Você está na página 1de 22

BASES

FARMACOLÓGICAS
E INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS
NA ESTÉTICA

Vanessa Rodrigues Nicolau Torres


Fármacos e secreção
sebácea
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os principais distúrbios da secreção sebácea.


 Explicar os mecanismos de ação dos medicamentos utilizados no
tratamento dos distúrbios da secreção sebácea.
 Reconhecer os medicamentos que desencadeiam distúrbios de se-
creção sebácea.

Introdução
A acne é uma doença ocasionada por distúrbios dos folículos pilossebá-
ceos, que comumente ocorre na região da face e do tórax, sendo muito
frequente nos adolescentes, mas também pode manifestar-se na fase
adulta. De forma geral, a acne é classificada como não inflamatória e
inflamatória. A acne não inflamatória, também chamada de acne grau I,
é caracterizada pela presença de comedões, sem processo inflamatório.
Já na acne inflamatória, além da presença de comedões, pode ocorrer
o aparecimento de pústulas, pápulas, nódulos e abcessos inflamatórios;
dependendo das lesões características, é classificada como acne de grau
II, III, IV ou V. Somado ao incômodo causado pelas lesões, o comprometi-
mento estético ocasionado pelas alterações na pele pode gerar alterações
psicossociais, como insegurança, timidez e ansiedade, com consequências
e traumas que podem persistir pelo resto da vida.
Neste capítulo, você vai estudar os principais distúrbios da secreção
sebácea, partindo de uma breve introdução sobre os aspectos fundamen-
tais da pele e da secreção sebácea. Você vai verificar os medicamentos
utilizados no tratamento e seus mecanismos de ação, bem como os
medicamentos que podem desencadear esses distúrbios sebáceos.
2 Fármacos e secreção sebácea

1 A pele e os distúrbios da secreção sebácea


A pele é considerada o maior órgão do corpo, responsável por revestir o
organismo, sendo composta por três camadas: epiderme, derme e hipoderme.
A epiderme é constituída por epitélio estratificado, variando de 0,04 mm a
1,6 mm nas diferentes partes do corpo. A derme está localizada abaixo da
epiderme e compreende um denso estroma de fibroblasto, no qual se situam
as estruturas vasculares e nervosas, os órgãos anexais da pele, as glândulas
sebáceas e sudoríparas e os folículos pilosos. A hipoderme é a camada mais
profunda da pele e compreende o tecido adiposo (RIVITTI, 2018).
Assim, a partir da composição de suas três camadas, a pele forma uma
membrana envolvente e isolante que apresenta múltiplas funções, configurando
o primeiro contato com o ambiente externo, conforme apontam Azulay e
Azulay-Abulafai (2013). Confira a seguir as principais funções da pele.

 Capacidade de formar uma barreira de proteção contra agentes exter-


nos, substâncias químicas, traumas físicos e ressecamento por perda
transepidérmica de água.
 Função imunológica, pois as células epiteliais representam a primeira
linha de defesa via sistema imune inato.
 Produção de melanina e proteção contra lesões por radiação ultravioleta,
uma vez que os melanócitos presentes nas camadas basais e no folículo
piloso são responsáveis por produzir melanina, um polímero pigmentado
que absorve a faixa ultravioleta do espectro luminoso.
 Síntese de vitamina D, que é adquirida na dieta e pela produção de
precursores de vitamina D pela pele. Após exposição à luz ultravioleta,
a provitamina D que existe na epiderme se converte em vitamina D.
 Sensação, já que a pele é um dos principais meios de interação com o
meio ambiente, e os estímulos recebidos são processados pelo sistema
nervoso central e periférico.
 Regulação térmica, pois a pele auxilia na regulação da temperatura
corporal, por meio do suor e da variação de fluxo sanguíneo na pele.
 Proteção contra traumas externos, já que a pele protege de choques e pro-
porciona apoio para os vasos sanguíneos, os nervos e as estruturas anexas.

