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INTRODUÇÃO

O turismo brasileiro consolida-se cada vez mais como um importante fenômeno

cultural, político, social e econômico neste início de século. A presença do

turismo na realidade do país é visível seja pela vivência real ou pela exposição

nos meios de comunicação.

As conseqüências para a sociedade brasileira são marcantes seja sob a ótica

cultural, dada pela valorização do acervo histórico e ambiental nacional ou pelo

lado social com a melhoria das condições de infraestrutura. Do ponto de vista

econômico, interessante observar a dinamização do mercado de trabalho, com

o aumento da demanda de mão de obra, sobretudo a especializada.

Por estas razões a oferta e a demanda pelo curso superior em Turismo

cresceram consideravelmente nos últimos tempos. Dados levantados por

Ansarah (ANSARAH, 2002, p.83) mostram que em cerca de 30 anos, o número

de curso superior em Turismo teve um acréscimo de 292 unidades entre

estabelecimentos públicos e privados.

Este fator demonstra inevitavelmente a presença do bacharel em Turismo no

mercado brasileiro. Surge, então, o interesse em estudar como estaria a

realidade deste tipo de profissional dentro do contexto do mercado brasileiro.

Informações preliminares apontam que a profissão é relativamente nova com

cerca de 30 anos de existência, data aproximada do surgimento do primeiro

curso em Turismo no Brasil. Aliado a este elemento registra-se a existência de

outros cursos relacionados ao turismo, como o curso de Hotelaria e o curso de

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Turismo e Hotelaria, o que poderia restringir as possibilidades de atuação do

Bacharel em Turismo.

Dessa maneira nasce o inevitável questionamento quanto à posição ocupada

pelo Bacharel em Turismo no mercado brasileiro. Chega-se, assim, ao cerne

da problematização deste trabalho: até que ponto o bacharel em turismo possui

um espaço delimitado na atividade turística, isto é, atribuições específicas em

um mercado de trabalho definido?

Supõe-se, inicialmente, que o crescimento observado na existência do número

de cursos superiores em Turismo reflita a existência de um mercado específico

para o Bacharel em questão. Entretanto, tais dados são insuficientes para que

se proceda a uma análise mais detalhada do problema.

Pretende-se assim, traçar um perfil completo do Bacharel em Turismo

brasileiro. Realizar-se-á um estudo sobre questões pertinentes ao profissional,

tais como a formação acadêmica, áreas e opções de atuação e a proposta de

regulamentação da profissão.

Por estas razões do estudo em questão, espera-se obter um importante

panorama sobre a situação do Bacharel em Turismo brasileiro. Estes dados

poderão ser úteis tanto para a orientação e formulação de políticas de fomento

ao setor, quanto para possibilitar ao estudante ou profissional uma visão mais

ampla sobre o assunto.

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1 O PROFISSIONAL

O surgimento do turismo trouxe à tona, a figura do indispensável e necessário

profissional em turismo. O constante desenvolvimento do setor turístico

evidencia cada vez mais a sua presença no mercado.

Sob o enfoque econômico, os profissionais de turismo, juntamente com as

empresas da área, seriam os componentes da chamada oferta turística,

responsáveis pelo oferecimento do produto turístico. Por produto turístico,

entende-se aquele destinado a atender as necessidades básicas da população

transitória de uma região ou país.

A analise econômica define o turismo como uma atividade econômica e os

profissionais como agentes econômicos ou produtivos. Ao que pese a

veracidade desta afirmação, ela é obviamente incompleta, pois esta não

considera o lado sociológico, cultural e antropológico da questão.

Concretamente, pode-se apenas afirmar que profissionais de turismo são

aqueles que atuam direta ou indiretamente em atividades destinadas a atender

o fluxo transitório de pessoas, que por motivações diversas, visitam um país ou

uma determinada região.

1.2 O profissional hoje.

O desempenho da profissão de turismo, atualmente exige formações

específicas tanto em nível técnico quanto nível superior, revelando, assim, o

crescente profissionalismo do setor que não admite mais amadorismo e

improvisos.

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Os cursos técnicos são oferecidos por instituições privadas e governamentais,

visando a formação de mão-de-obra com habilitação especificas para

determinadas funções. Como exemplo, observa-se a profissão de guia turístico.

Os cursos superiores oferecem uma formação ampla, caracterizando-se pelo

conhecimento multidisciplinar entre as diversas áreas do conhecimento

humano. Objetiva-se, assim, a geração de aptidões específicas associadas à

formação de senso crítico e de capacidade transformadora para a solução das

múltiplas e variadas questões do turismo.

Os profissionais de turismo encontram-se predominantemente entre os

bacharéis em turismo, bacharéis em hotelaria e bacharéis em turismo e

hotelaria.

