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REGIONAL DE BLUMENAU
REITORA
Marcia Cristina Sardá Espindola
VICE-REITOR
João Luiz Gurgel Calvet da Silveira
EDITORA DA FURB
CONSELHO EDITORIAL
Edson Luiz Borges
Helena Maria Zanetti de Azeredo Orselli
Moacir Marcolin
Juliana de Mello Moraes
Roberto Heinzle
Márcia Oliveira
Carla Fernanda Nolli
EDITOR EXECUTIVO
Maicon Tenfen
DISTRIBUIÇÃO
Edifurb
Editora da FURB
Rua Antônio da Veiga, 140
89012-900 Blumenau SC BRASIL
Fone: (047) 3321-0329
3321-0330
3321-0592
Correio eletrônico: editora@furb.com.br
Internet: www.furb.br/editora
Distribuição: Editora da FURB
Diagramação
Leandro Ludwig
Edição de Áudio
Everton Darolt
Felipe Hering
Edição de Vídeo
Marta Francisca Pego dos Santos
Entrevistas
Gabriela Zimmermann
Giulia Godri Machado
Isabela Cremer
Júlia Bernardes Laurindo
Maria Luiza de Almeida Kuster
Natiele de Oliveira Vanderlinde
Thiago Cisilo Gomes
ORGANIZADORES
Sandro Galarça
Fabrícia Durieux Zucco
Marcos Antônio Mattedi
Blumenau, 2021
Sumário
Prefácio_________________________________ 01
Profa. Marcia Cristina Sardá Espíndola
Reitora da FURB
01
tanto na graduação quanto na pós-graduação, formam novos
pesquisadores, cumprem exigências para a publicação de artigos e
para a a prestação de serviços com pesquisa aplicada.
Assim, este livro é uma homenagem aos pesquisadores da FURB e
sua primeira edição revela vivências de 14 docentes pesquisadores cujas
trajetórias se fundem com a história da Universidade de Blumenau, com
a criação dos programas stricto sensu, com as estruturas conquistadas
para o desenvolvimento de pesquisas e a produção do conhecimento
cientifico de nossa região.
Nestes relatos, percebemos a importância da Universidade e
seu papel no desenvolvimento econômico, social e cultural da região,
como também a dedicação destes pesquisadores, orgulho e inspiração
para todos que compartilham o ideal de incluir e garantir à sociedade o
direito à educação e às transformações que ela proporciona.
02
03
Entre olhares: a entrevista
jornalística como prática
pedagógica
Introdução
05
Figura 1. Atores envolvidos
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e vídeo, gráficas, empresas de webdesign, estúdios de animação,
institutos de pesquisa, veículos de comunicação, entre outros. No
contexto da infraestrutura do curso, o laboratório denominado Agência
Experimental ocupa papel central.
Por outro lado, o curso de Jornalismo da Universidade Regional
de Blumenau (FURB), implantado em 2014, é o primeiro curso de
Jornalismo do Brasil a seguir as novas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs). Um dos componentes curriculares que procura atender ao
espírito das DCNs é Laboratório de Entrevista no Jornalismo, que
viabilizou a operacionalização técnica desse projeto. Essa articulação
de saberes por meio de eixos transversais e integradores pode ser
observada já no objetivo geral da disciplina, que diz: “aplicar as
técnicas de seleção, captação, redação e difusão de notícias a partir da
escolha das entrevistas, respeitando a ética na relação com as fontes;
estabelecer relações de confiança com as fontes e com o público;
praticar entrevistas ao vivo nos meios eletrônicos; e exercitar a edição
do conteúdo nos meios impresso e eletrônico”.
Uma forma de materializar esses processos de ensino-
aprendizagem por meio das práticas laboratoriais previstos na disciplina
ocorre principalmente pelo planejamento, produção e publicação de
produtos interdisciplinares que se utilizam de entrevistas jornalísticas
como método de obtenção de informações. O Projeto Cognitum,
interdisciplinar desde sua concepção, atende a essa expectativa. Está
baseado na expertise de diferentes áreas do conhecimento e do diverso
perfil docente para a materialização, através da articulação sistemática
de ações que cruzam os eixos de fundamentação e, ainda possibilita
uma iteração complementar e necessária entre a graduação e a pós-
graduação através da pesquisa e de seus pesquisadores.
A nova concepção da sociedade sugere uma maior aproximação
dos estudantes com um mercado emergente, pautado mormente pela
abundância das novas tecnologias de produção, distribuição e consumo
de conteúdo midiático, sem, entretanto, menosprezar a abordagem
humanística que caracterizou os primeiros cursos de jornalismo por
meio de disciplinas originárias das Ciências Humanas, como Filosofia,
Sociologia, Antropologia, por exemplo.
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A entrevista jornalística, a seu turno, age como catalisador
neste processo, porque viabiliza tanto as questões metodológicas sob
o viés jornalístico quanto é instrumento de aplicabilidade pedagógica,
visto que seu sucesso depende: a) da elaboração de uma pauta; b)
da compreensão de processos de pesquisa jornalística baseados em
critérios de noticiabilidade; c) de um acompanhamento docente nas
diferentes etapas de execução; d) da aplicação de uma série de teorias
ancoradas no campo jornalístico e nas Ciências Humanas; e) de um
cuidadoso processo de seleção e edição de informações jornalísticas;
f) no conhecimento prévio das fontes de pesquisa jornalística; g) da
construção adequada de um texto com rigor e adequação à linguagem
jornalística; h) de uma postura que privilegia a ética e empatia no
tratamento com as fontes.
Fundamental para a metodologia de apuração no jornalismo, a
entrevista cumpre diferentes papéis ao longo do processo de produção
e levantamento de informações que serão transmitidas pelos meios de
comunicação sob a ótica do interesse público (MILLER-CARPENTER;
CEPAK; PENG 2018). Pode-se categorizar a entrevista em quatro tipos
básicos: a) como etapa do levantamento e apuração de informações
para a construção de uma notícia ou reportagem; b) como meio de
acesso coletivo a determinadas fontes, realizadas de forma provocada
ou espontânea; c) como um gênero jornalístico; d) como um produto
midiático.
A realização de entrevistas como metodologia básica para a
busca de informações e cujo processo culmina na produção de textos
jornalísticos não foi um método presente desde as fases iniciais do
jornalismo, como nos lembra Schmitz (2011). Em sua fase mais
embrionária, mas já como produto da ascensão burguesa na Europa do
início do século XVII, os primeiros jornais impressos de periodicidade
regular se limitavam a reproduzir pequenas notas comerciais, reportar
eventos sociais e informações de caráter generalista. Trata-se da fase
que Charron e Bonville (2004) chamam de “jornalismo de transmissão”,
que se caracterizava por transmitir ao público as informações que
chegavam aos publishers, sem alterar seu conteúdo.
08
O surgimento do repórter, nesse contexto, introduz a
metodologia da entrevista como estratégia essencial que cumpre tarefas
fundamentais no cotidiano do jornalismo como conhecemos hoje. As
entrevistas como metodologia de apuração têm como funções básicas:
a) comparar versões diferentes sobre o mesmo fato; b) descobrir
informações exclusivas por meio do acesso a fontes de informação
confiáveis e a cuja recorrência legitima o processo de investigação; c)
checar informações que chegam às redações por meio das mais diversas
formas, como material produzido pelas assessorias de comunicação,
contribuição dos leitores ou sugestões de pauta de determinados
segmentos; d) ilustrar histórias protagonizadas por pessoas das mais
diferentes origens; e) traduzir linguagem técnica para o discurso
jornalístico conhecido por sua coloquialidade e universalidade; f) dar
voz às fontes especialistas como forma de legitimar um discurso de
autenticidade e veracidade, marcas do texto jornalístico.
De acordo com Lage (2001), a entrevista é o procedimento
clássico de apuração de informações em jornalismo. Para ele, é
uma expansão da consulta às fontes, com o objetivo de coletar as
interpretações e a reconstituição dos fatos. A palavra entrevista é
ambígua, e pode significar: a) qualquer procedimento de apuração
jornalística junto a uma fonte capaz de diálogo e de resultar em
informações; b) uma conversa de duração variável com personagem
notável ou portador de conhecimentos ou informações de interesse
para o público; c) a matéria publicada com as informações colhidas.
Do ponto de vista dos objetivos, as entrevistas podem ser assim
classificadas: a) ritual (formato mais breve, ocorre geralmente quando
o interesse está na exposição da voz ou da figura do entrevistado);
b) temática (quando aborda um tema específico, sobre o qual se
supõe que o entrevistado tenha domínio do conteúdo, autoridade
reconhecida ou opiniões relevantes acerca de determinado fato ou
evento); c) testemunhal (representa o relato de uma fonte sobre um
fato ou acontecimento a que ele assistiu, viveu ou presenciou); d) em
profundidade (quando o objetivo da entrevista não é um tema em
particular ou um acontecimento específico, mas a figura do entrevistado
ou a sua representatividade em determinada área do conhecimento).
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No que diz respeito à entrevista como um gênero jornalístico, em
que ela por si agrega um conjunto de características que lhe conferem
tal status, ela pode ser adaptada de acordo com o suporte em que a
divulgação será feita. Assim, encontramos entrevistas impressas (em
jornais, revistas); no modelo digital e on-line (publicadas em blogs, sites
de conteúdo, portais de informação); em formato sonoro (entrevistas
divulgadas em rádios ou disponíveis em outras mídias sonoras, em
formato de podcasts disponíveis nas mais variadas plataformas); e em
formato de vídeo (apresentadas em emissoras de televisão ou como
documentários de cinema, mídia digital ou internet).
No jornalismo impresso, o conteúdo da entrevista pode ser
tratado como notícia, dar origem a uma reportagem ou, ainda ser
publicada em formato de perguntas em respostas, também conhecido
como entrevistas em pingue-pongue (LAGE, 2001; STEWART, CASH
JUNIOR, 2015). Quando o conteúdo resultante de uma entrevista
é tratado como notícia, tomam-se os mesmos procedimentos de um
texto informativo. Ordenam-se as informações a partir do primeiro
parágrafo jornalístico (por meio do lead ou lide), agrupando-se os dados
e opiniões apurados no processo noticioso em ordem decrescente de
importância, ou seja: parte-se do mais importante, do mais novo para
o menos relevante (formato da pirâmide invertida).
Quando uma entrevista será apresentada em formato pingue-
pongue, obedece a outros critérios de seleção e edição de conteúdo.
Nesse caso, é necessário transcrever a íntegra das declarações do
entrevistado. A seguir, é preciso traduzir a fala para o texto escrito,
o que envolve a supressão de redundâncias, repetições, a extração
de pausas desnecessárias e outras expressões que só têm sentido no
contexto falado ou quando o diálogo se estabelece com o jornalista que
realiza a coleta das informações. Quanto menos adaptado ao formato
escrito for o texto, mais fiel e espontâneo ele será, mas também será
mais ambíguo e de difícil leitura. Cabe ao jornalista realizar o processo
de edição com o olhar atento às particularidades de um texto escrito,
sua fluência, clareza, coerência e coesão textual (PEREIRA JUNIOR,
2010; COIMBRA, 1993; ALTMAN; LOREDANO, 2004).