Aparelho pilossebáceo
As glândulas sebáceas, localizadas na epiderme, estão presentes em toda a
pele, com exceção das regiões palmoplantares. Essas glândulas são compos-
Fármacos e secreção sebácea 3

tas por vários lóbulos, e cada um apresenta uma camada de células cúbicas
basófila, células germinativas e células de abundante citoplasma, repleto de
gordura. A glândula sebácea é do tipo holócrino, e o produto da sua atividade
é o sebum. Essas glândulas são ativadas pelos androgênios independentes de
estímulos nervosos (RIVITTI, 2018).
Os pelos são estruturas filiformes, constituídas por células queratinizadas
produzidas pelo folículo piloso. Existem dois tipos de pelos: os lanugos, que
possuem pilosidade fina e clara, e o pelo terminal, que corresponde ao pelo
espesso e pigmentado. Os pelos possuem uma parte livre, a haste, uma porção
intradérmica e a raiz, segundo Rivitti (2018). Em anexo ao folículo piloso, estão
a glândula sebácea, o músculo eretor do pelo e o duto excretor de glândulas
apócrinas, que desemboca no folículo piloso, acima da glândula sebácea
(RIVITTI, 2018). A Figura 1 apresenta a estrutura pilossebácea.

Fibra pilosa

Glândula
sebácea

Músculo
eretor do pelo
Região do bulbo
com células-tronco
do folículo piloso
Matriz
Melanócito
Papila dérmica

Figura 1. Estrutura pilossebácea.


Fonte: Soutor e Hordinsky (2015, p. 187).
4 Fármacos e secreção sebácea

As disfunções da unidade pilossebácea podem gerar algumas patologias, como


é o caso dos vários tipos de acne. Existe uma possível tendência hereditária
transmitida pelos genes autossômicos dominantes, atuando no controle hor-
monal na puberdade, na queratinização anormal no folículo e na secreção
sebácea (RIVITTI, 2018). Como definição, a acne é uma dermatose crônica
na qual os folículos se caracterizam pela presença de uma glândula sebácea
hipertrofiada a um pelo fino. É comum a ocorrência em adolescentes no período
da puberdade, pois é nesse período que ocorrem as alterações hormonais.
Alguns desses hormônios aumentam a produção do sebo no folículo piloso,
contribuindo para desencadear um processo inflamatório de acne (MENEZES;
BOUZAS, 2009).
A acne nos adolescentes acomete tanto o sexo feminino quanto o masculino.
No sexo masculino, as mudanças são mais dependentes da testosterona, e no
feminino, dos estrógenos. Embora seja mais precoce em adolescentes do sexo
feminino, surgindo aos 14 anos, os meninos, aos 16 anos, apresentam as formas
mais intensas e graves de acne (MENEZES; BOUZAS, 2009).

Fisiopatologia da acne
A patogênese da acne é complexa, e existem diversos fatores que contribuem
para o desenvolvimento da lesão. Dentre eles, segundo Soutor e Hordinsky
(2015), estão:

 a hiperproliferação e a adesão de queratinócitos na porção distal do


folículo piloso, criando um tampão de queratina, conhecido como
microcomedão;
 os hormônios androgênicos, que são responsáveis por estimular o au-
mento na produção de sebo;
 a bactéria anaeróbica P. acnes, que tem sua proliferação facilitada no
ambiente rico em sebo do folículo piloso ocluído.

No distúrbio da queratinização folicular, ocorre anomalia no infundíbulo


folicular, provocando hiperqueratinização, a qual acarretará oclusão do ori-
fício folicular e formação do comedão. Assim, o comedão se origina a partir
do desequilíbrio no processo de proliferação e diferenciação das células do
ducto folicular, bem como de alterações na composição lipídica, que também
podem contribuir para a ocorrência da hiperqueratinização do ducto folicular
(RIVITTI, 2018).
Fármacos e secreção sebácea 5

O aumento de secreção sebácea é outro fator que contribui para o desen-


volvimento da acne associada à hiperqueratose folicular. A hipersecreção
sebácea pode ocorrer por dois fatores (RIVITTI, 2018):

 aumento dos androgênios circulantes;


 ação periférica do androgênio, por meio da reação hipersecretória da
glândula sebácea ao estímulo dos androgênios, por fatores genéticos
ou constitucionais.

