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Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral (UPHG)

Área (O que é & Objetivos)

A Unidade Psiquiátrica no Hospital Geral surgiu através da Lei 10.216/2001, que delega a
responsabilidade do tratamento de usuários com sofrimento psíquico ao Estado, ocorrendo com a
participação da sociedade e da família. Esta lei começou a tramitar no congresso em 1989, este
projeto demorou aproximadamente doze anos para ser concretizado. Além da aprovação da lei, são
necessárias mudanças em portarias que efetivam as políticas públicas na área, com a participação da
família e da sociedade.

Ao se falar em saúde mental, temos dois modelos para cuidar do sofrimento psíquico, um modelo
asilar e um modelo psicossocial. O primeiro modelo dividiria a clientela em loucos e sãos, aqueles
que detém o saber técnico, se mostram acima daqueles que sofrem nesta perspectiva.

Em linhas gerais o segundo modelo busca uma prática mais reflexiva e compromissada com o
território de inserção do usuário, bem como um compromisso ético político, pautado em
movimentos históricos (como o da desinstitucionalização que ocorreu na Itália) e movimentos
teóricos (Costa-Rosa, 2000).

Sobre o modelo psicossocial, a Lei 10.216/2001 trouxe muitas transformações no modelo de


assistência à saúde mental e uma delas foi postular que as instituições de caráter asilar deveriam ser
progressivamente fechadas.

Dessa forma, iniciou-se uma Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) ligada a saúde pública que deveria
atender a todos os usuários que sofressem de algum transtorno mental.

Em 2011, a Portaria nº 3.088 cria o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que passou a ser
referência para o atendimento destas demandas em saúde mental. Esses centros têm como objetivo
a ampliação do atendimento à saúde mental e a sua articulação com a rede pública de saúde
respeitando os direitos humanos e promovendo ações que combatam o estigma e preconceitos
vividos por esta população, bem como levar uma melhor qualidade de vida.

Segundo o Artigo 4º da Lei 10.216 A internação hospitalar só deverá ocorrer quando todos os
recursos extra hospitalares se mostrarem insuficientes.

A UPHG favorece a diminuição do estigma da doença mental, ao aproximar a Psiquiatria das demais
especialidades médicas dentro do hospital, além de possibilitar melhores cuidados para patologias
clínicas por meio do acesso a exames e interconsultas de outras áreas da saúde.

No contexto atual das RAPS, em acordo com a Portaria n. 148, de 31 de janeiro de 2012 (Brasil,
2012), as UPHG são estabelecidas de modo a cumprir os seguintes objetivos clínicos:

 Constituir-se como unidade hospitalar de intervenção integral ao usuário com


descompensação clínica e condições que configurem situações de crise em transtornos
mentais primários e associados ao uso do crack e outras drogas, ou ainda, com outras
comorbidades clínicas e psiquiátricas, a depender da demanda da RAP
 Atuar como um equipamento de retaguarda da RAPS e da Rede de Urgência e Emergência, a
partir da interlocução e qualificação dos encaminhamentos pela Central Municipal de
Regulação do município
 Ser um serviço de atenção matricial para todas as enfermarias do hospital, em especial para
a enfermaria de clínica médica, para onde seriam priorizadas as internações de usuários com
situações clínicas e psiquiátricas relacionadas com as substâncias psicoativas Intervenções
breves favorecidas por intermédio da atuação de equipes multiprofissionais na elaboração e
execução de Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), utilizando o referenciamento de caso e
acompanhamento por equipes longitudinais nos cuidados prestados
 Serviço de articulação direta com a RAPS, em congruência com o fluxo de encaminhamentos
estabelecido preferencialmente pelo CAPS da região, com a articulação efetiva de cuidado
para o seguimento terapêutico após a alta hospitalar, privilegiando a lógica territorial
 Ser local de formação e campo de estágio da linha de cuidado em Saúde Mental
preconizada pela Reforma Psiquiátrica, a partir de discussão e elaboração de projetos
terapêuticos individuais em conjunto e articulada com a RAPS.

De acordo com a Portaria n. 148, até 10 leitos de clínica médica e pediatria, qualificados para o
atendimento destinado a indivíduos em sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de
saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, podem ser implantados em hospitais
gerais (Brasil, 2012). De acordo com as necessidades e possibilidades locais, o manejo clínico em
casos de intoxicação aguda com internações breves pode ser realizado em unidades não
especializadas, caracterizando um arranjo terapêutico alternativo às UPHG.

