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EMERGÊNCIA NO LOCAL DE TRABALHO

Sofia Encarnação Félix Moura, nº 4480


PRÁTICA REFLEXIVA SOBRE UMA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA NO LOCAL
DA TRABALHO

Sofia Encarnação Félix Moura, nº 4480


Oliveira de Azeméis

Janeiro de 2023

ÍNDICE

LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS...........................................................................4


LISTA DE FIGURAS......................................................................................................5
LISTA DE TABELAS.....................................................................................................6
INTRODUÇÃO...............................................................................................................7
1 - EMERGÊNCIA NO LOCAL DE TRABALHO.....................................................8
1.1 - PRIMEIROS SOCORROS.......................................................................................9
1.2 - SERVIÇO DE SAÚDE OCUPACIONAL E PRIMEIROS SOCORROS...............9
1.2.1 - O Enfermeiro do Trabalho em Contexto de Emergência...............................10
2 - PLANO DE EMERGÊNCIA INTERNO...............................................................11
2.1 - PLANO DE PREVENÇÃO....................................................................................12
2.1 - PLANO DE ORGANIZAÇÃO DE SEGURANÇA/EMERGÊNCIA....................12
2.2.1 - Estrutura Interna de Segurança.......................................................................13
2.2.2 - Plano de Evacuação............................................................................................13
2.2.3 - Plano de Intervenção..........................................................................................14
2.3 - INSTRUÇÕES DE SEGURANÇA........................................................................14
2.4 – AUXÍLIO DE ENTIDADES EXTERNAS............................................................15
2.5 - FORMAÇÃO E SIMULACROS............................................................................15
3 - CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA THE NAVIGATOR COMPANY.........17
3.1 - SERVIÇO DE SAÚDE OCUPACIONAL.............................................................17
3.2 - PROCESSO DE PRODUÇÃO DE PASTA DE PAPEL........................................18
3.3 - SINISTRALIDADE LABORAL............................................................................19
3.4 - ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RISCO................................................................20
4 - QUEIMADURAS.....................................................................................................21
4.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS..........................................................21
4.2 - PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS NO LOCAL DE TRABALHO..................23
4.3 - PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES DE QUEIMADURAS..............................23
4.4 - PLANO DE INTERVENÇÃO NO TRATAMENTO DE QUEIMADURAS.......24
5 - DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA...........................................25
5.1 - PRIMEIROS SOCORROS PRESTADOS.............................................................25
5.2 - TRANSPORTE E ACOMPANHAMENTO DO TRABALHADOR.....................25
5.3 - INFORMAÇÃO À FAMILIA................................................................................26
5.4 - REGISTO DO ACIDENTE....................................................................................26
5.5 - ACOMPANHAMENTO POSTERIOR DO TRABALHADOR............................26
5.6 - REINTEGRAÇÃO DO TRABALHADOR...........................................................27
6 - CONCLUSÃO..........................................................................................................28
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................29
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS

ANEPC – Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil


ANET – Associação Nacional dos Enfermeiros do Trabalho
ANPC – Autoridade Nacional de Proteção Civil
APSEI – Associação Portuguesa de Segurança
CODU – Centro de Orientação de Doentes Urgentes
DSPPS – Departamento de Saúde Pública e Planeamento Social
EPI – Equipamento de Proteção Individual
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica
OMS – Organização Mundial da Saúde
OSHA – Occupational Safety and Health Administration
PEI – Plano de Emergência Interno
SRPCBA – Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores
SSO – Serviço de Saúde Ocupacional
SST – Saúde e Segurança no Trabalho
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Avaliação da área das queimaduras segundo a Regra de Wallace.................22


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Informações a dar aos meios de socorro externos..........................................15


Tabela 2 - Classificação de perigosidade das substâncias produzidas na empresa.........19
INTRODUÇÃO

O presente trabalho enquadra-se no âmbito da Unidade Curricular de Emergência no


Local de Trabalho, inserida no 8º Curso de Pós-Graduação em Enfermagem do
Trabalho da Escola Superior de Saúde Norte da Cruz Vermelha Portuguesa de Oliveira
de Azeméis.
Tem como objetivo refletir sobre uma situação de emergência no local de trabalho, os
procedimentos a adotar e a atuação do Enfermeiro do Trabalho neste contexto.
A situação de emergência sobre a qual incide o trabalho, é fictícia e o local escolhido é a
empresa onde trabalha um dos elementos do grupo.
O trabalho encontra-se dividido em cinco partes, sendo que nos primeiros dois pontos
fazemos um enquadramento teórico sobre Emergência no local de trabalho, seguindo
uma apresentação da empresa, um enquadramento teórico direcionado para situação de
emergência selecionada e por último, a descrição da situação de emergência e da
atuação com base nos procedimentos definidos na empresa.
1 - EMERGÊNCIA NO LOCAL DE TRABALHO

