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SINAIS VITAIS, SINAIS DIAGNÓSTICOS E SINTOMAS


Toda lesão (trauma) ou doença (emergência médica) tem formas peculiares de se
manifestar e isso pode ajudá-lo no diagnóstico da vítima.
Estes indícios são divididos em dois grupos: os sinais e os sintomas. Alguns são
bastante óbvios, mas outros indícios importantes podem passar despercebidos a menos
que você examine a vítima cuidadosamente da cabeça aos pés.
Podemos entender os sinais vitais como indicadores das funções e você poderá
descobri-los fazendo o uso dos sentidos – visão, tato, audição e olfato – durante a
avaliação da vítima. Sinais comuns de lesão incluem: sangramento, inchaço (edema),
aumento de sensibilidade ou deformação; já os sinais mais comuns de doenças são pele
pálida ou avermelhada, suor, temperatura elevada e pulso rápido.
Os sintomas são sensações que a vítima experimenta e é capaz de descrever.
Quando a vítima estiver consciente, pergunte se sente dor e o local exato. Examine a
região indicada procurando descobrir possíveis lesões por trauma, mas lembre-se de que
a dor intensa numa região pode mascarar outra enfermidade mais séria, embora menos
dolorosa. Além da dor, os outros sinais que podem ajudá-lo no diagnóstico incluem
náuseas, vertigem, calor, frio, fraqueza e sensação de mal-estar.
Podemos então dizer que:
● Sinal é uma manifestação clínica reconhecível pelo socorrista por meio da
observação ou aferição direta do paciente durante o exame (ex.:
temperatura, pulso, palidez etc.).
● Sintoma é uma queixa subjetiva do paciente em relação ao que ele está
sentindo, sendo que ela só pode ser conhecida pelo socorrista se for
verbalizada (ex.: dor, mal estar, cansaço etc.).
É importante observar que os sinais diagnósticos diferem com a idade, por isso,
antes de prosseguir, devemos ter em mente a definição da idade para considerar os sinais
vitais e o tipo de atendimento para crianças e lactentes.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera criança, para os efeitos
de Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente a pessoa entre doze
e dezoito anos de idade. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) refere-se a lactente
como a criança no período de primeira infância que vai dos 29 dias após o nascimento até
1 ano de idade. Cabe ressaltar que apesar de muitos órgãos e documentos apresentarem
divisões diferenciadas, em termos de primeiros socorros devemos considerar as
seguintes referências:
Lactente - até 1 ano.
Criança - a partir de 1 ano até 8 anos.

Você pode estar se perguntando por que realizamos essa classificação? Devemos
ter em mente durante o atendimento que dependendo da ocorrência, lactentes e crianças
deverão ter um atendimento diferenciado. No geral, adolescentes e adultos são tratados
com as mesmas técnicas ou procedimentos.
A seguir, veremos as definições dos sinais vitais e dos sinais diagnósticos mais
comuns. Sua observação adequada será imprescindível em um primeiro atendimento.

ESTADO DE CONSCIÊNCIA
Normalmente, uma pessoa está alerta, orientada e responde aos estímulos verbais
e físicos. Qualquer alteração deste estado pode ser indicativo de doença ou trauma. O
estado de consciência é provavelmente o sinal isolado mais seguro na avaliação do
sistema nervoso de uma pessoa. Uma alteração no estado de consciência de uma pessoa
pode ser caracterizada por uma leve confusão mental até um coma profundo. Para aferir
o estado de consciência você deve realizar a avaliação de respostas lógicas, tais como:
nome, idade, local de moradia, entre outros.

RESPIRAÇÃO
A frequência respiratória deve ser avaliada por meio da observação dos
movimentos respiratórios de expansão e relaxamento do tórax e abdômen, verificando
velocidade e profundidade dos movimentos respiratórios.
Quando normal ocorre de maneira fácil, sem esforço e sem dor. A frequência (mais
rápida ou mais lenta) pode variar bastante e a amplitude também (mais superficial ou
mais profunda). Acompanhe a seguir o guia para aferir a respiração, observando que mrm
refere-se a movimentos respiratórios por minuto.

Quadro X - Valores normais de frequência respiratória.

MOVIMENTOS
PÚBLICO
RESPIRATÓRIOS / MIN

Adultos 12-20 mrm

Crianças 20-40 mrm

Lactentes 40-60 mrm


Fonte: CBMSC
SATURAÇÃO DE OXIGÊNIO
Embora a Saturação de oxigênio (SatO2) não seja utilizada para avaliar a
presença (ou ausência) de um sinal vital, ela é útil para avaliar a qualidade da respiração.
E, com o advento do oxímetro digital, ela é aferida também nesse momento na avaliação
do paciente, conforme será abordado na lição 3 (ventilação e oxigenação).
A oximetria de dedo é a maneira mais rápida de medir quanto oxigênio seu sangue
está transportando. O nível de oxigênio mensurado com um oxímetro é chamado de nível
de saturação de oxigênio. A SaO2 é a porcentagem de oxigênio que seu sangue está
transportando, comparada com o máximo da sua capacidade de transporte. Idealmente,
mais de 94% das suas células vermelhas devem estar transportando oxigênio.

Figura X - Oxímetro de dedo

Fonte: CBMSC

<ATENÇÃO> Lembre-se que nas pessoas negras, a cor azulada (que indica baixa
concentração de oxigênio no sangue) poderá ser notada nos lábios, ao redor da
fossas nasais e nas unhas.

PULSAÇÃO
É a expansão e o relaxamento das paredes das artérias devido à propagação de
uma onda de sangue ejetada pela contração do coração.
As alterações na frequência e no volume do pulso representam dados importantes
nos primeiros socorros. Um pulso rápido e fraco geralmente é resultado de um estado de
choque por perda sanguínea. Isso caracteriza o choque hemorrágico, um dos tipos de
choque hipovolêmico. A ausência de pulso pode significar, por exemplo, um vaso
sanguíneo bloqueado ou lesado ou que o coração parou de funcionar (parada cardíaca).
Deve ser avaliado por meio da palpação do pulso carotídeo em adultos/crianças e
do pulso braquial em lactentes, utilizando a polpa digital dos dedos indicador e médio. A
avaliação deste parâmetro deve levar em conta a velocidade (frequência de batidas) e a
qualidade (intensidade) da pulsação identificada.
<GLOSSÁRIO> O choque hipovolêmico é a condição clínica que resulta da
eventual perda de sangue e/ou fluidos do corpo superior a 20%. Também é conhecido por
choque hemorrágico.

Medida de referências para aferição de pulsação:

Quadro X - Valores normais de frequência cardíaca.

PÚBLICO BATIMENTOS/MIN

Adultos 60-100 bpm

Crianças 80-140 bpm

Lactentes 85-190 bpm


Fonte: CBMSC.

O pulso é mais facilmente palpável nos


locais onde artérias mais calibrosas estão
posicionadas próximas da pele e sobre um
componente rígido. Os locais mais
comumente utilizados para aferição são:
artéria carótida, artéria braquial, artéria radial,
artéria femoral, artéria dorsal do pé e artéria
tibial posterior.

Figura X - Localização dos pontos de verificação de pulso

Fonte: CBMSC.

PRESSÃO ARTERIAL
Pode ser conceituada como a pressão exercida pelo sangue circulante contra as
paredes internas das artérias. A Pressão Arterial (PA) é medida em dois níveis, a PA
sistólica e a PA diastólica. A PA sistólica está relacionada à grande circulação, ou seja, ao
envio de sangue para as mais diversas e extremas partes do corpo. A PA diastólica está
relacionada à pequena circulação, ou seja, ao envio de sangue do coração para o
pulmão, onde ocorre o processo de troca gasosa denominado hematose. Temos, então,
que a pressão arterial é diretamente influenciada pela força do batimento cardíaco.

Quadro X - Valores normais de Pressão Arterial (PA) .

PÚBLICO SISTÓLICA (PAS) DIASTÓLICA (PAD)

Adultos 100 a 140 60 a 90

Crianças e Aproximadamente
80 + 2 por idade (aprox.)
adolescentes 2/3 da PAS

03 a 05 anos Média de 99 (78 a 116) Média de 55


06 a 10 anos Média de 105 (80 a 122) Média de 57
11 a 14 anos Média de 114 (88 a 140) Média de 59
Fonte: O’KEFFE, Mickael F. Emergency Care. New Jersey, 8 Ed.,BRADY, 1998.

<ATENÇÃO> Certificar-se de que o paciente não está com a bexiga cheia, praticou
exercícios físicos há pelo menos 60 minutos, ingeriu bebidas alcoólicas, café, alimentos
ou se fumou nos 30 minutos anteriores. Não conversar durante a mensuração.
Figura X - Esfigmomanômetro e estetoscópio

Fonte: CBMSC

A Pressão arterial deve ser aferida por meio do método auscultatório, em que é
utilizado um esfigmomanômetro e um estetoscópio, da seguinte forma:
1) Colocar o estetoscópio em volta do seu pescoço, posicionar o paciente sentado
ou deitado confortavelmente, remover as vestes do braço que utilizará para aferir a PA.
Posicionar o braço do paciente com a palma da mão voltada para cima, cotovelo
levemente fletido para que fique no mesmo nível do coração. (lembre-se que você deve
explicar o procedimento ao paciente antes da execução).
2) Escolher um manguito de tamanho adequado, localizar a artéria braquial
palpando-a para determinar o correto posicionamento do manguito e envolvê-lo na parte
superior do braço do paciente, dois e meio centímetros acima da fossa cubital do
paciente. O centro do manguito deve ser colocado sobre a artéria braquial, sem deixar
folgas, ajustando o mais firme possível.
3) Posicionar a polpa digital dos dedos indicador e médio sobre a artéria radial com
leve pressão (suficiente para palpar o pulso radial).
4) Fechar a válvula e inflar o manguito rapidamente. Mantendo a palpação da
artéria radial. Inflar o manguito 30 mmHg além do nível estimado da pressão sistólica ou
até o desaparecimento do pulso, ou seja, deixou de ser palpado. Casos de trauma inflar o
manguito diretamente até 180 mmHg.
5) Colocar a extremidade final do estetoscópio (olivas) em seus ouvidos e
posicionar a campânula ou diafragma do estetoscópio suavemente sobre a artéria
braquial, sem compressão excessiva.
6) Abrir lentamente a válvula para que a pressão do aparelho seja liberada. A
pressão deverá cair numa velocidade de três a cinco mmHg por segundo.
7) Escutar atentamente e registrar o valor indicado no manômetro, no momento do
primeiro som (esta é a PA sistólica, ou seja, a que marca a contração do músculo
cardíaco).
8) Deixar que o manguito continue esvaziando, mantendo uma velocidade
constante. Escutar e registrar o valor no momento do desaparecimento do som (esta é a
PA diastólica, relaxamento do músculo cardíaco). Deixar o restante do ar sair do manguito
(recomendamos manter o esfigmomanômetro no mesmo lugar para facilitar uma nova
aferição após um minuto caso necessário).
9) Registrar o horário, a extremidade utilizada para realizar a aferição, a posição do
paciente (deitado ou sentado) e a PA observada.
10) Se não tiver certeza da leitura, esvazie completamente o manguito, espere pelo
menos um minuto e tente novamente (aferições repetidas, no mesmo braço, sem intervalo
de tempo, poderão indicar leituras falsas).

TEMPERATURA
É a diferença entre o calor produzido e o calor perdido pelo corpo humano. A
temperatura normal de uma pessoa geralmente fica entre 36,5 e 37,0 graus Celsius. A
pele é responsável, em grande parte, pela regulação da temperatura corporal, irradiando
o calor através dos vasos sanguíneos subcutâneos e evaporando água sob forma de
suor. Em um atendimento de emergência muitas vezes não é possível utilizar
termômetros, mas podemos realizar uma verificação da temperatura relativa da pele
colocando o dorso da mão sobre a pele da vítima (na testa, tórax ou abdômen) para
estimar a temperatura relativa da pele pelo tato.
A variação de temperatura do corpo de adultos (estado térmico - temperatura em
°C) se dá do seguinte modo:

Quadro X - Variação de Temperatura

ESTADO TÉRMICO TEMPERATURA (ºC)


Subnormal 34-36
Normal 36-37
Estado febril 37-38
Febre 38-39
Febre alta 39-40
Febre muito alta 40-41
Fonte: CBMSC

A temperatura deve ser verificada por meio da colocação do dorso da mão nua
sobre a pele do paciente (preferencialmente na testa), ou por meio de termômetro. O
socorrista estima a temperatura relativa da pele pelo tato. Convém recordar que a pele é a
grande responsável pela regulação da temperatura e poderá apresentar-se normal,
quente ou fria, úmida ou seca. Com relação a coloração, a pele poderá estar normal,
pálida, cianótica ou ruborizada.
● Uma pele pálida, branca, indica circulação insuficiente e é vista geralmente
nas vítimas de choque hipovolêmico ou com infarto agudo do miocárdio.
● Na pele ruborizada poderá haver uma cor levemente rosada no
envenenamento por monóxido de carbono (CO) e vermelha na insolação.
● Uma cor azulada é observada na insuficiência cardíaca, na obstrução de
vias aéreas e também em alguns casos de envenenamento.

A avaliação da perfusão do paciente é realizada através do enchimento capilar ou


da apalpação do pulso radial no caso de locais de iluminação reduzida. Considerar-se
grave quando o tempo do enchimento capilar for maior que dois segundos.
<ATENÇÃO> Alguns fatores podem alterar a temperatura corporal, tais como: idade,
prática de exercícios, nível hormonal, ambiente, ritmo cardíaco e até mesmo alguma
situação de estresse. Fique sempre atento!

PUPILAS
As pupilas podem variar em tamanho, simetria e resposta à luz. Em condições
normais, as pupilas devem apresentar o mesmo diâmetro e possuir contornos regulares,
no entanto é possível determinar alterações de estado observando a mudança de
normalidade nas pupilas, como por exemplo:
● pupilas contraídas podem indicar lesão no Sistema Nervoso Central ou uso de
drogas;
● pupilas assimétricas podem ser indícios de traumatismo cranioencefálico (TCE) ou
acidente vascular cerebral (AVC);
● pupilas dilatadas podem ocorrer em caso de pouca luz, anóxia (falta de oxigênio)
ou hipóxia (pouco oxigênio), inconsciência, estado de choque, hemorragia, parada
cardíaca ou traumatismo cranioencefálico.
<GLOSSÁRIO> Acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como
derrame cerebral, é a doença neurológica que mais frequentemente acomete o sistema
nervoso e é a principal causa de incapacidades físicas e mentais. Ele ocorre quando o
suprimento de sangue para uma parte do cérebro é interrompido subitamente (AVC
isquêmico) ou quando um vaso sangüíneo no cérebro rompe, extravasando seu conteúdo
e dando origem a um hematoma, ou coágulo, que provoca sofrimento no tecido cerebral
(AVC hemorrágico). O AVC isquêmico é o mais comum e representa cerca de 85% dos
casos de derrames. Já o AVC hemorrágico, embora menos comum, apresenta maior
mortalidade.
Figura x - Exemplos de estado das pupilas

Pupilas normais Pupilas contraídas


Isocoria (tamanhos iguais) com diâmetros Miose (diâmetros reduzidos)
normais
Pupilas dilatadas Pupilas desiguais
(diâmetro aumentado) (diâmetros diferentes)
Isocoria e midríase bilateral Anisocoria com miose à direita
Fonte: CBMSC

<ATENÇÃO> Lembre-se que as pupilas devem ser observadas contra a luz, de uma fonte
lateral ou à luz ambiente, preferencialmente em ambiente escurecido.

RECAPITULANDO
Nesta lição você aprendeu como é importante conhecer os sinais e sintomas de um
paciente e a maneira de interpretar o que se toma como sinais diagnósticos, pois eles
poderão nos dar uma melhor interpretação do possível trauma ou emergência clínica que
o paciente pode ter ou estar sofrendo.
Logo, é muito importante saber reconhecer e conhecer os métodos manuais e
eletrônicos de se avaliar os pacientes e descobrir qual seu sinal diagnóstico.
AVALIAÇÃO DA LIÇÃO
1. Descreva com suas palavras o conceito de sinais e sintomas:
Sinais: __________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Sintomas: _______________________________________________________________
________________________________________________________________________
2. Quais os sinais diagnósticos normais de adultos?
FR: ___________________________________________________________________
FC: ___________________________________________________________________
PA: ___________________________________________________________________
ºC: ___________________________________________________________
3. Quais os sinais diagnósticos normais de lactentes?
FR: ___________________________________________________________________
FC: ___________________________________________________________________
4. Quais os sinais diagnósticos normais de crianças?
FR: ___________________________________________________________________
FC: ___________________________________________________________________
5. Como detectar pele cianótica em pessoas negras?
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Referências
● Corpo de Bombeiro Militar de Santa Catarina. Manual de capacitação em atendimento básico a emergências /
Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Organizado por Jorge Artur Cameu Júnior -- Florianópolis,
2020. Disponível em: https://ensinovirtual.cbm.sc.gov.br/pluginfile.php/58930/course/section/131/
Manual%20capacitac%CC%A7a%CC%83o%20CBAE%20-%20revisado.pdf. Acesso em: 07 mar. 2022
ROTINA DE ATENDIMENTO EM SITUAÇÕES
DE TRAUMA E CASOS CLÍNICOS

Você já parou para pensar na importância do protocolo para a rotina de


atendimentos? O estabelecimento de protocolos para abordagem, avaliação e tratamento
de pacientes em geral faz-se necessário para que o socorrista siga um passo-a-passo
sistemático e racional capaz de identificar e tratar imediatamente as condições que
ameaçam a vida, bem como quaisquer outras situações menos graves que também
estejam presentes. Por meio de uma abordagem metódica no atendimento pré-hospitalar,
é possível garantir as melhores chances de sobrevida e recuperação ao doente.
Todavia, antes de nos aprofundarmos na rotina de atendimento, vamos primeiro
conhecer os tipos de emergência que podem ser encontradas em uma ocorrência de
APH, o que pode, inclusive, alterar a forma como o suporte de vida é conduzido.

TIPOS DE EMERGÊNCIAS NO APH


Dependendo da causa, se externa ou não, uma ocorrência de APH pode ser
classificada em uma emergência de trauma ou clínica. A seguir, serão abordados alguns
aspectos específicos de cada uma dessas duas situações.

Emergências de trauma
O trauma caracteriza um amplo rol de lesões causadas por uma força externa
devido a acidentes, violência ou auto-agressão. Entre as causas mais comuns de trauma
de maior gravidade estão os acidentes veiculares, os atropelamentos, os ferimentos por
arma de fogo e por arma branca, as quedas de altura, as queimaduras, os afogamentos e
a agressão interpessoal.
A maneira como o corpo humano troca energia com o mecanismo de lesão durante
um acidente é determinante na compreensão dos mecanismos de trauma e na
determinação das possíveis lesões apresentadas pelo paciente. Dessa forma, um trauma
pode ser categorizado de acordo com o mecanismo de lesão que o causa: trauma
fechado, trauma aberto ou a combinação de ambos.
Os dois tipos de trauma – fechados e abertos- criam cavidades temporárias ou
permanentes, forçando os tecidos a deslocarem-se para fora de sua posição normal.
No trauma fechado, também chamado de contuso, as lesões poderão ser
produzidas por compressão ou pela desaceleração dos tecidos abaixo da pele, porém não
existe perda da continuidade na superfície, ou seja, a pele continua intacta. Estes
ferimentos podem variar o grau de lesão abaixo da pele até lesões severas em órgãos
internos.
Já no trauma aberto, as lesões são produzidas pelo rompimento ou pela
separação dos tecidos, ocorrendo uma perda de continuidade da superfície cutânea, ou
seja, a pele fica aberta ao ambiente externo. Estes ferimentos podem variar desde uma
simples escoriação à uma amputação, e independente da gravidade do ferimento, todos
os curativos são dirigidos para o controle de hemorragias e a prevenção de
contaminações. As principais lesões abertas conhecidas são:
● abrasões ou escoriações - ferimento leve em que as camadas mais
superficiais da pele são raspadas, deixando a região em carne viva.
● ferimentos incisos - corte bem definido feito por um material cortante.
● lacerações - ruptura irregular causada por esmagamento ou dilaceração;
● ferimentos penetrantes ou perfurantes - ferimento que apresenta uma
pequena abertura ao ambiente externo.
● avulsões – perda de tecido moles de forma violenta;
● amputações – perda de todo o membro ou parte dele;
● eviscerações – exposição das vísceras através do ferimento aberto.
Ao longo do manual, serão apresentados os mais diversos tipos de traumas
encontrados no APH, com o respectivo atendimento adequado para cada situação.

Emergências clínicas
As emergências clínicas são estados graves de saúde que não foram causados por
nenhum fator externo e são, normalmente, consequências de doenças pré-existentes,
cuja causa não inclui violência sobre a vítima. Caso o paciente esteja se sentindo mal ou
apresentando sinais vitais atípicos, deve-se assumir que ele está tendo uma emergência
clínica.
As emergências clínicas podem ser de diversos tipos, como respiratórias (ex.:
asma), cardíacas (ex.: infarto), neurológicas (ex.: síncope), entre outras (ex.: diabetes).
Cada uma delas apresenta características específicas que devem ser conhecidas pelo
socorrista, bem como o respectivo tratamento deve ser empregado. Na lição 11 serão
abordadas as principais emergências clínicas encontradas no ambiente pré-hospitalar.

ROTINA DE ATENDIMENTO DAS EMERGÊNCIAS


Agora que você já sabe diferenciar um caso clínico de um trauma, vamos aprender
o passo a passo da rotina de atendimento que todo socorrista deve saber ao se deparar
com qualquer um destes tipos de emergência.
Antes de prosseguirmos, convém apontar que a hierarquização do atendimento,
subdividindo as avaliações em primária e secundária, tem o intuito de identificar, nesta
ordem, ameaças que possam resultar na perda da vida, ameaças que possam resultar na
perda de membros e outras condições que não sejam tão graves.
A partir da chegada na cena, o socorrista deve basicamente: dimensionar a cena
adequadamente, abordar o paciente se o local estiver seguro, dar início à avaliação
primária, definir a prioridade de transporte, realizar a avaliação secundária, restringir o
movimento da coluna da vítima (se necessário) e conduzi-la imediatamente ao ambiente
hospitalar. Em seguida, serão abordados de maneira pormenorizada cada um desses
passos.

DIMENSIONAMENTO DA CENA
Independente se a emergência é clínica ou de trauma, o dimensionamento da cena
deve ser realizado pelos socorristas logo que cheguem à cena, sendo uma forma de
estabelecer prioridades, como garantir a segurança de todos os envolvidos, a análise
dos riscos presentes, a identificação da quantidade de vítimas e do mecanismo da lesão,
servindo como parâmetros para decidir sobre a necessidade ou não de acionar recursos
adicionais. Somente após o dimensionamento da cena é que o processo de avaliação e
atendimento pode ser direcionado especificamente ao paciente.
Durante esta etapa, deve-se também avaliar a biomecânica do trauma (se for
uma situação de trauma). A capacidade de avaliar o cenário de um acidente, identificando
os mecanismos físicos ou as forças que atuaram na produção de lesões nas vítimas
constitui uma habilidade importante para qualquer socorrista, pois propiciará que ele
identifique lesões potenciais, associadas ao padrão de transferência de energia em
determinadas situações, mesmo que o paciente não apresente sinais externos evidentes
de trauma.

Abordagem do paciente
Ao estabelecer contato visual com o paciente, sem aproximar-se ainda, o socorrista
deve ser capaz de formar uma impressão geral deste, definindo previamente sua
responsividade e identificando evidências de hemorragias graves e comprometimentos de
vias aéreas, respiração e circulação. Essas informações levantadas de maneira
antecipada já servem como parâmetro para o socorrista traçar o seu plano de ação
mental, conforme abordado na lição sobre o pensamento crítico.
Já no momento da abordagem, caso o paciente tenha sido identificado como
inconsciente durante a formação da impressão geral, o socorrista deve realizar estímulos
verbais e dolorosos (nesta sequência) para despertar nele alguma ação responsiva. Se
mesmo após os estímulos, o paciente não apresentar nenhuma resposta, deve ser tratado
como irresponsivo.
<LEMBRE-SE> O mnemônico AVDI é utilizado para descrever o nível de consciência do
paciente e estabelecer o seu grau de responsividade, sendo A (alerta), V (responde a
estímulos verbais), D (responde a estímulos dolorosos) e I (irresponsivo).
<ATENÇÃO> Não se deve confundir o nível de consciência/responsividade do paciente
com a sua função neurológica, que é avaliado pela Escala de Coma de Glasgow.
Se o indivíduo já estiver alerta ou responder aos estímulos, o socorrista deve
apresentar-se como profissional do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina e
oferecer atendimento. Caso seja dado o consentimento, pode-se questionar por exemplo
“o que aconteceu?”, no caso de trauma, ou “qual a sua queixa principal?”, no caso de
emergência clínica, observando se o paciente se sente confortável em responder e se a
resposta dada será coerente e explicada com frases completas, o que denota que suas
vias aéreas estão pérvias, sua função respiratória é suficiente para aguentar o discurso,
sua perfusão cerebral está adequada e sua função neurológica está razoável. Ou seja,
provavelmente, não há condições imediatas que ameacem a vida.
No caso de o paciente responder inadequadamente ao questionamento ou se
estiver irresponsivo, deve-se proceder com uma avaliação pormenorizada de todos estes
parâmetros de forma a identificar problemas graves que possam estar ameaçando a sua
vida.

AVALIAÇÃO PRIMÁRIA
O foco da avaliação primária é a rápida identificação de condições que possam
resultar na perda da vida e a imediata intervenção para solucioná-las, quais sejam o
controle de hemorragias externas graves, a manutenção da permeabilidade das vias
aéreas, o controle adequado da ventilação e da oxigenação, e a manutenção da perfusão
e da função neurológica. Estes cuidados servem para proteger a habilidade do organismo
em manter uma oxigenação satisfatória, bem como a capacidade das hemácias em levar
oxigênio até os tecidos, prevenindo o choque e, consequentemente, evitando a morte.
Cumpre salientar que, embora a ordem da avaliação primária seja ensinada de
maneira sequencial, muitos dos seus passos podem ser realizados de maneira
simultânea, ou ainda, enquanto um socorrista realiza a avaliação de um parâmetro, o
outro realiza a intervenção necessária, otimizando o atendimento e reduzindo o tempo em
cena.
No atendimento de trauma, a sequência a ser adotada na avaliação primária é a
mesma preconizada pelo manual PHTLS:

(X) - Controle de hemorragias externas graves

(A) - Manejo de vias aéreas e estabilização manual da coluna cervical

(B) - Respiração (ventilação e oxigenação)

(C) - Circulação (perfusão e hemorragias internas)

(D) - Deficiência neurológica

(E) - Exposição e controle da hipotermia

No atendimento de emergências clínicas, em virtude das diferenças etiológicas da


emergência em si, a sequência a ser adotada na avaliação primária sofre uma pequena
modificação, assemelhando-se à via de avaliação preconizada pelo manual AMLS:

(A) - Manejo de vias aéreas.

(B) - Respiração (ventilação e oxigenação).

(C) - Circulação (perfusão e hemorragias internas).

(D) - Deficiência neurológica.

<GLOSSÁRIO> Assim como o PHTLS, o Advanced Medical Life Support (AMLS),


é um manual de um reconhecido curso de atendimento extra-hospitalar às emergências
clínicas.
Por fim, de acordo com as diretrizes da American Heart Association, ao realizar a
avaliação primária de um paciente inconsciente em que a natureza da emergência seja
clínica ou não esteja claramente esclarecida, o primeiro passo do socorrista será a
avaliação da circulação, simultaneamente à respiração, sendo que, se o pulso não for
adequadamente identificado dentro de 10 segundos, deve-se proceder conforme o
protocolo de Reanimação Cardiopulmonar (RCP), conforme abordado em lição específica
(lição 05).

Prioridade para transporte (tempo em cena)


Conforme preceitua o princípio do período de ouro do trauma, um tempo em cena
estendido, considerando os intervalos gastos com tratamento e transporte, leva a piores
resultados pacientes acometidos por condições graves, principalmente nos casos em que
estes apresentam traumas associados à condições graves como hipotensão, tórax
instável ou lesão penetrante.
Assim, o tempo em cena deve ser o mais curto possível, de forma que o socorrista
deve realizar unicamente intervenções mínimas ante as condições que ameacem a vida,
identificadas durante a avaliação primária. Por outro lado, caso não seja identificada
nenhuma condição agravante que ameace a vida do paciente, o socorrista tem tempo
suficiente para realizar a avaliação secundária ainda em cena e, só depois, dar início ao
transporte, pautando-se sobretudo pelo princípio do período de ouro.
Ainda assim, mesmo diante de uma vítima em estado grave, deve-se ter em mente
que o caráter imediato do transporte não pode fazer com que o socorrista desconsidere
ou negligencie as intervenções mínimas que devem ser realizadas, como o controle de
hemorragias externas graves, o manejo de vias aéreas, o suporte ventilatório e as
manobras de reanimação cardiopulmonar. Contudo, cumpre ressaltar que a realização de
avaliações inapropriadas ou imobilizações desnecessárias causam atrasos no início do
transporte e devem ser evitadas sempre que possível.
De forma a estabelecer parâmetros objetivos pelos quais os socorristas possam
pautar cada atendimento, foram estipulados os seguintes tempos máximos em cena para
a realização das intervenções necessárias:
● 10 minutos para pacientes instáveis (quando forem identificadas
condições que ameacem a vida);
● 20 minutos para pacientes estáveis (quando não forem identificadas
condições que ameacem a vida ).
Obviamente, cada ocorrência é diferente da outra e, em algum momento, este
período de tempo em cena pode ser extrapolado em virtude de situações que fogem do
alcance do socorrista. Mesmo assim, obedecendo ao princípio do período de ouro, todos
os esforços devem ser feitos para tentar adequar o atendimento dentro destes intervalos,
estabilizando o paciente da melhor maneira possível e transportando-o para a unidade
hospitalar em que se dará o atendimento definitivo.

AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
A avaliação secundária é um exame mais detalhado realizado somente após o
manejo de todas as condições que ameaçavam a vida do paciente. O objetivo desta
avaliação é a identificação de lesões ou problemas não observados durante a avaliação
primária. Considerando que a avaliação primária foi realizada de maneira adequada, os
achados clínicos identificados durante a avaliação secundária serão apenas problemas
leves, como lesões menores ou problemas médicos que, se não tratados, poderão
proporcionar algum agravo ao paciente em certo momento.
De forma a manter reduzida e objetiva a sequência da avaliação secundária, o
socorrista deve realizar a aferição dos sinais vitais, a entrevista e o exame físico em
sequência, seguindo esta mesma ordem para pacientes de trauma e clínicos.

Aferição dos sinais vitais


A primeira etapa da avaliação secundária é a aferição dos sinais vitais, sendo o
exame necessário para identificar pressão arterial, pulso, frequência respiratória, e
temperatura. O socorrista deve atentar-se para realizar a correta aferição de cada um
destes sinais, pois eles são de extrema importância para verificar o atual quadro de saúde
do paciente conforme visto na lição 1.

Entrevista
Após a aferição dos sinais vitais, o próximo passo da avaliação secundária é a
entrevista, uma etapa em que se busca obter informações importantes e dados relevantes
sobre o paciente a fim de se formar um breve histórico que deverá ser documentado na
ficha de APH e repassado posteriormente à unidade hospitalar responsável pela
continuidade do atendimento.
Vocês já devem ter percebido que a utilização de mnemônicos no campo da saúde
é uma constante e auxilia sobremaneira o socorrista na memorização de processos
importantes. Assim, para a realização da entrevista em traumas, adota-se o mnemônico
SAMPLE, exemplificado abaixo com perguntas objetivas e diretas que podem ser
realizadas pelo socorrista.

● (S)intomas: qual sua principal queixa? Está sentindo dor? Tem alguma
dificuldade para respirar? Está sentindo tontura ou fraqueza?

● (A)lergias: tem alguma alergia conhecida?

● (M)edicamentos: utilizou algum medicamento recentemente? Faz uso de


algum remédio para um tratamento específico?

● (P)assado médico/gravidez: possui algum problema de saúde ou condição


clínica importante? Foi submetido a alguma cirurgia recente? Está grávida?

● (L)íquidos/alimentos: o que comeu e que horas fez a última refeição?


● (E)ventos: o que aconteceu para você se lesionar? O que estava fazendo
antes de aparecerem os sintomas?

No atendimento de emergências clínicas em que o paciente apresenta dor, de


forma a elucidar melhor o distúrbio e discernir com precisão as razões dos seus sintomas,
o socorrista pode utilizar o mnemônico ILITIADA para complementar a entrevista. Cada
letra do acrônimo representa um importante questionamento que deve ser feito para se
obter uma avaliação mais precisa da principal queixa do doente.
As informações aqui obtidas também devem ser documentadas na ficha de APH e
repassadas posteriormente ao profissional da unidade hospitalar responsável pela
continuidade do atendimento. Durante a condução da entrevista, é importante que o
socorrista faça perguntas genéricas, dando liberdade para o paciente verbalizar como se
sente, em vez de fornecer-lhe opções para escolher. Abaixo está exemplificada a
aplicação da entrevista ILITIADA com perguntas que podem ser realizadas.
● (I)nício: o que você estava fazendo quando a dor começou? A dor começou de
repente ou aos poucos? alguma outra vez sentiu algo parecido?
● (L)ocalização: em que lugar você sente a dor?
● (I)rradiação: é uma dor localizada ou se irradia para outro local?
● (T)empo/duração: há quanto tempo você se sente dessa maneira?
● (I)ntensidade: que nota você dá para a dor em uma escala de 0 a 10 (sendo 0 o
menor grau e 10 o pior)?
● (A)gravo/Alívio: a dor piora ou melhora com alguma posição ou movimento?
● (D)uração: por quanto tempo você sente essa dor?
● (A)ssociados: algum fator associado com a dor?

Exame Físico
O exame físico é a última etapa da avaliação secundária, sendo uma avaliação
necessária para identificar as lesões ou indícios de problemas médicos de menor
gravidade que não foram constatados durante a avaliação primária, executando as
intervenções necessárias, como imobilizações de membros e curativos em geral.
Se o paciente estiver com nível de consciência alterado ou for vítima de trauma
significativo, o exame físico deve ser detalhado, compreendendo uma avaliação completa
da cabeça aos pés (exame céfalo-caudal). Por outro lado, ao atender um paciente clínico
ou vítima de trauma localizado com adequado nível de consciência, o exame físico pode
ser dirigido a sua queixa principal ou à lesão evidente, tornando o exame detalhado
opcional.
Durante a realização do exame físico, o socorrista deve utilizar a abordagem “ver,
ouvir e sentir”, de forma a assegurar a obtenção de todas as informações possíveis
durante sua avaliação.

Quadro X - Abordagem “ver, ouvir, sentir” durante o exame físico

Ver - Estar atento para sinais de hemorragia interna ou externa


(não apenas olhar) - Examinar a pele por completo
- Perceber lesões em tecido mole (abrasões, queimaduras, contusões,
hematomas, lacerações, perfurações etc.)
- Perceber inchaços ou deformações em ossos (fraturas, entorses etc.)
- Constatar qualquer situação que fuja do normal/anatômico

Ouvir - Identificar qualquer padrão respiratório incomum (roncos, respiração ofegante,


(não apenas escutar) ruídos agudos e intermitentes etc.) quando o paciente inspira ou expira
- Perceber queixas de dor ou sensibilidade à palpação

Sentir - Palpar todas as regiões do corpo, incluindo os ossos


(não apenas tocar) - Verificar mobilidade e limitação de movimentos
- Identificar instabilidades, crepitações, enfisemas subcutâneos e outros
achados anormais
- Perceber a presença dos pulsos nas extremidades
Fonte: adaptado de PHTLS, 2019.

Inicialmente, o socorrista deve explicar ao paciente sobre a necessidade de expor


o segmento corporal, explicando sobre a avaliação que será realizada. A partir daí,
conforme a abordagem “ver, ouvir, sentir”, todas as regiões anatômicas devem ser
avaliadas da seguinte forma:
a) Cabeça: inspecionar visualmente em busca de hematomas, lacerações,
assimetria óssea, sangramento, defeitos e anormalidades do crânio. Deve-se olhar
cuidadosamente através do cabelo do paciente para identificar qualquer lesão de tecido
mole. Deve-se inspecionar os olhos e as pálpebras, a reatividade das pupilas, o nariz, a
boca, a mandíbula e os ouvidos, procurando identificar anormalidade ou assimetria facial.
Cuidadosamente, deve-se palpar os ossos da face e do crânio.

b) Pescoço: inspecionar visualmente a região posterior e anterior do pescoço


observando contusões, abrasões, lacerações, hematomas e deformações. Realizar a
palpação cuidadosamente, observando alterações e deformidades, certificando-se de que
a coluna cervical permaneça em uma posição neutra e alinhada. Observar se existe falta
de sensibilidade na região cervical.

c) Tórax: inspecionar visualmente, a fim de identificar assimetrias anatômicas,


deformidades, movimentos respiratórios paradoxais, perfurações, contusões e abrasões.
Inspecionar e palpar cuidadosamente os ombros bilateralmente (clavícula e escápula) e
as regiões anterior e lateral do tórax (esterno e costelas), buscando identificar alterações,
deformidades, enfisema subcutâneo, crepitação ou queixa de dor.

d) Abdome: inspecionar visualmente, observando contusões, abrasões e


equimoses que podem indicar lesões. Proceder a palpação dos quatro quadrantes
abdominais separadamente, verificando a presença de sensibilidade, rigidez ou qualquer
outra alteração. Não se deve continuar a apalpar um local em que já foi identificada
alguma alteração.

e) Pelve: inspecionar visualmente, identificando a presença de abrasões,


contusões, lacerações, hematomas, fraturas abertas, sinais de distensão e edemas nas
regiões anterior, lateral e posterior da pelve (quando possível). Como a palpação de uma
pelve instável pode agravar uma lesão preexistente, ela deve ser realizada uma só vez e
de maneira cuidadosa, não se fazendo necessária se a suspeita de fratura for óbvia. A
palpação deve ser feita aplicando-se pressão suave sobre a sínfise púbica com a base
das mãos e pressionando bilateralmente as cristas ilíacas, observando instabilidade,
crepitação ou queixa de dor.

f) Genitálias: inspecionar visualmente a fim de perceber sangramentos, priapismo


em pacientes masculinos ou fluidos claros em pacientes grávidas, que podem indicar
ruptura da membrana amniótica.
g) Extremidades: inspecionar cada uma das extremidades a partir da clavícula
(para os membros superiores) e da pelve (para os membros inferiores), prosseguindo até
a porção mais distal de cada membro, buscando identificar deformidades, hematomas,
crepitação, movimentos não anatômicos e queixas de dor. Por fim, pesquisar pulso distal,
mobilidade e a sensibilidade em cada membro, principalmente após realizar imobilização.

h) Costas: inspecionar a região dorsal em busca de hematomas, contusões,


abrasões ou deformidades. Inspecionar a coluna cervical, buscando identificar
deformidades e observar queixas de dor ou sensibilidade à palpação. Este exame é
melhor realizado se for feito rolamento de 90º (vide lição 8) com o paciente de
preferência, aproveitando para colocá-lo em um dispositivo de restrição de movimento da
coluna se assim for indicado.
<ATENÇÃO> O exame físico detalhado deve ser objetivo e não pode atrasar demais o
atendimento, tendo duração estimada de 3 e 5 minutos, desconsiderando o tempo para
possíveis intervenções.

Restrição do movimento da coluna, transporte e


transferência do cuidado

Após a conclusão da avaliação secundária, o socorrista já é capaz de reunir as


informações necessárias para decidir, ou não, pela aplicação da restrição do movimento
da coluna (RMC) no paciente de trauma, conforme será abordado na lição sobre trauma
raquimedular, colocá-lo na maca articulada e, posteriormente, dentro da ambulância para
transporte. Sendo um paciente de emergência clínica responsivo, o socorrista pode
conduzir cuidadosamente o paciente até a maca articulada, aproximando-a o mais
próximo possível dele ou utilizando uma cadeira de rodas.
Feito isto, o atendimento prossegue com o transporte do paciente até a unidade
hospitalar de referência, sendo tomado os cuidados necessários durante o transporte e
realizando o monitoramento e a reavaliação constante do quadro clínico da vítima,
corrigindo as condições que forem necessárias.
Ao chegar ao hospital, o socorrista mais experiente (comandante da guarnição)
deve realizar a transferência do cuidado do paciente ao profissional de saúde responsável
pela continuidade do tratamento e entregar a ficha de APH preenchida, findando-se a
participação do CBMSC no atendimento pré-hospitalar.
Recapitulando
Nesta lição você aprendeu como é importante o estabelecimento de protocolos
para abordagem, avaliação e tratamento de pacientes em geral, fazendo-se necessário
para que o socorrista siga um passo-a-passo sistemático e racional capaz de identificar e
tratar imediatamente as condições que ameaçam a vida, bem como quaisquer outras
situações menos graves que também estejam presentes. Por meio desta abordagem
metódica no atendimento pré-hospitalar, é possível garantir as melhores chances de
sobrevida e recuperação ao doente
Nesse sentido, foram abordados os temas de uma avaliação do paciente:
dimensionamento da cena, abordagem ao paciente, avaliação primária, e, na sequência,
a prioridade para transporte do paciente. Sendo que, após isso, executa-se a avaliação
secundária, que se constitui em um exame mais detalhado realizado somente após o
manejo de todas as condições que ameaçavam a vida do paciente.

AVALIAÇÃO DA LIÇÃO
1. Descreva o conceito de dimensionamento da cena
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________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
2. Descreva o conceito e os passos da avaliação primária
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
3. Descreva o conceito e os passos da avaliação secundária
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Referências
● Campbell, John E. Alson, Roy L. ITLS - For emergency care providers. 8 ed. London: Pearson Education, 2016.
417 p.
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. AMLS - Atendimento pré-hospitalar
às emergências clínicas. 2. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2018. 488 p.
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. PHTLS - Atendimento pré-hospitalar
ao traumatizado. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020. 762 p.
● O’ KEFFE, Mickael F. Emergency Care. New Jersey, 8 Ed., BRADY, 1998.












Oxigênio
O oxigênio, imprescindível para a vida, é um gás inodoro, incolor, e sozinho não é
combustível, entretanto, é alimentador da combustão e reage violentamente com
materiais combustíveis. Ele está presente no ar ambiente num teor de aproximadamente
21%. Na medicina é largamente utilizado numa concentração de 100%.

Oxigênio medicinal:
O ar atmosférico fornece 21% de oxigênio ao paciente. Isto é suficiente para suprir
as necessidades da pessoa na vida diária. Desde que as vias aéreas estejam
funcionando apropriadamente, há bastante oxigênio para ser absorvido pelo sangue,
enquanto o coração e os vasos sanguíneos se encarregam de distribuir o sangue a todos
os tecidos do corpo. Quando um destes fatores falha, uma concentração maior de
oxigênio deve ser oferecida, para que possa alcançar todos os tecidos do corpo.

<LEMBRE-SE> Oxigênio é uma medicação. O seu uso exige uma responsabilidade


especial que pode ser atribuída somente a alguém adequadamente treinado no seu
manuseio e sob orientação médica.

Quadro X - Dispositivos para administração de oxigênio

% DE OXIGÊNIO
DISPOSITIVOS FLUXO USO ESPECIAL
OFERECIDO
1 – 6 LPM 24% - 44%
1 LPM 24%
2 LPM 28% Maioria dos casos clínicos e pacientes
CATÉTER NASAL 3 LPM 32% com DPOC (1 ou 2 LPM) com baixas
4 LPM 36% concentrações.
5 LPM 40%
6 LPM 44%

Bom para pacientes com insuficiência


Começar
MÁSCARA FACIAL respiratória (exceto DPOC) ou em
com 10 litros 80% a 95%
SEM REINALAÇÃO choque. Oferece altas concentrações de
e até 15 LPM
oxigênio.
Observação: Máscara facial sem reinalação (o fluxo mínimo quando se usa essa
máscara é de 8-10 LPM); - Cateter nasal para DPOC entre 1 a 2 LPM ou conforme
prescrição médica; - Litros por minuto (LPM)

PROCEDIMENTOS GERAIS PARA DOSAGEM DE OXIGÊNIO


A oxigenoterapia não precisa ser usada em casos de pequenas lesões,
12-15
TRAUMA cortes ou ferimentos de extremidades (dedos), ou outros pequenos
LPM
traumas.

Administre oxigênio por máscara facial sem reinalação, nas seguintes


12-15 ocasiões: Dor no peito, dificuldades ou problemas respiratórios (menos
CLÍNICO
LPM DPOC), emergências diabéticas, recuperação de crise convulsiva e dor
abdominal.

Administre oxigênio por máscara facial sem reinalação, nas seguintes


ocasiões: Hemorragia pré-parto, sangramento excessivo pós parto, aborto
natural, ou induzido com sangramento excessivo, gravidez ectópica e
12-15
PARTO toxemia (eclâmpsia). Para o recém-nascido, forneça oxigênio dentro de
LPM
uma tenda colocada sobre a cabeça e ombros do bebê, caso ele seja
prematuro, tenha respiração difícil, sangramento pelo cordão umbilical,
fraqueza e cianose persistente que não seja de pés e mãos.

Administre oxigênio por máscara facial sem reinalação, nas seguintes


EMERGÊNCIAS 12-15
ocasiões: Alergias e choque anafilático, queimaduras, superdosagem de
AMBIENTAIS LPM
drogas, afogamento, envenenamento e acidentes de mergulho.

Observação: Em caso de parada respiratória isolada ou parada cardiorrespiratória


forneça de 12-15 lpm conectado a máscara para ventilação ou ventilador manual.

Principais indicações para o emprego do oxigênio


Insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, insuficiências respiratórias,
hemorragias, trabalho de parto com complicações, intoxicações dentre outras. Em todos
os casos, devemos sempre considerar a possibilidade de uma condição básica à hipóxia.
<ATENÇÃO> A simples administração de oxigênio não substitui as manobras de
reanimação!!!

Acessórios Utilizados Para Ventilar, Aspirar e


Oxigenar

Cânula Orofaríngea
Tubo plástico de forma curva que se adapta na superfície da língua do paciente. Os
tipos mais comuns de cânulas orofaríngeas utilizados no APH são as chamadas cânulas
de Guedel e cânulas de Berman. O primeiro é do tipo tubular e a segunda possui canais
ao longo de suas laterais. As cânulas orofaríngeas são acessórios que mantém a língua
afastada da parede posterior da faringe. As cânulas facilitam a aspiração e evitam que o
paciente morda.
Figura X - Cânula de Guedel e Berman respectivamente

Fonte: CBMSC

Máscara de Bolso Para RCP


Máscara plástica que objetiva proteger o socorrista durante a ventilação de resgate.
Deve possuir válvulas unidirecionais.
Figura X - Máscara de Bolso Para RCP (Pocket Mask)

Fonte: CBMSC

Ventilador Manual (com ou sem reservatório)


Também chamado de bolsa-válvula-máscara, é um dispositivo utilizado para
ventilar pacientes. Deve ser confeccionado, preferencialmente, em material silicone
transparente.
Figura X - Ventilador manual

Fonte: CBMSC
Aspirador Portátil
Aparelho utilizado para aspirar líquidos através de sucção. Composto pelo
aspirador, um frasco coletor e um tubo aspirador.
Figura X - Aspirador portátil manual

Fonte: CBMSC
Outros:
Cateter nasal, máscara facial com ou sem reservatório de O2, etc..

Aspiração
Habitualmente, os socorristas usavam o posicionamento do corpo do paciente e
seus dedos protegidos com luvas e compressas de gaze para limpar sangue, muco e
outros fluídos corpóreos das vias aéreas. Recentes recomendações indicam que as
equipes de socorristas devam aspirar as vias aéreas utilizando equipamentos de sucção,
tais como aspiradores portáteis ou fixos, no interior dos veículos de emergência.

Técnica de aspiração
● Inspecionar e preparar o equipamento;
● Posicionar adequadamente o paciente;
● Abrir a boca do paciente utilizando a técnica dos dedos cruzados;
● Inserir o cateter rígido na boca até atingir a faringe e iniciar a aspiração;
● Proceder a aspiração por cerca de quinze segundos e voltar a oxigenar.
● Repetir a técnica até desobstruir completamente as vias aéreas.
<LEMBRE-SE> Nunca aspire por mais de 15 segundos por vez!!!

Técnica de colocação da cânula orofaríngea


● Colocar o paciente na posição correta;
● Escolher o tamanho correto da cânula (lóbulo da orelha ao canto da boca ou
ângulo da mandíbula ao centro dos dentes);
● Cruzar os dedos polegar e indicador, abrindo a boca do paciente;
● Introduzir a cânula com a extremidade contra o céu da boca (palato duro) até o
palato mole ou até a úvula;
● Rodar a cânula 180 graus e posicionar.

Equipamentos de provisão de oxigênio


O equipamento portátil de provisão de oxigênio constitui-se das seguintes partes:

Cilindro de Oxigênio Com Sua Válvula


O oxigênio é acondicionado em cilindro de aço ou alumínio. Segundo normas
internacionais, externamente, o cilindro deve estar pintado na cor verde quando para uso
medicinal. No Brasil existe uma grande variedade de cilindros quanto ao modelo e
tamanho, sendo os mais usuais os tipos: WM de 625 L (portátil) e de 1.100 L (fixo)
Figura X - Conjunto de oxigenoterapia

Fonte: CBMSC

Regulador de Pressão Com Manômetro e Fluxômetro


Destina-se a reduzir a alta pressão no interior do cilindro (150-200 Kgf/cm2) para
uma pressão de consumo em torno de 3 a 5 Kgf/cm2. O manômetro indica em Kgf/cm2 a
quantidade de O2 no interior do cilindro e o fluxômetro destina-se a controlar e dosar a
administração de oxigênio. Usa-se a medida em litros por minuto (LPM) e possui escala
de 0-15 L/min.
Figura X - Conjunto válvula de redução de pressão e fluxômetro de O2
Fonte: CBMSC

Frasco Umidificador
Copo confeccionado em plástico, onde circula o oxigênio para ser umidificado. Este
acessório é completado normalmente com água limpa ou soro fisiológico. Possui,
normalmente, capacidade de 300 ml.
Figura X - Copo umidificador de O2

Fonte: CBMSC

<ATENÇÃO> Fique alerta para o perigo dos umidificadores contaminados. Em APH


básico não se utiliza líquido no umidificador.

Frasco Aspirador
Copo confeccionado em vidro, destina-se a aspirar e coletar secreções através de
vácuo produzido pela passagem de oxigênio por um ejetor tipo venturi, normalmente
acoplado à tampa do frasco. Possui capacidade de 500 ml.

Figura X - Aspirador tipo venturi

Fonte: CBMSC
Mangueiras e Máscara Facial Sem Reinalação
Tubo flexível confeccionado em silicone com aproximadamente 1,5m. É acoplado
ao equipamento e conduz o oxigênio até um cotovelo onde está conectada uma máscara
facial que permite a administração de O2 à vítima.
A máscara é utilizada para oferecer concentrações mais elevadas de oxigênio.
Assegure-se de inflar o reservatório antes de colocar a máscara na face do paciente.
Faça isso obstruindo com seu dedo a saída de ar da máscara. O fluxo mínimo, quando se
usa esta máscara é de 10 lpm.
Figura X - Mangueira e máscara sem reinalação

Fonte: CBMSC

Cateter Nasal
Oferece oxigênio pelas narinas do paciente através de duas cânulas plásticas.
Utilizada para oferecer baixas concentrações de oxigênio. Recomenda-se um fluxo
máximo de 6 lpm, pois além dessa quantidade o equipamento torna-se desconfortável ao
paciente.
Figura X - Catéter nasal

Fonte: CBMSC
Preparação do equipamento portátil de oxigenoterapia

1. Retire o capacete que protege a válvula do cilindro (se houver);


2. Retire o lacre da válvula do cilindro (exigir cilindro com lacre que assegure a
qualidade e o volume do produto);
3. Acoplar na válvula o regulador de pressão. Se for utilizar também aspirador,
acoplar antes tomada de saída dupla, adequada ao tipo de gás e pressão de serviço. (O
modelo de regulador adotado pelo CBMSC já vem com manômetro e fluxômetro);
4. Conecte o frasco umidificador com a mangueira e a máscara facial adequada
(adulto ou criança);
5. Conecte o frasco aspirador com a mangueira de aspiração e prepare os
aspiradores rígidos;
6. Abra a válvula vagarosamente, sem o uso de qualquer ferramenta, para evitar
danos ao cilindro e diminuir a possibilidade de vazamentos;
7. Regule o fluxo de saída de oxigênio conforme necessidade da vítima;
8. Ajuste a máscara na face da vítima e oriente para que respire lenta e
profundamente;
9. Para aspirar, abra a boca do paciente com a técnica dos dedos cruzados, insira
o aspirador (preferencialmente os modelos rígidos) e posicione-o até a faringe. Não
exceder a 15 segundos para cada aspiração. Reoxigenar e voltar a aspirar se necessário.

Riscos no uso do oxigênio


● Nunca transfira ou misture gases de um cilindro para outro (transvazamento).
● O oxigênio facilita a combustão, portanto, mantenha-o afastado das fontes de
chama do local onde estiver sendo empregado. Nunca fume quando o estiver
manipulando.
● Evite o contato com óleos e graxas;
● Evitar batidas e quedas do cilindro. Um golpe mais forte que rompa a válvula
poderá fazer o cilindro ser impulsionado com um míssil;
● Altas concentrações de oxigênio podem produzir intoxicação nas vítimas ou ainda,
áreas de colapso pulmonar. Esse problema é raro no socorro pré-hospitalar pois as
vítimas não recebem concentrações de O2 suficientemente altas para produzir tais
complicações.
Recapitulando
Nesta lição você aprendeu sobre os diferentes tipos de aparelhos que podem
auxiliar o socorrista no manejo das vias aéreas em procedimentos que iremos aprender
nas lições futuras como a desobstrução das vias aéreas por corpo estranho ou até
mesmo nas manobras de reanimação cardiopulmonar.
Avaliação da lição
1) Em que situações está indicado o uso do oxigênio?
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2) Escreva o nome das partes básicas de um equipamento portátil de provisão de
oxigênio:
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_______________________________________________________________________
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3) Descreva o uso dos seguintes equipamentos:
Aspirador portátil: ________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Cânula Orofaríngea:______________________________________________________
_______________________________________________________________________
Ventilador Manual:________________________________________________________
_______________________________________________________________________
4) Escreva abaixo uma situação de risco no uso do oxigênio
_______________________________________________________________________
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○ CONTROLE DE HEMORRAGIAS EXTERNAS


○ GRAVES E CHOQUE

Esta lição abordará a primeira etapa da avaliação primária de um paciente de


trauma, que é o controle das hemorragias externas graves. Aqui você terá uma base de
conhecimento sobre hemorragias em geral e aprenderá as principais técnicas utilizadas
para se estancar um sangramento exterior ao corpo, seja este grave ou não.

Sistema circulatório
É um dos sistemas essenciais para assegurar a chegada de quantidades
suficientes de oxigênio para as células do corpo, ao mesmo tempo que remove produtos
residuais como o dióxido de carbono, dessa forma a lesão traumática envolvendo o
sistema circulatório também pode afetar o fornecimento de oxigênio para as células do
corpo.

Pulso
O pulso é mais facilmente palpável nos locais onde artérias calibrosas estão
posicionadas próximas da pele e sobre um plano duro. Os pulsos mais comumente
usados são: carotídeo, braquial, femoral, radial, dorsal do pé e tibial posterior conforme
vimos na lição 1.

Sangue
A Composição do sangue: O sangue é formado por 2 partes: plasma (líquido
aquoso que contém sais, proteínas, etc) e os elementos figurados (células do sangue:
hemácias ou glóbulos vermelhos, leucócitos ou glóbulos brancos e as plaquetas ou
trombócitos). Funções do sangue: Transportar oxigênio e nutrientes para as células e
trazer para os pulmões o dióxido de carbono.

HEMORRAGIAS
Você certamente já ouviu falar em hemorragias, correto? Mas você sabia que
dependendo da localização do sangramento, uma hemorragia pode ser classificada em
interna ou externa?
Para iniciarmos nossa conversa, vamos compreender o termo hemorragia, ou
sangramento, o qual diz respeito a uma perda de sangue do sistema circulatório em
virtude da ruptura de alguma estrutura vascular (veia, artéria ou capilar). É importante
frisar que a gravidade de uma hemorragia vai depender basicamente da quantidade e da
velocidade com que o sangue é perdido.
Vamos ver em que as hemorragias internas e internas se assemelham e
diferenciam?
Em uma hemorragia interna, o sangramento não é visível, ou seja, o sangue
extravasado dos vasos sanguíneos fica acumulado em alguma cavidade. Por conta dessa
dificuldade em se identificar uma hemorragia interna, esta é uma situação bem grave que
pode provocar um choque hipovolêmico e levar a vítima à morte. O mais importante para
o socorrista do atendimento pré-hospitalar básico é a suspeição de uma possível
hemorragia interna, para que seja feita uma correta decisão na prioridade de transporte
do paciente.
Por outro lado, em uma hemorragia externa, o sangramento é facilmente
identificado ao se olhar para o ferimento por onde o sangue está saindo. Este tipo de
hemorragia pode apresentar-se ainda de maneiras distintas de acordo com o tipo de vaso
sanguíneo que foi lesionado:
a) Hemorragia capilar: causada por abrasões que acabam lesionando os
capilares situados sob a pele. O sangue sai lentamente por estes vasos menores, sendo
que sua coloração é menos viva que na hemorragia arterial. É um tipo de hemorragia que
geralmente não é letal.
b) Hemorragia venosa: causada pela laceração de uma veia, situada em camadas
mais profundas do tecido epitelial. O sangue sai lento e contínuo na cor vermelha escura,
e o sangramento pode ser controlado normalmente por pressão direta. É um tipo de
hemorragia que normalmente não é letal, a não ser que atinja uma veia importante ou que
o tratamento seja demorado demais.
c) Hemorragia arterial: causada pela laceração de uma artéria. Geralmente é
caracterizada pela saída de sangue pulsátil de coloração vermelho vivo, ou então pode
também se apresentar como um vazamento rápido e contínuo através de um ferimento.
Esse é o tipo de sangramento mais preocupante e difícil de se controlar.
Uma hemorragia grave, que não seja controlada em tempo hábil, pode fazer com
que o paciente entre em estado de choque hipovolêmico. Por este motivo, o controle das
hemorragias externas graves deve ser realizado logo no início do atendimento a uma
vítima de trauma, pois o risco de morte associado ao choque hipovolêmico é
extremamente elevado, conforme abordado na lição 12.
Um paciente com hemorragia externa pode apresentar agitação, palidez, sudorese
intensa, pele fria, pulso acelerado (taquicardia), respiração rápida (taquipnéia), pressão
baixa (hipotensão), perfusão inadequada (mais de 2 segundos), sede, fraqueza e pressão
diastólica não mensurável.

TÉCNICAS UTILIZADAS NO CONTROLE DAS


HEMORRAGIAS EXTERNAS
A hemorragia é a principal causa de mortes pós­-traumáticas evitáveis. Por esse
motivo, a identificação e o controle adequado da hemorragia são passos cruciais na
avaliação e no tratamento de pacientes com esta condição. Abaixo estão indicadas as
técnicas utilizadas para controle de hemorragias externas:

● pressão manual direta;


● curativo compressivo;
● torniquete;
● gaze com agente hemostático.

Pressão manual direta


A pressão manual direta (ou seja, com as próprias mãos) deve ser realizada pelo
socorrista de imediato ao identificar uma grande hemorragia. A pressão deve ser exercida
diretamente na fonte ativa do sangramento, pois só assim conseguirá ter melhor chance
de sucesso na contenção do sangramento. Por isso, é importante que o local do
sangramento seja previamente exposto e, se necessário, o excesso de sangue seja
removido com gaze, tentando preservar quaisquer coágulos formados.
Quanto à aplicação da pressão, tenha em mente a disposição anatômica dos
órgãos no corpo humano para evitar agravamento da lesão (ex.: pressionar em excesso
arco costal fraturado). A pressão direta deve ser aplicada por, no mínimo, 3 minutos. Caso
o sangramento pare, deve-se colocar uma gaze no local e aplicar uma atadura simples
sobre o ferimento, finalizando o manejo da hemorragia. Todavia, caso o sangramento
ainda se mantenha ativo, o socorrista pode tentar contê-lo com a aplicação de um curativo
compressivo.