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Ao produzir o texto final de uma entrevista em formato pingue-
pongue, o jornalista precisa compreender o universo cognitivo do seu
leitor. Precisa colocar-se no lugar de quem recebe o texto, o que Eco
(1994) chama de “o leitor ideal”. O leitor não é ideal porque existe,
mas porque pertence ao mundo das ideias, é projetado pelo escritor
em busca de uma certa materialidade, de uma certa referência. O
leitor ideal do jornalista é, por um lado, nunca ouviu falar sobre o
entrevistado ou sobre o assunto de que ele trata e, portanto, precisa
receber mais detalhes e uma necessária contextualização a respeito do
conteúdo; e também, por outro, quem tem conhecimento aprofundado
sobre o entrevistado e razoável background sobre a temática central do
que se apresenta no texto acabado.
Dessa forma, a entrevista em formato pingue-pongue tem
algumas características estruturais e conceituais (LAGE, 2001;
SILVA, 2009) que precisam ser levadas em consideração: a) antes da
apresentação das perguntas e respostas e sequência, é preciso produzir
um breve texto de apresentação sobre o entrevistado, situando-o
no universo do interesse jornalístico e demarcando os motivos da
publicação da entrevista; b) a edição deve privilegiar o formato escrito
e o ritmo de leitura do público leitor; c) são permitidas intervenções
pós-entrevista, como a alteração da ordem das respostas e a divisão
de respostas muito longas em duas ou três em sequência; d) também
é facultado ao jornalista a supressão de determinadas respostas que
não fiquem claras ou que não contribuam com o conteúdo trabalhado
durante o texto; e) a expressão final da entrevista precisa agregar certo
valor cognitivo ao público-alvo.
Considerações finais
Os procedimentos técnicos da produção e realização de
entrevistas jornalísticas são a base do conhecimento adquirido
durante o curso superior em Jornalismo da Universidade Regional
de Blumenau (FURB). O conhecimento articulado por meio dos eixos
fundamentais preconizados pelas Diretrizes Nacionais Curriculares
(DCNs) para o ensino de Jornalismo no Brasil é evidenciado em diversos
componentes curriculares do curso da FURB. De forma proposital, as
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habilidades e competências necessárias ao exercício profissional estão
imbricadas aos conteúdos programáticos nas oito fases da matriz
curricular. A realização de entrevistas é um método presente nas
mais diversas disciplinas dos eixos de fundamentação humanística,
de fundamentação processual, de fundamentação específica, de
fundamentação contextual, de fundamentação profissional e de
fundamentação laboratorial.
No primeiro semestre letivo do ano de 2021, os sete alunos
matriculados na disciplina de Laboratório de Entrevista no Jornalismo
produziram 14 entrevistas com professores pesquisadores que são
referência em suas áreas de atuação. Participaram ativamente do
processo de realização do Projeto Cognitum, na discussão e
elaboração das pautas para as entrevistas, dos roteiros de perguntas,
da entrevista em si e na adaptação aos diferentes formatos em que o
conteúdo se apresenta.
O projeto, de caráter evidentemente pedagógico, reuniu um
conjunto de habilidades e competências jornalísticas demandadas
durante sua execução. Foi necessário articular saberes nas mais
diferentes áreas do jornalismo, por meio de práticas laboratoriais e
de reuniões de planejamento e produção de conteúdo informativo.
A participação dos laboratórios específicos do Departamento de
Comunicação da Universidade Regional de Blumenau foi determinante
na execução do projeto, cujo acompanhamento dos professores
garantiu a unidade e a identidade dos produtos, sem esquecer o caráter
formativo aos alunos envolvidos no ensino-aprendizagem.
O Projeto Cognitum é uma evidência inquestionável de que
a Universidade, como polo irradiador de conhecimento por meio da
pesquisa, do ensino, da extensão e da inovação, interfere positivamente
na realidade social da região em que está inserida. Além disso, promove
articulações teórico-metodológicas que estabelecem a práxis de forma
orgânica e espontânea, no que diz respeito ao sistema de aprendizagem
coletiva por meio de práticas conectadas com a realidade profissional
sem diminuir a importância do conhecimento científico.
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Referências Bibliográficas
ALTMAN, F.; LOREDANO, C. A arte da entrevista. 2. ed. São Paulo: Boitempo,
2004. 478 p, il.
ECO, U. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994. 158 p, il.
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Formação e Desenvolvimento da
Pesquisa Científica na FURB
Dr M. Mattedi
Dra F. Zucco
Dr S. Galarça
1 - Introdução
Pesquisar cientificamente é fazer muitas coisas de forma
simultânea (Figura 1). Afinal, a pesquisa científica constitui, ao mesmo
tempo, um processo burocrático porque a ciência é uma instituição
altamente regulamentada; a pesquisa científica é também um processo
político, pois a produção do conhecimento científico implica a mediação
de muitos interesses; além disso, a pesquisa científica compreende um
processo social que envolve o esforço colaborativo de muitas pessoas;
a pesquisa científica é localizada espacialmente, já que a ciência
possui territorialidade muito bem localizadas; a pesquisa cientifica
é um processo econômico pois é a base da inovação tecnológica; a
pesquisa científica é também um processo cognitivo, já que gera novos
conhecimentos; a pesquisa científica é uma atividade literária porque
os cientistas passam a maior parte do tempo lendo e escrevendo.
Portanto, ser pesquisador envolve do domínio de habilidades muito
diferentes (MATTEDI, SPIESS, 2020).
Isto significa, inversamente, que a atividade científica pode ser
abordada sob muitos aspectos diferentes. Do ponto de vista da gestão
científica, considerando os processos de avaliação e produtividade;
pode ser examinada por meio das relações de poder na comunidade
científica através da ciência política; além disso, a atividade científica
pode ser examinada através da abordagem sociológica e considerando
as relações que a ciência mantém com o contexto social; já considerando
sua territorialidade é possível também efetuar uma geografia da ciência,
mostrando a expressões espaciais da produção científica; acoplada à
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atividade científica encontra-se também a reflexão epistemológica
sobre a possibilidade e validade do conhecimento científico; nos
últimos anos se formou e disseminou também o que ficou conhecido
como Science Studies, que tematizam os processos sociais da atividade
científica (MATTEDI, 2017). É por isto, portanto, que recentemente
alguns especialistas no desenvolvimento científico propuseram a
criação de uma ciência da ciência.
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científica implica, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre o domínio de
pesquisa, mas também uma reflexão sobre as condições de pesquisa.
Este processo indica que o entendimento da atividade científica e seu
produto, o conhecimento científico, pressupõe a consideração não
somente do Problema da Demarcação (separação entre ciência e não-
ciência), mas também o Problema da Institucionalização (separação
entre comunidade científica e sociedade).
Atualmente, a preocupação com a atividade científica é ainda
mais importante porque a universidade em geral e a ciência em
particular encontram-se sob ataque. Este ataque, pode-se dizer, que
é bifronte na medida em que vem de dentro e de fora da comunidade
científica: a) Ataque Externo: caracteriza-se pelo questionamento
da validade do conhecimento científico (KAUFMAN, KAUFMAN,
2019; PIGLIUCCI, BOUDRY, 2013); b) Ataque Interno: a interdição
do direito de divergir pelo constrangimento da liberdade de cátedra
(TOSI, WARMKE, 2020). O efeito combinado destes dois fenômenos
vem comprometendo o desenvolvimento da pesquisa científica.
Afinal, a desorganização social do ceticismo acabou favorecendo o
surgimento do Sociologismo. O Sociologismo compreende a conversão
da crítica sociológica da atividade científica numa ideologia que nega
a validade da ciência. Afinal, compreende uma espécie de Raciocínio
Motivado (KUNDA, 1990). Ou seja, o Sociologismo constitui uma
contextualização social que questiona seletivamente os fatos científicos
segundo a conveniência política.
É neste contexto cognitivo e político que o desenvolvimento da
pesquisa científica na Universidade Regional de Blumenau (FURB)
se torna relevante analiticamente (SHMITT, D. J, 2016). A FURB
constitui uma fundação municipal pública fundada em 1964 pela
comunidade regional. Conta com aproximadamente dez mil alunos
distribuídos em cursos de graduação e pós-graduação. O processo de
institucionalização das atividades de pesquisa na FURB inicia em 1972
com a criação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPTB). A partir
dos anos 2000 a pesquisa cientifica foi progressivamente hospedada
nos programas de pós-graduação acompanhando a tendência
nacional. Neste sentido, verifica-se que o desenvolvimento da pesquisa
científica na FURB se estabelece numa tensão entre a necessidade
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de resposta às questões territoriais locais e, ao mesmo tempo, a
necessidade integração a comunidade científica nacional. Portanto, o
desenvolvimento da pesquisa na FURB informa não somente sobre
as relações universidade-comunidade, mas também sobre as relações
centro-periferia na comunidade científica.
A necessidade de aproximação contextual e integração
acadêmica se materializa na trajetória dos pesquisadores entrevistados.
Cada pesquisador à sua própria maneira indica os desafios cognitivos
e institucionais e, inversamente, a adoção de estratégias para superar
os impasses. Neste sentido, revela-se um duplo movimento: a)
Reconhecimento social regional: a necessidade de responder aos
problemas de desenvolvimento locais; b) a Credibilidade científica
internacional: validação das descobertas científicas na comunidade
científica. Isto significa que não basta somente produzir dados,
interpretá-los e publicá-los, mas é preciso também intervir no contexto
social. Neste sentido, argumentamos que a especificidade institucional
da FURB torna o ciclo de produção do conhecimento (CALLON et. al,
1995) mais instável. Em outras palavras, seu processo de formação
e desenvolvimento favorece a criação de novas ideias, porém impede
seu desenvolvimento. Ou seja, enquanto coletividade exprime a
diversidade de papéis do cientista, bem como a estrutura dos domínios
de pesquisa.
Esta trajetória não é uma propriedade exclusiva dos
pesquisadores da FURB, mas o efeito emergente que estrutura a
pesquisa científica. Afinal, a atividade científica possui uma organização
local, porém uma avaliação global: enquanto a pesquisa está organizada
em universidades, o reconhecimento passa por revistas e associações.
Portanto, nossa hipótese sobre o desenvolvimento da pesquisa na FURB
é que a criatividade para o desenvolvimento científico é condicionada
pela necessidade de formação profissional dos alunos. Para desenvolver
este argumento, o texto está divido em quatro partes principais: 1)
Inicia-se com esta breve contextualização dos desafios cognitivos e
normativos do desenvolvimento da pesquisa; 2) examina as principais
estratégias de abordagem da relações entre contexto social e atividade
científica para construção do modelo de análise; 3) aplica o modelo
de análise ao processo de formação e desenvolvimento das atividades
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de pesquisa científica na FURB; 4) termina com apresentação das
principais constatações e desafios da pesquisa.
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emergente produzido pelas Disposições Subjetivas dos indivíduos
(dimensão simbólica) e Possibilidades Objetivas (estruturas
materiais) (BOURDIEU, 1980; HABERMAS, 1987; GIDDENS, 1989).
