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Universidade Federal de Goiás

Faculdade de letras
Aluno: Letícia da Silva Nunes
Prof.: Cássio Tavares
Data: 11/06/2021

Avaliação N2

Questão 1
Problematize a relação entre Teoria e Crítica Literárias, explicando a questão da validade e
da legitimação.
RESPOSTA-
A validade é, por assim dizer, um conhecimento científico. Para que algo seja considerado
um conhecimento cientificamente válido, ele deve, antes de tudo, ser estudado, analisado e
comprovado válido com provas, que por pelo menos aquele período ao qual o estudiosos se
encontra, não pôde ser refutado. Algo validado é algo comprovado. E muitas vezes sua
aplicação consciente é direcionada a um recorte, não a um todo . Já a legitimação não tem os
mesmos critérios, ela não está relacionada a um conhecimento que exige um estudo
aprofundado ou uma “comprovação”, para algo ser legitimado a moral do grupo envolvido na
discussão terá um grande peso na decisão final. “Validade” ou aplicação lógica e correta não
vão ser os únicos determinantes para que uma solução seja alcançada, e muitas vezes ela
sequer é considerada, e somente as opiniões são levadas em conta. E como isso se envolve
com a teoria e a crítica literária? Antes de tudo, as duas coisa estão intrinsecamente ligadas, a
teoria literária precisa da crítica para validá-la e lhe dar um uso concreto, e o contrário
também é real, sem a teoria a crítica literária não teria nenhuma base científica para se apoiar
na hora de analisar uma obra, e portanto, não teria validade. Então as duas são fundamentais e
legítimas? Sim, mas com algumas ressalvas importantes. Uma teoria literária não
necessariamente vai ser utilizável e valida para todas as obras, mesmo dentro daquelas que
ela se propõe a explicar. A teoria da narrativa, por exemplo, ela consegue abranger
incontáveis narrativas de forma perfeita e magnificamente explicativa, com ela um crítico
literário pode fazer um incrível trabalho analitico, mas está teoria tão boa e perfeita para a
obra “A” não é aplicável tão bem assim na obra “B”, com ela eu não consigo explicar as
decisões que Sicrano teve na história, eu não consigo encontrar seu conflito dramático e
muito menos seu clímax. Como isso pode ocorrer se a teoria em questão foi estudada,
analisada e validada anteriormente? Como ela não funcionou na obra “B” se na “A” tudo se
encaixou tão bem? Por essa linha de raciocínio podemos chegar a muitas respostas, mas as
duas que mais chamam a atenção são: 1) A obra “B” tem algum problema, de alguma forma
ela está errada, ou simplesmente é uma das poucas exceções que podem vir a existir; ou 2)
Embora a teoria utilizada de fato seja válida para a análise de diversas obras diferentes ela
não é universal. Estou mais inclinada à segunda questão. Mas muitas vezes os críticos tendem
mais à primeira. De alguma forma, a teoria é legitimada e utilizada para todas as obras, sem
que antes haja uma reflexão por parte do crítico literário para saber se aquela teoria irá
realmente servir para aquela história. E no final isso faz com que quem saia prejudicado no
final seja a própria obra literária, porque ela é “mutilada” e reinterpretada para se encaixar em
uma teoria que não a contempla, pois muito embora ela (a teria) tenha sido legitimada por
diversos motivos, ela não é válida para esse caso.
Questão 2
A discussão da relação entre Teoria e Crítica, a partir do conto de Kafka, mudou de alguma
maneira o modo como você passa a encarar (ler/estudar/entender) a literatura daqui pra
frente? Explique.
RESPOSTA-
Sim e não. Podemos dizer que eu sempre tive um gosto bastante eclético e aberto a novas
experiências quando se trata de literatura, e acredito que isso me ajudou bastante na hora de
“julgar” uma obra, não em comparação a outras, mas dentro dela mesma. Mas eu nunca tinha
parado para pensar realmente nisso (aplicação de teorias literárias nas histórias, ou
simplesmente analisá-las para além de sua superfície), antes das aulas de teoria e crítica, até
porque eu não tinha o costume de analisar nenhuma obra que eu lia, era sempre algo como:
“ah, eu ri, então é muito boa.” ou então, “não sei exatamente o porquê, mas meu “coração” tá
me falando que eu não gostei dessa obra.”. Nunca refleti o porquê de nenhuma conclusão que
eu já cheguei, simplesmente era assim e eu seguia em frente sem levar nada ao coração (e faz
pouquíssimo tempo que eu passei a prestar mais atenção nas partes mais técnicas das obras
que eu consumo, e isso foi, principalmente, por causa da faculdade que me exige isso quase
que diariamente). Mas depois da discussão sobre o texto do Machado e do Kafka passei a me
interessar em encontrar uma resposta para esses “pensamentos” que eu tinha sobre as obras
que eu consumia. E acredito que essa foi a maior mudança que essas discussões me trouxe, eu
passei a me interessar pela parte mais técnica da coisa, vamos assim dizer, e gostei disso. E