Atribuições do Psicólogo

A proposta de abordagens terapêuticas em uma internação de curta permanência deve levar em


conta que o período para as abordagens será curto e pontual. Sendo pequeno o tempo disponível
para intervenções (10 a 15 dias em média) o contato com o psicólogo hospitalar deve adequar-se a
essa proposta de internação.

Seu papel é avaliar, observar e diagnosticar os motivos de uma primeira ou nova internação, e os
fatores psicológicos associados ao adoecer tanto do paciente quanto de sua família.

Propostas de abordagens a pacientes psicóticos internados:

Psicoeducação (orientação familiar); Terapia cognitivo-comportamental; Treino de habilidades


sociais; Terapia ocupacional e habilidades de autocontrole; Emprego protegido; Tratamento
comunitário assertivo; Reabilitação cognitiva; Tratamento de comorbidades.

Nem todas as atividades descritas podem ser realizadas em uma internação breve.

Intervenções familiares

O psicólogo pode realizar grupos de família, nos quais devem ser explorados sentimentos de
espelhamento, apoio mútuo e compartilhamento de experiências; ou reuniões nucleares (paciente e
seus familiares), usando o momento da internação e do grupo para explorar pensamentos, atitudes
e sentimentos entre os familiares, sempre atentando para a manutenção da integridade e do
fortalecimento das relações, e evitando movimentos de ataque e a expressão de emoções
destrutivas, que costumam aparecer durante a internação (Cabral et al., 2009)

O conceito que mais parece ter importância para os quadros psiquiátricos graves é o de emoção
expressa (EE; Cabral et al., 2009).

A EE pode ser definida como:

 Comentários críticos, avaliados durante a entrevista, manifestações verbais de discordância,


censura e cobranças
 Hostilidade, indicada por rejeição e comentários críticos generalizados ou de raiva
 Superenvolvimento emocional, caracterizado como excessiva preocupação em relação ao
paciente, dependência, identificação exacerbada, culpa e ansiedade
 Afeto e atenção positiva, os únicos escores positivos, que incorporam comentários de apoio
e demonstração espontânea de acolhimento e afeição, tanto no tom de voz como nas
atitudes (Vaughn, 1976).

Segundo Mari e Streiner (1994), a intervenção familiar tem como propostas:

 Promover aliança com familiares que cuidam dos pacientes


 Reduzir a diversidade do ambiente familiar, ou seja, diminuir o clima de sobrecarga
emocional mediante a redução do estresse e do sentimento de opressão dos familiares
 Aumentar a capacidade resolutiva de problemas dos familiares
 Diminuir a expressão de raiva e de culpa
 Manter expectativas de um desempenho exequível por parte do paciente (ou seja,
manutenção de um equilíbrio adequado entre promoção de uma melhora no
funcionamento do paciente e superestimulação, que aumenta o risco de recaídas)
 Estabelecer limites apropriados entre o paciente e seus familiares
 Determinar mudanças no sistema de crenças e comportamentos dos familiares

Psicoeducação

É entendida como um procedimento de intervenções sistemáticas e psicoterapêuticas voltado para


pacientes e seus familiares, que abrange orientações quanto a doença, seus tratamentos e
evolução, facilitando o entendimento e manejo da doença com o objetivo de melhorar a
compreensão e modificar comportamentos, ajudando o paciente e seus familiares a lidar melhor
com o sofrimento (Bäuml et al., 2006)

Segundo Bäuml et al. (2006), os objetivos da psicoeducação compreendem:

 Assegurar ao paciente e seus familiares a obtenção de competências básicas


 Facilitar o manejo da doença com base em informação e autorresponsabilidade
 Aprofundar o papel do paciente como um expert
 Fortalecer o papel dos familiares
 Combinar adequadamente métodos terapêuticos profissionais e empoderamento
 Melhorar o insight sobe a doença e a adesão ao tratamento
 Auxiliar na prevenção de recaídas
 Promover o engajamento no manejo de crise e prevenção de suicídio
 Dar suporte a medidas de saúde
 Executar atividades educacionais e informativas

É característica dessa intervenção, na enfermaria de internação breve, ser composta por grupo de
familiares sem a presença do paciente (para promover ambiente mais acolhedor para possíveis
críticas e queixas dos cuidadores), possuir uma ou duas sessões (tempo médio de permanência de
internação) e ter tema definido.

