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banização, leva a desapropriar sem base pnaçao, para posterior revenda a outro

na lei federal (Decreto-Iei n9 3 365, de particular.


21 de junho de 1941), discriminadora dos 5. A simples leitura do art. 69, da Lei
casos de expropriamento, pois nesta não n9 7 859, exclui a procedência da argui-
se inclui, entre eles, plano de renovação ção. Com efeito. Nele se assegura, ao pro-
urbana e sim plano de urbanização. A lei prietário residente ou estabelecido em imó-
municipal teria violado a Constituição da vel necessário à implantação dos planos,
República por invasão de área da compe- prioridade na aquisição das edificações a
tência privativa da União. serem executadas dentro das áreas por es-
3. Na resposta ao quesito primeiro ti- ses planos abrangidas, e se confere prefe-
vemos oportunidade de deixar dito que na rência, para ocupação de áreas como lo-
expressão da Lei de Desapropriações, pla- catários, aos ex-inquilinos em prédios de-
nos de urbanização (art. 59, letra i), se molidos e substituídos por outros destina-
compreendem os planos de renovação, que dos a locação. Isso torna óbvio que a re-
mais não são do que planos urbanísticos venda não constitui finalidade das desa-
com denominação outra. A lei municipal, propriações. Aparece como solução secun-
por conseguinte, se conteve dentro na enu- dária, como conseqüência eventual no des-
meração de casos feita na lei da União. dobramento do plano renovador da área;
4. A segunda arguição assenta em que não como uma finalidade do ato expro-
o art. 59 da Lei n9 7 859, de 8 de março priatório. Não se desapropria para reven-
de 1973, e o art. 59 da Lei n9 7670, de der. Desapropria-se para urbanizar e re-
24 de novembro de 1971, configuram o vende se quando, ante circunstâncias even-
uso do poder de expropriar para revender, tuais, somente revendendo se possa atingir
o que o art. 153, § 22, da Constituição o objetivo primário da urbanização.
Federal, não permite. Focaliza-se a É o que nos parece.
EMURB como empresa interessada, única Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 1977.
e exclusivamente, na expeculação imobiliá-
ria, adquirindo imóveis de um particular, M. Seabra Fagundes
através do processo coercitivo da desapro- Advogado no Rio de Janeiro

PODER DE POLICIA

Moderna concepção do poder de polícia.


Proteção de mananciais e poder de polícia.
Atribuição de competência policial.
Exercício de poder de polícia por entidades paraestatais
Exercício irregular de poder de polícia e responsab.'lidaée civil.

PARECER EMPLASA, considerando a legislação per-


tinente, especialmente as Leis Complemen-
A CONSULTA tares n9 94, de 29_5.1974, e n9 144, de
22 de setembro de 1976, que a instituiram,
A Empresa Metropolitana de Planeja- as Lei n9 898, de 18 de dezembro de
mento da Grande São Paulo SI A - 1975, e n9 1172, de 17 de novembro de

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1976, e seu regulamento aprovado pelo nistrativo, tomo 2, p. XII-4, Buenos Ai-
Decreto n 9 9714, de 19 de abril de 1977, res, 1975).
que disciplinam o uso do solo para a pro- Surge, depois, no contexto do Estado de
teção dos mananciais, cursos e reservató- Direito, como uma faculdade excepcional
rios de água e demais recursos hídricos de de limitar direitos subjetivos dos adminis-
interesse da Região Metropolitana da trados com a finalidade de salvaguardar a
Grande São Paulo, consulta-nos: segurança, a salubridade e a moralidade
19 ) Pode, ou não, a EMPLASA, como pública (cf. Fernando Garrido Falla, Tra-
entidade paraestatal, exercer o poder de tado de Derecho Administrativo, vol. 11,
fiscalizar e impor sanções em virtude da 3'!- ed., P. 142, Madri, 1966; Gordillo, ob.
aplicação das normas legais de proteção cit., p. XlI-6).
aos mananciais? Atualmente, o conceito de polícia admi-
2 9 ) É juridicamente viável iniciar-se na nistrativa passa por profunda reelaboração
EMPLASA o procedimento de fiscalização em face da concepção do Estado interven-
e aplicação de advertência ou multa e, de- cionista, a ponto de propor-se o abandono
pois, ter o mesmo expediente prossegui- da própria noção de poder de polícia
mento na Secretaria dos Negócios Metro- como conceito autônomo da atividade nor-
politanos para o efeito de imposição de mal do Estado (cf. Gordillo, ob. cit., o.
sanções mais graves? XlI-13).
39 ) Os recursos contra atos de fiscali- 2. Não cabe, nos limites deste pare-
zação e aplicação de sanções, tendo em cer, a discussão do problema até essas con-
vista o disposto no art. 16 da Lei n Q 898, seqüências. Mas é pertinente observar (por-
de 18 de dezembro de 1975, podem ser que interessa ao deslinde da consulta) que
interpostos perante o Presidente da a evolução conduz a atividade de polícia
EMPLASA? administrativa, cada vez mais, às estreitas
A consulta, como se percebe pelo seu balizas das normas legais formais. O pres-
enunciado, envolve o grave problema do suposto da legalidade encontra-se na base
exercício do poder de polícia por entida- mesma do conceito de polícia ou de poder
de paraestatal, o que nos obriga a tecer de polícia, considerado "a faculdade de
considerações prévias sobre essa temática que dispõe a Administração Pública para
e seus reflexos no plano prático, para, de- condicionar e restringir o uso e gozo de
pois, descendo aos aspectos concretos da bens, atividades e direitos individuais, em
questão, respondermos os quesitos apresen- benefício da coletividade ou do próprio
tados. Estado" (cf. Hely Lopes Meirelles, Direi-
to Administrativo Brasileiro, 4'!- ed., p. 104,
I - Proteção aOs Mananciais e Poder São Paulo, 1976).
de Polícia. Não há discrepância na doutrina, que
invariavelmente define a polícia adminis-
1. O conceito de polícia administrativa trativa como atividade limitadora dos di-
vem evoluindo constantemente. Era, ao reitos dos administrados, "actividad admi-
tempo do Estado-polícia, "um poder juri- nistrativa de injerencia en la libertad y
dicamente ilimitado de coagir e ditar or- propriedad de los particulares", como diz
dens para realizar o que se tinha como Garrido Falia (ob. cito p. 151), que a
conveniente", abarcando "a totalidade da concebe como:
atividade administrativa ir.terna" (cf. Agus- "Aquella actividad que la Administra-
tin A. Gordillo, Tratado de Derecho Admi- ción despliega en el ejercicio de sus pro-