Compreende, assim, uma pré-condição da ação individual e significa que
toda ação social ocorre dentro de uma estrutura (material e simbólica)
pré-existente. Caracteriza-se pela interpenetração de três fenômenos
que se encontram socialmente relacionados: a) Burocratização; b)
Mercantilização; c) Individualização. Embora essas regras condicionem
simbólica e materialmente a ação individual, elas não são permanentes,
pois são sustentadas e modificadas pela própria ação. Fornecem as
condições necessárias para ação e os significados atribuídos às pessoas
de um determinado grupo às coisas e acontecimentos. Constituem,
neste sentido, um conceito condicional que permite situar socialmente
a ação dos indivíduos.
Já a Atividade Científica diz respeito ao conjunto de práticas que
tornam possível a produção do conhecimento científico. Estas práticas
envolvem um amplo conjunto de operações de produção e circulação
de enunciados: transformações de enunciados observacionais sobre
o mundo, e enunciados observacionais em enunciados teóricos com
enunciados pré-existentes (CALLON, 1989). As atividades científicas,
então, são constituídas por componentes que se caracterizam por
vários componentes da prática científica. Entre eles destacam-se,
por exemplo, o conjunto de operações do dia a dia que definem e
circunscrevem o objeto de pesquisa; mas também os procedimentos
e técnicas utilizadas na definição de uma área de investigação e sua
tentativa de resolução; além disso, a ideia de quais são as explicações
validade e os modelos explicativos apropriadas; é preciso considerar
também que a prática de pesquisa delineia a área de preocupação
imediata; e, por último, os valores e crenças que o definem como
‘científico’ e legitimam a atividade (Whitley, 2000).
A relação entre Contexto Social e Atividade Científica pode
ser representada por meio da aplicação do conceito de simetria. O
conceito de simetria indica a divisão na qual as partes do elemento
divido são iguais. Sendo assim, a aplicação do conceito de simetria
permite detectar as semelhanças e diferenças que se estabelecem entre
Contexto Social e Atividade Científica. Considerando estas relações
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podemos identificar três tipos de mediação entre o Contexto Social e
a Atividade Científica. Consequentemente, podemos estabelecer três
hipóteses de trabalho para análise do desenvolvimento da pesquisa
na FURB: a) Simetria Parcial: a atividade científica é autônoma com
relação ao contexto social; b) Simetria Integral: a atividade científica é
condicionada pelo contexto social; c) Simetria Generalizada: a atividade
cientifica condiciona o contexto social. Ou seja, o processo de formação
e desenvolvimento da pesquisa na FURB a partido da consideração da
trajetória de seus pesquisadores pode se interpretada de três formas
distintas de abordagem:
a) O paradigma dos produtores: O Paradigma dos
Produtores deriva da abordagem institucional da atividade científica.
Foi desenvolvida a partir da consideração da ciência enquanto uma
instituição social. Neste sentido, focaliza o comportamento dos
cientistas enquanto um grupo profissional específico. Neste tipo de
abordagem, a pesquisa cientifica é considerada como uma profissão.
Uma profissão para ser autônoma necessita de organização interna e
de membros motivados a reconhecer a validade das normas (VICNK,
2007). Ou seja, trata das características da atividade científica
enquanto em grupo profissional específico. Este enforque envolve
tanto a consideração da atividade científica visando determinar qual é o
papel do cientista na sociedade, quanto qual é o padrão de organização
interna da comunidade científica. É possível diferenciar duas linhas
de desenvolvimento predominantes: a) Escola de Columbia: foco na
estrutura normativa da ciência (MERTON, 1977; SZTOMPKA, 1986)
b) Escola da Filadélfia: foco da estrutura avaliativa da ciência (PRICE,
1963).
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Por um lado, investiga-se a estrutura normativa da comunidade
científica para determinar quais são as funções sociais dos cientistas.
Mais precisamente, como o conjunto de normas que regulam
o comportamento dos cientistas garantem o fornecimento de
conhecimentos certificados para a sociedade. Desta forma, a função
de cientista se institucionaliza socialmente garantindo a produção
contínua de conhecimento científico. De uma atividade autodidata e
isolada a pesquisa científica se transforma numa atividade reconhecida
e coletiva. Dito de outra forma, uma espera de atividade social e
cognitiva diferente das outras formas de atividade e crenças (Merton,
1970). Porém, para garantir a autonomia da comunidade com relação
a sociedade pressupõe-se a neutralidade dos cientistas. Para isso, os
cientistas constroem mecanismos de regulação e se apresentam para
a sociedade como uma comunidade regida por regras e controles
internos, e por isso reivindicam reconhecimento social, apoio e
autonomia institucional.
Por outro, concentra- se sobre o trabalho científico e o sistema de
recompensa da ciência (reward system of Science). Parte do pressuposto
que, apesar da integração normativa (igualdade normativa), existe uma
hierarquia entre os cientistas (desigualdade social). Em efeito, este
padrão de análise se concentra sobre o como o sistema de recompensas
estabelece uma forma de hierarquização com base na troca entre
originalidade da descoberta científica e reconhecimento institucional.
Baseia-se, neste sentido, num modelo de relacionamento transacional:
quanto mais original a descoberta científica, maior o reconhecimento
(HAGSTROM, 1965). Isto significa que as posições profissionais se
estratificam segundo a qualidade das publicações dos cientistas em
termos das frequências de citações e o prestígio das revistas onde os
artigos são publicados (BELLIS, 2009). Neste sentido, verifica-se um
deslocamento da questão do conhecimento para a questão da avaliação
da atividade científica em geral e a centralidade do artigo científico em
particular (BIAGIOLI, LIPPMAN, 2020).
Verifica-se, assim, que no Paradigma dos Produtores o
contexto social é operacionalizado para explicar a pesquisa de forma
organizacional. Assim, neste tipo de abordagem, a questão central
do desenvolvimento da atividade científica na FURB é saber como se
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estabelece a integração dos cientistas na comunidade científica e qual
o padrão de reconhecimento. Ou seja, como se materializa a estrutura
normativa da ciência na FURB e como se posicionam os cientistas na
comunidade científica. Neste sentido, o desenvolvimento da pesquisa
na FURB parece obedecer a Lei de Lotka (URBIZAGASTEGUI , 2008).
A Lei de Lotka indica a existência de uma pequena minoria integrada
nacional e internacionalmente, e de uma grande maioria que se
caracteriza por uma produção local. Neste caso, parece que o padrão de
organização da comunidade científica condiciona a atividade científica.
Trata-se, assim, de determinar quais são os mecanismos por meio dos
quais a atividade científica se autonomiza na FURB e quais são as
condições por meio das quais se estabelecem a diferenciação social.
b) O paradigma do produto: Uma segunda forma de abordar
a pesquisa científica na FURB é considerar a prática científica. A
consideração da prática científica desloca o foco da mediação normativa
da interação dos cientistas para a questão do produto da atividade
científica. O pressuposto básico desta forma de abordagem considera
que as características do conhecimento, suas formas de aquisição,
conversões e aplicações dependem de relações sociais. Os domínios de
pesquisa não são escolhidos ao acaso, mas em função de sua relevância
social (STEINER, BERNAL, 1989). A influência social e econômica
difusa desencadeia uma convergência da atenção do cientista para
determinadas temática (BARNES, 1985). Isto significa que a condição
de classe e os interesses ideológicos condicionam não somente a
escolha dos objetos, mas também seu tratamento e, consequentemente,
o próprio conhecimento científico. Em outras palavras, estabelece a
existência de uma relação funcional entre os papéis sociais exercidos
pelo cientista e o tipo de conhecimento produzido.
Ou seja, o foco se desloca para as influências do contexto social
no conhecimento científico. Pressupõe-se, assim, que o conhecimento
científico é condicionado por fatores sociais. Isto é, pressupõe que os
fatos científicos estão impregnados de convenções sociais. O que está
em jogo é a neutralidade e a objetividade do cientista, e desta forma a
própria validade do conhecimento científico (COLLINS, 1992). Afinal,
o desenvolvimento da atividade científica é guiado por um conjunto de
regras tácitas que evoluem progressivamente com a transformação da
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sociedade. Logo, a forma de realizar a atividade científica em geral e o
método científico em particular dependem de um acordo social sobre
os modos de aplicação. É por isto que existe flexibilidade interpretativa
das constatações científica. Afinal, dificilmente os fatos conduzem
diretamente a verificação ou refutação de uma hipótese de pesquisa.
Mas, ao contrário, implicam diversos processos de relação com o
conhecimento existente. Consequentemente, implicam o entendimento
das situações locais de produção do conhecimento.
23
como válidas. Ou seja, a validade de uma constatação científica depende
da sua articulação aos elementos precedentes. Isso pressupõe ligar este
sistema de convenções aos interesses do grupo.
Conclui-se que o Paradigma do Produto rompe com o
pressuposto da separação entre o Contexto Social e a Atividade
Científica. Isso significa que a confrontação entre teorias científicas
constitui uma confrontação entre grupos sociais com interesses
políticos e cognitivos divergentes. Estes grupos são o resultado, ao
mesmo tempo, da estruturação interna da comunidade científica entre
pesquisadores, mas também da estruturação externa à comunidade
científica. Assim, por um lado, o desenvolvimento de uma pesquisa
pressupõe a consideração das habilidades teóricas e experimentais de
cada pesquisador (socialização acadêmica); mas também, por outro,
está relacionado à posição social do pesquisador (sociolocalização).
As diferenças em geral e as disputas científicas resultariam, assim,
do tecido cognitivo e social que é estabelecido pela trajetória de cada
cientista (BLOOR, 1991). Isso significa que existe uma dependência
causal aos interesses sociais e cognitivos que deixam traços no conteúdo
do conhecimento científico.
Considerando os dois paradigmas conjuntamente, pode-se
se dizer que a pesquisa científica constitui uma disputa constante
por reconhecimento e credibilidade. Esta disputa se estabelece,
simultaneamente, em quatro dimensões principais: a) A luta pela
facticidade das constatações empíricas no laboratório; b) A luta pela
credibilidade das constatações na comunidade científica; c) A luta
pela pertinência das constatações nas agências de financiamento; d)
A luta pela legitimidade social das constatações (Figura 5). Pressupõe,
assim, não a oposição entre autonomia (neutralidade e objetividade)
ou dependência (crenças e ideologia), mas à necessidade de integração
na análise da atividade científica. Indica que é necessário integrar
os fatores sociais aos fatores cognitivos na análise da atividade
científica na FURB. Verifica-se, assim, que para entender os limites e
potencialidades da pesquisa desenvolvida na FURB é preciso articular o
micro nível individual do cientista no laboratório (Atividade Científica)
com o macro nível organizacional (Contexto Social).
24
Figura 5 – Os horizontes da pesquisa científica
25
3 - A institucionalização da atividade científica na FURB
O desenvolvimento das atividades de pesquisa científica na
FURB acompanha o ciclo organizacional (Figura 6). Este processo
constitui, ao mesmo tempo, um motivo de celebração, mas também
de preocupação. Afinal, a formação e desenvolvimento da pesquisa
científica na FURB enceta uma antinomia: quanto maior a consolidação
institucional da Pesquisa na FURB, menor sua capacidade de
interferência no desenvolvimento do Vale do Itajaí. Ou seja, o aumento
do reconhecimento científico da FURB vem acompanhado do declínio
da importância regional. Este processo está relacionado à substituição
do modelo organizacional de pesquisa Integrado Localmente hospedada
nos institutos de pesquisa para um modelo de Competição Nacional nos
programas de pós-graduação. Nesse sentido, considerando a relação
entre Contexto Social e Atividade Científica o processo de formação e
desenvolvimento da pesquisa na FURB pode ser dividido em duas fases
principais: a) Institutos de Pesquisa; 2) Programas de Pós-graduação.
