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PROCESSO

Desenvolvimento de
produtos e análise sensorial
Liane Maria Vargas Barboza *, Renato João Sossela de Freitas, Nina Waszczynskyj

O desenvolvimento de
novos produtos é uma
atividade de vital impor-
aparência, odor, sabor,
textura, consistência e a
interação dos diferentes
tância para a sobrevivên- componentes, com a fi-
cia da maioria das empre- nalidade de alcançar um
sas. A renovação contí- equilíbrio integral que se
nua de seus produtos é traduza em uma qualida-
uma política generaliza- de excelente e que seja
da no âmbito empresari- de boa aceitabilidade
al (PENNA, 1999). (PENNA, 1999).
O desenvolvimento de A NBR 12806 define
produtos está em estreita análise sensorial como
relação com as necessida- uma disciplina científica
des e tendências ou mo- usada para evocar, medir,
das de consumo da massa analisar e interpretar re-
consumidora, o que traz ações das características
como conseqüência a ne- dos alimentos e materi-
cessidade de respostas ais como são percebidas
rápidas das indústrias de alimentos às de inovação, bebidas não alcoólicas pron- pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato
mudanças do mercado consumidor tas para beber, como suco de laranja pas- e audição (ABNT, 1993a).
(PENNA,1999). A indústria de alimentos teurizado, chás e isotônicos ganham a As percepções sensoriais dos alimentos
no Brasil nunca lançou no mercado tan- preferência dos consumidores, pela são interações complexas que envolvem
tos produtos novos como vem ocorrendo praticidade de consumo. estes cinco sentidos. No caso o sabor, é
nos últimos anos. Em virtude de fatores Em adição ao sabor e satisfação, re- usualmente definido como impressões sen-
como o desenvolvimento tecnológico, frescantes bebidas podem oferecer um soriais que ocorrem na cavidade bucal,
crescimento da concorrência externa, fácil e único sistema de transferência de como resultado do odor e vários efeitos
licenciamento de marcas importadas, vitaminas, minerais e outros ingredien- sensoriais, tais como frio, queimado,
competitividade do setor e da exigência tes que têm propriedades preventivas de adstringência e outros (GEISE, 1995).
do consumidor que incorporou novos va- doenças (GIESE, 1995). O objetivo da avaliação sensorial é de-
lores às suas preferências, as prateleiras A avaliação sensorial intervém nas tectar diferenças entre os produtos basea-
dos supermercados recebem diariamente diferentes etapas do ciclo de desenvolvi- do nas diferenças perceptíveis na intensi-
novos produtos (ATHAYDE, 1999). mento de produtos; como na seleção e ca- dade de alguns atributos (FERREIRA et al.,
O consumidor tende a se tornar mais racterização de matérias primas, na sele- 2000). Contudo, conforme o produto o
seletivo e exigente na hora de optar pe- ção do processo de elaboração, no estabe- atributo sensorial e finalidade do estudo,
las marcas à sua disposição. Em virtude lecimento das especificações das variáveis existem recomendações de métodos, refe-
disso, as indústrias precisam inovar ou das diferentes etapas do processo, na rindo a NBR 12994, que classifica os mé-
desenvolver produtos que antecipem es- otimização da formulação, na seleção dos todos de análise sensorial dos alimentos e
sas necessidades para surpreender o con- sistemas de envase e das condições de bebidas em discriminativos, descritivos e
sumidor e ganhar mercado na frente da armazenamento e no estudo de vida útil subjetivos (ABNT, 1993b).
concorrência (ATAYDE, 1999). do produto final (PENNA, 1999). Os métodos discriminativos estabele-
Existem importantes vantagens na di- Um alimento além de seu valor nutriti- cem diferenciação qualitativa e/ou quan-
ferenciação de produtos através de mar- vo deve produzir satisfação e ser agradá- titativa entre as amostras e incluem os
cas, patentes de desenho, sistemas de vel ao consumidor, isto é resultante do testes de diferença e os testes de sensi-
comercialização. Sob estas perspectivas equilíbrio de diferentes parâmetros de qua- bilidade (ABNT, 1993b). São testes em que
lidade sensorial. Em um desenvolvimento não se requer conhecer a sensação subje-
Universidade Federal do Paraná. Programa
* de um novo produto é imprescindível tiva que produz um alimento a uma pes-
de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos. otimizar parâmetros, como forma, cor, soa, mas apenas se deseja estabelecer se