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pias potestades que, por razones de in- los particulares, toda limitación en este
terés público, limita los derechos de lo~ campo ha de tener su base en una ley"
administrados mediante el ejercicio, en su (ob. cito p. 157; grifamos).
caso, de la coación sobre los mismos" (ob_ 4. Porque se entende que só a lei pode
cito, p_ 140; no mesmo sentido, cf. Gor- impor limitações a direitos reconhecidos
dilIo, ob. cit., P. XII-6; Miguel S. Mai- pela Constituição, é que a doutrina mais
renroff, Tratado de Derecho Administra- moderna começa a fazer relevante distin-
tivo, t. IV, p. 514, Buenos Aires, 1973, ção entre poder de polícia e atividade de
data da ~mpressão no fim do volume; polícia. Aquele é manifestação do poder
Bartlomé A. Fiorini, Manual de Derecho legislativo, único competente para impor
Administrativo, 2'" parte, p. 645, Buenos limitações aos direitos individuais, median-
Aires, 1968; Jean Rivero, Droit Adminis- te lei formal. A segunda é função da Ad-
tratif, 3'" ed., p. 368, Paris, 1965; Georges ministração Pública que se exerce median-
VedeI, Droit Administratif, 3'" ed., p. 569/ te atos de polícia que, como ato adminis-
570, Paris, 1964; André de Laubadere, trativo, "subordina-se ao ordenamento ju-
Traité de Droit Administratif, v. 19 , 6'1 ed.,
rídico que rege as demais atividades da
563, 1973).
Administração, sujeitando-se inclusive ao
3. Se se trata de mecanismo que im-
controle de legalidade pelo Poder Judiciá-
põe limitações a direitos fundamentais, ga-
rio" (cf. Hely Lopes Meirelles, ob. cit.,
rantidos pela Constituição aos indivíduos,
p. 103). A distinção está insinuada em
é fácil compreender que há que funda-
VedeI (ob. cit., p. 565-573); aparece, po-
mentar-se nas disposições legais ou cons-
rém, clara em Augustín GordilIo, com sua
titucionais, pois, como salienta Fiorini, é
concepção especial da matéria (ob. cito p.
da "essência de todo Estado democrático
e jurídico que as liberdades e direitos fun- XlI-18/19) e, quase no mesmo sentido,
damentais reconhecidos aos indivíduos só em Cretella Júnior (Curso de Direito Ad-
possam ser limitados por uma norma pro- ministrativo, 3. ed., p. 445, Rio-São Pau-
veniente do legislador" (ob. cito p. 663) . lo, 1971), e sintetizada, em termos menos
Bem observa, a esse propósito, Garrido particularistas, em Miguel Marienhoff, in
Falla que aqui, mais do que em outro verbis:
setor, vale: "Por tanto, el ejercicio deI 'poder de po.
"El principio de que toda actividad ad- lida', aI implicar limitaciones a derechos
ministrativa de injerencia en la libertad y esenciales deI individuo ('libertad' y 'pro-
propriedad de los particulares necesita un piedad'), requiere una ley formal, en tanto
fundamento legal formal, es decir, la exis- que la actividad 'policial', propiamente di-
tencia de una norma jurídica con rango cha, sólo requiere la existencia de un acto
de ley formal que atribuya a la Adminis- administrativo, político o do gobiemo, que
tración los poderes necesarios para reali- por principio debe bailar fundamento en
zar tal injerencia" (oh. cito p. 151; gri- una normal 'legal formal'; excepcionalmen-
famos)_ te puede fundarse en un regulamento au-
Por isso é que ele acrescenta, em har- tónomo o en un acto administrativo, po-
monia, aliás, com a doutrina corrente, lítico o de gobiemo, originario, de conteu-
que: do individual. Como ejemplo de medida de
"Dado el principio jurídico fundamentai policia expresada en un acto originario,
que consagra en el Estado de Derecho la de contenido individuai, emanado deI Po-
libre esfera dela lit:ertad y propriedad de der Ejecutivo, puede mencionarse la con-

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mutación de pena (Constitución Nacional, restrições ao uso e gozo da propriedade,
artículo 86, inciso 6 9), que no es acto à liberdade de comércio, de indústria e
'administrativo', sino 'político' o de 'go- outras iniciativas privadas, sujeitando-os a
bierno'. Tratase de un acto 'originario' deI controle especial, mediante atos de licen-
Poder Ejecutivo: su existencia no depende ciamento, de aprovação, de fiscalização e
de 'ley formal' alguna; su fuente directa até de imposição de sanções. Tudo isso,
es Ia Constitución Nacional." (ob. cito p. por caracterizar limitações a direitos indi-
529-530; todos os grifos são do autor). viduais e a atuação de poder de polícia
5. É doutrina que se conforma plena- especial, teria que ser consubstanciado em
mente ao regime constitucional brasileiro, normas de lei formal, para ter validade em
embora aqui não seja hábito fazer aquela face das normas constitucionais vigentes.
distinção entre poder de polícia e ativida- E esta é precisamente a função da Lei n 9
de de polícia. Mas é certo que os atos de 898, de 18.12.1975, que disciplina o uso
polícia, também entre nós, devem funda- do solo para a proteção dos mananciais,
mentar -se em lei formal, lei emanada do cursos e reservatórios de água e demais
poder legislativo segundo processo previsto recursOS hídricos de interesse da Região
na Constituição, a não ser hipótes~s excep- Metropolitana da Grande São Paulo, cujo
cionais em que se baseia diretamente em art. 29 declara, como reservadas (portan-
norma constitucional, para salvaguarda da to, sujeitas a controle especial, sujeitas à
ordem pública, dos bons costumes e da atividade policial especial) as áreas de pro-
moralidade, consoante admite o art. 153, teção ali indicadas, nas quais, segundo o
§§ 59, 89 e 27 9, da Constituição Federal, art. 39 , parágrafo único, a liberdade de
por exemplo. Note-se aqui, porém, a im- uso e gozo da propriedade de terreno,
portância da distinção doutrinária entre os quanto a faculdade de arruamento, lotea-
conceitos de polícia geral e polícia especial, mento, edificação e execuções de obras,
porque a primeira permite maior flexibili- assim como a prática de atividades agro-
dade à Administração, é mais propícia à pecuárias, comerciais, industriais e recrea-
atuação discricionária, fundada em concei- tivas, ficam sujeitas a controle especial e
tos genéricos de ordem pública, bons cos- só podem ser exercidas mediante licencia-
tumes e moralidade, como constam dos ci- mento e aprovação prévia da Secretaria
tados dispositivos constitucionais, precisa- dos Negócios Metropolitanos, sob pena de
mente porque este é o seu objeto. Já a cessação compulsória da atividade ou em·
polícia especial, seja porque tem por objeto bargo e demolição da obra (art. 49 ), além
matéria diversa da segurança, da tranqüi- da possibilidade da aplicação de outras
lidade e da salubridade, enfim, matéria di· sanções previstas no art. 13, no caso de
ferente do conceito tradicional da ordem infração das disposições da lei e seu re-
pública, seja porque está sujeita a um re- gulamento.
gime jurídico particular (VedeI, ob. cito p. 7. Tão consciente estava o Poder Pú-
569-570; Jean Rivero, ob. cit., p. 371), su- blico estadual de sua vinculação ao prin-
bordina-se a uma previsão legal muito mais cípio da legalidade, para o exercício do
estreita. poder de polícia nesta matéria, que editou
6. Ora, a proteção dos mananciais exi- os arts. 59 e 11 da citada Lei 898/75,
ge um regime jurídico especial que, para prevendo lei, e não mero regulamento, para
ser eficaz, necessariamente importa em li- outras restrições ao uso do solo visando à
mitações a direitos individuais, tais como proteção dos mananciais. In verbis:

