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A interdependência dos dois objetivos de “transmitir conhecimento passado” e de “estar

preparado para usar esse conhecimento para criar novo conhecimento”, assim como disseminar
esta capacidade para a maioria de cada geração [de estudantes], levanta problemas acrescidos para
os teóricos do currículo, planificadores do currículo e para professores. Ela exige uma rutura ou, pelo
menos, uma “mudança para além” das duas abordagens prevalecentes da educação que herdámos
do passado.

Michael Young (2013), Overcoming the crisis in curriculum theory: a knowledge-based approach
(traduzido).

Comente o texto segundo as problemáticas teórica, social e política que envolvem as questões
curriculares.

Em primeiro lugar temos que atentar nas definições de currículo para entendermos que tipo de
norma se encontra hoje em vigor e que tipo de alterações se propõem a haver de forma a melhorar
este conceito e adaptá-lo a uma realidade de ensino cada vez mais diferente.

O conceito que a legislação hoje nos apresenta de currículo é, o conjunto de “princípios orientadores
da sua conceção, operacionalização e avaliação das aprendizagens, de modo a garantir que todos os
alunos adquiram os conhecimentos e desenvolvam as capacidades e atitudes que contribuem para
alcançar as competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória”,
definição encontrada na legislação portuguesa e que, em suma, visa alcançar através dos conteúdos
lecionados, certos valores, áreas de competência e princípios, estabelecidos em conjunto com a
União Europeia e o Governo português. De forma a alcançar esse perfil dos alunos, elaboram-se
documentos normativos, como o programa, as metas curriculares e as aprendizagens essenciais de
forma a estabelecer o que deve ser lecionado, como deve ser lecionado e que tipo de avaliações
devem ser realizadas.

Atentemos para o facto de que o currículo é a avaliação das necessidades da sociedade, do aluno e
do conteúdo de ensino, ou seja, a legislação, filtrados pela filosofia da educação e pela psicologia da
aprendizagem, gerando portanto objetivos gerais de Ensino que por meio de uma seleção e
organização, são estabelecidos objetivos específicos, ou seja, a matéria e o conteúdo, expressos no
Programa Curricular, nas Metas Curriculares e nas Aprendizagens Essenciais, e que, por último,
através da operacionalização dos conteúdos com as estratégias de aprendizagem nos dão os
objetivos operacionais, expressos pelas planificações, longa, média e curta. Porém estes são
demasiado teóricos e exaustivos, retirando uma certa liberdade ao professor, ou pelo menos,
disponibilidade, em termos de tempo, de lecionar além do que foi estabelecido por lei.

O estabelecimento destes objetivos tão específicos tem como fim alcançar o modelo do perfil do
aluno à saída da escolaridade obrigatória, em termos de princípios, competências e valores como já
mencionado de forma a alcançar, um domínio cognitivo, afetivo e sensório-motor.

Pelo que, nos aparecem múltiplas teorias ligadas ao currículo que levantam a necessidade de
reforma desta conceção de currículo, nomeadamente vemos a de V. E. Anderson que nos levanta a
importância das atividades extra-classes que também elas devem ser consideradas na elaboração
dos documentos normativos, para além desta, vemos ainda o realçar de uma necessidade de
elaboração de um diagnóstico de forma a avaliar da melhor forma o que é necessário para o
desenvolvimento do indivíduo e as formas que podem ser usadas para alcançar essas metas.
Joseph Schwab aponta ainda uma preocupação maior com a dinâmica em sala de aula, e com a sua
análise, de forma a propiciar uma restruturação do sistema educativo, que se apresenta demasiado
teórico e pouco adaptado à realidade muitas das vezes. Vemos ainda outros a definir currículo como
o espelho da realidade cultural em que a escola se insere.

Em suma, e apesar da chamada de atenção para aspetos diferentes a serem considerados, o


currículo tem por definição uma análise das necessidades de determinada sociedade e a resposta
educacional que esta disponibiliza de forma a colmatar essas necessidades.

Contudo e tal como o autor da citação acima aponta, Michael Young, a conceção que possuímos de
currículo “exige uma rutura ou, pelo menos, uma “mudança para além” das duas abordagens
prevalecentes da educação que herdámos do passado.” pois não é capaz de unir o currículo
explícito, oficial e formal, ou seja, o “transmitir conhecimento passado” com o currículo oculto, real
e informal, “estar preparado para usar esse conhecimento para criar novo conhecimento”.

3.

Se nos distanciarmos das conjunturas que têm regido o processo político reformista e adoptarmos
uma perspetiva de mais longa duração, é fácil apercebermo-nos que, para lá do carácter episódico e
anedótico que marcam as diversas reformas, a questão central desta evolução está relacionada com
o modo como são definidas e controladas as orientações, normas e acções que asseguram o
funcionamento do sistema educativo e, em particular, o papel que o estado e outras instâncias ou
agentes sociais têm nesse processo.

É no contexto de um movimento lento e complexo de recomposição do poder do Estado e de


redefinição dos papéis de diferentes agentes sociais no campo educativo que me proponho analisar
as principais mudanças que ocorrem nos processos de regulação das políticas públicas de educação
em Portugal. Esta análise toma como referência a existência de três níveis de regulação diferentes
mas complementares: a regulação transnacional; a regulação nacional; a microrregulação local.

João Barroso (2010), A regulação das políticas públicas de educação em Portugal (adaptado).

Considerando o excerto, avalie se a análise das políticas públicas de educação em três níveis
diferenciados propostas pelo autor são adequadas para o caso português.

