funcional além de
do curso da condição podem surgir novos
seus sintomas não motores. Então, vere-
critérios de suporte, exclusão ou sinais de
mos que raramente dois pacientes diferen-
alarme.
tes com Doença de Parkinson terão uma

Ressonância Magnética de Crânio normal- prescrição igual, tornando o tratamento

mente faz parte da investigação inicial, e muito individualizado.

tem como objetivo excluir anormalidades


Temos abordagens não farmacológicas,
estruturais que possam justificar o quadro.
farmacológicas e cirúrgicas dentro do

16
SÍNDROME PARKINSONIANAS

nosso leque terapêutico. Devemos ter em Conforme a incapacidade da doença pro-


mente que apesar de todas essas opções gride, terapia ocupacional pode ajudar o
de tratamento, todos eles são medidas paciente a se adaptar a atividades e intro-
meramente sintomáticas, e não alteram o duzir acessórios de ajuda como bengalas
curso natural da doença. Ainda estamos na além de modificações no ambiente aonde
esperança do desenvolvimento de terapias vive.
neuroprotetoras no futuro.
2.G.2 - Tratamento farmacológico
2.G.1 - Manejo não farmacológico
Existem muitas drogas disponíveis para o
Dentro das estratégias não farmacológi- tratamento da doença, e a maioria delas
cas, como em todas as doenças é essencial tem como foco aliviar os sintomas motores
educar o paciente sobre a condição e ofe- da condição, oferecendo controle sintomá-
recer grupos de apoio para combater o es- tico. Assim como no diagnóstico, temos
tigma de desinformação que circunda a que tomar uma abordagem sequencial
doença, e oferecer suporte psicológico às quando pensamos em tratamento farma-
reações normais de raiva, depressão e an- cológico.
siedade que comumente acompanham um
Quando iniciar terapia farmacológica?
diagnóstico de doença crônica.

A decisão de iniciar tratamento sintomá-


Exercício físico regular é de suma impor-
tico deve ser determinada pelo grau com
tância também, ajudando a aliviar efeitos
que os sintomas interferem na vida do pa-
secundários ortopédicos da rigidez e dores
ciente. Isso pode variar bastante de pessoa
sentidas por esses pacientes. Tai chi, hi-
para pessoa, e muitos no início do quadro
droginástica e dança são ótimos para me-
não sentem muitas dificuldades, principal-
lhorar equilíbrio, flexibilidade e força, pro-
mente quando o sintoma inicial é tremor de
tegendo esses pacientes de quedas e suas
repouso em sua mão não dominante. Mas
complicações. Para os pacientes com hipo-
nunca esquecer de levar em consideração
fonia e disartria, tratamento com equipe de
trabalho e hobbies do paciente, riscos de
fonoaudiologia ajuda a melhorar volume e
não tratamento e opiniões e valores pesso-
cadência da fala. Acompanhamento nutri-
ais do paciente acerca dos medicamentos.
cional é importante, pois esses pacientes
têm risco especialmente aumentado de Quais drogas temos como opção?
desnutrição devido a hiposmia e hipogeu-
sia. A escolha do tratamento inicial deve ser in-
dividualizada, baseada em características

17
SÍNDROME PARKINSONIANAS

do paciente e das drogas disponíveis. Te- progredir para seu uso, independente de
mos disponíveis 4 principais: Inibidores da qual medicamento iniciaram tomando. Um
Monominoxidase tipo B (iMAO B), Aman- detalhe importante é que muitos pacientes
tadina, Agonistas dopaminérgicos e Le- irão pedir para adiar o início de tratamento
vodopa. com ela, sob a falsa crença de que começar
precocemente a droga se associa ao de-
As iMAOB (Selegilina e Rasagilina) são in-
senvolvimento de flutuações motoras mais
dicados para pacientes de qualquer idade
precocemente também. Isso não é pro-
com sintomas brandos, pois tem um bene-
vado, e a resposta a Levodopa não é finita
fício pequeno, mas tendem a ser bem tole-
nem dose dependente. Além disso há cada
radas e possuir posologia cômoda.
vez mais evidencias mostrando que a es-
Amantadina também possui efeitos mo- colha de tratamento inicial para a doença

destos sobre os sintomas e tende a ser tenha pouco impacto a longo prazo nas

bem tolerada. Ela parece ser especial- flutuações ou discinesias, então atrasar o

