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1.

INTRODUÇÃO

O neoliberalismo constitui-se um novo regime de acumulação do capital, capitenado pelo


Norte, como condição para sustentação do próprio capitalismo. Esse novo regime oferece ao Sul
uma possibilidade de autonomia que é maior no discurso do que na prática, uma vez que ele não
elimina as relações estruturais de dependência instauradas entre esses dois polos, antes mudando a
roupagem dessa dependência. Todavia há brechas para que as elites do Sul proporcionem algumas
mudanças estruturais internas, sim, como é o caso da China.
Os dois capítulos resenhados a seguir mostram, respectivamente, as perspectivas de Norte e
de Sul frente ao novo regime de acumulação. O que se conclui é que a redistribuição de poder, a
médio prazo, parece impossível de sair das mãos do Ocidente. A despeito disso, as elites do Sul
podem incentivar mudanças no sistema (mudanças econômicas) as quais, em última instância,
podem criar uma pressão popular para que se mude o próprio sistema (mudanças socioecológicas).

2. O CENTRO

O capítulo 9 traz cinco questionamentos, respondidos pelo próprio Biel (2007), a respeito da
função do centro capitalista dentro da atual etapa da economia política internacional.

(I) A primeira questão trata do porquê de o neoliberalismo ter-se instaurado a partir da


década de 1970. A explicação tem como base duas demandas da ideologia capitalista: (1) a
necessidade de distorcer-se a realidade, ocultando-se as relações de exploração, de modo que os
mecanismos de solidariedade entre os oprimidos se desativem; e (2) a necessidade de criarem-se
normas e identidades que determinem o papel dos agentes econômicos em dado sistema de
acumulação (BIEL, 2007: 247). No contexto da época, só o neoliberalismo atendia a essas
demandas. No que concerne à primeira delas, a ideia de livre mercado despistava o público do fato
de serem os monopólios e o capital especulativo que, efetivamente, controlavam a economia (BIEL,
2007: 248). Já em relação à segunda necessidade, o liberalismo engendrou uma cultura de
oportunidade, baseada no individualismo e no fluxo livre de agentes, a qual ajudou a minar
mecanismos de solidariedade e, consequentemente, isolou países, no plano internacional, e
indivíduos em âmbito nacional (BIEL, 2007: 248). “El liberalismo responde al achicamento de la

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empresa y el aumento de las relaciones de subcontratación creando lo que parece ser un mercado,
pero en realidad no es otra cosa que una nueva forma de control monopólico que no necesita ser
administrado de forma directa” (BIEL, 2007: 248).

(II) Além de satisfazer às demandas da ideologia capitalista, o neoliberalismo, no que se


apresentou (deterministicamente) como única alternativa, foi responsável por obnubilar os projetos
sociais concorrentes, em especial os que pensavam a agenda social a longo prazo (BIEL, 2007: 248-
249). Para isso precisou sustentar-se em uma armadura teórica, a qual, no fim das contas, “no es
nada consistente, sino antes bien un amasijo de argumentos” (BIEL, 2007: 250). Quais são eles?
Este é o segundo questionamento do autor, que identifica um tripé teórico, feito nos países centrais
sob medida para o neoliberalismo (BIEL, 2007: 250-53) e constituído por:
(a) o estruturalismo de direita — a ideia de que a economia e os agentes econômicos têm sua
ação constrangida por uma estrutura calcada no dinheiro (BIEL, 2007: 250-51). Para efeitos de
comparação, esse constrangimento se daria de maneira análoga ao que se verifica no âmbito da
interação social, em que a linguagem é o cerne da estrutura que rege as interações humanas, ou no
âmbito da política internacional, em que a busca pelo poder determina o comportamento na
anárquica estrutura internacional (BIEL, 2007: 250-51);
(b) o determinismo tecnológico — teoria cuja ideia principal é a de que “los nuevos sistemas

de management habían sido históricamente inevitables” (BIEL, 2007: 251) e a qual suscitou a
fantasia de que governar é assunto meramente técnico (BIEL, 2007: 251);
(c) o pós-modernismo — corrente a qual, segundo Biel (2007), se afasta das grandes
narrativas (para usar um termo saidiano) generalizantes, em prol da análise das pequenas diferenças

