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2022

PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS SOB PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL


BASEADO NA TEORIA DO LICENCIAMENTO MORAL

ASSET PRICING FROM A BEHAVIORAL PERSPECTIVE BASED ON


MORAL LICENSING THEORY

Ana Paula dos Santos Feitosa machado1


Elenise Passos Santos2
Elton Júnior Santos Melo3
Fredson Sousa da Silva Júnior4
Ingrid Costa Correia5

RESUMO
O artigo presente tem o intuito de analisar o processo de precificação de ativos aplicado na
hipótese do mercado eficiente sob visão da teoria do licenciamento moral, analisando-os no
âmbito comportamental. Por meio da pesquisa exploratória, foram analisadas questões
pertinentes a fim de comparação entre os divergentes campos do conhecimento, as ciências
contábeis e a psicologia, para efeito de paridade e confrontamento de divergentes juízos para
investigação da precificação de ativos. Os resultados extraídos após análise da problemática
destacam a complexidade do comportamento humano e seu impacto no âmbito organizacional.
Por fim, foram apresentadas ideias que expõem a conectividade entre os campos de estudos e a
relevância da temática para as ciências contábeis.

Palavras-chave: precificação; ativos; moral; comportamental.

ABSTRACT
This article aims to analyze the asset pricing process applied in the efficient market hypothesis
under the view of moral licensing theory, analyzing them in the behavioral scope. Through
exploratory research, pertinent questions were analyzed in order to compare the different fields
of knowledge, accounting and psychology, for the purpose of parity and confrontation of
divergent judgments for the investigation of asset pricing. The results extracted after analyzing
the problem highlight the complexity of human behavior and the impacts in the organizational
context. Finally, ideas were presented that expose the connectivity between the fields of study
and the relevance of the theme for accounting.

Keywords: pricing; assets; moral; behavioral.

1
Discente – Ciências contábeis / Universidade Federal de Sergipe. E-mail: paulinhaluz@academico.ufs.br
2
Discente – Ciências contábeis / Universidade Federal de Sergipe. E-mail: elenisepassos@outlook.com
3
Discente – Ciências contábeis / Universidade Federal de Sergipe. E-mail: eltonmello1119@gmail.com
4
Discente – Ciências contábeis / Universidade Federal de Sergipe. E-mail: contato.fredjr@gmail.com
5
Discente – Ciências contábeis / Universidade Federal de Sergipe. E-mail: ingridcorreia25716@outlook.com
1. INTRODUÇÃO

As ciências contábeis ao longo dos anos foram responsáveis pelo desenvolvimento


de diversas teorias, porém é de suma notoriedade a influência de outros campos do
conhecimento e sua aplicabilidade no ramo contábil, o âmbito psicológico quando se trata de
padrões comportamentais é essencial para designar atribuições às ações humanas inerentes.
Pode-se atribuir a temática abordada como um novo modelo de estudos aplicando algumas
percepções sobre teorias comportamentais e contábeis.
A coletânea Teorias Aplicadas à Pesquisa em Contabilidade: uma introdução às
Teorias Econômicas, Organizacionais e Comportamentais (ALMEIDA, Karla Katiuscia, 2021)
foi essencial para a base do artigo presente e suas exposições de ideias.