Curativo compressivo
O curativo compressivo consiste basicamente em um rolo de atadura ou maço de
gaze bem enrolado e compactado, colocado diretamente sobre o ferimento, e depois
envolto firmemente por uma atadura, de preferência elástica, o que vai manter a pressão
sobre o ferimento e conter o sangramento
Existem ainda opções comerciais previamente construídas para realizar a mesma
função de pressão, como a bandagem israelense.

Figura X - Aplicações da bandagem israelense


Fonte: www.sportsadventure.com.br/bandagem-tipo-israelense-4-polegadas

Se o sangramento não parar depois de aplicar a pressão direta e o curativo


compressivo, o socorrista deve considerar a aplicação de um torniquete, se o
sangramento se der em uma extremidade, ou de uma gaze embebida em agente
hemostático.

Torniquete
O torniquete é um dispositivo de constrição ou compressão utilizado para controlar
o fluxo sanguíneo, arterial e venoso, numa porção de uma extremidade por um período de
tempo. Ele deve ser aplicado tão logo se observe que a pressão manual e o curativo
compressivo não estão sendo suficientes para controlar a hemorragia (não se deve haver
sequência no controle de hemorragias, e sim a correta identificação de lesões que
oferecem risco de morte, ou seja, por exemplo, um corte grande na artéria femoral não
adiantará pressão direta, curativo compressivo e somente após o torniquete, isso não
funcionará. O torniquete tem que ser aplicado de imediato, e na hipótese de falta de
torniquete, o preenchimento da lesão e compressão direta), ou tão logo que o socorrista
perceba que esta é a única opção viável para o caso em questão (ex.:: amputação de
membro com sangramento ativo).
Há uma relação direta entre a quantidade de pressão exigida para controlar uma
hemorragia e o tamanho do membro. Logo, para obter o controle da hemorragia, um
torniquete deverá ser colocado com mais pressão em uma perna do que em um braço.
Sua utilização deve ser conforme abaixo:
1. Como a aplicação do torniquete gera dor, avise o paciente sobre o procedimento e
a possibilidade de gerar dor.
2. Aplique o torniquete bem próximo e acima do local da lesão hemorrágica, de forma
a impedir a comunicação arterial entre o coração e a lesão. A aplicação deve ser
firme o suficiente para bloquear o fluxo arterial e venoso e impedir o pulso distal.
3. Tenha certeza de que o dispositivo de rotação do torniquete ficou firme, sem
possibilidade de soltar.
4. Anote a data e o horário da aplicação em local visível.
5. Uma vez aplicado, mantenha o local do torniquete descoberto, permitindo assim
sua fácil visualização e monitoramento.

Se, mesmo com a correta aplicação do procedimento, o sangramento não parar,


pode ser necessária a aplicação de outro torniquete bem próximo ao primeiro. Ao colocar
dois torniquetes lado a lado, a área de compressão é duplicada e há mais chances de um
controle bem-sucedido da hemorragia.
Os torniquetes arteriais são usados com segurança durante um período de 120 a
150 minutos, sem provocar dano significativo a um nervo ou a um músculo. Dessa forma,
um torniquete aplicado no ambiente pré-hospitalar, em geral, deve permanecer no local
até que o paciente receba um tratamento definitivo no hospital adequado mais próximo.

Gaze com agente hemostático


Os agentes hemostáticos são substâncias anti-hemorrágicas que promovem a
hemostasia, sendo projetadas para melhorar a coagulação e promover o controle de
sangramentos. São indicados para hemorragias controláveis apenas pela pressão direta,
ou então em áreas do corpo que não são adequadas para se colocar um torniquete
(virilha, tronco e pescoço, por exemplo). Dentre as opções disponíveis no mercado,
deve-se optar pelas gazes já impregnadas com o produto, em vez de agente hemostático
em pó para aplicação sobre o ferimento.
Para uso adequado, deve-se preencher o ferimento com a gaze embebida em
agente hemostático, aplicando ainda pressão direta sobre o local da hemorragia, sempre
observando o tempo mínimo de pressão indicado pelo fabricante (normalmente de, no
mínimo, 3 minutos). Após a contenção da hemorragia, deve-se aplicar um curativo
compressivo.
CHOQUE
O choque pode ser definido como uma perfusão (oxigenação) tecidual insuficiente,
ou hipoperfusão, levando o organismo a tentar compensar essa deficiência ativando o
metabolismo anaeróbio.
O que tudo isso quer dizer? Choque, portanto, é uma alteração da fisiologia normal
do corpo.
Em um sistema de funcionamento fisiológico normal, nosso metabolismo funciona
por meio aeróbio. Nesse sistema, as células captam oxigênio e glicose, e através de
processos complexos, produzem energia e subprodutos. Ao contrário, em um sistema de
funcionamento alterado, nosso metabolismo passa a funcionar de maneira anaeróbia,
sem o uso de oxigênio. Este sistema é um backup de emergência, que só funciona por
curtos períodos de tempo, tem uma produção de energia muito baixa e a geração de
subprodutos prejudiciais ao organismo. Por fim, essa situação pode tornar-se irreversível,
levando à morte celular e consequentemente a do paciente.
Em um ambiente cada vez mais inóspito, as células não conseguirão sobreviver
sem a energia necessária. Se um maior número de células morrem em um órgão, este
terá sua funcionalidade prejudicada e as células remanescentes terão que trabalhar mais
para mantê-lo funcionando, e isso poderá ou não dar certo. Desta forma, o órgão como
um todo morrerá.
Dessa forma, a rápida identificação e manejo do paciente vítima de choque será
essencial na determinação do desfecho do caso. Essas ações começam na avaliação
primária, e seguem ao longo do atendimento, pois como veremos ao longo desta lição, a
evolução do choque pode dar-se de forma rápida ou evoluir lentamente, de acordo com
as condições do trauma e até mesmo fatores anteriores ao trauma, que podem tornar
único cada paciente.

TIPOS DE CHOQUE TRAUMÁTICO


Como os componentes primários para a perfusão celular são o sangue, os vasos
sanguíneos e o coração, podemos classificar os tipos de choque traumáticos como
hipovolêmico, distributivo e cardiogênico, os quais serão detalhadamente descritos a
seguir.

Choque Hipovolêmico
Em vítimas de trauma, é o tipo de choque mais comumente encontrado, sendo sua
causa primária a hemorrágica, ou seja, a perda de volume sanguíneo, comprometendo a
capacidade de absorção de oxigênio pelas células. Essa perda de volume diminui o
líquido circulante, mas o reservatório mantém seu tamanho normal, causando um
desequilíbrio no sistema. Também pode ser causado pela perda de outros fluidos de
modo intenso como em vômitos e diarreias, porém de pouca incidência em traumas.
Como visto anteriormente, a perda sanguínea provoca um estímulo que faz com que o
coração aumente a força e a frequência das contrações, e os vasos se contraiam para
adequarem-se ao volume de sangue restante. Devido a essa vasoconstrição, o organismo
passa a priorizar a oferta de oxigênio para os órgãos mais importantes, em detrimento dos
demais.
Nos momentos iniciais da perda sanguínea, o organismo é capaz de compensar a
redução de volume com alguns mecanismos fisiológicos como o aumento da frequência
cardíaca e da pressão sanguínea, situação esta que caracteriza um choque
compensado.
Todavia, quando o sistema não consegue mais compensar o volume perdido,
mesmo após adotar o aumento do ritmo cardíaco e a vasoconstrição, a pressão arterial do
paciente cairá, lenta ou vertiginosamente, dependendo da velocidade da perda de
volume. Esse estágio de diminuição repentina da pressão arterial marca a evolução do
quadro para um choque descompensado, que é extremamente grave e sinaliza o risco
iminente de morte. Sem uma resposta rápida e adequada, tanto no ambiente pré
hospitalar como após a entrada no hospital, o choque se tornará irreversível e levará a
morte.

Choque Distributivo
Também conhecido como choque vasogênico, é causado pelo aumento do
reservatório ou dilatação dos vasos, sem que haja um aumento do volume sanguíneo. Em
pacientes de trauma, está geralmente associado a lesões de medula espinhal. Tal
condição causará um hipotensão neurogênica, ou seja, hipotensão sem a presença
de taquicardia, o que é um grande diferencial e indicativo de prognóstico em relação ao
choque hipovolêmico. Assim como a ausência de taquicardia, outros sinais poderão
diferenciar os tipos de choque.
Ainda podemos enquadrar na categoria do choque distributivo:
● choque anafilático: causado por contato com agente alérgico e provocando uma
reação sever;
● choque séptico: falência circulatória aguda causada por agente infeccioso;
● choque respiratório: causado devido a falência do sistema respiratório.

Choque Cardiogênico
Ele é dividido em duas causas: intrínseca, ou seja, resultado de um dano direto ao
coração, e extrínseca, resultado de um problema externo ao coração mas que interfere
diretamente em seu funcionamento.
Podemos destacar como causas intrínsecas: dano ao músculo cardíaco, que pode
ser qualquer lesão direta que altere o funcionamento normal do coração e pode causar
uma contusão cardíaca. Ou uma ruptura valvar, que pode resultar em regurgitação valvar
aguda que desenvolverá uma insuficiência cardíaca congestiva, manifestada por edema
pulmonar e posterior choque.
Entre as causas extrínsecas estão o tamponamento cardíaco, que é quando o
líquido presente no saco pericárdico impede que o coração se encha por completo
durante sua fase de relaxamento do ciclo cardíaco e o pneumotórax hipertensivo, que é
causado quando um dos lados da cavidade torácica se enche de ar e não permite a
completa expansão do pulmão. Ambas condições serão tratadas com mais detalhes na
lição 6 (avaliação e manejo de trauma torácico).

IDENTIFICAÇÃO E MANEJO DO CHOQUE


Como falado anteriormente, a identificação e manejo precoces do choque no
trauma são fundamentais para a evolução e seguimento do paciente. Em nosso cenário
de atendimento pré-hospitalar, o que pode ser avaliado são os órgãos e sistemas
acessíveis sem o aparato médico presente em uma unidade avançada ou no hospital.
Nesse sentido, serão avaliados o cérebro e o sistema nervoso central, o coração e o
sistema circulatório, sistema respiratório, pele e extremidades. A partir disso as respostas
do organismo podem incluir:
● Cérebro e Sistema nervoso central (SNC): ansiedade leve que pode progredir
para inquietação, desorientação, sonolência, ou perda da consciência;
● Taquipneia leve, aumentando conforme o choque evolui e respiração superficial
e agônica;
● Taquicardia leve, aumentando conforme o choque evolui e pulso filiforme
(fraco);
● Diminuição do pulso periférico (radial, tibial posterior, dorsal do pé), podendo
evoluir para sua ausência;
● Pressão arterial sistólica diminuída na classe III (90mmHg) podendo decair até
em torno de 60mmHg na classe IV;
● Pele fria, sudorética ou pegajosa, pálida ou cianótica;
● Aumento do tempo de enchimento capilar (perfusão) das extremidades;
● Hipotermia;
● Sede.
Devido às hemorragias serem as causas mais comuns de choque em pacientes
vítimas de trauma, o choque deve ser considerado de causa hipovolêmica até que se
prove o contrário, portanto suas causas devem ser priorizadas, seja na contenção de
hemorragias externas, seja na suspeita e manejo rápido das hemorragias internas. Se a
avaliação não sugerir que a causa do choque seja hemorrágica, outras causas devem ser
suspeitadas, desde a hipotensão neurogênica às causadas pelo choque cardiogênico.
As providências que podem ser tomadas no APH para a prevenção e manejo do
choque são:
● Controlar as hemorragias externas (lição 3). A diferença de cada gota de sangue
perdida pode ser fundamental para um paciente em choque;
● Melhorar a oxigenação do paciente, através do manejo das vias aéreas e
fornecimento de oxigênio suplementar (lição 3);
● Identificar e tratar, se possível, as hemorragias internas (lição 3);
● Imobilizar as fraturas, quando houver (lição 10);
● Prevenir a hipotermia fazendo uso de mantas térmicas e todos os meios
disponíveis, inclusive aumentando a temperatura do ar condicionado da viatura;
● Apesar da sede do paciente, não dar nada de beber ou comer à vítima;
● Quando não for feito uso de maca rígida, manter o paciente em repouso e tentar
acalmá-lo. Menos taquicardia é sinônimo de menos perda de sangue;
● Elevar os membros inferiores (quando em maca rígida, elevar todo o conjunto), de
modo a melhorar a perfusão em órgãos vitais;
Durante o deslocamento, monitorar os sinais vitais e estar pronto para uma
possível parada cardiopulmonar (PCR).

Recapitulando
Nesta lição, você aprendeu a primeira etapa da avaliação primária, que é o controle
de hemorragias externas graves. Apresentamos o conceito de hemorragia, os tipos de
hemorragia (interna e externa) e os principais indicativos (agitação, palidez, sudorese
intensa, pele fria, taquicardia, taquipneia, hipotensão etc.). Além disso, você ainda
aprendeu a diferenciar hemorragia capilar, venosa e arterial.
Em seguida, foi apresentado a você as quatro principais formas de contenção de
hemorragias externas: pressão manual direta, curativo compressivo, torniquete e gaze
com agente hemostático. Não se esqueça que o principal fator de controle de
hemorragias é o uso correto de curativos e a aplicação de pressão direta no local.
Você viu também que a utilização do torniquete só se dá quando não é viável, ou
não se mostraram efetivos, a pressão direta e o curativo compressivo.
Também, foram apresentadas a você as principais manobras manuais que podem
ser realizadas para desobstruir as vias aéreas, tanto em vítima de traumas como em
casos clínicos. Além disso, você viu também que a aspiração é um procedimento que
pode ser realizado para remover fluidos que estejam obstruindo as vias aéreas.
Conheceu um pouco mais sobre os tipos de choque que ocorrem em ocorrências
de trauma, destacando-se o choque hipovolêmico, em que há a perda de volume
sanguíneo, comprometendo a capacidade de absorção de oxigênio pelas células. Bem
como, pode compreender como identificar uma situação de choque e o seu manejo
adequado.
Por fim, apresentamos que a rápida identificação e manejo do paciente vítima de
choque traumático será essencial na determinação do desfecho do caso.

Avaliação da lição
1. Defina hemorragia e cite os 3 tipos de hemorragias externas:
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2. Cite 5 sinais ou sintomas que um paciente com hemorragia pode apresentar:
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3. Cite as 4 formas de contenção de hemorragias externas:
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4. Indique uma situação em que o torniquete deve ser utilizado:
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5. Aponte qual a indicação para se realizar uma manobra de inclinação da cabeça e


elevação do queixo para abertura de vias aéreas:
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6. Defina choque:
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7. Descreva os tipos de choque traumáticos:


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Referências
● American College of Surgeons (ACS). Stop the bleed: save a life. Surgical Specialists of Colorado, 2017.
Disponível em: https://ssoc.com/stop-the-bleed/. Acesso em: 12 mar. 2021.
● FURST, John. What are the different types of bleeding in first aid? First aid for free, 2017. Disponível em:
https://www.firstaidforfree.com/what-are-the-different-types-of-bleeding-in-first-aid/. Acesso em: 11 mar. 2021.
● Fonte: HEALTH, Adam. Bleeding. Healthing.ca, 2019. Disponível em: https://www.healthing.ca/injury/bleeding.
Acesso em: 10 mar. 2021.
● UNITED STATES DEPARTMENT OF HOMELAND SECURITY. Wound packing essentials. American Medical
Response (AMR), 2017. Disponível em:
https://www.amr.net/about/medicine/stopthebleed/stb-wound-packing-applying-tourniquet.pdf. Acesso em: 11
mar. 2021.
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life
Support. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020.

REVISÃO DA ANATOMIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
O sistema respiratório compreende o nariz, a boca, a faringe, a laringe, a epiglote,
a traqueia, a árvore brônquica, os pulmões e os músculos respiratórios.

Figura X - Sistema respiratório

Fonte: https://www.todamateria.com.br/sistema-respiratorio
Acesso em 08-03-2022

Revisão da fisiologia do sistema respiratório


A respiração é essencial para a vida porque permite:
● Suprir as células com oxigênio;
● Eliminar o dióxido de carbono das células.
Os músculos respiratórios são o diafragma (que separa as cavidades torácica e
abdominal) e os músculos intercostais.
Quando o diafragma e os músculos intercostais se contraem, produz-se uma
pressão negativa na cavidade torácica e o ar externo entra nos pulmões. Isto é chamado
de Inspiração. Quando os músculos se relaxam, produzem uma pressão positiva na caixa
torácica e o ar é forçado a sair dos pulmões. Isto é a Expiração.

Figura X - Fisiologia da respiração


Fonte: CBMSC

Sinais da Respiração
Vítima que respira:
● O peito e o abdômen se elevam e abaixam bilateralmente conforme a vítima inspira
ou expira o ar;
● O socorrista pode sentir e ouvir o ar saindo pela boca e o nariz do paciente de
forma harmônica;

Vítima que não respira:


● O socorrista percebe a ausência dos movimentos respiratórios;
● O socorrista não escuta, nem sente o ar sair pela boca e pelo nariz do paciente;

Vítima com respiração anormal/irregular:


● O peito e o abdômen da vítima, se elevam e se abaixam de forma irregular;
● O socorrista percebe a presença de ruídos, borbulhas, roncos, sibilos, etc.

MANEJO DE VIAS AÉREAS


Diversas condições podem afetar diretamente a capacidade respiratória que o
organismo possui, atrapalhando a distribuição do oxigênio para os tecidos e a retirada do
dióxido de carbono das células. A condição que mais atinge os pacientes, principalmente
de trauma, é a obstrução das vias aéreas. Não por coincidência, a avaliação e o manejo
de vias aéreas é o primeiro passo a ser adotado após o controle de hemorragias externas
graves.
A obstrução das vias aéreas de um paciente pode ser ocasionada principalmente
por meio da obstrução mecânica das vias aéreas superiores ou pela redução do nível de
consciência da vítima, podendo ambas situações ocorrerem simultaneamente. A
obstrução mecânica pode se dar por conta de alimentos, secreções ou objetos que
tenham sido introduzidos nas vias aéreas e que ali fiquem presos. Já a redução do nível
de consciência da vítima pode levar à perda do tônus muscular de sua língua que, por sua
vez, acaba por obstruir a passagem de ar através da hipofaringe.
Diante disso, a seguir, elucidamos como abordar uma vítima e iniciar sua
avaliação. Você deverá compreender que o socorrista deve ser capaz de perceber se
realmente está ocorrendo uma situação de obstrução de vias aéreas, qual a causa
principal e de que maneira ele pode intervir para corrigir o problema, desobstruindo-as e
mantendo a permeabilidade.

ABERTURA E DESOBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS


Dependendo da causa de obstrução das vias aéreas de um paciente, o socorrista
deve empregar a técnica mais adequada para garantir a abertura, a desobstrução e,
consequentemente, permitir a permeabilidade destas e a passagem do ar, favorecendo a
retomada da respiração. Os casos mais comuns de obstrução de vias aéreas no trauma
se dão por conta do relaxamento da língua e de sua queda sobre hipofaringe. Dessarte,
como a língua é naturalmente ligada à mandíbula, algumas manobras básicas podem ser
utilizadas de forma a mover esta e, por conseguinte, garantir a desobstrução causada por
aquela.
Além disso, a natureza da emergência é outro fator que dita ao socorrista qual
manobra deve ser utilizada para abertura e desobstrução das vias aéreas. Para os casos
de trauma em que a vítima está inconsciente, garantindo um relaxamento muscular,
deve-se utilizar as manobras específicas de tração da mandíbula e de elevação do
queixo, protegendo a cervical enquanto ocorre o deslocamento da língua para longe da
faringe. Já para os casos clínicos, deve-se utilizar a manobra de inclinação da cabeça
com elevação do queixo, não havendo impedimento para manipulação da região cervical.
Por fim, para os pacientes que apresentem fluidos acumulados e obstruindo as vias
aéreas, a aspiração apresenta-se como a técnica mais adequada para realizar a
desobstrução.

Ventilação de Resgate
O ar atmosférico possui cerca de 21% de oxigênio. Dos 21% inalados,
aproximadamente 5% são utilizados pelo corpo e os 16% restantes são exalados,
quantidade suficiente para manter viva uma vítima durante as manobra de ventilação de
resgate.
As técnicas de ventilação de suporte são: Boca-a-boca; Boca-máscara;
Boca-boca-nariz, e Boca-estoma.

Principais Riscos e Complicações da Ventilação de Resgate


● Infecções: usar precauções universais;
● Intoxicações: produtos cáusticos / tóxicos;
● Lesão cervical: usar técnica modificada;
● Distensão gástrica: cuidado com vômito.

Manobra de tração da mandíbula no trauma


Esta manobra permite que o socorrista proceda a abertura das vias aéreas do
paciente, movimentando pouco ou quase nada a cabeça e a região cervical, sendo
realizada por apenas um socorrista e adequada a uma vítima de trauma.
A técnica é realizada da seguinte maneira:
1) Com o paciente em decúbito dorsal, o socorrista deve posicionar-se de joelhos,
alinhado acima da parte superior da cabeça daquele;
2) Com uma mão de cada lado da cabeça do paciente, o socorrista deve repousar
os polegares sobre os ossos zigomáticos, enquanto posiciona os dedos médios e
indicadores sob o ângulo da mandíbula;
3) Com os dedos posicionados, a mandíbula deve ser tracionada para cima,
mantendo a cabeça estabilizada com a palma das mãos e impedindo que ela faça
qualquer tipo de movimentação.

Figura X - Manobra de tração de mandíbula


Fonte: ATLS, 10 edição

Manobra de elevação do queixo no trauma


A fim de manter a estabilidade da cervical, esta técnica só pode ser empregada
com 2 socorristas, servindo tão bem quanto à manobra de tração de mandíbula.
Considera-se a utilização desta manobra em vez da tração de mandíbula caso haja
trauma facial ou qualquer outra lesão que não permita o posicionamento correto das mãos
sobre a face da vítima.
A manobra deve ser executada da seguinte forma:
1) Com o paciente em decúbito dorsal, um dos socorrista deve posicionar-se de
joelhos, alinhado acima da cabeça daquele, estabilizando-a;
2) O segundo socorrista deve posicionar-se lateralmente ao corpo do paciente na
altura de seus ombros, e, de frente para este, segurar seu queixo com ambas as mãos.
3) Com as mãos seguras, o segundo socorrista deve puxar o queixo para cima,
elevando-o.

Figura X - Elevação de queixo

Fonte: ATLS, 10 edição


Manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo
A manobra ora apresentada destina-se a pacientes clínicos que não consigam
manter suas vias aéreas pérvias ou quando, por algum motivo, não é possível empregar
as manobras anteriores em vítimas de trauma. Caso haja uma lesão na região cervical, a
mobilização da cabeça durante a execução desta manobra pode agravar a lesão e causar
danos medulares. Todavia, mesmo que esta seja a única opção viável para um paciente
de trauma, deve ser utilizada para garantir a abertura das vias aéreas e permitir a
ventilação.
A técnica deve ser executada da seguinte forma:
1) Com o paciente em decúbito dorsal, o socorrista deve posicionar-se ao seu lado
na altura dos ombros;
2) Posicionar uma das mãos na testa do paciente, inclinando levemente sua
cabeça para trás;
3) Com as pontas dos dedos indicador e médio posicionados sob o queixo do
paciente, apoiando-se na parte óssea, o socorrista deve elevá-lo.

Figura X - Técnica de extensão de cabeça

Fonte: CBMSC

CONCEITO DE OVACE
É a obstrução súbita das VA superiores causada por corpo estranho. A OVACE
(Obstrução das Vias Aéreas por Corpo Estranho) em adultos geralmente ocorre durante a
ingestão de alimentos e, em crianças, durante a alimentação ou a recreação (sugando
objetos pequenos) e em lactentes com leite materno.

Tipos de Obstruções
Existem dois modos de obstrução, a leve, quando ainda há passagem de ar pelas
vias aéreas, ou seja, a pessoa consegue respirar, embora com muita dificuldade, e a
obstrução grave, na qual a obstrução é total e a pessoa não consegue respirar. Há
algumas maneiras com as quais a pessoa pode se obstruir:
● Obstrução pela língua;
● Obstrução pela epiglote;
● Obstrução por corpos estranhos;
● Obstrução por danos aos tecidos;
● Obstrução por patologias (enfermidades)

Como Realizar as Manobras de Desobstrução (Adultos,


Crianças e lactentes Conscientes)
A manobra de compressão subdiafragmática (manobra de Heimlich) é
recomendada para o tratamento pré hospitalar de uma OVACE em adultos e crianças
conscientes até que os mesmos desobstruam as vias aéreas ou fiquem inconscientes.
Ao elevar o diafragma, esta manobra força o ar dos pulmões a criar artificialmente
um gradiente de pressão dentro da via aérea capaz de expelir o corpo estranho, que está
obstruindo a passagem do ar. A manobra poderá ser realizada com o paciente de pé ou
sentado.

Figura X - Manobra de desobstrução

Fonte: A.D.A.M. Images


A manobra de Heimlich realizada em gestantes e crianças ou adultos obesos deve
ser realizada no terço inferior do osso esterno, conforme demonstrado nas imagens a
seguir:
Figura X - Manobra de desobstrução em gestantes e obesos

Fonte: A.D.A.M. Images

Já a manobra realizada em lactentes conscientes realiza-se em duas etapas. Na


primeira, deve-se realizar tapotagens na região das escápulas segurando o bebê no braço
conforme a Figura XX, ou seja, com a boca aberta e levemente com a cabeça para baixo.
Figura XX - Tapotagem em lactente consciente

Fonte: CBMSC

Na segunda etapa, vira-se o bebê com a cabeça para cima e, na região


intermamilar no centro do peito para atingir o osso esterno, realiza-se 5 compressões,
com dois dedos apenas, conforme demonstrado na figura VV.

Figura VV - Compressões em lactente consciente


Fonte: CBMSC

Continuar os procedimentos das Etapas 1 e 2 até a desobstrução das vias aéreas


ou até o bebê ficar inconsciente.

Como Realizar as Manobras de Desobstrução (Adultos,


Crianças e lactentes Inconscientes)
Se o adulto, criança ou lactente ficar inconscientes durante as manobras de
desobstrução devem ser colocados ao chão ou qualquer plano rígido (podendo ser uma
mesa no caso de crianças ou bebês) e seguir 3 etapas:
1ª Etapa: abertura de vias aéreas e inspeção da boca do paciente a fim de verificar
se o corpo estranho é visível e facilmente alcançável. Em caso afirmativo, para adultos e
crianças, realizar a pinça com dois dedos e remover o corpo estranho. Em caso afirmativo
para lactentes, utilizar o dedo mínimo para remover o corpo estranho.
2ª Etapa: Em caso negativo de não visualizar o corpo estranho, com as vias aéreas
abertas, realizar 1 insuflação. Caso o ar não passe, realizar o reposicionamento da
cabeça e nova abertura das vias aéreas e insuflar novamente.
3ª Etapa: Adultos: Realizar 30 compressões torácicas. Crianças e Lactentes:
realizar 30 compressões torácicas (um profissional na cena) ou 15 compressões (dois ou
mais profissionais na cena).
Se a vítima reassume efetivamente a respiração, colocá-la na posição de
recuperação e iniciar o transporte para o hospital com monitoramento constante.

<ATENÇÃO> No caso de lactentes e o socorrista encontra-se SOZINHO na cena,


realizar 5 ciclos das etapas 1 a 3 (mais ou menos dois minutos) e, se não houver
sucesso, neste momento que o socorrista utilizaria um tempo para o acionamento
do serviço de emergência médica (SEM) através dos telefones 192 ou 193. No caso
de adultos ou crianças, o SEM deve ser acionado assim que se constatar a
inconsciência. Para ambos os casos a cada 5 ciclos, deve-se parar e checar o pulso
carotídeo para adultos e crianças e braquial para lactentes, a fim de averiguar se a
vítima não evoluiu para parada cardiorrespiratória.

Figura YY - Compressões para desobstrução de adulto inconsciente

Fonte: CBMSC

Figura XX - Compressões para desobstrução de criança inconsciente

Fonte: A.D.A.M. Images

Figura XX - Compressões para desobstrução de lactente inconsciente

Fonte: A.D.A.M. Images

Referências
● First Aid - CPR - infant - series.
<https://ssl.adam.com/content.aspx?productid=617&pid=3&gid=100216&site=makatimed.adam.com&login
=MAKA1603> Acesso em 09/03/2022
● CPR - child 1 to 8 years old - series - Chest compressions: MedlinePlus Medical Encyclopedia
<https://medlineplus.gov/ency/presentations/100215_2.htm> Acesso em 09/03/2022


PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
Quantas vezes você já ouviu falar de parada cardiorrespiratória (PCR)? Muitas,
não é mesmo? Em que consiste uma PCR? A parada cardiorrespiratória pode ser definida
como uma cessação súbita e inesperada da função cardíaca, comprometendo
diretamente a circulação sistêmica e estando associada à ausência total de respiração.
Apesar de haver disparidades no registro de dados no Brasil, estima-se que a quantidade
de PCR Extra-Hospitalar (PCREH) gire em torno de 100 mil ocorrências anuais,
caracterizando, portanto, um sério problema de saúde pública.
O surgimento de uma PCR pode ser repentino ou sequencial a outros sintomas, de
forma que, se as medidas adequadas não forem tomadas a tempo, pode ser uma
situação fatal.
Deve-se ter em mente que a ocorrência de uma parada cardiorrespiratória
comumente está associada a doenças cardiovasculares prévias, contudo, pode ser
resultante também de um trauma, um choque circulatório, um choque séptico, entre
outras condições graves.
Como a parada cardiorrespiratória interrompe simultaneamente a circulação
sanguínea e a hematose (troca gasosa), a pior complicação decorrente desta condição é
a hipóxia (saturação de oxigênio menor que 94%). Isso se deve ao fato de o cérebro não
suportar a falta de oxigenação, geralmente, por períodos maiores do que cinco minutos, o
que pode ocasionar graves lesões cerebrais. A depender da demora para reverter esta
situação, o paciente pode apresentar sequelas irreversíveis ou, inclusive, morte cerebral.
Apesar dos avanços recentes, menos de 40% dos adultos recebem ressuscitação
cardiopulmonar (RCP) precoce iniciada por leigos e menos de 12% têm um Desfibrilador
Externo Automático (DEA) aplicado antes da chegada dos socorristas. Segundo a
American Heart Association (AHA), cada minuto de demora para início da RCP
corresponde a uma queda de 10% nas chances de sobrevida do paciente. Ressalta-se
que a RCP imediatamente iniciada por alguém próximo pode dobrar, ou até triplicar, as
chances de sobrevida.
O sucesso e/ou a efetividade na recuperação de uma parada cardiorrespiratória
depende de uma série de intervenções pré e intra hospitalares. Se uma dessas ações for
negligenciada, retardada ou esquecida, a recuperação da vítima poderá não acontecer. A
partir disso, a AHA criou o conceito da Cadeia da Sobrevivência (acionamento precoce,
RCP de alta qualidade, desfibrilação, ressuscitação avançada, cuidados pós-PCR e
recuperação), sendo uma metáfora para informar a respeito da importância da
interdependência de cada uma dessas ações.
Figura XX - Cadeia de Sobrevivência

Fonte: AHA - Guidelines 2020

Identificação da PCR
Ao sofrer com uma parada cardiorrespiratória, o indivíduo apresenta alguns sinais
típicos que devem ser prontamente identificados pelo socorrista como cianose,
inconsciência, ausência de pulso central e ausência de movimentos respiratórios.

