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FINANÇAS

COMPORTAMENTAIS
A Psicologia dos Mercados

Um guia sobre os principais fundamentos das


finanças comportamentais

por
Alexandra
Strommer Godoi

Uma produção original Alexandra Strommer Godoi e Casa do Saber

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AVISO

Este material é exclusivo para os inscritos no curso “Finanças


Comportamentais: a Psicologia dos Mercados”, com Alexandra
Godoi, realizado pela Casa do Saber em junho de 2021.

É proibida a reprodução ou divulgação deste material, parcial ou


em sua totalidade, sem autorização expressa. Os direitos autorais
são exclusivos da autora, sendo a Casa do Saber autorizada a realizar
a exploração comercial durante a vigência contratual.

QUEM PRODUZIU O MATERIAL

CONTEÚDO

ALEXANDRA GODOI
Professora

REVISÃO

Leonardo Fabri
Curador

DESIGN

DEBORAH KUTNIKAS
Designer

FALE COM A GENTE


suporte@casadosaber.com.br

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APRESENTAÇÃO
Este não é um mero curso sobre investimentos!
Não se assuste, certamente falaremos sobre investimentos, nos
aprofundaremos nos meandros do mercado financeiro e faremos
o possível para explorar sua complexidade. Mas, antes de qualquer
coisa, este é um curso que propõe uma investigação sobre os motivos
que nos fazem escolher e como processamos nossas decisões. Isso
mesmo, este é um curso sobre escolhas e decisões e você, caro (a)
aluno (a), saiba que decidir não é tarefa qualquer. E pelo simples fato
de boa parte de nossas decisões estarem associadas ao nosso piloto
automático e a um cotidiano bastante caótico, não nos damos conta
das inúmeras engrenagens psíquicas e emocionais que envolvem as
nossas escolhas.
Então, como questiona a professora Alexandra Godoi, “como funciona
o processo para a tomada de decisão”? Esta é uma das várias questões
que pretendemos explorar e, de modo quase inédito no Brasil, apresentar
uma jornada que alia os fundamentos da psicologia comportamental com
a teoria das finanças. Afinal, o sujeito racional que busca a maximização
irrestrita dos seus ganhos e redução máxima dos seus custos, quase
sempre esbarra com a realidade.
Por que teorizar sobre o sentimento de constrangimento que nos acomete
quando percebemos que dado investimento não foi tão bem pensado, e por
consequência, optamos por segurá-lo em nossa carteira? Ou os motivos que
fazem com que sejamos mais indulgentes com os nossos erros e menos
receptivos com as falhas alheias? Questionamentos desta natureza não
cabem na teoria econômica e financeira clássica, mas são possíveis quando
pensamos as Finanças Comportamentais: a psicologia dos mercados.
Nós, da Casa do Saber, preparamos essa experiência com a finalidade de
contribuir com a qualidade de seus investimentos, sem dúvidas. Mas acima
de tudo, esperamos que essa jornada permita que você tome decisões que
lhe tragam retornos para além do mercado. Afinal, viver bem ou viver mal tem
uma relação direta com o escolher bem e o escolher mal.
Que tal aprender um pouco sobre como evitar as armadilhas da parte ruim
do processo?
Sejam todos (as) muito bem vindos (as).

Leonardo Fabri
Sociólogo e Curador da Casa do Saber

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FINANÇAS COMPORTAMENTAIS:
A Psicologia dos Mercados

Para investir bem você precisa de 3 tipos de conhecimento:

• Conhecimento financeiro: compreender as características dos


vários produtos financeiros e a melhor forma de avaliá-los
• Informações específicas: sobre as condições financeiras das
empresas e governos, sobre a conjuntura econômica, etc.
As informações são as premissas que alimentam seus modelos
e estão mudando a todo momento.
• Conhecimento sobre o comportamento humano: como as pessoas,
na prática, tomam suas decisões financeiras, reagem a eventos,
os erros que mais comumente cometem, como emoções afetam
as decisões, etc.

O QUE SÃO FINANÇAS COMPORTAMENTAIS?