2. TEORIA DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS E HIPÓTESE DO MERCADO


EFICIENTE

A HME (hipótese do mercado eficiente) é um dos assuntos mais importantes dentro


da teoria de finanças, por apresentar justificativas sobre a dinâmica do processo de incorporação
das informações junto aos preços dos ativos, utilizando significativas discussões teóricas e
empíricas sobre o comportamento da eficiência dos mercados acionários.
Conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2006, p. 48): “A Contabilidade é,
objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários com
demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, com
relação à entidade objeto de contabilização.” Nesse cenário, a contabilidade surge para fornecer
informações úteis para os agentes econômicos, contribuindo, geralmente, com decisões sobre a
alocação dos recursos e se configura como um importante sistema informacional para o
mercado de ações, e são eficientes no entendimento e utilização dessas informações.
A Hipótese dos Mercados Eficientes equivale a um dos principais pilares da
Moderna Teoria de Finanças, desde a sua formulação por Fama (1970) (JENSEN; SMITH,
1984). Um mercado é identificado como eficiente quando é possível que as empresas tomem
decisões de produção-investimento, e quando os investidores conseguem escolher entre os
títulos que representam a propriedade das atividades das empresas, com base na premissa de
que os preços dos títulos retratam totalmente a informação disponível, seja qual for o momento
(FAMA, 1970). Ou seja, o mercado seria considerado eficiente se refletisse rapidamente
qualquer informação disponível nos preços dos ativos, impossibilitando ganhos anormais.
Fama (1970) sugeriu três formas de eficiência de mercado categorizados em: (a)
forma fraca – apresenta que os preços refletem toda a informação contida no registro dos preços
passados; (b) forma semiforte - os preços refletem não só o seu comportamento passado, como
também o restante da informação publicada, tais como notícias específicas e anúncios sobre
distribuição de lucros e dividendos; e (c) forma forte – os preços refletem não só a informação
pública, mas toda a informação que pode ser obtida, inclusive as chamadas informações
privilegiadas.
A eficiência fraca possui testes que procuram mensurar quão bem os retornos
passados predizem retornos futuros. Com a segunda forma, a semiforte, os testes procuram
especificar quão 3 rápido os preços dos ativos refletem as informações públicas. Já a eficiência
na forma forte, os testes desta forma de eficiência procuram detectar se algum investidor possui
alguma informação privilegiada, que não está totalmente refletida nos preços.
Diante das evidências empíricas sobre a aleatoriedade dos preços dos ativos, Fama
(1970) realizou uma revisão da literatura teórica e empírica sobre a eficiência do mercado,
expondo as principais limitações dos modelos que eram utilizados até aquele período. Assim,
partindo das ideias difundidas nas modelagens fair game e martingale, Fama (1970) propõe uma
teoria sobre os mercados eficientes, chamada de Hipótese do Mercado Eficiente, defendendo
que os preços refletem a qualquer momento, todas as informações disponíveis.
Neste sentido, onde diversos estudos mostravam a existência de anomalias, surgiu
a teoria de finanças comportamentais, que, segundo MILANEZ (2003), incorpora conceitos da
Psicologia, da Sociologia e de outras ciências, visando a aproximação da teoria de finanças à
realidade dos mercados financeiros. “As finanças comportamentais consideram que os
investidores podem agir de maneira não racional, impactando consistentemente o
comportamento do mercado.” (KIMURA, 2003, p.03).
Não é objetivo das Finanças Comportamentais rejeitar totalmente a abordagem
neoclássica de Finanças, mas sim mostrar como e por que os pressupostos e explicações
tradicionais não são suficientes para a compreensão de muitos acontecimentos dos mercados
financeiros. (MILANEZ, 2003). As pessoas tendem a acreditar na lei dos pequenos números,
dando crédito excessivo a uma pequena base de dados ao mesmo tempo em que desconsideram
dados históricos.
De acordo com BREALEY E MYERS (1996), se os mercados forem eficientes, a
compra ou a venda de qualquer título ao preço vigente no mercado nunca será uma transação
com um valor atual líquido (VAL) positivo. Se a venda de um título proporcionar um VAL
positivo ao vendedor, terá que proporcionar um VAL negativo ao comprador.
Segundo Bachelier (1900), no mercado acionário, o investidor não apresenta
posição de vantagem ou desvantagem diante do conhecimento das informações passadas, pois
o movimento dos preços seria um reflexo da especulação do investidor
Os modelos de precificação de ativos são um dos assuntos mais discutidos e
pesquisados em Finanças. DAMODARAN (1997) recorda que a previsão de retornos, questões
relativas sobre como o risco é mensurado, suas recompensas e quanto risco assumir, são
fundamentais em decisões de investimento, do momento da alocação de ativos até sua posterior
avaliação. Ou seja, o tema é essencial para empresas, administradores e investidores, sejam eles
individuais ou pessoas jurídicas.
De acordo com BRAV E HEALTON (2002), para as finanças comportamentais, os
mercados podem ser ineficientes, porque investidores irracionais podem levar os preços além
dos níveis racionais por algum tempo.

2.1. MODELOS DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

Harry Markowitz (economista e pesquisador estadunidense) apresentou o primeiro


trabalho científico que aborda matematicamente o risco, propondo um método de mensuração
definido que permitisse um investidor analisar o risco e retorno de seus investimentos.

Markowitz (1952) expôs em seus trabalhos que o melhor parâmetro para análise
de investimento, relacionando o risco e retorno, vem a ser o conjunto de ativos – portfólios – e
não a análise individual deles. Utilizando cálculos de média e variância, Markowitz (1952)
desenvolveu a primeira base para estudos de métodos de seleção de portfólios, levando em
consideração que o portfólio ideal é o que proporciona menor risco para o retorno esperado.