particularizantes. Desse modo, em última instância, poder-se ia obliterar a ieia de esquerda


simplesmente não a dotando de entidade, de existência, o que ocorreria mesmo em uma análise que
a criticasse (BIEL, 2007: 251).
Como se pode verificar, há muitas contradições envolvendo uma e outras partes do tripé (cf.
pós-modernismo vs. estruturalismo; pós-modernismo vs. determinismo), mas isso não se
configurava um problema grande, uma vez que “concuerdan en términos prácticos en la necesidad
negativa de demoler a los movimientos populares” (BIEL, 2007: 251) e, ao mesmo tempo,
alicerçam a construção de outras teorias-roteiros para o capitalismo. Uma dessas teorias-roteiros é o
monetarismo, instrumento pelo qual o neoliberalismo conseguiu explicar, dentro de seus interesses,
o maior impasse da teoria keynesiana: como lidar com o ciclo de comércio? (BIEL, 2007: 252-253)

(…) el keynesianismo tenía un problema, y es que no explicaba qué podría ocurrir una
vez alcanzado el pleno empleo (…). (…) Milton Friedman enfrentó estos problemas

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(…) [com a teoria monetarista], sosteniendo que los ciclos comerciales estadunidenses
estaban asociados a las fluctuaciones de la emisión monetaria. Ampliamente se lo
interpretó como si hubiese dicho que la última era causa del primero. Detrás de este
argumento aparentemente técnico, había un punto filosófico que desafiaba
secretamente las bases del keynesianismo: sostenía la necesidad de despolitizar las
decisiones económicas (…). (BIEL, 2007: 252-253)

Vista da perspectiva do fator trabalho, a ideia friedmaniana sustentava que as políticas de


busca do pleno emprego — que envolviam tolerância alta à inflação e expansionismo monetário —
seriam uma ação política prejudicial à economia. Que o próprio pleno emprego seria antinatural,
uma vez que sempre haveria uma “tasa ‘natural’ de desempleo” (BIEL, 2007: 253). Entrementes sua
política monetarista só funcionou mesmo, baixando a inflação dos EUA, porque, ao transferir mais
poder ao capital, “los intereses corporativos no encontraron necesario sostener sus ganancias por
medio de subas de precio oligopólicas” (BIEL, 2007: 253).

(III) O terceiro questionamento é sobre se haveria coerência social no liberalismo pregado


pelos países centrais. Em outras palavras, haveria um número suficientemente grande de pessoas
que se identificam com o sistema, bem como um controle social do mesmo? Para Biel (2007), o
neoliberalismo tenta, sim, recompensar em troca de apoio. Mesmo sem o pleno emprego o consumo
não necessariamente decai, ajudado por um mercado mais estreito e segmentado (BIEL, 2007: 255).
Além disso, tenta compensar a extinção de serviços gratuitos e as políticas recessivas de combate à
inflação com seguridade social. A seguridade, aliás, parece algo caro para o sistema, mas é
extremamente vantajosa para o mesmo: justificando a redução de benefícios na alegação de
priorizar os mais necessitados e impulsionando que se tome qualquer trabalho para não cair na vil
condição de marginalizado, criam-se as condições-base para se ter economia flexível e mão de obra
barata nos países centrais (BIEL, 2007: 255). “Para el Norte es importante tener este tipo de
economía dentro de sus proprias fronteras, ya que implica que el Sur no podrá imponer rentas
monopólicas sobre su mano de obra barata y sus malas condicione de trabajo” (BIEL, 2007: 255).
Agora, essa coerência está longe de ser firmemente cimentada. No keynesianismo, as
pessoas toleravam a desigualdade porque essa teoria incorporava um caráter etapista, linear (BIEL,
2007: 256). Quer dizer, o sistema geraria, inicialmente, alguma desigualdade, em prol da
acumulação de capital necessária para se renovar ou criar indústrias e infraestrutura, mas logo, com
a transição para a indústria voltada para o consumo, a desigualdade seria superada. A despeito de
este modelo, chamado modelo de Kuznets, ter-se provado errado, o neoliberalismo não tem nada
parecido para justificar a desigualde. Isso, como profeticamente apontou Biel (2007), pouco antes
da crise geral do Norte, em 2008, fragiliza o sistema, gerando crises agudas em épocas de baixa.