Dê exemplos por forma a tornar o sua resposta mais explícita e penetrante.

De forma a entendermos o “processo político reformista” que vemos em Portugal nos dias de hoje,
que, tal como o autor aponta, parece anedótico, pois a mudança constante é infrutífera, sendo mais
produtiva, a estabilidade, o que não se tem visto no sistema de Ensino português, é necessário
atentarmos para todo um contexto histórico.

É de notar que por muitos séculos, o Ensino esteve na esfera da Igreja, porém com a expulsão dos
Jesuítas em 1759, vemos o início de um processo de nacionalização deste ensino. Portugal como um
país apropriador de políticas, ideias e medidas a nível internacional, vai ser influenciado pela difusão
das ideias do republicanismo e, logicamente, de um cidadão que intervém na vida política, mas para
tal, o Estado tem que tornar este cidadão capaz dessa intervenção. Se o Estado, através da
Constituição declara que se vai responsabilizar pelo Ensino, precisa criar rede de escolas, medidas,
escolaridade obrigatória, entre outros aspetos fundamentais, toda uma rede que perdeu com a
expulsão dos Jesuítas, porém a República herda o analfabetismo da monarquia.

É de realçar o facto de Portugal, em tabelas, gráficos de séculos anteriores demonstram um


progresso muito abaixo da média europeia e um país muito atrasado a este nível.

Com a expulsão dos Jesuítas, vemos a necessidade de adoção de um dos três modelos de ensino, o
modelo estatal, completamente no controlo do Estado, um modelo que balança entre a
determinação estatal e a iniciativa privada e o modelo societal. O Estado na impossibilidade
económica de estabelecer redes escolares, cria parcerias público-privadas.

As poucas alterações feitas começaram com a época liberal e já num esforço hercúleo, devido aos
princípios que as velhas ordens privilegiadas levaram 3 séculos a edificar: a brutificação do povo e
um orçamento mais voltado para as despesas da família real e muito pouco direcionado para o
ensino, ao longo do tempo, sendo que é de notar, que o único ano que ultrapassou a média foi em
1936, Estado Novo, e apenas para instaurar um ensino fascizante.

Num gráfico de 1989, que compara o ano de estabelecimento de uma escolaridade obrigatória com
a taxa de matrículas efetuadas no ensino primário no ano de 1870, vemos uma realidade muito
distorcida, pois Portugal apresenta um estabelecimento da escolaridade obrigatória até precoce (só
de rapazes; raparigas em 1870) porém uma taxa de matrículas muito baixa em comparação com
outros países mais tardios no estabelecimento da escolaridade obrigatória. Demonstra-nos então
que o Ensino demorou a ser uma preocupação do Estado, e que serviu durante muito tempo, apenas
como um instrumento da retórica política, numa espécie de “show off”.

Posteriormente, e gradualmente, vemos uma chamada do ensino à esfera de influência do Estado e,


como veremos mais à frente, a um controlo também internacional, e uma preocupação cada vez
maior com esta área da sociedade, ainda que os níveis de literacia continuem baixos no ano de 1995
(com níveis ligeiramente superiores nas populações mais jovens, do sexo masculino e nas
populações residentes na cidade).

No que diz respeito à relação entre o Estado-Nação e a Educação, o ensino revela-se essencial para a
formação de uma identidade nacional, tanto ao nível de encorajamento de valores patrióticos, como
de expansão da língua nacional, formação do cidadão, entre outros aspetos, essenciais a uma
sociedade.

O ensino apresenta-se então como um transmissor da herança cultural, um reprodutor social e


cultural, permitindo a mobilidade social através da educação, visto que a escola retribui o empenho
que lhe é depositado, também, se apresenta como um aparelho ideológico do Estado e um meio de
conscientização, emancipação e libertação.

Vemos então o nível de controlo estatal do Ensino através da alocação de fundos, da distribuição,
autorização e inspeção de escolas, note-se que até ao nível da construção das escolas. Existem
regras, muito específicas de como esta deve ser construída, de forma a possuir a ser um edifício
funcional. Ainda através do recrutamento, formação e certificação de professores, veja-se que o
corpo docente nacional não se encontra integrado numa ordem devido a estar intimamente ligado
ao processo de formação do Estado-Nação. Para além da supervisão das certificações a nível
nacional e de uns curricula padronizados, ambos de forma gradual.

No que diz respeito à regulação internacional do Ensino, com a entrada de Portugal na União
Europeia, este vê-se sob a esfera de influência de organizações internacionais, nomeadamente,
inserida na ONU, a UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, que
através dela vemos a situação portuguesa num contexto internacional, em termos de ensino, e o
quanto Portugal se encontrava atrasado em comparação com os seus vizinhos europeus, tendo que
agora recorrer a maiores investimentos no Ensino e também ao estabelecimento de 12 anos de
escolaridade obrigatória, de forma a recuperar o avanço dos restantes países.

Portugal vê-se também inserido na OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento


Económico, uma organização de uma vertente mais económica que visa também «ajudar os países a
projetar e implementar políticas que respondam aos muitos desafios do sistema educativo».

Através desta vemos vários estudos que demonstram ainda o recuo de Portugal, contudo, e pela
integração no PISA, Projecto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que
avalia as competências de jovens na faixa etária dos 15 anos nas disciplinas de matemática, ciências
e na leitura, vemos Portugal bem classificado no ano de 2015, em comparação com o de 2003, o que
demonstra uma melhoria exponencial ao nível do Ensino.

Ao nível da microrregulação local, podemos dizer

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