Segundo Drabek (1996), citado pela ANPC (2009), emergência é “um acontecimento
inesperado que coloca a vida e/ou a propriedade em perigo e exige uma resposta
imediata através dos recursos e procedimentos de rotina da comunidade,” necessitando
de uma “coordenação acrescida ou resposta para além da rotina de modo a salvar vidas,
proteger a propriedade, proteger a saúde pública e a segurança, ou diminuir ou evitar a
ameaça de um desastre”.
No que respeita ao local de trabalho, é uma situação imprevista que pode colocar em
risco os trabalhadores, prestadores de serviços, clientes e/ou público, podendo causar
danos físicos e/ou materiais e interromper os processos de trabalho. Pode ser de vários
tipos: inundações, furacões, tornados, incêndios, fugas de gases tóxicos, derramamento
de químicos, acidentes radiológicos, explosões, distúrbios civis e violência no local de
trabalho, resultando em danos corporais e traumas (OSHA, 2001).
De acordo com o Guia de Apoio à Organização dos Serviços de Segurança e Saúde no
Trabalho (APSEI, s.d.), o serviço de segurança e saúde de uma organização tem por
objetivo garantir que são disponibilizadas as devidas condições de segurança e saúde
aos seus trabalhadores. Neste aspeto, o empregador está obrigado a garantir, entre
outros, a existência de uma estrutura interna que assegure as atividades de emergência e
primeiros socorros, de evacuação de trabalhadores e de combate a incêndio e, sempre
que aplicável, o resgate de trabalhadores em situação de sinistro (artigo 15.º da Lei nº
102/2009, de 10 de setembro).
A Informação técnica nº 1, 2 e 3 da DGS, contempla alguns princípios básicos de
orientação, omisso na Lei nº 102/2009, de 10 de setembro, no que respeita aos
procedimentos a adotar em caso de emergência (não obstante serem da responsabilidade
da empresa) e refere que o serviço de Saúde que numa empresa é responsável pelos
cuidados de saúde aos trabalhadores, independente da sua natureza (interno, comum ou
externo), deve incluir nos seus objetivos (alínea b, do Artigo 97º da Lei n.º 102/2009) o
desenvolvimento das condições técnicas que assegurem as medidas de prevenção, entre
outras, em matéria de primeiros socorros (n.º 9 do Artigo 15º idem). da Lei n.º
102/2009), pelo que as empresas devem desenvolver um Plano interno de Emergência,
que integra todas as informações e ações a adotar neste contexto.
1.1 - PRIMEIROS SOCORROS

Os acidentes e as doenças podem ocorrer em qualquer lugar, com qualquer pessoa e a


qualquer hora, apesar de toda as precauções tomadas para a proteção do trabalhador. A
meta principal do primeiro socorro é afastar o indivíduo do perigo imediato, prevenir
consequências maiores e colocá-lo sob assistência médica.
Os Primeiros Socorros consistem assim, em medidas iniciais e imediatas aplicadas a
uma vítima fora de um ambiente hospitalar, executada por qualquer pessoa, antes de um
atendimento especializado (médico ou técnico em saúde), no sentido de suportar a vida
ou evitar o agravamento de lesões existentes (pré-existentes ou que passaram a existir
no momento do ocorrido) (Pereira Júnior, 1995), tendo como objetivos básicos: avaliar
o sofrimento da vítima (físico e psicológico), evitar sua morte, evitar agravamentos ou
complicações das lesões e permitir a sua remoção com segurança.
São sempre prestados no local da ocorrência até à chegada de um profissional de saúde
e devem, sempre que possível, ser efetuados por pessoa treinada e capacitada. É
importante enfatizar que estes primeiros socorros, mesmo prestados por pessoa
habilitada, não substituem a necessidade dos serviços médicos profissionais, mas sim
consistem na assistência temporária até que o atendimento médico profissional de
emergência possa ser oferecido ao necessitado, de preferência em local adequado. Um
atendimento inadequado feito por leigos no local de trabalho pode resultar em uma
avaliação deficiente do local, da causa do acidente e das condições clínicas da vítima e
pode significar a diferença entre a vida e a morte, a diferença entre uma recuperação
plena e rápida e a diferença entre uma invalidez parcial ou total.

1.2 - SERVIÇO DE SAÚDE OCUPACIONAL E PRIMEIROS SOCORROS

A DGS através da Informação Técnica nº2 de 2010, refere que o Serviço de Saúde
Ocupacional (SSO) tem o dever de participar na elaboração do plano de emergência
interno (PEI) da empresa, que incluiu os planos específicos de primeiros socorros e de
emergência médica.
Na elaboração desses planos, deve ter-se em conta:
1. Manual de procedimentos em primeiros socorros e atividades de emergência.
2. Equipamento mínimo de suporte vital de vida e de emergência do gabinete
médico/enfermagem (referido na Circular Normativa n.º 6/DSPPS/DGS de 31.03.2010).
3. Conteúdo mínimo da caixa de primeiros socorros nos locais de trabalho (Informação
Técnica n.º 1 de 2010, DGS).
De modo a harmonizar os procedimentos dos diversos serviços de Saúde Ocupacional,
consta na informação técnica nº2 de 2010 da DGS (Emergência e Primeiros Socorros
em Saúde Ocupacional): as quantidades mínimas de utensílios, descartáveis e fármacos
nos locais de prestação de cuidados de saúde ocupacional; o conteúdo da caixa de
primeiros socorros e o equipamento mínimo de suporte vital de vida e emergência (de
acesso restrito aos profissionais de saúde, ao contrário a caixa de primeiros socorros que
deve estar acessível a qualquer trabalhador, em particular aos que tenham formação em
primeiros socorros).

1.2.1 - O Enfermeiro do Trabalho em Contexto de Emergência

Segundo a OMS (2001) o Enfermeiro do Trabalho é um Enfermeiro com uma grande


experiência clínica em lidar com pessoas doentes ou lesionadas, que poderá prestar
cuidados de emergência iniciais aos trabalhadores lesionados no trabalho antes da sua
transferência para o hospital ou da chegada dos serviços de emergência. Em muitos
casos, quando existem condições de risco no trabalho, ou quando o local de trabalho
está muito afastado de outras instalações de cuidados de saúde, este papel constituirá
uma parte fundamental da função do Enfermeiro do Trabalho. Aqueles que trabalham
em minas, plataformas petrolíferas, regiões desérticas ou áreas onde os sistemas de
cuidados de saúde não estão ainda inteiramente desenvolvidos, estarão familiarizados
com uma vasta gama de técnicas de cuidados de emergência e poderão ter desenvolvido
aptidões adicionais para cumprir este papel. Para outros, que estejam a trabalhar em
situações nas quais os serviços de emergência estejam facilmente acessíveis, poderão
simplesmente proporcionar um nível de apoio adicional, para além daquele que é
prestado pelo profissional que presta primeiros socorros.
À semelhança do que acontece noutros países, já existem em Portugal serviços para a
saúde no trabalho que proporcionam serviços curativos e de tratamento à população
trabalhadora. Nos casos em que são prestados serviços de tratamento, o Enfermeiro do
Trabalho estará envolvido na prestação e monitorização destes serviços, em contacto
próximo com outros prestadores de cuidados primários, como o médico de família, de
clínica geral ou da empresa, responsável pela prescrição de uma série de tratamentos em
particular.