<GLOSSÁRIO> A cianose é uma coloração azulada da pele, principalmente nas


extremidades, e das mucosas, causada pela falta de uma adequada oxigenação nos
tecidos. É um sinal de insuficiência respiratória, mas se observa também em doenças
cardíacas e em intoxicações.

A cianose é o primeiro sinal identificável, visto que a constatação visual desta


situação já sinaliza ao socorrista que o indivíduo está sofrendo com um quadro de hipóxia.
A inconsciência é confirmada no momento da abordagem do paciente se este não
manifestar resposta alguma mesmo após estímulos verbais ou táteis. A avaliação do
pulso central é feita por meio da verificação do pulso carotídeo (adulto ou criança) ou
braquial (lactente), conforme estudado na lição 4. Por fim, e simultaneamente à
verificação do pulso central, a verificação dos movimentos respiratórios ocorre por meio
da inspeção visual do tórax e do abdome do paciente, a fim de identificar se está
ocorrendo, ou não, a elevação destes.
Outra situação comum na PCR é o gasping, uma condição anormal em que o
paciente apresenta movimentos respiratórios assincrônicos (espasmos) não efetivos,
caracterizados por amplitudes de curta duração e períodos de apneias subsequentes.
Podem soar como suspiro, ronco ou gemido, provenientes de uma respiração agônica.
Caso estas condições estejam presentes, considera-se o paciente com uma parada
cardiorrespiratória e, tão logo seja possível, deve-se dar início às manobras de
ressuscitação cardiopulmonar.
Por outro lado, cumpre salientar ainda que os socorristas podem se deparar com
algumas situações nas quais existem sinais evidentes de morte e dispensam a realização
das manobras de RCP, tais como:
● Livor Mortis: corresponde a uma coloração azulada que se estende por
debaixo da pele na parte mais baixa do corpo, conforme ação da gravidade.
● Rigor Mortis: corresponde a uma rigidez muscular que inicia-se pelos
músculos da mastigação e avança da cabeça aos pés.
● Putrefação: corresponde a uma decomposição do corpo, acompanhada de
odor fétido.
● Decapitação, desmembramento ou qualquer mutilação grave que descarte
alguma possibilidade de vida ou que sejam incompatíveis com a vida.

Ressuscitação cardiopulmonar (RCP)


Conforme observado na cadeia de sobrevivência da PCR, para se garantir maior
efetividade no atendimento deste tipo de emergência, as manobras de ressuscitação
cardiopulmonar devem ser realizadas de maneira imediata e possuir alta qualidade
durante a sua realização. Sendo assim, para desempenhar uma RCP de alta qualidade, o
socorrista deve estar atento a diversos fatores específicos relacionados às manobras, tais
como a sequência das intervenções, as compressões torácicas, as ventilações e ao uso
do DEA.
Como o CBMSC segue as recomendações da AHA, para aplicação dos conceitos e
protocolos definidos doravante, deve-se adotar os seguintes parâmetros:
● Lactente/bebê: menores de 1 ano (exceto recém-nascidos).
● Criança: maiores de 1 ano até antes da puberdade.
● Adolescente/adulto: idade acima da puberdade.
Para qualquer público alvo, a sequência a ser seguida durante a realização das
manobras de ressuscitação deve ser:
1. compressões torácicas;
2. abertura de vias aéreas;
3. ventilação; e
4. desfibrilação.
Essa sequência pode ser resumida pelo mnemônico C-A-B-D (Compression,
Airway, Breathing, Defibrillation). A prioridade dada às compressões torácicas prende-se
ao fato da necessidade em gerar fluxo sanguíneo precoce e evitar os atrasos práticos
concernentes às tentativas de ventilações corretas. Além disso, se o paciente possui uma
via aérea pérvia (sem obstrução), ocorre a ventilação passiva (entrada de ar) durante as
compressões torácicas.

<ATENÇÃO> Não se deve confundir o mnemônico C-A-B-D da RCP com a sequência da


avaliação primária do protocolo de atendimento de pacientes.

Compressões torácicas
Você deve estar se perguntando: como devo proceder nas compressões torácicas?
Antes de mais nada, é importante estar atento aos principais aspectos a serem
observados nas compressões torácicas, são eles:
● superfície de apoio;
● exposição do tórax;
● posicionamento das mãos;
● frequência, profundidade;
● retorno do tórax a cada compressão; e
● interrupção mínima.
Antes de iniciar as manobras de compressão, o socorrista deve inicialmente
posicionar o paciente em decúbito dorsal sobre uma superfície de apoio rígida (ex.: chão,
prancha rígida etc.) e realizar a exposição do tórax, afastando ou cortando as suas
vestes.
Posteriormente, em adultos e crianças, deve-se colocar a região hipotenar de uma
mão sobre a metade inferior do esterno e a outra mão sobre a primeira, entrelaçando-a.
Estende-se os braços e os mantenha cerca de 90º em relação ao tórax do paciente.No
caso de crianças pequenas, para reduzir a força utilizada, pode-se utilizar apenas uma
das mãos. Em bebês, deve-se posicionar perpendicularmente ao tórax 2 dedos (médio e
anelar) logo abaixo da linha intermamilar.

Em relação à frequência de compressões, independente da idade da vítima, deve


ser mantido um ritmo de 100 a 120 compressões por minuto, sendo que a profundidade
varia da seguinte forma:
● Adulto: entre 5 e 6 cm.
● Crianças: cerca de 5 cm.
● Lactentes: cerca de 4 cm.
O socorrista deve ainda considerar que, para garantir uma circulação adequada,
deve-se permitir o retorno do tórax do paciente após cada compressão, não apoiando-se
demasiadamente sobre o tórax do paciente. Além disso, deve-se limitar as interrupções
das compressões a no máximo 10 segundos, como durante a realização das ventilações
ou enquanto ocorre a troca de função entre socorristas (ou, ainda, durante a análise de
ritmo cardíaco pelo DEA), que deve ser realizada a cada 2 minutos para evitar cansaço e
compressões de má qualidade.

Abertura de vias aéreas e ventilação

Obviamente, antes de realizar as ventilações, o socorrista deve garantir que as vias


aéreas do paciente estejam patentes para permitir a passagem adequada do ar. Para tal,
deve-se realizar as manobras de inclinação da cabeça e elevação do queixo
(head-tilt/chin-lift), preferencialmente para os casos clínicos, e tração da mandíbula
(trauma jaw thrust), para os casos de trauma.
Paralelamente, para facilitar a ventilação com a bolsa-válvula-máscara, uma cânula
orofaríngea deve ser utilizada em pacientes sem reflexo de tosse ou vômito
A cada 30 compressões, o socorrista deve interromper as manobras, abrir as vias
aéreas e realizar 2 ventilações, com duração de 1 segundo cada, fornecendo quantidade
de ar suficiente para promover a elevação do tórax do paciente. No caso de crianças e
lactentes, caso haja 2 socorristas realizando o atendimento, a relação entre compressão e
ventilação passa a ser de 15 para 2.
Deve-se cuidar para não hiperventilar o paciente, visto que isto pode ocasionar a
passagem de ar para o sistema digestivo, aumentando o volume do abdômen
(hiperinsuflação gástrica) e podendo desencadear vômitos, aspiração do conteúdo
gástrico e redução da mobilidade do músculo diafragma.

<DESTAQUE ATENÇÃO> Nunca se deve tentar aliviar a distensão gástrica com pressão
manual sobre a parte superior do abdômen do paciente. Esta ação por si só poderá
causar episódio de vômito inesperado. <DESTAQUE ATENÇÃO>

Em virtude dos riscos presentes durante a realização das ventilações (ex.: vômito,
broncoaspiração, infecções etc.), não é recomendado o procedimento de ventilação boca
a boca, devendo o socorrista utilizar dispositivos que proporcionem uma barreira
adequada de segurança, como a máscara portátil de RCP (1 socorrista) e a
bolsa-válvula-máscara (2 socorristas). Dessa forma, caso o socorrista não possua
nenhum destes dispositivos na cena e não se sinta seguro para realizar as ventilações
sem proteção, ele pode optar por executar compressões contínuas até a chegada de
algum deles.

Parada respiratória isolada


Nos casos em que o paciente esteja apenas com uma parada respiratória isolada,
o que é identificado pela inconsciência e ausência de movimentos respiratórios ou por
uma respiração ineficaz, associada a presença de pulso central (batimento cardíaco), o
socorrista deve realizar as ventilações do seguinte modo:
● 1 ventilação a cada 5 ou 6 segundos (10 a 12 ventilações por minuto) para
adultos ou
● 1 ventilação a cada 3 ou 5 segundos (12 a 20 ventilações por minutos) para
crianças e lactentes.
Estas ventilações devem ser realizadas por 2 minutos ininterruptos, após os
quais o socorrista deve checar novamente o status circulatório do paciente,
certificando-se se o pulso central ainda está presente ou se a situação evoluiu para uma
PCR.

Desfibrilação

Durante uma PCR, os batimentos cardíacos passam a ser regidos por um ritmo em
que não é possível garantir um débito cardíaco mínimo capaz de proporcionar uma
perfusão adequada dos órgãos e, consequentemente, não permitindo a identificação do
pulso central de um indivíduo. Os quatro ritmos cardíacos diferentes que ocorrem na
parada cardiorrespiratória são:
1. Assistolia: interrupção da atividade elétrica e ausência de ritmo cardíaco.
2. Atividade elétrica sem pulso (AESP): presença de atividade elétrica normal no
miocárdio sem resposta eficaz dos movimentos de contração.
3. Taquicardia ventricular sem pulso (TV): sucessão acelerada de contrações
ectópicas ventriculares.
4. Fibrilação ventricular (FV): contração irregular e descoordenada do coração
em virtude de uma atividade caótica das fibras miocárdicas.

Dentre os ritmos apresentados, TV e FV ocorrem em cerca de 80% dos casos de


PCR e são conhecidos como os ritmos chocáveis, ou seja, aqueles que podem ser
submetidos a um procedimento de desfibrilação por meio da aplicação de uma corrente
elétrica, através de um equipamento conhecido como Desfibrilador Externo Automático
(DEA).
O principal objetivo da desfibrilação é reverter o ritmo caótico do coração e retornar
sua atividade para um ritmo fisiológico. Quando a desfibrilação é realizada precocemente,
em até 3 a 5 minutos do início da PCR, a taxa de sobrevida do paciente é em torno de
50% a 70%.

O socorrista deve utilizar o DEA da seguinte forma:


1. Posicionar o DEA ao lado do paciente na altura da cabeça e ligá-lo. A partir daí,
o aparelho emitirá alertas verbais para orientar as etapas subsequentes.
2. Selecionar as pás (eletrodos) do tamanho correto, remover os papéis adesivos e
conectá-las no tórax exposto da vítima conforme ilustrações do aparelho (posição
anterolateral).
3. Encaixar o conector dos eletrodos ao aparelho.
4. Afastar os presentes quando o DEA iniciar a análise do ritmo cardíaco, para que
não toquem no paciente, prejudicando a análise.
5. Se o DEA recomendar o choque, o socorrista deve manter os presentes
afastados e pressionar o botão indicado. Após o choque, deve-se reiniciar a RCP
imediatamente.
6. Se o DEA não recomendar o choque, o socorrista deve checar o pulso central da
vítima e reiniciar a RCP imediatamente caso este não esteja presente.
7. A cada 2 minutos, o DEA realiza uma nova análise do ritmo cardíaco, podendo
indicar, ou não, um novo choque. Neste momento, os socorristas podem aproveitar para
trocar as funções.
8. Após 5 análises consecutivas de “choque indicado” ou “não indicado”, o paciente
deve ser transportado imediatamente para o hospital caso o Suporte Avançado de Vida
não esteja a caminho, mantendo-se a RCP. Neste caso, os eletrodos devem ser
desconectados do DEA.
Recapitulando
Nesta lição você aprendeu sobre o conceito de uma PCR, que pode ser definida
como uma cessação súbita e inesperada da função cardíaca, comprometendo
diretamente a circulação sistêmica e estando associada à ausência total de respiração.
Conheceu mais sobre a cadeia de sobrevivência, com a importância da interdependência
de cada uma dessas ações
Aprendeu a identificar uma PCR: cianose, inconsciência, ausência de pulso central
e ausência de movimentos respiratórios. Bem como, os procedimentos necessários para
realizar a ressuscitação cardiopulmonar: compressões torácicas, abertura de vias aéreas,
ventilação, e desfibrilação. Lembrando que o uso do desfibrilador deve ser o mais precoce
possível.

Avaliação da lição
1. Cite os itens da cadeia de sobrevivência da AHA:
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2. Descreva os 4 sinais típicos de PCR:
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3. Identifique os 2 ritmos chocáveis pelo DEA:
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4. Opere corretamente um DEA. (atividade prática)
Referências
● American Heart Association. Diretrizes da AHA 2015, 2017 e 2019 e 2020 para RCP e ACE.
● ATENDIMENTO pré-hospitalar ao traumatizado: PHTLS. 9. ed. Rio de Janeiro: Artmed, 2020.
● DIMAVE. Novidades Physio control. Dimave Equipamentos Médicos, 2016. Disponível em:
https://blog.dimave.com.br/physio-control/. Acesso em: 06 jul. 2021.
● ILCOR. 2017 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care
Science With Treatment Recommendations Summary. Circulation. 2017;136:e424–e440.
● Olasveengen et al. Adult Basic Life Support 2020: International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation
and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Circulation. 2020;142(suppl
1):S41–S91. DOI: 10.1161/CIR.0000000000000892
● Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados
Cardiovasculares de Emergência. Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.3 São Paulo Sept. 2019 Epub Oct 10, 2019.
● Zandomenighi, RC, Martins, EAP. Análise epidemiológica dos atendimentos de parada cardiorrespiratória. Rev
enferm UFPE on line., Recife, 12(7):1912-22, jul., 2018.
● Diretrizes de 2020 da American HearŁ AssociaŁion (AHA) para ressusciŁação cardiopulmonar (RCP). Editor da
versão em português: Hélio Penna Guimarães, MD, PhD, FAHA. Acesso em 22 de março de 2022 em
<<https://22brasil.com/wp-content/uploads/2021/02/Atualizacao-Associacao-Americana-do-Coracao-2020-PT-P
DF-22Brasil-Treinamentos-em-PDF.pdf>>
TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO (TCE), DE PESCOÇO E
FACE, TORÁCICO, ABDOMINAL E PÉLVICO
Uma vítima de trauma cranioencefálico (TCE) pode sofrer diversos tipos de danos,
que incluem lesões no couro cabeludo, na face, no crânio e no cérebro. Tendo em vista
essa multiplicidade de lesões possíveis, o socorrista deve estar plenamente capacitado
para identificar corretamente e tratar cada um desses agravos. Vamos aprender sobre
cada um deles?

LESÕES NO COURO CABELUDO


O couro cabeludo é constituído de várias camadas de tecido, sendo uma região
bastante vascularizada. As lesões que podem ocorrer neste local vão de abrasões
simples até lacerações mais graves, chegando à separação de uma grande área do couro
cabeludo do crânio, o que se dá o nome de escalpelamento. Normalmente, o
escalpelamento ocorre de maneira brusca e acidental em algumas situações, como em
uma colisão de veículo, em que ocupantes do banco dianteiro batem a cabeça no
parabrisa, ou quando os cabelos da vítima ficam presos em máquinas ou equipamentos
(exemplos: embarcações, eixos de equipamentos agrícolas, correias de veículos). Dessa
forma, dependendo do mecanismo da lesão, o socorrista deve suspeitar também de
trauma cranioencefálico e raquimedular associados à lesão do couro cabeludo.
No atendimento pré-hospitalar a esse tipo de lesão, o socorrista deve priorizar o
controle da hemorragia através de compressão direta (controlada) sobre a ferida, não
lavando nem limpando a ferida no couro cabeludo a fim de evitar sangramento adicional.
Se houver suspeita de fratura no crânio, não se deve fazer pressão com os dedos sobre o
ferimento.

LESÕES FACIAIS
As lesões faciais podem compreender desde um trauma de tecido mole de menor
gravidade (exemplo: corte na pálpebra), até um trauma severo associado ao
comprometimento das vias aéreas ou choque hipovolêmico.
O comprometimento das vias aéreas pode ocorrer por conta de lesões estruturais
ou alterações anatômicas resultantes do trauma ou da presença de líquidos ou objetos
estranhos. Essas alterações estruturais podem incluir deformidades dos ossos da face,
fraturas ou contusões sofridas pelos tecidos.
Como a cabeça tem uma alta concentração de vasos sanguíneos, as lesões nesta
área muitas vezes levam a um sangramento importante, possibilitando que sangue e
coágulos formados possam prejudicar a permeabilidade das vias aéreas. A ingestão de
sangue associada ao trauma cranioencefálico em si podem induzir o paciente ao vômito,
levando também ao bloqueio das vias aéreas. Além disso, traumas faciais podem
ocasionar fraturas, amolecimento ou queda dos dentes na luz das vias aéreas,
obstruindo-as. Ainda, se houver objetos transfixados na bochecha que apresentem risco
de obstrução das vias aéreas, eles devem ser removidos se possível.
Em adição às fraturas nos ossos da face, o trauma facial costuma estar associado
a danos nas estruturas da órbita e do globo ocular, como resultado direto da lesão.
Embora a lesão ocular em si não seja comum, deve ser considerada sempre que houver
trauma facial, pois o tratamento adequado da lesão ocular aumenta a taxa de salvação da
visão do paciente.

Lesões oculares e orbitais


Caso seja identificada uma laceração de pálpebra, o socorrista deve estar atento
para uma possível penetração do próprio globo ocular. O tratamento em campo consiste
na cobertura imediata do olho com um protetor rígido (não um patch de pressão), que é
colocado sobre a órbita óssea, sem pressioná-la.
É comum que, ao ocorrer um dano direto ao globo ocular, ocorra um acúmulo de
sangue entre a íris e a córnea, situação conhecida como hifema. Em casos como este, o
atendimento pré-hospitalar consiste em colocar um protetor ocular sobre o olho lesionado
e, caso não haja impedimento, transportar o paciente na posição sentada para reduzir a
pressão sobre o olho lesionado.
Caso a lesão facial atinja a córnea ou a esclera do globo ocular (túnica externa
branca e fibrosa do globo ocular - “branco do olho"), vindo a dilacerá-la, esta situação
configura um globo ocular aberto. Nesse caso, o socorrista deve imediatamente colocar
um protetor rígido sobre a órbita óssea, minimizar a manipulação do paciente, a fim de
evitar que o conteúdo intraocular extravase pela lesão, e transportar o paciente ao
hospital o mais rápido possível.
Conhecido também como exoftalmia ou protusão ocular, o olho protuso é uma
condição em que os olhos encontram-se salientes ou saltados, situação em que todo o
globo ocular está mais deslocado para frente do que o normal, sem, no entanto,
abandonar a órbita ocular. Esta condição pode ser causada por diversos motivos, como
celulite orbitária, tumores e, inclusive, trauma.
Em uma situação de olho protuso, o socorrista deve cobrir o olho lesionado
cuidadosamente com um copo plástico forrado com gaze umidificada com água ou soro
fisiológico. Paralelamente, deve-se cobrir o olho não lesionado para evitar que ocorram
constantes movimentos voluntários. Caso haja algum objeto cravado, o socorrista não
deve tentar removê-lo. Por fim, oferecer apoio emocional à vítima e conduzi-la como
portadora de deficiência visual.

Fraturas dos ossos faciais


A fratura dos ossos nasais corresponde à fratura mais comum de ocorrer em
traumas faciais. Diante dessa situação, o socorrista pode se deparar com equimose,
edema, estalo ósseo à palpação, deformidade do nariz e epistaxis (hemorragia nasal).
Ainda, em casos de forte impacto na face, como numa colisão automobilística, é possível
que ocorra rinorreia liquórica, que é o vazamento de líquido cefalorraquidiano pelo nariz.
Além das fraturas nasais, as fraturas da parte média da face e fraturas da
mandíbula são outros casos usuais em um trauma de face. Nesses casos, a vítima pode
apresentar-se com assimetria facial, afundamento na região atingida e incapacidade de
fechar a boca, perdendo o alinhamento dos dentes. À palpação, o socorrista pode se
deparar com deformação e crepitação. Além disso, deve-se levar em consideração que a
fratura de mandíbula pode permitir que a língua obstrua as vias aéreas caso o paciente
esteja em decúbito dorsal.
Em todos os casos de fratura nos ossos da face, o socorrista deve controlar o
sangramento presente por compressão direta, tomando o cuidado para não pressionar
muito forte, pois fraturas faciais podem não ser facilmente detectadas. Além disso, como é
bem provável que ocorra comprometimento de vias aéreas e haja lesão cerebral
associada, deve-se monitorar constantemente o nível de consciência da vítima e realizar
o transporte imediato ao hospital.

FRATURAS DE CRÂNIO
Uma fratura em crânio pode ser classificada em aberta ou fechada, dependendo
basicamente da região atingida e da intensidade do trauma sofrido.
Em uma fratura de crânio aberta, o socorrista pode observar que os ossos
cranianos estão quebrados e afundados (deformados), servindo como uma porta de
entrada para microorganismos e sujeitando o paciente à ocorrência posterior de
meningite. Se a camada dura-máter for lacerada no trauma, partes do tecido cerebral ou
líquido cefalorraquidiano podem extravasar através do ferimento.
Uma fratura de crânio fechada pode ocorrer com ou sem afundamento, o que é
identificado visualmente ou por meio de um exame cuidadoso de palpação. Mesmo não
havendo afundamento, existe um alto risco de haver hematomas intracranianos, que
ocupam espaço ali e tendem a aumentar a pressão intracraniana (PIC). Paralelamente, se
houver o afundamento no crânio, como ocorre diretamente a diminuição do espaço
intracraniano, a PIC acaba também se elevando.
Adicionalmente, existe ainda o caso de fratura de base de crânio, em que o
trauma lesiona o osso temporal da cabeça e pode, inclusive, danificar as meninges e
possibilitar o vazamento de sangue e líquido cefalorraquidiano através do ferimento ou
por orelhas e nariz. Nessa situação, o paciente pode apresentar tardiamente alguns sinais
característicos, como equimose e edema periorbital (Sinal do Guaxinim) e equimose
retroauricular (Sinal de Battle).

LESÕES CEREBRAIS TRAUMÁTICAS


Resumidamente, uma lesão cerebral traumática é uma interrupção da função
normal do cérebro em virtude de um TCE. Dependendo dos danos causados às
estruturas internas do crânio, se diretos ou indiretos, as lesões cerebrais podem ser
classificadas em primárias ou secundárias respectivamente.
Ao se deparar com uma vítima de lesão cerebral, o socorrista pode identificar
cefaleia, náuseas e vômito, alteração de sinais vitais (respiração e pulso
progressivamente piores), perda da função motora no lado da lesão e fraqueza no lado
oposto do corpo, pupilas anisocóricas (desiguais) e posturas atípicas (decorticação ou
descerebração).

TRATAMENTO PRÉ-HOSPITALAR DO TRAUMA


CRÂNIO-ENCEFÁLICO (TCE)
Ao lidar com uma vítima de trauma cranioencefálico, além de levar em
consideração os casos particulares já apresentados ao longo deste capítulo, o socorrista
deve inicialmente tratar as condições que ameacem a vida, controlando hemorragias
externas, mantendo a permeabilidade das vias aéreas, a respiração e a circulação, além
de fornecer oxigênio a 15 litros/minuto. Além disso, deve-se prevenir o choque e evitar a
ingestão de líquidos ou alimentos.
Dependendo do mecanismo do trauma, deve-se suspeitar de lesão cervical
associada, adotando os procedimentos apropriados de Restrição do Movimento da
Coluna (RMC). Se não houver suspeita de lesão cervical, o paciente deve ser
transportado lateralizado para favorecer a drenagem do sangue pela boca.
Mesmo no intuito de cobrir e proteger os ferimentos abertos, o socorrista não deve
tentar impedir a saída de sangue ou líquor pelos ouvidos ou nariz.
Por fim, o paciente ser transportado com urgência e mantido em repouso, e o
socorrista deve estar preparado para a possibilidade de vômito ou convulsões ao longo do
caminho

AVALIAÇÃO E MANEJO DO TRAUMA TORÁCICO


Como você sabe, a caixa torácica é a porção do corpo humano que protege
importantes órgãos. Coração, pulmões, os principais vasos sanguíneos, traqueia e
esôfago são exemplos de órgãos protegidos pela caixa torácica.
De maneira geral, uma vítima de trauma torácico, além de apresentar dor no local,
pode apresentar dificuldade respiratória, aumento da sensibilidade ou da dor com os
movimentos respiratórios, sinais de choque (pulso rápido e PA baixa), eliminação de
sangue através da tosse, cianose nos lábios, pontas dos dedos e unhas, e postura
característica (o paciente fica inclinado e imóvel sobre o lado lesionado).
Ao longo desta lição, abordaremos as principais lesões penetrantes e contusas no
trauma torácico.

LESÕES PENETRANTES NO TÓRAX


Nas lesões penetrantes, objetos de diferentes tipos e tamanhos atravessam a
parede torácica, entram nesta cavidade e podem ferir os órgãos acomodados no interior
do tórax, ficando encravados ou não. Ao longo do caminho da penetração, o objeto que
transfixou o tórax acaba lesionando também as membranas pleurais, criando uma
comunicação entre a cavidade torácica e o ambiente exterior, e permitindo a entrada de ar
no espaço pleural durante a inspiração, o que caracteriza uma grave situação conhecida
como pneumotórax.
Adicionalmente, nestas lesões penetrantes é comum que ocorra laceração de
tecidos e vasos sanguíneos próximos às membranas pleurais, permitindo que sangue
também ingresse no espaço pleural, o que caracteriza outra situação grave denominada
hemotórax.
Por fim, é comum que o trauma penetrante lesione diretamente o coração,
causando outra grave situação denominada tamponamento cardíaco.

Pneumotórax
Conforme já apontado, o pneumotórax é uma situação extremamente grave que,
se não corrigida, pode levar o paciente à morte em pouco tempo. Nele, o ar presente no
interior do espaço pleural acaba por comprimir o pulmão do lado lesionado, vindo este a
colapsar. Ele está presente em cerca de 20% das lesões torácicas graves e pode ser
classificado em: simples, aberto e hipertensivo.
Um pneumotórax simples, conhecido também como pneumotórax fechado,
ocorre quando há entrada de ar no espaço pleural sem atingir a integridade da caixa
torácica. É uma situação comum em traumas fechados que fraturam as costelas, fazendo
com que o osso fraturado lesione, por penetração, as membranas pleurais e o pulmão, o
que permite a passagem de ar do pulmão para o espaço pleural.
Já o pneumotórax aberto, chamado também de ferida torácica aspirativa, ocorre
comumente em lesões penetrantes por armas de fogo e armas brancas, e raramente em
traumas contusos. Nesta situação, é garantida uma comunicação entre o ambiente
externo e a cavidade torácica, permitindo a entrada de ar também pelo ferimento para o
espaço pleural.
Por fim, o pneumotórax hipertensivo é uma situação que evolui diretamente do
pneumotórax simples, em que ocorre a entrada contínua de ar no espaço pleural e não
ocorre a saída, como no pneumotórax aberto. Nesse caso, o excesso de ar aumenta a
pressão intratorácica, comprometendo a capacidade ventilatória e o retorno venoso ao
coração (caracterizado pela distensão da veia do pescoço). O agravamento contínuo
dessa situação pode fazer com que o mediastino seja empurrado no sentido contrário à
lesão, levando, inclusive, ao desvio da traqueia.
Essa tríade de pulmão em colapso, movimento do mediastino e respiração ineficaz
é o início de uma rápida deterioração do paciente e inabilidade da vítima em manter a
oxigenação. Essa situação leva rapidamente o paciente a uma condição de choque
obstrutivo e, consequentemente, à morte.
Considerando as particularidades de cada um dos tipos de pneumotórax, o
socorrista vai se deparar com um paciente apresentando dor torácica, dispneia
importante, desconforto respiratório, taquicardia, hipotensão, elevação do hemitórax sem
movimento respiratório e, tardiamente, cianose.
Ao lidar com este tipo de vítima, o socorrista deve inicialmente tamponar o local do
ferimento, usando a própria mão protegida por luvas, cobrir o ferimento com um curativo
oclusivo valvulado (selo de tórax) ou fazer um curativo oclusivo com plástico ou papel
alumínio (curativo de três pontas), o que vai bloquear a entrada de ar na inspiração mas
permitir a sua saída na expiração. Se houver um segundo ferimento na caixa torácica
(exemplo: saída de projétil), deve-se cobrir o ferimento com um curativo oclusivo fechado.
Finalmente, ministrar oxigênio suplementar a 15 litros/minuto e conduzir o paciente para o
hospital com urgência.

