Você está na página 1de 9

1

REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA SAÚDE
DIRECÇÃO NACIONAL DOS HOSPITAIS

ESPECIALIDADE: PEDIATRIA PROTOCOLO Nº


04.URG.HPDB
TÍTULO: ABORDAGEM DAS CONVULSÕES Nº de páginas:

CID.10: R56.8

1. INTRODUÇÃO

Urgência neurológica mais frequente em pediatria.


Dentre os problemas clínicos encefálicos, as crises convulsivas destacam-se como problema mais
frequente e mais facilmente reconhecido. Crises desencadeadas por febre ocorre em 3-5% das
crianças e cerca de 6% da população apresenta pelo menos um episódio convulsivo até aos 16
anos.
A incidência da epilepsia propriamente dita até aos 20 anos é de 1%.
Na maioria das vezes, as crianças chegam à consulta na fase pós-crítica. Pode ser uma emergência
vital, especialmente nas crises prolongadas que levam ao status convulsivo. As convulsões simples
duram menos de 15 minutos. Muitas vezes, a criança perde a consciência durante o processo. A
incidência da convulsão febril (CF) é de cerca de 2-5% das crianças.

2. DEFINIÇÃO
Descarga súbita, anormal, sincrónica e excessiva de um grupo neuronal, que se manifesta com
sinais motores, sensitivos, autónomos ou psíquicos, com ou sem perda da consciência.

3. CLASSIFICAÇÃO
Classificação das Convulsões ILEA 2017 ( International League Against Epilepsy):
a) Inicio parcial (focais)
✓ Sem perturbação da consciência
✓ Com perturbação da consciência
b) Inicio generalizado
✓ Motor
2

• Tónico-clónico
• Outro motor
✓ Não motor (Ausência)
c) Inicio desconhecido
✓ Motor
• Tónico-clónico
• Outro motor
✓ Não motor

4. ETIOLOGIA

Récem- nascidos Lactentes e criança maior Adolescentes

Encefalopatia hipóxico- Convulsão febril. Níveis sanguineos baixos de


isquémica. anticonvulsivantes nos doentes
epilepticos.
Infecção sistémica ou do SNC. Infeccão sistémica ou do SNC. Traumatismo craniano.
Alterações hidroelectrolíticas. Alterações hidroelectróliticas. Epilepsia.
Déficit de piridoxina Epilepsia. Tumor craniano.
Erros congénitos do Intoxicações. Intoxicações(alcóol ou drogas).
metabolismo.
Hemorragia cerebral

Malformações do SNC

5. DIAGNÓSTICO

I. CLÍNICO
1. Interrogatório
✓ Antecedentes
✓ Factores desencadeantes
✓ Desenvolvimento psicomotor
3

2. Descrição da crise
✓ Febril ou não
✓ Tónica ou clónica

✓ Parcial ou generalizada
✓ Revulsão ocular
✓ Hipersialorreia
✓ Duração, frequência, tratamento anterior
3. Exame neurológico (importante descartar sinais de infecção do SNC)
✓ Normal
✓ Anormal

II. LABORATORIAL
A sua realização está em função da suspeita etiológica e das manifestações clínicas.

✓ Estudo metabólico: É indicado principalmente em récem-nascidos e crianças pequenas


que se suspeita de uma causa metabólica. glicemia, ureia, creatinina, cálcio, magnésio,
gasometria arterial
✓ Exame de LCR: Deve ser feito em todas crianças menores de 12 meses que têm uma
convulsão associada à febre e em todas as crianças com suspeita de infecção
intracraniana (meningite).
✓ Pesquisa de plasmódio
✓ Investigação toxicológica
✓ Dosagem de anticonvulsivantes

III. IMAGIOLÓGICO
✓ EEG
✓ TAC e RM cranioencefalica
✓ Cintigrafia
4

6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Fonte: Carvalho N, et all. Conduta no primeiro episódio de crise convulsiva. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 78,
supl. 1, p. S14-S18, ago. 2002