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IV. O quarto questionamento explora a criação de uma agenda internacional por meio da
qual os países centrais controlam o sistema. Isso implica, sobretudo, uma redefinição das bases da
política de desenvolvimento, que, se no keynesianismo, calcava-se na industrialização interna
gerida fortemente pela mão do Estado, agora, deveria coadunar-se com o Estado mínimo, que não
atrapalhasse a internacionalização da produção (BIEL, 2007: 256-257) — e essa, por sua vez,
deveria ocorrer sem levar a que o Norte perdesse poder econômico elativo para o Sul (BIEL, 2007:
260). Para alcançar tais metas, apesar do discurso econômico liberal, o fato é que o Ocidente adotou
um modelo intervencionista, copiado do Japão. “La premisa central de este nuevo pensamiento fue
que, dado que los mercados no son realmente libres, las decisiones efectivas son aquellas que toman
los actores poderosso (las corporaciones y los estados) (…). De hecho, hubo que recnocer que los
actores económicos construían su propia ventaja comparativa” (BIEL, 2007: 261-262).

V. O quinto e último questionamento de Biel (2007) não tem tanto a ver com a instauração
do neoliberalismo pelos/nos países centrais, mas ao estado-da-arte do capital especulativo. Estaria
esse fora de controle? Tudo leva a crer que sim, e há muito tempo. Já em meados dos anos de 1980,
somente o mercado do eurodólar (ativo sem respaldo na economia real) movimentaa um volume
vinte e cinco vezes maior do que o do comércio mundial (BIEL, 2007: 264). Tudo isso graças aos

EUA, que, no contexto da reagonomics, marcada por boom consumista sem produção interna
equivalente, acabava importando muito dos demais países do Norte, gerando um excedente enorme
de capital, que se deslocava para o setor financeiro.
Com esse deslocamento, um paradoxo surgiu: “Para poder fortalecer a la ‘economía real’
(…) en el equilibrio de poder con el financiero, el estado debe ceder a sus demandas, eliminando, de
ser preciso, las restricctiones al crecimiento de monopolis. (…) ahora, la hora del neoliberalismo,
que supuestamente iba a marcar el triungo del libre mercado, no significó otra cosa que su
desapararición” (BIEL, 2007: 265). O mundo produtivo agora é das transnacionais.
A última consideração trata de que o alto grau de internacionalização do capital especulativo
já não permite ao mercado reverter problemas estruturais, como fazia no passado, estimulando o
deslocamento de capital de um setor para outro, na dinâmica de compensação de déficit da balança
comercial. Agora, a especulação acaba gerando movimentos pró-cíclicos que descambam em más
profecias autorrealizáveis (BIEL, 2007: 267). Esse desenfreio do capital especulativo é causa da
debilidade relativa do poder dos países centrais — cujo prestígio residia, justamente, no fato de
controlarem o capital. Por ora, a conjuntura ainda faz com que o Sul sempre seja mais afetado, mas
Biel (2007) crê que, quando a estrutura de acumulação atual começar a cair, o Norte perderá a

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capacidade de se proteger — o que, novamente, revelou-se profético de sua parte, haja vista a atual
crise do sistema.
A luta do Norte é encontrar um mecanismo político que controle os fluxos de capital ao
redor do mundo.

3. A PERIFERIA

O décimo capítulo de Biel (2007) foca, especificamente, os países asiáticos recentemente

industrializados, que o establishment aponta como role-models para o restante da periferia. Se é