26
3.1 - Institutos de Pesquisa
Os institutos de pesquisa foram órgãos suplementares da
universidade vinculados à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.
O processo de implantação das atividades de pesquisa se estabelece
através da criação do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT)
em 1972. Neste período, como indica a Figura 6, a FURB estava
terminando seu primeiro ciclo de desenvolvimento organizacional e
iniciando o segundo. O quadro docente era formado principalmente
por professores oriundos do ensino médio e por quadros técnicos da
indústria têxtil. Ou seja, a atividade acadêmica constitui uma atividade
parcial ou mesmo complementar, na medida que a dedicação exclusiva
a FURB estava restrita às atividades administrativas. Isso indica que
o desenvolvimento da pesquisa na FURB em geral e a criação do IPT
constitui o primeiro mecanismo de profissionalização da atividade
acadêmica (SILVA, 2003). Além disso, observando-se o ciclo de
desenvolvimento organizacional da FURB na Figura 6, verifica-se
também que a pesquisa nasce antes da criação da universidade em
1986.
a) Instituto de Pesquisa Tecnológicas: A criação do IPT
emula o modelo de pesquisa desenvolvimento do Instituo de Pesquisa
Tecnológica da USP. O objetivo era atender, principalmente, às
crescentes demandas de testes para as indústrias da região. Com a
expansão da área técnica, os pesquisadores visualizam a possibilidade
de prestação de serviço para a sociedade mediante a utilização da
infraestrutura laboratorial existente. Por isso, o IPT iniciou suas
atividades desenvolvendo análises químicas como a de calcário, argila,
fécula, metais, produtos orgânicos, identificação de minerais e produtos
químicos inorgânicos. Isso aconteceu porque o curso de Química foi o
primeiro a vincular suas atividades ao IPT. Com o passar do tempo,
durante os anos 80, passou também a desenvolver atividades nas áreas
de materiais, solos, estruturas, emissões, elétrica, entre outas. No
final da década de 90, passou a denominar-se Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de Blumenau (IPTB). Neste sentido, o IPTB-FURB
consolidou sua posição como referência no Estado de Santa Catarina
para a realização de ensaios laboratoriais.
27
b) Instituto de Pesquisa Sociais: Já Instituto de Pesquisa
Sociais (IPS) foi criado em 1984 como centro de referência na pesquisa
social. Por um lado, constitui a tentativa de estender para a dimensão
econômica e social o case de sucesso do ITP; mas também, por outro,
garantir estabilidade acadêmica para um conjunto de professores da
área de Ciências Sociais Aplicadas e de Humanas. Tinha o objetivo
de investigar sobre a realidade política e socioeconômica do Vale do
Itajaí. Entre os principais projetos desenvolvidos no IPS destacam-
se o projeto de Política Urbana e Patrimônio Arquitetônico, o cálculo
mensal de Índice de Variação Geral de Preços de Blumenau (IVGP), a
Incubadora Tecnológica de Iniciativas Populares (ITCP), o Programa
Interdisciplinar de Sociometria, além do PROTEUS. Uma característica
importante é que o IPS reunia pesquisadores de diversos departamentos
e com expertises multidisciplinares como, por exemplo, Arquitetura,
Economia, Sociologia, História, entre outras. Portanto, pode-se dizer
que o IPS constitui um spin off organizacional do IPT.
c) Instituto de Pesquisa Ambientais: Posteriormente,
esse modelo de organização da pesquisa foi estendido para as questões
ambientais com a criação do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA)
em 1995. O IPA constitui o efeito emergente da criação do Projeto Crise
em 1983. Nesse sentido, integra organizacionalmente a problemática
da gestão dos desastres com a problemática da questão ambiental no
Vale do Itajaí. O propósito era deixar a população informada sobre
as condições do tempo e quanto à previsão dos níveis do rio Itajaí-
Açu. Mais tarde originou o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA)
em 1995 com a missão de produzir projetos sobre desenvolvimento
sustentável e o meio ambiente, tendo como foco operacional a gestão
ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí. Neste sentido, fica clara
a relação entre a expertise acumulada institucionalmente na FURB
e as demandas da comunidade regional. Como foi o último instituto
a ser criado, concentra-se não somente na prestação dos serviços de
pesquisa, mas também na geração de conhecimento e disseminação de
informação.
Nesse sentido, a atividade de pesquisa em geral e a pesquisa
científica é concebida como uma forma de resolver problemas (Figura
7). Por um lado, os institutos eram formados por pesquisadores que
28
possuíam expertises técnicas e compromissos normativos muito
variados; por outro, a criação dos institutos atendeu também as
demandas provenientes da comunidade regional. Ou seja, a criação dos
institutos de pesquisa na FURB visava a resolver problemas relacionados
ao padrão predominante de desenvolvimento socioeconômico regional.
Nesse sentido, destacam-se três eixos principais: a) os problemas
relacionados à inovação tecnológica e ligados ao IPT; b) os problemas
ligados às dimensões históricas e sociais ligadas ao IPS; c) as questões
relacionadas aos problemas ambientais do IPA. Uma característica
marcante das atividades de pesquisa desenvolvidas nos institutos
constitui e constituía o caráter multidisciplinar das esquipes. Além
disso, os institutos constituam também um espaço de formação técnica
e profissional para muitos estudantes.
29
As diferenças de concepção e implantação dos institutos
acabaram criando diferenças organizacionais. De um lado, o IPT, cuja
formatação é claramente voltada para o mercado, e cuja estratégia é
busca de maior autonomia universitária; de outro, o IPS e o IPA, que
se opõem à ideia de autonomia, na medida em que não teriam as
mesmas condições de captação de recursos. Assim, considerando a
dinâmica de desenvolvimento de modelo organizacional de pesquisa,
verifica-se o surgimento de novas vertentes de interesses. Com isso, os
institutos foram progressivamente alargando relações com a sociedade
e internamente procuraram novos departamentos/profissionais para
encontrarem as soluções. Porém, em 2010, esse modelo de prestação de
serviços foi reestruturado. Por um lado, a prestação de serviços existente
foi transferida para o Instituo FURB; por outro, os equipamentos foram
alocados para os departamentos. O grande diferencial dos institutos
foi sua capacidade de identificação de problemas e apresentação de
soluções a partir de informações obtidas e tratadas localmente.
30
O Contexto Social fixa um conjunto de Recursos e Regras
que foram combinadas regionalmente para possibilitar a criação e a
implantação da pós-graduação na FURB. Mais precisamente, como
as relações entre as mudanças institucionais e as normas afetaram as
decisões. Pressupõem, assim, a consideração dos fatores conjunturais
que condicionaram as necessidades políticas, técnicas e normativas para
o processo de realização das atividades de pesquisa. Compreendem,
desta forma, uma estrutura de oportunidade que permitiu o
alinhamento interno e externo à FURB. Precisam ser consistentes com
o contexto político, econômico e social para encorajar os professores da
FURB a conceberem e implantarem a pós-graduação. Nesse sentido, o
processo de formação e desenvolvimento da pesquisa científica na pós-
graduação na FURB constitui o efeito emergente de três fenômenos que
se encontram relacionados (Figura 8): a) A restruturação produtiva do
Vale do Itajaí; b) A verticalização acadêmica da FURB; c) O padrão de
regulação da CAPES.
31
muito heterogêneas como, por exemplo, a formação acadêmica e
o desenvolvimento de pesquisa. Neste sentido, mobiliza, reúne e
alinha ativamente tanto elementos cognitivos e normativos, quanto
institucionais e tecnológicos. Afinal, entram recursos, informações,
documentos, instrumentos, competências, e saem comunicação,
inovação e reputação. Assim, uma dissertação de mestrado ou uma
tese de doutorado constitui o resultado da estabilização de uma rede
sociotécnica muito ampla. Afinal, como indica a Figura 5, a concepção
e o desenvolvimento de pesquisa cientifica implica muitas habilidades.
Ao mesmo tempo, os programas de pós-graduação podem ser descritos
como unidades cognitivas de produção. Por isso, os programas de pós-
graduação convertem problemas locais em soluções globais, e aplicam
soluções globais a problemas locais.
Considerando esses fatores, o desenvolvimento da pesquisa nos
programas de pós-graduação da FURB cumpre duas funções principais.
Por um lado, a pós-graduação confere títulos acadêmicos. Nesse sentido,
constitui uma forma de qualificação profissional. Afinal, o treinamento
de pós-graduação pode ser visto como uma forma de aprendizado
estabelecido por uma guilda (Vinck, 2007). Por outro, um programa de
pós-graduação constitui também a produção de novos conhecimentos.
É por isso que os programas de pós-graduação absorvem a maior parte
dos orçamentos de ciência e tecnologia. Compreendem, desta forma,
o aprofundamento de conhecimentos num domínio de pesquisa que
já está consolidado. Assim, a validação de novos conhecimentos não é
feita apenas com a defesa, mas também com a publicação em veículos de
comunicação científica ou pela obtenção de patentes. Resumidamente,
um programa de pós-graduação pode ser considerando, ao mesmo
tempo, como um centro de produção de:
a) Pós-graduação como Certificação Acadêmica:
A pós-graduação nasce na FURB com a criação do Mestrado em
Educação. A criação do Mestrado em Educação tem como objetivo
principal a qualificação do corpo docente interno. Como no início dos
Anos 90 a FURB se transforma numa instituição de caráter público,
a consequente implantação do Plano de Cargos e Salários passa a
valorizar a qualificação acadêmica na carreira docente. Neste sentido, a
Administração Superior aproveita a disponibilidade de doutores na área
32
e atrai um grupo de doutores de outras instituições para qualificação
do corpo docente. Por isso, no início este programa não foi submetido
a CAPES e seguia apenas os regulamentos do Conselho Estadual de
Educação. Com o passar do tempo, atrai também docentes de outras
instituições, principalmente, do sistema Associação Catarinense de
Fundações Educacionais (ACAFE). Portanto, a pós-graduação nasce
para satisfazer interesses internos e não dentro de uma política de
expansão das atividades pesquisa.
b) Pós-graduação como Produção Cognitiva:
Posteriormente, no final dos anos 90 a atração de novos doutores e
a interiorização da pós-graduação possibilita a expansão da pós-
graduação para outras áreas. Isso ocorre partir da experiência
acumulada com o Mestrado em Educação e o processo de interiorização
das atividades de pós-graduação promovida pela CAPES (Figura 9).