Os bacharéis em turismo possuem uma área de atuação mais ampla e

diversificada, trabalhando diretamente com o planejamento e organização da

área turística. As atribuições inerentes ao bacharel em turismo podem ser

resumidas como: planejamento, gestão, organização, controle e avaliação de

empresas, organismos e do próprio fenômeno turístico.

A importância deste profissional pode ser avaliada em termos numéricos, que

refletem a crescente demanda pelo bacharel em Turismo. Uma pesquisa

realiza pelo Instituto Brasileiro de Turismo (MATIAS, 2002, p.52) em 1999,

constatou a existência de 1.161 profissionais cadastrados na entidade.

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2. A FORMAÇÃO

Impossível pensar a medicina sem a existência de médicos devidamente

preparados ou a justiça do país entregue a juizes que não tiveram a devida

formação profissional. Não poderia deixar de ser diferente com a área turística

que exige também uma excelente capacitação dos seus profissionais.

Os atuais e futuros bacharéis em turismo são essenciais para o progresso e

desenvolvimento do mercado turístico. Cabe a eles o desafio da intermediação

entre os atrativos e opções turísticas do local e os seus consumidores

(turistas).

Incumbência esta que exige grandes esforços em face da crescente

globalização que impondo padrões cada vez maiores de competitividade, torna

a qualidade e a eficiência dos serviços prestados obrigatórios. É preciso que o

profissional tenha em mente que o aprimoramento e o aperfeiçoamento são

condições necessárias para sua sobrevivência no mercado.

O dinâmico mercado de turismo impõe de sobremaneira uma capacitação cada

vez mais completa e complexa. Capacitação esta que começa evidentemente

nas universidades, grandes responsáveis pelo nível dos profissionais no

mercado, como se verá a seguir.

A primeira faculdade de Turismo em Salvador surgiu em 1984 através da

Instituição Faculadde Olga Metting – FACTUR, a partir daí houve uma grande

evolução no número de faculdades com curso de Graduação em Turismo

principalmente na década de 90 conforme tabela abaixo:

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Cursos de Turismo em Salvador cadastrados pela EMBRATUR

INSTITUIÇÕES DE ENSINO LOCALIDADE


SUPERIOR
Fundação Visconde de Cairu SSA
Instituto Baiano de Ensino Superior SSA
Faculdade Castro Alves SSA
Faculdades Integradas Olga Metting SSA
Faculdade Baiana de Ciências SSA
Contábeis
Faculdade Jorge Amado SSA
Instituto de Educação Superior SSA
Unyahna
Faculdades Integradas da Bahia SSA
Universidade do Estado da Bahia SSA
Instituto Salvador de Ensino e Cultura SSA
Faculdade Hélio Rocha SSA
Faculdade de Tecnologia e Ciências SSA
Faculdade São Salvador SSA
Universidade Salvador SSA
Faculdade Baiana de Ciências SSA

Faculdade UNIME de Ciências Sociais SSA


Faculdades Integradas Ipitanga SSA
Total 18
Fonte:ABBTUR/2002, Atualizada em Abril 2006
Reeditada pelas Virginia Carvalho e Elaine Mesquita.

Interessante assinalar os dispositivos com relação ao curso de Turismo. È

estabelecido a duração mínima de 3000 horas, normas com relação a estágios

e objetivos. O curso será direcionado para o planejamento, gestão, pesquisa e

docência da área, considerando o turismo como um fenômeno econômico e

social.

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Traçado um breve panorama da evolução dos cursos superiores em Turismo é

possível constatar que área é bastante promissora e dinâmica. Talvez se

justifique daí a crescente necessidade adequar o curso a realidade do

mercado.

2.2 Propostas para o ensino superior

As discussões em torno da opção entre uma formação teórica ou uma

formação prática sempre estiveram presentes no curso de turismo. A despeito

da orientação adotada atualmente que privilegiam a educação voltada para o

desenvolvimento de habilidades específicas em detrimento de um

conhecimento mais global, pergunta-se: qual seria o posicionamento ideal a ser

adotado pelas instituições superiores em turismo do país?

A tendência observada entre proeminentes profissionais, da área é a defesa do

desenvolvimento de uma formação que privilegie a concepção epistemológica,

através do despertar da consciência crítica dos alunos. Trata-se, assim, do

estímulo à formação de pensadores capazes de interpretarem e interagirem na

realidade.

Para isso, é necessário remeter-se aos conceitos de educação e treinamento.

Educar, seria o fornecimento de instrumentos que possibilitassem ao estudante

a solução dos mais diversos problemas e conflitos. Treinar, seria limitar-se a

transmitir um conhecimento específico, visando a formação de aptidões

peculiares a determinadas situações.