2 - PLANO DE EMERGÊNCIA INTERNO

O objetivo geral de um Plano de Emergência consiste em definir a estrutura organizativa


dos meios humanos e materiais e estabelecer os procedimentos adequados para atuação
em caso de emergência, de modo a garantir a proteção dos trabalhadores da empresa, a
defesa do seu património e a proteção do ambiente.
O PEI define um conjunto de normas e procedimentos devidamente conhecidos e
testados, que determinam uma gestão otimizada dos recursos humanos e materiais,
sendo simultaneamente um instrumento de prevenção e de gestão operacional, pois
identifica os riscos e estabelece os meios para fazer face a um acidente grave, catástrofe
ou calamidade, que possa colocar em risco a segurança das pessoas, instalações ou do
meio ambiente.
Tem como objetivos, de acordo com o Decreto-Lei n.º 150/2015, de 5 de agosto:
- Circunscrever e controlar os incidentes de modo a minimizar os seus efeitos e a limitar
os danos na saúde humana, no ambiente e nos bens;
- Aplicar as medidas necessárias para proteger a saúde humana e o ambiente dos efeitos
de acidentes graves;
- Identificar as medidas para a descontaminação e reabilitação do ambiente, na
sequência de um acidente grave;
- Comunicar as informações necessárias ao público e aos serviços ou autoridades
territorialmente competentes relevantes da região.
Deve ser um documento sintético, de leitura acessível, com uma linguagem simples e
clara (ANEPC, 2016), adequado à empresa, atualizado e adaptado de acordo com as
necessidades.
Segundo Duarte (2014), a elaboração de um PEI deve ter como ponto de partida uma
análise prévia que, em conjunto com a estrutura interna de segurança, constituem um
conjunto de etapas indispensáveis à sua operacionalidade, em qualquer situação de
emergência:
- Caracterização do espaço e das infraestruturas;
- Identificação dos riscos;
- Identificação de meios e recursos disponíveis;
- Plano de evacuação;
- Plano de atuação;
- Instruções de segurança.

2.1 - PLANO DE PREVENÇÃO

A prevenção integrada tem por objetivo a tomada de consciência dos aspetos de


segurança, de saúde e das condições de trabalho, desde a fase inicial da conceção (de
um edifício, equipamento, organização de trabalho, ou processo), por oposição à
prevenção corretiva que visa a redução ou eliminação de riscos detetados só na fase de
laboração. A integração na fase de projeto das medidas de prevenção dos riscos
profissionais e das medidas que visam a melhoria das condições de trabalho, permitem a
otimização da sua eficácia, quer através da redução dos custos, quer em função do
aumento da produtividade. (Fonseca et al., 1996).
o Plano de Prevenção é constituído por (ANEPC, 2016):
- Informação relativa ao edifício: caracterização do espaço, identificação dos riscos
internos e externos, identificação dos recursos e meios), procedimentos de prevenção e a
planta do edifício.
Relativamente aos procedimentos de prevenção, estes dividem-se em 3 grupos
(SRPCBA, 2018):
- Procedimentos de exploração e utilização do espaço: acessibilidade dos meios de
socorro aos espaços, acessibilidade dos mesmos aos meios de abastecimento de água;
praticabilidade dos caminhos de evacuação; eficácia da estabilidade ao fogo e dos meios
de compartimentação; acessibilidade aos meios de alarme e intervenção; vigilância dos
espaços normalmente desocupados ou de maior risco; conservação dos espaços em
condições de limpeza e arrumação; segurança na manipulação de matérias perigosas;
segurança nos trabalhos de manutenção.
- Procedimentos de exploração e utilização das instalações técnicas e equipamentos de
segurança.
- Procedimentos de conservação e manutenção das instalações técnicas e equipamentos
de segurança.
2.1 - PLANO DE ORGANIZAÇÃO DE SEGURANÇA/EMERGÊNCIA

O Plano de organização de segurança/emergência contempla a definição de


procedimentos e técnicas de atuação e evacuação em caso de emergência; a salvaguarda
da segurança das pessoas presentes, a limitação da propagação e as consequências da
emergência. Deverá englobar os procedimentos de alarme e alerta, de garantia de uma
evacuação rápida e segura, de utilização dos meios de primeira intervenção e de receção
e encaminhamento dos bombeiros (ANEPC, 2016).
Apesar de ser condicionado pelas especificidades de cada contexto, existem
componentes essenciais a ter em conta (Veiga, 2000):
- Componente Técnica: Sinalização de emergência, de informação, de proibição e de
obrigação, sonora e de incêndio, extintores, bocas-de-incêndio, carretéis, detetores de
incêndio, plantas, mapas, pictogramas, equipamento de combate a incêndio.
- Componente Humana: centro de coordenação de emergência. As suas funções são:
identificar e avaliar perigos, planear e coordenar, combate, evacuação, alerta, alarme e
manutenção de equipamentos, colocação de sinalização, coordenação de apoio exterior.
- Componente Formação: Informação prévia, formação regular e contínua, simulacros e
treinos. Informação/formação imediata aos recém-admitidos.
- Componente Médica e Primeiros socorros: Meios para prestar os primeiros socorros,
considerar o número de acidentados e o grau de gravidade das lesões, fazer ligação aos
serviços de saúde e hospitais, formar socorristas internos.

