Você está na página 1de 10

INTRODUÇÃO

Por Quadro, Painel, ou Tapete de Loj.: entende-se a representação gráfica colocada, na


maior parte dos ritos maçónicos, no centro do T.:, sobre o pavimento de mosaico.
Neste quadro alegórico encontram-se plasmados os símbolos associados ao grau a que
se reportam os trabalhos em curso.

Este elemento de decoração do T.: simboliza a Loj.:, é um dos símbolos presentes na


Loj.: e, constitui uma verdadeira “caixa de ferramentas” simbólicas de elevado valor
pedagógico, no desenvolvimento do trabalho maçónico.

Muito embora existam evidencias da sua utilização em Inglaterra, na tradição da


Grande Loj.: dos Modernos, é na Maçonaria Continental oitocentista que se encontra a
verdadeira génese do Quadro de Loj.:, na sua conceção atual. Assim:

Figura 1 – “Catéchisme des franc-maçons” de Leonard Gabanon, 1744


Na mais antiga divulgação publicada em França, datada de 1737 e, denominada
“Recepcion d’un frey-maçon”, documento este transcrito do relatório do tenente de
polícia Herault, elaborado com base em informações recolhidas por Mle. Carton,
corista da Opera de Paris, encontra-se a referência “em volta de um espaço delimitado
sobre o pavimento, onde se desenhou a giz uma espécie de representação, sobre duas
colunas do átrio do T.: de Salomão”.

Em 1744 o “Catéchisme des franc-maçons” de Leonard Gabanon (pseudónimo de Louis


Travenol) para além de incluir reproduções de um “Plano da Loj.: para a recepção de
um Apr.:-Companheiro” e, de um “Plano de Loj.: para a recepção de um Mestre”
apresenta uma série de gravuras, que ilustram a realização das cerimónias de iniciação
e, de exaltação, confirmando a descrição de Herault.

Em 1745 a exposição “L’Ordre des franc-maçons trahi et le secret des mopses révélé”,
reproduz igualmente modelos de Quadros de Loj.: para os mesmos graus, precisando
que “o que se denomina propriamente a Loj.:, quer isto dizer as figuras desenhadas
sobre o pavimento nos dias de recessão deve ser desenhado a giz literalmente e não
pintado sobre uma toalha que se guarda expressamente para estes dias em algumas
Loj.:s”.

De toda esta informação e, em especial, das gravuras de Léonard Gabanon, ressalta


que a importância do Quadro de Loj.: era, à época, marcante na realização das
cerimónias maçónicas.

Verdadeiro polo estruturante da vida e, da circulação na Loj.:, o Painel constituía-se


como imagem-arquétipo, simbolizando o estaleiro de construção do T.: de Salomão.

O Quadro transportava, pois, para um espaço e, um tempo, que religavam a Loj.: à


existência da sua origem mítica e, permitia um suporte catequético para um trabalho
didático, o qual fruto das reflexões e, contribuições interpretativas de sucessivas
gerações de Irmãos, deu origem ao que hoje se designa de Simbólica Maçónica.
PAINEL ALEGÓRICO x PAINEL SIMBÓLICO

O Painel da Loj.: de Apr.:, simbolicamente representa três grandes colunas,


denominadas Sabedoria, Força e Beleza, representando o T.: de Salomão.
Alegoricamente significa o trabalho em cima da Pedra Bruta, desbastando-a até que
seja transformada em Pedra Polida.

PAINEL SIMBÓLICO: É o conjunto de símbolos, joias e alegorias do grau.

PAINEL ALEGÓRICO: O painel alegórico é mais sugestivo e é também conhecido por


“tábua de traçar”

Todos os três Graus Simbólicos têm, cada um dos painéis. Um é simbólico, com o
nome de Painel do Grau de Apr.:, Comp.: M.: ou M.: M.:, colocado no Ocidente. O
outro é alegórico, com o nome de Painel da Loj.: de Apr.:, Companheiro ou Mestre,
devendo ser apresentado quando for dada a Instrução explicativa sobre ele. A
diferença principal entre os dois Painéis está em que, no Painel do Grau, estão nele
figurando os símbolos ornamentais, as Joias fixas e móveis, ao passo que, no Painel da
Loj.:, os símbolos nele refletidos são alegóricos e constituem-se em objeto específico
das Instruções. Assim e p. ex., na Primeira Instrução de Apr.:, o que nela se objetiva é a
explicação do Painel Alegórico da Loj.: de Apr.:, e não o Painel Simbólico desse Grau.