certo que esses países passaram por mudanças reais, o que mudou com efeito não correspondente
necessariamente ao que deveria ter mudado, de acordo com as teorias do desenvolvimento (BIEL,
2007: 269).
Deve-se notar que os países recentemente industrializados trouxeram benefícios para o
capitalismo global. Uma vez que “el capital internacional y los países recientemente
industrializados se desarrollan de manera simbiótica” (BIEL, 2007: 275), esses países criaram
estruturas, supostamente de desenvolvimento nacional, que serviram localmente ao processo de
acumulação global (BIEL, 2007: 269) — ajudando a reestruturar o processo de acumulação de
capital (BIEL, 2007: 270). Tal aparato estrutural, com efeito, não tinha nada a ver com o processo
de substituição de importações — um modelo que, na verdade, serviu à transição do colonialismo
para o imperialismo (BIEL, 2007: 272). A estrutura escolhida, no atual estágio, foi o modelo de
promoção das exportações dos países recentemente industrializados (BIEL, 2007: 272).
Por que esse modelo? Ora, se por um lado o desenvolvimento capitalista não pôde evitar
entrar em contato com a Ásia, por outro lado o Ocidente temia que a produção se deslocasse toda
para lá, deixando-lhe apenas a renda dos lucros e o risco de uma dependência tão forte que
derrubaria o Ocidente de sua posição. Era preciso, assim, encontrar um modo de minorar esse risco.
E o Norte encontrou-o, sim. Há, na promoção das exportações dos país recentemente
industrializados, dois aspectos favoráveis aos países centrais:
Primeiro — o fantasma de uma Ásia industrializada obrigou os sindicatos de comércio do
Norte a aceiteram práticas de trabalho flexíveis, benéficas para o capital (BIEL, 2007: 272).
Segundo — os países recentemente industrializados se tornaram área de inversão do Norte.
Note-se que nos, anos de 1970, o capital do Norte entrou no Sul predominantemente como
empréstimo. Já nos anos de 1990, esse fluxo se plasma em investimento estrangeiro direto na
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capacidade produtiva (BIEL, 2007: 273-4). “Esa forma de inversión ha fortalecido el suministro de
mercancías baratas que el Norte necesita, a la vez que asegura, con los retornos de la inversión, que
las ganancias generadas por la mano de obra barata se las lleve el Norte y no permanezcan en el
Sur, donde pudieran fomentar un desarrollo verdaderamente autónomo.” (BIEL, 2007: 273)
Com efeito, “[e]l Norte fue muy selectivo con los países elegidos para invertir estos
recursos: tenía en miras a un grupo de países recientemente industrializados que parecían posibles
relevos en el proceso de acumulación global, y virtualmente ignoró al resto del Sur” (BIEL, 2007:
274). Nesse contexto, explica-se o dinamismo dos Tigres Asiáticos. Sem a experiência positiva
asiática, o teoria dos países recentemente industrializados não teria se estabelecido. E essa
experiência foi positiva porque alguns países asiáticos conseguiram acumular localmente parte do
valor agregado produzido por sua mão de obra barata e, ao menos temporariamente, em alguns
casos, conseguiu-se evadir a pobreza extrema (BIEL, 2007: 287), graças a condições especiais na
economia — fomento de produção de bens baratos, com capital Ocidental e japonês — e na política
— a Guerra Fria. Beneficiaram-se, primeiro Taiwan e Coreia do Sul e, depois, como desdobramento
da Guerra do Vietnã, a Indonésia. Esses países receberam muito dinheiro e tiveram permissividade,
sempre excepcionalmente, para combinar promoção de exportações com proteção da economia
interna (BIEL, 2007: 288). O papel do Estado, note-se, foi neles muito importante, para proteger
indústrias e promover as exportações. O que sucede é que o Estado, aí, teve um papel não só

quantativamente maior, mas também qualitativamente distinto na economia política, deixando