mente efetiva nos pacientes que têm tre- início da Levodopa priva de forma desne-

mor como uma manifestação proeminente. cessária os pacientes de terem benefício

Depois, em estágios mais tardios se mos- terapêutico precocemente na doença,

tra uma boa opção para tratamento das aonde o potencial de melhora funcional

discinesias motoras secundárias a Le- sustentada é o melhor. Apesar de ser o tra-

vodopa. tamento mais eficaz, ela requer mais toma-


das diárias e oferece maior riscos de com-
Os agonistas dopaminérgicos têm um plicações motoras dopaminérgicas.
efeito melhor do que os acima para o con-
trole motor, mas ainda assim pior do que a Quais podem ser os efeitos adversos da

Levodopa. Eles oferecem menor risco de terapia dopaminérgica?

complicações motoras que a Levodopa,


Vários pacientes com Doença de Parkin-
mas podem causar intolerância por ques-
son irão desenvolver complicações relacio-
tões como sonolência, alucinações e dis-
nadas ao uso de Levodopa dentro de al-
túrbios do controle dos impulsos. Por es-
guns anos após seu início. Dentre elas po-
sas razões, não são recomendados para
demos citar náuseas, hipotensão postural,
pacientes idosos e nem com histórico de
distúrbios do controle de impulsos, flutua-
adição.
ções motoras (alternância entre períodos

A Levodopa é o agente mais efetivo, e to- marcados por resposta positiva ao remé-

dos os pacientes eventualmente irão dio e períodos de retorno dos sintomas) ou

18
SÍNDROME PARKINSONIANAS

discinesias (movimentos involuntários parkinsonismos atípicos ou parkinsonis-


anormais trazidos pelo uso da Levodopa mos secundários.
que podem ter características coreiformes,
Estimulador Cerebral Profundo
distônicas e/ou mioclônias).

Consiste na implantação de um eletrodo


Cada um desses efeitos adversos pode ser
gerador de pulso no núcleo subtalâmico ou
combatido por modificações individualiza-
no globo pálido interno, por cirurgia este-
das na prescrição do paciente, e podemos
reotáxica. Tem bons resultados, pode ser
variar tanto o número de tomadas de uma
realizado bilateralmente e permite controle
droga (como por exemplo espaçar as do-
fino dos impulsos por meio de ajustes ele-
ses da Levodopa em mais tomadas diárias
trônicos sobre o estímulo, além de oferecer
para diminuir períodos de flutuação)
a vantagem de modificação ao longo do
quanto adicionando drogas adjuntas. Tudo
tempo para lidar com progressão dos sin-
dependerá do tipo de efeito adverso que o
tomas. Geralmente sua melhor resposta
paciente possa estar sofrendo e seus mo-
será tão boa quanto a melhor resposta à
mentos de ocorrência.
Levodopa do paciente no pré-operatório.
2.G.3 - Tratamento cirúrgico Ele não tem ação em sintomas axiais não
responsivos à Levodopa, como instabili-
Para pacientes com Doença de Parkinson
dade postural, alterações de fala ou deglu-
que respondem bem a terapia com Le-
tição.
vodopa, mas que desenvolvem complica-
ções motoras de difícil tratamento, temos 2.G.4 - Tratamento paliativo
como opções aparelhos de assistência. Es-
Por ser uma doença incurável e progres-
ses tratamentos também são sintomáticos
siva, cuidados paliativos focados em pre-
e não atrasam a progressão da doença,
venir e aliviar o sofrimento do paciente e
mas são uteis para aumentar o tempo de
suas famílias devem ser instituídos. O foco
efeito dos remédios sem trazer junto as
deve ser no planejamento do cuidado do
discinesias dose dependentes. Dentre as
paciente, e deve ser iniciado precocemente
opções, o mais amplamente disponível é o
no curso da doença.
uso da estimulação cerebral profunda
(Deep Brain Stimulation – DBS). 2.H – Prognóstico

Importante notar que o uso do estimulador Como falado, a Doença de Parkinson é


é contra indicado em pacientes que pos- uma doença progressiva incurável, que
suem demência, psicose, depressão, leva a acúmulo progressivo de