As glândulas sebáceas possuem enzimas metabolizadoras de androgênios,


como a 5-alfarredutase. Nas regiões acometidas pela acne, as glândulas sebá-
ceas apresentam níveis mais altos de alfarredutase, o que pode indicar maior
ação dos androgênios nesses locais e, com isso, maior conversão da testosterona
em di-hidrotestosterona (DHT), o hormônio ativo (RIVITTI, 2018). Assim, os
medicamentos antiandrogênicos, como a ciproterona, que bloqueiam a ação
androgênica, são muito eficazes nesses casos.
As bactérias que atuam na porção profunda do folículo pilossebáceo são fun-
damentais no desenvolvimento da acne, como a bactéria anaeróbica P. acnes,
que tem sua proliferação facilitada no ambiente rico em sebo do folículo piloso
ocluído. Esses microrganismos são hidrolisados pelas esterases, liberando
ácidos graxos; estes irritam a parede folicular, induzindo a queratinização.
Já a pressão do sebo acumulado pode romper o epitélio folicular enquanto os
ácidos graxos e a proliferação dos microrganismos atuam na derme, dando,
assim, início ao processo inflamatório (RIVITTI, 2018).
A P. acnes e outros fatores desencadeiam a liberação de mediadores infla-
matórios, que sofrem difusão pela parede do folículo até a derme, resultando
em uma pústula inflamatória. A parede do folículo se rompe, e bactérias, sebo
e outros componentes foliculares são liberados na derme, criando, assim, um
nódulo inflamatório (SOUTOR; HORDINSKY, 2015).
Outros fatores, como genéticos e emocionais, também podem influenciar
na gravidade dessa patologia, segundo Soutor e Hordinsky (2015). A acne
geralmente ocorre na face e pode acometer outras áreas corporais, como
pescoço, ombros e porção posterior do tronco, podendo aparecer em qualquer
momento da vida, no entanto, com maior frequência na puberdade (SOUTOR;
HORDINSKY, 2015).
6 Fármacos e secreção sebácea

Classificação da acne
A acne é classificada como não inflamatória, quando há presença somente de
comedões, ou inflamatória, que se subdivide nos graus II, III, IV e V, conforme
o número, a intensidade e as características das lesões (RIVITTI, 2018).

Acne não inflamatória

É chamada de acne comedônica ou acne de grau I. Nela, há presença de co-


medões; em alguns casos, na presença de raras pápulas e pústulas foliculares,
ainda pode ser considerada como acne de grau I. Os comedões podem estar
nas formas de microcomedão, comedão fechado e comedão aberto.

 Microcomedão: é causado pelo acúmulo de corneócitos no infundíbulo,


que produz uma dilatação folicular não visível.
 Comedão fechado ou cravo branco: ocorre devido ao aumento de cor-
neócitos no acroinfundíbulo folicular e possui forma esférica e visível.
 Comedão aberto (cravo preto): ocorre devido ao acúmulo de corneócitos
e sebo e à colonização de P. acnes.

Na Figura 2 a seguir, você pode observar um caso de acne grau I, na qual


se observa a presença de comedões abertos e fechados.

Figura 2. Acne de grau I, com múltiplos comedões na região da fronte.


Fonte: Soutor e Hordinsky (2015, p. 139).
Fármacos e secreção sebácea 7

Acne inflamatória

A acne inflamatória é dividida em diferentes graus de ocorrência. Confira a


seguir quais são eles.

Acne de grau II

Na acne papulopustulosa ou acne de grau II, além do aparecimento de comedões


abertos, há pápulas com ou sem inflamação. Na Figura 3, você pode observar
um caso de acne de grau II, com presença de comedões, pápulas e pústulas.

Figura 3. Acne de grau II, com a presença de comedões, pápulas e pústulas.


Fonte: Sourtor e Hordinsky (2015, p. 139).

Acne de grau III

A acne nódulo-abscedante ou acne de grau III é caracterizada pela presença


de comedões abertos, pápulas e pústulas. Ainda, devido à ruptura da parede
folicular, há reação inflamatória aos corneócitos e às bactérias, que atinge a
profundidade do folículo até o pelo, formando nódulos. Na Figura 4, você pode
8 Fármacos e secreção sebácea

observar a presença da acne de grau III, com o aparecimento de comedões,


pápulas e nódulos.

