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Janeiro de 2023
ÍNDICE
Segundo Drabek (1996), citado pela ANPC (2009), emergência é “um acontecimento
inesperado que coloca a vida e/ou a propriedade em perigo e exige uma resposta
imediata através dos recursos e procedimentos de rotina da comunidade,” necessitando
de uma “coordenação acrescida ou resposta para além da rotina de modo a salvar vidas,
proteger a propriedade, proteger a saúde pública e a segurança, ou diminuir ou evitar a
ameaça de um desastre”.
No que respeita ao local de trabalho, é uma situação imprevista que pode colocar em
risco os trabalhadores, prestadores de serviços, clientes e/ou público, podendo causar
danos físicos e/ou materiais e interromper os processos de trabalho. Pode ser de vários
tipos: inundações, furacões, tornados, incêndios, fugas de gases tóxicos, derramamento
de químicos, acidentes radiológicos, explosões, distúrbios civis e violência no local de
trabalho, resultando em danos corporais e traumas (OSHA, 2001).
De acordo com o Guia de Apoio à Organização dos Serviços de Segurança e Saúde no
Trabalho (APSEI, s.d.), o serviço de segurança e saúde de uma organização tem por
objetivo garantir que são disponibilizadas as devidas condições de segurança e saúde
aos seus trabalhadores. Neste aspeto, o empregador está obrigado a garantir, entre
outros, a existência de uma estrutura interna que assegure as atividades de emergência e
primeiros socorros, de evacuação de trabalhadores e de combate a incêndio e, sempre
que aplicável, o resgate de trabalhadores em situação de sinistro (artigo 15.º da Lei nº
102/2009, de 10 de setembro).
A Informação técnica nº 1, 2 e 3 da DGS, contempla alguns princípios básicos de
orientação, omisso na Lei nº 102/2009, de 10 de setembro, no que respeita aos
procedimentos a adotar em caso de emergência (não obstante serem da responsabilidade
da empresa) e refere que o serviço de Saúde que numa empresa é responsável pelos
cuidados de saúde aos trabalhadores, independente da sua natureza (interno, comum ou
externo), deve incluir nos seus objetivos (alínea b, do Artigo 97º da Lei n.º 102/2009) o
desenvolvimento das condições técnicas que assegurem as medidas de prevenção, entre
outras, em matéria de primeiros socorros (n.º 9 do Artigo 15º idem). da Lei n.º
102/2009), pelo que as empresas devem desenvolver um Plano interno de Emergência,
que integra todas as informações e ações a adotar neste contexto.
1.1 - PRIMEIROS SOCORROS
A DGS através da Informação Técnica nº2 de 2010, refere que o Serviço de Saúde
Ocupacional (SSO) tem o dever de participar na elaboração do plano de emergência
interno (PEI) da empresa, que incluiu os planos específicos de primeiros socorros e de
emergência médica.
Na elaboração desses planos, deve ter-se em conta:
1. Manual de procedimentos em primeiros socorros e atividades de emergência.
2. Equipamento mínimo de suporte vital de vida e de emergência do gabinete
médico/enfermagem (referido na Circular Normativa n.º 6/DSPPS/DGS de 31.03.2010).
3. Conteúdo mínimo da caixa de primeiros socorros nos locais de trabalho (Informação
Técnica n.º 1 de 2010, DGS).
De modo a harmonizar os procedimentos dos diversos serviços de Saúde Ocupacional,
consta na informação técnica nº2 de 2010 da DGS (Emergência e Primeiros Socorros
em Saúde Ocupacional): as quantidades mínimas de utensílios, descartáveis e fármacos
nos locais de prestação de cuidados de saúde ocupacional; o conteúdo da caixa de
primeiros socorros e o equipamento mínimo de suporte vital de vida e emergência (de
acesso restrito aos profissionais de saúde, ao contrário a caixa de primeiros socorros que
deve estar acessível a qualquer trabalhador, em particular aos que tenham formação em
primeiros socorros).
O SSO responsável pelos cuidados de saúde aos trabalhadores de uma dada empresa,
independente da sua natureza, deve incluir nos seus objetivos (alínea b, do Artigo 97º da
Lei n.º 102/2009) o desenvolvimento das condições técnicas que assegurem as medidas
de prevenção, entre outras, em matéria de primeiros socorros (n.º 9 do Artigo 15º idem).
Cabe ao serviço de SSO participar na elaboração do plano de emergência interna que
incluirá planos específicos de primeiros socorros e de emergência. As atividades de
primeiros socorros devem ser organizadas pelas empresas com a participação dos
serviços de SSO, nomeadamente na formação e informação dos trabalhadores
designados para esse efeito. A equipa de SO deve assegurar o plano de formação dos
trabalhadores definindo de forma explícita o tipo de formação, a periodicidade e a carga
mínima de acordo com as condições de trabalho e as características da população
trabalhadora.
A modalidade de organização do serviço de saúde do trabalho da empresa é a interna.
Em matéria de recursos humanos, a empresa estabeleceu contrato de trabalho com um
Médico do Trabalho dimensionado para uma hora por mês por cada grupo de 10
trabalhadores industriais, e, uma hora por mês por cada grupo 20 trabalhadores cujas
funções sejam meramente administrativas. O Médico do Trabalho é coadjuvado por
Enfermeiros do Trabalho. A equipa de Saúde Ocupacional do Complexo Industrial de
Cacia é composta por: um Médico do Trabalho, um Médico de Medicina Geral e
Familiar, sete Enfermeiros do Trabalho, quatro Técnicos Superiores de Higiene e
Segurança, uma Fisioterapeuta e uma Administrativa. A empresa possui ainda um
Psicólogo, uma Nutricionista e uma Assistente Social que se deslocam aos quatro
complexos industriais da empresa em dias preestabelecidos.