Neste primeiro desenvolvimento do método de escolha, nota-se que o modelo ideal


para um portfólio que alcance o retorno desejado, submetendo-se a uma menor sensibilidade a
variações negativas de preço perante ao risco não-diversificável (risco de mercado), deriva de
uma diversificação de ativos do portfólio.

Esta metodologia de análise ficou conhecida como “teoria do portfólio'', e serviu


como base para o surgimento de diversos métodos de análise e precificação de ativos. Bernstein
(1996) referiu-se ao trabalho de Markowitz (1952) como uma revolução para o campo da gestão
de investimentos. Mesmo recebendo inúmeros elogios pelo caráter divisor de águas na sua área,
Markowitz (1952) foi duramente criticado devido às dificuldades de aplicação dos cálculos
criados. Os custos de hardware para tornar possível as operacionalidades desta ferramenta na
época se mostraram incoerentes com a aplicação, fazendo com que sua viabilização não
ocorresse como esperado.

A obra de Markowitz (1952) foi base para Sharpe (1964), Lintner (1965) e Mossin
(1966) começarem a desenvolver o Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (MPAF),
conhecido internacionalmente como Capital Asset Pricing Model (CAPM), que utilizava o
algoritmo de média-variância mesclado com uma metodologia mais simples que a original
abordada por Markowitz (1952). Foram adicionados por Sharpe (1964) e Lintner (1965) duas
premissas para CAPM: a tomada e concessão de empréstimos a taxa livre para qualquer
investidor, sem distinções, e a total concordância dos investidores de acordo com suas
expectativas (MILLER, 2000; FAMA; FRENCH, 2004; FAMA, 2014).

Apesar das melhorias notórias em relação à aplicabilidade e resultados feita pela


CAPM, FAMA(2014) afirmou que o único fator utilizado na CAPM (beta de mercado) não
seria suficiente para suprir e explicar a oscilação no comportamento dos retornos esperados.

Partindo dessa premissa de insuficiência da CAPM, outros modelos foram


desenvolvidos. Fama e French (1992, 1993) utilizaram estudos passados como os de Bhandari
(1988) e Reid e Lanstein (1985) para analisar a influência de variáveis nos retornos médios de
ações. Concluíram que as variáveis tamanho e índice book-to-market conseguiam monitorar a
variação dos retornos médios das ações analisadas. Sendo assim, adicionaram essas variáveis a
CAPM e desenvolvendo o modelo de três fatores, que apresenta uma maior precisão do que o
CAPM clássico.
Fama e French (2015) chegaram à conclusão que seu modelo de três fatores é
incompleto, pois não teria capacidade de captar as relações entre o retorno esperado e a previsão
de rentabilidade e investimento. Com isso foram desenvolvidos mais dois modelos que têm
aplicações específicas de melhor eficiência individual.

Os modelos de 4 e 5 fatores, desenvolvidos por Fama e French (2015), acrescentam


a utilização dos fatores RMW, sendo a diferença no retorno de carteiras diversificadas com
ações de rentabilidade robusta e fraca, e CMA, que é a diferença entre a rentabilidade de
carteiras com alto e baixo índice de ações conservadoras e agressivas.

O modelo de 4 fatores teve uma maior eficiência para verificar retornos anormais,
nele se exclui apenas o fator book-to-market da equação, pois ele se mostra em uma função já
suprida por outros fatores utilizados. O modelo de 5 fatores demonstrou ser mais eficiente para
mensurar a inclinação do portfólio em direção ao valor, retorno e investimento.