A aparente contradição entre educação e treinamento desfaz quando se

verifica que ambos são complementares e interligados. Educar-se visando

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formar profissionais que atuem no mercado, só que este mercado é dinâmico,

sujeito a constantes transformações, daí a necessidade da existência da

adaptabilidade.

È necessário assim educar de uma forma ampla, genérica e interdisciplinar,

transmitindo conceitos do funcionamento da sociedade como um todo. O

treinamento seria o elo que uniria a teoria aprendida com a prática, onde o

estudante avaliaria o que aprendeu nas salas de aula.

A constante junção entre educação e treinamento aliado ao caráter

interdisciplinar e transdisciplinar do curso, o incentivo as pesquisas, utilização

de novas tecnologias e a interação entre empresa e escola seriam elementos

decisivos para concretizar-se um ensino superior de qualidade.

O caráter interdisciplinar e transdisciplinar dizem respeito á necessidade de

promover a interação e incorporação de conceitos e fundamentos entre

disciplinas, de modo que se possa apresentar soluções e propostas, a partir do

concílio de idéias distintas. Como o curso de turismo é multidisciplinar, isto é,

abrange o conhecimento de várias ciências sociais, ter-se-ia um rico e

completo embasamento teórico.

Igualmente, importante para acrescentar subsídios para uma sólida formação

teórica, são as pesquisas. Através do estimulo, a leitura e a investigação, os

professores estariam contribuindo não apenas para o despertar da capacidade

crítica e analítica do aluno, mas também para o aumento e melhoria do material

científico do curso.

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Outro fator preponderante para uma perfeita formação acadêmica, seria a

constante inclusão de novas tecnologias a educação. Esta incorporação seria

traduzida pela implementação de cursos à distância e da educação virtual tanto

em nível regional quanto global.

Por último, importante salientar, a importância da interação entre práticas

pedagógicas com a realidade das empresas. Assim, fundamental o incentivo a

realização de programas de cooperação e participação entre os cursos

superiores e as empresas. Seria promovido um intercâmbio de informações,

possibilitando ao acadêmico o convívio direto com a realidade do mercado,

promovendo ainda a introdução destes novos conhecimentos em sala de aula.

A adoção destes princípios fundamentais seriam de grande valia para a

qualificação dos futuros bacharéis em turismo. Embora ainda não seja uma

realidade predominante, observam-se tendências da busca constante da

qualidade. Espera-se assim, que brevemente sejam incorporados não apenas

estas propostas, mas também outras soluções que visem a constante

qualificação dos cursos superiores de turismo.

2.3 Perfil profissional

A realidade do mercado atual traça o perfil de um novo profissional de turismo.

A crescente competitividade conduz a constante busca pelo aprimoramento e

aperfeiçoamento, deixando para trás definitivamente o amadorismo.

Além dos conhecimentos acadêmicos e cursos de lato sensu e stricto sensu, é

fundamental a busca por conhecimentos complementares. Percebe-se então,

que a formação do profissional de turismo não termina nos bancos das

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universidades. É necessário estimular o desejo pelo constante aprimoramento

na busca do conhecimento em várias as áreas do comportamento humano. É

preciso dominar não apenas os conteúdos do campo do turismo, mas também

possuir uma excelente bagagem cultural.

Acrescenta-se ainda, a existência de habilidades como criatividade, dinamismo

e espírito de liderança, senso crítico e ético. O código de Ética do Bacharel em

Turismo expressa bem esta tendência ao afirmar em seu artigo 3 o.: “ a atuação

profissional do Bacharel em Turismo deve ser pautada pela verdade,

dignidade, independência e probidade”.

É traçado assim o perfil desejado do profissional em turismo: cursos de pós-

graduação, mestrado, doutorado, ampla bagagem cultural, dinamismo,

criatividade, espírito de liderança, senso crítico e ético.

Embora seja prematura a afirmação, há indícios de que o bacharel brasileiro

caminha rumo a este ideal traçado. A busca pela qualificação já é uma

realidade entre os bacharéis de turismo brasileiros.

Outro dado importante, diz respeito ao crescimento da publicação científica na

área de Turismo. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Turismo

(MATIAS, 2002, p.90 e 91), aponta para um total de 1174 publicações

registradas em 1999, sendo que 966 eram textos científicos, 158 livros e 50

teses.

Outros estudos recentes realizados pela Prof ª Marília Ansarah (ANSARAH,

2001, p.101), apontam para uma crescente busca pela especialização do

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profissional. Houve a constatação de que existem no país 12 bacharéis com

título de doutor.

A princípio, tais números parecem insuficientes, contudo há de se levar em

conta a inúmeras dificuldades e restrições observadas. No país existe apenas

um curso de doutorado em Turismo e Hotelaria, localizado em São Paulo.