Figura 4. Acne de grau III, com a presença de comedões, pápulas e lesões nodulares.
Fonte: Rivitti (2018, p. 459).

Acne de grau IV

A acne conglobata ou acne de grau IV é considerada uma manifestação mais


grave, pois, além da presença de comedões abertos e pápulas, estão presentes
pústulas associadas a nódulos purulentos, formando abcessos e fístulas, que
drenam pus e formam queloides. Na Figura 5, você pode observar um caso
de acne de grau IV e suas manifestações.
Fármacos e secreção sebácea 9

Figura 5. Acne de grau IV, com a presença de comedões, pápulas, nódulos e abcessos.
Fonte: Rivitti (2018, p. 459).

Acne de grau V

A acne fulminans ou de grau V é uma forma rara de evolução da acne, em


que, além das manifestações comuns às acnes de grau III e IV, há presença de
febre, aumento do número de leucócitos no sangue e hemorragia em algumas
lesões (SOURTOR; HORDISNKY, 2015; RIVITTI, 2018). Após um processo
inflamatório de acne, podem aparecer cicatrizes atróficas. Existem estudos
que comprovam o impacto psicossocial que elas provocam principalmente
na vida dos adolescentes. Existem alguns procedimentos estéticos que são
utilizados para minimizar essas cicatrizes; o microagulhamento, por exemplo,
é um procedimento que estimula a produção de colágeno, promovendo uma
desepitelização do tecido (SANTANA et al., 2016).

2 Medicamentos utilizados no tratamento dos


distúrbios sebáceos
O tratamento da acne deve ser iniciado o mais breve possível, para prevenir
principalmente o surgimento das cicatrizes consequentes. Vale salientar que
os pacientes com acne não devem manipular as lesões, devido aos riscos
10 Fármacos e secreção sebácea

de desenvolvimento de infecção, inflamação e cicatrizes. Para a escolha do


tratamento da acne, devem ser considerados alguns fatores, como:

 tipo e gravidade das lesões;


 eficácia do medicamento;
 reações adversas que podem ser ocasionadas;
 riscos e contraindicações;
 idade e sexo;
 risco de gravidez;
 custo envolvido no tratamento.

A terapia farmacológica para a acne se dá tanto por aplicação tópica quanto


por administração oral, ou a combinação de ambas. De forma geral, os reti-
noides tópicos, como a tretinoína, são a primeira escolha para o tratamento
da acne de grau I. As terapias alternativas empregam o peróxido de benzoíla,
o ácido azelaico, assim como formulações contendo ácido acetilsalicílico.
Para a acne papulosa e ou pustulosa branda, é indicada a associação de
retinoides tópicos com antibióticos tópicos. Já na acne moderada a grave,
caso o paciente não responda ao tratamento tópico descrito, há indicação de
antibioticoterapia oral e retinoides tópicos ou peróxido de benzoíla.
Nos casos de acne nodular, a primeira linha de tratamento inclui o uso de
antibiótico administrado por via oral e retinoides tópicos ou peróxido de ben-
zoíla. Em casos em que houver não responsividade ao tratamento, mesmo após
troca do antibiótico ou retinoide, o uso da isotretinoína deve ser considerado,
visando, assim, a cessar o quadro da acne e evitar o aparecimento de futuras
cicatrizes, conforme lecionam Sourtor e Hordisnky (2015).
Vamos agora abordar alguns desses medicamentos e suas considerações
farmacológicas.

Retinoides de uso tópico


Os retinoides são agentes comedolíticos, sendo a primeira escolha no tra-
tamento da acne vulgar. O seu principal mecanismo de ação consiste em
normalizar a descamação do epitélio infundibular, com consequente inibi-
ção da comedogênese. Consequentemente, eles inibem a formação de novos
microcomedões, reduzindo os comedões maduros e as lesões inflamatórias
(VINHAL et al., 2014).
Os retinoides tópicos vêm sendo estudados e utilizados para o tratamento da
acne desde 1962, e os principais deles são a tretinoína e os retinoides isômeros
Fármacos e secreção sebácea 11