7. TRATAMENTO

1. Estabilização das funções vitais (ABC)


a. Via aérea:
• Manter em decúbito lateral (salvo se existe traumatismo prévio)
• Aspirar secreções
• Colocar uma cânula orofaríngea
b. Ventilação: Administrar oxigénio à 100% (máscara com reservatório, entubação
endotraquial)
c. Circulação: Canalização via IV
• Soro Glicosado à 5%
2. Determinar a glicemia (fita reactiva). Colheita de sangue para o laboratório (GSA, ureia,
creatinina, dosagem sanguínea de anticonvulsivantes)
• Se hipoglicemia: S.Glicosado 10% 5ml/kg IV

3. Administração de anticonvulsivantes
a. Minuto 0-5: Diazepam 0,3 mg/kg IV(max: 10mg) ou 0,5mg/kg rectal
5

Em crianças menores de 18 meses, deve-se iniciar com uma dose de Piridoxina 150
mg/kg IV( 50mg em recém-nascidos)
b. Minuto 5-10: repetir a dose de Diazepam
c. Minuto 10: Valproato de sódio IV 20mg/Kg
d. Minuto 20: Fenitoína 15-20mg/kg IV( max 1g) em 10-20 min (monotorização ECG e
TA) ou Fenobarbital 15-20mg/kg IV
e. Minuto 30: considerar um mal epiléptico em caso de persistência de convulsões e
induzir coma barbitúrico:
• UCI
• Clonazepam (0,5 – 1 mg/kg infusão)
• Tiopental bolo 4-8mg/Kg
• Outras opções: Midazolam, Lorazapam, Lidocaína, Fenobarbital

8. COMPLICAÇÕES

✓ Sequelas neurológicas e os transtornos cognitivos


6

9. ASSINATURAS

Autor (es): Função Assinatura Data


Leite Cruzeiro Especialista em Pediatria 21/07/2021
Maria Joaquina Sousa Especialista em Pediatria 21/07/2021
Juliana Miranda Especialista em Pediatria 21/07/2021
Adelino Alex Interno de Pediatria 21/07/2021
Ana Cadi Interna de Pediatria 21/07/2021
Rosa Moçambique Interna de Pediatria 21/07/2021
Sheilla Furtado Costa Interna de Pediatria 21/07/2021
Aprovado por Função Assinatura Data
Margarida Correia Directora Clinica HPDB 21/07/2021
César Freitas Médico Especialista 21/07/2021
Joaquina Magalhães Médica Especialista 21/07/2021
Manza Makubica Médica Especialista 21/07/2021

Revisto por Função Assinatura Data

Nº Revisão:
7
10. Anexos

i. Fluxograma
8

ii. INDICADORES DE AVALIAÇÃO

− Reduzir o tempo de remissão das crises convulsivas em crianças.


− Instituição do Diazepam como fármaco de primeira escolha em caso de crise convulsiva no
período pós-neonatal
9

iii. BIBLIOGRAFIA

1. Arzimanoglou A, Guerrini E, Aicardi J. Status epilepticus. En: Aicardi’s. Epilepsy in


children. 3ª ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins. 2019. p 241-261.
2. Campistol J, Fernández A, Ortega J. Estado de mal convulsivo en el niño. Experiencia con
valproato endovenoso. Actualización del protocolo de tratamiento. Rev Neurol 1999; 29:
359-365.
3. NICOLE-CARVALHO, Valentina; HENRIQUES-SOUZA, Adélia Maria de Miranda.
Conduta no primeiro episódio de crise convulsiva. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v.
78, supl. 1, p. S14-S18, Ago. 2002
4. Protocolos de la Asociación Española de Pediatría y Sociedad Española de Urgencias
Pediátricas ,Año de edición: 2010 2ª edición
5. Wilfong A. Seizures and epilepsy in children: classification, etiology, and clinical features;
UpToDate 2020.[Acesso 15 de Agosto 2021]. Disponível em: http://www.uptodate.com
6. Wilfong A. Seizures and epilepsy in children: Initial treatment; UpToDate 2020.[Acesso
15 de Agosto 2021]. Disponível em: http://www.uptodate.com
7. https://www.ilae.org/guidelines/definition-and-classification/operational-classification-
2017 acessado a 19 de Agosto de 2021

Você também pode gostar