Todavia, há dados animadores, como a existência de uma oferta diversificada

em curso de Lato sensu por todo o país. Além de cursos de mestrado em

Turismo e Hotelaria em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Bahia.

Existindo, ainda, projeto para a implementação de um curso de doutorado em

Santa Catarina, evidenciando tendências de expansão.

Conclui-se então, que a demanda pela qualificação é efetiva no Brasil. A

história dos cursos em turismos no país é relativamente recente, cerca de 30

anos. Certamente os anos vindouros demonstrarão a qualidade e eficiência dos

promissores profissionais brasileiros.

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3. O MERCADO DE TRABALHO

Thomas Cook jamais poderia imaginar o potencial do mercado de trabalho que

acabara de criar em 1841, quando empreendeu a primeira atividade de

agenciamento de viagens. Desde então as possibilidades de atuação do

profissional em turismo adquirem ramificações e especializações inimagináveis.

O constante crescimento do turismo, ao longo dos tempos foi um fator

determinante para o desenvolvimento de novos perspectivas de trabalho no

mercado turístico. Á medida que a atividade cresce são criadas novas

necessidades de serviços turísticos.

Em um mundo globalizado estas necessidades adquirem um enorme grau de

sofisticação e diversidade em virtude de padrões de qualidade cada vez mais

exigentes e complexos. O serviço turístico inicialmente restrito a intermediação

de viagens adquire agora um leque de opções amplo e vasto.

O bacharel em turismo, atualmente, interage não apenas na prestação de

serviços necessário ao turista, tendo também uma notável participação na

criação e formação do produto turístico. Acrescenta-se assim, a tradicionais

áreas de agenciamento de viagens, hotelaria, transporte, áreas novas e

promissoras como eventos e planejamento.

E POR QUE NÃO ESSES PROFISSIONAIS ATUAREM NA DOCÊNCIA?

Surge então uma nova opção de mercado de trabalho para os bacharéis de

turismo, com a saturação de mercado na área de turismo, os profissionais tem

buscado novas opções para suprir tal carência. Essa saturação deu-se pela

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invasão das diversas áreas no campo específico, justamente pela falta da

regulamentação da profissão, ou seja, falta um órgão competente que se

responsabilize em fiscalizar as normas da ABBTUR e EMBRATUR evitando a

invasão de outros profissionais oriundos de formações diversas ao mercado

não ameaça o Bacharel em Turismo. Afinal, somente o curso de Turismo, com

sua formação multidisciplinar, pode oferecer ao mercado profissionais capazes

de enfrentar e solucionar os diversos problemas do setor.

Visto esses problema, os turismólogos começaram a expandir sua visão e

passaram a buscar novas opções de inserção no mercado altamente

competitivo, vendo na docência a solução buscando então especialização para

atuarem.

O campo da docência vem se expandindo e ganhando novos bacharéis de

áreas inovadoras que estão acreditando no leque de opções da docência.

Em consonância com os ditames de qualidade predominantes, surge um

fenômeno paralelo, embora complementar a diversificação de serviços atuais.

Trata-se da segmentação do mercado consumidor em nichos cada vez mais

direcionados e específicos.

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REFERÊNCIAS

ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Formação e Capacitação do

Profissional em Turismo e Hotelaria. São Paulo; Aleph, 2002. p.19 – 40. p.49

– 52. 67p. 83p. 101p.

LAGE, Beatriz Helena Gelas, MILONE, Paulo César. Economia do Turismo. 7

ed.revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2001. p. 34 – 40. 45p.

MATIAS, Marlene, Turismo: Formação e profissionalização (30 anos de

história). Barueri: Manole, 2002. XIIIp. XVp. 25p. 32p. 33p. 52p. 79p. 90p. 91p.

FURTADO Laura Isabel. Introdução ao Turismo no Brasil. Rio de Janeiro:

Infobook, 2000. 28p.

NETO Marcos Pinto. Manual de Direito aplicado ao Turismo. Campinas:

Papirus, 2001.

JUNQUEIRA, João RICARDO. Quem são os profissionais de Turismo?

Folha de São Paulo, São Paulo, 28 de março 2003. Disponível em:

www.folhaonline.com.br/ acesso em: 20 de abril 2003.

SILVA, Fábio Porto. Hotelaria e Turismo trazem muitas opções. Folha de

São Paulo, São Paulo, 30 abril 2003. Disponível em: www.folhaonline.com.br /

acesso em: 16 de maio 2003

ABBTUR, O que a Abbtur está fazendo? Paraná, 09 de fevereiro 2003.

Disponível em: www.milênio.com.br/abbtur/ acesso em: 16 de maio 2003.

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