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O Mundo Oriental à chegada dos Portugueses

Mapa de Cantino, 1502


O mapa de Cantino, elaborado com as informações reportadas pela armada de
Cabral permite-nos perceber a percepção dos portugueses relativamente ao mundo
oriental nos primeiros anos do séc. XVI:

- destaca-se a costa oriental africana extraordinariamente bem cartografada e


recheada de topónimos;
- O Mar Vermelho (razoavelmente cartografado, em especial o Estreito de Adem);
- A Península Arábica e o Golfo Pérsico;
- O subcontinente indiano, com a costa ocidental indiana igualmente recheada de
topónimos;
- o estreito de Malaca, incipientemente representado, tal como o golfo de Bengala e
a própria ilha de Ceilão;
- O sueste asiático e o mar da China e do Japão, muito longe da realidade e ainda
fortemente influenciado ainda cartografia de influência ptolemaica.
- Atente-se ainda, à esquerda, no desenho da costa brasileira, recentemente
descoberta pela armada de Cabral, de cujas informações resultou este mapa.
O oceano Índico e áreas adjacentes, principais características a salientar:
- Presença de vários grandes impérios e um grande número de reinos dominando as
costas do oceano índico;
- um mundo em convulsão política, marcado pela emergência de novos poderes que
disputavam a hegemonia pré-estabelecida;
- o Índico era então, como lhe chamou Geneviéve Bouchon, “um lago muçulmano”, não
do ponto de vista do seu domínio militar, mas comercial;
- O Índico e a Ásia em geral vivem um momento de expansão da fé islâmica, bem
visível tanto na costa oriental africana, como no próprio sub-continente indiano e, em
especial, na Ásia do Sueste (o caso do Sultão de Malaca, recentemente convertido ao
Islão era disso um bom exemplo), em resultado da “islamização doce”, efectuada pelos
comerciantes muçulmanos, bem diferente daquela que se vinha impondo tanto no norte
de África como na Europa (península Ibérica, por exemplo) através da Jihad (a Guerra
Santa);
- Um mundo marcado pela complementaridade, bem visível, por exemplo, no chamado
comércio triangular operado no Índico ocidental entre o Guzerate, grande produtor de
tecidos, que eram vendidos na costa oriental africana a troco de ouro, escravos e marfim,
produtos que, por sua vez, eram transportados para os portos do Malabar, sobretudo para
Calecut. Aqui afluíam os produtos oriundos do golfo de Bengala e, sobretudo, de Malaca
(grande entreposto do comércio oriundo do sueste asiático e da China). De Calecut era
expedida também a pimenta, produzida no Malabar, que ia abastecer os mercados do
mediterrâneo oriental, em especial Alexandria, e daí para a Europa.
Costa oriental africana:
- O principal potentado da zona, o reino de Quíloa, encontrava-se em clara fragmentação;
- outros reinos, de menor dimensão, como Sofala e Melinde, por exemplo, procuravam sair da
sua órbita;
- os portugueses, procurando encontrar uma segunda Mina (tinham notícia do importante
comércio do ouro feito nos portos da costa, aonde afluía o ouro explorado no sertão africano),
tudo vão fazer para se substituir aos comerciantes muçulmanos, mas sem grandes resultados nos
primeiros anos;
- apoio da Coroa portuguesa aos estados que procuravam emancipar-se do poder de Quíloa,
acelera a sua fragmentação.
Egipto e península arábica:
- Dominando os fluxos comerciais operados através do Mar Vermelho o Império Mameluco
havia-se afirmado como a mais importante força político-militar e comercial da região, mas
encontrava-se agora em claro declínio;
- os portugueses ao procederem ao bloqueio do Mar Vermelho acabarão por lhe dar a
machadada final, deixando-o sem meios para pagar ao seu poderoso exército de janízaros;
- acabará, em 1517, por sucumbir às mãos dos Turcos-Otomanos.
Médio-Oriente:
- O Império Turco-Otomano afirmava-se cada vez mais como a mais importante força da
região, acabando por se estender em direcção à península arábica e ao Egipto, mas também em
direcção aos Balcãs, pondo em risco a cristandade da Europa Oriental;
Principais reinos e portos da costa oriental africana
- conquistam a Síria em 1516 e o Egipto (império mameluco) em 1517;
- representava um perigo para o emergente império Persa, recentemente criado pelo Shah
Ismail;
- de rito Xiita, ao contrário dos turcos-otomanos que seguem o rito sunita, seria o aliado
preferencial dos portugueses para procurar travar a expansão turca em direcção ao golfo
pérsico e ao mar arábico.
Golfo Pérsico:
- Como referimos o Shah Ismail havia conseguido unificar a região criando um império cujos