Psicoterapia

É o trabalho entre o psicológico e um paciente, principalmente de abordagem verbal, utilizando o


relacionamento como motor para mudanças no indivíduo, objetivando alterações em seus
sentimentos, sua cognição e seu comportamento.

Alguns objetivos da psicoterapia compreendem:


 Possibilitar uma melhora na capacidade pragmática, na capacidade de organização
conceitual do pensamento
 Melhorar a comunicabilidade individual e social do paciente, por meio da troca de
experiência entre os participantes
 Fazer o paciente aceitar melhor suas limitações e dificuldades, estando empoderado sobre
as decisões em relação ao seu quadro psicótico, mesmo que a condição clínica não melhore
ao longo do tempo
 Conseguir que o paciente reconheça momentos delirantes e alucinatórios, assim como
desagregações, possibilitando o melhor controle dos sintomas
 Diminuir o autismo e melhorar aspectos volitivos, estimulando a participação ativa do
paciente em tomadas de decisões.

As terapias mais indicadas, no caso de pacientes regredidos, são a terapia cognitivo-comportamental


e a terapia de apoio.

O terapeuta da UPHG precisa lançar mão de uma psicoterapia flexível, voltada para as necessidades
e as angústias atuais do paciente, ser versátil e firme, sem ser rígido ou ameaçador. O objetivo é um
enfoque terapêutico mais direto, menos interpretativo, voltado para o aqui e agora. Uma
possibilidade envolveria encontros diários ou pelo menos 3 vezes/semana, curtos (20 a 30 min).

Oficinas Terapêuticas

Algumas atividades propostas em uma UPHG são:

Ateliê espaço promotor da sociabilidade, criatividade e expressão artística; Oficina de atualidades


(pacientes e o terapeuta trabalham temas da atualidade com matérias e colagens de jornais ou
revistas); Oficina de culinária; Oficina de cinema; Oficina de beleza e autocuidado; Propostas de
atividades de área externa/ambiência.

Também o trabalho nas oficinas deve focar ações que terão um número reduzido de sessões, em
geral por 2 a 4 semanas, com a oferta de atendimentos no mínimo 1 vez/dia.

Trabalho em Equipe

A atuação do psicólogo no hospital geral, se resumem em ações integradas com a equipe. O


psicólogo tem a função de redirecionar o olhar médico para a individualidade de cada paciente,
dos aspectos subjetivos envolvidos no adoecer. Entendemos que trabalhar numa equipe
interdisciplinar possibilita diálogo entre disciplinas vizinhas que em muitos momentos possuem
temáticas comuns, interfaces, mas que mantêm a especificidade do seu saber. O psicólogo, ao
integrar a equipe de saúde, deve favorecer o funcionamento interdisciplinar, facilitando, quando
necessário, a comunicação entre seus membros. Seu trabalho com o paciente é bastante específico,
atuando de forma situacional, no sentido não só da resolução de conflitos, mas também da
promoção de saúde.

CASO CLÍNICO

O paciente teve a possibilidade de receber psicoterapia de apoio 3 vezes/semana com o psicólogo da


equipe multiprofissional. O enfoque do trabalho foi a dificuldade em entender a necessidade do
tratamento e as angústias diante do futuro da vida familiar e da falta de emprego.

Discussão
Sadock (2007) explica que a esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave, crônico, com
reagudizações (crises, ou seja, momentos em que os sintomas retornam ou pioram, por vezes
levando o paciente a uma nova internação ou inserção intensiva no serviço de saúde), que
geralmente se inicia na adolescência ou no início da vida adulta. Os sintomas-chave são os distúrbios
de forma e conteúdo de pensamento (incoerência de discurso, confusão mental e delírios),
alterações sensoperceptivas (alucinações, principalmente auditivas), comportamentos bizarros e
estranhos (desorganização, alterações catatônicas como estereotipias, mutismo e gestos ou
posturas bizarros), associados à falta de interação social e afetiva (embotamento, aplainamento de
expressão emocional e falta de motivação), além de prejuízo funcional grave e comumente
progressivo. Os quadros iniciais tendem a ser polimórficos e acompanhados de intensa angústia e
agitação, e podem estar associados ao uso de substâncias psicoativas, principalmente Cannabis.
Uma história mínima de 6 meses de adoecimento e sintomas é necessária para o diagnóstico.
Quadros de causa orgânica (como doenças do sistema nervoso central, alterações hormonais e
doenças autoimunes) são diagnósticos diferenciais e devem ser investigados.