princípios abstratos pela realidade política (BIEL, 2007: 288). Todavia o caráter temporáro das
circunstâncias que permitiram o desenvolvimento desses países ilustram sua dependência (BIEL,
2007: 292).
Note-se que, a despeito da seletividade do fenômeno dos países recentemente
industrializados, seus efeitos ideológicos ecoaram em todo o mundo em desenvolvimento (BIEL,
2007: 276). A principal função dessa ideologia é “promover una cultura del desarrollo indivudal con
el fin de desactivar el movimento del tercer mundo” (BIEL, 2007: 276). “La noción del país
recientemente industrializado ayuda a fragmentar al tercer mundo en distintas categorías (…) que se
supone tienen distintos intereses” (BIEL, 2007: 277). As elites do Sul caíram nessa armadilha
porque é mais fácil agarrar a oportunidade de ser opressor do que enfrentar o desafio hercúleo de
acabar com a opressão. Mas, segundo Biel (2007), essas mesmas elites são a força do Sul capaz de,
agora, dar uma guinada no jogo. Biel (2007) acredita que elas se poderiam aproveitar da debilidade
dos mecanismos de controle do Norte, no âmbito do atual modelo, a fim de ganhar algum grau de
autonomia real para seus países (BIEL, 2007: 270).
Essse argumento se baseia em dois fatos. Primeiro, na constatação de que o sistema de
informação global é caótico a ponto de que, provavelmente, não seja controlado de modo
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centralizado, como a velha economia. Nesse contexto, no qual o capital não consegue se organizar
melhor, as elites do Sul quiçá tenham abertura pra agir. (BIEL, 2007: 303). Segundo, a dependência
do Sul não é um vetor unidirecional, mas um fenômeno dialético (BIEL, 2007: 303-4): “(…) centro
y periferia se desarrollan de un modo relacionado, a medida que exploran las alternativas del
proceso de acumulación global. En este sentido, el desarrollo de estrategias exploratorias por parte
del Sur no es únicamente una posibilidad sino también una necesidad del sistema en su conjunto”
(BIEL, 2007: 304). Nesse contexto, é preciso estar atento à China, um pivô para a atual conjuntura.
Segundo Biel (2007), embora ela não possa desencadear uma redistribuição de poder decisiva,
pode significar uma ruptura do sistema de acumulação global.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prova de que a dependência é fato e de que crises no Sul podem abalar o Norte provou-se
nos anos de 1990, na crise asiática, engendrada pelo fim das condições favoráveis à região e
agravada pelo capital especulativo. No momento em que Biel (2007) escreve, o Norte tentava-se
ilhar dos efeitos da crise, embora ele não visse efetividade nisso: “es posible que el mundo
industrializado se vea obligado a ahacer sacrificios para senar ciertos países recientemente
industrializados a fin de impedir la destrucción que pudiera causar su colapso” (BIEL, 2007: 318).
Biel (2007) aponta que há crises que ocorrem dentro do regime de acumulação e há crises

do regime (BIEL, 2007: 325). Estas só se resolvem por mudanças fundamentais. A crise dos anos

90 seria uma crise do regime, daí seus efeitos deletérios sobre o Norte: punha em xeque todo o
sistema capitalista. Qualquer otimismo de ruptura, contudo, é contrabalançado com a constatação de
que, outraz vezes, já pareceu que o capitalismo parecia atravessar um impasse estrutural, e ainda
assim ele encontrou jeito de lograr êxito.
Um êxito parcial, diga-se de passagem.
Parcial, porque as crises teriam sido superadas em termos estritamente econômicos, sem que
se resolvesse o problema da garantia de futura base de desenvolvimento do sistema — a parte
“socioecológica” da crise (BIEL, 2007: 328). Essa parte, alega Biel (2007), não se resolve pela
mera passagem para um novo regime de acumulação.
Em se tratando de resolver a faceta econômica da crise, Biel (2007) convoca as elites do Sul
a agirem: “Quizá presionadas desde abajo, las élites pudieran ejercer presión para obtener

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concesiones que, si bien no tendrian por qué ser incompatibles con el capitalismo internacional
como um todo, bien podrían serlo con el régimen actual.” (BIEL, 2007: 327). Ele crê, contudo, que
a faceta socioecológica só se resolverá mediante uma fonte de ação: as forças populares. Essas, por
sua vez, seriam impelidas a exercer pressão e a demandar ação quando um novo regime de
acumulação, forjado para sair da faceta econômica de determinada crise, alcançasse certo patamar
de efeitos negativos para com os povos.
Com efeito, Biel (2007) via a chegada a esse patamar como consequência da solução da
crise dos anos de 1990. Mas não ainda. Não.
Ainda.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BIEL, Robert. El nuevo imperialismo: crisis y contradicciones en las relaciones Norte-

Sur. México: Sigo Veintiuno Editores, 2007, pp. 247-328.

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