acredito que esse novo interesse vai me ajudar muito daqui pra frente, porque tentando
aplicar uma teoria ou tentando entender uma história mais profundamente, eu vou passar a
realmente consumir e aproveitar tudo o que aquela leitura tiver a me oferecer. Mas com
moderação, ainda pretendo ler só por ler mesmo, simplesmente como um passatempo, mas
essa visão mais crítica vai me ajudar até nesses momentos também.
Questão 3
A literatura medieval tinha uma dinâmica transnacional - os temas, as ideias, as histórias
circulavam por toda parte e não havia preocupação com sua procedência. Histórias como
as do Rei Arthur eram recontadas em francês e em português (por exemplo) com toda
naturalidade, sem necessidade de declarar sua origem ou autoria. No século XIX isso muda
radicalmente. Descreva a nova concepção de literatura que se consolida no ocidente nesse
período, e explique sua motivação histórica e sua função social.
RESPOSTA-
Antes da revolução francesa as relações sociais na Europa eram muito bem delimitadas, era
bastante claro que estava no poder e quem fazia parte da "plebe". Mas com o início do
comércio, aqueles que começaram a ganhar dinheiro não estavam mais satisfeitos em
simplesmente bancar os aristocratas, eles também queriam poder de controle e prestígio. Por
isso, os agora conhecidos burgueses, incitaram revoltas entre aqueles mais pobres e juntaram
forças com os mesmos para assim arrancar o poder da mão da monarquia e da nobreza. Para
que isso pudesse ocorrer, os burgueses tiveram que desmistificar a “lei e vontade divina” que
era pregada pela igreja e pelos detentores do poder, onde era argumentado que todos aqueles
que eram ricos ou pobres era por vontade de Deus, e portanto só restava aos menos abastados
aceitar a realidade que eles estivessem. Mas quebrar esse “cimento social” teve um grande
impacto, pois após a tomada de poder os burgueses não tinham mais uma boa desculpa para
justificar a pobreza e a miséria, e com isso aqueles agora conhecidos como proletários se
revoltaram contra os novos “mandates sociais”, e exigiam os prometidos direitos iguais e a
tão desejada dignidade e melhores condições de trabalho. E é nesse caos social que a nova
visão da literatura entra. Era necessário um novo apaziguador, já que o antigo havia sido
derrubado. Então a literatura após a revolução burguesa não mais era vista como algo sem um
povo/país de origem, e sua origem e originalidade passou a ser um ponto fundamental para
aquelas que a consumiam, não porque magicamente todos os cidadão acordaram do nada em
uma bela manhã e decidiram ser mais nacionalistas, mas porque, com o tempo, eles foram
ensinados a ser assim. A literatura como um símbolo da grandiosidade e evolução de uma
nação surgiu, inicialmente, com o propósito de trazer um sentimento de pertencimento e
contentamento social, onde as pessoas poderiam sentir que pertenciam a algo maior do que
elas mesmas, um lugar que as acolheriam e que elas deveriam proteger do resto do mundo,
pois eles eram “os outros”, e aqueles do mesmo lado da fronteira que eles seriam seus irmãos
compatriotas, e esse título se estenderia até aos burgueses, que teoricamente outrora eram
seus algozes.
Questão 4
Em "Dialética da Malandragem", Antonio Candido, ao mesmo tempo que oferece uma
interpretação reveladora do romance Memórias de um sargento de milícias, apresenta e
explica o seu método de análise. Explique esse método e, em particular, os conceitos de
formalização e de redução estrutural.
RESPOSTA-
A dialética da ordem e da desordem é o que Antonio Candido diz que faz parte da "vivência"
dos personagens presentes em uma obra, a ordem é o correto, o socialmente aceitável, e a
desordem é o não tolerável, o errado. Segundo sua teoria todos os personagens de uma obra
então incluídos nessa dinâmica, pois uma coisa depende da outra para existir, e ao mesmo
tempo que um dos personagens está dentro da desordem, com o tempo, e graças a ela, ele
pode passar para o campo da ordem, e vice versa. Ela é trazida para dentro da obra através da
formalização.
Formalização- Quando o enredo da história vem com marcas da sociedade real. O autor
coloca sua vivência pessoal em sua obra, muitas vezes de uma forma inconsciente.
Redução estrutural- É a incorporação inconsciente da sociedade em que o autor se encontra
para sua obra, não só aquilo que é subjetivo a ele, mas uma estrutura mais profunda, algo
global e não mais pessoal. Na redução estrutural a realidade é reduzida estruturalmente dentro
da obra.
Em seu método, é fundamental saber que não se pode tentar analisar uma obra comparando-
a diretamente com a realidade a qual o autor se encontra. Primeiro deve-se descobrir o
“esquema geral” que fundamenta a sociedade da obra, e só depois pode-se comparar esse
esquema com a realidade concreta.

Até a próxima!

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