Assim, verifica-se que o desenvolvimento da pós-graduação na FURB
está relacionado a Fase de Expansão da CAPES. Ou seja, a combinação
de fatores internos e externos: por um lado, a melhoria das condições
de trabalho pelo caráter público; por outro, o aumento de recursos
investidos em bolsas e projetos de pesquisa pela CAPES. Além disso,
é preciso destacar também que a procura por pós-graduação na FURB
está relacionada também ao processo de massificação da formação
superior com a expansão da oferta de vagas públicas e privadas.
Portanto, o desenvolvimento das atividades de pesquisa de pós-
graduação na FURB possui características específicas.
33
Nesse sentido, o fator estruturante das atividades de pesquisa
em pós-graduação na FURB é a multidimensionalidade. Esse
processo está relacionado a dois fatores principais: a) Perfil Docente:
devido ao tamanho institucional, é muito difícil reunir uma equipe
de pesquisadores especialistas numa mesma disciplina na FURB; b)
Abrangência Regional: a concorrência com os programas gratuitos
faz com que a pesquisa de pós-graduação da FURB tenha uma escala
regional. Essa, evidentemente, não é uma característica específica da
FURB, porém tem um efeito direto no perfil na produção dos seus
programas de pós-graduação. Por um lado, esse processo dota os
programas de pós-graduação da FURB de uma baixa cumulatividade
interna, com os trabalhos dos pesquisadores não servindo de referência
para os membros da própria equipe; por outro, atrai mestrandos
e doutorandos sem um projeto acadêmico muito bem definido.
Consequentemente, a pós-graduação da FURB ainda não conseguiu
construir uma identidade teórica.
Dessa forma, a relação entre atribuição de títulos e a produção
de fatos científicos é contraditória. Afinal, enquanto o valor do primeiro
depende da escassez (prestígio), o valor do segundo depende da
abundância (aplicação). Isso significa que enquanto o valor prático da
pesquisa aumenta, o valor simbólico do título diminui. Por isso, os efeitos
do crescimento da população da pós-graduação são ambivalentes: a)
Profusão de Conhecimentos: o aumento exponencial do conhecimento
científico; b) Desvalorização da titulação: massificação da atividade de
pós-graduação. Ou seja, como para obter um título os estudantes são
obrigados a produzirem uma pesquisa original: quanto maior o número
de fatos científicos, maior o número de títulos. Assim, a inflação de
fatos científicos desencadeia uma deflação dos títulos acadêmicos.
Portanto, o suprimento de novos fatos científicos contradiz suprimento
de títulos: o efeito combinado deste processo desencadeia, ao mesmo
tempo, o aumento das disputas por recursos e por reconhecimento.
Portanto, a pós-graduação está relacionada ao efeito combinado
do processo de reestruturação produtiva, da mudança institucional da
FURB e das políticas da CAPES. São as necessidades de entender as
mudanças processadas no padrão predominante de desenvolvimento
da região, associadas ao aumento de doutores na FURB e ao processo
34
de interiorização da pós-graduação no Brasil que criam as condições
para o processo de implantação da pós-graduação. Porém, a operação
destes fatores é processualmente contraditória. Afinal, o processo de
implantação da pós-graduação reflete os limites de uma região em
crise, da falta de experiência universitária em pesquisa e a inexistência
de apoio institucional. Por isso, o principal desafio da pesquisa na
FURB constitui romper o processo de isolamento político, cognitivo
e financeiro. Este processo envolve a busca de apoio na sociedade, de
suporte na FURB e acreditação da CAPES. Afinal, para o funcionamento
da pesquisa é preciso atrair alunos, criar suporte organizacional e
receber reconhecimento.
Verifica-se, assim, que a implantação da pós-graduação na
FURB vai progressivamente reduzindo o papel do modelo de pesquisa
dos institutos. Este processo engendra duas transformações profundas:
a) a flexibilidade necessária para pesquisa aplicada dos institutos
não é compatível com o treinamento especializado da pesquisa
básica dos programas de pós-graduação; b) a diferenciação vertical
do processo do processo de pós-graduação se opõe a massificação
horizontal dos institutos. Ou seja, o modelo de institutos baseia-se
num pesquisador generalista e flexível, enquanto os programas de pós-
graduação baseiam-se num pesquisador especializado e rígido. Isso
acontece porque enquanto os institutos funcionavam pela demanda
de pesquisa, os programas de pós-graduação funcionam por oferta
de pesquisa. Assim, enquanto o foco da pesquisa nos institutos era a
resolução de problemas relacionados ao desenvolvimento regional, o
foco da pesquisa na pós-graduação se concentra academicamente na
comunicação científica.
4 – Considerações finais
Embora a pesquisa científica possa ser muitas coisas ao mesmo
tempo, constitui paradoxalmente uma atividade social muito frágil.
A compreensão científica do mundo baseia-se numa série de teorias
e equações que dependem da validade de um conjunto de suposições
fundamentadas. Por um lado, para que ela possa existir é necessário a
existência de condições estáveis entre o Contexto Social e a Atividade
35
Científica. Ou seja, o padrão de Atuação do Cientista depende do
conjunto de Recursos e Regras disponíveis. Por outro, a circulação
de desinformação confere ao público boas razões para questionar
a confiabilidade dos cientistas. Isto significa que a produção do
conhecimento científico depende, ao mesmo tempo, do alinhamento
de dinheiro, tempo, regras e, sobretudo, da confiança num resultado
protelado e, muitas vezes, incerto; mas também dos fatores que afetam
a conduta científica e a confiança nas afirmações comunicadas pela
comunidade científica. Portanto, todas as afirmações científicas são
provisórias e podem ser futuramente alteradas.
Também na FURB a pesquisa científica é muitas coisas ao
mesmo tempo e sua existência é muito instável. Verifica-se, neste
sentido, passagem de um modelo organizacional Integrado Localmente
hospedado nos institutos de pesquisa para um modelo de Competição
Nacional nos programas de pós-graduação. No Modelo Integrado
Localmente o objetivo da pesquisa era fornecer respostas para os
problemas do desenvolvimento regional; já no Modelo Competição
Nacional o foco obtenção da melhor avaliação para a disposição de
recursos e atração dos melhores estudantes. Isso indica que quanto
mais integrada a comunidade científica nacional e internacional mais
estratificada internamente a estrutura de pesquisa na FURB. Isso
acontece porque se migrou da pesquisa aplicada desenvolvida nos
institutos para a pesquisa básica na pós-graduação. Ou seja, a pesquisa
passa a se orientar por Fatores Endógenos (sistema de avaliação),
em detrimentos de Fatores Exógenos (demandas sociais). Diminui,
portanto, a influência do Contexto Social no desenvolvimento da
Pesquisa Científica.
Bibliografia
BARNES, B. About Science. London: Basil Blackwell, 1989.
BELLIS, N. De. Bibiometrics and citation analysis: from the Science Citation
Index to Cybermetrics. Maryland: The Scacrow Press, Inc., 2009.
36
BLOOR, D. Knowledge and social imagery. Chicago: Unviersity of Chicago
Press, 1991.
PRICE, D. Little science, big science. New York: Columbia University, 1963.
37
SCHIMITT, D. G. Em qualquer época uma universidade se faz de pessoas.
Blumenau: EdiFURB, 2016.
38
39
Engenheiro Civil pela Universidade Federal de
Santa Catarina, mestre em recursos hídricos
e saneamento pelo Instituto de Pesquisas
Hidráulicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e doutor em Física e Química
Ambiental pelo Institut National Polytechnique
de Toulouse. Pós-doutorado no Institut de
Mécaniques de Fluides de Toulouse e Cemagref,
na França.
Apresentação
40
Por Maria Luiza de Almeida Kuster
41
Prof. Dr. Adilson Pinheiro
42
Por Maria Luiza de Almeida Kuster
44
Por Maria Luiza de Almeida Kuster
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Prof. Dr. Adilson Pinheiro
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
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Prof. Dr. Adilson Pinheiro
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
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Prof. Dr. Adilson Pinheiro
50
Por Maria Luiza de Almeida Kuster
51
Doutorado em Educação e mestrado em
Política Científica e Tecnológica pela
Universidade Estadual de Campinas, pós-
doutorado em Educação pela Universidade
de São Paulo. Tem experiência nas áreas de
Educação, Epistemologia, Educação Agrária,
Educação Comparada, Educação Profissional e
Tecnológica, Saúde, Desenvolvimento Regional
e Meio Ambiente.
Apresentação
52
Por Gabriela Zimmermann
53
Prof. Dr. Adolfo Ramos Lamar
54
Por Gabriela Zimmermann
56
Por Gabriela Zimmermann
para algumas pessoas. Então temos que entrar nessa questão do uso
da tecnologia, mas penso também que a FURB precisa, quando se tem
oportunidade, de usar o curso presencial.
57
Prof. Dr. Adolfo Ramos Lamar
58
Por Gabriela Zimmermann
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Prof. Dr. Adolfo Ramos Lamar
60
61
Doutor em Direito Público pelo Programa de
Pós-Graduação em Direito da Universidade
do Vale dos Sinos - UNISINOS. Mestre em
Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale
do Itajaí - UNIVALI. Especialista em Direito
Administrativo pela Universidade Regional de
Blumenau - FURB. Professor e pesquisador dos
Programas de Mestrado em Direito (PPGD) e
Administração (PPGAd) da FURB.
Apresentação
62
Por Thiago Gomes
63
Prof. Dr. Alejandro Knaesel Arrabal
64
Por Thiago Gomes
65
Prof. Dr. Alejandro Knaesel Arrabal
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Por Thiago Gomes
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Prof. Dr. Alejandro Knaesel Arrabal
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Por Thiago Gomes
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Prof. Dr. Alejandro Knaesel Arrabal
70
Por Thiago Gomes
71
Doutor em Comunicação, licenciado em Letras,
bacharel em Jornalismo e em Direito, analista
político na mídia regional, professor do
Departamento de Comunicação, do Programa
de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado)
em Desenvolvimento Regional e do Programa
de Pós-Graduação (Mestrado) em Direito da
FURB-Universidade Regional de Blumenau.
Apresentação
72
Por Júlia Bernardes Laurindo
73
Prof. Dr. Clóvis Reis
74
Por Júlia Bernardes Laurindo
fazer parte. E a partir daquele dia, daquela conversa, eu tenho ela muito
vívida na minha lembrança, dos meus colegas que estavam juntos, a
surpresa que aquela fala despertou. E a partir daquele dia eu disse: eu
vou ser professor da instituição. E me dediquei para conseguir chegar
aqui. Tenho muito orgulho da FURB, dessa Universidade da qual eu
faço parte.
75
Prof. Dr. Clóvis Reis
76
Por Júlia Bernardes Laurindo
77
Prof. Dr. Clóvis Reis
78
Por Júlia Bernardes Laurindo
79
Prof. Dr. Clóvis Reis
80
Por Júlia Bernardes Laurindo
81
Prof. Dr. Clóvis Reis
82
Por Júlia Bernardes Laurindo
é muito difícil fazer para quando você não tem motivação. Se você
tem motivação, se você quer fazer, por mais problemas que surjam no
caminho, ao longo da jornada, você vai conseguir superar. Se aquele
tema te instiga, se aquilo te provoca, se aquilo te apaixona de fato, você
vai conseguir fazer e vai fazer bem. Então o meu primeiro conselho,
se fosse dar um conselho para alguém, é que quando fosse pesquisar,
procure pesquisar algo que lhe traz uma motivação profissional,
motivação pessoal, motivação intelectual, porque ela é fundamental
nessa atividade de pesquisa. Uma atividade de pesquisa não é uma
corrida de cem metros, a pesquisa é uma corrida de fundo, é uma meia
maratona, é uma maratona. Então, não adianta você largar muito
bem e passado um mês, dois meses, três meses, não conseguir seguir
adiante. Um processo de mestrado dura dois anos, o processo de
doutoramento dura quatro anos, então você tem que ter fôlego para
conseguir terminar essa maratona. E a motivação, eu acho que é esse
elemento que dá energia para seguir adiante.