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"Art. 59 - As áreas de proteção ;;efe· de polícia geral, ao passo que as ativida-
ridas no art. 29 serão delimitadas por lei, des de polícia especial, como se dá no
que poderá estabelecer, nos seus limites, presente caso, são mais estreitamente su-
faixas ou áreas de maior ou menor restri- jeitas aos vínculos da lei formal. ~ preci-
ção. conforme o interesse público o exigir. samente nesse terreno que se verifica a
"Parágrafo único - As faixas ou áreas situação assinalada por Hely Lopes Mei-
de maior restrição, denominadas de pri. relles, quando observa que "o ato de po-
meira categoria, abrangerão, inclusive, o lícia é, em princípio, discricionário, mas
corpo de água, enquanto que as demais, passará a ser vinculado se a norma legal
denominadas de segunda categoria, serão que o rege estabelecer o modo e forma de
classificadas na ordem decrescente das sua realização" (ob. cit., p. 109) .
restrições a que estarão sujeitas."
•••••••••••••••• o' ••••••••••••••••••• 11 - Exercício do poder de polícia por
.. Art. 11 - As restrições a serem esta- entidade paraestatal
belecidas em lei e correspondentes às áreas
de proteção a que se refere o art. 29, sem 10. Verificamos, de passagem, que o
prejuízo da legislação em vigor para ou- ato de polícia é um tipo de ato adminis-
tros efeitos, constarão de normas relativas trativo, por isso está sujeito aos mesmos
a: ... " (seguindo-se, em 13 incisos, os requisitos de validade deste, como bem
condicionamentos ao uso do solo e às ati- acentua He[y Lopes Meirelles, in verbis:
vidades naquelas áreas). "As condições de validade do ato de po-
8. Foi precisamente para delimitar aque- lícia são as mesmas do ato administrativo
[as áreas, fixar as faixas de maior ou me- comum, ou seja, a competência, a finali-
nor restrições e definir os condicionamen- dade e a forma, acrescidas da proporcio-
tos indicados naqueles dispositivos da Lei nalidade da sanção e da legalidade dos
n 9 898/75, que se promulgou a Lei n9 meios empregados pela Administração"
1 172, de 17. 11. 1976, porque não basta- (Direito Administrativo Brasileiro, 4. ed.,
va, para satisfazer ao princípio da legali- p. 113).
d"de, no caso, a expedição Ge simples re- Como a consulta envolve a indagação
gulamento, pois, como adverte insistente- da possibilidade ou não de a EMPLASA
mente Garrido FalIa: exercer o poder de polícia, no que atinge
"La aplicación deI principio de la lega- à proteção dos mananciais, convém primei-
lidad a la materia concreta que nos ocupa ro verificarmos o problema da competên-
nos exige insistir en la regia de qUe el cia em geral para a prática dos atos de
regulamento de policia no puede estab[ecer polícia. Pelo enunciado acima, já se tem
limitaciones no previstas en [a ley que que a competência é condição primeira de
confiere la potestad" (ob. cit., p. 157)_ sua validade, como o é em relação à prá-
9. Nem caberia alegar, contra a afir- tica de qualquer ato administrativo. "Ne-
mação supra, o argumento da ampla dis- nhum ato - discricionário ou vincula-
cricionariedade de que goza a Administra- do (citemos outra vez o abalizado ma-
ção no exercício da atividade de polícia. gistério de Hely Lopes Meirelles) - po-
Primeiro, porque o princípio da legalidade de ser realizado validamente, sem que o
rege também o uso do poder discricioná- ag~nte disponha ce poder legal para pra-
rio. Segundo, porque essa discricionarieda- ticá-lo" (ob. cit., p. 118; grifamos). E em
de se aplica especialmente às atividades que consiste esse poder legal? Qual o seu

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fundamento? O mesmo autos nos dá res· como discricionária, sem abuso ou desvio
posta adequada: de poder."
"Entende· se por competência administra. 11. Nesse campo é também de interes-
tiva o poder atribuído ao agente da Admi- se a distinção entre polícia geral e polícia
nistração para o desempenho específico de especial. A primeira por princípio compe-
SU(lS funções (g.n.). A competência resulta te às entidades públicas territoriais, distri-
da lei e por ela é delimitada (g.n.). Todo buídas entre seus órgãos conforme indicar
ato emanado de agente incompetente, ou a lei, enquanto as funções de polícia espe-
realizado além do limite de que dispõe a cial, como nota Fiorini, podem ser atri-
autoridade incumbida de sua prática é in. buídas a entidades institucionais (ob. cit.,
válido, por lhe faltar um elemento básico p. 156). Jaime Vidal Perdomo esclarece
de sua perfeição, qual seja a correta ma- bem esse ponto na seguinte passagem de
nifestação da vontade da administração" sua obra:
(ob. cit., p. 118). "En cuanto a las policias especiales, la
Cumpre frisar bem: a "competência re- ley que las stablece indica las autoridades
sulta da lei e por ela é delimitada". Não que han de ejercelas y las medidas que
pode decorrer pura e simplesmente de de- pueden tomar. A manera de ejemplo, he-
creto ou de norma infra legem. Caio Tá- mos citado la relativa a la conservación
cito, sobre isso, oferece lição específica, de recursos naturales confiada al Instituto
quando esclarece: de Recursos Naturales Renovables (Indere-
na); existen otra sobre puertos, aduanas,
"O exercício do poder de polícia preso
ferrocarriles, etc., y lo serán las que cum-
supõe, inicialmente, uma autorização legal
plan las funciones de este orden deI de-
explícita ou implícitll atribuindo a um de-
creto-ley 2881 de 1974 (Código de recur-
terminado órgão ou agente administrativo
sos naturales y contaminación ambiental)."
a faculdade de agir. A competência é sem-
(Cf. Derecho Administrativo, 5. ed., p.
pre condição vinculada dos atos adminis-
213, Cali, 1977; grifamos.)
trativos, decorrente necessariamente de pré·
O exemplo do autor é muito expressi-
via enunciação legal. A sua verificação
vo, porque se situa na área de interesse
constitui, portanto, outro limite à latitude
em discussão, e é de ter-se em mente sua
da ação de polícia que somente poderá
declaração inicial, segundo a qual a lei
emanar de autoridade legalmente habilita-
que estabelece as polícias especiais é que
da." (Cf. Direito Administrativo, p. 142, indica as autoridades que hão de exercê-
São Paulo, 1975; grifamos.) las. Transpondo a lição para o caso con-
Não precisamos de ensinamentos mais creto deste parecer, teríamos que a com-
claros do que esses. Mas cabe ainda re· petência, para o exercício da polícia es-
cordar que isso mesmo decorre de texto pecial relativa à proteção dos mananciais,
legal expresso, qual seja o parágrafo único pertence aos órgãos e entidades, indicados
do art. 78 do Código Tributário Nacional, pelas leis, que a estabeleceram (Leis 898/75
assim redigido: 1 172/76), dentre os quais não ~ encon-
"Considera-se regular o exercício do po- tra a EMPLASA, como veremos mais
der de políCia quando desempenhado pelo adiante.
órgão competente nos limites da lei apli- 12. Outro ponto importante, que ressai
cável, com observância do processo legal dos ensinamentos que acabamos de trans-
e, tratando-se de atividade que a lei tenha crever, consiste na indicação de que as