do ácido retinoico, como o adapaleno e o tazaroteno (VINHAL et al., 2014). Os


retinoides são capazes de promover a normalização da ceratinização folicular,
a redução da contagem de P. acnes e, com isso, a redução da inflamação,
fatores esses formadores da base do tratamento da acne, conforme apontam
Brunton et al. (2010). O tratamento realizado com retinoides tópicos demonstra
alguma atividade sobre a acne inflamatória, pelos efeitos imunomoduladores
diretos, pelo aumento da renovação celular epitelial e pela aceleração da
descamação dos corneócitos, normalizando a queratinização e diminuindo a
comedogênese. É um tratamento efetivo para a acne de grau I e para a acne
inflamatória, quando associada a outros medicamentos (BRENNER et al.,
2006; SOUTOR; HORDINSKY, 2015).
A tretinoína, por ser fotoinstável, deve ser aplicada à noite. O adapaleno
apresenta eficácia similar à tretinoína, é fotoestável e apresenta menor risco de
causar irritação na pele. Já o tazaroteno, além de ser utilizado no tratamento
da acne leve a moderada, é utilizado no tratamento da psoríase (BRUNTON et
al., 2010). Algumas reações como vermelhidão, ressecamentos e descamação
são relativamente comuns ao uso dos retinoides tópicos (BRENNER et al.,
2006; SOUTOR; HORDINSKY, 2015).

Peróxido de benzoíla
O peróxido de benzoíla, em sua formulação creme, gel ou loção, vem sendo
amplamente utilizado como recurso terapêutico no tratamento tópico da acne,
indicado nas formas leves e moderadas. É considerado um agente oxidante,
cuja eficácia se deve às propriedades antibacterianas e devido ao potencial
ceratolítico. Assim, a terapia com peróxido de benzoíla tem demostrado re-
dução dos teores de lipídios e ácidos graxos livres e ligeira descamação, com
a redução dos comedões e das lesões acneicas (BENZAC AC, 2013). Após
esse agente tópico penetrar no extrato córneo e/ou nos orifícios foliculares, é
metabolizado em ácido benzoico.
Apesar de não haver evidências de toxicidade sistêmica causada pelo
peróxido de benzoíla em humanos, ele pode causar dermatites de contato
alérgicas ou irritativas, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia
(SBD, 2017). O peróxido de benzoíla deve ser aplicado, na primeira semana,
uma vez ao dia, nas dosagens mais baixas, com aumento na frequência e na
dosagem nas semanas posteriores. Os efeitos adversos mais comuns são res-
secamento da pele, eritema e descamação (BRENNER et al., 2006; SOUTOR;
HORDINSKY, 2015).
12 Fármacos e secreção sebácea

Ácido azelaico
O ácido azelaico possui ação comedolítica e antibacteriana contra bactérias
P. acnes. Somado a isso, apresenta efeito clareador nas hiperpigmentações
pós-inflamatórias ocasionadas pela acne (SOUTOR; HORDINSKY, 2015;
KATZUNG; TREVOR, 2017). No tratamento da acne com ácido azelaico, é
comumente indicada na primeira semana de terapia a aplicação do gel (15%)
ou creme (20%) uma vez ao dia, com aumento na frequência de aplicação ao
longo das semanas de tratamento, segundo Katzung e Trevor (2017).
No Quadro 1 a seguir, são apresentados os medicamentos retinoides, os
antibióticos e os medicamentos com efeito antimicrobiano de uso tópico
utilizados no tratamento da acne.

Quadro 1. Medicamentos de uso tópico utilizados no tratamento da acne

Nome Exemplos de
genérico apresentação Observações

Retinoides

Tretinoína Creme a 0,025%, Iniciar o tratamento com


0,05% e 0,1% concentração baixa; aplicar à noite;
Gel a 0,01%, 0,025%, pode produzir ressecamento;
0,04% e 0,1% categoria C para uso na gravidez

Adapaleno Creme a 0,1% Talvez seja mais bem tolerado do


Gel a 0,1% e 0,3% que a tretinoína; aplicar à noite;
Loção a 0,1% categoria C para uso na gravidez

Tazaroteno Creme a 0,1% Mais efetivo, mas também


Gel a 0,1% mais irritativo do que os
demais retinoides; aplicar à
noite; teratogênico; categoria
X para uso na gravidez

