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Comentário sobre o texto de Fernand Braudel "O caso do Império Turco" - Descrição dos

temas principais do texto.

Neste comentário sobre o capítulo “O caso do Império Turco” de Fernand Braudel


inserido no livro “Civilização Material Economia e Capitalismo Séculos XV-XVIII. v. 3 – O
Tempo do Mundo”, pretendo aprofundar- me na descrição dos principais temas debatidos
pelo autor. Em primeiro momento ele pretende expor as bases para a economia-mundo e a
autonomia turca nessa lógica. Essa autonomia se dá pois dentro do comércio internacional,
a terra permite ligações que podem simbolizar uma fonte de riquezas. Com isso, o autor
expõe que a partir da tomada da Síria e do Egito, o império atinge uma grandeza que
permitiu criar ligações comerciais entre diversas partes do Oriente. Entretanto, vale ressaltar
que os diversos conflitos belicosos cessaram os progressos turcos, como por exemplo na
Pérsia e também a presença portuguesa no oceano Índico, devido às técnicas marítimas
europeias. Porém, o império já era imenso, o que permitiu excedentes de produção de
animais, couro, trigo e até têxteis. Também, o império herdou do Islã as grandes
concentrações e criações urbanas, que, segundo Braudel (p. 434) são semeadas por
corpos de ofícios. Posteriormente, para debater sobre a decadência do Império, mostra que
é errado reduzir a história econômica do Império turco à cronologia de sua história política.
O motivo disso é porque a decadência do poderio otomano não acarreta imediatamente a
de sua economia, que ainda era forte e atingiu sua primazia por volta de 1750. Ele então
expõe a ideia de mercado nacional, pois pela extensão do Império ele era capaz de se auto
sustentar devido a seus grandes eixos comerciais que o garantiam a devida coerência.
Em seguida o autor debate sobre a boa-fé a transparência das trocas, uma
característica que mostrava que a economia otomana no século XVIII ainda era tradicional e
a ideia capitalista ainda não estava desenvolvida. Isso se dá porque o crédito ainda não era
muito presente na economia, o que subsiste no que o autor chama de arcaísmo das trocas,
o que leva ao fato do baixo nível dos preços em comparação à Europa Ocidental. Isso fez
com que os europeus conseguissem jogar com os preços dos câmbios, os fazendo ganhar
lucro em cima das moedas. Entretanto, é necessário destacar que esse arcaísmo não levou
à regressão econômica turca, pois o mercado interno se manteve animado pelas indústrias
da guerra, construções naval, artesanato ativo e indústrias têxteis. Apenas a partir da
Revolução Industrial no século XVIII que a economia turca será perturbada e levada a
quase destruição.
Anteriormente à Revolução Industrial, a economia otomana se caracterizava pelas
caravanas de camelos, o que permitia com que fossem feitos comércios até a Índia, Arábia,
China, Kazan e demais locais. Deste modo, é válido destacar que os mercadores turcos
chegavam a esses locais distantes porque eles eram os donos desse transporte organizado
e vigiado com rigor. O império, a partir do século XVIII também aumentou seus
investimentos no espaço marítimo, substituindo suas galeras por barcos a velas com
canhões. Deste modo ele conseguiu controlar a situação no Mar Negro, que se tornou o
principal canal de entrada de mercadorias para Istambul por vias marítimas. Outro local
marítimo de que era de presença quase exclusiva dos otomanos desde o século XVII era o
Mar Vermelho, onde esses podiam controlar a saída de especiarias - no sentido Ásia-
Europa - até a descoberta do Cabo da Boa Esperança, que fez diminuir o fluxo de
mercadorias. Porém, o Mar Vermelho volta a ser próspero com a inserção do café no século
XVIII, que chega mais depressa aos clientes turcos e europeus por esse local.
Braudel também expõe que o comércio no Império Turco também é uma
característica muito importante dessa economia. Esse mercado é cheio de ambulantes,
varejistas, lojistas e que fazem transações asseguradas por árabes, armênios, judeus,
indianos, gregos e turcos. Isso se dá porque segundo o autor o mercado do ocidente não se
move a vontade dentro do império para fazer essas trocas. Entretanto o autor, no final de
sua exposição, escreve sobre a decadência do Império Turco-Otomano, que se deu por
alguns motivos. Um deles seria a própria revolução industrial que passou a atingir os
bálcãs, uma região muito importante no quesito do grosso dos efetivos militares e dos
impostos atraídos pelo império e que em seguida avançou em direção a outras partes
influentes do império. Desta forma, a estrutura econômica otomana não era capaz de
competir com a economia industrial do Ocidente, que acabou afetando também a política e
o Estado Otomano. Outra fraqueza da Turquia também era sua incapacidade de adaptar-se
às técnicas belicosas da Europa. O estado turco também, por consequência, já não é mais
obedecido, pois os custos de vida aumentam e o salário dos seus funcionários já não é
mais suficiente para arcar com o custo de vida que aumentou. Desta forma, a entrada de
uma Europa industrializada dentro do Império, anuncia a sua queda.

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