Clóvis Reis: Olha, isso já não era fácil, e está ficando cada vez mais difícil,
inclusive, trazer as pessoas para a Universidade. Hoje é um grande
desafio. Mostrar que isso é importante para a sua vida, para o que
ela quer fazer, para sua atuação profissional. Dentro da Universidade
trazer para o mundo da pesquisa dependendo da área de atuação do
professor é algo muitíssimo difícil, porque o estudante não consegue
ainda ver que aquilo pode ser importante para sua formação. Eu acho
que esse é o argumento que a gente tem que trabalhar, mostrar para o
estudante como aquilo vai ajudá-lo a ser um profissional melhor, se ele
para realizar essa atividade.
85
Prof. Dr. Clóvis Reis
com os dados, nós vimos que tinha algo muito maior que precisava ser
compreendido, e que aquilo, de fato era mais importante do que aquela
motivação inicial. Que aquilo permitia, nesse caso, aí a gente começou
a analisar a relação entre violência e desenvolvimento regional, quais
eram os determinantes sociais, de como eles variavam de acordo com
a região, como a violência produzia, e era produzida em algumas
regiões. E foi de fato um trabalho interessante e aquilo que eu falei
no início, às vezes o aluno chega uma inquietação, com uma dúvida,
e você vai crescendo e aprendendo junto com o estudante. A conhecer
esse fenômeno que nós estamos estudando, para mim, foi, sem dúvida,
a tese mais desafiadora que eu já orientei, e que teve uma grande
repercussão. Impressionante como esse trabalho é lido e estudado e
como ele repercute nas plataformas científicas.
88
Por Júlia Bernardes Laurindo
89
Prof. Dr. Clóvis Reis
como é que foi: uma câmera, um celular, todo mundo dentro de casa,
aquele é o cenário e bola para frente, vamos assim. Isso permitiu que a
gente mantivesse a cobertura, foi só uma coisa boa, isso avançou. Nós
podemos, nós sabemos lidar com isso. Isso é bom que porque pode ser
assim. Não fica tão bonito, tem problema de iluminação, cenário, mas,
eu consigo ter um correspondente em tudo quanto é lugar agora, porque
as pessoas se acostumaram, viram que o importante é o conteúdo, é
informação, mais do que aquela estética. Isso na televisão, no rádio,
você pega um programa com participação de muitas pessoas, vinham
todas elas no estúdio, oito pessoas no estúdio, pois você consegue
ter o mesmo programa com uma pessoa no estúdio e as outras sete
em lugares diferentes do mundo. O que a tecnologia permite e essa
tecnologia já estava aí, a gente não usava. E agora com as mudanças que
ocorreram durante a pandemia, a gente passa usar sem preconceito,
incrementando a qualidade dos trabalhos.
90
Por Júlia Bernardes Laurindo
hoje ela não é. Por que isso está ocorrendo? O que que mudou? Acho
que é uma interrogação que precisamos começar a nos fazer. O que é
determinante hoje para um pioneirismo na área da comunicação, que
foi no passado que permitiu que a gente fosse precursor e que hoje a
gente já não tem esse papel que tivemos em outro momento.
92
93
Graduado em Medicina pela UFRGS, mestre
em Saúde Pública (Epidemiologia) pela UFSC e
doutor em Ciências (Medicina Preventiva) pela
FM-USP. Atualmente, é professor do quadro da
Universidade Regional de Blumenau (FURB) e
médico da Prefeitura Municipal de Blumenau.
Apresentação
94
Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
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Prof. Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena
96
Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
Dr. Ernani: O que eu gosto muito de fazer, e que eu tenho feito muito
pouco, é escalar. Eu gosto muito de montanha (risos). O pessoal gosta
muito de mar. O pessoal aqui curte muita praia, né?! Eu, não. Sempre
gostei de montanha. Então, assim, eu, podendo, dou uma fugida para
algum lugar alto, frio, e que seja para acampar, fazer trilha, ou para
escalar, mesmo, a escalada em rocha, assim, faz bastante tempo, agora,
faz muito tempo eu não estou conseguindo fazer, a pandemia me tirou
totalmente da atividade, mas eu curto muito esporte de natureza.
97
Prof. Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena
para vigilância para ajudar nessa análise dos dados, dos números, do
caminhar da pandemia.
98
Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
sim. Porque o Brasil está tão polarizado, com várias coisas, várias
polarizações, que até isso, quer dizer, você tem profissionais médicos
que falam uma coisa, profissionais que falam outra.
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Prof. Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena
100
Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
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Prof. Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena
102
Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
Dr. Ernani: Ah! Ela tem várias dimensões. A primeira delas é que
essa pesquisa trouxe uma coisa pro nosso centro, de você botar um
monte de professores de diversos cursos pra conversar, pra pensar e
pesquisar, o que não era uma tradição de CCS. O CCS é um centro que
não é mais antigo da universidade e sempre teve uma tradição mais
forte no ensino. Alguns professores tinham pesquisas, pontualmente,
nas quais eu me incluía, mas muito pontual. Se você botar todo mundo
de diversas áreas pra se sentar e conversar e dizer vamos pensar e
nos integrar. Essa pesquisa foi um grande ponto de encontro, com
limitações, claro! Outros professores não quiseram participar ou não
puderam, enfim, mas juntou muita gente. A segunda questão é que ela
remete para uma coisa muito importante hoje para as universidades,
que é a internacionalização. Ou seja, não dá mais para você pensar
que se faz ciência ou se faz pesquisa fechada no nosso mundinho,
não é, atendendo, não é, à nossa necessidade só loco-regional. Eu
tenho que pensar aqui na hora que eu estou fazendo pesquisa aqui,
eu tenho que dialogar com quem tá lá fora, eu posso fazer em parceria
com eles, o produto que sai daqui ele pode se internacionalizar e vice-
versa, eles podem nos trazer coisas. Essa pesquisa traz uma dimensão
que é bastante importante para a nossa universidade e para o nosso
centro, pelo fato de ter então um convênio, ter toda uma estrutura ter
possibilidade. Já mandamos até aluno da graduação fazer estágio lá.
Fez estágio lá, quando eu estava, fui fazer um pós-doutorado e uma ex-
aluna foi lá também fazer estágio na graduação. Então abriu algumas
portas nesse sentido. E por outro lado que é uma coisa também muito
desafiadora, que é o relacionamento com a comunidade, não é? Acho
que, assim: a universidade ela tem que devolver para o médio-vale,
não só para Blumenau, mas para o médio-vale, uma produção do seu
conhecimento. A gente teve a possibilidade, com o apoio de todos os
prefeitos que passarem em Pomerode desde o início do projeto que
a gente começou a pensar a pesquisa em 2011, todos eles apoiaram,
incondicionalmente, colocando o material, infraestrutura, pessoal da
prefeitura. Eles têm sido extremamente parceiros em relação a isso.
E, é claro, não posso deixar de falar que para a universidade tem sido
também muito desafiador. Como eu já trabalho com pesquisa em um
número muito grande de pessoas, falei para a galera: olha, nós estamos
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Prof. Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena
Dr. Ernani: Nós já estamos com muito trabalho (risos). Seria legal
ter. A grande ligação que a gente teve e o estímulo para fazer é que
aqui tinha uma questão Pomerana, que é uma coisa muito diferente.
Dá pra gente fazer em Blumenau? Talvez desse, mas, de novo: o que
nós vamos trazer de novidade? O que vai ser de importante? Qual a
diferença de conteúdo, de resultados, do que se espera em Blumenau
diferente, por exemplo, em Pomerode? Então, porque, de novo, é
muito dinheiro! Quando eu falo, é porque eu estou falando de muito
dinheiro, são milhões. Tem que ter um aporte que valha a pena. Já
discutimos, sondamos, pensamos sobre essa ideia e atualmente nós
estamos investindo em continuar o estudo em Pomerode. Então,
queremos, ano que vem, voltar e reexaminar todo mundo, que é o
Estudo de Seguimento que a gente fala. Estão investindo nisso, até
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Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
porque dinheiro para pesquisa está muito curto. Pra tudo está curto.
Na pesquisa está mais curto, ainda.
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Prof. Dr. Ernani Tiaraju de Santa Helena
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Por Natiele de Oliveira Vanderlinde
certo. Nós estamos fazendo a coisa certa. Pelo menos, na minha área,
estamos fazendo a coisa certa!
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Doutor em Engenharia Mecânica pela
Universidade Federal de Santa Catarina.
Pós-doutorado em administração e professor
visitante na California State University, EUA.
Professor visitante em 2012 e Pós-doutorado em
administração na Halmstad University, Suécia.
Professor titular da Universidade Regional de
Blumenau (FURB) desde 1995.
Apresentação
115
Prof. Dr. Gérson Tontini
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Prof. Dr. Gérson Tontini
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Por Giulia Godri Machado
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Por Giulia Godri Machado
níveis de maturidade, tem alguns modelos que são três níveis, tem
alguns que são cinco níveis. Por exemplo, no nível um é informal, as
atividades são informais, não existe uma gestão estruturada. No nível
três é estruturado, é formalizado, e no nível 5, que seria o máximo, ele
é formalizado, estruturado e é gerenciado e melhorado continuamente.
Então a maneira como você organiza isso em diferentes áreas dentro da
empresa ou diferentes tópicos, como é que você organiza e gerencia a
empresa são os modelos de maturidade de maneira geral. Trabalhamos
muito forte na gestão hospitalar e na gestão de manufatura.
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Prof. Dr. Gérson Tontini
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Por Giulia Godri Machado
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Prof. Dr. Gérson Tontini
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Por Giulia Godri Machado
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Graduado em Engenharia Química pela FURB,
possui mestrado e doutorado em Eng. Química
pela UNICAMP. É professor do Departamento
de Eng. Química (FURB) e atua como membro
permanente do Programa de Mestrado em Eng.
Química (FURB), e colabora com os programas
de mestrado e doutorado da UNICAMP e da
UFSC.
Apresentação
126
Por Maria Luiza de Almeida Kuster
Eu cheguei uma época, para você ter uma ideia, eu trabalho com
turbulência em fluídos e turbulência é um fenômeno difícil, por assim
dizer. Até a Física Teórica hoje tem dificuldade explicar muito bem a
turbulência. Tem até uma piada de um pesquisador que eu li uma vez
em um artigo ele diz o seguinte: Deus criou os céus e a Terra e quando
ele terminou a obra da criação, ele se sentou embaixo de uma árvore e
ficou contemplando a natureza que recém tinha criado e aí ele começou
a ver uma cachoeira e o movimento que o fluido tinha na cachoeira
que era um movimento extremamente caótico, complicado. Era a
turbulência que ele havia criado. Então, ele olhou aquilo e viu toda
aquela complexidade, aquele caos e aí ele teve a inspiração suficiente
para criar também o diabo.