2.2.1 - Estrutura Interna de Segurança

O PEI deve integrar (SRPCBA, 2018):


- Definição do modo de organização em caso de emergência: identificação dos
elementos das equipas de intervenção, respetivas missões e responsabilidades em
situações de emergência.
- Indicação das entidades internas e externas a contactar em caso de emergência.
- Plano de ação, onde se estabelece quem irá fazer o quê e em que situações.
2.2.2 - Plano de Evacuação

A evacuação consiste no abandono do local, seguindo os caminhos de evacuação, e a


concentração das pessoas num ponto de encontro pré-definido. Deve ser decidida pelo
responsável pela emergência e será consequência de um sinal de alerta, pelo que este
deve ser conhecido por todos os ocupantes do edifício.
O Plano de evacuação deve contemplar as instruções e os procedimentos, a observar por
todos os ocupantes do edifício, de modo a garantir a evacuação rápida, organizada e
eficaz (ANEPC, 2016.):
- Identificação das saídas de emergência e saídas alternativas;
- Definição dos caminhos de evacuação;
- Identificação dos locais de reunião (ponto de encontro);
- Identificação dos pontos críticos;
- Programa de evacuação.

2.2.3 - Plano de Intervenção

O plano de intervenção contempla a descrição dos procedimentos/instruções (ANEPC,


2016):
- De atuação para cada tipo de emergência (sismo, inundação, incêndio,
emissão/derrame de substâncias tóxicas).
- De atuação para a evacuação do estabelecimento (parcial e/ou total): normas de
abandono do local; sistema de controlo do número de ocupantes presentes no
estabelecimento (incluindo trabalhadores, prestadores de serviços e visitantes).
- De apoio às medidas mitigadoras a tomar no exterior do estabelecimento, incluindo
medidas de reabilitação ambiental (avaliação das áreas em risco na envolvente do
estabelecimento).
Inclui procedimentos relativos a: reconhecimento, combate e alerta; corte de energia;
evacuação; intervenção; concentração e controlo; informação e vigilância.
2.3 - INSTRUÇÕES DE SEGURANÇA

Devem ser elaboradas e afixadas instruções de segurança, especificamente destinadas


aos ocupantes dos locais, afixadas em locais visíveis (face interior das portas de acesso
aos locais a que se referem) e acompanhadas de uma planta de emergência simplificada.
Delas fazem parte (SRPCBA, 2018):
- Procedimentos de prevenção e de emergência definidos;
- Plano de evacuação;
- Técnicas de utilização dos meios de primeira intervenção;
- Instruções relativas aos quadros elétricos;
- Contactos de emergência;
- Instruções gerais de segurança nas plantas de emergência.

2.4 – AUXÍLIO DE ENTIDADES EXTERNAS

O plano de emergência deve contemplar a necessidade de pedir auxílio aos meios


externos, quando ocorre um acidente não controlável através dos meios internos de
socorro, adequados face à situação geográfica do edifício, gravidade e características de
ocorrência (Miguel, 2004).
Desta forma, é conveniente estabelecerem-se protocolos com possíveis entidades, tais
como, a Proteção Civil, Guarda Nacional Republicana, Polícia de Segurança Pública,
Bombeiros, Hospitais, etc (Miguel, 2004), às quais devem ser facultadas todas as
informações necessárias para facilitar uma maior eficácia e rapidez.
Os meios externos de socorro devem ser informados, de forma simples e clara sobre:
Descrição
Tipo de situação Doença, acidente, etc
Contacto telefónico Número de telefone do qual se está a ligar
A localização exata do edifício e, sempre que possível, pontos
Local do acidente
de referência
O número, o sexo e a idade aparente das pessoas a necessitar de
Gravidade aparente da situação
socorro
As queixas principais e as alterações observadas, assim como a
Informações gerais existência de qualquer situação que exija outros meios no local
(libertação de gases, perigo de incêndio, etc)
Tabela 1 - Informações a dar aos meios de socorro externos
2.5 - FORMAÇÃO E SIMULACROS

Devem possuir formação no domínio da segurança funcionários e colaboradores das


entidades exploradoras do edifício, previsto no plano de emergência.
O programa é definido pelo Responsável de Segurança e deve incluir (SRPCBA, 2018):
- Sensibilização para a segurança;
- Familiarização com os espaços dos edifícios;
- Cumprimento dos procedimentos do PEI;
- Formação destinada aos elementos que exercem a sua atividade profissional normal;
- Formação destinada aos elementos que possuem atribuições especiais de atuação em
caso de emergência.
Os simulacros são meios importantes de exercício, que permitem testar e avaliar o plano
de emergência, bem como treinar e criar rotinas de comportamento e de atuação,
conduzindo ao aperfeiçoamento dos procedimentos (SRPCBA, 2018).
3 - CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA THE NAVIGATOR COMPANY

O grupo empresarial The Navigator Company é um produtor integrado de floresta,


pasta, papel, tissue e energia. É o terceiro maior exportador em Portugal e o maior
gerador de Valor Acrescentado Nacional, representando aproximadamente 1% do PIB
nacional e cerca de 3% das exportações nacionais de bens. Os seus produtos têm como
destino aproximadamente 130 países nos cinco continentes, com destaque para a Europa
e EUA.
A estrutura produtiva industrial The Navigator Company corresponde a quatro
complexos industriais, localizados em Cacia, Figueira da Foz, Setubal e Vila Velha de
Rodão.
O Complexo Industrial de Cacia está localizado em Cacia, distrito de Aveiro, e iniciou a
atividade em 1953. A sua produção atinge um volume anual na ordem das 320 mil
toneladas de pasta branqueada de eucalipto. Integra também uma central de cogeração a
biomassa associada à fábrica de pasta e uma central termoelétrica de biomassa para a
produção de energia renovável.
No Complexo Industrial trabalham 460 trabalhadores, dos quais 371 são homens e 89
são mulheres. Deste total há 10 trabalhadores habilitados com o curso de socorrismo.