As finanças comportamentais são um ramo das finanças que se desenvolveu
a partir da década de 1980 e que procura utilizar elementos da psicologia para
explicar vieses e anomalias dos preços de mercado e nas decisões de
investimento.
Evidências de finanças comportamentais ao longo dos últimos 40 anos vêm
mostrando que as pessoas ao investir:
• Negociam mais do que deveriam
• Diversificam pouco seus investimentos
• Seguem a multidão, comprando e vendendo
na direção do mercado
• Hesitam em se desfazer de maus investimentos
• Aumentam seu apetite ao risco após experimentarem
uma performance boa (ou má) de seu portfolio
Estes comportamentos tendem a reduzir o retorno de seus investimentos no
médio prazo. Estudos para diversos países vem mostrando que investidores
“ingênuos” que ativamente tentam bater o mercado acabam obtendo um retorno
de 1,5 a 7 pontos percentuais ao ano abaixo do que poderiam obter com uma
estratégia passiva.
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Mesmo que nem todos os investidores sejam racionais, porém, o mercado
como um todo poderia ainda ser eficiente se os erros individuais não forem
correlacionados
entre si, ou se os investidores ‘racionais’ puderem tirar vantagem dos vieses por
parte dos ‘tolos’, arbitrando. Porém anomalias também foram encontradas para
o resultado do mercado como um todo, tal como a formação de ‘bolhas’,
situações
em que os preços se descolam dos fundamentos.

A EFICIÊNCIA DO MERCADO
As finanças tradicionais assumem que os mercados seriam eficientes, ou seja,
os preços já refletiriam TODAS as informações relevantes e seriam a melhor
estimativa possível do valor fundamental do ativo.
De acordo com Fama (1970), existem três formas de eficiência:
• Forma Fraca: mercado já incorporaria toda a informação disponível
nos preços passados; retornos passados não servem para prever
retornos futuros
(ou seja, análise técnica e regras baseadas na performance passada
não conseguiriam bater o mercado).
• Forma Semi-forte: mercado já incorporaria toda a informação pública
disponível, não só o histórico de preços, mas eventos, notícias, dados
dos balanços, etc.
(ou seja, nem mesmo fundos ou investidores sofisticados que tenham
apenas informação pública conseguiriam bater o mercado).
• Forma Forte: mercado incorporaria toda a informação disponível,
pública e privada.
(nem mesmo’ insiders’ conseguiriam bater o mercado).

Há bastante evidência de que retornos passados não são bons indicadores


para prever retornos futuros. Algumas exceções são certos padrões de
calendário, como o efeito ‘momentum’ e reversão, ou seja, a tendência de
papéis que performaram bem (ou mal) no passado recente continuarem a
performar bem
(ou mal) no médio prazo (3 a 12 meses), e de reverterem esta tendência no
longo prazo (5 anos).

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Há também evidência de que nem toda informação pública está no
preço, por exemplo:
• Ações baratas (‘value stocks’) de acordo com múltiplos como
P/L (preço/lucro) ou P/VP (preço/valor patrimonial) e de empresas
pequenas (‘small caps’) tendem a performar melhor no longo
prazo do que as chamadas ações ‘glamour’ (ou ‘growth stocks’);
• Os mercados demoram para incorporar efeitos de anúncios
de resultado (chamado de ‘post earnings drift’); ações tendem
a performar mal após IPOs e fusões, e bem após programas
de recompra;
• Mercados são mais voláteis do que seria justificável pelos
fundamentos: e.g., os preços de mercado variam de 5 a 13x
mais do que as expectativas de valor; apenas 20% das
variações de preço podem ser explicadas por notícias.

Referências dos artigos acadêmicos:

Barberis, Nicholas; Thaler, Richard. A survey of behavioral finance. Princeton University


Press, 2005.

De Bondt, Werner FM, and Richard H. Thaler. “Anomalies: A mean-reverting walk down
Wall Street.” Journal of Economic Perspectives 3.1 (1989): 189-202.

Fama E, French KR. 1993. Common risk factors in the returns on stocks and bonds. J.
Financ. Econ. 33:3–56

Fama, Eugene F. “Efficient Capital Markets: A Review of Theory and Empirical Work.”
The Journal of Finance, vol. 25, no. 2, 1970, pp. 383–417.