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Prof. Dr. Henry França Meier
ocasião. Tivemos uma filha muito cedo e hoje nós temos duas filhas
e estamos casados há 34 anos. Temos essas duas filhas, uma delas
seguiu um pouco o exemplo do pai, ela fez Biologia, depois ela acabou
fazendo mestrado em Engenharia Florestal e começou a trabalhar na
área florestal. E pasme, ela resolveu mudar completamente de área
e hoje ela faz medicina em Buenos Aires, na universidade de Buenos
Aires. Está fazendo medicina lá e está adorando, se encontrou, achou
a carreira que ela procurou e eu nunca interferi nisso também, sempre
estimulei ela a estudar e agora ela está estudando cada vez mais na área
da medicina. Está no seu segundo ano lá em Buenos Aires.
O esporte para mim é uma coisa necessária, eu estou dizendo isso e estou
bastante preocupado, porque com a pandemia eu dei uma segurada
com relação a isso, até voo livre eu fiz, curso de parapente, eu sempre
gostei disso. Mas a nos últimos tempos o que tem mais me atraído são
as caminhadas, então eu costumo caminhar, fazer caminhadas longas,
trilhas longas, claro que comecei fazendo trilhas pequenas e depois
quando eu vi eu estava caminhando o dia inteiro. Por exemplo, eu saía
daqui de Blumenau e até e fui até Pomerode e voltava. Minha esposa é
uma companheira que me acompanha nessas atividades.
muito nisso. Ele começou a trazer coisas que não tinha aqui no Brasil
e eu acabei tendo essa sorte. O professor Milton teve uma carreira
meteórica na UNICAMP e no Brasil também. Ele foi diretor da faculdade
por diversas vezes, foi presidente da Fundação de Desenvolvimento
da Unicamp (FUNCAMP). Ele é uma pessoa que conhecida no Brasil
inteiro pela sua capacidade de articulação na questão de desenvolver a
pesquisa, eu aprendi muito com isso.
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Prof. Dr. Henry França Meier
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
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que citei foi o projeto que veio a coroar todo esse trabalho. A gente
acreditou e está aí a prova, o que tem um pouco de relação com o que
falei lá no começo que eu não tenho medo assumir um compromisso,
poderia ter dado errado, mas eu fui lá e fiz.
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Prof. Dr. Henry França Meier
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
CNPq que tem esses programas. Eu acho que esse era do CNPq acho
que era o pró-equipamentos, se não me falha a memória. São recursos
que o governo federal libera para as universidades que elaboram um
projeto identificando quais são os equipamentos que cada programa de
pós-graduação precisa para alavancar suas pesquisas. Cada programa
faz uma proposta de preferência que seja até multiusuário, que mais do
que um programa possa usar o mesmo equipamento e com isso a gente
submete por um edital público, e o projeto pode ser aprovado ou não.
Nesse caso foi aprovado e a partir disso a gente compra equipamentos
de grande porte que tem um custo muito elevado. Normalmente são
equipamentos importados e tem todo um processo de importação.
Isso repercute em todos os programas de pós-graduação, sempre
tentamos encontrar um equipamento que mais do que um grupo de
pesquisa possa utilizar. Infelizmente, esses programas a partir de
2018 começaram a minguar e hoje praticamente não temos mais esses
editais disponíveis, os recursos para a pesquisa no país estão escassos
e isso também tem um pouco de relação com esse descrédito pela qual
a ciência está passando no Brasil.
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Prof. Dr. Henry França Meier
Eu sou idealista e sonhador, eu acho que a gente vai superar isso tudo
e que daqui a pouco vão começar a dar valor cada vez mais, pois é o
que acontece fora, nós temos que olhar para fora. Lá em Campinas tem
um bairro que é o Barão Geraldo e lá tem algumas colinas e havia um
professor que era português. Ele dizia para um colega: “Você precisa
olhar para além das colinas do Barão Geraldo, olhe lá para fora, não
fique olhando aqui para dentro”. A mesma coisa eu digo aqui: nós
temos que olhar para além das colinas da Vila Itoupava, nós temos que
olhar lá para frente, lá pra fora. Como os países estão se desenvolvendo?
Negando a ciência? Não investindo em ciência e pesquisa? O que eles
estão fazendo? Como as pessoas se desenvolveram?
Eu falo isso para que as pessoas invistam nas suas carreiras, estudem.
Existem momentos que são para investir. Em épocas de crise eu
não vou ganhar dinheiro, eu vou sobreviver e vou investir na minha
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
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Prof. Dr. Henry França Meier
doutorado, não pode ter nenhuma outra atividade. Eu estou com dois
alunos agora que eles poderiam ir pra Unicamp fazer doutorado. Hoje
eu tive uma conversa com eles eu e disse que eles precisavam tomar
uma decisão e eles disseram que não querem ir pois não dá para viver
em Campinas com R$2.200, pois não consegue ter um outro emprego.
Precisa se dedicar para fazer pesquisa, precisa se envolver, não é nos
fins de semana, não é da meia noite às 6h da manhã, é full time a
pesquisa é uma coisa que demanda tempo. E isso acaba desmotivando
as pessoas e esse negacionismo em relação a ciência de não acreditar
em vacina e essas fake news que se passam acabam desacreditando.
Eu já vi gente que acredita que a Terra é plana, em pleno século 21,
um indivíduo tem coragem de dizer que isso de a terra ser redonda é
uma enganação. Só que isso as mídias sociais, principalmente as redes
sociais elas acabam difundido isso e tem um efeito devastador. As
pessoas estão desacreditando, não querem mais fazer mestrado, não
querem mais fazer doutorado, eu vejo adolescentes que não querem
mais ir para universidade, que querem fazer escola militar, a que ponto
nós chegamos. Então esse descrédito me preocupa bastante, essa
desmotivação. Nós vamos ter uma repercussão absurda, parece que
voltamos 50 anos e isso me preocupa muito nos próximos anos.
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Por Maria Luiza de Almeida Kuster
Então essa escola que está sendo formada a partir das nossas atividades
está repercutindo, está se espalhado pelo mundo inteiro. Para mim
preparar sucessores também é gratificante. Eu sou muito grato por
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Prof. Dr. Henry França Meier
isso, acho que fui muito privilegiado nesse sentindo, algumas coisas
dependeram de mim, mas eu tive muita sorte de estar no momento
certo, na hora certa, com as pessoas certas, tomar decisões e escolher
decisões. Além de ser cientista eu também acredito em Deus, acredito
em um ser superior e eu vejo que eu fui muito abençoado nesse sentido
e eu sou muito grato a tudo o que me aconteceu.
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PhD em Administração pela Vanderbilt
University, TN (USA), com concentração
em Administração de Sistemas de Ciência
e Tecnologia. Mestrado em Administração
da Tecnologia pela Vanderbilt University,
TN (USA). Especializações em Gestão da
Tecnologia e Cooperação Técnica Internacional
pela FEA/USP. Graduado em Direito pela
Universidade Nove de Julho. Pós-Doutorado em
Administração pela FEA/USP.
Apresentação
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Por Giulia Godri Machado
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Por Giulia Godri Machado
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Por Giulia Godri Machado
nós fizemos com para uma empresa química de Rio do Sul (Rioquímica),
banana desidratada — tecnologia vendida par a Indel Ltda—, produção
de álcool de um vegetal (tipo espada de São Jorge) para uma empresa
de Taió (SC). A ideia era essa, no IPTB, desenvolver e disponibilizar
tecnologias e serviços, fazer análises químicas, microbiológicas, e de
controle de qualidade. O Instituto do Meio Ambiente sempre respondeu
para a comunidade com alertas de enchente, estudo importantíssimo
para Blumenau, porque fazia as leituras, desenhava todo o mapa de
comportamento das chuvas, do nível de enchente, os níveis de altura
do rio. Além desses serviços realizava outros projetos, como o Projeto
Bugio. Já o IPLAN, foi um instituto que sedmpre fazia levantamentos
de custo de vida em Blumenau, mas també desenvolvia outros projetos
importantes, como a realização dos estudos econômicos preliminares
que permitiram a implantação da ajudou a implantar a empresa
de Ceval, hoje Bunge. O levantamento econômico indicou que cabia
um entreposto de soja, vindo do Oeste do estado, e que seria muito
mais lucrativo exportar produtos como o óleo, farelo de soja outros
subprodutos com mais tecnologia embutida, como a margarina, ao
invés de simples exportação da soja in natura, muito mais barata. A
Companhia Hering investiu e montou essa empresa, que funcionou de
forma exemplar, e em 1994 quando precisava se remodelar para não
entrar em falência, a empresa de soja foi vendida por 400 milhões de
dólares para a Bunge. A Hering usou esse dinheiro para mudar o que
ela fazia, há mais de 100 anos: produção de malhas. Transformou-se
em uma empresa de moda, incluindo a administração de toda a sua
franquia de marcas no Brasil e na América Latina. Então você vê
que esses institutos são a parte da universidade que conversa com a
sociedade na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e
regional. É preciso, porém, ter uma gestão nestes institutos voltada para
o desenvolvimento local e regional. Isto é, identificar as competências
de cada instituto e combinar demandas e/ou oportunidades no
ambiente de abrangência da FURB (local e regional) e responder com
o que tiver de melhor para a solução e avanço socioeconômico da
região. O que a ela precisa fazer é reconhecer o seu próprio formato,
apostar nesse formato, e crescer no cenário nacional e internacional.
Ela tem pessoas, tem formação, tem tradição, tem credibilidade, tem
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Prof. Dr. Leonel Cezar Rodrigues
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Prof. Dr. Leonel Cezar Rodrigues
de negócio, não de incubamento. Por isso acho que esta não deva ser a
única área de investimento da comunidade blumenauense.
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Graduação em Medicina pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, mestrado
em Neurocirurgia pela Universidade Federal
de São Paulo e doutorado em Medicina
(Neurocirurgia) pela Universidade Federal de
São Paulo. Atualmente é sócio administrador -
Neurocel Pesquisas em Medicina LTDA ME.
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foi a uma época, assim, onde houve uma modificação muito grande da
maneira de pensar universitária dentro da FURB, através da influência
do pessoal de Curitiba. Essa seriam os pontos que eu poderia resumir
a minha atividade.
193
Graduação em Direito pela FURB, mestrado
em Direito pela UFSC, doutorado em Direito
das Relações Sociais, sub-área Direitos Difusos
e Coletivos pela PUC-SP e pós-doutorado
junto a Unité Mixte de Recherche Territoires,
Environement, Télédetéction et Information
Spatialisée UMR TETIS (CEMAGREF, CIRAD,
ENGREF) na Maison de la Télédetéction.
Apresentação
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Por Thiago Gomes
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Prof. Dr. Noemia Bohn
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Graduada em Letras Português-Inglês pela
FURB, possui mestrado em Educação pela
FURB e doutorado em Linguística pela UFSC.