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atividades de polícia especial podem ser empresas públicas que, ao lado de ativida-
atribuídas a entidades diversas das estatais. des econômicas, exerçam poder de polícia
Toca, assim, na questão da atribuição da sobre áreas bem definidas", vale dizer:
atividade de polícia a entidades paraesta- exercem o poder de polícia especial, me-
tais, que ainda não sofreu, de parte da diante atribuição legal, na área de sua ati-
doutrina, tratamento aprofundado. Tem-se vidade. Arrola os exemplos da EMBRA-
discutido, a respeito do assunto, muito na TUR, do BNH, ECT, a que podemos
base da delegação de competência, e sem- acrescentar a CETESB e a DERSA (esta
pre se esbarra na tese da indelegabilidade sociedade de economia mista), as quais
do poder de polícia. Falta, certamente, fa· receberam por lei competência de polícia.
zer aquela distinção que a doutrina mais O caso da DERSA é ilustrativo. Cria-
recente vem realizando entre poder de po- da por autorização do Decreto-lei n'? 5,
lícia e atividade de polícia. Os limites deste de 6.3.1969, para explorar, mediante con-
parecer não comportam aprofundar o tema cessão, o uso das rodovias Anchieta e
aqui. Basta apenas relembrar Marienhoff, Imigrantes, essa lei não lhe deu explici-
que esclarece que o exercício do poder de tamente competência para o exercício do
polícia é inalienável (claro, essa inaliena- poder de polícia especial na área, ape-
bilidade relaciona-se com pessoas de di- nas previu que do contrato de concessão
reito privado); é também indelegável (ob. constariam cláusulas e condições que as-
cit., p. 524/525): segurassem a regularidade, continuidade e
"Pero también he dicho en otro lugar eficiência dos serviços prestados pela con-
de Ia presente obra" - conclui - "que, cessionária. Aí bem se poderia entender
sin tratarse precisamente de una 'delega- que estaria implícita a atribuição de ati-
ción' de funciones, puede tratarse de un vidade policial pertinente e necessária à
'imputación de funciones' o de una 'atri- regularidade e eficiência do serviço con-
bución de competencia' (tomo I'?, n'? 195, cedido. E assim, realmente, entendeu o
p. 558-559). Esto último, por principio, es Regulamento do Sistema Rodoviário An-
procedente desde el punto de vista cons- chieta-Imigrantes, tanto que atribuiu, nos
titucional, incluso tratandose de ejercicio arts. 13 e 14, "à DERSA o exercício do
dei poder de policía" (ob. cit., p. 525). poder de polícia administrativa" e a con-
13. Essas idéias gerais se aplicam no seqüente competência para impor multas
direito brasileiro, que admite, mediante aos infratores dos regulamentos adminis-
norma legal expressa, a atribuição de com- trativos aplicáveis ao sistema rodoviário
petência para o exercício de atividade de referido. O Poder Público estadual, contu-
polícia até mesmo a pessoas privadas, do, parece não ter-se sentido seguro da
quando no exercício de uma função pú- legitimidade dessa atribuição de competên-
blica, como mostrou Cid Tomanik Pom- cia policial administrativa por simples de-
peu, referindo-se, por exemplo, ao art. 139 creto, pois, logo, d Lei n'? 95, de 29.12.72,
do Código Eleitoral que declara caber ao alterando do Decreto-Iei n'? 5/1969, ex-
presidente da mesa receptora a polícia dos pressamente conferiu à DERSA competên-
trabalhos eleitorais (cf. "Poder de Polícia cia para "exercer, nas rodovias abrangidas
e Empresa Pública", in O Estado de São pela concessão, além de outras atividades
Paulo, de 2.8.77, p. 32). Nesse artigo, Cid úteis ou necessárias ao cumprimento de
Tomanik Pompeu mostra que "tem sido suas finalidades, todos os poderes implí-
aceita, na prática, a criação, por lei, de citos e explícitos, com os respactivos di-