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existe diferença ou não entre duas ou mais no qual uma amostra conhecida é apre-
amostras e, em alguns casos, a magnitu- sentada (WASZCZYNSKYJ, 1997).
de ou importância dessa diferença A análise sensorial é uma ferramen-
(ANZALDÚA-MORALES, 1994). ta-chave no desenvolvimento de produ-
São testes muito usados para seleção tos. Os testes necessários devem ser
e monitoramento de equipe de julga- aplicados conforme os critérios do pro-
dores, para determinar se existe diferença duto que se deseja avaliar.
devido à substituição de matéria-prima, Um bom planejamento dos testes,
alterações de processo devido à embala- uma criteriosa seleção dos julgadores e
gem ou ao tempo de armazenamento uma correta interpretação dos testes são
(FERREIRA et al., 2000). fatores muito importantes para obter
O teste de comparação múltipla é um respostas confiáveis.
teste descritivo, utilizado para avaliar a di- O laboratório de análise sensorial deve
ferença e o grau de diferença em relação a conter: cabines individuais, para aplicação
um controle, no qual uma amostra conheci- dos testes, deve ser limpo, livre de ruídos e
da é apresentada (WASZCZYNSKYJ, 1997). odores e apresentar área com boa ventila-
Os métodos descritivos podem ser tes- ção e iluminação (FERREIRA et al., 2000)..
tes de avaliação de atributos (por meio de O sucesso da análise sensorial depende
escalas), perfil de sabor, perfil de textura, do profissional em análise sensorial, bem
análise descritiva quantitativa - ADQ e tes- como da gerência da empresa e de um pro-
te de tempo-intensidade (ABNT, 1993b). grama de motivação para participação de
Nos testes descritivos procura-se defi- julgadores na equipe sensorial.
nir as propriedades do alimento e medi-las
da maneira mais objetiva possível. Aqui não são selecionados para representar uma Referências
são importantes as preferências ou aver- população alvo (IFT, 1981).
sões dos julgadores, e não é tão importan- Os testes afetivos são uma importan- ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
NICAS. NBR 12806: análise sensorial dos alimentos
te saber se as diferenças entre as amos- te ferramenta, pois acessam diretamen-
e bebidas - terminologia. Rio de Janeiro, 1993a.
tras são detectadas, e sim qual é a magni- te a opinião do consumidor já estabele-
tude ou intensidade dos atributos do ali- cido ou potencial de um produto, sobre ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
mento (ANZALDÚA-MORALES, 1994). características específicas do produto ou NICAS. NBR 12994: análise sensorial dos alimentos
e bebidas. Rio de Janeiro, 1993b.
Na avaliação de atributos dos produ- idéias sobre o mesmo, por isso são tam-
tos alimentícios utilizam-se escalas, que bém chamados de testes de consumidor ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
determinam a grandeza (intensidade da (FERREIRA et al., 2000). NICAS. NBR 13170: teste de ordenação em análise
sensação) e a direção das diferenças en- As principais aplicações dos testes afetivos sensorial. Rio de Janeiro, 1994.
tre as amostras, e através das escalas é são a manutenção da qualidade do produto, ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
possível saber o quanto as amostras dife- otimização de produtos e/ou processos e NICAS. NBR 14141: escalas utilizadas em análise sen-
rem entre si e qual a amostra que apre- desenvolvimento de novos produtos. sorial de alimentos e bebidas. Rio de Janeiro, 1998.
senta maior intensidade do atributo sen- A escala hedônica é usada para medir o ANZALDÚA-MORALES, A. La evaluación sensori-
sorial que está sendo medido. nível de preferência de produtos alimentí- al de los alimentos en la teoría y la práctica.
O perfil de características é um teste cios por uma população, relata os estados Zaragoza: Acribia, 1994. 198p.
que avalia a aparência, cor, odor, sabor e agradáveis e desagradáveis no organismo.
ATHAYDE, A. Indústrias agregam conveniências
textura de um produto comercializado ou A escala hedônica afetiva mede o gostar aos novos produtos. Engenharia de Alimentos, São
em desenvolvimento. É amplamente re- ou desgostar de um alimento. A avaliação Paulo, n. 24, p. 39-41, 1999.
comendado em desenvolvimento de novos da escala hedônica é convertida em esco-
produtos, para estabelecer a natureza das res numéricos e analisados estatisticamen- FERREIRA, V. L. P.; ALMEIDA, T. C. A. de;
PETTINELLI, M. L. C. de V.; SILVA, M. A. A. P. da;
diferenças entre amostras ou produtos, em te para determinar a diferença no grau de CHAVES, J. B. P.; BARBOSA, E. M. de M. Análise sen-
controle da qualidade (TEIXEIRA, MEINERT preferência entre amostras (IFT, 1981; sorial: testes discriminativos e afetivos. manual:
e BARBETTA, 1987). LAND e SHEPHERD, 1988; ABNT, 1998). série qualidade. Campinas, SBCTA, 2000. 127p.
Em certos produtos alimentícios, o efeito O teste de ordenação é um teste no GEISE, J. Developments in beverage additives. Food
do tempo na liberação das características qual uma série de três ou mais amostras Technology, Chicago, v. 49, n.9, p. 64-72, set. 1995.
sensoriais (do aroma, gosto, textura e mes- são apresentadas simultaneamente. Ao
mo as sensações térmicas) têm impacto sig- provador é solicitado que ordene as amos- IFT. INSTITUTE OF FOOD TCHNOLOGISTS. Sensory
evaluation guide for testing food and beverage
nificativo na preferência do consumidor. tras de acordo com a intensidade ou grau products. Food Tecnhology, Chicago, v. 35, n. 11, p.
Os testes afetivos são usados para ava- de atributo específico (ABNT, 1994, 50-57, nov. 1981.
liar a preferência e/ou aceitação de pro- WASZCZYNSKYJ, 1997).
LAND, D. G.; SHEPHERD, R. Scaling and ranking
dutos. Geralmente um grande número de O teste de comparação múltipla é uti-
methods. In: PIGGOTT, J. R. Sensory analysis of
julgadores é requerido para essas avalia- lizado para avaliar a diferença e o grau foods. New York: Elsevier Applied Science, 1988.
ções. Os julgadores não são treinados, mas de diferença em relação a um controle, p. 155-170. v
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