Atuou como professora titular da Universidade
Regional de Blumenau no Mestrado em
Educação, no curso de Letras e Pedagogia.
Apresentação
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Por Gabriela Zimmermann
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Prof. Dra. Otília Lizete de Oliveira Martins Heinig
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Por Gabriela Zimmermann
Escrita é uma invenção, então não tem como aprender de uma forma
mágica. Acho também que precisaríamos entender mais o que é o
ensino híbrido. Abriu muitas portas para compreendermos, para
estudarmos, acho que o professor investiu muito na tecnologia tirando
do seu próprio bolso. Então acho que as maiores dificuldade dessa
pandemia foram, em primeiro lugar, a questão da tecnologia, porque a
gente sabe que as crianças não tem esse acesso e os professores tiveram
que investir muito. A questão da interação. Os alunos de ensino médio,
por exemplo, indo trabalhar, ao invés de ficarem na escola, porque
se sentiam muito sozinhos, e trabalhando, eles encontravam outras
pessoas. E eu acho que, como eu falei antes, a alfabetização foi a área
mais prejudicada em termos de pandemia.
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Por Gabriela Zimmermann
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Por Gabriela Zimmermann
enchi o quadro. Uma das minhas alunas anotou tudo aquilo, todas as
minhas ideias, e eu comecei a digitar e pensar. Peguei toda essa teoria
e escolhi dez dissertações que eu havia orientado e comecei a analisar
como que eu estava orientando a metodologia. Então, escrever as vezes
acontece muito do inesperado.
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Prof. Dra. Otília Lizete de Oliveira Martins Heinig
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Por Gabriela Zimmermann
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Graduação em Ciências Biológicas pela UFSC e
Ph.D. em Genetics and Developmental Biology
pela West Virginia University, West Virginia,
EUA. Realizou pós-doutorado na Universidade
Federal de Santa Catarina e licença sabática
na University of Kansas, KS, EUA. Professor do
Departamento de Ciências Naturais da FURB e
curador da Coleção Internacional de Cultura de
Glomeromycota (CICG).
Apresentação
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
e Lee Child, e que sempre que pode adquire as obras dos autores
para preencher as prateleiras de casa. Outra atividade que antes da
pandemia estava sempre presente na rotina era o futebol. Torcedor do
Grêmio, Sidney possui um grupo de amigos que sempre se reunia às
terças e quintas-feiras para jogar futebol na FURB.
“Quando eu não estou trabalhando, nos finais de semana,
feriados, a gente faz alguma coisa em família, seja brincar, seja ir
para um parque, enfim, coisas em família”, comenta Sidney Stürmer
sobre como é importante seu tempo livre com o filho e a esposa. Um
de seus hábitos preservados desde a infância é o gosto pelas revistas
em quadrinhos. Até hoje Sidney coleciona a revista TEX, que conta
a história de um cowboy americano e suas aventuras. O pesquisador
iniciou sua coleção aos 8 anos, e atualmente possui todas as edições
da HQ.
por que você vai entender como a FURB funciona”. Na época eu não
tinha nenhum projeto grande aprovado, não tinha financiamento de
projetos onde era coordenador, então assim que entrei na FURB como
professor no quadro, assumi a chefia do departamento, e ao mesmo
tempo montando o laboratório de pesquisa com micorrizas, que é a
minha temática de pesquisas. Sempre tive o apoio da FURB. Naquela
época, um ou dois equipamentos que eu precisava, o diretor de centro
conseguiu. A infraestrutura, sempre que precisei fui atendido, como por
exemplo com móveis do laboratório, naquela época tive muito apoio. E
depois fui montando o laboratório com recurso de pesquisa, que é o que
se espera que um pesquisador faça nas Universidades. Mas eu diria que
foi um processo bem tranquilo com alguns momentos árduos também,
pois nem sempre você consegue o dinheiro de projetos para conseguir
comprar o que você quer, mas eu consegui montar o Laboratório de
Micorrizas, e hoje temos um laboratório bem ativo.
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
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Por Isabela Cremer
Sidney Luiz Stürmer: Foi muito bom! Até hoje eu tenho no Lattes esse
trabalho como um dos mais importantes, pois foi o início da minha
carreira. Os resultados do meu TCC eu consegui publicar depois na
Canadian Journal of Botany, que é um periódico bem renomado na
nossa área. Nesse trabalho eu fiz um estudo de variação sazonal, ou
seja, eu acompanhei as populações desses fungos durante um ano
associados com uma planta nas dunas da praia da Joaquina, e observei
que algumas dessas populações de fungos permanecem baixas
durante todo o ano, outras têm picos durante o inverno, e outras na
primavera. Eu também acabei descobrindo uma nova espécie de fungo
e que estou trabalhando na descrição. Então a partir dali eu comecei
a saber identificar as espécies desses fungos. Acho que o resultado
mais importante dessa pesquisa como um todo, além do conhecimento
da diversidade desses fungos em dunas de Santa Catarina, pois fui o
primeiro a escrever um artigo sobre essa diversidade no Estado, foi
começar a entender como eles são organizados e o que eu preciso
observar para fazer a identificação dessas espécies.
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
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Por Isabela Cremer
muito maior e mais rápido dessas plantas quando associadas com esses
fungos micorrízicos, do que se apenas plantasse no solo.
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Por Isabela Cremer
Sidney Luiz Stürmer: Eu diria que são dois, além do meu TCC. O primeiro
foi em 2013, quando houve uma proposta de classificação para esses
fungos micorrízicos. Essa proposta foi liderada por um pesquisador na
França, junto de meu ex-orientador e outros pesquisadores do Reino
Unido e da Alemanha, e eu fui convidado a participar dessa proposta de
classificação. Existe então uma publicação em 2013 de uma proposta
de classificação desses fungos que até hoje é muito citada.
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dr. Sidney Luiz Stürmer
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Graduação em Serviço Social pela Universidade
Católica de Pelotas, mestrado em Serviço Social
pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo e doutorado em Política Social pela
Universidade de Brasília. Tem experiência na
área de Sociologia, com ênfase em Sociologia,
atuando principalmente nos seguintes temas:
trabalho, autonomia, desemprego, saúde e
processo de trabalho.
Apresentação
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Por Júlia Bernardes Laurindo
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Por Júlia Bernardes Laurindo
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Prof. Dra. Vilma Margarete Simão
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Por Júlia Bernardes Laurindo
a ser aprofundado, é tudo o que o capital mais queria, não ter despesa
com o trabalhador.
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Por Júlia Bernardes Laurindo
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Prof. Dra. Vilma Margarete Simão
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Prof. Dra. Vilma Margarete Simão
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Possui graduação em Ciências Biológicas
Modalidade Médica pela Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras Barão de Mauá.
Mestrado em Bioquímica pela Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto e Doutorado em
Biologia Comparada pela Universidade de
São Paulo. Possui vinculo institucional como
professor colaborador voluntário na Fundação
Universidade Regional de Blumenau.
Apresentação
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dra. Zelinda Maria Braga Hirano
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Por Isabela Cremer
uma ciência apenas para cientistas, ela tem que ser uma ciência para a
comunidade. Ela tem que gerar conhecimento para a população de uma
forma geral. Então você acaba aprendendo que você pega um aluno da
base, desenvolve trabalhos científicos com ele, que são o ensino e a
pesquisa, e o conhecimento ali gerado tem que ser expandido, tem que
ir para a comunidade, e aí você faz a extensão. Não existe uma coisa sem
a outra, essas coisas são muito interligadas, são muito especiais e cada
uma com a sua característica. Então nem sempre quem faz a extensão
precisa ser aquele que fez a pesquisa básica, mas ele tem que estudar
de qualquer jeito toda essa pesquisa desenvolvida para poder gerar um
trabalho de extensão. Então todo trabalho de extensão é gerado a partir
da pesquisa e do ensino. Não existe uma maneira de você desvincular.
Um extensionista sempre vai ser um pesquisador. Então se você me
perguntar o que você mais gostou, eu vou te dizer uma coisa: eu não
vejo maneira de desvincular as três coisas, acho que elas estão inter-
relacionadas e muito interligadas. Acho que a extensão é fundamental
para a Universidade e para a ciência, porque é na extensão que você gera
o conhecimento popular. Você tem que fazer com que tudo aquilo que
seja gerado lá na base como ciência seja adquirido pela comunidade,
seja informado de uma maneira mais comum, senão a ciência fica entre
os cientistas e ninguém sabe de nada. Agora na pandemia a gente está
vendo isso, como as pessoas estão procurando conhecimento científico
de uma maneira mais leve e informal.
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dra. Zelinda Maria Braga Hirano
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Por Isabela Cremer
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Prof. Dra. Zelinda Maria Braga Hirano
inteiro para fazer estágio e você tem a chance de conviver com esse
projeto. Agora na pandemia é complicado, pois só podemos receber
um estagiário por período, e a fila é grande. Já recebemos estudantes
do Canadá, da Suíça, temos também um convênio com o México, então
todo ano recebemos estagiários mexicanos. Tanto nossos estudantes
vão pra lá quanto os deles vêm para cá. É muito importante ter essa
troca de conhecimento entre instituições. Mas o mais legal é a gente
saber que é referência. É a nossa Universidade que tem isso, nenhuma
outra. A FURB durante 30 anos, ao longo de várias gestões dentro da
universidade e da Prefeitura de Indaial, nunca houveram conflitos,
sempre houve acordo e o projeto Bugio sempre continuou. Tanto a
universidade quanto a prefeitura veem a importância da existência
desse projeto. A consciência da população de Indaial hoje em referência
ao meio ambiente e ao Bugio é muito grande. A gente não tem mais
apreensão desses animais na cidade. E se aparece algum animal nas
casas eles logo nos telefonam. Isso é maravilhoso. A gente vê que
fez um trabalho de pesquisa, ensino e extensão que deu resultado. É
claro que levou tempo, nada é do dia para a noite. O próprio Centro
de Pesquisas Biológicas de Indaial foi se desenvolvendo aos poucos,
com muita ajuda da comunidade, da prefeitura e da FURB. É legal que
a FURB e a prefeitura sempre conseguem traçar “o que é de quem”. A
FURB ligada ao desenvolvimento científico do centro, e a prefeitura
ligada a manutenção e que tudo funcione no sentido de logística. Então
essa parceria sempre foi muito boa.
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Prof. Dra. Zelinda Maria Braga Hirano
gente que eu formei. Era esse o meu objetivo. Eu sou uma educadora.
É Lógico que não fui só eu que formei, foi um conjunto de pessoas
que formaram, mas aquela pessoa é aquele profissional graças a um
pouco do conhecimento que eu transmiti pra ela. É gratificante. Meu
cardiologista foi meu aluno. Meu endocrinologista foi meu aluno,
tudo. Eu faço questão de escolher meus alunos porque eu sei o nível de
formação que eles têm. Eu tenho um aluno em Belém, em Manaus, no
México, que nós ainda conversamos. É muito legal você saber que tem
alunos no mundo todo e que continuam interagindo com você. Para
um educador acho que é tudo você conseguir ver isso, o resultado do
que você quis ser na vida.
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Prof. Dra. Zelinda Maria Braga Hirano
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Prof. Dra. Zelinda Maria Braga Hirano
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