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reitos e obrigações, inclusive o poder de tivo a realização de serviços necessários
polícia administrativa, inerente e por isso ao planejamento, programação coordena-
necessário ao bom desempenho dos servi- ção e controle da execução dos serviços
ços concedidos". comuns de interesse metropolitano. Inclui-
14. Enfim, para concluir essas consi- se nesse objetivo, ainda que implicitamen-
.lerações, que entendem legítima a atribui- te, a competência para o exercício do po-
ção de competência por lei, ou mesmo de- der ou da atividade de polícia? Certamen-
legação de competência autorizada expres- te que não.
sa e especificamente por lei, às entidades 17. Efetivamente, a única expressão
paraestatais, voltemos a citar Cid Tomanik que poderia abranger tal atividade é "con·
Pompeu sobre o conteúdo dessa competên- trole da execução dos serviços comuns de
ria, nOS termos seguintes: interesse metropolitano". Mas o sentido da
"O pod'i:r de polícia delegado às empre- expressão, decorrente do sistema normati-
~as públicas pode abranger o estabeleci- vo em que se insere, afasta, sem sombra
mento de normas, o exercício de atividades de dúvida, qualquer conotação com poder
"Iecessárias ao cumprimento dessas normas, de polícia. Trata-se, em verdade, de con-
bem como a designação de agentes de po- trole de execução de serviço público ou
lícia" (cf. artigo citado, conclusão g). de utilidade pública de interesse metropo-
Convém acrescentar também a possibili- litano. A expressão "serviços comuns de
dade de aplicação das sanções autorizadas interesse metropolitano" tem sentido bas-
na lei, desde que expressamente conste da tante preciso no sistema normativo refe-
atribuição da competência, e, embora o rente às regiões metropolitanas, porque é
texto citado só fale em empresa pública, sua existência numa área urbanizada con-
vale para a sociedade de economia mista. tínua, abrangente de mais de um Municí-
15. A pergunta que se põe é: a pio, que fundamenta a institucionalização
EMPLASA recebeu, da lei, competência de ditas regiões, como se vê do art. 164
para o exercício da atividade de polícia da Constituição Federal, onde o termo já
em relação à aplicação das normas legais aparece:
de proteção aos mananciais? Podemos "A União, mediante lei complementar,
avançar a conclusão de que, no nosso en· poderá para a realização de serviços co-
tender, não lhe fora atribuída, por lei, muns, estabelecer regiões metropolitanas,
nem direta nem indiretamente, essa com- consti:uídas por municípios que, indepen-
petência. dentemente de sua vinculação administra-
tiva, façam parte da mesma comunidade
11 - Objetivo da EMPLASA e exercício sócio-econômica."
do poder de polícia 18. Então, "serviços comuns", no tex-
to constitucional, significa serviços que
16. A EMPLASA é uma empresa pú- eram de competência de cada Município
blica, criada com base no art. 14 da Lei da região, mas que, pela conturbação, pas-
Complementar (estadual) nQ 94, de 29 de saram a interessar a toda a comunidade
maio de 1974, que encontra arrimo no aí assentada. Por isso, deixaram de ser
art. 39, parágrafo único, da Lei Comple- simplesmente locais, para ampliarem-se às
mentar (federal), de 8.6.75, que estabele- dimensões metropolitanas, razão por que
ceu, dentre outras, a Região Metropolita- as citadas leis complementares falam em
na da Grande São Paulo. Tem por obje- serviços comuns de interesse metropoli:a-

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no. Sobre o assunto já tivemos ocasião Assim também no art. 69 da mesma lei
de escrever, em modesta obra publicada, e no art. 39, quando dá competência ao
o seguinte, que nos permitimos relembrar Conselho Deliberativo para promover a
aqui, porque ajuda a compreensão do elaboração do Plano de Desenvolvimento
conceito: integrado da região metropolitana e a pro-
"As Metrópoles, que são exatamente gramação dos serviços comuns e para coor-
aquelas áreas urbanizadas contínuas que denar a execução de programas e proje-
constituem as áreas metropolitanas, de· tos de interesse da região metropolitana,
mandam a prestação de serviços que so· objetivandO-lhes, sempre que possível, a
mente podem ser executados com eficiên- unificação quanto aos serviços COmuns. E,
cia na medida em que sejam realizados para estirpar qualquer resquício de dúvi-
em toda ela. Vale dizer que surgem encar- da que pudesse ainda pairar no espíritc
gos e serviços que, por serem de interesse do intérprete, é sobremaneira expressivo
comum de toda a área metropolitana, per- o parágrafo único desse art. 39 , ao esta-
dem as características de serviços locais de tuir:
peculiar interesse dos Municípios dela in- "A unificação da execução dos serviços
tegrantes, para se tornarem de interesse comuns efetuar-se-á quer pela concessão
metropolitano (grifamos). do serviço à entidade estadual, quer pela
"Assim, por exemplo, se em um núcleo constituição de empresa de dmbito metro-
urbano isolado os serviços de transportes, politano, quer mediante outros processos
sistema viário, saneamento básico, uso do que, através de convênio, venham a ser
solo, produção e distribuição de gás com- estabelecidos...
bustível canalizado, aproveitamento dos Aí está o texto que se harmoniza com
recursos hídricos e controle de poluição aquele objetivo da EMPLASA, traduzido
ambiental, planejamento integrado do de- pela expressão controle da execução dos
senvolvimento econômico e social, entre serviços comuns, exatamente para a con·
outros, caracterizam serviços locais de pe- secução daquela unificação. No mais o
culiar interesse municipal e hão de ser sentido da expressão está amplamente con-
prestados pelo respectivo Município, em sagrado na Lei Complementar n 9 94/74,
uma área ou região metropolitana eles bastando citar dois dispositivos:
desbordam dessa caracterização, porque
"Art. 49
ultrapassam o interesse puramente local
e municipal, e incluem-se entre o interes- § 19 -

se comum a todos e, assim, hão de con- § 29 - Os serviços ou suas etapas e


ceituar-se como de interesse metropolita- parcela, já implantados ou em fase de im-
no." (Cf. nosso Curso de Direito Consti- plantação, concedidos ou não, que venluzm
tucional Positivo, vol. I, P. 184/185.) sendo executados pelos munidpios inte-
19. É esse o sentido em que a expres- grantes da Região Metropolitana da Gran-
são é empregada na Lei Complementar n 9 de São Paulo e que passaram a ser con·
14/75, conforme se vê da definição que siderados serviços comuns de interesse me-
lhe dá no art. 59: tropolitano, continuarão sob sua respon-
"Reputam-se de interesse metropolitano sabilidade .....
os seguintes serviços comuns aos municí- "Art. 59 - Os serviços comuns de in-
pios que integram a região: ... " (segue- teresse metropolitano serão executados por
se a enumeração) . entidades ou 6rgãos federais, estaduais e