habitantes, professando maioritariamente um Islão de rito Xiita, se opunha aos seus vizinhos
turcos;
- seria o escolhido pelos portugueses como parceiro na luta contra a expansão otomana
(Afonso de Albuquerque haveria de enviar em 1513 uma primeira embaixada à Pérsia
estabelecendo um tratado de cooperação mútua).
Subcontinente indiano:
- Ao norte imperava ainda o Sultanato de Delhi, de que já se haviam separado no séc. XV o
sultanato de Bengala (actual Bangladesh) e o sultanato do Guzerate;
- Do desmembramento do sultanato de Delhi resultou também o aparecimento do Reino
Bahmanida (as fontes portuguesas chamam-lhe o reino de Daquém) que, ocupando grande
parte do norte do Decão, se havia fraccionado, por altura da chegada dos portugueses, em 5
sultanatos principais, a saber: BIJAPUR; BERAR, BIDAR, AHMDNAGAR e GOLCONDA;
A Índia em finais do séc. XV
- Estes sultanatos opunham-se militarmente ao grande Império hindu de Vijayanagar
(Bisnaga segundo as fontes portuguesas), que era a principal força político-militar do sul do
subcontinente indiano, o que muito serviu o estabelecimento dos portugueses na região;
- Igualmente importante era o facto de o império de Vijayanagar exercer uma vaga suserania
sobre os reinos da costa do Malabar, onde os portugueses se fixaram.
Costa do Malabar:
-situada na costa ocidental indiana, entre a costa do Canará e o cabo Comorim (extremo sul
do subcontinente indiano), encontrava-se a costa do Malabar, de extraordinária importância
por ser uma das principais zonas produtoras de pimenta da Índia;
- O Samorim de Calecut detinha aí o estatuto de principal soberano, dada a importância do
seu porto no contexto global do comércio marítimo do Índico ocidental;
- os reinos de Cochim e de Cananor, encontrando-se numa posição subalterna, disputavam
com aquele a condição de principal potentado da região;
- disso se serviram os portugueses para, recusado o acordo com o Samorim, ali se
estabelecerem, vindo a construir nos seus reinos fortalezas-feitorias para assegurar o
fornecimento de pimenta e gengibre, para além de outros produtos, à “Carreira da Índia”.
Ilha de Ceilão:
- Também aqui a coexistência de três reinos – Kotte, Kandia e Jafna – inimigos acabariam
por servir o estabelecimento dos portugueses, mas isso só se verificará mais tarde, já na
década de vinte.
Reinos da Costa do Malabar
Ásia do Sueste e Extremo-oriente:
- importância do sultanato de Malaca que, dominando o Estreito do mesmo nome, era uma
placa giratória entre dois mundos, o do Pacífico e o do Índico, diversos mas
complementares;
- Malaca funcionava como porto de cruzamento dos produtos produzidos nas ilhas do
arquipélago malaio-indonésio, da Tailândia, China e Japão, mas também dos que aí afluíam
vindos do golfo de Bengala, da costa do Coromandel e do Índico ocidental, em especial de
Calecut, também ele uma verdadeira placa giratória para os produtos transaccionados
através do oceano Índico;
- persistência de alguns antigos reinos hindús na região, sobretudo o de Mojapahit, na ilha
de Java, na sua parte oriental, que resistiu ao processo de islamização até ao segundo qurtel
do século XVI;
- importância comercial e política do grande reino do Sião (actual Tailândia) no contexto
das relações político-militares da região;
- Importância do Celestial Império que, não obstante os longos períodos de fechamento ao
exterior, mantinha um extraordinário peso no conjunto das trocas comerciais em toda a
região, fosse através das autoridades imperiais, fosse através das suas inúmeras e
numerosas comunidades de chineses ultramarinos estabelecidos fora do Império, mas que
com ele mantinham laços de grande importância;
- O Japão, marcado ainda pelas profundas divisões resultantes do sistema feudal em vigor
na altura.
Bibliografia:
-Diccionário da Expansão Portuguesa, coord. Francisco Contente Domingues,
Lisboa, Círculo de Leitores.
-Luís Filipe Thomaz, “Malabar”, in Dicionário de História dos Descobrimentos
Portugueses, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994.
-Geneviève Bouchon, “Les mers de L’Inde a la fin du XV.eme siécle, vue generale”,
in Moyen Orient & Ocean Indien, vol. I, Paris, Société d’Histoire de L’Orient, 1984,
pp. 101-116.
-Vitor Luís Gaspar Rodrigues, «A apropriação das rotas comerciais do Índico pelos
Portugueses no século XVI», in Portugal no Mundo, (ed.) Luís de Albuquerque, vol.
IV, Lisboa, Ed. Alfa, 1990, pp. 260 a 278.

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