19
SÍNDROME PARKINSONIANAS

incapacidades motoras e eventual morte É caracterizada por início de síndrome de-


relacionada à elas. O tempo de sobrevida é mencial do tipo cortical e de síndrome par-
bastante variável, tendo aumentado de- kinsoniana usualmente simétrica, que se
pois da descoberta da Levodopa e do DBS, desenvolvem dentro de 1 ano de diferença
hoje estando entre 10-15 anos após o di- uma para outra,
agnóstico.
O quadro caracteristicamente cursa com
OUTRAS SÍNDROMES PARKIN- flutuações marcadas de cognição, alucina-
SONIANAS ções visuais importantes, uma hipersensi-
bilidade ao uso de neurolépticos e muitos
Como falado, a Doença de Parkinson é a distúrbios neuropsiquiátricos. As alucina-
principal e mais comum causa de síndrome ções visuais da DCL estão presentes pre-
parkinsoniana, porém está longe de ser a cocemente e tendem a persistir – elas são
única. As outras condições que cursam vividas, tridimensionais e animadas, como
com síndrome parkinsoniana podem ser na forma de animais ou crianças.
classificadas em hereditárias/degenerati-
O parkinsonismo dela tende a ser simé-
vas ou adquiridas.
trico, ter mais envolvimento axial, instabi-
Se levarmos em consideração a doença de lidade postural e hipopimimia facial, e me-
Parkinson como protótipo de síndrome nos tremor.
parkinsoniana, podemos apreciar esses di-
O padrão de prejuízo típico deles em testes
agnósticos diferenciais de forma didática
cognitivos é de uma dificuldade predomi-
enfatizando suas características falsifica-
nante em atenção, função visuoespacial e
doras do diagnostico de Doença de Parkin-
função executiva, com memória relativa-
son (as características que elas apresen-
mente poupada no início. Mas devemos ter
tam que nos chamam atenção para pensar
cuidado, pois é cenário comum vermos
num parkinsonismo atípico).
uma demência mista, que possui patologia
Condições Hereditárias e Degenerativas de Doença de Alzheimer também – esses
casos irão cursar com déficits cognitivos
3.A.1 Doença de Lewy
semelhantes aos de Alzheimer, com preju-
É a segunda causa mais comum de de- ízo precoce da memória episódica.
mência neurodegenerativa (20% das cau-
Geralmente, não é difícil fazer esse diag-
sas de demência), e faz parte do grupo das
nostico em pacientes que começaram com
sinucleinopatias.
quadro semelhante à Doença de Parkinson

20
SÍNDROME PARKINSONIANAS

e desenvolveram demência e alucinações Representa por volta de 5% dos parkinso-


visuais proeminentes dentro do primeiro nismos.
ano do diagnóstico. O mais difícil é fazer o
Pode ser classificada de acordo com qual
diagnóstico em pacientes que não tem
sistema predomina no paciente, entre
parkinsonismo precoce proeminente (25%
AMS-P (parkinsonismo predominante),
dos casos).
AMS-C (sinais cerebelares predominam)
Para o diagnóstico, precisamos então de: ou AMS-A (sinais autonômicos predomi-
nam). Mas esses fenótipos possuem muito
- Síndrome demencial (critério obrigatório)
overlap entre si.
que precisa ser associada a flutuação da
cognição e/ou alucinações visuais bem for- O parkinsonismo da condição tende a ser
madas e detalhadas simétrico, de progressão rápida e com
quedas e instabilidade postural precoces.
- Síndrome Parkinsoniana com início de 1
ano antes até 1 ano depois do declínio Os achados cerebelares podem ser difíceis
cognitivo. de serem apreciados, pois o parkinsonismo
sobreposto pode mascará-los. No geral a
O tratamento para condição é essencial-
marcha com base alargada, com dificul-
mente sintomático, podendo ser utilizados
dade de andar em tandem (‘’Ten steps to
drogas anticolinesterásicas (para demên-
identify atypical parkinsonism’’) pode su-
cia), levodopa (para o parkinsonismo) e
gerir, mas os movimentos oculares são ca-
sendo enfatizado o cuidado a ser tomado
tegóricos em mostrar os déficits cerebela-
na prescrição de neurolépticos para esses
res – na AMS, há nistagmo downbeat
pacientes, que tendem a ser hipersensíveis
quando o paciente é colocado deitado em
a essas medicações.
supino com a cabeça pendente em 30º, de-