“O painel do Grau de Apr.: reflete, em seu simbolismo, os rudimentos constitutivos da


filosofia maçônica de aperfeiçoamento moral do ser Humano e aponta ao Apr.: o
caminho a ser trilhado no primeiro estágio de sua infância, através do trabalho, da
observação, da eliminação de seus defeitos e vaidades, até a consecução do domínio
de si mesmo.”

“No Painel estão condensados todos os símbolos e alegorias que se fazem mister para
a compreensão de transmutação da matéria prima bruta em matéria elaborada,
objetivo do Aprendizado do iniciado."
O PAINEL E O CULTO DIVINO

Contendo forte elo com aspectos ligados a ideia de divino, principalmente aqueles
mais reconhecidamente adotados na filosofia católica-apostólica-romana, temos
elementos reconhecidamente abordados no L.: da L.:

Dentre algumas alusões temos a própria formatação da Loj.: que se dispõe de Leste a
Oeste pois todos os lugares de Culto Divino, todos os antigos Templos e todas as LLoj.:
Maçônicas regularmente constituídas, assim se encontram por três razões:

1. Porque o Sol, que é a maior Glória do Senhor, nasce a Leste e se oculta no


Oeste;
2. Porque a Civilização e a Ciência nos vieram do Or.:, espalhando a sua benéfica
influência para o Oc.:;
3. Porque a Doutrina do Amor e da Fraternidade, o exemplo do cumprimento da
Lei, também nos vieram do Or.:, por intermédio do nosso Divino Mestre.

Outro elemento concernente ao forte apego ao divino, assenta-se no Princípio Criador,


o Todo-Poderoso que chamamos de G.:A.:D.:U.:, tamanha é a influência dos elementos
divinos que nos deram conhecimento (afinal somos imagem e semelhança do Princípio
Criador - Gênesis 1:26–27), que fomos dotados de elementos construtivos
(ferramentas) e interpretativos (capacidade cognitiva).

Neste contexto temos que o principal papel do Apr.: M.: em sua primeira instrução é
entender as alegorias expostas no Painel Alegórico, traçando parâmetros que
explicitam a Moral Maçônica, aperfeiçoando-se dia após dia, nos alicerces basilares
representados pelos pilares que remetem aos ideais divinos de Sabedoria, Força e
Beleza.

Estes elementos possuem seus conceitos ligados a sua natureza precípua quando
tratados isoladamente, desta forma, a Sabedoria nos serve como ferramenta de
orientação e que nos enveredará pelas trilhas de toda nossa jornada enquanto seres
sociais; já a Força nos serve para manutenção do nosso vigor enquanto embarreirados
momentaneamente pelas dificuldades no decorrer de nossa jornada, em alguns
momentos remetendo-se ao ideal de resiliência; por fim, a Beleza tem o condão de
aperfeiçoar nossas ações, devendo, enquanto criaturas atinentes à prática das boas
obras, buscar o aperfeiçoamento em sua execução, escoimando as práticas desleixadas
enquanto OObr.: e enquanto IIr.:

Reunidos esses elementos remetem ao ideal do Divino, na medida em que quando


vemos o L.: da L.: temos que a perfeição do G.:A.:D.:U.: se revela através de suas obras,
sendo estas assim classificadas:
Salmos 104:24
Quão numerosas são as tuas obras, ó SENHOR! Fizeste-
as todas com perfeita sabedoria. A terra está repleta de
tuas criaturas.’

Isaías 28:29
Todo esse conhecimento vem da parte de Yahweh dos
Exércitos, magnífico em conselhos e maravilhoso em
sabedoria!

Isaías 45:7
Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a
desgraça; eu, o Senhor, faço todas essas coisas.

Mateus 19:26
Jesus olhou para eles e respondeu: "Para o homem é
impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis".