Hirshleifer, David. Behavioral finance. Annual Review of Financial Economics, v. 7, p.


133-159, 2015.

Jegadeesh, Narasimhan, and Sheridan Titman. “Returns to buying winners and selling
losers: Implications for stock market efficiency.” The Journal of finance 48.1 (1993):
65-91.

Kahneman, Daniel; RIEPE, Mark W. Aspects of investor psychology. Journal of portfolio


management, v. 24, n. 4, p. 52-+, 1998

Mauro HalfeldI; Fábio de Freitas Leitão TorresII. RAE-Revista de Administração de


Empresas, vol. 41, n. 2, 2001

Shefrin, Hersh, and Meir Statman. “The disposition to sell winners too early and ride
losers too long: Theory and evidence.” The Journal of finance 40.3 (1985): 777-790.

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ATALHOS E VIESES
Investir é um dos problemas cognitivos mais complexos que nosso
cérebro enfrenta, porque envolve o processamento de um número
imenso de informações. Na prática, usamos certos ‘atalhos mentais’
(ou heurísticas) para simplificar o processo de tomada de decisão.
Os atalhos que a nossa mente usa funcionam muito bem em grande
parte das situações que enfrentamos no dia a dia; porém, às vezes,
não estão bem adaptados ao tipo de problema que temos que resolver
ao investir e levam a erros sistemáticos (chamados de vieses)
e armadilhas.

EXEMPLO DE HEURÍSTICAS E SEUS EFEITOS:

DISPONIBILIDADE: julgamos que algo é provável quando é fácil recuperar


da memória exemplos de situações parecidas. A facilidade de lembrar
de um evento, porém, nem sempre é proporcional à frequência com
que algo ocorre.

Efeitos práticos:

• Nos concentramos em opções de investimento cuja informação


está amplamente disponível (através de nossas interações com
amigos, consultores financeiros, etc., ou que têm destaque
na mídia);

• Reagimos excessivamente a eventos dramáticos e muito divulgados,


enquanto reagimos menos do que deveríamos a mudanças mais
lentas e constantes nos fundamentos, que podem ter um conteúdo
informacional muito maior;

• Generalizamos a partir do que vemos, mesmo que não seja


uma boa amostra.

REPRESENTATIVIDADE: julgamos objetos, pessoas e eventos com


base em quão similares eles são a um elemento típico (ou estereótipo)
que temos na cabeça, ignorando outras informações relevantes.

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Efeitos práticos:

• Extrapolamos que o futuro será como o passado recente


e vemos tendências onde não existem;

• Tiramos conclusões (sobre performance de fundos e papéis,


ou tendências de mercado) a partir de amostras pequenas
demais, que podem estar viesadas;

• Avaliamos que uma conjunção de dois eventos é mais provável


do que um dos eventos individualmente (‘falácia da conjunção’),
o que nos leva a crer que histórias mais detalhadas são mais
prováveis de ocorrer;

• Exageramos a contribuição do talento e subestimamos


a sorte quando avaliamos a performance de fundos,
estores, investidores, empresas;

• Confundimos boas empresas (aquelas com boa gestão,


marca reconhecida, admiradas, grandes, que cresceram
muito) com bons investimentos; os dois conceitos são
distintos já que boas empresas tendem a já ter ações
mais caras, portanto, podem se revelar maus investimentos.

ANCORAGEM: estimamos o valor das coisas fazendo ajustes mecânicos


a partir de um ponto de referência (a ‘âncora’).

Efeitos práticos:
• Nos prendemos excessivamente em ‘pistas’ disponíveis
(e.g., o preço de mercado, o preço máximo ou mínimo
que a ação atingiu no último ano, a estimativa de consenso
de mercado), que nem sempre são boas estimativas para
o futuro;
• Subestimamos o efeito da inflação, dos juros compostos
ou dividendos (vemos ‘linearmente’ o que é exponencial);
• Tendemos a interpretar informação (como o resultado de
uma empresa, por exemplo), como sendo boa ou ruim em
comparação com o último número observado.