Eventualmente morrem de complicações feitos na manobra do cancelamento do re-

relacionadas às incapacidades. flexo vestíbulo-ocular, dismetria das saca-


das e abalos em onda quadrada, mos-
3.A.2 - Atrofia de Múltiplos Sistemas trando o componente cerebelar da desor-
dem.
Doença neurodegenerativa do grupo das
sinucleinopatias que é caracterizada por É um diagnóstico difícil de ser feito com se-
qualquer combinação de parkinsonismo gurança in vivo, e pode fazer bastante
(geralmente simétrico), sinais autonômi- overlap clínico com condições patologica-
cos, cerebelares ou piramidais. mente distintas (como por exemplo a

21
SÍNDROME PARKINSONIANAS

ataxia espinocerebelar tipo 3 de Machado- precocemente, e evolui para completa of-


Joseph).Não há tratamento se não o sinto- talmoplegia com a evolução da doença.
mático. Geralmente responde mal à terapia
O parkinsonismo da PSP tende a ser um
com Levodopa.Eventualmente morrem de
parkinsonismo de predomínio axial, com
complicações relacionadas às incapacida-
muita rigidez de pescoço e instabilidade
des.
postural precoces. Eles irão ter história de
3.A.3 - Paralisia Supranuclear Progres- quedas logo nos primeiros anos, que po-
siva dem levar a necessidade do uso de cadeira
de rodas (wheelchair sign).
Doença neurodegenerativa esporádica, do
grupo das taupatias. Parece representar 4 Quase todos desenvolvem paralisia pseu-
a 6% dos parkinsonismos. Tende a ter uma dobulbar, marcada por degeneração das
sobrevida muito menor que a doença de vias supranucleares para os núcleos dos
Parkinson. nervos cranianos bulbares. O quadro é
marcado por disartria, disfagia e disfonia
Ela é caracterizada clinicamente por uma
acompanhado de labilidade emocional
paralisia supranuclear do olhar, parkinso-
imotivada e aumento do reflexo masseté-
nismo, distonias e demência marcantes.
rico.
A paralisia supranuclear do olhar se refere
Eles desenvolvem uma síndrome demen-
a degeneração das vias do controle da mi-
cial subcortical (inclusive, o termo demên-
rada que mandam sinais para os núcleos
cia subcortical foi cunhado na PSP), carac-
dos nervos oculomotores (vias hemisféri-
terizada por lentificação psicomotora ma-
cas, cerebelares e de outros núcleos do
racada, esquecimento e muita apatia que
tronco cerebral. Isso implica que os movi-
levam a prejuízo da manipulação dos co-
mentos oculares voluntários são afetados
nhecimentos adquiridos. Além disso, apre-
de forma marcada, porém há preservação
sentam alterações em testes de lobo fron-
dos movimentos oculares reflexos (então
tal, como fluência verbal (palavras com
um paciente com total incapacidade de
uma determinada letra), perseveração mo-
olhar para baixo voluntariamente conse-
tora (ex no sinal do aplauso), comporta-
gue olhar para baixo usando o reflexo ves-
mento de utilização e sinais como Gras-
tíbulo-ocular, movendo a cabeça como na
ping palmar ou plantar e palmo-mentoni-
manobra dos olhos de boneca). Essa para-
ano ao exame físico.
lisia do olhar tende a ser mais proeminente
na mirada vertical para baixo