Antibióticos e medicamentos com efeitos antimicrobianos

Peróxido de Creme a 5% e 10% Pode reduzir a resistência das


benzoíla Gel a 2,5%, 4%, bactérias aos antibióticos;
5%, 8% e 10% aplicar diariamente; pode
Loção a 2,5% causar dermatite de contato
alérgica ou irritativa; categoria
C para uso na gravidez

(Continua)
Fármacos e secreção sebácea 13

(Continuação)

Quadro 1. Medicamentos de uso tópico utilizados no tratamento da acne

Nome Exemplos de
genérico apresentação Observações

Clindamicina Gel, loção e É o mais efetivo dos antibióticos


espuma a 1% tópicos; aplicar 2 vezes ao dia;
categoria B para uso na gravidez

Dapsona Gel a 5% Aplicar 2 vezes ao dia; pode


tornar a pele alaranjada, caso seja
usada com peróxido de benzoíla;
categoria C para uso na gravidez

Eritromicina Gel, pomada e É possível o desenvolvimento


solução a 2% de resistência ao antibiótico;
aplicar 2 vezes ao dia; categoria
B para uso na gravidez

Ácido azelaico Creme a 20% Tem efeito comedolítico;


aplicar 2 vezes ao dia; categoria
B para uso na gravidez

Sulfacetamida Loção a 10% Pode produzir ressecamento;


sódica aplicar 2 vezes ao dia; categoria
C para uso na gravidez

Sulfacetamida Creme com 10% de Efeito antibacteriano e


sódica com sulfacetamida sódica queratolítico; aplicar 2 vezes ao
enxofre e 5% de enxofre dia; odor de enxofre; categoria
Espuma com 10% de C para uso na gravidez
sulfacetamida sódica
e 4% de enxofre

Fonte: Adaptado de Sourtor e Hordinsky (2015).

No Quadro 2 a seguir, estão presentes algumas das formulações em asso-


ciação a antibióticos, para uso tópico.
14 Fármacos e secreção sebácea

Quadro 2. Medicamentos de uso tópico em formulações associadas utilizados no trata-


mento da acne

Associações Apresentação Posologia

Tretinoína + Gel, tretinoína a 0,025% Aplicar à noite; efetiva


clindamicina + clindamicina a 1,2% para acne papulosa/
pustulosa; categoria C
para uso na gravidez

Adapaleno + peróxido Gel, adapaleno a Aplicar diariamente;


de benzoíla 0,1% + peróxido de efetiva para papulosa/
benzoíla a 2,5% pustulosa; categoria C
para uso na gravidez

Peróxido de benzoíla Gel, peróxido de Aplicar 2 vezes ao dia;


+ clindamicina benzoíla a 5% + efetiva para papulosa/
clindamicina a 1% pustulosa; categoria C
para uso na gravidez

Peróxido de benzoíla Gel, peróxido de Aplicar 2 vezes ao dia;


+ eritromicina benzoíla a 5% + efetiva para papulosa/
eritromicina a 1% pustulosa; categoria C
para uso na gravidez

Peróxido de benzoíla Loção, peróxido Pode ser útil em


+ hidrocortisona de benzoíla a 5% + pacientes que não
hidrocortisona a 0,5% toleram bem o
peróxido de benzoíla
sem hidrocortisona;
aplicar de 1 a 3 vezes
ao dia; categoria C
para uso na gravidez

Fonte: Adaptado de Sourtor e Hordinsky (2015).

Além dos antibióticos tópicos usados em associação, citados no Quadro 2,


os antibióticos orais são indicados para tratar a acne papulosa e/ou pustulosa
ou nodular, de moderada a grave. Segundo Soutor e Hordinsky (2015), os mais
frequentemente prescritos são os descritos no Quadro 3.
Fármacos e secreção sebácea 15

Quadro 3. Antibióticos orais utilizados no tratamento da acne, com as respectivas dosa-


gens, posologias e observações pertinentes

Medicamento Apresentação Posologia Observações

Tetraciclina 250, 500 mg 500 mg, 1 ou 2 Deve ser administrada


vezes ao dia com o estômago
vazio; categoria D
para uso na gravidez

Doxiciclina 50, 100 mg 50 a 100 mg, Pode causar


1 ou 2 vezes fotossensibilidade e
ao dia dispepsia; categoria D
para uso na gravidez