249
municipais e por empresas de âmbito me- mos, isso é matéria que há de ser espe·
tropolitano, podendo também ser objeto cificamente indicada e delimitada na lei.
de concessão, permissão. autorização ou
convênio." IV - Atribuição de atividade de polícia
A execução, pelas entidades enumeradas em matéria de proteção dos mananciais
nesse dispositivo, desses serviços públicos
ou de utilidade pública, comuns a toda 21. As considerações feitas até aqui
região, e, portanto, de interesse metropo- demonstram que a competência para o
litano, é que fica sujeita ao controle da exercício da atividade ou poder de polí-
EMPLASA, nos termos do art. 15 da Lei cia é condição de validade dos atos daí
Complementar 94/74. E isso não só não decorrentes e que a competência é sem·
é exercício do poder de polícia, como não pre indicada na lei. Portanto, só tem com·
fundamenta atividade policial no campo petência nessa matéria o órgão ou entida·
específico da proteção dos mananciais, de a que ela tenha sido expressamente
em relação ao qual a lei atribuiu a refe- atribuída em lei, sem possibilidade de va·
rida atividade a outros órgãos e entida· lidade de sua transferência ou delegação
des. para outro órgão ou entidade sem expres·
sa e específica autorização da lei e nos
20. O art. 16 da Lei Complementar
limites em que esta o houver feito.
94/74 conferiu à EMPLASA faculdades
expressas para celebrar convênios ou con- 22. Ora, se percorrermos os dispositi-
tratar com pessoas físicas ou jurídicas de vos da Lei nQ 898/75, e da Lei 1172/76,
direito público ou privado, bem assim não encontraremos a atribuição nem a poso
para promover as desapropriações de imó- sibilidade de delegação de competência,
veis, previamente declarados de utilidade nessa matéria, à EMPLASA. Com efeito, o
pública, necessárias aos serviços comuns que neles deparamos é que os atos ou me·
de interesse metropolitano. Poder-se-ia pen- didas de polícia ou com esta correlatos fo·
sar que aí se permite receber, mediante ram expressamente atribuídos à competên.
Convênio, com a Secretaria dos Negócios cia primeiramente da Secretaria dos Negó.
Metropolitanos, como prevê o art. 26, pa· cios Metropolitanos e acessoriamente à Se-
rágrafo único, do Decreto nQ 9 714, de cretaria do Meio-Ambiente, à CETESB e
19.4.1977, competência em matéria de po- Secretaria da Agricultura, quando esteja en·
lícia administrativa relativamente aos as· volvida matéria das respectivas atribuições.
suntos incluídos em seu objetivo e espe· 23. Realmente, vejam-se os arts. 39 ,
cialmente sobre proteção dos mananciais. parágrafo único, 4Q, 6Q, § 29 , lO, 12 e 16,
Mas o texto não tem esse alcance. Pri- da Lei 898/75, nos quais se atribui: 19 )
meiro porque, pelo contexto, bem se per· à Secretaria dos Negócios Metropolitanos
cebe que os convênios e contratações ali a competência para: a) aprovação prévia
autorizadas hão de versar assuntos incluí· de projetos de arruamento, loteamento e
dos no objetivo da EMPLASA enunciado outras atividades nas áreas de proteção;
no artigo anterior (art. 14). Segundo por- b) a cassação do licenciamento, se houver,
que, na competência pura e simplesmen- a cessação compulsória da atividade, o
te para celebrar convênio, não pode in· embargo e a demolição de obras, nos ca·
cluir a competência para o exercício de sos de exercício das atividades controladas
atividade de polícia, porquanto, como vi. sem licenciamento e aprovação da mesma

250
Secretaria, com inobservância da citada lei, 29 de maio de 1974, para o desempenho
ou em desacordo com os projetos aprova- das atribuições que lhe são conferidas por
dos; c) aplicação das medidas necessárias esta lei."
à adaptação das urbanizações, edificações Nesse texto não se está atribuindo nada
e atividades existentes em cada área de de novo à EMPLASA; quando aí se diz
proteção às disposições da lei; d) aplica- que a Secretaria dos Negócios Metropoli-
ção das medidas previstas no art_ 13, ou tanOs utilizará os seus serviços técnicos,
seja, as sanções de polícia ali indicadas - apenas se reconhece que esta executa ser-
advertência, multa, interdição, embargo, viços técnicos, dos quais aquela se servi-
demolição; e) conhecimento de recursos rá. Nisso não se reconhece à Empresa
contra sanções previstas na lei; 2 9 ) à Se- competência para o exercício de ativida-
cretaria do Meio-Ambiente a competência de de polícia, para o qual ela não é com-
para: a) manifestar quanto aos aspectos petente por força de suas atribuições, pois
de poluição ambiental; b) fixar critérios é certo que atividade de polícia ou poder
de proteção ao meio-ambiente; 39 ) à de polícia não constitui serviço técnico,
CETESB a competência para: a) oferecer visto que consubstancia função comum na
parecer para a manifestação da Secreta- Administração.
ria do Meio-Ambiente, quanto aos aspec- 25. Na verdade, os serviços técnicos
tos de poluição ambiental; b) aplicar san- ali referidos são os previstos no art. 69 do
ções às infrações ao disposto na citada lei Regulamento das Leis 898/15 e 1172/76,
quando ocorrer poluição também no meio- aprovado pelo Decr. n9 9714, de 19.4.77,
ambiente_ Percorram-se, agora, os dispo- isto é:
sitivos da Lei 1 172 de 1976 e ver-se-á "I - praticar todos os atos exigidos pa-
que são esses os mesmos órgãos e entida- ra adequação dos projetos que lhe forem
des competentes, com ampliação do con- apresentados às disposições regulamenta-
trole da CETESB e o reconhecimento da res referentes às áreas de proteção aos ma-
competência da Secretaria da Agricultura nanciais;
para aprovar a remoção de cobertura ve- "lI - expedir notificações aos interes-
getal (cf_ arts_ 13, 11, 19, 20, 21, 23, 24, sados para o cumprimento de exigências
27, 29 e 33)_ relativas a projetos em erame;
"111 - expedir informações técnicas à
24. Em nenhum dispositivo dessas leis
Secretaria dos Negócios Metropolitanos,
se confere competência à EMPLASA para
destinadas a instruir os processos de apro-
a prática de atos ou medidas de política vação de projetos;
ou com esta relacionados. A Lei 898/75
"IV - representar à Secretaria dos Ne-
sequer menciona a Empresa. A Lei 1 1721
gócios Metropolitanos para a aplicação das
76 apenas se refere a ela no art. 36, in
sanções previstas neste Regulamento, pra-
verbis:
ticando todas as atividades técnicas neces-
"A Secretaria dos Negócios Metropoli- sárias à caracterização das infrações."
tanos utilizará os serviços técnicos da Em- Por isso mesmo é que o parágrafo úni-
presa Metropolitana de Planejamento da co do mencionado artigo determina à
Grande São Paulo SIA - EMPLASA, EMPLASA a cobrança de preço correspon-
unidade técnica do Sistema de Planeja- dente aos serviçOs técnicos executados. Ora,
mento e Administração Metropolitana, nos se se tratasse de prestação de atividade de
termos da Lei Complementar n 9 94, de polícia não comportaria a cobrança de