3.1 - SERVIÇO DE SAÚDE OCUPACIONAL

O SSO responsável pelos cuidados de saúde aos trabalhadores de uma dada empresa,
independente da sua natureza, deve incluir nos seus objetivos (alínea b, do Artigo 97º da
Lei n.º 102/2009) o desenvolvimento das condições técnicas que assegurem as medidas
de prevenção, entre outras, em matéria de primeiros socorros (n.º 9 do Artigo 15º idem).
Cabe ao serviço de SSO participar na elaboração do plano de emergência interna que
incluirá planos específicos de primeiros socorros e de emergência. As atividades de
primeiros socorros devem ser organizadas pelas empresas com a participação dos
serviços de SSO, nomeadamente na formação e informação dos trabalhadores
designados para esse efeito. A equipa de SO deve assegurar o plano de formação dos
trabalhadores definindo de forma explícita o tipo de formação, a periodicidade e a carga
mínima de acordo com as condições de trabalho e as características da população
trabalhadora.
A modalidade de organização do serviço de saúde do trabalho da empresa é a interna.
Em matéria de recursos humanos, a empresa estabeleceu contrato de trabalho com um
Médico do Trabalho dimensionado para uma hora por mês por cada grupo de 10
trabalhadores industriais, e, uma hora por mês por cada grupo 20 trabalhadores cujas
funções sejam meramente administrativas. O Médico do Trabalho é coadjuvado por
Enfermeiros do Trabalho. A equipa de Saúde Ocupacional do Complexo Industrial de
Cacia é composta por: um Médico do Trabalho, um Médico de Medicina Geral e
Familiar, sete Enfermeiros do Trabalho, quatro Técnicos Superiores de Higiene e
Segurança, uma Fisioterapeuta e uma Administrativa. A empresa possui ainda um
Psicólogo, uma Nutricionista e uma Assistente Social que se deslocam aos quatro
complexos industriais da empresa em dias preestabelecidos.
Os Enfermeiros trabalham por turnos em regime rotativo. No turno da Manhã realizam
exames de saúde, para poderem avaliar a aptidão física do trabalhador para o exercício
da sua atividade (audiograma, rastreio visual, espirometria, eletrocardiograma).
Os serviços de enfermagem são assegurados 24h por dia e asseguram os tratamentos, a
vacinação, a administração de terapêutica e a atuação em caso doença súbita ou acidente
do trabalhador. Nesta situação é acionado o disposto no PEI e, caso o trabalhador
sinistrado não se possa deslocar ao SSO, o Enfermeiro desloca-se até ao local para
prestar os cuidados urgentes, caso contrário, estes cuidados são prestados nas
instalações do SSO. O Enfermeiro e/ou o Médico do Trabalho encaminham, se
necessário, o trabalhador sinistrado para serviços de saúde diferenciados.
Os registos de saude são feitos em suporte informático, através do software
MedicineOne®.
O Serviço de Saúde Ocupacional possui instalações constituídas por: sala de
tratamentos; sala de realização de exames de saúde; gabinete médico; gabinete de
fisioterapia; recepção; sala de espera; arquivo clínico; copa e instalações sanitárias.

3.2 - PROCESSO DE PRODUÇÃO DE PASTA DE PAPEL

A produção de pasta de papel é a actividade principal da empresa. De acordo com


documentos internos da The Navigator Company, o processo kraft, é um método de
fabrico de pastas de papel, em que as aparas de madeira são tratadas a uma temperatura
que ronda os 145 – 155ºC, com lixívia de cozimento denominado licor branco, sendo
esta constituída essencialmente por hidróxido de sódio (NaOH) e sulfureto de sódio
(Na2S). Após este tratamento, levado a cabo em grandes reatores pressurizados
(digestores), obtém-se pasta que é lavada e crivada para remoção de impurezas.
A lixívia reagente que serviu para o cozimento, que após este processo conserva uma
cor negra devido aos constituintes da madeira degradados e nela dissolvidos, é formada
por água, compostos químicos inorgânicos usados no cozimento. Esta mistura é
designada de licor negro, vai sendo sucessivamente separada da pasta nas operações de
lavagem, sendo posteriormente concentrada num conjunto de evaporadores até atingir
as condições adequadas à sua queima na caldeira de recuperação. A mistura de produtos
químicos em fusão resultante da queima, conhecida por smelt, é constituída em grande
parte por carbonato de sódio (Na2CO3) e sulfureto de sódio (Na2S) que, quando
dissolvida em água, passa a ser denominada de licor verde (mais conhecida como
lixívia verde. Posteriormente segue para um processo designado de caustificação onde é
tratada com uma suspensão de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2). Nesta operação são
produzidas lamas de carbonato de cálcio, queimadas posteriormente num forno rotativo
de forma a regenerar a cal viva que é reutilizada na caustificação.
Sintetizando, o cozimento e branqueamento da pasta, enquanto processos químicos,
incluem a utilização de substâncias químicas nas suas diferentes etapas (Pascoal, 2015).
Podemos ver no quadro seguinte a classificação dos níveis de perigosidade das
substâncias químicas utilizadas neste processo, de acordo com Pascoal (2015).
Classificação de acordo com o Regulamento (CE) n.º 1272/2008
Substância
Classe e categoria de perigo Advertência de perigo
 Corrosivo para os metais (classe 1)  Pode ser corrosivo para os metais
 Provoca queimaduras na pele e lesões oculares graves
Licor branco
 Em contacto com ácidos liberta gases muito tóxicos
 Corrosão cutânea (classe 1A)  Corrosivo para as vias respiratórias
 Corrosivo para os metais (classe 1)  Pode ser corrosivo para os metais
 Provoca queimaduras na pele e lesões oculares graves
 Nocivo para os organismos aquáticos com efeitos
Licor negro  Corrosão cutânea (classe 1B)
duradouros
 Em contacto com ácidos liberta gases muito tóxicos
 Perigoso para o ambiente aquático (classe 3)  Corrosivo para as vias respiratórias
 Corrosivo para os metais (classe 1)  Pode ser corrosivo para os metais
 Provoca queimaduras na pele e lesões oculares graves
Licor verde
 Em contacto com ácidos liberta gases muito tóxicos
 Corrosão cutânea (classe 1B)  Corrosivo para as vias respiratórias
Tabela 2 - Classificação de perigosidade das substâncias produzidas na empresa
3.3 - SINISTRALIDADE LABORAL