3. TEORIA DO LICENCIAMENTO MORAL

Inicialmente, a teoria do licenciamento moral inicia-se na premissa que


indivíduos se comportam de uma forma moral durante determinado tempo, no entanto, após a
fase “moral”, começa a adotar práticas questionáveis, resultando em comportamentos imorais.
Noversa et al Merritt, Effron, & Monin, (2010) Nesse sentido, demonstra-se a possibilidade do
indivíduo se sentir confortável em praticar ações imorais, devido a ter praticado ações morais
anteriormente, ou seja, a ação boa fornece uma licença ao indivíduo executar comportamentos
questionáveis.
Segundo Noversa et al Merritt, Effron, e Monin, “o sentido de uma ação
considerada moral e boa a sociedade dá margem ao indivíduo, que está liberado a desenvolver
comportamentos imorais de forma posterior”. No que lhe concerne o autor “Noversa et al
Blanken, Verg & Zeelenberg diz que a principal ideia subjacente ao conceito de licenciamento
moral é a teoria de que uma boa ação permite que a pessoa se comporte, mais tarde, de uma
forma moralmente questionável”. Os autores trazem ideias correlacionadas e que estão ligadas
ao tema central, em suma foi posto que uma boa ação traz de forma posterior comportamentos
questionáveis.
Noversa et al Miller e Effron (2010) “dizem que uma boa ação numa
determinada área poderá não só permitir ao indivíduo agir de forma duvidosa na mesma área,
mas também em áreas diversificadas daquela onde ocorreu o bom comportamento”. Isto é,
independentemente da área em que for submetida a boa ação realizada, é aberto espaço para
que as ações imorais sejam realizadas em outras áreas.
“O licenciamento moral é uma licença moral que permite às pessoas realizarem
atos negativos sem se desacreditarem publicamente”. (NOVERSA ET AL NISAN, 1991;
MILLER e EFFRON, 2010)). Relacionado a existência do licenciamento moral, pode-se
afirmar, segundo Noversa et al Blanken, Verg & Zeelenberg (2015), que “parece estar em
desacordo com descobertas psicológicas bem estabelecidas que remetem a consistência no que
ao comportamento humano diz respeito a teoria do balanço (Heider, 1946) e da dissonância
cognitiva (Festinger,1957)”, isso dá margem a variação do comportamento humano.
“Taille et al Kant (1994) propõe que a moral corresponde a uma possível realidade
psíquica”. Acrescentado a isso, Goergen et al Kant diz que “o sujeito moral se sente
intimamente obrigado a agir segundo determinadas regras”. Já Goergen et al Blanken, Verg e
Zeelenberg (2015) “diz que as pessoas gostam de ser e parecer boas e morais nas suas ações,
especialmente para respeitar a memória do seu comportamento moral passado”. Taille et al
Durkheim (1974), aceita a definição de Kant, que ele traduz por “agir bem é obedecer bem”.
Por outro lado, Goergen et al Tugendhat (1998), ao perguntar-se que critérios intervêm para
que um juízo seja concebido como moral, analisa os sentidos das palavras ‘bom’ e ‘dever’.
“Todas as proposições que comportam – seja de maneira explícita ou implícita – a expressão
gramaticalmente absoluta de um dever prático ou de um valor (‘bom’ ou ‘mau’) expressam,
nesse sentido, juízos morais”. Possui os sentidos de bom e dever, em que em seu cotidiano o
indivíduo se vê na obrigação de cumprir regras que o faça ser moral e bem visto, sem que haja
prejuízos morais, ou seja, o mesmo não seja sentenciado como imoral.
O estudo de Noversa et al Sachdeva, Iliev e Medin (2009) sugere que “o
licenciamento moral pode ser interpretado como parte de uma estrutura maior de auto regulação
moral.” Sendo assim, é possível chegar ao ponto em que o licenciamento moral pode ser
considerado um exemplo mais amplo do licenciamento psicológico. O licenciamento
psicológico, segundo Noversa et al Miller e Effron (2010), “consiste na percepção de que a
história comportamental, o contexto social ou a associação a uma categoria permitem que
alguém faça ou diga algo de forma legítima, que de outra forma não o faria sem desacreditar de
si mesmo.” Entende-se então que o licenciamento moral e o psicológico possuem
similaridades, tende-se a avaliar que o LM é uma melhora do LP.