Dentre outros tantos exemplos que podemos extrair do L.: da L.:, estes nos parecem os
mais relevantes para termos uma noção dos elementos constitutivos do ideal de
perfeição Divina.

Superada a ideia de perfeição Divina, que iminentemente nos parece inalcançável pela
expressão máxima de sua definição conceitual que nos remete sempre ao Princípio
Criador, o Apr.: M.: deve iniciar sua jornada sempre desenvolvendo sua Moral
Maçônica junto aos degraus representados pela Escada de Jacó.

Esta alegoria possui forte ligação simbólica com o ideal de caminho, jornada, trilha...
A Escada de Jacó representa a jornada do Maçom na sua constante busca pela
perfeição Divina. E logo na sua base encontramos o primeiro símbolo representativo
(cruz) que remete a ideia de Fé.

A Fé como elemento de composição da jornada do Maçom, remete ao ideal de


acreditar que a nossa jornada não é e jamais será em vão, sempre objetivando a
conclusão do nosso trabalho e objetivo (tornar feliz a Humanidade, pelo amor, pelo
aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à
autoridade e à crença de cada um). A Fé nos guia enquanto Maçom a crer que nosso
objetivo maior é alcançável e possível.

O Apr.: M.: deve ser permeado desse primeiro elemento da Escada de Jacó para que
permaneça resiliente na sua jornada.

O segundo elemento é a âncora que nos reporta a Esperança que devemos nos ater
enquanto Maçons. A Esperança de que a cada passo dado, uma meta é alcançada, uma
evolução é conquistada. A Esperança é um elemento crucial de fortalecimento e
engrandecimento intelectual e espiritual. É mais um elemento de resiliência que, uma
vez empreendido com a Fé, tornam o Maçom um baluarte inabalável e invencível ante
as adversidades impostas em sua jornada.

Por fim, um cálice permeia a proximidade do topo da Escada de Jacó. Esta alegoria
remete a Caridade. Importante elemento da jornada do Maçom, este elemento nos
exprime que a mesmo com Fé e Esperança, nosso objetivo de tornar feliz a
Humanidade se assenta em nossas obras. E muitas dessas obras são dotadas de
Caridade, que é a expressão máxima da Moral Maçônica.
Tiago 2:14-17
Meus irmãos, que interessa se alguém disser que tem fé
em Deus e não fizer prova disso através de obras? Esse
tipo de fé não salva ninguém. 15 Se um irmão ou irmã
sofrer por falta de vestuário, ou por passar fome, e lhe
disserem: “Procura viver pacificamente e vai-te
aquecendo e comendo como puderes”, e não lhe derem
aquilo de que precisa para viver, uma tal resposta fará
algum bem? Assim também a fé, se não se traduzir em
obras, é morta em si mesma.

Pois assim é a expressão da Fé e Esperança maçônica que se reporta a felicidade da


Humanidade através da Caridade.

No topo da Escada de Jacó temos a Estrela Flamígera que nos remete a simbologia da
Luz, da Glória do Criador. A Estrela Flamígera está alocada logo acima do topo da
Escada de Jacó e imediatamente acima do cálice que representa a Caridade,
importando-nos experimentar da melhor virtude que permeia o ideal de Moral
Maçônica que é a Caridade. Assim, podemos concluir que nos sentimos mais próximos
do Princípio Criador quando transferimos, com Fé e Esperança, o poder da Caridade
que nos permite agraciar aos mais necessitados sem esperar nada em troca.

Por último, nos parece razoável registrar quatro borlas colocadas nos extremos da Loj.:
que nos lembram as quatro virtudes cardeais inerentes a todo Maçom: Temperança,
Justiça, Coragem e Prudência. Enquanto elementos característicos de todo Maçom,
temos a Virtude, a Honra e a Bondade.

Por serem elementos auto explicativos, prefiro me ater a sua ligação não somente com
a Moral Maçônica, mas com a estrutura que vincula o Maçom enquanto ser social que
busca distinção e aperfeiçoamento contínuo, detalhando as categorias de virtudes
maçônicas: as teologais e as cardinais.

