A acne é uma doença genético-hormonal, autolimitada, de localização pilossebásea com
formação de comedões, pápulas e lesões nodulocísticas , que podem surgir durante a evolução e que, dependendo da intensidade, o processo inflamatório leva a abcessos e cistos intercomunicantes, com frequente êxito cicatricial”. Epidemiologia É uma das queixas mais comuns no consultório dermatológico e acomete 60% das mulheres e 70% dos homens adolescentes. Os casos mais graves são mais comuns em homens. As formas mais intensas de acne são mais comuns no sexo masculino, porém são mais persistentes no sexo feminino, o que é explicado pela alta frequência de distúrbios endócrinos, sobretudo a síndrome do ovário policístico. É mais comum em indivíduos de pele branca que em asiáticos e africanos. Etiologia A acne ocorre no folículo piloso, a glândula sebácea libera o sebo para dentro do folículo. Existem dois tipos de glândulas sudoríparas: équinas (liberam na epiderme) e apócrina (libera no folículo piloso). É um acometimento multifatorial genético. Em gêmeos homozigóticos 98% das vezes os dois tem e em gêmeos dizigóticos 55% das vezes os dois tem. Há o fator hormonal também, mesmo que os níveis hormonais séricos estejam normais. Acontece um hiperandrogenismo local, no folículo piloso, não sendo mensurado. Há uma maior conversão de testosterona em sua forma mais ativa, a DHT. Além disso há maior sensibilidade à testosterona e DHT nesses pacientes. Pacientes que usam anabolizantes, testosterona, o nível sérico estará aumentando, aumentando as chances de ter acne. Síndrome dos ovários policísticos também aumenta testosterona e a acne. A acne pode ter piora pre menstrual com relação aos níveis hormonais. As infecções bacterianas fazem parte da etiologia e da etiopatogenia da acne. A bactéria principal é a P. acnes, mas também pode se por outras bactérias como Staphylococcus. Outros fatores podem causar um quadro de acne como medicações (corticoide, vitamina B12, antibióticos), acne solar (exposição solar pode predispor à acne, pois causa edema, causando oclusão do folículo piloso), cosméticos (por obstrução - produtos oil free ou não comedogênico causam menos acne) e oclusão (acne mecânica - a exemplo da graxa). Não há nada comprovado em relação a alimentação, só relacionado a alimentos ricos em carboidratos. Não se pode negligenciar que vários pacientes relatam para o dermatologista que há algum alimento especifico que piora acne. Nesses casos, deve-se orientar a redução do uso, mesmo não havendo comprovação cientifica. Etiopatogenia Existem quatro pilares para o surgimento da acne: 1. Aumento da secreção sebácea por estimulo hormonal – adolescência → mesmo que os níveis séricos estejam normais. É a seborreia decorrente da hiperplasia das glândulas sebáceas. 2. Ceratose do canal folicular - proliferação da camada mais superficial da epiderme nessa região do folículo piloso chamado infundíbulo, causando obstrução do folículo e retenção de sebo (comedogênese). Ceratose folicular → obstrução → sebo retido → comedão (cravo) que pode ser aberto (preto) ou fechado (branco). 3. Hiperproliferação bacteriana - geralmente por P. acnes, bactéria presente na pele, só que em menores quantidades. Faz a colonização do ducto sebáceo. 4. Processo inflamatório - a obstrução do folículo e a presença de bactérias estimulam um processo inflamatório a partir da resposta imunológica. Outra coisa que contribui para a inflamação é a degradação do conteúdo da glândula sebácea por essa bactéria, ocorrendo a formação de ácidos graxos livres que são irritativos. Revela-se por elevados títulos de anticorpos fixadores de complemento, ativação direta do sistema do complemento e inibição da migração de macrófagos. O P. acnes ativa receptores toll-like 2, com liberação de citocinas inflamatórias, sendo o aspecto preponderante na patogenia da acne. A IL-1, assim como andrógenos, e a diminuição de ácido linoleico são estímulos à proliferação do epitélio folicular (ceratose folicular). Comedão Os comedões (cravo) podem ser fechados (brancos) ou abertos (pretos). A. Ocorre uma hiperproliferação – ceratose folicular; B. Conteúdo da glândula começa a ficar retido no folículo, se acumula e forma o comedão; C. Proliferação bacteriana, formação de ácidos graxos irritativos, gerando processo inflamatório. O comedão pode formar uma pústula pelo aumento do processo inflamatório. D. As bactérias continuam a se proliferar. Esse folículo pode romper e esse conteúdo sebáceo, com á graxos e bactérias, podem invadir a derme tornando um processo inflamatório mais intenso ainda – casos mais graves e avançados. Pode formar um nódulo e gerar cicatriz. Os folículos pilossebáceos acometidos pela acne geralmente possuem uma glândula grande e um folículo piloso pequeno. *A foliculite também é um processo inflamatório que acomete o pelo, mas pode estar relacionada a outros agentes etiológicos, como fungos. Pode ter varias causas. Não é a mesma fisiopatologia. Nunca tem comedão.* Quadro Clínico e Classificação O quadro clínico pode ter comedão fechado ou aberto, pápulas, pústulas, nódulos, cistos (não é muito comum). Num quadro mais grave como grau 4, pode haver fístula e formação de abcesso. Graus de Acne: - Acne grau I (comedoniana ou não inflamatória) - só tem comedões. A diferença de cor entre eles é por conta da pele por cima da fechada, não ocorrendo oxidação. Há 4 tipos de comedões: microcomedões, comedões pretos ou brancos e macrocomedões. Os pretos são dessa cor pois seu ápice não é coberto, ocorrendo a oxidação da melanina e lipídios na superfície. Os comedões são constituídos de sebo e queratina. - Acne grau II (papulopustulosa) - tem pústula e pode ter pápulas também. Decorrem da inflamação dos comedões. - Acne grau III (nodulocística) - nódulos e cistos. Decorrem de um processo inflamatório mais profundo. São as grandes responsáveis por cicatrizes quando sofrem involuções. As lesões predominam no tronco, além da face, nádegas, abdome, pescoço, ombros e braços. - Acne grau IV (conglobata) - abcessos e fístulas. É uma forma grave de acne, afetando principalmente o sexo masculino, com predomínio de lesões císticas grandes. O fenômeno inflamatório é exuberante podendo haver bridas cicatriciais. Pode cometer face, tronco, braços – regiões ricas em glândulas sebáceas e receptores mais sensíveis. O grau geralmente evolui com o tempo. Não começa em grau 4, por exemplo. Diagnóstico É clínico, com base na idade do paciente, quando apareceram as lesões, no seu polimorfismo e nas localizações habituais. A doença é crônica, com fase de acalmia e exacerbação. As lesões tem um ciclo evolutivo, podendo terminar com ou sem cicatriz. A cura espontânea em geral ocorre poucos anos depois. O problema torna-se importante em virtude do aspecto psicológico. Tratamento Pode agir em um ou mais dos pilares, devendo ser múltipla, global e integral. A secreção da glândula sebácea pode ser diminuída com a isotretinoina VO, podendo causar até atrofia da glândula (Roacutan). O uso de ácidos de maneira tópica pode diminuir também. A ceratose folicular pode ser diminuída com ácidos, sabonetes de enxofre e ácido salicílico. A desobstrução mecânica também pode ser diminuída com um aparelho chamado estrator de comedão, usado principalmente para comedão aberto. A quantidade de bactérias é diminuída com antibióticos tópicos ou VO. Azitromicina, Clindamicina, tetraciclinas etc. Várias dessas ciclinas tem efeito anti-inflamatório, também diminuindo atração de neutrófilos. Faz tratamento antiinflamatório (corticoide) até antes do tratamento da acne. Rosácea É uma doença inflamatória crônica com episódios agudos, acometendo as convexidades da face (nariz, fronte, regiões genianas e mento). Caracteriza-se por ruborização (flushing) frequente, eritema persistente, telangiectasias, pápulas, pústulas e edema. Ocorre mais em mulheres entre 30 a 50 anos, de pele clara devido a uma instabilidade vasomotora que gera vasodilatação. Geralmente desencadeada por alimentos condimentados, café, chá, álcool, sol, calor e frio. Pode ocorrer pela bactéria Demodex foliculorum.