Silva (2014) refere que a sinistralidade laboral se reflete nos gastos que uma
organização contrai no decorrer da sua atividade. Seja pela perda de dias de trabalho e
consequente produtividade, seja pelos gastos relativos a indeminizações e tratamentos
hospitalares.
No Complexo Industrial de Cacia, as queimaduras por calor ou produtos químicos
correspondem a cerca de um quarto dos acidentes de trabalho com baixa. Há situações
em que trabalhadores sofrem contacto com produtos químicos ou com fontes de calor,
mas não valorizam essa situação no momento, apenas procuram avaliação, quando
sentem o agravamento da dor ou descobrem a lesão cutânea. É por isso importante a
correta educação dos trabalhadores sobre a potencial gravidade destas lesões.

3.4 – ANÁLISE, AVALIAÇÃO E CONTROLO DO RISCO

A Análise do Risco segundo Reis (2015) tem por objetivo perceber: quais os riscos
presentes no local de trabalho; qual a probabilidade de ocorrência de acidentes; quais os
efeitos e as consequências desses acidentes e como poderiam ser eliminados ou
reduzidos esses riscos.
A Avaliação de Riscos é portanto um processo estruturado para avaliar o nível de risco
imposto pelas fontes de perigo identificadas num processo (Reis, 2015).
Aplica-se a todas as áreas, instalações e equipamentos, considerando todas as atividades
desenvolvidas pela empresa, incluindo as de rotina e ocasionais, quer desenvolvidas por
colaboradores permanentes ou temporários, prestadores de serviços, fornecedores ou
visitantes.
O risco de queimaduras químicas ocorre nos postos de trabalho onde se utilizam os
produtos denominados por licor branco, negro e verde. O risco de queimaduras térmicas
por calor ocorre no contacto com pasta de papel quente e nas descargas de vapor de
várias maquinarias envolvidas no processo de produção de pasta de papel.
O processo de recolha de amostras de licor branco, negro, verde e pasta de papel; as
operações de limpeza, de inspeção e manutenção, são as situações de maior risco que
podem resultar em queimaduras químicas. O próprio contacto com tubagens quentes
durante os processos de recolha de amostras e manutenção de equipamentos aumenta o
risco de queimaduras térmicas.
O uso correto de EPI pelo trabalhador é essencial para reduzir ou eliminar os riscos e
prevenir este tipo de acidentes de trabalho. Quando o trabalhador realiza um trabalho
numa zona com risco químico, é obrigado a usar EPI adequados a riscos químicos (fato
de proteção química, galochas de segurança com biqueira de aço, óculos, capacete com
viseira, e luvas de borracha com punho longo).
4 - QUEIMADURAS

O International Council of Nurses (ICN, 2001), define queimadura como “…um tipo de
Ferida Traumática com as seguintes características específicas: rotura e perda da
camada exterior do tecido da superfície do corpo ou camadas mais profundas, devida a
lesões pelo calor resultantes de exposição a agentes térmicos, químicos, elétricos ou
radioativos.”
Segundo Pinho (2014) a vítima de queimadura, como qualquer vítima de trauma, pode
ser caracterizada por um importante desequilíbrio entre os mecanismos pós-
inflamatórios e anti-inflamatórios, podendo em determinadas situações ocorrer com
choque e disfunção multiorgânica.
Desta forma, quanto maior a profundidade e comprometimento de estruturas, mais
grave será o estado da vítima de queimadura. É, por isso necessário que os Enfermeiros
se baseiem em instrumentos estabelecidos, para avaliar as características que indiquem a
gravidade da lesão e o cálculo do total da área corporal comprometida (Nishi & Costa,
2013).

4.1 - CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS

As queimaduras podem ser classificadas de acordo com sua causa, profundidade,


dimensão, localização e gravidade (Prudente & Gentil, 2005).
Relativamente à causa, Martinho (2008) enumera os agentes capazes de provocar estas
lesões, e classificam-se em: térmicos, químicos, elétricos e radiações.
A gravidade da lesão depende de vários fatores: o químico implicado e sua
concentração, a duração da exposição e a rapidez no tratamento. As queimaduras
químicas são mais severas que as queimaduras térmicas, são frequentemente profundas
e delimitadas, podendo tornar-se evidentes apenas após algum tempo de exposição ao
agente causal.
Quanto à profundidade, Prudente & Gentil (2005) indica que a queimadura é
classificada em graus: primeiro, segundo ou terceiro; ou conforme a profundidade da
pele lesada, descrevendo as queimaduras em termo de espessura parcial ou espessura
total. As queimaduras de primeiro grau envolvem exclusivamente a camada epidérmica
da pele. A pele queimada fica dolorosa e ruborizada, não há formação de flictenas e a
cicatrização ocorre em sete dias. As queimaduras de espessura parcial ou queimaduras
de segundo grau, são subdivididas em superficiais e profundas. Nas queimaduras de
segundo grau superficiais, são comprometidas apenas a epiderme e parte da derme,
formam-se flictenas, sob as quais a pele fica ruborizada e húmida, sendo muito
dolorosas ao toque. As feridas cicatrizam de 14 a 21 dias. As queimaduras profundas de
segundo grau envolvem as camadas mais profundas da derme, ocorrendo lesão dos
folículos pilosos e das glândulas sebáceas e sudoríparas, podem ser difíceis de
diferenciar das queimaduras de terceiro grau. A pele tem um aspeto bolhoso e
queimado, ficando hipersensível. A cicatrização demora entre 3 e 4 semanas. As
queimaduras de terceiro grau, ou de espessura total, envolvem toda a espessura da pele,
a epiderme, a derme e até a gordura subcutânea. A pele fica queimada, pálida, indolor e
com consistência de couro. Não cicatriza espontaneamente e é necessário correção
cirúrgica e/ou enxertos cutâneos (Prudente, 2005).
Quanto à dimensão, o método mais utilizado a nível pré-hospitalar para calcular a
totalidade da área corporal queimada é a Regra dos Nove ou Regra de Wallace. É uma
maneira rápida para estimar a extensão das queimaduras. O sistema atribui uma
percentagem em múltiplos de nove às principais superfícies corporais como: membro
superior no total 9%, cada membro inferior 18%, o tronco 36%, a cabeça 9% e o
períneo 1% de área de superfície corporal (Pinho, 2014).