Referências dos artigos acadêmicos:

Tversky, Amos, and Daniel Kahneman. “Judgment under uncertainty: Heuristics and
biases.”para
Licenciado science 185.4157
- adryan (1974):
henrique souza1124-1131.
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TEORIA DA PERSPECTIVA
A Teoria da Perspectiva, desenvolvida por Daniel Kahneman e Amos
Tversky (1983), estuda como as pessoas se comportam na prática
quando tomam decisões em situações de risco. Seus principais
conceitos são:

• Aversão à perda: a atitude das pessoas frente ao risco muda


quando lidam com perdas; embora elas sejam avessas ao risco
com ganhos, se tornam propensas ao risco com perdas. Ganhos
e perdas também têm um efeito assimétrico: a dor de perder
$1 é desproporcionalmente maior que o prazer de ganhar $1.

• Framing (ou Efeito de Enquadramento): a forma segundo


a qual a informação é apresentada ou o problema é percebido
(por exemplo, em termos de ganhos ou perdas) pode levar
a decisões diferentes.

• Contabilidade Mental: as pessoas tomam suas decisões com


base no que perdem ou ganham em cada investimento específico,
não no contexto do portfólio como um todo, e organizam sua
renda, sua poupança e seus gastos em ‘caixas mentais’ isoladas
(por exemplo, quando se dispõem a gastar a renda que recebem
como dividendos mas evitam tocar nos ganhos de capital)

• Ponderação das probabilidades: pessoas não estimam probabilidades


objetivamente; têm dificuldade especialmente com probabilidades
extremas (próximas de 0% ou de 100%). Tendem a exagerar
probabilidades muito baixas (e.g., chance de ganhar na loteria)
e subestimar probabilidades altas.

Efeitos práticos:

• Pessoas tomam decisões com base no que perdem ou ganham


em um investimento específico, não no contexto do portfólio
como um todo, criando ‘caixas mentais’ e regras de bolso (e.g.,
“gaste o dividendo, mas nunca mexa no capital”). Isto pode levar
a decisões irracionais (por exemplo, poupar para a faculdade
do filho e ao mesmo tempo comprar um carro financiado a uma
taxa de juro mais alta);

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• As pessoas ajustam a frequência com que abrem suas caixas
mentais (ou analisam seus investimentos) para lidar com emoções.
Por exemplo, elas tendem a checar mais frequentemente seus
extratos quando o mercado está subindo;

• ‘Disposition effect’: as pessoas vendem cedo demais as ações


que subiram (realizam os ganhos logo) e evitam vender as que
caíram (‘seguram’ as perdas), o que reduz seus retornos. Elas
consideram que, enquanto não se desfizerem das ações que
caíram de preço, a perda fica apenas ‘no papel’;

• ‘House Money effect’: após terem tido ganhos com um ativo,


as pessoas ficam mais propensas a tomar risco; os ganhos
servem de colchão para eventuais perdas futuras;

• ‘Break-even effect’: as pessoas são mais dispostas a aceitar


risco para zerar perdas passadas;

• Pessoas parecem particularmente atraídas por “ações-loteria”


(aquelas com baixas probabilidade de altíssimos retornos,
como algumas ações de tecnologia), pois exageram as baixas
probabilidades de ganho.

Observação: O framing e a contabilidade mental não são sempre


irracionais; às vezes são mecanismos eficientes que usamos para
lidar com incerteza e autocontrole. Nos ajudam a dividir nossos gastos
entre o presente e o futuro (i.e, quanto gastar e quanto poupar), ou
a ‘negociar’ objetivos distintos (dividir renda entre gastos ‘responsáveis’
e ‘supérfluos’)

Referências dos artigos acadêmicos:

Kahneman, Daniel, and Amos Tversky. “Prospect theory.” Econometrica 12 (1980).

Odean, Terrance. “Are investors reluctant to realize their losses?.” The Journal
of finance 53.5 (1998): 1775-1798.