Minociclina 50, 100 mg 50 a 100 mg, Pode ser administrada


1 ou 2 vezes durante as refeições;
ao dia possíveis efeitos
adversos incluem
alteração na cor
da pele, vertigem
e outros sintomas
do sistema nervoso
central, hepatite e
síndrome semelhante
ao lúpus; categoria D
para uso na gravidez

Eritromicina 125, 250, 250 a 500 Pode causar irritação


333 mg mg, 1 ou 2 gástrica e diarreia;
vezes ao dia há possibilidade de
resistência bacteriana;
categoria B para
uso na gravidez

Fonte: Adaptado de Sourtor e Hordinsky (2015).

Isotretinoína
É um medicamento da classe dos retinoides de ação antisseborreica, específico
para tratamento oral das acnes grave, nódulo-cística e conglobata e dos quadros
moderados a graves de acne (KATZUNG; TREVOR, 2017). Esse fármaco
é muito eficaz na cura da acne, pois age em todos os fatores etiológicos da
16 Fármacos e secreção sebácea

doença: produção sebácea, hiperqueratinização folicular, colonização do ducto


com P. acnes e processo inflamatório (ROACUTAN, 2018).
O mecanismo de ação da isotretinoína ainda não foi elucidado em detalhes,
mas já se estabeleceu que a melhora observada no quadro clínico da acne grave
está associada com a supressão dose-dependente da atividade da glândula
sebácea e com a redução no tamanho das glândulas sebáceas. Foi associado
também efeito anti-inflamatório dérmico da isotretinoína. O tempo médio de
início da ação farmacológica com resultado clínico é variável, mas estimado
entre 8 e 16 semanas (ROACUTAN, 2018).
A absorção de isotretinoína no trato gastrintestinal também é variável. A
biodisponibilidade da isotretinoína administrada concomitantemente a alimen-
tos é dobrada, comparada com a administração em jejum (ROACUTAN, 2018).
Após administração oral de isotretinoína, três metabólitos principais ativos
foram identificados no plasma: 4-oxoisotretinoína, tretinoína e 4-oxo-tretinoína
(ROACUTAN, 2018). A meia-vida média de eliminação do fármaco é de 19
horas. Concentrações endógenas são observadas em, aproximadamente, duas
semanas após o término do tratamento com isotretinoína (ROACUTAN, 2018).
Os efeitos clínicos desse tratamento são observados após um a três meses do
início do tratamento, e a variação padrão da posologia desse medicamento é
de 0,5 a 2 mg/kg/dia (BRUNTON et al., 2010).
A isotretinoína é contraindicada para mulheres grávidas ou que possam
ficar grávidas durante o tratamento e mulheres no período de lactação. Esse
fármaco é considerado teratogênico. Caso ocorra gravidez durante o tratamento
ou no mês seguinte ao término da medicação, independentemente da quantidade
de medicação ou mesmo por curto período de tratamento, há grande risco
de malformações graves do feto e aborto espontâneo (ROACUTAN, 2018).

A isotretinoína é um medicamento muito utilizado no tratamento da acne e representa


uma grande conquista, que revolucionou o tratamento sistêmico da acne. Os riscos
e benefícios do tratamento com a isotretinoína e outros aspectos relevantes são
avaliados em um artigo publicado na revista Dermatologia Cosmética. Quer saber
mais? Acesse o link a seguir.