CASO: Paciente internado em enfermaria de saúde mental. E., 20 anos, solteiro, sem filhos, estudou
até 8a série, desempregado há 6 meses (repositor em supermercado), sem religião, natural e
procedente do interior do estado de São Paulo. Pais separados, tem duas irmãs e reside com a mãe.

História da moléstia atual: Paciente internado pela 4a vez em 4 anos, nesse momento em uma
enfermaria de saúde mental de um hospital geral, em crise psicótica, com fala e comportamento
desorganizados, desconfiado e agitado. Não consegue explicar o que está acontecendo, mas durante
a entrevista grita “Sai!”, “Não!” e tapa os ouvidos com as mãos. Acompanhado pela mãe, que relata
que o paciente está há 15 dias sem dormir, quebrando objetos em casa e ameaçando-a com socos e
chutes. Já o paciente afirma que a mãe está “do lado deles” e acusa os vizinhos de desejarem sua
morte. Tem comportamentos estranhos, como gritar sozinho dentro do quarto, colocar as mãos nos
ouvidos e balançar a cabeça para os lados durante várias horas. Não toma banho há vários dias e
come somente alimentos que ele mesmo preparou, em geral enlatados, pois diz que as verduras
estão com gosto diferente e, portanto, envenenadas. Sem uso de medicação há pelo menos 2
meses. Até início do novo quadro, estava trabalhando e apresentava-se “sem problema nenhum”,
segundo a mãe.

Antecedentes pessoais: Até os 16 anos, o paciente costumava ser um rapaz bastante comunicativo,
gostava de sair com os amigos ou ficar em casa com eles vendo programas de TV, tirava notas
satisfatórias na escola. Depois, passou a ter progressivo isolamento social e emocional, falando cada
vez menos com a mãe, voltando da escola e indo direto para o quarto. Tirava notas cada vez mais
baixas, apesar de passar o dia todo no quarto, o que a mãe supostamente acreditava que seria para
estudar. Deixou de sair com amigos e ver televisão, passatempo que apreciava bastante. Em 6
meses, iniciou com agitação psicomotora, ficava andando pela casa sem motivo, hostil e agressivo
contra a mãe, quebrando objetos e falando sozinho (solilóquios, sendo comportamento sugestivo de
alucinações). Passou a dizer que estavam tramando “coisas” contra ele, mas não podia dizer quem e
nem o quê; costumava gritar palavras ofensivas toda vez que via ou ouvia os vizinhos pela janela.
Apresentou uso de Cannabis esporadicamente (2 a 3 cigarros por mês), desde aproximadamente os
15 anos, tendo parado há alguns meses antes desse quadro, já que não saía mais de casa, nem ia
para a escola. Após passagem por um serviço de pronto-atendimento, foi encaminhado a um CAPS
Infantojuvenil (CAPS IJ) e diagnosticado com quadro de esquizofrenia, mas não seguiu o tratamento.
Teve sua primeira internação com 16 anos (2 meses após piora do quadro), na ala psiquiátrica de um
hospital universitário, tendo sido hospitalizado por 3 meses, com remissão parcial dos sintomas:
continuava ouvindo vozes que comentavam seu comportamento e o xingavam, acreditava que seus
vizinhos estavam tirando seu pensamento de sua cabeça mesmo a distância (delírios de roubo de
pensamento). Na alta, foi novamente encaminhado para o CAPS IJ, mas não chegou a ir ao serviço.
Depois de 1 ano, apresentou nova crise aos 17 anos, sendo novamente internado e então
encaminhado para um CAPS III Adulto (já que completaria 18 anos em pouco tempo). Sabe-se que
aderiu ao tratamento no novo CAPS por alguns meses, tendo até arranjado emprego em um
supermercado, voltado a se relacionar com amigos e pensado em terminar o Ensino Médio. Foi
internado, em junho de 2015, na Enfermaria de Saúde Mental. Havia parado a medicação há 2
meses. Em todas as internações, apresentava quadro semelhante ao da primeira crise, melhorando
dos sintomas com o uso de medicação adequada.

Antecedentes familiares: Mãe faz uso de medicação para o tratamento de depressão.