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EXCESSO DE
AUTOCONFIANÇA
Nossa mente não processa a informação objetivamente, mas de
forma ‘auto interessada’, o que nos impede de aprender com nossos
erros e contribui para que vieses psicológicos persistam no tempo.
Este fenômeno se revela de várias maneiras:

‘Viés de confirmação’: lembramos daquilo que confirma nossas


crenças, atende a nossos interesses ou que nos faz sentir bem
ou nos permite projetar uma imagem mais favorável perante o
grupo; ‘esquecemos’ do que não nos interessa.

Viés Retrospectivo: efeito ‘eu-sempre-soube’ (não conseguimos


recordar do que costumávamos acreditar antes de mudarmos de
ideia); pessoas constantemente superestimam o que poderia ter
sido antecipado, avaliando o mundo como sendo mais previsível
do que efetivamente é, e exageram quão acertadas são suas
previsões sobre o futuro.

Assimetria na atribuição de culpa/mérito: quando avaliamos os


outros, atribuímos seu comportamento mais à disposição (mau–caráter,
incompetência, etc.) e não à situação ou contexto em que se encontram.
Já quando avaliamos nosso comportamento, atribuímos o sucesso às
nossas habilidades e o fracasso a circunstâncias fora do nosso controle.

Excesso de auto confiança: tendência a superestimar nosso


conhecimento, habilidade, a precisão da informação que temos,
bem como nossa capacidade de controlar o mundo. Se manifesta
como:

• Efeito “melhor-que-a-média”: tendência de superestimar


nosso conhecimento ou habilidade relativos;

• Má-calibração: tendência a superestimar a precisão


de nossas previsões ou de nosso conhecimento;

• Ilusão de controle: superestimamos nossa habilidade


de influenciar os resultados; subestimamos a sorte
e o impacto de eventos fora de nosso controle;

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• Otimismo excessivo: estimamos que as coisas vão se sair
melhor que seria razoável esperar.

Por serem autoconfiantes ao avaliar seus investimentos, na prática


as pessoas tendem a negociar demais, ter portfolios excessivamente
concentrados, assumir risco excessivo, superestimar sua capacidade
de bater o mercado e a precisão da informação que têm, preferir
participar ativamente da gestão dos recursos em vez de delegar
a especialistas, segurar “perdas” por tempo demais, etc. Por serem
inconscientes (efetivamente percebemos o mundo assim), temos
que estar particularmente atentos a estes vieses, e cultivar uma
disciplina para evitá-los.

Referências dos artigos acadêmicos:

Barber, Brad M., and Terrance Odean. “Boys will be boys: Gender, overconfidence,
and common stock investment.” The quarterly journal of economics 116.1 (2001):
261-292.

Mercier, Hugo. “Confirmation bias–myside bias.” Cognitive illusions. Psychology


Press, 2016. 109-124.

Moore, Don A., and Paul J. Healy. “The trouble with overconfidence.” Psychological
review 115.2 (2008): 502.

Scheinkman, Jose A., and Wei Xiong. “Overconfidence and speculative bubbles.”
Journal of political Economy 111.6 (2003): 1183-1220.

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O PAPEL DA
INFORMAÇÃO
O mercado preocupa-se sempre com o futuro: o valor fundamental
das ações reflete o valor presente dos fluxos de caixa que se espera
que as empresas gerem ao longo do tempo. As pessoas negociam,
portanto, expectativas sobre um cenário futuro incerto, tentando
sempre fazer suas melhores estimativas quanto ao lucro, perspectiva
de crescimento das empresas e etc.

Assim, o ativo transacionado no mercado financeiro é, na verdade,


a informação: mais informação aumenta a capacidade de previsão,
por isso é uma vantagem. A informação relevante, entretanto, não
está uniformemente distribuída no mercado, e por vezes tem que ser
extraída da multidão de dados e notícias a que estamos sujeitos todos
os dias, e nosso cérebro nem sempre faz isto de forma objetiva.

PROBLEMAS COM A INFORMAÇÃO:

1. Assimetria de informação

A informação não está distribuída por igual entre os participantes


do mercado. Investidores que possuem informação diferenciada
têm melhores chances de bater o mercado. Em geral, investidores
profissionais têm maior probabilidade de terem uma vantagem
informacional, pois têm acesso a informações pouco disponíveis,
por exemplo através de conexões com pessoas da indústria,
e investem mais tempo e recursos para coletar e analisar a i
nformação disponível.