251
preço, porque o exercício do poder de formal, como já vimos com base na dou·
polícia constitui fato gerador de taxa trina dos autores.
(Constituição Federal, art. 18, I). Além 28. Vale dizer que exercer atividade
do mais, os serviços técnicos referidos no policial, sem competência, é fazê-lo irre-
art. 36 da Lei 1 172/76 e no seu Regula- gularmente, ilegitimamente, que gera atos
mento são prestados à Secretaria dos Ne· e medidas nulos, que podem ser invali-
gócios Metropolitanos, enquanto atividade dados pelo Poder Judiciário. O exercício
de polícia é executada em relação ao ad- do poder de polícia por órgão competen-
ministrado. te e com observância do due process of
26. Finalmente, cabe esclarecer que, law é, além de postulado doutrinário, exi-
quando o art. 15 da Lei n'? 898/75 dá gência básica da lei, entre nós, como já
a entender que a outros órgãos ou entida- vimos, mas convém repetir:
des também cabe aplicar multa, não po- "Considera-se regular o exercício do
deria estar supondo essa competência da poder de polícia quando desempenhado
EMPLASA que nem é mencionada no pelo 6rgão competente nos limites da lei
seu texto, mas certamente estava com aplicável, com observância do processo
mente na Secretaria do Meio·Ambiente e legal e, tratando-se de atividade que a lei
na CETESB que não só são reconhecidas tenha como discricionária, sem abuso ou
na lei como competentes para a prática desvio de poder."
de atos ou medidas de polícia, mas ainda
Quer dizer: será irregular o exercício
porque, sabidamente, dispõem de compe-
do poder de polícia por 6rgão incompe·
tência policial administrativa, no que tan·
tente (ou mesmo competente, quando não
ge aos aspectos da poluição do meio-am-
respeite os limites da lei aplicável).
biente, conferida por leis instituidoras, o
29. Além de nulo o ato ou medida
que não ocorre com a EMPLASA.
decorrente do exercício irregular do poder
de polícia, ainda pode gerar responsabili-
v - Exercício irregular da polícia admi- dade civil da EMPLASA e do Estado,
nistrativa e responsabilidade civil para compor possível dano causado a ter-
ceiros. A respeito do tema, não precisamos
27. Pelo que ficou dito, uma conclusão descer a minudências. Basta recorrer ao
se impõe inelutável: lei alguma conferiu ensinamento de Marienhoff, que oferece
à EMPLASA competência para o exercí- síntese suficientemente compreensiva sobre
cio da polícia administrativa relativamente a questão, nos termos seguintes:
à proteção dos mananciais. Daí deflui ou- "El ejercicio dei poder de policía, por
tra conclusão inabalável: é ilegal conferir sí sólo, no da lugar a resarcimiento; vale
a ela atividade de polícia por meio de con- decir, el ejercicio dei poder de policía, por
vênio ou qualquer outra forma com base sí, no genera responsabilidad dei Estado
no art. 26, parágrafo único, do Regula- por los perjuicios que de ello resulten, pues
mento das Leis 898/75 e 1172176, apro- tales supuestos 'perjuicios' no significan
vado pelo Decreto 9714/77. Competência, otra cosa que efectos de las lícitas y nor-
inclusive em matéria de polícia adminis- males limitaciones al respectivo derecho
trativa, ou talvez com mais razão nela dei administrado: menoscabos semejantes
pelo constrangimento a direitos individuais no constituyen jurídicamente danos resar-
que envolve, somente se confere por lei cibles.

252
"LO expuesto refiérese al ejercicio 'regu- última hipótese, fica, ao órgão ou autori-
lar' de dicho poder_ Pero si se tratare de dade primariamente competente, o poder
un ejercicio 'irregular' es evidente que los discricionário de fazer ou não a outorga
daiíos serían indemnizables, sea por el autorizada, bem como o de revogá-la, em
propio Estado o por los agentes deI mismo qualquer caso, sem prejuízo da competên-
que hubieren intervenido en el procedi- cia própria que manterá, sempre nos limi-
miento." (Cf. Tratado de Derecho Admi- tes e indicações da lei.
nisirativo, 1. IV, p_ 685.) 32. Com a atribuição de competência
policial, também se outorgará explícita ou
VI - Atribuição de competência poli- implicitamente a competência para a ins-
cial à EMPLASA tauração do procedimento de polícia des-
tinado à aplicação das sanções e medidas
30. Se é certo que a EMPLASA não correspondentes, inclusive a previsão de
dispõe de poder de polícia administrativa recursos. O certo é que, em vindo a ....
relativamente ao uso do solo para prote- EMPLASA a ter competência para a apli-
ção dos mananciais, cursos e reservatórios cação de sanções de polícia, seu Presidente
de água e demais recursos hídricos, nada será autoridade competente para conhecer
impede que se lhe atribua tal competência. e decidir os recursos hierárquicos pl:rtinen-
31. Essa competência há de ser confe- teso Por princípio, não caberá recurso de
rida sempre por lei, em limites que terá sua decisão para o Secretário dos Negó-
que enunciar. Por se tratar de entidade pa- cios Metropolitanos, apesar de a Empresa
raestatal, a atribuição da competência de- ser vinculada à respectiva Pasta. Esse re-
verá, de preferência, ser outorgada a ela curso somente será cabível, se expressa-
diretamente pela lei. Mas entendemos que mente for previsto em lei, pois, então, não
será também legítimo fazê-lo por via indi- se tratará mais de recurso hierárquico, ge-
reta, ou seja, a lei, em lugar de declarar ralmente cabível só pela relação hierár-
que lhe compete tais ou quais atividades quica entre quem emite a decisão recorrí-
de polícia, poderá autorizar, por exemplo, vel e aquela que a pode rever. Cuida-se,
que se lhe atribua, por decreto, a compe- ao inverso, do chamado recurso impróprio,
tência, nessa matéria, que cabe à Secreta- que só será possível, quando previsto em
ria dos Negócios Metropolitanos, nos ter- lei (cf. Hely Lopes Meirelles, Direito Ad-
mos que a própria lei há de especificar cla- ministrativo Brasileiro, 4~ ed., p. 132, Cre-
ra e explicitamente. Essa última hipótese tella Júnior, Curso de Direito Administra-
é que caracterizaria uma aparente delega- tivo, 3~ ed., p. 481).
ção de competência. Não tem essa natu- 33. Já verificamos, com base no pará-
reza. porque a delegação administrativa grafo único do art. 78 do Código Tributá-
consiste na transferência de poder da au- rio Nacional: um elemento fundamental,
toridade delegante para a delegada em ter- para que o exercício do poder de polícia
mos definidos por aquela. Ora, no caso da seja tido como regular, é a observllncia do
atribuição de competência em matéria de processo legal. Então, o procedimento es-·
polícia, a lei já define a própria extensão pecialmente destinado a aplicar as sanções
e conteúdo da competência que o decreto de polícia terá que atender no mínimo a
indicará. A diferença da atribuição direta princípios gerais estabelecidos em lei, espe-
pela lei e a atribuição por decreto, autori- cialmente no que tange à competência.
zada por aquela, está no fato de que, na Esta, no respeitante ao procedimento de