3.1. LIMITES DA TEORIA DO LICENCIAMENTO MORAL


O licenciamento moral se baseia em créditos morais ou em credenciais morais,
mediante Merritt, Effron e Minina (2010). Diante desse modelo os créditos morais são vistos
como comportamentos bons que podem ser acumulado podendo posteriormente ser usado para
amortizar um mau comportamento no entanto os credenciais morais são vistos como
julgamentos, podendo estabelecer a virtude de um indivíduo, licenciando-o para agir de maneira
imoral (minina e Miller, 2001), sendo que esse comportamento por parte do indivíduo pode
extrapolar o campo de domínio em que suas ações morais acontecem, significando que uma
boa ação poderá ser compensada com más ações tanto no mesmo campo de domínio como em
outro.
Ainda que esse comportamento necessite de estudos mais profundos, as evidências
são promissoras, uma questão importante é que cada indivíduo possui suas recordações,
trazendo consigo traços morais, tornando sua imagem moral mais consistente. O raciocínio mais
adequado para o entendimento da TLM é aquele em que o indivíduo se sente, mas tentado a
praticar a má ação B quando em algum momento se depara com uma situação duvidosa após
fazer a boa ação A, sentindo-se, portanto, licenciado, por fazer uma boa ação anterior.
Algumas descobertas comportamentais dos indivíduos apresentados na teoria do
licenciamento moral faz-se necessária devida ênfase. Diante de algumas descobertas destaca-
se um exemplo significante, sumariamente cita-se que os observadores são influenciados pelo
licenciamento moral (Effron, Cameron e Minina, 2009/2010). Nesse ponto , significa dizer que
estender a teoria do licenciamento moral para outras áreas do conhecimento, como a
contabilidade, economia e gestão de negócios parece promissor, bem como aprofundar os
campos de domínios dentro das organizações, pois há vários tipos de abordagens, e diferentes
comportamentos são parte da rotina organizacional.
Por conseguinte, há possibilidade de aplicação da TLM em outras áreas de pesquisa
em que se necessita estudar o comportamento humano. Conway e Perez (2012) revelam que,
quando indivíduos recordam ações morais, o comportamento subsequente é menos moral,
enquanto a recordação de determinado traço moral levou a consistência, ou seja, existe um
comportamento moral subsequente. Não obstante, os efeitos do licenciamento moral só devem
ocorrer quando os indivíduos são induzidos por boas ações passadas, e não por traços morais
passados, dito isso, reforça-se a ideia de que os estudos que mensuram a TLM, na maioria da
parte, são experimentos sociais no campo da psicologia.
Podemos dizer que essas pesquisas em contabilidade ainda permeiam por um
campo primordial, porém apresenta uma gama de oportunidades. Um exemplo da aplicação da
TLM na área da contabilidade e tributos é o estudo de Vai, Loboe Zhao (2017), no qual os
autores examinam se o status de reputação de uma empresa afeta seu planejamento tributário.
O estudo busca a explicação se as empresas mais respeitáveis, com reputação
estabelecida, poderiam explorar essa condição para evitar o pagamento de mais tributos (tax
ovoidance). As conclusões do estudo confirmam que o efeito do licenciamento moral influencia
o uso de tecnologia de redução de impostos mais agressivas e aproxima as empresas da área
escura das estratégias de taxa ovoidance.
Outrossim, as empresas de boa reputação aumentaram a agressividade tributária de
suas estratégias tributárias, a ponto de se colocarem em um nível duvidoso entre a legalidade e
ilegalidade. Há evidências de que a evasão fiscal pode incorrer em penalidades mínimas à
reputação e em pouco risco tributário, se estiver em conformidade com códigos e regulamento
tributário. Como, por exemplo, argumenta-se a questão de certa empresa contratar serviços de
auditoria de uma organização e tal ato faria com que ela se comportasse dentro dos padrões
éticos no campo a ser auditado.
Dentro dessa pergunta podemos analisar fatos de como seria a aceitação ou a não
aceitação nessa situação da empresa. O fundamento, ou seja, o principal é que a TLM é um
constructo da psicologia que estuda o comportamento do indivíduo, sendo esse detentor de total
importância a aplicação nas organizações. Sempre que houver uma tomada de decisões faz-se
necessária a aplicação da TLM, principalmente quando houver opiniões envolvendo questões
morais. No entanto, a contabilidade comportamental pode se beneficiar da TLM em vários
contextos, ou seja, sempre que as questões morais estejam presentes.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude dos fatos mencionados, faz-se necessário inferir que a teoria do
licenciamento moral (TLM), a precificação de ativos e a hipótese do mercado eficiente são
totalmente relacionáveis quando são levadas ao âmbito comportamental. Compreender o
sistema de precificação de ativos é necessário para interpretar racionalmente a flutuação de
preços, considerando aspectos já mencionados, é preciso estar atento às tendências
comportamentais para então agir de maneira previsível, dessa forma observando padrões
positivos para poderem ser replicáveis e aprimorados, implicando em um fator resultante
propício às organizações.
É importante destacar que para futuras pesquisas que considerarão a interação
humana perante um objeto, sobretudo o relacionamento humano com o campo das ciências
contábeis, a subjetividade deve ser colocada em evidência, pois as tomadas de decisões são
dependentes dos agentes econômicos e esses são influenciados pelos usuários. O presente
estudo é importante por apresentar fatos responsáveis por impactar diretamente no resultado
das organizações.

REFERÊNCIAS

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