A assimetria de informação também agrava conflitos de interesse


entre ‘agentes’ e aqueles em nome dos quais estes tomam decisões
(os ‘principais’). Alguns exemplos de conflitos deste tipo:

• Administradores de empresas de capital aberto têm mais informações


sobre as perspectivas do negócio do que seus acionistas;

• Instituições financeiras têm mais informações sobre as características


dos produtos financeiros que vendem do que muitos dos investidores
que os compram;
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• O gestor de um fundo de investimento tem mais informações
sobre os papéis que tem em carteira do que os cotistas do fundo;

• Devedores têm mais informações sobre a prudência de sua conduta


financeira do que os bancos que lhe emprestam dinheiro;

• Em um IPO, os bancos (‘advisors’) administram o conflito entre tentar


atender aos objetivos da empresa emissora (que busca o maior preço
para a ação) e dos investidores (que querem comprar ao menor preço).

Risco moral: acontece quando o indivíduo ou instituição não sofrem


completamente as consequências de suas ações e, portanto, têm um
incentivo a serem menos cuidadosos do que deveriam (e.g., ‘Too Big
To Fail’, seguro)

2. Separar o sinal do ruído:

Muitas vezes temos dificuldade em separar os sinais relevantes do


‘ruído’ (ou ‘noise’), aquela informação que achamos que é importante
para a avaliação de um ativo, mas que na verdade não é (porque é falsa,
‘velha’, mal interpretada ou convencional).

Temos uma tendência a encontrar relações de causa-e-efeito em tudo


o que vemos, e às vezes, eventos puramente aleatórios nos parecem
informativos. Como no mercado de ações há muita volatilidade, uma
parte grande dos movimentos não quer dizer nada; é pura aleatoriedade.
Tendemos, porém, a interpretá-los como informativos, o que nos leva
a reagir mais do que deveríamos. Este efeito se agrava com nossa
predisposição a tirar conclusões a partir de amostras pequenas demais
(poucos dias ou meses, por exemplo).

Além disso, parte da informação que chega até nós é produzida por
instituições e empresas que têm seus próprios interesses a defender,
que nem sempre coincidem com os nossos. É importante lembrar
que mesmo dados que parecem objetivos (números dos balanços,
por exemplo) podem ser manipulados ou apesentados seletivamente
de forma a nos convencer de determinado ponto, vender um produto
ou defender uma política. Evidências em economia comportamental
mostram de que as pessoas tendem a ser excessivamente crédulas
ao avaliar a informação, e a esquecer que quem a provê pode ter
outros interesses, tornando-se vulneráveis a serem manipuladas.

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3. Processamento ‘auto interessado’ da informação:

Sentimos um desconforto quando nossas ações entram em conflito


com a imagem positiva que temos de nós mesmos (‘dissonância
cognitiva’). Para remover esta sensação de desconforto, as pessoas
manipulam suas crenças através da ‘racionalização’ (ou ‘raciocínio
motivado’), usando argumentos plausíveis, mas falsos, para justificar
a posteriori suas decisões. Para lidar com a dissonância, manipulamos
estrategicamente a informação que recebemos ou seu significado
através de:

• Ignorância estratégia: evitamos informação que nos traga


evidência conflitante. Por exemplo, selecionamos os jornais
e sites que lemos; vivemos em “guetos informacionais”,
interagindo apenas com pessoas que compartilham de
nossas opiniões;

• Negação da realidade (ou negacionismo): a evidência que


incomoda é ‘racionalizada’ ou descartada. Somos bem
mais críticos com dados que contrariam nossas crenças,
prontamente achando potenciais problemas na sua coleta
ou análise, enquanto somos mais ‘tolerantes’ com aqueles
que confirmam o que já acreditávamos.

• Autossinalização: criamos nossas próprias ferramentas pseudo-


diagnósticas para interpretar os fatos da forma que queremos.