Hemotórax
Esta situação caracteriza-se pelo acúmulo de sangue no espaço pleural, devido a
uma descontinuidade da membrana pleural associada a alguma hemorragia próxima à
abertura na pleura. A fisiopatologia desta condição é semelhante ao pneumotórax, sendo
que, em vez de ar, ocorre acúmulo de fluido no espaço pleural.
É importante frisar que o espaço pleural pode comportar cerca de 3 litros de
sangue antes de colapsar o pulmão. Aliás, vale lembrar que, em média, um adulto possui
cerca de 5 litros de sangue circulante, ou seja, uma perda de sangue dessa magnitude
leva inevitavelmente a um quadro de choque hipovolêmico antes dos efeitos prejudiciais à
respiração da vítima.
Ao se deparar com um paciente com hemotórax, o socorrista deve notar sinais
como dor no peito, respiração curta e sinais de choque (taquicardia, taquipneia, confusão,
palidez e hipotensão).
Ao identificar um hemotórax na vítima, o socorrista deve fornecer-lhe oxigênio em
alta concentração (15 litros/minuto), monitorar e prevenir o estado de choque, e
transportá-la com urgência para o hospital. Caso haja pneumotórax associado, proceder
conforme protocolo específico de pneumotórax.

Tamponamento cardíaco
O tamponamento cardíaco ocorre quando um ferimento no coração permite a
entrada de fluidos, normalmente sangue, que se acumulam entre o pericárdio e o músculo
cardíaco, sendo similar ao que ocorre em um pneumotórax. Esta é uma situação que
acontece com mais frequência no ferimento penetrante do tórax, mas pode acontecer
também em contusões torácicas mais graves.
Como o pericárdio não é elástico, o sangue acumulado ali rapidamente aumenta a
pressão sobre o coração, impedindo o retorno venoso e reduzindo o débito cardíaco e a
pressão arterial. A cada batimento, o coração pode bombear mais sangue para o
pericárdio até o ponto de ficar impedido de realizar novas contrações, resultando em um
choque cardiogênico e, posteriormente, em uma situação grave conhecida por atividade
elétrica sem pulso (AESP).
Um paciente com tamponamento cardíaco pode apresentar distensão jugular,
hipotensão, sinais de choque e/ou atividade elétrica sem pulso, situação indicada pelo
desfibrilador automático (DEA) ao não indicar o choque. A fim de suspeitar da ocorrência
de tamponamento cardíaco, o socorrista deve aliar a identificação desses achados com o
mecanismo e a localização da lesão.
Os procedimentos a serem adotados pelo socorrista no atendimento pré-hospitalar
são o suporte ventilatório e de oxigenação, e a prevenção do choque.

Ferimentos no pescoço
Estes tipos de ferimentos ocorrem por traumas abertos de pescoço, geralmente
provocados por armas brancas, armas de fogo ou em traumas ocorridos em acidentes de
trânsito etc.
Nestes casos, o socorrista pode se deparar com um paciente visivelmente agitado
ou torporoso devido ao trauma. O tratamento adequado deve ser a realização de curativo
oclusivo compressivo sobre o ferimento, cuidando para não diminuir a capacidade
respiratória ou interromper a circulação no pescoço. Deve-se fornecer oxigênio em alta
concentração (15 litros/minutos) e, se necessário, aspirar as vias aéreas e ventilar com
pressão positiva via bolsa-válvula-máscara.

LESÕES CONTUSAS NO TÓRAX


Ao ser atingido por uma trauma contuso (ex.: pancadas), a energia exercida sobre
o tórax é transmitida aos órgãos sob essa estrutura, podendo lesionar tecidos musculares
e vasos sanguíneos, fraturar costelas (arcos costais), e atingir, inclusive, pulmões e
coração. É comum este tipo de lesão ocorrer em acidentes de trânsito, em que a vítima
colide seu tórax contra o volante do veículo.

Fratura de costela (arcos costais)


Apesar de os arcos costais estarem bem protegidos pela musculatura peitoral, as
fraturas nestes ossos são comuns de ocorrer no atendimento pré-hospitalar, acometendo
cerca de 10% das vítimas de trauma. Dependendo da quantidade e dos locais das
costelas fraturadas, o paciente pode apresentar uma simples fratura de costela ou então
uma situação conhecida por tórax instável.
A fratura das costelas superiores é uma situação mais difícil de ocorrer em virtude
da sua rigidez e da proteção muscular que elas possuem. Sendo assim, a ruptura de
costelas superiores tende a estar associada a outras lesões torácicas graves, como
contusão pulmonar e cardíaca, que serão abordadas mais à frente. Por outro lado, as
costelas inferiores são mais comumente fraturadas, já que são mais finas e estão mais
expostas.
Neste tipo de lesão, a extremidade fraturada pode vir a lacerar músculos, vasos
sanguíneos e até os pulmões, podendo causar na vítima contusão pulmonar,
pneumotórax e/ou hemotórax associados à fratura.
Uma vítima apresentando fratura de costela, além de apresentar assimetria em
relação às costelas íntegras, apresenta dor no peito ao respirar ou movimentar-se, além
de dificuldade respiratória, identificável pelos movimentos respiratórios curtos. Ademais, à
palpação, o local lesionado da costela apresenta crepitação e sensibilidade.
O manejo deste tipo de lesão envolve inicialmente a imobilização do braço da
vítima sobre a costela fraturada com bandagem triangular ou outro tipo de bandagem,
desde que mantenha fixo o braço sobre o tórax. Como o paciente apresenta restrição nos
movimentos respiratórios, prejudicando a ventilação e a oxigenação, deve-se ministrar
oxigênio suplementar a 15 litros/minuto e transportá-lo imediatamente para hospital

Tórax instável
O tórax instável é uma condição que ocorre quando duas ou mais costelas de um
mesmo hemitórax estão quebradas em dois ou mais pontos. O segmento instável
comprometido se movimenta ao contrário do restante da caixa torácica durante a
inspiração e a expiração, caracterizando uma condição conhecida como respiração
paradoxal. Enquanto o tórax se expande, o segmento comprometido se retrai e, quando a
caixa torácica se contrai, o segmento se eleva.
A respiração paradoxal prejudica a capacidade ventilatória da vítima, sendo mais
grave quanto maior for a dimensão do segmento instável. Adicionalmente, a dor sentida
nessa situação é maior e compromete mais ainda a respiração, podendo gerar um quadro
de hipóxia, observável pelo oxímetro de pulso ou cianose do paciente.
Ao atender um paciente com essa condição, o socorrista deve basicamente
oferecer suporte ventilatório com oxigênio a 15 litros/minuto, monitorando constantemente
sua oximetria de pulso. Caso necessário, pode-se fazer uso de ventilação positiva com
bolsa-válvula-máscara para o caso de baixa saturação de oxigênio. Por fim, realizar o
transporte imediato da vítima para o ambiente hospitalar.

Contusão Pulmonar
Quando ocorre a aplicação de uma força à parede torácica, esta energia é
transmitida aos pulmões, lesionando-os e gerando uma hemorragia nesse tecido. O
sangue proveniente dessa hemorragia acaba entrando no espaço alveolar, prejudicando a
troca gasosa, configurando uma contusão pulmonar. Se não tratado devidamente, o
estado de uma vítima de contusão pulmonar pode deteriorar para uma insuficiência
respiratória nas primeiras 24 horas após a lesão.

A contusão pulmonar pode ocorrer sem fraturas de arcos costais ou tórax instável.
Contudo, esta é a lesão torácica potencialmente letal mais comum em adultos portadores
de fraturas de arcos costais.
Uma vítima acometida por uma contusão pulmonar pode não apresentar
comprometimento respiratório num primeiro momento. Todavia, um aumento da taxa
ventilatória (taquipneia) é normalmente o primeiro indício de que a condição do paciente
está se deteriorando devido a uma contusão pulmonar.
Ao se deparar com essa situação, o socorrista deve voltar os esforços para garantir
suporte ventilatório e oxigenação à vítima (15 litros/minuto). Deve-se ainda monitorar a
oximetria de pulso a fim de averiguar a necessidade de ventilação positiva por
bolsa-válvula-máscara. Por fim, conduzir imediatamente o paciente ao hospital.

Contusão cardíaca
Esta condição normalmente ocorre em acidentes de trânsito com violento impacto
frontal. Inicialmente o osso esterno, comprimido no volante do veículo, pressiona o
coração frontalmente, enquanto a coluna vertebral pressiona-o por trás. Esta compressão
pode resultar em lesões generalizadas no músculo miocárdico, conhecida por contusão
do músculo cardíaco, além de ruptura das câmaras cardíacas, dissecção e/ou trombose
das artérias coronárias ou laceração valvular.
Numa situação como esta, o paciente pode apresentar dor torácica, respiração
curta, palpitações, ritmos cardíacos anormais (fibrilação ventricular e taquicardia
ventricular), sinais de choque cardiogênico, insuficiência cardíaca congestiva e
tamponamento cardíaco. É comum ainda que ocorra a fratura das costelas ao redor do
esterno, caracterizando uma situação conhecida por esterno instável, em que este
movimenta-se paradoxalmente durante a respiração.
Ao atender uma vítima em que haja suspeita de contusão cardíaca, o socorrista
deve imediatamente manter suporte ventilatório e de oxigenação (15 litros/minuto), e
transportá-la com urgência ao hospital.

AVALIAÇÃO E MANEJO DO TRAUMA ABDOMINAL E


PÉLVICO
Lesões causadas ao abdômen e à pelve podem ser provenientes de traumas
penetrantes ou contusos, de forma que múltiplos órgãos estão sujeitos a sofrer os danos
consequentes, como baço, fígado, estômago, intestino, bexiga, entre outros. Apesar de
não ser uma situação muito comum, é possível que ocorra também laceração do
diafragma, permitindo o deslocamento (herniação) de órgãos abdominais para a cavidade
torácica. Ainda nesta lição, serão abordados alguns casos especiais que merecem a
atenção dos socorristas para a identificação e manejo correto, como o empalamento, a
evisceração e o trauma de pelve.

LESÕES PENETRANTES E CONTUSAS EM GERAL


O trauma abdominal pode ser resultante de mecanismos de lesão penetrante e
contuso, gerando uma variedade de danos nesta região. Os mecanismos de lesão
penetrantes podem causar sangramento ao atingir um vaso sanguíneo importante ou um
órgão sólido (exemplo: fígado), além de ser possível ocorrer a perfuração de algum
segmento do intestino, algo bem comum nesse tipo de trauma. Estes mecanismos são
comuns em ocorrências envolvendo armas de fogo e armas brancas na região anterior do
abdômen.
Por outro lado, o trauma contuso pode lesionar os órgãos abdominais por efeitos
de compressão e laceração, como acontece em acidentes de trânsito em que ocorre uma
desaceleração abrupta (exemplo: colisões em alta velocidade). A compressão de um
órgão sólido pode resultar na sua cisão em mais de uma parte, enquanto forças
semelhantes aplicadas a uma estrutura oca, como uma alça do intestino, podem fazer
com que a estrutura se estoure, derramando seu conteúdo no abdômen.
Além de dores na região, uma vítima de trauma abdominal pode apresentar
dificuldade respiratória se houver lesão no diafragma, além de sinais de choque. Aliás, o
indicativo mais confiável de que existe uma hemorragia intra-abdominal é a presença de
sinais de choque hipovolêmico sem a identificação precisa da fonte do sangramento.
Ansiedade e agitação também são sinais comuns nesse tipo de trauma.
Sendo assim, ao se deparar com uma vítima com este tipo de trauma, o socorrista
deve inspecionar visualmente o abdômen em busca de sinais indicativos de lesões nesta
região, tais como abrasões, hematomas, contusões, sangramento, objetos encravados
etc. No caso de uma colisão entre veículos em alta velocidade, se a vítima estiver
utilizando cinto de segurança, é possível identificar uma marca (equimose e abrasão)
específica sobre o local.
Além disso, é imprescindível realizar a palpação da região abdominal, iniciando de
preferência no quadrante em que o paciente não sente incômodo algum e prosseguindo
pelos outros quadrantes. Nos locais em que o paciente sentir alguma sensibilidade ou dor,
ele imediatamente adotará uma postura de guarda sobre o local, indicando alguma lesão
abdominal.
Como normalmente essa situação requer intervenção cirúrgica, o atendimento
pré-hospitalar basicamente se resume a identificar as lesões abdominais, estabilizar a
vítima e conduzi-la o mais rápido possível para o hospital, fornecendo suporte ventilatório
e de oxigenação (15 litros/minuto), se necessário, e prevenindo o choque.

Empalamento
Esta situação ocorre quando há algum objeto cravado (faca, vergalhão, vidro etc)
em alguma região do corpo da vítima, sendo que, dependendo da localização deste, o
socorrista deve suspeitar dos possíveis órgãos atingidos.
Ao se deparar com um paciente com objeto cravado, o socorrista não deve
movimentá-lo ou tentar removê-lo. A partir daí, deve-se buscar estabilizar o objeto no local
do ferimento, por meio do uso de ataduras ainda enroladas, fixadas nas laterais do objeto
com uso de outras ataduras ou esparadrapos. No caso de hemorragia presente, deve-se
realizar o controle do sangramento com pressão manual direta e curativos compressivos
nas laterais do objeto, sem jamais fazer pressão que, de alguma forma, possa empurrar o
objeto empalado. Neste caso, não se deve realizar palpação no restante do abdômen ou
pelve, já que existe o risco de agravar a lesão. Por fim, oferecer apoio emocional,
principalmente se o objeto estiver visível ao paciente.

Eviscerações
Nesta lesão, parte do intestino ou outro órgão abdominal é deslocado através de
um ferimento aberto e se projeta para fora da cavidade abdominal. O tratamento deve
ater-se em evitar mais danos aos tecidos expostos.
Ao se deparar com uma evisceração, o socorrista não deve tentar recolocar o
tecido eviscerado para dentro do abdômen, deixando as vísceras conforme foram
encontradas e cobrindo-as com curativo limpo ou estéril que tenha sido umedecido em
solução fisiológica. Periodicamente, deve-se umidificar o curativo para evitar
ressecamento dos órgãos expostos. Por cima do curativo úmido, podem ainda ser
colocados curativos grandes, secos ou oclusivos, de forma a manter a temperatura do
tecido lesionado. Por fim, fornecer apoio psicológico e realizar o transporte com urgência
para o hospital.

FRATURA DE PELVE
A pelve é um osso forte e difícil de fraturar, ou seja, para que ocorra uma fratura, é
necessário que haja um grande desprendimento de energia no trauma sofrido,
normalmente um trauma contuso. Dessa forma, o socorrista também deve estar atento a
lesões associadas, como traumatismo cranioencefálico, fraturas em ossos longos, lesões
torácicas etc.
A fratura de pelve pode ocasionar uma grande hemorragia, tendo perda média de,
no mínimo, 1000mL, considerando apenas a lesão óssea isolada. O quadro pode ainda
estar agravado por lesões a órgãos, vasos e tecidos subjacentes.
A fratura mais grave que pode ocorrer na pelve é denominada “livro aberto”, um
tipo de fratura do anel pélvico, que está diretamente associada a um aumento no volume
da pelve, sendo possível alocar uma grande quantidade de sangue no caso de uma
hemorragia intra-abdominal. Nestes casos, em virtude do volume aumentado e da
presença tecidual reduzida, capaz de realizar a contenção do sangramento, vítimas com
esse tipo de trauma podem vir a apresentar choque hipovolêmico e necessitam de
intervenção cirúrgica para redução do volume pélvico e melhora da condição
hemodinâmica.
Ao constatar a presença de instabilidade e sensibilidade, o socorrista pode utilizar
medidas capazes de reduzir o volume pélvico, na tentativa de estabilizar
hemodinamicamente o paciente, seja por meio da aplicação de uma cinta pélvica ou de
lençol. Em ambos os casos, o socorrista pode ainda providenciar a amarração dos dois
membros inferiores, de forma a proporcionar mais estabilidade à região pélvica.

Recapitulando
Nesta lição, você aprendeu sobre o escalpelamento, foram abordadas as lesões
oculares e orbitais, em que basicamente, o socorrista deve colocar curativo protetor sobre
o olho lesionado, sem pressionar demasiadamente, tampar o outro olho e transportar
imediatamente a vítima para o hospital como deficiente visual.
Nas fraturas de ossos faciais, vimos que a vítima pode apresentar afundamento na
região lesionada, assimetria facial e desalinhamento dos dentes. Deve-se cuidar para não
haver obstrução das vias aéreas e para não pressionar demais no momento de colocar
curativos. Já em relação às fraturas cranianas, você conseguiu assimilar que elas podem
ter afundamento ou não, sendo que, em qualquer caso, favorecem o aumento da pressão
intracraniana, causando lesões cerebrais associadas.
Você compreendeu também os principais conceitos relacionados à lesão cerebral,
como concussão, contusão, lesão cerebral primária e secundária. Por fim, foi apresentado
a você o tratamento para o trauma cranioencefálico em geral, levando em consideração
as particularidades de cada caso apresentado.
Você conheceu as principais lesões penetrantes e contusas no trauma torácico.
Você deve ter percebido que a maioria das situações descritas são extremamente graves
e necessitam intervenção e transporte imediatos ao hospital.
Você aprendeu que, nas lesões penetrantes que atingem o pulmão, normalmente
ocorre a laceração do tecido pulmonar e das membranas pleurais, permitindo a entrada
de ar no espaço pleural e gerando uma condição conhecida por pneumotórax. Já nas
lesões penetrantes que atingem o coração, pode ocorrer a entrada de sangue no
pericárdio, comprometendo gradativamente a capacidade de bombeamento do coração,
causando uma situação denominada tamponamento cardíaco.
Por outro lado, os traumas contusos no tórax proporcionam fraturas nos arcos
costais, podendo gerar ainda uma situação conhecida por tórax instável, em que duas ou
mais costelas de um mesmo hemitórax são fraturadas em mais de um local, criando um
segmento instável que movimenta-se paradoxalmente durante a respiração.
Adicionalmente, você aprendeu sobre as lesões penetrantes e contusas que
causam trauma abdominal, incluindo os possíveis órgãos atingidos, os principais sinais e
sintomas apresentados pela vítima e os procedimentos iniciais que devem ser adotados
nesta situação.
Falamos sobre o empalamento, situação em que existe um objeto encravado na
vítima. Neste caso, o foco do socorrista é a estabilização do objeto, evitando o
agravamento da lesão. Nunca se deve tentar remover o objeto e deve-se cuidar para não
manipular excessivamente o paciente e agravar os danos internos.
Posteriormente, foram abordados os aspectos essenciais para ser possível
identificar e aplicar o adequado tratamento ao evisceramento. Lembre-se, não se deve
tentar repor as vísceras para dentro da cavidade abdominal e a manutenção da umidade
do tecido eviscerado é de extrema importância.
Por fim, você compreendeu de que forma acontece a fratura de pelve,
principalmente aquela denominada “livro aberto”, bem como os procedimentos
relacionados para estabilizar esta região e prevenir o agravamento da hemorragia
associada.

Avaliação da Lição
1. Cite as duas situações em que pode acontecer um escalpelamento:
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2. Descreva o tratamento pré-hospitalar para olho enucleado:
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3. Cite os dois sinais indicativos de lesão de base de crânio:
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4. Diferencie concussão de contusão:
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5. Diferencie lesão cerebral primária de secundária:
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6. Descreva como ocorre um pneumotórax simples e um aberto:
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7. Cite 2 sinais tardios indicativos de pneumotórax hipertensivo:
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8. Explique como um curativo oclusivo evita o agravamento do pneumotórax:
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9. Cite 3 órgãos que podem ser lesionados em um trauma abdominal ou pélvico:
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10. Descreva o tratamento pré-hospitalar para um empalamento:
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11. Descreva o tratamento pré-hospitalar para uma evisceração:
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Referências
● COMITÊ DE TRAUMA DO COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES. Suporte avançado de vida no
trauma: ATLS. 8. ed. [Chicago: s.n.], 2012.
● CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA. Manual de atendimento pré-hospitalar do Curso
de Formação de Soldados. 3. ed. Florianópolis, 2018.
● HEALTH JADE TEAM. Battle sign. Health Jade, 2019. Disponível em: https://healthjade.net/battle-sign.
Acesso em: 10 mar. 2021.
● Man's eye hanging out after car accident. Documenting Reality, 2019. Disponível em:
https://www.documentingreality.com/forum/f149/mans-eye-hanging-out-after-car-accident-156296/. Acesso em:
10 mar. 2021.
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life
Support. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020.
● Primary Repair of Facial Soft Tissue Injuries. Pocket Dentistry, [2018?]. Disponível em:
https://pocketdentistry.com/primary-repair-of-facial-soft-tissue-injuries. Acesso em: 10 mar. 2021.
● Sensitivity analysis of skull fractures in the human head. Windpact, 2021. Disponível em:
https://windpact.com/sensitivity-analysis-skull-fractures. Acesso em: 10 mar. 2021.
● AMARAL, Dalton Hespanhol. O Pericárdio. Licardio, 2009. Disponível em:
http://licardio.blogspot.com/2009/05/o-pericardio_09.html. Acesso em: 06 jul. 2021.
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life
Support. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020.
● PINHEIRO, Pedro. Pneumotórax: o que é, sintomas e tratamento. MD.Saúde, 2021. Disponível em:
https://www.mdsaude.com/pneumologia/pneumotorax. Acesso em: 10 mar. 2021.
● AMARAKONE, Keith. Seat belt injuries. Don’t forget the bubble, [2020?]. Disponível em:
https://dontforgetthebubbles.com/seat-belt-injuries/. Acesso em: 10 mar. 2021.
● Abdominal exploration: Series. Lima Memorial: Health system, 2021. Disponível
em:https://www.limamemorial.org/health-library/HIE%20Multimedia-TextOnly/3/100049. Acesso em: 10 mar.
2021.
● BUSATO, Thiago Sampaio. Fraturas da Pelve e do Acetábulo. 2014. Disponível em:
https://medicinadoquadril.com.br/site/fraturas-da-pelve-e-do-acetabulo/. Acesso em: 05 jul. 2021.
● LICO, Maria Aparecida de Almeida. Anatomia abdominal - Os sistemas digestório, urinário e reprodutor.
Educação UOL, 20??. Disponível em:
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/anatomia-abdominal-os-sistemas-digestorio-urinario-e-reprodut
or.htm. Acesso em: 06 jul. 2021.
● LIMMER, Daniel; O’KEEFE, Michael; DICKINSON, Edward. Emergency Care. 12. ed. London: Pearson
Education, 2012.
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. PHTLS: Prehospital Trauma Life
Support. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020.
● PAOLI, Andrea. Gestione del trauma del bacino in ambiente extra-ospedaliero: luci ed ombre. Hems
association, 2016. Disponível em:
https://emspedia.emergency-live.com/en/content/italiano-individuazione-e-gestione-del-trauma-del-bacino-in-am
bito-extraospedaliero/. Acesso em: 11 mar. 2021.
CURSO DE BOMBEIRO COMUNITÁRIO - CBC

Disciplina: Atendimento Pré-Hospitalar (APH) – Avaliação Prática de OVACE (Lactente)


Professor: ______________________________________________________________
Nome do Aluno: _________________________________________________________
Data: _____/_____/______ Nota: ________

Total de Pontuação
Item LISTA DE CHECAGEM
Pontos Obtida
1 Avaliação da segurança 5
2 Utilizou EPI 5
Busque sinais de dificuldade respiratória, **(3) tosse ineficiente
3 ou (3) ausência de choro. (4) Confirme sinais de obstrução 10
severa ou completa das vias aéreas
Confirmada a obstrução das vias aéreas total, inicie as manobras
de desobstrução promovendo (5) 5 golpes entre as escápulas
4 10
(tapotagem) e, em seguida, (5) executando 5 compressões
torácicas
Continue repetindo o passo 4 até ocorrer a completa
5 10
desobstrução ou o paciente perder a consciência
6 Perdeu a consciência, posicione a vítima deitada sobre o solo. 10
Abra as vias aéreas *(A), inspecione a boca. Caso visualize o 10
7
corpo estranho, tente removê-lo com o dedo mínimo
(3) Promova uma ventilação lenta *(B) 1 segundo. Se o ar não
8 10
passa (4) reposicione a cabeça da vítima e (3) ventile novamente
Se a vítima continua com as vias aéreas obstruídas, execute 30
9 10
compressões torácicas *(C)
Se a vítima continua com as vias aéreas obstruídas, repita os
10 5
passos 7 a 9 até ocorrer a completa desobstrução.
(5) Após o 5º ciclo (mais ou menos dois minutos), se não houver
11 10
sucesso (5) acione o serviço de emergência médica (193)
Se a vítima está respirando ou se reassume efetivamente a
respiração, (2) cheque pulso braquial e (3) coloque-a na posição
12 5
de recuperação e inicie seu transporte para o hospital com
monitoramento constante.
TOTAL DE PONTOS OBTIDOS PELO ALUNO 100
Obs: * Airway (vias aéreas), Breathing (respiração) e Circulation (pulso)
** Pontos fracionados para determinados procedimentos.
TRAUMA NA COLUNA VERTEBRAL

Sinais e Sintomas Trauma Coluna Vertebral


● Dor regional;
● Perda da sensibilidade tátil nas extremidades superiores e/ou inferiores;
● Perda da capacidade de movimentação das extremidades (paralisia);
● Sensação de formigamento nas extremidades;
● Deformidade na estrutura da coluna vertebral;
● Perda do controle urinário ou fecal;
● Dificuldade respiratória com pouco ou nenhum movimento torácico;
● Priapismo (ereção peniana dolorosa e contínua).

Complicações Trauma Coluna Vertebral


● Paralisia dos músculos do tórax (respiratórios). A respiração fica sendo feita
exclusivamente pelo diafragma;
● A lesão medular provoca dilatação dos vasos sanguíneos, podendo se
instalar o choque neurogênico.

Tratamento pré hospitalar Trauma coluna vertebral


● Corrigir os problemas que ameaçam a vida. Manter a permeabilidade das
VA, a respiração e a circulação;
● Controlar o sangramento importante;
● Administrar oxigênio (conforme protocolo local);
● Evite movimentar o paciente, e não deixe que ele se movimente;
● Nunca mobilize um paciente com trauma de coluna, a menos que necessite
RCP; controle de sangramento que ameace a vida e/ou remoção do local
por risco iminente;
● Imobilizar a cabeça e o pescoço com emprego do colar cervical, fixadores
de cabeça e prancha rígida;
● Monitorar os sinais vitais constantemente (cuidado com o choque e a parada
respiratória).
Técnica para retirar capacetes
Em algumas situações especiais, haverá a necessidade da remoção de um
capacete, porém esta tarefa deverá ser realizada com muita cautela por no mínimo 2
socorristas. Enquanto um imobiliza manualmente a cabeça e pescoço do paciente, o outro
remove lentamente o capacete

Figura XX - Remoção de capacete

Fonte: ATLS, 9ª Edição

Observação: O capacete não deverá ser removido na situação de esmagamento,


aumento de dor durante a remoção ou quando associado a ferimento com objeto
transfixante. Nesses casos, o paciente é imobilizado sobre a maca rígida com o capacete,
que deverá ser removido pela equipe médica do hospital de emergência.

Estabilizando a cabeça e pescoço com um colar cervical


Dois socorristas são necessários para a realização desse procedimento: um para
manter o alinhamento e a imobilização manual da cabeça e do pescoço e outro para
mensurar e aplicar corretamente o colar de imobilização cervical. Este procedimento
deverá ser realizado com o corpo do paciente imóvel e em alinhamento neutro,
minimizando qualquer movimento indesejável da coluna cervical.
O 1º socorrista deverá posicionar-se ajoelhado acima da cabeça do paciente e
segurar com suas mãos, bilateralmente, a cabeça do paciente, realizando o alinhamento e
a imobilização manual da mesma com manobras cuidadosas. Não aplicar tração, nem
virar ou levantar a cabeça. Explique para o paciente o procedimento que será executado e
demonstre segurança durante a execução das manobras.
O 2º socorrista deverá posicionar-se ao lado do paciente e preparar os colares
cervicais, colocando-os próximos ao paciente. Em seguida, deverá mensurar o tamanho
adequado do colar cervical. Essa mensuração pode variar de acordo com a marca do
equipamento. De forma geral, a mensuração do colar é realizada pelo segundo socorrista
que utiliza os dedos de sua mão para comparar o espaço existente entre o trapézio e a
linha da mandíbula do paciente com a altura do colar (ver figura PP).
O colar adequado é aplicado pelo 2º socorrista, enquanto o 1º mantém a cabeça e
o pescoço do paciente em posição neutral. Recomendamos que, sempre que o paciente
estiver na posição deitada, a aplicação do colar seja realizada com a introdução da parte
posterior do mesmo abaixo da nuca do paciente e, em seguida, com a colocação da parte
anterior para a imobilização da mandíbula. Caso o paciente esteja sentado, o colar deverá
ser aplicado de forma inversa, ou seja, primeiramente imobilizando a região anterior e, em
seguida, passando a parte posterior do mesmo e fixando-a com a fita de velcro colorida.

Figura XX - Mensuração e aplicação de colar

Fonte: CBMSC

TÉCNICAS DE TRANSPORTE UTILIZADAS NO APH


Técnica utilizada para posicionar o paciente com suspeita de lesão na coluna, do
solo para cima de uma prancha. Realizada com no mínimo 3 socorristas

Técnica do rolamento 90 graus

1. O paciente deverá estar deitado no solo em posição alinhada e em decúbito


dorsal (posição supina);
2. Um socorrista (S2) posiciona-se atrás da cabeça do paciente (com os dois
joelhos no chão a uma distância de cerca de um palmo) e imobiliza a cabeça do mesmo
usando ambas as mãos;
3. O comandante da guarnição (S1) posiciona-se ao lado do paciente (na altura do
tórax), mensura e aplica o colar cervical;
4. O motorista (S3) trás a prancha longa e a coloca ao lado do membro imobilizado
do paciente, depois posiciona-se ajoelhado ao lado do comandante (na altura da pelve);

Figura XX - Posicionamento no paciente para rolamento 90º

Fonte: CBMSC

5. O comandante da guarnição levanta a extremidade superior do paciente acima


da cabeça, paralela ao tronco. A outra extremidade é posicionada por sobre o tórax do
paciente (lembrar que o paciente é rolado para o lado onde o braço foi levantado e
estendido);
6. Os socorristas que estão posicionados lateralmente apoiam suas mãos ao longo
do corpo do paciente, no lado oposto de onde estão colocados (o S1 com uma mão no
ombro e outra na coxa e o S3 com uma mão na lateral do quadril e outra logo abaixo do
joelho) e sob o comando daquele que está na cabeça (S2), rolam o paciente 90 graus em
monobloco;

Figura XX - Rolamento do paciente para rolamento 90º

Fonte: CBMSC

7. O comandante usando a mão que segurava a coxa, remove a parte de trás da


camiseta do paciente a fim de verificar se não encontra lesões ou sangramentos ativos
para tratar ou informar a equipe médica posteriormente;

Figura XX - Averiguações de lesões na coluna durante o rolamento 90º

Fonte: CBMSC

8. O comandante usando a mão direita puxa a prancha rígida, posicionando-a o


mais próximo possível do paciente;

Figura XX - Posicionamento da prancha para finalizar o rolamento 90º


Fonte: CBMSC

9. Com o movimento inverso o paciente é lentamente posicionado sobre a prancha


rígida e centralizado sobre a mesma;
Figura XX - Finalização do rolamento 90º

Fonte: CBMSC
.