Figura 1 - Avaliação da área das queimaduras segundo a Regra de Wallace

Martinho (2008) indica que a localização de uma queimadura é um dado importante na


avaliação da gravidade de uma queimadura, podendo mesmo ditar a necessidade ou não
de internamento. Vítimas de queimaduras no rosto, olhos, orelhas, mãos, pés, ou área
genital, mesmo que sejam de menor grau, exigem geralmente hospitalização e cuidados
especiais.
Segundo Seeley, Tate, & Stephens (2011) aos critérios para classificar a gravidade de
uma queimadura é associar profundidade e dimensão. É considerada grave, uma
queimadura de terceiro grau sobre 10% ou mais de área corporal queimada, ou uma de
segundo grau sobre 25% ou mais de área corporal queimada, ou uma de segundo e
terceiro graus nas mãos, nos pés, na face, nos órgãos genitais ou na região anal. Uma
queimadura moderada é aquela de terceiro grau sobre 2 a 10% de área corporal
queimada, ou segundo grau sobre 15 a 25% da área corporal queimada; uma
queimadura leve é uma queimadura de terceiro grau sobre menos de 2% ou de segundo
grau sobre menos de 15% da área corporal queimada.

4.2 - PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS NO LOCAL DE TRABALHO

Para reduzir os acidentes de trabalho por queimaduras é essencial adotar medidas de


educação permanente aos trabalhadores, abordando as normas de prevenção
preconizadas, o uso correto de equipamentos de proteção individual (EPI). O
Enfermeiro do Trabalho, dentro da equipa de Saúde Ocupacional, pela sua formação
técnica e científica é o profissional melhor capacitado para liderar este papel educativo.
A sensibilização dos trabalhadores, durante as consultas de enfermagem, será crucial
para lhes reforçar a importância desta temática.
A presença de profissionais de saúde, da área da saúde ocupacional, no ambiente de
trabalho, pode contribuir para a identificação dos riscos presentes, constituindo uma
estratégia dos empregadores para manter um ambiente seguro (Silveira, 2000).

4.3 - PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES DE QUEIMADURAS

A abordagem inicial à pessoa queimada, independentemente do agente causal segundo


Santos & Santos (2017) é a interrupção do processo lesivo, aplicando água corrente na
lesão, à temperatura ambiente. Menciona que os procedimentos iniciais do enfermeiro à
vítima que sofreu queimadura são remoção da roupa, lavagem abundante da área
queimada e tratamento das lesões associadas.
Hirche et al. (2001) referem-se especificamente à abordagem de queimaduras por agente
térmico (calor). No local do acidente, o processo causal deve ser extinto – observando
sempre os princípios de proteção pessoal de quem socorre a vítima. Roupa queimada
deve ser removida, assim como anéis ou relógios, desde que não estejam aderentes à
vítima. Segue-se o arrefecimento da queimadura com água limpa à temperatura
ambiente – está contra-indicado o uso de gelo. Não se devem exceder os 15 minutos de
tempo de arrefecimento, embora em queimaduras área corporal inferior a 10% possa ser
de 30-60 minutos, numa perspetiva antiálgica.
Santos & Santos (2017) explica que a atuação nas queimaduras químicas são as
seguintes: identificação do agente causador da queimadura; remoção das roupas e do
excesso de agente causador; limpar a área afetada com água corrente durante um
mínimo de 30 minutos e irrigar exaustivamente os olhos caso tenha havido contacto
com a substância química.

4.4 - PLANO DE INTERVENÇÃO NO TRATAMENTO DE QUEIMADURAS

As queimaduras requerem um tratamento eficaz e imediato, por se tratarem de um


trauma de grande complexidade (Nishi & Costa, 2013).
Os primeiros socorros a prestar em caso de:
Contacto com a pele: remover imediatamente a roupa e os sapatos contaminados e lavar
imediatamente com bastante água.
Contacto com os olhos: lavar imediatamente com bastante água, mantendo as pálpebras
abertas. Se usar lentes de contacto, retirá-las, se tal lhe for possível.
Queimaduras de 1.º grau: arrefecer imediatamente a zona queimada com água corrente
da torneira por alguns minutos; retirar, se possível, qualquer objeto que possa armazenar
calor (anéis, brincos, cinto, etc.); proteger a zona queimada com um pano limpo.
Queimaduras de 2.º e 3.º graus: não furar ou rebentar as flictenas; não retirar roupa ou
substâncias que estejam aderentes; não cobrir com panos secos, estes devem ser
previamente humedecidos. Se a queimadura for muito extensa, é uma situação grave
que necessita transporte urgente para o Hospital.
5 - DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA

O trabalhador ao fazer a recolha das amostras dos diversos produtos resultantes da


produção da pasta de papel, tem sempre o cuidado de se afastar da zona frontal do ponto
de amostragem quando efetua a abertura do mesmo.
Um trabalhador ao passar perto da zona onde era realizada a recolha de uma amostra,
sofre a projeção de uma grande quantidade de licor branco. Como não estava a usar os
EPI adequados, acaba por sofrer queimaduras na perna direita.
O supervisor de turno ao se aperceber da situação, contacta telefonicamente o
Enfermeiro de serviço a solicitar que este se desloque ao local para prestar os primeiros
socorros. Informa que é um trabalhador de 40 anos que sofreu queimaduras por licor
branco na perna direita e encontra muito queixoso. Após o alerta o Segurança da
portaria transporta o Enfermeiro ao local do acidente.