Atenção! Estudos mostram que pessoas com maior nível educacional,


mais atentas e analiticamente sofisticadas e que leem mais notícias
são especialmente propensas ao ‘raciocínio motivado’ pois têm maior
repertório para ‘argumentar’ contra eventuais evidências contraditórias.
Nós somos, portanto, parte do grupo de risco para a racionalização.

Algumas situações são mais fáceis a racionalizar que outras. O mercado


financeiro combina uma série de características que tornam a racionalização
mais fácil:

• Os produtos são muitos complexos e cheios de nuances, e o valor


fundamental de um ativo e seu risco não são óbvios, abrindo espaço
para subjetividade nas avaliações;

• Várias pessoas e instituições agem da mesma forma, criando


um reforço do grupo;
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• Os incentivos (lucros, bônus) são altos e, por vezes, desalinhados,
criando conflitos de interesse;

• As consequências das decisões demoram a aparecer.

Referências dos artigos acadêmicos:

Barberis, Nicholas. Psychology and the Financial Crisis of 2007-2008. In: Financial
Innovation: Too Much or Too Little, 2013.

Bénabou, Roland J. M. Theodore A. Wells... Groupthink: Collective Delusions in


Organizations and Markets. Review of Economic Studies, 80:429-462, 2013.

Bénabou, Roland; TIROLE, Jean. Mindful Economics: The Production, Consumption,


and Value of Beliefs. Journal of Economic Perspectives, 30.3:141-64, 2016.

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INDICAÇÕES DE OUTRAS LEITURAS NA ÁREA:

LIVROS DE ECONOMIA COMPORTAMENTAL E ASSUNTOS RELACIONADOS:

Strommer Godoi, Alexandra. Escolher bem, escolher mal: Armadilhas da


tomada de decisão. Best Seller, 2020.

Ariely, Dan. A psicologia do dinheiro. Editora Sextante, 2019.

Ariely, Dan. Previsivelmente irracional. Alta Books, 2008.

Ariely, Dan. A mais pura verdade sobre a desonestidade. Rio de Janeiro: Alta
Books, 2012.

Kahneman, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva, 2012.

Shiller, Robert J., and Teresa Arijón. Exuberância irracional. Turner, 2003.

Shiller, Robert J. Narrative economics: How stories go viral and drive major
economic events. Princeton University Press, 2020.

Taleb, Nassim Nicholas. A Lógica do cisne negro: o impacto do altamente


improvável. Gerenciando o desconhecido. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.

Tetlock, Philip E.; GARDNER, Dan. Superprevisões: a arte e a ciência de


antecipar o futuro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2016.

Thaler, Richard H.; SUNSTEIN, Cass R. Nudge: como tomar melhores


decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade. Objetiva, 2019.

Thaler, Richard H. Misbehaving: A Construção Da Economia Comportamental.


Intrínseca, 2019.

LIVROS DIDÁTICOS DE FINANÇAS COMPORTAMENTAIS:

Ackert, Lucy; Deaves, Richard. Behavioral finance: Psychology, decision-


making, and markets. Nelson Education, 2009.

Baker, H. Kent; Nofsinger, John R. (ed.). Behavioral finance: investors,


corporations, and markets. John Wiley & Sons, 2010.

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INDICAÇÕES DE OUTRAS LEITURAS NA ÁREA:

VIDEOS, AULAS E ENTREVISTAS:

Daniel Kahneman - Os 3 Erros Financeiros que


o Investidor Costuma Cometer
https://www.youtube.com/watch?v=VVwur1kDbHw

Daniel Kahneman - Behavioral Finance


https://www.youtube.com/watch?v=RwdNeMD_-0c

Daniel Kahneman: O maior inimigo do investidor


é confiança em excesso
https://www.fronteiras.com/entrevistas/daniel-kahneman-
o-maior-inimigo-do-investidor-e-confianca-em-excesso

Richard Thaler on Behavioral Economics: Past, Present, and Future


https://www.youtube.com/watch?v=A1M9VSgsSW4

Robert Shiller on Behavioral finance and the role of psychology


(palestra em Yale)
https://www.youtube.com/watch?v=chSHqogx2CI

Robert Shiller on Narrative Economics (palestra em Yale)


https://www.youtube.com/watch?v=SCNzE3FbVEY

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