https://qrgo.page.link/y6C6c
Fármacos e secreção sebácea 17

3 Desencadeamento de distúrbios de secreção


sebácea
Alguns fatores modificáveis podem corroborar para o desenvolvimento e a
piora do quadro da acne. Por exemplo, a higiene inadequada da pele, com
sabonete ou produto de limpeza impróprio, especialmente na pele acneica ou
oleosa. Ainda, a limpeza excessiva da pele pode piorar as lesões e estimular
a produção de sebo. Somado a isso, o uso de cosméticos em geral deve ser
adequado ao tipo de pele (SBD, 2017).
Além dos fatores citados ao longo deste capítulo, alguns medicamentos
podem ser responsáveis pelo desenvolvimento da acne. Alguns fármacos,
utilizados em doses usuais, promovem, além da ação farmacológica, algumas
reações indesejadas como a acne. Segundo Rivitti (2018), os medicamentos
associados com maior frequência ao aparecimento da acne são:

 androgênios;
 alguns anticoncepcionais (etinilestradiol);
 vitaminas do complexo B (vitamina B12);
 fenobarbitúricos (fenobarbital);
 hidantoína (fenitoína);
 ciclosporina;
 lítio;
 corticoides (as erupções de acne promovidas pelo uso de corticoide são
bem comuns e geralmente acometem indivíduos com propensão à acne).

AZULAY, R. D.; AZULAY-ABULAFIA, L. Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2013.
BENZAC AC: gel de peróxido de benzoíla. Responsável técnico Celso Mendes Alves.
Hortolândia: Galderma Brasil, 2013. 1 bula de remédio (2 p.).
BRENNER, F. M. et al. Acne: um tratamento para cada paciente. Revista de Ciências
Médicas, v. 15, n. 3, p. 257-266, 2006.
BRUNTON, L. L. et al. (ed.). Goodman & Gilman: as bases farmacológicas da terapêutica.
11. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010.
18 Fármacos e secreção sebácea

KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH,
2017.
MENEZES, C.; BOUZAS. I. Acne vulgar e adolescência. Revista Adolescência e Saúde, v.
6, n.3, p. 21-23, 2009.
RIVITTI, E. A. Dermatologia clínica. 4. ed. Porto Alegre: Arte médicas, 2018.
ROACUTAN: Cápsulas gelatinosas de 20 mg. Responsável técnico Tatiana Tsiomis Dias.
Rio de Janeiro: Roche, 2018. 1 bula de remédio (8 p.).
SANTANA, C. N. L. L. et al. Microagulhamento no tratamento de cicatrizes atróficas de
acne: série de casos. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 8, n. 4, p. 463-565, 2016.
SBD. Acne. 2017. Disponível em: https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-
-e-problemas/acne/23/,2017. Acesso em: 20 jan. 2020.
SOUTOR, C.; HORDINSKY, M. K. Dermatologia clínica. Porto Alegre: Artmed, 2015.
VINHAL, D. C. et al. Terapia retinóide na acne vulgar. Revista eletrônica de farmácia, v.
11, n. 3, p. 80-101, 2014.

Leituras recomendadas
ADAPALENO: gel dermatológico 1 mg/g. Responsável técnico Maurício R. Marante.
Campinas: Sanofi-medley, 2017. 1 bula de remédio (4 p.).
CLORIDRATO DE CLINDAMICINA: Capsula dura de 300 mg. Responsável técnico Andreia
Cavalcante Silva. Anápolis: Teuto, 2018. 1 bula de remédio (4 p.).
CLORIDRATO DE TETRACICLINA: Cápsulas de 500 mg. Responsável técnico Jadir Vieria
Junior. Juiz de Fora: Medquímica, 2017. 1 bula de remédio (4 p.).
COSTA, A. et al. Fatores etiopatogênicos da acne vulgar. Anais Brasileiros de Dermatologia,
v. 83, n. 5, p. 451-459, 2008.
ESTIOLATO DE ERITROMICINA: comprimidos 500 mg. Responsável técnico Luiz Dona-
duzzi. Toledo: Prati-Donaduzzi, 2014. 1 bula de remédio (5 p.).
GAMONAL, A. et al. Acne hormonal: uma interface gineco-dermatológica. HU Revista;
v. 28, n. 1, p. 392-395, 2002.
PAULA, M. C.; NASCIMENTO, Q. M.; GRIGNOLI, L. C. M. E. O efeito do microagulhamento
em cicatriz de acne: revisão de literatura. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo Do
Conhecimento, v. 1, n. 1, p. 129-139, 2018.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Acne na adolescência. Guia Prático de Atua-
lização, n. 9, p. 1-13, 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_
upload/_21370c-GPA_-_Acne_na_adolescencia.pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.
Fármacos e secreção sebácea 19

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar