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TECNOLOGIAS

DIGITAIS NA
PRÁTICA
PEDAGÓGICA

Viviane Guidotti
Machado
As tecnologias digitais
como suporte ao trabalho
interdisciplinar na escola
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir como as tecnologias digitais (TDs) podem contribuir para o


trabalho interdisciplinar na escola.
 Identificar experiências de sucesso com o trabalho interdisciplinar
apoiado pelas TDs.
 Desenvolver um projeto interdisciplinar com o uso das TDs.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar sobre a interdisciplinaridade na escola,
compreendendo o que significa interdisciplinaridade e a postura do
professor que trabalha de forma interdisciplinar, promovendo uma cons-
trução do conhecimento baseado na pesquisa, na construção mútua e
coletiva entre alunos e professores.
A interdisciplinaridade rompe com uma lógica curricular organizada
em disciplinas isoladas e fragmentada. É fundamental que a gestão escolar
invista em práticas pedagógicas interdisciplinares na escola, fomen-
tando a pesquisa, como também investindo na formação continuada
dos professores.
Você vai compreender também que as TDs são ferramentas que
podem auxiliar e facilitar práticas pedagógicas interdisciplinares, mas
é a postura do professor que vai determinar a organização de práticas
pedagógicas interdisciplinares, a partir do seu planejamento, no qual as
TDs serão meios de proporcionar um ensino mais dinâmico e atraente e
uma aprendizagem mais autônoma e significativa.
2 As tecnologias digitais como suporte ao trabalho interdisciplinar na escola

Trabalho interdisciplinar no contexto escolar


O movimento da interdisciplinaridade, segundo os estudos de Fazenda (1994),
surgiu na Europa, na década de 1960, e demandava uma nova condição tanto
de universidade quanto de escola. A reivindicação era por uma humanização
do conhecimento e da ciência. Assim, a luta era por um ensino de qualidade,
coerente com a realidade econômica, cultura, social e política da época.
Fazenda (1994, p. 23) ressalta que “[...] o eco das discussões sobre interdisci-
plinaridade chega ao Brasil ao final da década de 1960, com sérias distorções,
próprias daqueles que se aventuram ao novo sem reflexão, ao modismo sem
medir as consequências disso”. Na visão da autora, na década de 1970, a
iniciativa se deu na direção de conceituar “interdisciplinaridade”. Em 1980,
no entanto, o foco era a construção de um conceito a partir das experiências
vividas, ou seja, na tentativa de teorizar a prática: “[...] a década de 1980 foi
marcada pela necessidade de explicitação dos equívocos surgidos a partir das
dicotomias enunciadas nos anos 70” (FAZENDA, 1994, p. 29). Já na década
de 1990 buscou-se a construção de uma teoria da interdisciplinaridade, ou
seja, a construção de uma epistemológica da interdisciplinaridade.

Passa-se de uma relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma


disciplina ou matéria, que se estabelece segundo um modelo hierárquico linear,
a uma relação pedagógica dialógica na qual a posição de um é a posição de
todos. Nesses termos, o professor passa a ser o atuante, o crítico, o animador
por excelência (FAZENDA, 2011, p. 93).

Dessa forma, a interdisciplinaridade busca a superação de um ensino frag-


mentado, organizado em disciplinas, que se reduzem a processos individuais de
produção de conhecimento isolados. A escola reconhecida como um ambiente
legítimo e formal de construção de conhecimento necessita repensar suas práticas
pedagógicas, a fim de promover um ambiente em que os conhecimentos estejam
interconectados, ou seja, em que as disciplinas trabalhem em cooperação e colabo-
ração, em uma dialética de construção, produção e reconstrução de conhecimento.
Para que isso ocorra, é fundamental que a escola repense a sua organização
curricular, que promova um ambiente escolar baseado na cidadania, na criativi-
dade e na autonomia, possibilitando aos alunos um contato real com a produção
do conhecimento pela pesquisa. Para Fazenda (1994), o professor que atua de
forma interdisciplinar apresenta algumas características como: tem vontade e
gosto de buscar conhecimento, tem compromisso social com os alunos e trabalha
intensamente na construção das suas práticas pedagógicas. Para Fazenda (2012,
As tecnologias digitais como suporte ao trabalho interdisciplinar na escola 3

p. 38), “[...] a interdisciplinaridade na formação profissional requer competências


relativas às formas de intervenção solicitadas e às condições que concorrerem
ao seu melhor exercício. Neste caso, o desenvolvimento das competências
necessárias requer a conjugação de diferentes saberes disciplinares”.
Assim, a interdisciplinaridade como ação, relação e estreitamento das mais
diversas áreas do conhecimento requer uma relação entre os professores e
alunos, com base no diálogo, na construção, na troca e na partilha de conhe-
cimento. A partir da pesquisa, toda escola deve estar comprometida em ofertar
práticas pedagógicas interdisciplinares. Fazenda (1994, p. 71) destaca que é
fundamental “[...] refletir sobre a necessidade de uma ação conjunta, integrada
e interdisciplinar para a melhora da qualidade do trabalho educativo na escola”.
O trabalho interdisciplinar na escola precisa estar pautado também a partir do
engajamento da gestão educacional da instituição, a fim de promover a interação
entre todos da escola: professores, alunos, funcionários e comunidade externa,
já que o trabalho interdisciplinar exige um trabalho coletivo, pois promove a
eliminação de barreiras não só entre as disciplinas — áreas do conhecimento
— como também a interação entre todos — eliminação de barreiras entre as
pessoas. É fundamental um trabalho da gestão que vise à formação continuada
dos professores, que instigue e fomente o trabalho interdisciplinar na escola.
Fazenda (1994, p. 50) aponta o que a escola precisa levar em consideração
em um projeto de capacitação docente para trabalhar de forma interdisciplinar,
analisando as dificuldades e limitações dos professores: que a formação inicial
do professor foi fragmentada, assim, compreender a interdisciplinaridade
como a relação entre as diversas áreas do conhecimento se torna muitas vezes
uma tarefa difícil; proporcionar ao professor reflexão e compreensão de como
ocorre a aprendizagem do aluno, mesmo que o professor não tenha observado
de que forma ocorre sua própria aprendizagem; instaurar na escola o diálogo,
mesmo que o professor enfrente dificuldade de compreender a importância
do diálogo, por não estar preparado para enfrentar o diálogo como fonte de
construção do conhecimento; iniciar a busca por uma transformação social,
mesmo que o professor já tenha iniciado somente sua transformação pessoal;
e proporcionar condições de troca entre as disciplinas, mesmo que o professor
não tenha domínio da sua disciplina.

A interdisciplinar na escola e o uso das TDs


Os avanços tecnológicos influenciam diretamente na organização do dia a dia de
qualquer cidadão, seja na zona urbana ou na zona rural, desde o fornecimento
de energia e água, até o uso de recursos e ferramentas tecnológicas de plantio
4 As tecnologias digitais como suporte ao trabalho interdisciplinar na escola

no campo ou a organização das cidades. Assim, é impossível pensar em uma


escola que desconsidera o uso desses recursos e ferramentas tecnológicas como
facilitadores no processo ensino dos professores de aprendizagem dos alunos.
Para Lévy (1999), estamos diante de uma sociedade em que o ciberespaço
ganha cada vez mais espaço no cotidiano da vida das pessoas. Para o autor,
o ciberespaço é:

[...] o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos compu-


tadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto
dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes
hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações
provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização) (LÉVY, 1999, p. 92).

Com essas grandes transformações a partir de uma sociedade conectada


pelo ciberespaço, Esteve (2004) destaca em seus estudos que muitos professores
estão desorientados com as mudanças que precisam assumir no cotidiano
escolar, o autor destaca que a integração da aprendizagem eletrônica e o ensino
pela internet remetem a profundas exigências em nosso sistema de ensino.
É fundamental que os professores compreendam a importância do uso
das TDs, já que são ferramentas e recursos disponíveis para o uso, a partir
da evolução da internet, proporcionam não só comunicação e informação
como também possibilidade de ensino e de aprendizagem. A mediação dos
professores a partir do uso das TDs contribui para um ambiente escolar mais
criativo, autônomo e ativo.
Os professores convivem diariamente como uma geração criativa, fluente
no uso das tecnologias. Para Palfrey e Gasser (2011), os nativos digitais, que
hoje estão nas escolas, sendo uma geração tecnológica, conseguem se comu-
nicar com facilidade utilizando os avanços tecnológicos, buscam conteúdos
atraentes na internet e sua forma de se relacionar é ativa e dinâmica, não só
com as pessoas, mas também com as informações disponíveis na internet. Os
professores precisam investir no diálogo com os alunos, a fim de orientá-los
a utilizar a internet de forma consciente e transformadora.
É importante relembrar que os nativos digitais recebem uma sobrecarga de
informações. Palfrey e Gasser (2011) destacam essa questão em seus estudos. É
fundamental que não só a família observe isso, como também a escola incentive
práticas pedagógicas para o bom usa da internet, por exemplo, ensinamentos.
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Trabalho interdisciplinar apoiado pelo uso das


tecnologias
Uma das formas de utilizar a internet de maneira eficiente e significativa no ensino
é a partir de práticas pedagógicas que fomentem a pesquisa, utilizando recursos
e ferramentas para auxiliar a construção do conhecimento por meio de práticas
pedagógicas organizadas por projetos de pesquisa, o que remete à importância
do professor na elaboração desses projetos, pois sua atuação é fundamental, no
planejamento, na mediação e na orientação das práticas pedagógicas. De acordo
com Cardoso (2015, p. 215), é possível aliar a pesquisa na escola ao uso das TDs:

[...] se constatamos que a parceria entre professores e alunos é um caminho a ser


construído na solução de problemas e ainda que o currículo deva contemplar,
dentre outros aspectos, o contexto real em que nossa proposta se desenvolve,
atentos às diferentes habilidades a serem mobilizadas na construção de co-
nhecimentos, a proposta da interdisciplinaridade nos currículos nos parece
ser uma boa alternativa no estabelecimento do diálogo entre todas as partes
e elementos que compõe a prática pedagógica.

O professor precisa compreender que a sua prática pedagógica planejada para o


desenvolvimento de uma pesquisa deve ser construída a partir de uma problemática
real, ou seja, considerando a realidade dos alunos, relacionando o cotidiano com
os conteúdos das disciplinas. Dessa forma, uma dica para qualquer professor é
planejar um projeto de pesquisa com uma boa pergunta, que fomente e desperte
nos alunos a vontade de investigar. Após, é fundamental trabalhar com os alunos
a importância de buscar fontes seguras de informação, para os alunos dos anos
iniciais do ensino fundamental — a dica é que o professor selecione as fontes,
dando opções de escolha para os alunos; já nos anos finais do ensino fundamental
ou no ensino médio, os professores podem estimular que os alunos, a partir dos
seus conhecimentos, selecionem as fontes que serão utilizadas na pesquisa.
A partir da pesquisa, o aluno aprende a interpretar, compreender que o
conhecimento se constrói de forma dinâmica e coletiva, aprender a interpretar
requer um ensino mediado por orientação, acompanhamento e observação por
parte do professor. Assim, a partir da pesquisa, o professor estimula não só o
desejo de investigar como também incentiva práticas de leituras e escritas, já
que a pesquisa deve ser registrada a partir de uma produção textual e, após,
socializada para os colegas, na escola e para comunidade.
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Desta forma, percebe-se que a interdisciplinaridade acontece na organização


de projetos de pesquisa, que podem estar relacionados a muitas disciplinas,
como ciência, geografia, história, português (na produção textual e práticas de
leituras) e também matemática (por exemplo, na compreensão e interpretação
de dados numéricos).
Para que o professor promova a interdisciplinaridade na escola, é fundamen-
tal que todo o projeto de pesquisa seja elaborado a partir de um planejamento,
organizado de forma coletiva entre os professores, que considere o contexto
social e educativo dos alunos, como também quais serão as ferramentas e os
recursos tecnológicos que serão utilizados na pesquisa. Também é importante
mencionar que durante o andamento da pesquisa, que outras TDs podem ser
incluídas a partir das dúvidas, dificuldades, objetivos dos alunos, podem ser
indicadas pelo professor, ou os próprios alunos podem sugerir aos projetos a
inclusão de determinadas TDs. Kenski (2008, p. 45) destaca: “[...] a escolha de
determinado tipo de tecnologia altera profundamente a natureza do processo
educacional e a comunicação entre os participantes”.
A seguir são descritas algumas ferramentas que podem ser utilizadas na
escola, nos projetos de pesquisa, e dicas de uso na escola:

 Google acadêmico: é uma ferramenta de pesquisa disponibilizada pelo


Google, que permite o acesso a diversos materiais de inúmeros assuntos,
como: livros, textos, artigos e trabalhos acadêmicos, como: trabalhos
de concussão, monografias, dissertações e teses. A busca será realizada
a partir das palavras-chave digitadas, assim, o resultado que aparecerá
para usuário será em ordem de relevância a partir das palavras-chave. O
professor pode incentivar o uso desse recurso, a partir das suas funcio-
nalidades, que permitem ao aluno registrar a sua biblioteca, na qual ele
pode incluir os materiais pesquisados e também apresenta uma métrica
das publicações mais citadas nos últimos cinco anos.
 Paper.li: é um portal que permite ao usuário criar uma revista diagramada,
selecionando perfis que o usuário acompanha em suas redes sociais,
como Facebook e Twitter, ou por pesquisas baseadas em palavras-chave,
hashtag (#), ou fonte RSS. Após as fontes serem selecionadas e a pesquisa
realizada, é possível escolher o layout da revista, com as notícias que
podem ser compartilhadas em redes sociais, como Facebook, Twitter,
LinkedIn, Google+ e e-mail, ou no buffer, recurso que permite agendar
publicações, escolhendo dia e horário para serem publicadas nas redes
sociais. O professor pode incentivar o uso dessa ferramenta para os alu-
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nos procurarem notícias sobre um determinado tema; os alunos podem


socializar a pesquisa com a turma, pelas redes sociais.
 Google Drive: permite o armazenamento de arquivos, que podem ser
compartilhados com outros usuários. Os arquivos ficam acessíveis ao
usuário em qualquer lugar, mesmo que não esteja on-line, ou seja, sem
acesso à internet. O Google Drive também disponibiliza outros recursos
que podem ser utilizados para criar arquivos de texto, folhas de cálculo,
apresentações, formulários, desenhos, mapas e sites.

Acesse os links a seguir e conheça as ferramentas descritas anteriormente.


 Google Acadêmico: https://goo.gl/Slty6n
 Paper.li: https://paper.li/
 Google Drive: https://goo.gl/VI0W03

O professor pode disponibilizar para a turma arquivos como textos, músicas,


vídeos, entre outros, para que os alunos utilizem como fonte na produção das
suas pesquisas. Pode propor também que a pesquisa seja realizada de forma
compartilhada entre o grupo, utilizando para registro de produção escrita a
possibilidade de criar um arquivo de texto e para socializar criar a apresen-
tação da pesquisa, por exemplo. Também é possível criar formulários, como
questionários semiestruturados (com perguntas abertas e fechadas), e enviar
por e-mail, criar mapas personalizados de acordo com o conteúdo estudado
e criar sites com materiais educativos.
Essas são algumas das ferramentas à disposição do professor no âmbito
escolar. É importante mencionar que, na internet, por meio de pesquisa, o
professor encontrará inúmeras outras ferramentas, que devem ser sempre
avaliadas de acordo com os objetivos e intenções pedagógica do professor,
antes de propor o uso das ferramentas pelos alunos.
O Google Drive pode ser utilizado, por exemplo, em práticas pedagógicas
interdisciplinares, planejadas por mais de uma disciplina. Os alunos podem ter
oficinas sobre as ferramentas do Google Drive e, após, os professores podem
elaborar projetos de pesquisas, estimulando o uso da ferramenta formulário,
para os alunos coletarem dados para a pesquisa, assim como podem utilizar as
ferramentas de editor de texto para produção textual do relatório da pesquisa,
para socializar na turma os estudos, e podem utilizar a ferramenta apresenta-
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ção. Um projeto-piloto pode ser elaborado para trabalhar com os alunos como
se estrutura uma pesquisa, a partir do auxílio das TDs. Após a finalização
desse projeto, os professores trabalham a partir de projetos de pesquisa inter-
disciplinares, relacionando os conteúdos abordados em diversas disciplinas.
Outra sugestão seria o uso da ferramenta Paper.il, como um recurso
para elaborar informativos de determinados conteúdos, com a finalidade de
estimular a leitura e a reflexão crítica dos alunos. Os informativos podem
ser disponibilizados no site da escola, disponibilizados nas redes sociais ou
enviados por mensagens pelo WhatsApp. É importante destacar que após os
alunos elaborarem os informativos, o professor precisa ler os conteúdos, para
só depois os informativos serem compartilhados.
Um projeto interdisciplinar realizado a partir do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência — PIBID, em 2015, dos alunos de licen-
ciaturas em química, física e biologia, do campus de um Instituto Federal
(IF), que teve como título A Fotografia na Escola, com o objetivo de realizar
oficinas temáticas, teve como objetivo central trabalhar com os alunos do
ensino médio de um colégio estadual conteúdos de maneira interdisciplinar,
a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Médio, relacionando
esses conteúdos com a fotografia. Para a elaboração da oficina, os estudantes
pesquisaram sobre a história da fotografia. Foi o primeiro momento em que
foi realizada uma seleção dos conteúdos que poderiam ser abordados nas
disciplinas escolhidas para o projeto. Na disciplina de física, os conteúdos
escolhidos foram: conceito clássico moderno de luz, espectro eletromagnético,
radiações visíveis e tópicos de óptica geométrica. Na biologia, foram: olho
humano com as máquinas (partes e funções) e tipos de lente. Na química,
foram: composição dos materiais (papel fotográfico, revelador e fixador), sais,
números de oxidação, reações de oxirredução e fotoquímicas. Pessanha et al.
(2015) apresentaram a proposta da oficina em andamento, que estava sendo
realizada, mas que já apresentava uma organização e estratégias didáticas,
apresentando alguns resultados. Após essa etapa, os alunos participantes
confeccionaram modelos de câmara escura e pinhole, como um teste, para
depois confeccionar com os alunos do ensino médio.
Outro projeto que pode ser realizado de forma interdisciplinar na escola
é Fotonovela na Escola, um projeto interdisciplinar com as disciplinas de
português, línguas, ciências e informática. Os alunos, divididos em grupos,
devem sortear um conteúdo de ciências para abordador em sua fotonovela.
Nas aulas de ciências, os alunos terão a oportunidade de aprofundar os con-
teúdos de ciências que irão abordar, na aula de português irão confeccionar
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o roteiro da fotonovela, organizando um projeto, para organizar o grupo na


elaboração da atividade.
Nas aulas de línguas, que vai depender de qual ou quais a escola oferta,
os alunos poderão optar ou fazer na disciplina de línguas que corresponde ao
período de ensino que estão. Os alunos farão a tradução do roteiro para outra
língua, aprofundando conhecimentos como vocabulário, gramática, com-
preensão e interpretação de texto. Nas aulas de informática, aprofundarão os
conhecimentos de fotografias, para, em grupo, fazer as fotos que vão compor
a fotonovela. Após as fotos terem sido selecionadas e sequenciadas, a partir
do roteiro, a organização da fotonovela pode ser montada em um editor de
apresentação, como PowerPoint, Google Apresentação, entre outros. A fala das
personagens pode ser escolhida pelos alunos e pode ser em forma de pequenos
áudios ou balões de comunicação, como das histórias em quadrinhos.
Outra disciplina que pode ser inserida neste projeto é a de artes, na qual o
professor pode trabalhar com os alunos a organização dos cenários e vestimentas
das personagens. Para finalizar, os professores devem marcar uma socialização
dos trabalhos, para serem apresentados para a turma, podendo também ter
outras turmas na plateia para assistir os trabalhos elaborados. Esse projeto pode
ser planejado tanto para alunos do ensino fundamental como do ensino médio.

Saiba mais sobre as possibilidades de uso do Paper.li assistindo ao vídeo a seguir.

https://goo.gl/rGvmQD

Possibilidade de trabalhar a
interdisciplinaridade em projetos de
aprendizagem na escola
O projeto interdisciplinar na escola deve relacionar conteúdos de diversas
disciplinas, de forma com que os professores dessas disciplinas estejam com-
prometidos durante todo o processo de ensino-aprendizagem enquanto o
projeto estiver em andamento. O projeto deve ser elaborado, então, com a
colaboração de todos os professores envolvidos, de forma coletiva, cooperativa
e colaborativa.
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O papel do professor será de um mediador e orientador da aprendizagem


dos alunos, fomentando no aluno a curiosidade e a vontade de aprender pela
investigação. Kenski (2001, p. 103) afirma que:

O papel do professor em todas as épocas é ser o arauto permanente das ino-


vações existentes. Ensinar é fazer conhecido o desconhecido. Agente das
inovações por excelência o professor aproxima o aprendiz das novidades, des-
cobertas, informações e notícias orientadas para a efetivação da aprendizagem.

Segundo Masetto (2000 p. 142), o professor, em uma prática pedagógica


pela pesquisa:

[...] assume uma nova atitude. Embora, uma vez ou outra, ainda desempenhe
o papel de especialista que possui conhecimentos e/ou experiências a comu-
nicar, no mais das vezes desempenhará o papel de orientador das atividades
do aluno, de consultor, de facilitador da aprendizagem de alguém que pode
colaborar para dinamizar a aprendizagem do aluno, desempenhará o papel de
quem trabalha em equipe, junto com o aluno, buscando os mesmos objetivos:
uma palavra, desenvolverá o papel de mediação pedagógica.

Masetto (2000) ainda destaca que, no processo de aprendizagem, o aluno


assume papel de aprendiz ativo e participante (não mais passivo e repetidor),
isto é, ele é um sujeito de ações que o conduzem ao aprendizado e à mudança
de comportamento. São ações que ele realiza sozinho — autoaprendizagem
—, ou com o professor e com os seus colegas — interaprendizagem.
Valandro et al. (2017) apresentam um artigo relatando uma experiência
com o uso das TDs, com o objetivo de promover práticas interdisciplinares na
escola, a partir do PIBID, na cidade de Lajeado. A prática pedagógica abordou
os gêneros discursivos, objetivando o letramento digital dos alunos do ensino
fundamental, de duas turmas do oitavo ano, de uma escola municipal.
No projeto foram utilizados, a partir de um ambiente virtual: e-mail, postagens
na rede social Facebook e crônicas publicadas em suportes digitais como blogs
e jornais on-line. Sobre a metodologia das aulas, foi a partir das metodologias
ativas, justificando por essa metodologia centrar o ensino na aprendizagem do
aluno. Nas aulas, foram utilizados vídeos, realizadas de pesquisas e utilizada
sala de aula invertida, como descrevem Valandro et al. (2017).
A primeira atividade foi organizada para os alunos assistirem dois vídeos
— Como surgiu e como funciona o computador e Surgimento e evolução da
internet. Valandro et al. (2017) destacam que os alunos sentiram um certo
desconforto de assistir o vídeo sem nenhuma explicação, o que provou muitas
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inquietações e questionamentos por parte dos alunos, durante esse diálogo,


a apresentação da proposta do trabalho foi realizada a partir de questões e
problemas.
Os alunos, após esse diálogo, foram desafiados a pesquisar os questiona-
mentos realizados e, após assistirem os vídeos, os temas foram sorteados, para
que os alunos respondessem os questionamentos dos colegas. Valandro et al.
(2017) destacam que a atividade de pesquisa foi realizada no laboratório, com
uma turma de cada vez. Durante esse processo, sempre foi alertado para os
alunos procurarem fontes confiáveis sobre os questionamentos, como também
que os alunos refletissem sobre a melhor forma de apresentar a pesquisa para
os colegas, utilizando um gênero textual escrito ou oral.
Depois de realizarem a pesquisa e a abordagem inicial dos gêneros textuais,
os alunos foram desafiados a escrever um e-mail para compartilhar as desco-
bertas durante a pesquisa, de uma maneira resumida, já que Valandro et al.
(2017) mencionam que o e-mail deve ser utilizado para mensagens longas, com
escrita concisa, objetiva e direta. Para os autores, essa atividade também serviu
para detectar os conhecimentos prévios dos alunos sobre a língua portuguesa,
observando que os alunos tiveram como desafio produzir dois textos, um para
um amigo ou familiar e outro direcionado a um diretor fictício de uma revista.
A próxima atividade foi a releitura coletiva dos textos, com o objetivo de
abordar a estrutura linguística que deve ser aplicada para uma escrita mais
formal. Foi pedida a permissão para os alunos para que alguns textos fossem
discutidos e reescritos de forma coletiva, “[...] para que todos percebessem
algumas marcas de oralidade que estavam presentes nos textos mais formais,
além de inadequações sintáticas e ortográficas. Ainda nessa aula foi introduzido
o tema ‘netiqueta’ — etiqueta na internet” (VALANDRO et al., 2017, p. 40).
O objetivo de abordar as etiquetas na internet foi que os alunos refletissem
sobre as regras de bom comportamento em ambientes virtuais, com o objetivo
de provocar nos alunos uma consciência de utilizar a escrita de forma clara e
objetiva, evitando mal-entendidos, a partir de mensagens mal escritas. Após,
foram elaboradas três aulas focadas na produção de crônicas, em formato
on-line. Os bolsistas do PIBID apresentaram em slides uma estrutura padrão
de uma crônica, com um material impresso para cada um dos alunos. Após, a
atividade continua na utilização de um editor de texto, para depois as produções
serem postadas no blog da escola, durante o semestre em que foi realizado o
projeto (VALANDRO et. al., 2017).
No Facebook aconteceu a criação de um grupo para discutir e fomentar a
produção de outro gênero textual, com o foco nas datas festivas e atividades
internas da escola. E como última tarefa, os alunos foram desafiados a produzir
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um vídeo com o tema “o que faz você feliz?”. Os alunos tiveram como suporte
uma oficina de edição de vídeos, para a elaboração individual dos vídeos.
Observa-se nessa experiencia relatada que, durante o processo de ensino-
-aprendizagem de gêneros textuais, os alunos tiveram uma grande interação
com os professores. As atividades foram planejadas e organizadas para que os
alunos tivessem a oportunidade de construir e significar não só conteúdos na
disciplina de língua portuguesa, mas sim de forma interdisciplinar, sabendo
como esse conhecimento pode ser aplicado no cotidiano, com a utilização de
recursos tecnológicos, como e-mails, redes sociais e vídeos, promovendo aos
alunos a reflexão do bom uso dos recursos tecnológicos, não só na escola,
mas para suas vidas profissionais, futuramente.
Analisando as propostas de uso das TDs de forma interdisciplinar citadas ante-
riormente, pode-se perceber como as TDs podem ressignificar a prática pedagógica,
objetivando uma aprendizagem significativa dos alunos. O professor, além de
utilizar as TDs, precisa compreender a importância de propor práticas pedagógicas
interdisciplinares que contribuam para o desenvolvimento social, afetivo, físico
e cognitivo do aluno, ou seja, objetivando o desenvolvimento integral do aluno.

CARDOSO, A. O. C. Tecnologias digitais, currículo e interdisciplinaridade na escola: um


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