5.1 - PRIMEIROS SOCORROS PRESTADOS

O Enfermeiro ao chegar ao local:


- Avalia a situação e garante as condições de segurança para poder actuar,
-Elimina o agente químico que provoca a queimadura,
-Lava e arrefece abundantemente a zona da queimadura com água à temeratura
ambiente até alívio substancial da dor,
-Cobre as áreas queimadas com compressas humedecidas com soro fisiológico,
-Controla a temperatura corporal, pois a hipotermia pode acontecer depois do
arrefecimento,
-Calcula a superfície corporal queimada através da regras dos nove.
É uma queimadura química, de terceiro grau e apresenta lesão de 18% da superficie
corporal, segundo a Regra de Wallace. É uma situação grave que necessita cuidados
hospitalares urgentes, pelo que o Enfermeiro contacta o INEM.
5.2 - TRANSPORTE E ACOMPANHAMENTO DO TRABALHADOR

O encaminhamento do trabalhador vítima de acidente para tratamento hospitalar é feito


pelo Enfermeiro do Trabalho através do contacto do 112 e comunica, de forma simples e
clara:
-O tipo de situação (queimadura química),
-O número de telefone do qual está a ligar,
-A localização exata, com indicação de pontos de referência,
-O sexo e a idade do trabalhador a necessitar de socorro.
O transporte do trabalhador é feito por ambulancia do INEM para o serviço de urgência
da unidade hospitalar estipulada pelo CODU.

5.3 - INFORMAÇÃO À FAMILIA

O Enfermeiro da empresa The Navigator Company é o profissional que comunica o


acidente de trabalho à família, por contato telefónico se disponível, caso não consiga
avisar solicita-se a colaboração da Assistente Social da empresa para providenciar o
contacto dos familiares de referência.

5.4 - REGISTO DO ACIDENTE

Após a ocorrência de um acidente de trabalho o empregador é responsável pela


investigação do mesmo (Lei nº 102/2009, de 10 de setembro), sendo o seu objetivo
encontrar as causas que contribuíram para a sua ocorrência visando prevenir outras
situações semelhantes. Sempre que ocorra um acidente de trabalho mortal ou nas
situações de acidente de trabalho em que o trabalhador sofra uma lesão física grave, este
deve ser comunicado à ACT nas 24 horas seguintes à sua ocorrência (Artigo 111º da Lei
nº 3/2014 de 28 de janeiro). A participação de acidente é feita à seguradora por meio
informático.
Na empresa é sempre elaborado pelo SSO um Relatório Flash, documento este que
reúne os testemunhos e registos fotográficos do acidente de trabalho. A informação
recolhida, é essencial para determinar as causas do acidente e dessa forma odotar
medidas corretivas.
5.5 - ACOMPANHAMENTO POSTERIOR DO TRABALHADOR

A empresa fornece ao trabalhador um impresso designado de Boletim de


Acompanhamento Médico onde é registada toda a situação clínica do acidentado,
devendo acompanhar o trabalhador sinistrado, desde o dia do acidente até ao dia da alta.
Segundo o Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, o boletim de acompanhamento médico
deve conter:
-A identificação do sinistrado e do serviço ou organismo onde exerce funções,
-A sintomatologia, as lesões ou doenças diagnosticadas e o eventual tipo de
incapacidade,
-Eventuais restrições temporárias para o exercício da actividade habitual,
-Data do internamento, quando ocorra, e da respectiva alta,
-Data da alta e, se for caso disso, respectivo grau de incapacidade permanente proposto.

5.6 - REINTEGRAÇÃO DO TRABALHADOR

O regresso ao trabalho após um acidente é sempre previamente avaliado pelo SSO da


empresa e traduz-se na reintegração profissional do sinistrado em funções compatíveis
com as limitações resultantes do desastre.
Segundo a Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, foi estabelecido um regime jurídico
relativo à reabilitação e reintegração profissional de trabalhador sinistrado com
incapacidade temporária parcial, ou incapacidade permanente, parcial ou absoluta, para
o trabalho habitual. Estipula que o empregador deverá assegurar a reabilitação
profissional do trabalhador e a adaptação do posto de trabalho.
A adaptação ao posto de trabalho e do próprio posto, sugere que existiram falhas
técnicas e organizacionais, com a consequente ocorrência do acidente de trabalho. Estas
falhas requerem uma análise e intervenção adequada, para evitar a repetição deste tipo
de ocorrência.
O regresso à atividade profissional insere-se na dinâmica de uma trajetória que tem
início antes do afastamento forçado do local de trabalho e se prolonga num processo
complexo, de reconhecimento do acidente, da avaliação dos danos provocados, da
reparação desses mesmos danos e da reinserção profissional, em condições apropriadas,
do sinistrado. Pinto (2017).
6 - CONCLUSÃO

Com a elaboração deste trabalho verificámos que o artigo 284.º do Código do Trabalho
define que o trabalhador tem direito a prestar trabalho em condições de segurança e
saúde, e o empregador deve assegurar aos trabalhadores condições de segurança e saúde
em todos os aspetos relacionados com o trabalho.
O Enfermeiro de Trabalho deve por isso fazer uma análise reflexiva dos acidentes que
ocorrem na empresa, de forma a melhorar a sua função de vigilância da saúde dos
trabalhadores.
Uma melhor compreensão do contexto dos locais de trabalho e dos fatores que
contribuem para a ocorrência de acidentes, poderá assim contribuir para a afirmação do
papel do Enfermeiro nas decisões de segurança do trabalhador, envolvendo outros
profissionais da Equipa de Saúde Ocupacional, na discussão de medidas e planeamento
de intervenções que evitem acidentes de trabalho ou reduzam as consequências
negativas destes na saúde dos trabalhadores.
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Verlag Dashöfer

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