22
SÍNDROME PARKINSONIANAS

Na RM, sinais de atrofia mesencefálica Esse fenótipo clínico não é especifico da


(como sinal do beija-flor ou o sinal morning Degeneração corticobasal, e as mesmas
glory) podem sugerir a condição.O trata- características cognitivas e motoras já fo-
mento é sintomático, e esses pacientes ram encontradas em varias outras patolo-
tendem a responder mal à terapia dopami- gias, como Paralisia Supranuclear Pro-
nérgica. gressiva, Doença de Alzheimer e até qua-
dros vasculares – isso faz com que alguns
Eventualmente morrem de complicações
especialistas prefiram usar o termo sín-
relacionadas às incapacidades.
drome corticobasal para se referir aos pa-
3.A.4 - Degeneração Corticobasal cientes com diagnóstico clínico, e reservar
o termo degeneração corticobasal para os
É uma desordem neurodegenerativa que casos confirmados neuropatologicamente.
faz parte do grupo das Taupatias. É rara (5
a cada 100.000 pessoas), mas sua real A doença tende a progredir até a morte re-
prevalência é difícil de ser estimada devido lacionada às suas incapacidades, geral-
a heterogeneidade clínica. mente dentro de 10 anos após o diagnós-
tico.
Como seu nome implica, ela é caracteri-
zada pela presença de sinais e sintomas 3.A.5 - Doença de Wilson
relacionados a disfunção cortical e disfun-
A Doença de Wilson é uma doença here-
ção dos núcleos da base, que tendem a ser
ditária autossômica recessiva rara, que
marcadamente assimétricos. É uma de-
tende a afetar pessoas jovens, caracteri-
sordem progressiva da vida tardia caracte-
zada por um déficit da excreção de cobre,
rizada usualmente por início insidioso de
que leva a manifestações clínicas multis-
apraxia assimétrica, rigidez, tremor, mio-
sistemicas decorrentes do acúmulo patoló-
clonias e distonia dos membros, associa-
gico da substância.
dos com perda sensitiva do tipo cortical e
as vezes dor, comportamento de membro Das manifestações multissistemicas, se
alienígena, liberação frontal e sinais pira- destacam sinais e sintomas de disfunção
midais. Apesar desse ser o quadro clás- neurológica, hepática e ocular.
sico, cada vez mais vem sendo reconheci-
As manifestações neurológicas tendem a
das outras formas de apresentação dessa
se desenvolver lenta e progressivamente,
patologia, como um quadro de Demência
e são caracterizadas por predominância de
Fronto-Temporal com distúrbios de com-
distúrbios do movimento. Qualquer tipo de
portamento ou linguagem proeminentes.

23
SÍNDROME PARKINSONIANAS

distúrbio do movimento pode ser visto na infantil, mas tende a estar presente com o
Doença de Wilson (o que a torna um diag- tempo nos pacientes com inicio adulto
nostico diferencial importante de qualquer também. As formas de dano hepático são
paciente jovem com movimentos anor- numerosas, podendo levar desde hepato-
mais), sendo a mais comum uma síndrome megalia assintomática até hepatite aguda
parkinsoniana. A síndrome parkinsoniana auto limitada ou fulminante, hepatite crô-
tende a ser simétrica, e pode ser acompa- nica, cirrose hepática e hipertensão portal.
nhada de distonias, tremores (um tremor
Outras manifestações possíveis notáveis
postural em bater de asas é característico),
são – anemia hemolítica, cataratas (as ve-
ataxia, e até coreia numa minoria. Disto-
zes em formato de girassol), síndromes tu-
nias afetando a região facial podem dar
bulares renais, cálculos renais.
origem ao riso sardônico, considerado tí-
pico da doença. O diagnóstico da Doença de Wilson nunca
deve ser perdido! Pois ela representa uma
Essencialmente todos os pacientes que
causa de distúrbios do movimento em jo-
possuem manifestações neurológicas
vens tratável. Então, é um diagnóstico que
apresentam áreas de pigmentação de co-
merece ser investigado em qualquer pes-
bre na membrana de Descemet, em for-
soa com menos de 50 anos que apresente
mato de halo, que são mais bem visualiza-
movimentos involuntários. O diagnostico
dos quando exame é feito com lâmpada de
começa com testes sorológicos (cerulo-
fenda. Esses halos pigmentados recebem
plasmina e cobre séricos), um exame de
o nome de anéis de Kayser-Fleischer.
lâmpada de fenda à procura de anéis de
Se não tratado, o paciente evolui com di- Kayser-Fleischer e dosagem de cobre uri-
sartria e disfagia intensas (podendo ser nário de 24 horas (melhor). Com esses da-
necessária alimentação através de gas- dos, o diagnóstico pode ser realizado em
trostomia), além de incapacidade de de- locais aonde a testagem molecular gené-
ambulação. tica não está disponível, as vezes necessi-
tando da complementação de uma biopsia
Podem também apresentar diversos qua-
hepática. Aonde houver teste genético, a
dros psiquiátricos, como distúrbios do hu-
procura de mutações do gene ATP7B
mor, síndromes ansiosas ou labilidade
pode ser realizada.
emocional.
Quando não tratada, a doença é universal-
A doença hepática é a forma mais comum
mente fatal. Por isso, tratamento vitalício
de apresentação dos quadros de inicio