Os Enfermeiros trabalham por turnos em regime rotativo. No turno da Manhã realizam
exames de saúde, para poderem avaliar a aptidão física do trabalhador para o exercício
da sua atividade (audiograma, rastreio visual, espirometria, eletrocardiograma).
Os serviços de enfermagem são assegurados 24h por dia e asseguram os tratamentos, a
vacinação, a administração de terapêutica e a atuação em caso doença súbita ou acidente
do trabalhador. Nesta situação é acionado o disposto no PEI e, caso o trabalhador
sinistrado não se possa deslocar ao SSO, o Enfermeiro desloca-se até ao local para
prestar os cuidados urgentes, caso contrário, estes cuidados são prestados nas
instalações do SSO. O Enfermeiro e/ou o Médico do Trabalho encaminham, se
necessário, o trabalhador sinistrado para serviços de saúde diferenciados.
Os registos de saude são feitos em suporte informático, através do software
MedicineOne®.
O Serviço de Saúde Ocupacional possui instalações constituídas por: sala de
tratamentos; sala de realização de exames de saúde; gabinete médico; gabinete de
fisioterapia; recepção; sala de espera; arquivo clínico; copa e instalações sanitárias.
Silva (2014) refere que a sinistralidade laboral se reflete nos gastos que uma
organização contrai no decorrer da sua atividade. Seja pela perda de dias de trabalho e
consequente produtividade, seja pelos gastos relativos a indeminizações e tratamentos
hospitalares.
No Complexo Industrial de Cacia, as queimaduras por calor ou produtos químicos
correspondem a cerca de um quarto dos acidentes de trabalho com baixa. Há situações
em que trabalhadores sofrem contacto com produtos químicos ou com fontes de calor,
mas não valorizam essa situação no momento, apenas procuram avaliação, quando
sentem o agravamento da dor ou descobrem a lesão cutânea. É por isso importante a
correta educação dos trabalhadores sobre a potencial gravidade destas lesões.
A Análise do Risco segundo Reis (2015) tem por objetivo perceber: quais os riscos
presentes no local de trabalho; qual a probabilidade de ocorrência de acidentes; quais os
efeitos e as consequências desses acidentes e como poderiam ser eliminados ou
reduzidos esses riscos.
A Avaliação de Riscos é portanto um processo estruturado para avaliar o nível de risco
imposto pelas fontes de perigo identificadas num processo (Reis, 2015).
Aplica-se a todas as áreas, instalações e equipamentos, considerando todas as atividades
desenvolvidas pela empresa, incluindo as de rotina e ocasionais, quer desenvolvidas por
colaboradores permanentes ou temporários, prestadores de serviços, fornecedores ou
visitantes.
O risco de queimaduras químicas ocorre nos postos de trabalho onde se utilizam os
produtos denominados por licor branco, negro e verde. O risco de queimaduras térmicas
por calor ocorre no contacto com pasta de papel quente e nas descargas de vapor de
várias maquinarias envolvidas no processo de produção de pasta de papel.
O processo de recolha de amostras de licor branco, negro, verde e pasta de papel; as
operações de limpeza, de inspeção e manutenção, são as situações de maior risco que
podem resultar em queimaduras químicas. O próprio contacto com tubagens quentes
durante os processos de recolha de amostras e manutenção de equipamentos aumenta o
risco de queimaduras térmicas.
O uso correto de EPI pelo trabalhador é essencial para reduzir ou eliminar os riscos e
prevenir este tipo de acidentes de trabalho. Quando o trabalhador realiza um trabalho
numa zona com risco químico, é obrigado a usar EPI adequados a riscos químicos (fato
de proteção química, galochas de segurança com biqueira de aço, óculos, capacete com
viseira, e luvas de borracha com punho longo).
4 - QUEIMADURAS
O International Council of Nurses (ICN, 2001), define queimadura como “…um tipo de
Ferida Traumática com as seguintes características específicas: rotura e perda da
camada exterior do tecido da superfície do corpo ou camadas mais profundas, devida a
lesões pelo calor resultantes de exposição a agentes térmicos, químicos, elétricos ou
radioativos.”
Segundo Pinho (2014) a vítima de queimadura, como qualquer vítima de trauma, pode
ser caracterizada por um importante desequilíbrio entre os mecanismos pós-
inflamatórios e anti-inflamatórios, podendo em determinadas situações ocorrer com
choque e disfunção multiorgânica.
Desta forma, quanto maior a profundidade e comprometimento de estruturas, mais
grave será o estado da vítima de queimadura. É, por isso necessário que os Enfermeiros
se baseiem em instrumentos estabelecidos, para avaliar as características que indiquem a
gravidade da lesão e o cálculo do total da área corporal comprometida (Nishi & Costa,
2013).
Com a elaboração deste trabalho verificámos que o artigo 284.º do Código do Trabalho
define que o trabalhador tem direito a prestar trabalho em condições de segurança e
saúde, e o empregador deve assegurar aos trabalhadores condições de segurança e saúde
em todos os aspetos relacionados com o trabalho.
O Enfermeiro de Trabalho deve por isso fazer uma análise reflexiva dos acidentes que
ocorrem na empresa, de forma a melhorar a sua função de vigilância da saúde dos
trabalhadores.
Uma melhor compreensão do contexto dos locais de trabalho e dos fatores que
contribuem para a ocorrência de acidentes, poderá assim contribuir para a afirmação do
papel do Enfermeiro nas decisões de segurança do trabalhador, envolvendo outros
profissionais da Equipa de Saúde Ocupacional, na discussão de medidas e planeamento
de intervenções que evitem acidentes de trabalho ou reduzam as consequências
negativas destes na saúde dos trabalhadores.
BIBLIOGRAFIA
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