10. Durante todo o tempo o socorrista da cabeça permanece imobilizando-a


manualmente;
Figura XX - Reposicionamento na prancha

Fonte: CBMSC
11. A cabeça do paciente é fixa com o uso de um coxim (fixador universal de
cabeça) para evitar os movimentos laterais. Caso sua organização não disponha de um
equipamento próprio, improvise os coxins com sacos de areia (sacos de areia é
extremamente perigoso) de 15 por 30 cm ou toalhas dobradas em rolo e esparadrapo.
12. Após a colocação da manta térmica, finalmente, os socorristas fixam o paciente
na prancha com tirantes.
Figura XX - Colocação de tirantes

Fonte: CBMSC

Técnica da colocação dos tirantes de fixação

● Tirante superior: deve englobar a prancha e o tórax do paciente, logo abaixo dos
ombros (no atendimento de mulheres, fixe os tirantes acima ou abaixo dos seios);

● Tirante do meio: deve ser colocado na região da pelve, os braços devem ficar ao
longo do corpo com o tirante passando sobre os punhos do paciente;

● Tirante inferior: deve ser posicionado englobando a prancha e o paciente logo


acima dos joelhos. Se o paciente estiver deitado em decúbito ventral (posição
pronada) o tirante deverá ser colocado logo abaixo do joelho, pois isto evitará que
as pernas do paciente escorreguem para fora da prancha.
CURSO DE BOMBEIRO COMUNITÁRIO - CBC

Disciplina: Atendimento Pré-Hospitalar (APH) – Avaliação Prática de RCP ADULTO


Professor: ______________________________________________________________
Nome do Aluno: _________________________________________________________
Data: _____/_____/______ Nota: ________

Total de Pontuação
Item LISTA DE CHECAGEM
Pontos Obtida
1 Avaliação da segurança da cena 5

2 Utilização completa do EPI 5

3 Constatar grau de responsividade (AVDI) 5

4 Acionar o serviço de emergência (193) 10

5 Verificação da presença de pulso carotídeo *(C) 5

6 Se não houver pulso carotídeo palpável, liberação das vestes 5

7 Localização correta 5

8 Iniciação da RCP com 30 compressões torácicas 10

9 Pressão correta (5 a 6 cm) deixando o tórax expandir totalmente 5

10 Frequência correta das compressões (16 a 18 seg +/-) 10

11 Abertura das vias aéreas *(A) 5

12 Ventilação correta de 1 segundo duas vezes *(B) 5

13 **(5) Após o 5º ciclo (um ciclo = 30x2) (5) cheque pulso carotídeo 10
Se não houver pulso presente, continue com 5 ciclos de 30 x 2,
14 5
iniciando pelas compressões torácicas
**Se a vítima está respirando ou se reassume efetivamente a
15 respiração e tem (5) pulsação (pulso carotídeo) e não há 10
suspeita de trauma, (5) coloque-o na posição de recuperação
TOTAL DE PONTOS OBTIDOS PELO ALUNO 100
Obs: * Airway (vias aéreas), Breathing (respiração) e Circulation (pulso)
** Pontos fracionados para determinados procedimentos.
AVALIAÇÃO E MANEJO DO TRAUMA EM EXTREMIDADES
Você sabia que algumas lesões, se não tratadas adequadamente, podem causar
perdas na qualidade de vida das vítimas? Isso se dá em razão de problemas relacionados
à capacidade locomotora. Vamos aprofundar este tema?
As lesões musculoesqueléticas em extremidades, embora muito comum em
vítimas com trauma, raramente ameaçam a vida a curto prazo. Todavia, o trauma
esquelético pode ser potencialmente fatal quando produz perdas sanguíneas significativas
(hemorragias), seja externa ou internamente às extremidades.
Nesta lição, trataremos especificamente das estruturas que compõem o esqueleto
apendicular, especificamente dos membros superiores e inferiores, estes responsáveis
pela mobilidade e sustentação do corpo, e onde temos uma quantidade significativa de
estruturas ósseas, músculos, vasos sanguíneos, tendões e ligamentos.
Dependendo do mecanismo de lesão, estas estruturas corpóreas podem
apresentar diversos tipos de lesões que necessitam de tratamentos específicos. Nesta
lição em particular, vamos tratar das principais lesões musculoesqueléticas, o entorse, a
luxação e a fratura, além de alguns casos específicos como a síndrome
compartimental, a mutilação de extremidade, as amputações, e a síndrome do
esmagamento.

PRINCIPAIS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS

Numa ordem crescente de gravidade das lesões musculoesqueléticas, temos o


entorse, a luxação e a fratura. A fim de identificar e tratar corretamente cada uma dessas
lesões, o socorrista deve conhecer as características de cada uma e saber como realizar
adequadamente uma imobilização do membro lesado. Agora abordaremos as
peculiaridades de cada lesão e, no fim, você aprenderá os procedimentos de avaliação e
imobilização de um membro.

Entorse

Uma entorse é uma lesão em que os ligamentos são estirados ou lacerados. As


entorses são causadas por uma súbita torção da articulação além da amplitude de
movimento normal. Apesar de haver alguns sinais identificáveis durante a avaliação do
membro lesado, a diferenciação definitiva entre uma entorse e uma fratura é feita apenas
com exames radiológicos.
Externamente, as entorses podem ser confundidas com uma luxação ou fratura. Na
avaliação, o socorrista pode identificar hematoma, edema, dor e impotência funcional
parcial ou total na extremidade que sofreu o entorse.
No ambiente pré-hospitalar, é razoável imobilizar uma suspeita de entorse
assumindo que seja uma fratura. Sendo assim, o tratamento geral de uma suspeita de
entorse inclui avaliar a função neurovascular distal (pulso, perfusão, motricidade e
sensibilidade), estabilizar a área da lesão, imobilizar a extremidade lesionada, reavaliar a
função neurovascular distal da extremidade lesionada após a imobilização e transportar o
paciente ao hospital.

Luxação

Uma luxação ocorre quando há a separação de dois ossos na articulação,


resultante da ruptura significativa dos ligamentos que normalmente oferecem estrutura de
suporte e estabilidade a uma articulação. As luxações produzem muita dor e podem ser
difíceis de diferenciar de uma fratura sem uma radiografia, sendo que o diferencial na
avaliação é a deformidade anatômica causada na articulação.
Na avaliação de uma luxação, o socorrista pode identificar sinais como hematoma,
deformidade, edema, dor e impotência funcional total na extremidade lesionada.
Como regra, as suspeitas de luxação devem ser imobilizadas na posição
encontrada, seguindo os mesmos procedimentos utilizados na imobilização de entorse.
Como a manipulação da luxação na tentativa de reposicionamento anatômico causa muita
dor, deve-se realizar a imobilização na posição encontrada com utilização de talas
adequadas à extremidade lesionada.

Fratura

Uma fratura pode ser conceituada como o trincamento ou a perda da continuidade


de uma estrutura óssea. Os danos causados por uma fratura não estão ligados somente à
quebra de um osso, mas também a outras lesões associadas a estruturas adjacentes,
como danos em músculos e vasos sanguíneos. Em particular, as fraturas em
extremidades podem resultar em dois problemas primários que requerem manejo no
ambiente pré-hospitalar: hemorragia e ausência de pulso (circulação) na extremidade.
A forma de classificação mais comum das fraturas é a que as subdivide em
fechadas ou abertas (expostas)
As fraturas fechadas são aquelas em que o osso foi quebrado, mas o paciente
não apresenta perda da continuidade da pele. Os sinais e sintomas de uma fratura
fechada podem incluir hematoma, deformidade, edema, hipersensibilidade, dor,
crepitação e impotência funcional total na extremidade lesionada.
Por outro lado, as fraturas abertas ocorrem quando uma das extremidades do
osso fraturado perfura a pele de dentro para fora ou, menos comumente, quando um
trauma ou um objeto causa dano de fora para dentro, lesionando pele e músculos, e
fraturando o osso. Quando uma fratura é aberta para o ambiente externo, ela fica sujeita a
contaminantes externos e, dessa forma, deve ser protegida para que não se desenvolva
infecção óssea (osteomielite). O ferimento cutâneo pode gerar hemorragia significativa e
esta deve ser controlada.
Nem sempre é fácil identificar uma fratura aberta. Existem situações em que a
extremidade óssea perfura o tecido cutâneo e retorna para a cavidade, deixando apenas
o ferimento aberto sem evidenciar a fratura. Por isso, é imprescindível uma avaliação
atenta e pormenorizada do membro lesionado.

Avaliação das extremidades


Devem ser sempre avaliados o pulso, cor da pele, sensibilidade e funções motoras
distalmente aos locais com suspeita de fratura. Com exceção das hemorragias
exsanguinantes, as quais são verificadas na avaliação primária do paciente, a avaliação
das extremidades deve ocorrer na avaliação secundária. Na avaliação de uma
extremidade, deve-se levar em consideração qualquer queixa de dor, fraqueza ou
sensibilidade anormal nas extremidades. O paciente deve ter as vestes da extremidade
removidas para uma melhor visualização da área afetada. Na avaliação da fratura,
deve-se prestar atenção especificamente a:
- Lesão de ossos e articulações: Essa avaliação por meio da inspeção visual da
extremidade para a presença de hematomas, edemas ou deformidades visíveis que
possam representar fraturas, e da palpação da extremidade para a pesquisa de
hipersensibilidade e crepitação.
- Lesão de tecidos moles: Visualmente, inspecionar a presença de inchaços,
lacerações, abrasões, hematomas e cor da pele. Deve-se considerar que um ferimento
próximo a uma fratura aparente é uma fratura exposta.
- Perfusão: A perfusão deve ser avaliada pela identificação dos pulsos palpáveis
mais distais (radial, na extremidade superior, e pedioso dorsal, na extremidade inferior) e
pelo enchimento capilar nos dedos das mãos e pés. A ausência de pulsos distais das
extremidades pode indicar uma ruptura de uma artéria ou a compressão de um vaso
causado por uma fratura.
- Função neurológica: A avaliação neurológica de uma extremidade inclui a
verificação da condição motora e sensorial de uma extremidade. A função motora pode
ser avaliada perguntando ao paciente inicialmente se este sente alguma fraqueza na
extremidade afetada, se tem capacidade de abrir e fechar a mão e apertar o dedo do
socorrista, pedir para o paciente mexer os dedos dos pés e empurrar a mão do socorrista
como se estivesse utilizando um pedal de aceleração. A função sensorial é avaliada por
meio da palpação questionando ao paciente se sente quaisquer déficits ou perda de
sensibilidade.

Imobilização de extremidades
Entorses, luxações e fraturas devem ser tratadas com imobilizações provisórias
por meio do uso de talas. O objetivo principal da imobilização é reduzir a movimentação
do membro lesado, reduzir a dor e estabilizar os fragmentos ósseos presentes.
Para o caso de uma fratura, a primeira consideração antes da imobilização é
controlar hemorragias e prevenir o choque. Antes do início da imobilização, o membro
lesado deve ser reposicionado em posição anatômica normal, incluindo o uso delicado de
leve tração, se necessário, para alinhar a extremidade até seu comprimento normal.
Todavia, se durante o reposicionamento para a posição anatômica normal, existir
resistência por parte do paciente, o membro deve ser imobilizado na posição em que se
encontra. Este alinhamento possui o objetivo de controlar a dor, facilitar a imobilização,
estabilizar a fratura e melhorar a perfusão e a circulação.
Para realizar a imobilização efetiva de qualquer osso longo em extremidade, é
necessário que o socorrista se atente para imobilizar o membro inteiro, imobilizando as
articulações e os osso acima (proximal) e abaixo (distal) da fratura.
Há vários tipos de talas para a imobilização e a escolha da tala adequada vai
depender do seu tamanho, se consegue ela neutralizar a mobilidade de uma articulação
acima e um abaixo da fratura. Existem ainda alguns pontos adicionais importantes a se
lembrar antes da aplicação de talas:
1. Utilizar acolchoamento em talas rígidas, para evitar movimentação do membro e
garantir um certo conforto ao paciente;
2. Remover adornos (joias, braceletes, pulseiras e outros) para que estes objetos não
prejudiquem a circulação;
3. Avaliar sempre, antes e depois da imobilização, as funções neurais e circulatória
distais (pulso, perfusão, motricidade e sensibilidade);
4. Após a imobilização, considerar a elevação da extremidade, se possível, para
reduzir o edema e o latejamento.

SÍNDROME COMPARTIMENTAL
A síndrome compartimental é uma condição em que o suprimento de sangue para
uma extremidade é comprometido pelo aumento da pressão dentro do membro.
Os músculos das extremidades são envolvidos pela fáscia, um tecido gigantesco
que cobre e interpenetra cada músculo, osso, nervo, artéria e veia. A fáscia forma
numerosos compartimentos nas extremidades nas quais os músculos estão contidos e,
por ter mínima elasticidade, qualquer coisa que aumente a pressão dentro dos
compartimentos pode resultar em uma síndrome compartimental.
As duas causas mais comuns de síndrome compartimental são hemorragia interna
a um membro e o edema de terceiro espaço. A primeira ocorre normalmente por uma
fratura ou lesão vascular na extremidade, enquanto o edema de terceiro espaço ocorre
quando o fluxo sanguíneo no músculo atingido está diminuído ou ausente, e este fluxo é
restabelecido subitamente.
Uma vítima com síndrome compartimental apresenta dor intensa e alteração na
sensibilidade da extremidade, podendo estar aumentada, reduzida ou até mesmo
ausente. A dor é descrita como desproporcional em relação à dor da lesão sofrida e é
aumentada até com uma movimentação simples, como mexer os dedos nas
extremidades. Paralelamente, a diminuição do fluxo sanguíneo nas extremidades pode
refletir em sensação de dormência. Há ainda sinais tardios clássicos que indicam a
suspeita de síndrome compartimental, como a ausência de pulso, palidez e paralisia nas
extremidades.
Diante de uma vítima com síndrome compartimental, o socorrista deve aplicar
apenas manobras básicas de suporte de vida, removendo quaisquer curativos ou talas
apertadas na extremidade lesionada e transportá-la imediatamente ao hospital,
reavaliando constantemente a perfusão distal para monitorar a evolução do quadro. Não
se deve elevar o membro na tentativa de reduzir o inchaço, visto que a gravidade pode
aumentar mais ainda a pressão interna. O ideal é manter a extremidade no nível do
coração.

EXTREMIDADE MUTILADA
Uma extremidade mutilada é uma lesão complexa resultante da transferência de
alta energia, na qual ocorrem danos significativos em vários segmentos, como pele,
músculos, tendões, ossos, vasos sanguíneos e nervos. Esta situação é comum em
acidentes de trânsito em alta velocidade envolvendo colisão ou atropelamento por carros
e motos. A maioria dos casos de mutilação de extremidades envolve fraturas abertas e
graves, e nem sempre é possível a recuperação do membro lesionado.
Ao se deparar com uma vítima com extremidade lesionada, o socorrista pode
encontrá-la em choque devido à perda sanguínea excessiva ou às hemorragias internas
decorrentes dos mecanismos de trauma que causaram a lesão. Dessa forma, na maioria
das vezes, faz-se necessário o uso de um torniquete para cessar o sangramento e adotar
procedimentos para prevenir o choque. Se as condições do paciente permitirem, a
extremidade lesionada deve ser imobilizada e deve-se conduzi-lo com urgência ao
hospital.

AMPUTAÇÕES
A amputação é o processo de separação de uma extremidade da sua parte
proximal, podendo ser total, com desprendimento completo do membro, ou parcial, com
manutenção de certa continuidade tecidual. Este tipo de lesão é comum em acidentes
envolvendo arma de fogo e arma branca, vindo a atingir principalmente dedos, mãos e
pés.
Ao ocorrer uma amputação total, após uma perda significativa de sangue, o
organismo desenvolve uma resposta conhecida por vasoconstrição reflexa, fazendo com
que os vasos sanguíneos se retraem e se contraiam, parando a hemorragia. Esta
resposta não é comum em uma separação parcial, de forma que não é criada a
vasoconstrição e o sangue continua extravasando pela lesão.
Durante o atendimento de um paciente com amputação, o socorrista deve
inicialmente controlar qualquer hemorragia grave presente e prevenir o choque,
finalizando com um curativo limpo e estéril sobre o coto.
Feito isto, deve-se cuidar da extremidade amputada, limpando-a delicadamente
com solução de soro e envolvendo-a em gaze estéril umedecida com soro. Por fim,
colocá-la em um saco plástico ou recipiente, rotulando-o e colocando-o em um recipiente
com gelo triturado para transporte junto ao paciente. Deve-se ter em mente que o
transporte do paciente não deve ser atrasado pela procura da parte amputada. Além
disso, a unidade hospitalar que receber este paciente deve ser comunicada de forma
antecipada à chegada do paciente amputado.

SÍNDROME DE ESMAGAMENTO
Uma extremidade esmagada por um trauma pode gerar uma situação denominada
rabdomiólise, uma grave condição que está associada a uma lesão muscular na
extremidade afetada e consequente liberação do conteúdo intracelular, incluindo potássio
e mioglobina em excesso. É comum ocorrer esta síndrome em pessoas que fiquem
presas em estruturas colapsadas (desabamentos e desmoronamentos), colisão de
automóveis e encarceramento em máquinas e equipamentos.
No momento em que o membro é esmagado, a rabdomiólise ocorre, porém o
objeto que o está esmagando mantém o conteúdo intracelular preso no interior desta
extremidade. Quando o objeto é removido, ocorre o restabelecimento da perfusão
sanguínea e as elevadas quantidades de potássio e mioglobina são liberadas na
circulação. Níveis elevados de potássio podem resultar em arritmias cardíacas
potencialmente fatais, enquanto a mioglobina livre em excesso poderá produzir
insuficiência renal.
Para suspeitar de uma síndrome de esmagamento, o socorrista deve identificar as
seguintes situações:
- Aprisionamento por um período prolongado;
- Lesão traumática da massa muscular;
- Comprometimento da circulação na área lesada.

Este é um tipo de emergência que prioritariamente requer a presença de suporte


avançado no local para realizar a reposição volêmica precoce e agressiva antes mesmo
da liberação da vítima, já que, após isto, as toxinas estarão livres na corrente sanguínea
agindo como um veneno.
Todavia, caso o suporte avançado não esteja disponível, os socorristas podem
colocar um torniquete proximal ao membro esmagado da vítima, reduzindo a possibilidade
das toxinas entrarem na circulação, retirá-la da situação de esmagamento e conduzi-la
com urgência ao hospital.

Recapitulando
Nesta lição você aprendeu a identificar e tratar as principais lesões
musculoesqueléticas: entorse, luxação e fratura. A imobilização é indicada em todos
esses casos como forma de reduzir a movimentação do membro lesado, reduzir a dor e
estabilizar os fragmentos ósseos presentes (no caso das fraturas).
Outro assunto abordado foi a síndrome compartimental, situação em que ocorre o
comprometimento da circulação em um membro por causa do aumento da pressão
interna a este membro.
Você aprendeu ainda sobre as extremidades mutiladas e a amputação, situações
graves em que o socorrista deve controlar hemorragias graves com urgência, prevenir o
choque e transportar o paciente ao hospital imediatamente.
Por fim, foi abordada a síndrome de esmagamento, uma condição gerada pela
rabdomiólise, que é a liberação do conteúdo celular (potássio e mioglobina em excesso)
após a lesão dos músculos, vindo a ingressar na corrente sanguínea e causar danos no
organismo com um todo (arritmia e insuficiência renal).

Avaliação da lição

1. Diferencia entorse, luxação e fratura:


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_______________________________________________________________________

2. Explique a importância da imobilização de uma extremidade fraturada:


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3. Indique a maior preocupação do socorrista ao se deparar com uma extremidade
mutilada ou uma amputação:
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_______________________________________________________________________
4. Explique o que é rabdomiólise:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
___________________________________________________

Referências
CAVINATO, Leonardo. Luxação no ombro. Dr. Leonardo Cavinato, 2015. Disponível em:
http://www.dornoombro.com/problemascomuns/luxacao-ombro. Acesso em: 10 mar. 2021.
MANTOVANI, Mário. Suporte Básico e avançado de vida no trauma. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.
MIRA, William. Sistema de Sustentação. Quero bolsa, 2019. Disponível em:
https://querobolsa.com.br/enem/biologia/sistema-de-sustentacao. Acesso em: 06 jul. 2021.
NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL. PHTLS: Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado.
Tradução André Garcia Islabão et al. 9. ed. São Paulo: Artmed, 2020.
SANTOS, Vanessa dos. Fraturas. Brasil escola, [2021?]. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/fraturas.htm. Acesso em: 10 mar. 2021.
SILVEIRA, Márcio Rogério Borges. O que é fáscia e para que serve? Dr Márcio Silveira, 2020. Disponível em:
https://drmarciosilveira.com/pacientes/wiki/o-que-e-fascia-e-para-que-server/. Acesso em: 06 jul. 2021.
TAVARES, Ricardo Antonio. Síndrome Compartimental Aguda. Curso de Aperfeiçoamento em Ortopedia e
Traumatologia - Universidade de São Paulo. [20??]. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5875706/mod_resource/content/1/Texto%20S%C3%ADndrome%20do%20Com
partimento.pdf. Acesso em: 09 mar 2021.
EMERGÊNCIAS CLÍNICAS

EMERGÊNCIAS CLÍNICAS RESPIRATÓRIAS

Nem só de trauma vive o socorrista, não é mesmo? Nesta lição daremos início às
emergências clínicas, condições graves de saúde que não foram causadas por nenhum
fator externo e, normalmente, estão associadas a doenças pré-existentes. Começaremos
com as emergências respiratórias.

INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
Insuficiência Respiratória é uma alteração no padrão respiratório acompanhada de
dispneia, essa alteração ocorre quando a troca gasosa está inadequada, resultando em
uma incapacidade de manter os níveis arteriais normais de oxigênio e dióxido de carbono.
A dispneia é definida como dificuldade para respirar, podendo ser percebida por um
esforço respiratório aumentado como a bradipnéia (respiração lenta) e a taquipnéia
(respiração rápida). Pode estar presente em qualquer enfermidade que causa
comprometimento do sistema respiratório, direta ou indiretamente (por exemplo doença
cardíaca) e em doenças que interferem na regulação da respiração em qualquer nível (ex.:
doenças do sistema nervoso central, acidose metabólica, doenças musculares difusas que
diminuem a força da musculatura da respiração).
Um paciente com insuficiência respiratória pode apresentar dificuldade respiratória,
sensação de cansaço, ansiedade ou agitação, sons atípicos durante a respiração, tosse,
cianose, formigamento e contratura muscular nas extremidades, dispneia de origem
psicogênica (causada por fatores emocionais) e redução do nível de consciência.
Ao se deparar com um paciente apresentando esta condição, o socorrista deve:
- transmitir segurança ao paciente;
- afrouxar suas roupas;
- posicionar o paciente na maca articulada, sem prancha rígida, em decúbito dorsal
com a cabeceira elevada;
- administrar oxigênio;
- monitorar a vítima com oxímetro de pulso;
- observar se ocorre redução do nível de saturação de oxigênio (<94%) ou
rebaixamento do nível de consciência. Nestes casos, transporte o paciente imediatamente
para o hospital ou solicite apoio da unidade de suporte avançado de vida.
DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)
É uma doença pulmonar inflamatória e crônica que causa obstrução do fluxo de ar
dos pulmões. É causada pela exposição a longo prazo a gases irritantes ou partículas.
Pessoas com DPOC possuem maior risco de desenvolver doenças cardíacas, câncer de
pulmão e uma variedade de outras comorbidades.
Enfisema Pulmonar e Bronquite Crônica são as duas condições mais comuns que
contribuem para a DPOC.
Bronquite é a inflamação dos brônquios, canais que conduzem o ar inalado até os
alvéolos pulmonares. Ela se instala quando os minúsculos cílios que revestem o interior
dos brônquios param de eliminar o muco presente nas vias respiratórias. Esse acúmulo de
secreção faz com que eles fiquem permanentemente inflamados e contraídos, provocando
principalmente tosse.
A bronquite pode ser aguda ou crônica. A diferença consiste na duração e
agravamento das crises, que são mais curtas (uma ou duas semanas) na bronquite
aguda, enquanto, na crônica, não desaparecem, pioram pela manhã e se manifestam por
três meses ou mais durante pelo menos dois anos consecutivos.
O Enfisema Pulmonar é uma irritação respiratória crônica, de lenta evolução, quase
sempre causada pelo tabagismo, embora outros agentes (poeira, poluentes, vapores
químicos) também possam provocá-lo. No enfisema, os alvéolos transformam-se em
grandes sacos cheios de ar que dificultam o contato do ar com o sangue, uma vez que foi
destruído o tecido por onde passavam os vasos. Alguns fatores hereditários também
podem contribuir para o aparecimento do enfisema.
A maioria dos portadores de DPOC, com o manejo adequado, pode obter um bom
controle dos sintomas e qualidade de vida, assim como reduzir o risco de outras
condições associadas.
Um paciente acometido por DPOC pode apresenta falta de ar, especialmente
durante atividades físicas, chiado e aperto no peito, tosse crônica que pode produzir muco
(expectoração), lábios ou leitos das unhas cianóticos, infecções respiratórias frequentes,
falta de energia, perda de peso não intencional e inchaço nos tornozelos, pés ou pernas.
Além disso, pessoas com DPOC também são propensas a episódios chamados de
exacerbações, durante os quais seus sintomas se tornam piores do que o normal na
variação diária e persistem por vários dias.
O tratamento pré-hospitalar a este tipo de paciente envolve:
- transmitir segurança ao paciente;
- afrouxar as roupas;
- posicionar o paciente na maca articulada, sem prancha rígida, em decúbito dorsal
com a cabeceira elevada;
- administrar oxigênio;
- monitorar a vítima com oxímetro de pulso;
- observar se ocorre redução do nível de Saturação de Oxigênio (>90%) ou
rebaixamento do nível de consciência, nestes casos solicite apoio da unidade de suporte
avançado de vida.

ASMA
A asma é uma doença inflamatória crônica, resultante de uma interação entre
genética, exposição ambiental a alérgenos irritantes, e outros fatores específicos que
levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas.
A principal característica da asma é a inflamação brônquica, que está presente em
todos os pacientes asmáticos, inclusive naqueles com asma de início recente, nas formas
leves da doença e mesmo entre os assintomáticos.
Para atingir os pulmões, o ar passa por um tubo que começa na garganta, chamado
traqueia. Em sua base, a traqueia se divide em dois condutos menores, os brônquios,
cada um desembocando em um dos pulmões. Os brônquios, por sua vez, subdividem-se
em ramos com tamanho progressivamente menores. Os menores deles, existentes aos
milhões nas extremidades dessa "árvore", chamam-se bronquíolos. Cada bronquíolo
termina numa minúscula bolsa, chamada alvéolo. E é exatamente nos alvéolos, que
ocorre a troca de gases: o sangue absorve oxigênio e elimina gás carbônico no ar que,
agora, percorrerá o caminho inverso – dos alvéolos, passando pelos brônquios e pela
traqueia, até o nariz e a boca, e daí para fora do corpo.
Num surto asmático, todo esse mecanismo funciona mal devido ao estreitamento
dos brônquios, causado pela contração da musculatura das paredes desses condutos
(broncoespasmo) e, também, pelo aumento na produção de secreção (escarro) pelos
pulmões.
Nas paredes brônquicas dos asmáticos existem células que, sob estímulo de
diversos agentes, podem provocar a inflamação e o consequente o bronco-espasmo.
Quando perpetuada, a inflamação torna os brônquios ainda mais sensíveis, agravando o
curso da doença.
Os sintomas mais comuns da asma são a falta de ar (dispnéia), tosse persistente e
chiado no peito. A sensação de aperto no peito, ao acordar, pode significar uma
manifestação da chamada asma noturna. A intensidade e a frequência dos sintomas
variam de pessoa para pessoa, e ficam mais intensos nas chamadas crises asmáticas.
A tosse, às vezes, é o único sintoma da asma, principalmente em crianças, e
geralmente piora à noite. Ela também pode se agravar e, nesse caso, até ser seguida de
vômito, após atividades físicas mais intensas ou no caso de alguma infecção.
Para tratar um paciente com asma, o socorrista deve:
- transmitir segurança ao paciente;
- afrouxar as roupas;
- posicionar o paciente na maca articulada, sem prancha rígida, em decúbito dorsal
com a cabeceira elevada;
- administrar oxigênio;
- monitorar a vítima com oxímetro de pulso;
- observar se ocorre redução do nível de Saturação de Oxigênio (>90%) ou
rebaixamento do nível de consciência, nestes casos solicite apoio da unidade de suporte
avançado de vida;
- se o paciente possuir prescrição de broncodilatador, questionar se já fez uso no
intuito de resolver o problema, caso não tenha usado, orientá-lo a fazer o uso conforme
prescrição.

EMERGÊNCIAS CLÍNICAS CARDIOVASCULARES


As emergências clínicas cardiovasculares são muito comuns no nosso dia a dia.
Você deve conhecer alguém que tem “pressão alta” ou que já sofreu um “ataque
cardíaco”. Nesta lição, então, aprofundaremos nosso conhecimento sobre essas
emergências.