24
SÍNDROME PARKINSONIANAS

com objetivo de tratar o excesso de cobre ser vistos. O achado do sinal do ‘’olho de
é necessário. O tratamento foca em fases tigre’’ na RM é particularmente sugestivo
da doença. Geralmente leva a morte no ini-
- remover ou detoxicar o tecido que já tem
cio da vida adulta.
acumulo de cobre – realizado através do
uso de quelantes potentes, sendo o princi- Outras causas de NBIA são a Distrofia
pal a D-Penicilamina ou Trietina. Neuroaxonal Infantil (que cursa com envol-
vimento predominante do sistema nervoso
- prevenir reacumulação – feito primaria-
periférico), a Distrofia Neuroaxonal Juvenil
mente usando sais de zinco.
(que leva a uma epilepsia mioclonica pro-

3.A.6 - Neurodegeneração associada a gressiva), a Doença de Kufor-Rakeb (já fa-

acúmulo de ferro cerebral (NBIAs) lada em PARK 9 na parte de Doença de


Parkinson) e a Neuroferritinopatia (autos-
São um grupo de desordens neurodegene- sômica dominante, geralmente cursando
rativas raras, herdadas na sua maioria por mais com coreia).
forma autossômica recessiva, caracteriza-
das por acumulo de ferro cerebral e repre- 3.B – Condições Adquiridas (Parkinso-

sentadas por um espectro de desordens nismos secundários)

que fazem overlap fenotípico, que levam a


3.B.1 - Parkinsonismo Vascular
combinações variadas de parkinsonismo,
distonia, declínio cognitivo e outros déficits Síndrome parkinsoniana também pode ser
neurológicos como neuropatia periférica. causada por danos vasculares aos núcleos
Seus subtipos são diferenciados essencial- da base e/ou suas vias. Então, parkinso-
mente à nível molecular. nismo vascular é um conceito amplo, que
pode vir de lesões vasculares de diferentes
Dentre elas, a principal é a Neuodegenera-
tipos (lacunas, embolias, hemorragias, etc)
ção associada a Pantotenato-quinase
e em diferentes localizações.
(PKAN, antiga Doença de Hallervorden-
Spatz). Ela ocorre por mutações do gene Geralmente esses quadros ocorrem em
PANK2, e é caracterizada por ter inicio na pacientes com fatores de risco cardiovas-
infância (após um desenvolvimento nor- culares importantes (Hipertensão, diabe-
mal) com distúrbios motores extrapirami- tes, dislipidemia, doença arterial periférica,
dais tipicamente distonicos e parkinso- doença coronariana), e são caracterizados
nismo e prejuízo cognitivo e demência. por terem parkinsonismo de padrão de
Acantocitos no sangue periférico podem progressão atípico (início agudo, ou piora

25
SÍNDROME PARKINSONIANAS

em passos), fraqueza e sinais piramidais 3.B.2 - Parkinsonismo Induzido por Dro-


associados e demência subcortical. gas

O quadro mais distintivo associado ao Existem diversas drogas que podem levar,
dano vascular parece ser o de parkinso- como efeito adverso, ao desenvolvimento
nismo da metade inferior do corpo (lower de síndromes parkinsonianas. Normal-
half parkinsonism), caracteristicamente mente o mecanismo comum por trás de to-
associada com a doença de Biswanger. das as drogas que têm potencial de causar
Esses pacientes apresentam marcha de parkinsonismo é um de bloqueio, depleção
pequenos passos, com pés colados ao ou diminuição da disponibilidade da Dopa-
chão (fenômeno dos pés magnéticos), po- mina no sistema nervoso central. As mais
rém sem hipomimia facial, sem postura fle- classicamente descritas são as drogas
tida de tronco e com balançar dos braços Neurolépticas e a Flunarizina.
preservado. Se acredita que a anormali-
É uma condição comum, e se estima que
dade da marcha possa ser resultado de
cerca de 20% dos diagnósticos inicial-
dano a substancia branca periventricular –
mente dados como Doença de Parkinson
ali há fibras talamocorticais vindas dos nú-
sejam na verdade Parkinsonismo induzido
cleos da base para a área suplementar mo-
por drogas.
tora que se direcionam para a perna (elas
ficam em localização semelhante as fibras Clinicamente, o parkinsonismo induzido
que passam do córtex motor para o cere- por drogas pode mimetizar todas as carac-
belo). terísticas cardinais da Doença de Parkin-
son clássica, com bradicinesia, rigidez, tre-
A RM nesses casos será categórica mos-
mor e instabilidade postural que podem
trando alterações vasculares suficiente-
ser inclusive assimétricos em 40% dos ca-
mente importantes para justificar o qua-
sos. Entretanto, há varias características
dro. Lembrar que a correlação das áreas de
do parkinsonismo induzido por drogas que
infarto com desenvolvimento de parkinso-
não ocorrem na Doença de Parkinson,
nismo ainda não é bem estabelecida, e já
como a presença de discinesias tardias ou
foi relatada com isquemias frontais, de nú-
crises oculogíricas coexistentes. A pre-
cleos da base e de mesencéfalo.
sença de síndrome do coelho, uma forma
Eles não respondem bem ao uso da Le- de tremor dos lábios e mandíbula, sugere
vodopa, e o tratamento se foca em contro- que o quadro seja secundário ao uso de
lar os fatores de risco cardiovasculares. drogas.