253
polícia, pertence ao órgão ou entidade a cretaria dos Negócios Metropolitanos, mas
que se reconhece o exercício de atividade deverá fazê-lo com clareza_ De iure con·
de polícia. Ora, o art. 13, § 19 , da Lei dendo, qualquer devido processo legal será
898, de 18.12.1975, confere à Secretaria possível.
dos Negócios Metropolitanos competência 35. Enfim, para concluir essas conside-
para aplicar as medidas sancionadoras nele rações, cabe uma palavra a propósito do
previstas. Seu art. 16, por seu turno, de- art. 16 da Lei 898/75, que dá competência
clara caber recurso ao Secretário dos Ne- ao Secretário dos Negócios Metropolitanos
gócios Metropolitanos contra decisões que para decidir os recursos interpostos contra
aplicam as sanções de polícia previstas na- a aplicação das sanções previstas nesta lei.
quela lei. Como a EMPLASA não tem, Claro que, qualquer decisão que aplique
por lei, competência para a prática de atos sanção prevista na lei, seja qual for a au-
ou medidas de polícia relativamente à ma- toridade que a emita, fica sujeita ao reexa·
téria de que cogita a referida lei, também me daquele Secretário, à vista do referido
não tem competência para procedimento al- dispositivo, pois ele fundamenta, ao espe-
gum nesse campo, a não ser apenas a de cificar "recurso da aplicação das sanções
representar àquela Secretaria para a aplica- previstas nesta lei", até mesmo o cabimen-
ção das sanções previstas, praticando todas to de recurso impróprio, ou seja, recurso
as atividades técnicas necessárias à carac- ao Secretário dos Negócios Metropolita-
terização das infrações (Decreto 9714/77, nos, da aplicação, pelo Presidente da
art. 69, IV). EMPLASA, de sanções pre-vistas naquela
34. ~ qualquer forma, mesmo que ela lei. Isso assim será na suposição de que a
receba competência de polícia, não deverá EMPLASA venha a receber competência
ser possível que procedimentos nela inicia- legal de polícia, sem alteração direta ou
dos, para efeito de fiscalização e aplicação indireta daquele dispositivo.
de determinada sanção, tenham continuida-
de pura e simplesmente na Secretaria dos VII - Respostas aos Quesitos da Con·
Negócios Metropolitanos para aplicação e sulta
sanção mais grave. Pelo menos, não é essa
uma prática recomendável, mormente con- 36. Diante de todo o exposto, com
siderando que se trata de entidades de per- base na doutrina aplicável ao caso, pode-
sonalidades jurídicas diferentes. Tal práti- mos passar a responder sinteticamente os
ca corre o risco de viciar o julgamento fi- quesitos da consulta, nos termos seguintes:
nal, especialmente por conturbar o atendi-
mento do princípio da reta defesa do im- Ao 1'1 quesito
putado. O que pode ser admitido, e até
aconselhável, é que, encerrando-se o pro- Não. A EMPLASA não tem competên-
cedimento na entidade iniciadora, esta re- cia legal para exercer o poder de fiscalizar
meta à outra os elementos colhidos para a e impor sanções em virtude da aplicação
instauração de procedimento próprio com das normas legais de proteção aos manan-
a finalidade de aplicação da sanção de sua ciais, pois isso caracteriza atividade de po-
competência. A lei, enfim, poderá disci- lícia, que só pode ser exercida regularmen-
plinar a questão, inclusive dando compe- te por órgão ou entidade, inclusive paraes-
tência à EMPLASA para iniciar procedi- tatal, que receba competência, para tanto,
mento sancionatório de competência da Se- por lei formal. E não existe lei que tenha

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conferido essa competência à EMPLASA, em se conferindo à EMPLASA competên-
sendo ilegal sua atribuição por convênio ou cia para a fiscalização e aplicação de san-
por outra forma qualquer com base em ções (atividade policial administrativa),
simples decreto. Mas nada impede que, nisso se incluirá a possibilidade de recurso
mediante lei especial, se outorgue à Em- hierárquico para o Presidente da Empres:l
presa competência nessa matéria direta- com base nas suas atribuições hierárquicas
mente ou mesmo por decreto devida e es- de reexame de decisões de seus subordina-
pecificamente autorizado naquela lei. dos, ainda que não fique isso explicita-
mente estabelecido, a despeito do art. 16
Ao 29 quesito da Lei nQ 898/75, que não tolhe a compe-
Prejudicado em face da resposta ao que- tência recursal hierárquica dentro da ....
sito antecior. Em princípio, contudo, não EMPLASA. Apenas, em não sendo ele mo-
seria juridicamente viável o procedimento dificado explícita ou implicitamente por
referido, ainda que a Empresa tivesse com- eventual lei que venha a definir competên-
petência de polícia no campo que nos cia de polícia à Empresa, caberá também
ocupa neste parecer. Por princípio, os pro- recurso ao Secretário dos Negócios Metro-
cedimentos administrativos se encerram no politanos da decisão do seu Presidente
âmbito do órgão que o iniciou, salvo re- que aplique sanções previstas naquela lei.
cursos hierárquicos, que, a rigor, não o Vale dizer: a existência do citado art. 16
afasta desse âmbito, e, em se tratando, fundamenta recurso impróprio, para o Ti-
como no caso, de relação entre órgãos de tular da Pasta Metropolitana, de atos do
pessoas jurídicas diferentes, a observância Presidente da EMPLASA que apliquem
do princípio é ainda de maior rigor. Res- sanções previstas na mencionada lei. Mas,
salve-se, no entanto, que, de iure conden- ainda aqui, como se vê, tudo depende de
lege ferenda_
do, a lei pode dispor de outro modo, em-
~ o nosso parecer s.m.j.
bora não seja recomendável.
São Paulo, 14 de março de 1978.
Ao 39 quesito
José Afonso da Silm
Prejudicado também em face da respos- Professor Titular na Faculdade de
ta ao 19 quesito. Mas se pode afirmar que, Direito da USP

FUNCIONARIO POBLlCO - CONCURSO - EDITAL


- O concurso restrito é válido porque se fundamenta no pró-
prio texto constitucional
- Interpretação do art. 97, § ]9, da Constituição

PARECER fessores, preparado pela Secretaria Muni-


cipal de Educação.
o Secretário Municipal de Administra- 2. Segundo informa S. Sa., a norma con-
ção solicitou a audiência desta Consultoria tida no citado item do edital, por signifi-
Geral sobre a constitucionalidade do item car a realização de um concurso interno,
8, § 19, do edital de concurso para pro- contraria o disposto no art. 97, § 19, da

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