VIRTUDES TEOLOGAIS E CARDINAIS

Tendo a Maçonaria Operativa nascido no ambiente católico medieval, por volta do


século XIII e XIV, (segundo os poucos documentos históricos existentes como a Carta
de Bolonha de 1248 dC e o Poema Régio de 1390), consideramos que os conceitos de
virtudes, na maçonaria, podem ter sido influenciados por qualquer dos conceitos
então existentes, agrupando nas duas categorias estudadas:
As Teologais (que vem do G∴A∴D∴U∴) FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE; E as Cardinais (que
vem do Homem) PRUDÊNCIA, JUSTIÇA, FORTALEZA E TEMPERANÇA.

Em linguajar maçônico podemos entender as virtudes da seguinte forma:

Fé: através dela, os maçons creem no G∴A∴D∴U∴, nas suas verdades reveladas e nos
ensinamentos que recebe, visto que o G∴A∴D∴U∴ é considerado a própria Luz e
Verdade (revelada pela linha desenhada pelo Compasso).

Esperança: por meio dela, os maçons esperam a nova vida no Or.´. Et.´., colocando a
sua confiança perseverante em sua filosofia de vida gnóstica (pelo uso do esquadro);

Caridade (ou Amor Fraternal): através dela, o maçom solidariza-se e auxilia seu
próximo independente de ser um irmão ou um profano (pelo uso da Trolha);

Prudência: por ela o maçom utiliza a razão para discernir em todas as circunstâncias o
verdadeiro bem e a escolher os justos meios para atingi-lo (com o cinzel).

Justiça: que é a constante e firme vontade de bem medir e dar aos outros o que lhes é
devido (pelo uso do nível e do prumo);

Fortaleza: que assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem


(pelo uso do Maço);

Temperança: que modera o tempo investido pelo maçom entre o lazer, do trabalho, o
descanso, a cunhada, os filhos, os estudos, os irmãos, à sua própria saúde e assegura o
domínio da razão e da vontade sobre os instintos, proporcionando equilíbrio e
harmonia em sua vida (pelo uso da régua de 24 polegadas).

Podemos imaginar que a pedra cúbica, encimada pela pirâmide na qual trabalham os
Maçons, pode ser símbolo das três virtudes espirituais sobre as quatro virtudes
comportamentais que tanto almejamos na busca do auto-aperfeiçoamento.
Persisto com a visão de que as virtudes acabam por libertar o homem, pois em meio a
instabilidades que nos cercam e iludem com prazeres impermanentes e irreais, o
caminho restrito de nós (os Aceitos) não é fácil de percorrer, mas o auto-
aperfeiçoamento, a moral e os bons costumes nos mostram que este é o único
caminho que pode nos transformar realmente de seres Profanos a Sagrados.

Deixemos os textos de lado e continuemos galgando estes degraus, meus irmãos.

Pois como se lê no L∴ da L∴, em Coríntios 4:20 “o reino de Deus não consiste em


palavras, mas nas Virtudes.

CONCLUSÃO

Neste diapasão, temos que a construção da Moral Maçônica, base fundamental para
todo e qualquer Apr.: M.: e que será o objetivo central de seu aperfeiçoamento
enquanto Maçom, é permeado de elementos que o vinculam ao Divino e que sempre
deverão nortear sua jornada e sua tomada de decisões enquanto busca evoluir como
Maçom. Afinal, o objetivo maior da nossa Aug.: e Resp.: Instituição é tornar feliz a
Humanidade e como toda construção, esta depende de bases fortes e imponentes,
capazes de trespassar a ação do tempo e as intempéries. E como pilares da Moral
Maçônica, devemos estar sempre pautados no que é mais contundente que é a ideia
de Divino: a perfeição.
REFERÊNCIAS

http://iblanchier3.blogspot.com/2017/11/o-painel-simbolico-da-loja-de-aprendiz.html

https://enilsonmar.blogspot.com/2016/10/perguntas-e-respostas-xix-paineis-do.html

https://bibliot3ca.com/2020/08/08/o-quadro-de-loja-de-aprendiz-no-reaa-historia-e-
simbolismo/

https://focoartereal.blogspot.com/2019/03/as-virtudes-e-maconaria.html

Grande Loja do Estado do Maranhão. Ritual do Aprendiz. Rito Escocês Antigo e Aceito, 1928.

Você também pode gostar