26
SÍNDROME PARKINSONIANAS

Após a retirada dos agentes ofensores, a hematomas cerebrais e encefalopatia pro-


maioria dos pacientes melhora em perío- gressiva por traumas repetitivos (encefalo-
dos variáveis (semanas a meses), mas em patia pugilistica).
alguns casos parkinsonismo tardio pode
O próprio James Parkinson já tinha suge-
persistir.
rido que trauma poderia causar parkinso-
Há sugestões que pacientes que desenvol- nismo – ele achava que a doença vinha da
vem parkinsonismo induzido por drogas parte superior da medula, na parte cervical,
tenham anormalidades na gânglia basal ou devido a sua mobilidade a tornar particu-
até tenham mais propensão a desenvolver larmente susceptível a injurias.
Doença de Parkinson no futuro (então
Dentre essas causas, a encefalopatia pugi-
pode ser visto como fator de risco para de-
lística é a mais bem descrita. Ela foi notada
senvolvimento de DP – 10-15% acabam
primeiro em boxeadores que desenvol-
desenvolvendo).
viam uma lentificação mental com fala ar-
3.B.3 - Parkinsonismo pós Encefalítico rastada, incoordenação e ataxia que lem-
bravam os efeitos do álcool (punch drunk
Foi a denominação dada ao quadro parkin-
syndrome). Há normalmente início insidi-
soniano sequelar dos pacientes que sofre-
oso de uma encefalopatia com agravação
ram de Encefalite letárgica (Doença de von
de uma tendência agressiva pré-existente,
Economo), de 1916 ate 1927. Ele costu-
comportamento antissocial e distúrbio de
mava deixar uma parcela dos sobreviven-
conduta. Prejuízo de memória e concentra-
tes com um quadro de parkinsonismo (que
ção podem se desenvolver e progredirem
poderia ser em extensão) e com crises ocu-
para demência, além disso um quadro par-
logiricas proeminentes.
kinsoniano pode se desenvolver também.

Esses pacientes anos depois foram os pri-


3.B.5 – Hidrocefalia de Pressão Normal
meiros a serem tratados com a Levopa (ler
mais em ‘’Tempo de Despertar’’, por Oliver Alguns consideram a hidrocefalia de pres-
Sacks) são normal dentro dos diagnósticos dife-
renciais da síndrome parkinsoniana, de-
3.B.4 - Parkinsonismo pós traumático
vido ao seu componente de distúrbio de