SÍNDROME CORONARIANA AGUDA (SCA)


Síndrome coronariana aguda é uma coleção de quadros clínicos incluindo Angina
Instável e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), quadros clínicos que resultam de uma
obstrução aguda de uma artéria coronária, impedindo o fluxo sanguíneo para o coração.
As consequências dependem do grau e do local da obstrução.
Um paciente com SCA apresenta dor forte ou desconforto no peito, pressão no
peito em repouso ou ao fazer atividades leves, falta de ar, dor que se irradia para a
mandíbula, braço ou ombro, sudorese, náuseas e/ou vômitos.
Para os indivíduos com SCA, o diagnóstico e o tratamento rápido dão a melhor
chance de preservar o tecido saudável do coração. É muito importante que os socorristas
reconheçam indivíduos com fatores de risco para SCA (idade, história familiar, hipertensão
arterial, tabagismo, diabete mellitus), a fim de iniciar a avaliação, triagem apropriada e
transporte imediato para o ambiente hospitalar.

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM)


A maioria das mortes por Infarto Agudo do Miocárdio ocorre nas primeiras horas da
manifestação da doença. Assim, a maior parte das mortes por IAM acontecem fora do
ambiente hospitalar, geralmente desassistidas pelos profissionais da saúde.
O Infarto Agudo do Miocárdio é uma condição clínica emergencial, decorrente da
obstrução de uma das artérias coronárias que nutrem o músculo cardíaco. A cada minuto
que o músculo cardíaco passa sem receber oxigênio, suas células entram em sofrimento
(isquemia) e, se nada for feito para desobstruir a artéria, o processo culmina com a morte
(necrose) de parte do músculo cardíaco, caracterizando no infarto agudo do miocárdio.
Uma pessoa com IAM apresenta dor torácica de forte intensidade, prolongada (de
30 minutos até por horas) e que se localiza atrás do esterno, podendo irradiar-se para o
membro superior, ombro, pescoço e mandíbula. Geralmente, o repouso não alivia a dor. O
paciente ainda poderá apresentar falta de ar, náusea, vômitos, sudorese fria, ansiedade,
inquietação e alteração do ritmo cardíaco (bradicardia, taquicardia, assistolia, fibrilação
ventricular).
Ao identificar um caso de infarto agudo do miocárdio, o socorrista deve:
- manter as vias aéreas da vítima permeáveis;
- tranquilizar a vítima com uma abordagem calma e segura (com o objetivo de
diminuir o trabalho do coração);
- investigar a história clínica através de entrevista direcionada para o IAM,
atentando-se para as características dos sintomas atuais (momento do início, tempo de
duração, qualidade, intensidade, relação com o esforço e repouso) e a presença de
doença coronária prévia;
- manter a vítima confortável, e em repouso absoluto. Evitando que se mova;
- não permitir que o paciente faça esforço;
- conservar o calor corporal;
- administrar oxigênio;
- examinar sinais vitais com frequência;
- realizar a monitorização da saturação de oxigênio (oxímetro de pulso);
- transportar imediatamente;
- fazer contato prévio com o hospital de referência e informar a situação para que a
equipe de saúde se prepare para recebê-lo.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL


Acidente Vascular Cerebral (AVC) é definido como o surgimento de um déficit
neurológico súbito causado por um problema nos vasos sanguíneos do sistema nervoso
central, onde o fluxo normal de sangue ao cérebro é interrompido. Acidentes vasculares
cerebrais podem ser definidos classicamente em 2 subtipos: Isquêmico e Hemorrágico.
- Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI): Ocorre pela obstrução ou redução
ou bloqueio brusco do fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral causando falta de
circulação no seu território vascular. Como resultado, a função de parte do cérebro que
depende do sangue oxigenado será afetada. A causa mais frequente de AVCi é a
aterosclerose cerebral.
- Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH): É causado pela ruptura
espontânea (não traumática) de um vaso, com extravasamento de sangue para o interior
do cérebro (hemorragia intracerebral), para o sistema ventricular (hemorragia
intraventricular) e/ou espaço subaracnóideo (hemorragia subaracnóide). Parte do cérebro
ficará comprometida pela falta de oxigênio e poderá haver aumento da Pressão
Intracraniana (PIC). Essa situação é de maior gravidade pelo risco de compressão de
áreas cerebrais responsáveis pelas funções vitais.
O Serviço Médico de Emergência (SME) ao atender um paciente com AVC agudo
tem os seguintes objetivos: rápida identificação dos sinais e sintomas que indicam um
AVC, apoio às funções vitais, transporte rápido da vítima a uma instituição apropriada,
notificação pré-chegada à instituição que vai receber a vítima.
Os sinais clínicos de acidente vascular cerebral dependem da região do cérebro
afetada pelo fluxo sanguíneo diminuído ou obstruído, podem incluir fraqueza ou dormência
da face, braço ou perna, dificuldade para caminhar, dificuldade de equilíbrio, perda de
visão, fala arrastada ou ausente, desvio de comissura labial, dor de cabeça, vômitos e
alteração do nível de consciência como confusão mental; anisocoria, pulso rápido,
respiração difícil, convulsão, coma. (nem todos esses sintomas podem estar presentes).
Os casos podem ser súbitos e fugazes (recuperação espontânea) ou mais graves,
confirmando a extensão do comprometimento cerebral.
A escala utilizada no atendimento pré-hospitalar na avaliação do AVC é a Escala de
Acidentes Vasculares de Cincinnati. Esta escala utiliza 03 comandos para diagnosticar a
presença de um AVC:
A - Paresia Facial: peça ao paciente que mostre os dentes ou sorria.
- Normal: ambos os lados da face movem-se simetricamente.
- Anormal: um lado da face não se move tão bem quanto o outro.
B - Fraqueza do Membro Superior/Fraqueza Motora: o paciente deve fechar os
olhos e manter os membros superiores estendidos.
- Normal: ambos os braços se elevam simetricamente ou não se movem.
- Anormal: um dos braços se eleva e outro cai.
C - Fala: pedir para que o paciente fale.
- Normal: o paciente usa as palavras corretamente.
- Anormal: o paciente apresenta dificuldade em falar, usa palavras de forma
inapropriada ou é incapaz de falar.
Se uma das alterações for descoberta, a taxa de acerto da Cincinnati é de 72%. Se
todas as três descobertas estão presentes, a probabilidade de um acidente vascular
cerebral agudo é maior que 85%.
O tratamento pré-hospitalar para essas situações é:
- assegurar abertura e manutenção de vias aéreas;
- tranquilizar o paciente;
- posicionar na maca articulada, sem prancha rígida, em decúbito dorsal com a
cabeceira elevada, mantendo a via aérea pérvia;
- mantê-lo confortável, e em repouso absoluto, não permitir que o paciente faça
esforço;
- investigar a história clínica através de entrevista direcionada para o AVC,
atentando-se para as características dos sintomas atuais e a presença de doença vascular
cerebral prévia;
- determinar déficits observados e/ou relatados através da utilização da Escala
Cincinnati (motores e sensoriais);
- determinar o tempo preciso do início dos sintomas do paciente e testemunhas;
- monitorar sinais vitais;
- reavaliar nível de consciência e escala de Glasgow;
- não administrar nada via oral;
- manter o paciente aquecido;
- administrar oxigênio;
- monitorização da saturação de oxigênio (oxímetro de pulso);
- conservar o calor corporal;
- transportar imediatamente;
- fazer contato prévio com o hospital de referência e informar a situação para que a
equipe de saúde se prepare para recebê-lo e com o objetivo de que os especialistas
devem avaliar o indivíduo com suspeita de AVC dentro de 10 minutos da chegada no
departamento de emergência.

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS)


A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se
frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração,
encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento
do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais.
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) tem alta prevalência e baixas taxas de
controle, sendo seus fatores de risco: prevalência parecida entre ambos os sexos, sendo
mais comum em homens até 50 anos; Negros; Excesso de peso; Sedentarismo; Ingesta
aumentada de sal e álcool; fatores socioeconômicos e genéticos.
A prevenção primária da HAS não medicamentosa se faz através de uma
alimentação saudável, consumo controlado de sódio e álcool, combate ao sedentarismo e
ao tabagismo.
A vítima normalmente apresenta cefaleia, náuseas, ansiedade, zumbido nos
ouvidos, alteração visual (turvação visual ou pontos brilhantes no campo visual),
hemorragia nasal, formigamento em face e extremidades
O socorrista, ao identificar um caso de hipertensão, deve:
- Afrouxar as roupas e transmitir segurança;
- Posicionar o paciente na maca, sem prancha, em decúbito dorsal com cabeceira
elevada;
- Não elevar os membros inferiores (o aumento de retorno do sangue venoso pode
piorar a congestão pulmonar);
- Administrar oxigênio;
- Monitorar a vítima com Oxímetro de pulso;
- Se a vítima possuir e fizer uso habitual de medicação anti-hipertensiva, e ainda
não tiver usado a medicação, o socorrista pode auxiliar para sua administração;
- Observar se ocorrem sintomas neurológicos ou dor torácica. Solicitar apoio da
unidade de suporte avançado de vida nestes casos.

Recapitulando
Nesta lição você aprendeu um pouco mais sobre o atendimento pré-hospitalar do
CBMSC para as Emergências Clínicas Respiratórias como a Insuficiência Respiratória, a
asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
Conheceu um pouco mais sobre os sinais e sintomas, aprendeu a diferenciar essas
emergências clínicas respiratórias, bem como a adotar os procedimentos protocolares
para o correto atendimento dessas ocorrências.
Estudou um pouco mais a anatomia do sistema respiratório, a fim de melhor
compreender as enfermidades mais comuns que afetam esse sistema.
Você aprendeu um pouco mais sobre Emergências Clínicas Cardiovasculares que
envolvem a Síndrome Coronariana Aguda, o Infarto do Miocárdio, o Acidente Vascular
Cerebral, a Angina de Peito e a Hipertensão Arterial Sistêmica.
Conheceu um pouco mais sobre os sinais e sintomas dessas emergências clínicas
e o atendimento pré-hospitalar do CBMSC para cada uma dessas ocorrências e revisou o
sistema cardiovascular.
Por fim, você compreendeu que quanto maior o tempo utilizado para o atendimento
dessas ocorrências, maiores podem ser as sequelas decorrentes dessa demora. Por isso,
reforçamos que os sinais e sintomas dessas comorbidades sejam de rápida identificação
pelo socorrista, a fim de otimizar o tempo em ocorrência e permitir rápido transporte para
unidade de saúde referência ou solicitação de serviço avançado móvel de saúde para
apoio.

Avaliação da lição
1. Cite as Emergências Clínicas Respiratórias estudadas nesta lição:
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2. Descreva os sinais e sintomas da Insuficiência Respiratória:
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3. Descreva o tratamento pré-hospitalar dos pacientes portadores de Doença Pulmonar
Obstrutiva Crônica (DPOC):
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4. Cite as duas enfermidades mais comuns relacionadas à Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (DPOC):
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5. Descreva o tratamento de um paciente com Infarto Agudo do Miocárdio (IAM).
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6. Diferencie o Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico do hemorrágico.


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7. Quais os três comandos utilizados na escala de Cincinnati para diagnosticar um AVC.
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8. Cite os fatores de risco para a Hipertensão Arterial Sistêmica.
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Referências
● American Heart Association. Diretrizes da AHA 2015, 2017 e 2019 e 2020 para RCP e ACE.
● Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados
Cardiovasculares de Emergência. Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.3 São Paulo Sept. 2019 Epub Oct 10, 2019.
EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
Quando um socorrista for avaliar ou tratar um paciente pediátrico (criança ou
bebê), poderá, a princípio, sentir-se despreparado, não sabendo como iniciar sua
atuação.
Psicologicamente, as crianças em geral temem pessoas estranhas e situações
novas e desconhecidas. No atendimento à criança consciente que sofreu algum tipo de
trauma, o profissional deve ser gentil, paciente e carinhoso, procurando transmitir-lhe
confiança e tranquilidade. Dessa forma, o socorrista pode estabelecer um vínculo com a
criança, que se torna colaborativa, diminuindo a tensão e favorecendo o atendimento.
Lembre-se que uma situação de emergência é uma nova e assustadora
experiência para qualquer criança, e será ainda maior se os pais ou responsáveis não
estiverem presentes. Por isso, pais ou conhecidos da criança devem permanecer juntos,
exceto quando, por desconforto emocional, atrapalhem a condução do atendimento.

CLASSIFICAÇÃO DO PACIENTE PEDIÁTRICO


Recomendamos que os socorristas utilizem um critério padronizado para classificar
as crianças em categorias, levando em consideração alguns fatores como idade, porte
físico e resposta emocional. As categorias para distinguir pacientes pediátricos segundo o
PHTLS são as indicadas abaixo:
1. Lactente - recém-nascidos até um mês
2. Bebê - 1 mês a 1 ano
3. Criança - de 1 a 2 anos
4. Pré-escolar - de 3 a 5 anos
5. Idade escolar - de 6 a 12 anos
6. Adolescente - de 12 a 15 anos
Paralelamente, a Associação Americana do Coração (American Heart Association -
AHA) padroniza internacionalmente os critérios para um socorrista determinar a idade de
uma criança no momento da realização das manobras de ressuscitação cardiopulmonar
(RCP), são eles:
● Lactentes: menores de 1 ano, com exceção dos recém-nascidos.
● Crianças: maiores de 1 ano até antes da puberdade.
● Adolescentes: apresentam sinais de puberdade.
DIFERENÇAS ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DO
PACIENTE PEDIÁTRICO
É inegável que as crianças possuem distinções anatômicas, fisiológicas e
psicológicas em relação aos adultos, requerendo em algumas situações de emergência
abordagens, condutas e ações especiais. Desta forma, é importante que o socorrista
conheça estas particularidades e saiba como conduzir o atendimento da melhor forma
possível a este público.

Vias aéreas e sistema respiratório


As vias aéreas e o sistema respiratório do bebê e da criança ainda não estão
completamente desenvolvidos. A língua é grande para a cavidade oral (boca) e as vias
aéreas (nariz, boca, faringe, laringe e traqueia) são mais estreitas do que as do adulto e
mais facilmente predispostas a uma obstrução.
Os músculos do pescoço também não estão completamente desenvolvidos e não
são tão fortes quanto os dos adultos. A colocação de uma toalha dobrada nas costas
(embaixo da região dos ombros) ajudará a manter a cabeça alinhada e as vias aéreas
pérvias. A manobra de inclinação da cabeça e elevação da mandíbula, largamente
utilizada para abrir as vias aéreas de adultos (sem lesão cervical), é desnecessária para
bebês e crianças pequenas. No atendimento de pacientes pediátricos, basta que o
socorrista promova uma leve inclinação da cabeça para conseguir assegurar a abertura
das vias aéreas.
Não faça pesquisa às cegas com os dedos quando tentar desobstruir as vias
aéreas de crianças e lactentes, pois essas manobras poderão forçar a descida do corpo
estranho e obstruir a faringe ou a laringe/traqueia. As crianças e os lactentes respiram
automaticamente pelo nariz e no caso desse ficar obstruído, não abrirão a boca para
respirar como um adulto.
O socorrista deverá remover as secreções das narinas utilizando uma pera de
sucção ou um aspirador manual para assegurar uma boa respiração. Os músculos do
tórax também não estão completamente desenvolvidos, assim a criança usará muito mais
o diafragma para respirar.

Quadro X - Frequência respiratória para pacientes pediátricos


Grupo Faixa Etária Frequência ventilatória (RPM)

Lactente recém-nascidos até um mês 30 a 60

Bebê 1 mês a 1 ano 30 a 53

Criança de 1 a 2 anos 22 a 37

Pré-escolar de 3 a 5 anos 20 a 28

Idade escolar de 6 a 12 anos 18 a 25

Adolescente de 12 a 15 anos 12 a 20
Fonte: PHTLS (2019).

A partir da análise dos parâmetros apresentados acima, o socorrista deve utilizar


assistência ventilatória com oxigênio suplementar (10 a 12 litros/minuto) sempre que a
frequência respiratória do paciente atendido esteja abaixo do limite inferior ou acima do
limite superior, utilizando, se necessário, um dispositivo bolsa-válvula-máscara adequado
a este público.

Sistema cardiovascular
Quanto menores forem os pacientes, menores também serão seus volumes
sanguíneos. Fique atento, pois um paciente recém-nascido poderá apresentar um
volume de sangue inferior a 350 mL (o equivalente a uma xícara e meia de sangue), e
sendo assim, qualquer perda sanguínea, por menor que seja, representará uma
emergência grave. Uma criança poderá apresentar, dependendo do seu tamanho, um
volume sanguíneo variável entre meio litro a 2 litros de sangue.
A hipotensão arterial significante só se manifesta após perda de, pelo menos,
30% do volume sanguíneo, normalmente associado a hemorragias externas ou internas.
Os quadros abaixo trazem as principais informações relativas à frequência cardíaca e à
pressão arterial em pacientes pediátricos.

Quadro X - Frequência cardíaca em pacientes pediátricos

Paciente acordado
Grupo
(BPM)

Lactente 120 a 205

Bebê 100 a 180

Criança 98 a 140

Pré-escolar 80 a 120
Idade escolar 75 a 118

Adolescente 60 a 100
Fonte: PHTLS

Quadro X - Pressão arterial em pacientes pediátricos

Intervalo normal de PA Intervalo normal de PA Limite inferior aceitável


Grupo
(Sistólica) (Diastólica) da PA sistólica

Lactente 67 a 84 35 a 53 > 60

Bebê 72 a 104 37 a 55 > 70

Criança 86 a 106 42 a 63 > 70

Pré-escolar 89 a 112 46 a 72 > 75

Idade escolar 97 a 120 57 a 80 > 80

Adolescente 110 a 131 64 a 83 > 90


Fonte: PHTLS

Por outro lado, em vez de memorizar todos os dados da tabela acima, existem
fórmulas padronizadas que podem auxiliar o socorrista a estimar alguns achados clínicos
importantes em pacientes pediátricos, conforme abaixo:

Peso da criança (kg) = 8 + [ 2 x idade (anos) ]


Limite inferior aceitável da PA sistólica (mmHg) = 70 + [ 2 x idade (anos) ]
Volume sanguíneo (mL) = 80 x peso da criança (kg)

A avaliação da circulação da criança inclui a aferição do pulso, da pressão arterial


e da temperatura relativa da pele. O aspecto externo da pele também é importante para
identificar uma perfusão deficitária. O socorrista poderá checar a perfusão comprimindo
a região distal das extremidades do paciente (dorso da mão ou pé) e avaliando o tempo
necessário da reperfusão (considerar grave quando o tempo do enchimento capilar for
maior que dois segundos).
Uma criança que apresenta taquicardia associada à hipotensão provavelmente
está sofrendo alguma condição emergencial que ameaça sua vida, o que é característico
no caso de choque descompensado. Como a criança tem maior reserva fisiológica, os
sinais de choque podem manifestar-se mais tardiamente, devendo o socorrista estar
atento para identificá-los. São esses os sinais mais comuns: gemidos, hipoatividade,
dificuldade respiratória, pulso fraco e enchimento capilar lento, taquicardia,
palidez/cianose e hipotermia.
Em relação à massa corporal, os pacientes pediátricos possuem uma grande
quantidade de superfície corporal. Por isso, facilmente perdem calor e podem sofrer de
hipotermia, até mesmo em ambientes onde adultos estejam confortáveis. Dessa forma, é
importante fazer o controle adequado da temperatura, evitando a instalação de um
quadro de hipotermia.
Para o atendimento do choque em pacientes pediátricos, os cuidados necessários
são os mesmos dispensados aos adultos, com atenção especial para prevenção da
hipotermia.

Cabeça e pescoço
A cabeça da criança é proporcionalmente maior e mais pesada que seu corpo. Em
geral, o corpo irá equilibrar-se com o tamanho de sua cabeça, a partir do quarto ano de
vida. Antes disto, a cabeça da criança é proporcionalmente maior e mais pesada que seu
corpo sendo constantemente projetada para frente, como a "ponta de uma lança",
principalmente em situações diversas.
Por este motivo, o traumatismo crânio encefálico (TCE) é frequente nessa idade.
Neste caso, deve-se cuidar com hemorragia dos vasos do couro cabeludo em crianças
pequenas, pois podem levar à perda sanguínea importante e ao choque.
Após um TCE, as manifestações de vômito na criança não indicam,
necessariamente, hipertensão intracraniana. A convulsão pós TCE também não sinaliza
gravidade (exceto se for de repetição). As crianças menores de 3 anos são mais sensíveis
ao TCE, apresentando, em função disso, um pior prognóstico.

Tórax e abdome
O socorrista poderá avaliar melhor a respiração dos pacientes pediátricos
observando os movimentos respiratórios no abdome, pois durante a respiração, as
crianças usam mais o diafragma, assim os movimentos respiratórios são mais facilmente
observáveis nessa região (abdome), que no tórax.
Devemos considerar também que a caixa torácica das crianças é mais elástica,
assim, no caso de uma respiração forçada, produzida por uma situação de dificuldade ou
insuficiência respiratória, o uso de todos os músculos do tórax (entre as costelas), sobre o
esterno e ao redor do pescoço e ombros, ficará bem evidente.
Da mesma forma que nos adultos, traumas no abdome podem resultar em dor,
distensão e rigidez. Os músculos abdominais não são tão bem desenvolvidos como nos
adultos e oferecem pouca proteção. Os órgãos abdominais, de forma especial o fígado e
o baço, são bem grandes para o tamanho da cavidade e, portanto, mais vulneráveis a um
trauma.

Pelve
Tal qual nos adultos, as crianças poderão perder quantidades consideráveis de
sangue dentro da cavidade pélvica, como resultado de um trauma grave nesta região. É
recomendável que os socorristas permaneçam monitorando constantemente os sinais
vitais dos pacientes para identificarem a presença de sinais de choque hipovolêmico.

Extremidades
Como já vimos anteriormente, os ossos das crianças são menos desenvolvidos e
consequentemente mais flexíveis que os dos adultos. Dessa forma, enquanto os ossos
de adultos normalmente fraturam numa situação de trauma, os ossos de crianças
dobram e lascam antes de fraturar.
A parede torácica é bastante flexível, por isso fraturas de costelas são raras, mas
quando presentes indicam trauma violento. Lesões internas (pulmões, coração, grandes
vasos) são frequentes, mesmo na ausência de fraturas. O socorrista deverá suspeitar de
fraturas sempre que, ao avaliar uma extremidade, encontrarem sinais e sintomas tais
como: dor, edema e deformações.

TRAUMAS PEDIÁTRICO MAIS COMUNS


A composição corporal e o tamanho de uma criança garantem padrões de lesões
comuns na ocorrência de traumas. A presença reduzida de gordura, a maior elasticidade
das articulações e a maior proximidade dos órgãos viscerais à superfície corporal limitam
a dissipação de energia em uma criança, quando comparado ao adulto.
O conhecimento dos aspectos anatômicos e fisiológicos, bem como dos principais
mecanismos de lesão associados ao trauma pediátrico, pode proporcionar ao socorrista
um melhor entendimento da ocorrência e a identificação de padrões de lesões
previamente esperados. O quadro abaixo aponta alguns mecanismo de lesão comuns e
os padrões de danos associados ao paciente pediátrico.
Quadro X - Padrões comuns de lesão associados ao trauma pediátrico

TIPO DE TRAUMA PADRÃO DE LESÕES ESPERADO

Colisão de automóvel - Sem cinto: múltiplos traumas (incluindo tórax e abdome), lesões em
(passageiro) cabeça e pescoço, escalpelamento e lacerações faciais
- Com cinto: lesões em tórax e abdome e fraturas na região sacrolombar
da coluna vertebral

Colisão de automóvel - Baixa velocidade: fraturas em membros inferiores


(pedestre) - Alta velocidade: múltiplos traumas (incluindo tórax e abdome), lesões
em cabeça e pescoço, e fraturas em membros inferiores

Queda de nível (a - Baixa altura: fraturas de membros superiores


estatura do paciente - Média altura: lesões em cabeça e pescoço, e fraturas em membros
interfere no padrão de superiores e inferiores
lesões esperadas). - Local elevado: múltiplos traumas (incluindo tórax e abdome), lesões
em cabeça e pescoço, e fraturas em membros inferiores e superiores

Queda de bicicleta - Sem capacete: lacerações em cabeça e pescoço, escalpelamento e


lacerações faciais, fraturas em membros superiores
- Com capacete: fraturas em membros superiores
- Colisão com o guidão: lesões abdominais internas
Fonte: PHTLS (2019).

OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO ABUSO INFANTIL


A ocorrência de abusos em crianças é muito comum ainda nos dias de hoje, o que
normalmente está associada ao acometimento de lesões intencionais. Os principais tipos
de abuso cometidos são emocionais, psicológicos, físicos, sexuais ou por atos de
negligência.

Como proceder em casos de abuso de crianças


Inicialmente, convém apontar que o socorrista não é o profissional capacitado
para diagnosticar abuso, devendo apenas identificar os indícios que levantam a suspeita
e transmiti-los à equipe do hospital. Sendo assim, no local, deve-se executar
primeiramente os procedimentos de auxílio ao paciente, deixando o relato de suas
suspeitas e as ações policiais para um segundo momento.
Todos os achados e a história colhida na cena devem ser anotadas na Ficha de
APH e transmitidas ao médico da unidade hospitalar de destino no momento da entrega
do paciente no hospital. Além disso, o fato deverá ser comunicado ao Comandante da
OBM, que deverá comunicar o fato às outras autoridades competentes.
DICAS PARA ABORDAR E MANIPULAR O PACIENTE
PEDIÁTRICO
Inicialmente, deve-se solicitar autorização dos pais ou responsáveis, se presentes,
para executar o atendimento. Durante a abordagem, o socorrista deve controlar suas
emoções e expressões faciais, mantendo calma e tranquilidade, e transmitir segurança às
crianças e aos pais. Se for necessário, o atendimento deve ser conduzido ajoelhado ou
sentado, e, no caso de criança muito pequena, pode ser realizado com esta no colo da
mãe ou responsável.
Durante a realização de cada procedimento, o socorrista deve explicá-lo aos pais e
ao paciente, com o objetivo de ganhar a confiança destes. Se for preciso, deve-se utilizar
um “objeto de transição”. Este objeto é um brinquedo adaptado para cada faixa etária e
utilizado de forma lúdica para interligar o mundo infantil com a necessidade de
atendimento da emergência pediátrica, aplicando a metodologia do “aponte onde dói”.
Com isto, o socorrista deve fazer com que a criança confie no seu procedimento,
observando o que segue:
1. Apresente o mascote à criança.
2. Peça para ela apontar um local que doa no mascote (não é necessário que o
paciente indique o mesmo local em que está sentindo dor).
3. Se possível, peça à criança segurar o mascote no colo.
4. Simultaneamente, os socorristas examinam o mascote e a criança.
5. Execute os procedimentos de bandagem ou imobilização do mascote.
6. Explique que irá fazer os mesmos procedimentos no paciente.
7. Permita que ele toque nos materiais que serão utilizados.
8. Durante o tempo que durarem os procedimentos, permita que o paciente cuide
do mascote, mantendo-o em seu colo.
Crianças podem ter dificuldades para aceitar alguns procedimentos, como
permanecer deitadas ou na colocação de máscaras de oxigênio sobre a face. O socorrista
deve explicar sobre a necessidade do procedimento, utilizando o objeto de transição se for
preciso.
Deve-se ter em mente que os procedimentos de imobilização, aplicação de
curativos, uso de bandagens e fixação na prancha (maca rígida) pediátrica, são similares
aos procedimentos utilizados em pacientes adultos.
Por fim, mantenha-se sempre atencioso e nunca minta, nem prometa nada para as
crianças que não possa cumprir. Como forma de recompensa, dê um presente (distintivo
ou certificado) ou cole na roupa da criança um adesivo institucional em troca do bom
comportamento, cooperação e coragem.

<ATENÇÃO> Lembre-se de que ao abordar um paciente pediátrico, não se deve assumir


uma postura infantil. Não altere seu timbre de voz e não minta ou prometa que não irá
doer. Explique para a criança o que irá ser feito.

PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS


Conceito
Todo paciente é especial, a partir do momento que necessita uma atenção
diferenciada, devido a uma característica particular que o distingue das demais pessoas.

Exemplos de pacientes com necessidades especiais


● Paciente cego;
● Surdo – Mudo;
● Que fala língua estrangeira;
● Com deficiência física;
● Com deficiência mental;
● Idoso;
● Com alteração de comportamento.

Um dos principais cuidados ao se lidar com pacientes especiais está na forma de


interagir com estes pacientes.
É fundamental que o socorrista mantenha sempre uma atitude atenciosa e bastante
profissional.

Dicas para facilitar o trabalho de comunicação


● Posicione-se sempre de maneira que o paciente possa vê-lo;
● Apresente-se e fale calmamente , utilizando palavras simples que o paciente
possa compreender;
● Mantenha contato olho - no – olho;
● Mantenha uma postura apropriada;
● Ouça o paciente com calma, dando tempo para que ele possa responder
suas questões.

COMO ATENDER PACIENTES ESPECIAIS

Os pacientes cegos
Pessoas que nascem privadas da visão são cegos congênitos, no entanto, existe
também a cegueira adquirida que é aquela devida a uma doença ou acidente ocorrido ao
longo da vida. Quando uma pessoa cega se envolve em um acidente, sua capacidade de
orientação se altera e por isso é muito importante que o socorrista lhe explique o que
houve e o faça entender o que aconteceu antes de iniciar o atendimento.

Tratamento pré hospitalar do paciente cego


● O atendimento pré hospitalar prestado aos pacientes cegos é o mesmo
daqueles pacientes que enxergam normalmente.
● Diga calma e antecipadamente ao paciente tudo o que vai fazer e você não
terá dificuldades no cuidado deste paciente.
● Lembre-se dessas recomendações ao lidar com portadores de deficiência
visual:
● Comunique-se em tom de voz normal (não grite com o paciente);
● Fale normalmente, usando as mesmas palavras que você usaria com um
paciente normal;
● Se precisar mover o paciente e ele puder caminhar, permita que ele se apoie
em seu braço (advirta sobre os perigos e não empurre, nem puxe o paciente
cego, apenas conduza-o);
● No momento do tratamento pré hospitalar, preste informações claras sobre
os equipamentos e, se possível, permita que o paciente os toque e
reconheça para tranquilizá-lo quanto aos seus procedimentos.
Dicas para conduzir um paciente cego
● Deixe que o paciente segure o seu braço, próximo ao cotovelo, isso fará com
que ele sinta os movimentos do seu corpo e tenha segurança para andar,
subir e descer escadas;
● Ao conduzi-lo para sentar-se, coloque sempre a mão direita do paciente no
encosto da cadeira e não tente sentá-lo empurrando seu corpo;
● Numa escada rolante, antes de chegar na escada, coloque a mão do
paciente no corrimão;
● Não saia de perto do paciente, ainda que rapidamente, sem antes comunicar
tal fato, para que ele não fique falando sozinho.