Exame do estado mental:

 Apresentação: aparente idade cronológica, vestes próprias, higiene prejudicada;


psicomotricidade aumentada;
 Linguagem e pensamento: fala quantitativamente diminuída, fluxo entrecortado, em geral
grita as palavras; pensamento empobrecido, difícil avaliar forma e conteúdo em razão da
recusa e da dificuldade em se comunicar, falando palavras soltas; indícios de delírios nos
últimos dias (relato da mãe)
 Sensopercepção: comportamento sugestivo de vivências alucinatórias auditivas Afetividade
e humor: afeto embotado; sono e apetite diminuídos
 Juízo crítico da realidade: prejudicado pela ausência de contato com o meio externo e
presença de sintomas psicóticos (confusão mental e alucinações).
 Exame físico: Sem alterações.

Hipóteses diagnósticas (APA, 2002)

 Esquizofrenia, tipo desorganizado


 Abuso de Cannabis (diagnóstico prévio)
 Desemprego
 Dificuldade de adesão ao tratamento e acesso aos serviços de saúde
 Avaliação global do funcionamento: amplo prejuízo na comunicação, com algum perigo de
ferir a si mesmo ou a outros.

Discussão do caso

Com a introdução da medicação específica e o seguimento no CAPS, o paciente conseguiu tanto


melhorar os sintomas quanto voltar a trabalhar e se relacionar com familiares e amigos.

Desde sua entrada na enfermaria, a equipe do CAPS de referência participou ativamente das
tomadas de decisões e construção da proposta terapêutica, sendo que essa participação é de
extrema importância para a manutenção do vínculo e adesão do paciente e sua mãe no tratamento
proposto. O psicólogo, além dos atendimentos individuais realizados com o paciente, também foi o
responsável por estabelecer esse contato com o CAPS, que possibilitou a articulação de cuidados na
Rede de Saúde Mental.

Nas crises, os pacientes costumam ficar agressivos e apresentar riscos a si mesmos e a outras
pessoas, principalmente se associados a delírios persecutórios, alucinações proeminentes e uso de
drogas. A confusão mental, a desorganização psíquica e a agitação graves podem ser fatores de
indicação de observação ou internação em ambientes protegidos (CAPS ou unidades psiquiátricas) e
a falta de suporte familiar costuma requerer um cuidado mais próximo. Alguns CAPS dispõem de
leitos de observação integral (24 h), além de atividades desenvolvidas durante o período diurno. Os
leitos de observação psiquiátrica (tanto para internações breves ou mais prolongadas) em hospital
geral contam com equipe multiprofissional ao longo do dia. Entretanto, a descontinuação do
tratamento acaba promovendo o retorno dos sintomas e a emergência de novas crises. Em torno de
75% dos pacientes que abandonam a medicação apresentam piora dos sintomas no curso de 1 ano
(Liu-Seifert e Kinon, 2005).

No caso descrito, apesar do rápido diagnóstico na primeira procura a um serviço de saúde e da


indicação de tratamento, a ausência de seguimento e do uso de medicação corretos
comprometeram o sucesso terapêutico e culminaram nas internações frequentes. O entendimento
do paciente em relação à doença (insight) costuma estar prejudicado na psicose, sendo trabalho do
psicólogo hospitalar motivar e orientar o paciente ao uso correto da medicação para controle dos
sintomas e salientar a importância do acompanhamento com a equipe do Centro de Saúde ou CAPS
após a alta. Além disso, o trabalho de apoio psicológico e de escuta é um fator fundamental para o
resgate da esperança e a adesão ao tratamento, bem como para estabelecimento do vínculo de
confiança com o paciente em crise psicótica (Mueser, 2004).

É importante que o psicólogo procure identificar as dificuldades do paciente em seguir o tratamento


após as internações. O trabalho de conscientização e promoção de insight em relação à doença é um
preditor do sucesso fundamental no seguimento pós-alta.

REFERÊNCIAS:
Baptista, M. N., & Dias, R. R. (2018). Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. 3ª
edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 340 p.

OLIVEIRA, Gabriela Eustáquio; FARIA, Tayna Benko; PEREIRA, Tatiane Guimarães. A


psicologia na enfermaria psiquiátrica em hospital geral. Bol. - Acad. Paul. Psicol., São Paulo , v.
41, n. 100, p. 106-111, jun. 2021 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1415-711X2021000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 12 mar.
2023

ALMEIDA, E. C. DE .. O psicólogo no hospital geral. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 20, n.


Psicol. cienc. prof., 2000 20(3), p. 24–27, set. 2000.

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