Síndromes parkinsonianas podem estar marcha. É uma condição de fisiopatologia

associadas com Traumatismo Cranio-En- ainda não totalmente compreendida, que

cefalico. Os mecanismos podem ser varia- cursa com hidrocefalia comunicante em

dos, desde injurias penetrantes, fechadas, exames de imagem e clinicamente com a

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

tríade clássica de distúrbio de marcha, in- 3.B.6 - Calcificação dos Núcleos da Base
continência urinaria e síndrome demencial
Calcificações patológicas dos núcleos da
(embora a maioria dos pacientes não apre-
base são coletivamente chamadas por al-
sentem os 3 elementos e essa combinação
gumas referências como Síndrome de
de achados seja relativamente pouco es-
Fahr. Elas podem ser resultado de diversas
pecífica).
condições, e cursar com sintomas neuroló-
O distúrbio de marcha que deve nos fazer gicos e psiquiátricos.
pensar em hidrocefalia de pressão de nor-
Devemos lembrar que calcificações isola-
mal é um distúrbio de difícil descrição, mas
das de globos pálidos em pacientes >50
que é relatado como uma marcha magné-
anos são achados normais em exames de
tica, com pés colados ao chão, marcha
Tomografia de rotina. Mas encontrar calci-
apráxica ou marcha frontal. Independente
ficações de núcleos denteados do cerebelo
dos termos utilizados, esses pacientes ten-
ou calcificações na substância branca ce-
dem a andar lentamente, com passos pe-
rebral tendem a ser associados a condi-
quenos e uma base alargada, com dificul-
ções patológicas subjacentes.
dade de virar e com instabilidade postural.

Existe uma forma familial de calcificações


O distúrbio cognitivo característico é de
dos núcleos da base chamada de Doença
uma demência do tipo subcortical, com
de Fahr, e existem causas secundarias, re-
lentificação psicomotora, desatenção, pre-
lacionadas a hipoparatireoidismo (principal
juízo de funções executivas e apatia.
causa), hiperparatireoidismo, HIV, irradia-
Normalmente o quadro é diagnosticado ção intracraniana, encefalopatias mitocon-
com aspectos característicos de imagem driais, Síndrome de Aicardi-Goutieres, Do-
(evidência de hidrocefalia com ângulo ença de Kosaka-Shibayama e Doença de
agudo entre os ventrículos no corte coronal Nasu Hakola.
e proeminência dos sulcos temporais é su-
3.B.7 - Parkinsonismo por Manganês
gestivo) e uma resposta positiva ao Tap
Test. Parkinsonismo pode ser causado por into-
xicação por Manganês, um dos metais pe-
O tratamento é feito através da colocação
sados mais utilizados no mundo. É repor-
de uma derivação ventrículo-peritoneal,
tado principalmente em mineradores, mas
que tende a fazer efeito principalmente no
pode ocorrer também em trabalhadores de
distúrbio de marcha.
solda.

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

Faz um quadro parkinsoniano lentamente importante agregação familiar, que tinha


progressivo com anosmia e uma marcha características semelhantes à Esclerose
característica, em andar de galo (cockwalk Lateral Amiotrófica em alguns e demência
gait) que ocorre por distonia dos gastroc- e parkinsonismo em outros.
nêmios.
Os nativos chamavam de Lytico quando a
3.B.8 - Parkinsonismo infeccioso e Com- doença se apresentava com o componente
plexo Parkinsonismo-Demência de paralitico e de Bodig quando ela se apre-
Guam sentava com o componente parkinsoniano
(então é uma condição também referida
Algumas doenças infecciosas podem cur-
como Doença de Lytico-Bodig).
sar com parkinsonismo como manifesta-
ção clínica. Isso é incomum, e principal- A condição chegou a ser a principal causa
mente descrito em conjunto com a demên- de morte entre Chamorros adultos nos
cia do HIV, encefalites (principalmente re- anos 1940. Existem diversas teorias sobre
lacionadas a vírus Oeste do Nilo e Encefa- a etiologia da doença, desde consumo de
lite Japonesa), acometimento dos núcleos plantas locais até características das águas
da base por abscessos (por exemplo na da ilha. Oliver Sacks descreveu em gran-
neurotoxoplasmose), tuberculomas ou Sí- des detalhes a condição e suas primeiras
filis. descobertas em seu livro ‘’A Ilha dos Dal-
tônicos’’.
De importante menção é também a Do-
ença de Jakob-Creutzfeldt, uma doença
priônica que pode cursar com parkinso-
nismo. Normalmente leva a um quadro de
ataxia mioclônica proeminente junto de
uma demência rapidamente progressiva.

A ilha de Guam se encontra no arquipélago


de Mariana, nas ilhas pacíficas. É uma re-
gião de relativamente pouca variação ge-
nética, já que os Chamorros (nativos da
ilha) viviam isolados do resto do mundo até
ua colonização. Lá, foi descrita uma parali-
sia hereditária desconhecida, de

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SÍNDROME PARKINSONIANAS

REFERÊNCIAS

Ivan Donaldson, C. David Marsden, Susanne Schneider, Kailash Bhatia,


Marsden Book of Movement Disorders. Oxford University Press, 2012

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