O paciente surdo ou surdos-mudos


Pessoas que não ouvem ou ouvem muito pouco são chamadas de surdas,
entretanto existem também os surdos-mudos que são aqueles que não ouvem e também
não falam.
Se uma pessoa não leva consigo um aparelho auditivo visível não há nenhuma
indicação aparente de que seja surda. Entretanto, seus procedimentos podem advertir
sobre sua condição, assim, apesar de seu aspecto atento, se a pessoa doente ou
acidentada não responder as perguntas formuladas pelo socorrista, poderemos supor que
ela sofre de uma incapacidade auditiva.

Tratamento pré hospitalar do paciente surdo


Para confirmar se uma pessoa é surda, o socorrista poderá confeccionar um cartão
com os dizeres “Você é surdo?” e apresentá-lo ao paciente.
Utilize novamente a técnica do cartão escrito para questionar como o paciente
surdo gostaria de comunicar-se com você (muitos deles conseguem ler o movimento dos
lábios, comunicar-se através da escrita e leitura, comunicar-se através do alfabeto dos
sinais ou ainda, através da linguagem dos sinais).
Se o paciente puder compreender o que você diz através da leitura dos
movimentos dos lábios, certifique-se de que seu rosto esteja iluminado e voltado para o
paciente enquanto você fala e comunique-se pausadamente.
Muitas pessoas surdas não estão treinadas para fazer a leitura labial, então os
melhores métodos a serem utilizados são a escrita e os gestos.
Observação: Algumas pessoas surdas podem falar claramente, outras falam com
dificuldade, prejudicando a compreensão e outras nem falam. Se o paciente surdo fala
com dificuldade, não finja entender (gesticule encolhendo os ombros e mostrando as
mãos com as palmas para cima em frente ao seu corpo, como se dissesse "Não entendi o
que você disse!”).

O paciente de língua estrangeira


Problemas de comunicação poderão surgir quando a área de atendimento do
Serviço de Atendimento pré hospitalar incluir comunidades onde habitam pessoas que não
falam a língua oficial do país, ou ainda, áreas turísticas, onde é grande o número de
visitantes estrangeiros.

Tratamento pré-hospitalar do paciente estrangeiro


De forma geral, ao encontrar pacientes que não falam seu idioma, o socorrista
deverá comunicar-se através de gestos e não tardar em solicitar auxílio de outros
integrantes de sua equipe ou de pessoas da família e testemunhas que possam ajudar na
comunicação e tradução das falas.
Os serviços de socorro poderão providenciar resumos traduzidos das principais
frases utilizadas pelos socorristas para facilitar a comunicação.

O paciente com deficiência física ou mental


O maior problema em lidar com pacientes que apresentam deficiência física, seja
ela nervosa, muscular ou esquelética, está na condução da avaliação física detalhada,
pois estes pacientes podem ter partes do corpo comprometidas ou não funcionantes.
Sempre que o socorrista encontrar uma área lesada, deverá questionar o paciente, no
sentido de averiguar se o problema já existia antes do acidente. O socorrista deverá reunir
o máximo de informações possíveis através de uma boa entrevista e do exame físico
detalhado.
Já alguns pacientes, por deficiência, não desenvolveram partes da função
neurológica e podem apresentar retardamento mental ou de desenvolvimento. Nessas
situações, sua principal tarefa como socorrista é estabelecer um processo de interação
com o paciente, que permita entender o que está acontecendo e como você poderá
ajudá-lo.
A identificação do retardo mental ou deficiência de desenvolvimento nem sempre é
uma tarefa fácil.
Mantenha a calma e, caso seja necessário, explique pausada e repetidamente cada
uma de suas ações e o que você quer que o paciente faça.
Finalmente, devemos entender que os pacientes com qualquer tipo de deficiência,
assim como a maioria das pessoas, gosta de ser independente, portanto, merece receber
o mesmo tratamento de um paciente normal.

Tratamento pré-hospitalar do paciente com deficiência


física ou mental
Avalie cuidadosamente o paciente e caso você suspeite que o paciente é portador
de alguma deficiência mental ou de desenvolvimento, trate-o da mesma forma como você
trataria qualquer outro paciente da mesma idade, no entanto, realize a entrevista e o
exame físico mais lentamente e esteja preparado para ações e respostas tardias.
Evite questionamentos mais elaborados, faça perguntas simples e objetivas (por
exemplo: Ao invés de dizer “Como você está se sentindo?”, apalpe e pergunte “Dói
aqui?”).
Observação: Cuidado para não confundir estes pacientes com outros pacientes sob
o efeito abusivo de álcool ou drogas ou que em função de um acidente apresenta-se
desorientado ou confuso.

O paciente idoso
Infelizmente, grande parte da população tende a pensar que as capacidades de
uma pessoa se medem de acordo com sua idade cronológica, entretanto, existem
pessoas que ainda não completaram 65 anos e já apresentam sinais de senilidade, são
doentes crônicos e apresentam completa dependência. Por outro lado, existem também
pessoas de 70, 80 e até 90 anos que se mantêm ativas, capazes e em bom estado de
saúde.
No desempenho de suas funções, socorristas serão chamados para atender
pacientes idosos de uma ou outra categoria. Nessas oportunidades, quando o paciente se
mostrar consciente, atento e interessado, atenda-o da mesma forma como faria com outro
paciente adulto. Se, pelo contrário, o paciente pelo envelhecimento apresentar perda de
memória ou desorientação em relação ao tempo-espaço-pessoa, sem dúvida, você terá
dificuldades de interação com o mesmo. De qualquer forma, a chave do sucesso na
interação com pessoas idosas é a paciência.

Tratamento pré-hospitalar do paciente idoso


● Apresente-se, solicite autorização para prestar o socorro e demonstre
respeito tratando o paciente pelo nome (por exemplo: senhor João ou
senhora Aparecida).
● Mantenha contato olho a olho e fale calma e diretamente ao paciente.
● Seja muito paciente, pois quando envelhecemos as palavras ficam mais
importantes.
● Não apresse a conversa.
● Se o paciente estiver acompanhado pelo cônjuge ou algum amigo mais
próximo, fique atento, pois devido a tensão causada pela situação você
poderá ter de atender outro paciente, normalmente devido a uma
emergência clínica. Seja amável e providencie apoio emocional para ambos.
Observação: Ao atender uma emergência envolvendo pessoas idosas não se
precipite, apesar da aparente gravidade da situação, você deverá ajustar suas perguntas e
ações à capacidade que o paciente demonstra para entender e responder. Esta forma de
atendimento, apesar de tomar mais tempo, se justifica pela transmissão de segurança e
confiança que poderão ser importantes na continuidade do atendimento.

O paciente com alteração de comportamento


Para auxiliar pacientes com alteração de comportamento, o socorrista deverá
observar atentamente as ações dessas pessoas, de forma a conseguir identificar seu real
estado e estabelecer um canal de comunicação com as mesmas.
Durante todo o atendimento é fundamental que o socorrista consiga identificar as
mensagens verbais e extra-verbais (além da comunicação verbal, devemos nos lembrar
que existe uma comunicação não verbal, através de gestos e expressões, que podem
dizer muito sobre uma pessoa), pois elas nos transmitirão valiosas informações sobre
nosso paciente.
Fique atento para o fato de que a capacidade de percepção desses pacientes
poderá estar alterada e esta maneira distorcida de interpretar a realidade poderá gerar
situações inesperadas ou de perigo para o próprio paciente ou para todos os demais que
estejam próximos dele (por exemplo: o paciente demonstra querer agredir o socorrista,
arregala os olhos com espanto e fala sozinho, demonstrando distúrbios de
sensopercepção – ilusões, alucinações ou delírios).
Lembre-se que a maioria dessas vítimas é carente de afeto, reconhecimento e
aceitação e reage com atitudes bem variadas, tais como de “chamar a atenção”, de
“inibição” ou até de “agressividade”.
Essas chamadas emergências emocionais podem ser resultado de uma doença, de
um acidente de origem traumática ou ainda, de alterações de comportamento causadas
por problemas independentes (neuroses, crises histéricas, depressões, psicoses,
problemas psiquiátricos, abusos de drogas ou álcool, etc.).
Os sinais externos que mais evidenciam essas emergências são: ansiedade,
tensão desagradável e inquietação, angústia, agitação motora, histeria, desmaios,
convulsões, gagueira, mudez, gritos de dor, amnésia, dupla personalidade, desânimo,
abatimento, choro sem motivo aparente, alterações de comportamento, confusão mental,
desorientação, crítica alterada, dentre outros.
Se o paciente apresentar uma atitude suicida, acione imediatamente a polícia local
e inicie contato somente se a situação for segura. Adote uma abordagem sem crítica e
mantenha o controle da situação. Não deixe o paciente só. Diga: “Estou aqui para
ajudá-lo.
Quero aliviar seu problema, como posso auxiliar?” Transmita uma expectativa
acerca do comportamento adequado e faça-o saber que existe ajuda à sua disposição.
Se um crime está ocorrendo ou se você suspeitar que um criminoso ou pessoa
perigosa ainda está no local da ocorrência, não aproxime-se, nem inicie o atendimento
sem antes acionar a polícia local e certificar-se de que a cena é segura.
A seguir, apresentamos alguns sinais de que o local da ocorrência não é seguro:
I - Gritos, sinais de luta, ruídos de vidros ou móveis se quebrando, ou ainda, sons
de tiros;
II - Armas visíveis em posse de pessoas próximas ao local;
III - Sinais indicativos de abuso de álcool ou drogas pelas pessoas presentes;
IV - Local escuro e muito quieto;
V - Endereço conhecido como local de violência e crime.

<<Atenção>> Em situações de risco elevado, recomenda-se o emprego de coletes


balísticos por parte dos socorristas!
Tratamento pré-hospitalar de pacientes com alteração de
comportamento
1) Fique atento para as condições de segurança durante a abordagem de pacientes
potencialmente perigosos (hiperativos, violentos ou suicidas).
2) Nunca bloqueie passagens ou coloque a vítima contra uma parede.
3) Quando se aproximar do paciente, comunique-se e deixe-o saber o que você irá
fazer antes de iniciar os procedimentos (entrevista, aferição dos sinais vitais, avaliação
física).
4) Tente acalmar o paciente e conquiste sua confiança antes de iniciar a avaliação
e o tratamento.
5) Avalie cuidadosamente a situação e elimine as possibilidades de um
comportamento alterado em função de emergências médicas ou traumas (AVC,
hipoglicemia, traumatismos de crânio, etc.).
6) Se perceber que o paciente é potencialmente perigoso e julgar necessário,
solicite ajuda de outros profissionais (equipes policiais, equipes médicas especializadas,
etc.).
7) Evite conter o paciente, pois esses procedimentos poderão ferir o paciente,
machucar a equipe de socorristas ou iniciar uma reação ainda mais violenta.
8) As ações de contenção deverão ser realizadas somente por pessoal treinado e
com apoio policial.

Recapitulando
Nessa lição estudamos as principais emergências pediátricas atendidas pelo
CBMSC. É importante que o socorrista consiga diferenciar os sinais vitais para cada
categoria de pacientes pediátricos.
Foi possível identificar as diferenças anatômicas e fisiológicas apresentadas pelos
pacientes pediátricos. A estratégia de se utilizar um objeto de transição como que permita
dialogar com o paciente pediátrico e obter informações que possibilitem identificar a
queixa principal. Por fim, sobre os pacientes pediátricos foram apresentados os padrões
de lesão esperados para diferentes tipos de trauma e as características do abuso de
crianças.
Depois entramos na lição de pacientes com necessidades especiais e descobrimos
que podem ser pacientes com diversos tipos de dificuldades, sejam elas visuais, auditivas,
de fala, físicas, mentais, relacionados à idade e com alterações de comportamento.
Após saber o tratamento de cada um dos tipos de pacientes especiais
apresentados, descobrimos que normalmente, os pacientes com alterações de
comportamento são os que podem apresentar mais perigos ao socorrista e que devem ser
tratados com a maior cautela possível.

Avaliação da lição
1. Diferencie as categorias utilizadas para distinguir os pacientes pediátricos.
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2. Identifique as diferenças anatômicas e fisiológicas dos pacientes pediátricos.
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3. Identifique corretamente o padrão de lesões esperado em um determinado tipo de
trauma.
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4. Cite três características que indicam o abuso de crianças.
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5. Cite três tipos de pacientes com necessidades especiais.
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6. Cite os maiores cuidados que devemos ter ao atender pacientes com distúrbio de
comportamento.
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PARTO EMERGENCIAL

FASES DO TRABALHO DE PARTO


Primeira Fase: Inicia com as contrações ritmadas e termina com a dilatação
completa do colo do útero (vontade espontânea de fazer força).
Segunda Fase: Inicia com a dilatação completa do colo do útero (momento em que
o feto está no canal de parto), junto à vontade espontânea de empurrar (fazer força - puxo
espontâneo), até o completo nascimento do feto. Na primeira gestação, este período pode
ter duração de duas a três horas. Em mulheres com partos anteriores, de uma a duas
horas.
Terceira Fase: Inicia-se após a expulsão do feto e finaliza com a completa
expulsão da placenta (dequitação biológica). A dequitação tem duração média de 30
minutos, podendo levar até 1 hora.
Quarta Fase: Inicia após a expulsão da placenta e termina após 1 hora de sua
saída. Esse período é o mais crítico em relação à hemorragia pós-parto. É o período em
que a puérpera deve ser avaliada atentamente a cada 15 minutos: Avaliar sangramento,
FC, PA, FR, Sat.O2 e temperatura).

TRABALHO DE PARTO
Antes de efetuar qualquer procedimento, o socorrista deverá realizar uma entrevista
com a parturiente e/ou acompanhante, extraindo o maior número de dados possíveis,
conhecer as particularidades da parturiente e determinar em que fase do trabalho de parto
ela se encontra. Com esses dados o socorrista poderá decidir a melhor conduta a tomar e
informar ao SEM.
Ao realizar a entrevista devemos abordar os seguintes aspectos:
● Qual o seu nome e idade?
● Qual a idade gestacional?
● Você realizou exame pré-natal? Qual o nome do seu médico? O que o médico diz
da sua gravidez? Ele espera parto normal ou há alguma complicação prevista?
● Existe algum problema de saúde prévio e gestacional?
● É o primeiro filho? (Se for primigesta, o trabalho de parto poderá demorar cerca
de 16 horas. O tempo de trabalho de parto será mais curto a cada parto
subsequente).
● Como está a movimentação fetal?
● Em que horas iniciaram as contrações?
● Já houve a ruptura da bolsa? Houve perda vaginal (líquidos ou sangramento)?
Qual horário de rompimento, quantidade de líquido, a cor do líquido?
● Sente pressão na pelve, vontade de evacuar ou sente o bebê saindo pela
vagina?
● Qual a frequência das contrações e duração?
O socorrista deve avaliar as contrações analisando o tempo de duração e o tempo
entre uma contração e outra. Quanto mais curto o intervalo, mais próximo está do parto.
Finalmente, o socorrista deverá pedir à parturiente para realizar uma avaliação
visual. Deve realizar a procura dos seguintes sinais: abaulamento perineal (apagamento
dos grandes lábios, espaço entre vagina e ânus abaulado), protrusão de anus, presença
de fezes, presença de partes fetais, presença de líquidos ou sangue.

<ATENÇÃO> Não há necessidade de avaliação ginecológica de todas as gestantes


atendidas pela equipe de socorristas. Apenas quando houver indicativos suficientes de
parto iminente, como coroamento, contrações com duração de 30 segundos a 1 minuto
em intervalos de 1 a 3 minutos é que será solicitado o preparo para avaliação
ginecológica.

<DESTAQUE> Se as contrações ficam mais intensas e duradouras (de 30 segundos a 1


minuto em um intervalo de 1 a 3 minutos), o parto é iminente e o socorrista deverá
preparar a parturiente e o ambiente para a realização do parto emergencial.

Se, após a entrevista e exame físico, o socorrista verificar que o parto é iminente,
deverá atuar conforme os itens abaixo:
1. Assegure a privacidade da parturiente, escolha um local apropriado (o melhor local
é a própria casa, ambiente aquecido e com mais espaço e privacidade).
2. Explique à mãe o que fará e como irá fazê-lo. Procure tranquilizá-la recordando
que o que está acontecendo é normal. Peça para que após cada contração relaxe,
pois isto facilitará o nascimento.
3. Posicione a parturiente para o parto emergencial. Sugira que a mulher encontre a
posição que a deixe mais confortável, desde que o socorrista consiga visualizar o
nascimento do bebê. A posição ginecológica (joelhos flexionados e bem separados
e os pés apoiados sobre a superfície que está deitada), apesar de oferecer melhor
visualização, poderá agregar mais riscos de complicações. As posições
verticalizadas (cócoras, quatro apoios, semi-sentada 45º) são as que mais
favorecem o nascimento fisiológico.
4. Caso a posição ginecológica seja confortável para a parturiente, coloque uma
almofada debaixo da cabeça ou mantenha a cabeceira da maca elevada,
observando os seus movimentos respiratórios.
5. Prepare o kit obstétrico e seu EPI (luvas estéreis, óculos, máscara e avental),
mantenha todo material necessário à mão.
6. Deixe à disposição lençóis, toalhas e cobertores limpos e secos. Coloque próximo
a abertura da vagina um lençol limpo.
7. Sinta as contrações colocando a palma da mão sobre o abdômen da paciente,
acima do umbigo.
8. Tente visualizar a parte superior da cabeça do bebê (coroamento).
9. Apoie a cabeça do bebê, colocando a mão logo abaixo da mesma com os dedos
bem separados. Apenas sustente o segmento cefálico, ajudando com a outra mão,
não tente puxá-lo.
10. Se o cordão estiver envolvendo o pescoço do bebê, libere-o com muito cuidado,
passando o cordão pela frente da face, e caso não seja possível, aguarde o
nascimento e desenrole o bebê com cuidado.
11. Geralmente a cabeça do bebê apresenta-se com a face voltada para baixo e logo
gira para a direita ou à esquerda. Aguarde o nascimento do bebê amparando-o.
12. Após o nascimento do bebê se a parturiente estiver verticalizada deite-a em uma
superfície limpa, seca e confortável.
13. Coloque o bebê sobre o abdome da mãe imediatamente após o nascimento.
Aqueça o bebê, dando ênfase ao pólo cefálico. Após, cubra mãe e bebê com panos
limpos, até que o bebê consiga manter uma temperatura corporal de 36,5 a 37,5ºC
(avaliar temperatura do bebê pelas costas ou tórax, caso não tenha termômetro).
14. O clampeamento do cordão deve ser realizado somente após todos os cuidados
com mãe e bebê e após este parar de pulsar (não deve ser uma urgência da
equipe).
<LEMBRE-SE> Além de possibilitar o contato pele a pele, sempre que possível o
socorrista deve estimular a amamentação precoce. Este procedimento além de
fortalecer o vínculo mãe e filho ainda estimula a contração uterina e diminui o risco
de sangramento excessivo.

TRATAMENTO PRÉ-HOSPITALAR DO RECÉM NASCIDO


Após o nascimento do bebê, o socorrista deverá direcionar sua atenção aos
cuidados pré hospitalares com o recém-nascido, atentando para a realização dos
seguintes procedimentos:
Limpar as vias aéreas usando gaze estéril.
Avaliar a respiração do bebê quanto a presença, qualidade e frequência respiratória
(observar a presença de careta, tosse, espirro e/ou movimentos respiratórios).
Estimular a respiração, se necessário, massageando com movimentos circulares a
região das costas e/ou a planta dos pés.
Aquecer o bebê recém-nascido envolvendo-o em manta própria ou um campo
estéril, mantendo-o pele a pele com a mãe (o corpo da mãe é a melhor fonte de calor para
o recém-nascido).
O clampeamento do cordão umbilical deve ser realizado após os cuidados com a
mãe e o bebê, quando o mesmo parar de pulsar.
Clampear o cordão umbilical, utilizando-se do clamp que se encontra no kit de
parto. O primeiro clamp deve estar há aproximadamente 25 cm (a medida de uma palma
da mão aberta) a partir do abdômen do bebê. O segundo, cerca de 5 cm (4 dedos) do
primeiro, e em direção ao bebê; Se não estiver com o kit, o socorrista não deverá
clampear o cordão!
O corte do cordão umbilical deve ser realizado, entre os dois clamps, com o bisturi
ou tesoura do kit obstétrico. Lembre-se de nunca soltar o clamp ou desatar o cordão após
tê-lo cortado, caso apresente sangramento, coloque outro clamp junto ao anterior.
Anote o nome da mãe, o sexo do bebê, a data, a hora e o lugar do nascimento e
fixe essas informações em uma pulseira de identificação que vem junto com o kit parto.

TRATAMENTO PRÉ-HOSPITALAR NO PÓS PARTO


Os cuidados devem ser voltados a aguardar a expulsão da placenta (dequitação
biológica), o controle do sangramento vaginal e fazer a mãe se sentir o mais confortável
possível. Para isto, o socorrista deve seguir os seguintes passos:
● A dequitação tem duração média de 30 minutos, podendo levar até 1 hora. O
socorrista deverá guardar a placenta em um saco plástico apropriado para
posterior avaliação pelos médicos, juntamente ao clamp. O cordão desce
progressiva e espontaneamente, portanto não tracione o cordão. O volume de
sangramento esperado em um parto normal é de 500 ml, volumes maiores que
esse devem ser considerados como hemorragia.

<LEMBRE-SE> A expulsão da placenta deve ser espontânea, não se deve tracionar o


cordão.

● Para controle do sangramento vaginal o socorrista deve usar um absorvente


higiênico ou material similar estéril. Caso não o socorrista não tenha absorvente
ou material estéril disponível, deve utilizar um pano limpo.
● Colocar o absorvente sobre a abertura vaginal. Não introduzir nada dentro na
vagina.
● Orientar para que a parturiente abaixe as próprias pernas e as mantenha juntas e
esticadas, sem apertá-las.
● Apalpar o abdome da mãe, abaixo do umbigo. Identificar a altura do útero (massa
globosa endurecida), caso não consiga identificar o fundo do útero, massagear o
abdômen fazendo movimentos circulares com o objetivo de estimular a contração
uterina e consequentemente a diminuição da hemorragia.
● Tranquilizar a mãe fazendo-a sentir-se o melhor possível e registrar em relatório
todos os dados da ocorrência.
● Transportar a mãe, o bebê e a placenta para o hospital.

Recapitulando
Nesta lição você aprendeu um pouco mais sobre o atendimento pré-hospitalar para
casos em que a guarnição se depara com ocorrência de parto emergencial.
Conheceu um pouco mais sobre a anatomia da mulher grávida e conceitos de
termos que serão utilizados com frequência em ocorrências desta natureza. Foram
apresentadas as fases do trabalho de parto e a conduta que deve ser adotada pelos
socorristas para atuar de forma colaborativa com a parturiente, permitindo o protagonismo
da mulher e que o parto ocorra de forma segura.
Após, foram repassados os procedimentos de tratamento pré hospitalar com o
recém nascido e os cuidados com a parturiente.

Avaliação da lição
1. Identifique as fases do trabalho de parto.
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2. Descreva os primeiros cuidados dados ao recém nascido.
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Limpeza e Desinfecção
Os microorganismos presentes no interior dos veículos de emergência
(equipamentos, materiais contaminados, superfícies e/ou o próprio paciente) podem ser
facilmente transmitidos, seja por contato direto ou por contato com uma superfície
contaminada, como já citado. Ao levarmos tudo isso em conta, os procedimentos de
limpeza e desinfecção mostram-se de vital importância na prevenção da contaminação,
seja dos profissionais, seja dos próximos pacientes que serão atendidos na viatura.

<ATENÇÃO> Lembre-se de sempre considerar que qualquer material não lavado está
contaminado.

Limpeza
A limpeza é o processo de retirada de sujidades e matéria orgânica, de artigos ou
superfícies, utilizando fricção mecânica com água, sabão com esponja, pano ou escovas,
em local apropriado para este fim (pia, recipiente, rampa de lavação).

Desinfecção
A desinfecção é o processo de destruição total ou parcial de microrganismos, de
artigos ou superfícies. Pode ser feita através de processos físicos (fricção) e/ou químicos,
com produtos desinfetantes, álcool, detergentes biológicos, etc. A desinfecção dos
equipamentos e das viaturas divide-se em duas formas: Concorrente e Terminal.
a) Desinfecção Concorrente envolve os procedimentos realizados após cada
atendimento, que de modo geral é aplicado somente aos materiais e superfícies que
tiveram contato direto com o paciente.
b) Desinfecção Terminal abrange os procedimentos realizados de forma
completa, em todas as superfícies e materiais expostos, sempre que houver a suspeita de
atendimento a paciente com doença infecto contagiosa, situações adversas como
respingos de sangue, vômito, liberação de esfíncter. Também deve ser realizada de forma
periódica/preventiva, através de um cronograma, preferencialmente semanal. Durante sua
realização, o veículo deverá ser retirado do trem de socorro (viatura fica baixada), de
forma a permitir que todos os procedimentos sejam realizados de forma completa.
Normalmente, o tempo necessário para a desinfecção completa é de duas a três horas.
As superfícies fixas (piso, parede, teto, portas, janelas, mobiliários e demais
instalações) não representam grande risco de contaminação quando não houver
atendimento de paciente com suspeita de doença infecto contagiosa, não houver
respingos ou deposição de material orgânico. De forma a adotar um processo racional na
limpeza da viatura, deve-se utilizar a seguinte sequência para desinfecção terminal:
1. De cima para baixo: Teto > Paredes internas > Piso.
2. De dentro para fora: Parte dianteira > Parte traseira.
E para garantir a limpeza correta, deve-se proceder da seguinte forma:
- Remover excessos de sujidade, com panos velhos ou papel toalha. Desprezar o
pano ou papel em saco de lixo contaminante;
- Aplicar o agente desinfetante nos locais onde houver respingos ou deposição de
materiais e deixar agir por pelo menos 10 minutos;
- Remover o agente desinfetante com panos velhos ou papel toalha e
posteriormente descartar em saco de lixo contaminante;
- Lavar e esfregar com água e sabão neutro;
- Enxugar com panos limpos;
- Limpar, desinfetar e mudar o lado do colchão da maca retrátil. Trocar os lençóis e
fronhas a cada uso.
- Após concluídos os procedimentos, manter abertas portas e janelas para a
ventilação e entrada de luz solar.
É importante enfatizar que no processo de construção da viatura, esta deve
permitir que o seu interior seja lavado com bastante água, sem permitir com que esta se
acumule embaixo do mobiliário.

Limpeza e desinfecção de materiais e equipamentos


Você já parou para pensar na frequência em que os equipamentos precisam ser
higienizados? Os procedimentos de limpeza e desinfecção realizados nos equipamentos
utilizados nos atendimentos devem ser realizados em ambiente adequado e de uso
exclusivo para tal atividade. Panos, esponjas, escovas e recipientes utilizados na
assepsia não devem ser compartilhados para outros usos, como limpeza de outros
ambientes do quartel. Deve-se proceder da seguinte forma:
- remover excessos de sujidade, com panos velhos ou papel toalha. Desprezar o
pano ou papel em saco de lixo contaminante;
- lavar e esfregar com água e sabão neutro;
- submergir em recipiente com mistura de água e agente desinfetante (hipoclorito,
água sanitária, detergente enzimático) ou quando não for possível submergir (Ex.: maca
rígida), aplicar o agente desinfetante no equipamento e deixar agir por pelo menos 10
minutos;
- enxaguar com água potável e corrente e deixar secar naturalmente, secar com
uso de panos limpos ou em secadora de ar quente (salvo materiais contra indicados);
- friccionar com pano embebido em álcool 70%;
- após submeter os equipamentos aos procedimentos, estocá-los em local limpo,
livre de umidade e poeira, preferencialmente em armário fechado.

Resíduos contaminantes dos serviços de saúde


Em nossos atendimentos e posteriormente nos procedimentos de limpeza dos
materiais e viaturas, produzimos resíduos infectantes, os quais contêm sangue, secreções
e demais materiais orgânicos procedentes dos pacientes. Como devemos destiná-los?
Estes resíduos devem ter seu correto recolhimento e destinação. Os mesmos
devem ser acondicionados em sacos de lixo hospitalar (branco leitoso), identificado pelo
símbolo de substância infectante conforme norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
Procure sempre remover o saco de lixo quando, após algum atendimento, houver
resíduos, ou diariamente de forma a evitar o acúmulo. Os sacos com esses resíduos
devem ser destinados a empresas que atuem no recolhimento e destinação correta ou
deixados no hospital quando for acordado com o mesmo.

<ATENÇÃO> Lembre-se de sempre utilizar os EPI adequados para manusear


material contaminado.

Recapitulando
Nesta lição você aprendeu um pouco mais sobre limpeza e desinfecção,
entendendo como deve ser a maneira de realizá-las.
Desse modo, chegamos ao término do aprendizado sobre atendimento
pré-hospitalar. É claro que, o tema ainda é bem extenso, porém você deve praticar o
aprendizado e buscar maiores conhecimentos nos manuais que tratam do assunto.

Avaliação da lição
1. Descreva corretamente os procedimentos de limpeza concorrente e terminal utilizados
no ASU
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Referências
● NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. PHTLS - Atendimento pré-hospitalar
ao traumatizado. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020. 762 p.
● SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA (SAMU) DE SANTA CATARINA. Manual de
Desinfecção e Biossegurança. Florianópolis, 2006. Disponível em:
https://www.docsity.com/pt/manual-de-desinfeccao-de-artigos-no-atendimento-movel-de-urgencia/4715215/.
Acesso em: 30 set. 2020.
● ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS). Higienização correta das mãos é fundamental
para garantir segurança do paciente. OPAS Brasil, 2016. Disponível em:
● https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5077:higienizacao-correta-das-maos
-e-fundamental-para-garantir-seguranca-do-paciente&Itemid=812. Acesso em: 10 mar. 2021

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