Você está na página 1de 2

Compreender as proposições das políticas públicas ao que diz respeito a pessoas

trans, vem se tornando cada vez mais importante para a sociedade atual, visando
principalmente as mudanças que ocorreram por meio de lei para assegurar o direito
dessas pessoas as quais ainda são desamparados perante a sociedade em que
vive. Vivenciamos um momento histórico, no qual as populações trans lutam e
reivindicam por seus direitos, no entanto, há uma crescente corrente na qual a
sociedade vem estereotipando e classificando esses indivíduos como
patologicamente doentes, criando termos como a cisgeneridade em contraponto a
transgeneridade, assunto que será abordado mais adiante. É relevante salientar,
que até meados de 2018, a Organização Mundial da Saúde(OMS) abordava
pessoas trans no capítulo de transtornos mentais, sendo assim podemos concluir
que está é uma luta recente, a qual no Brasil as políticas públicas começaram a ser
mudadas por exemplo em meados de 2008, por meio da Portaria nº 1.707/GM/MS e
da Portaria nº 457/SAS/MS, a qual começou a incluir o processo transexualizador no
Sistema Única de Saúde (SUS), anos mais tarde em 2011, foi intitulado o Plano
Nacional de Saúde Integral a LGBTs o qual visava promover um atendimento
universal, integral, e equitativo a saúde LGBTs, princípios esses que já são bases do
SUS ofertada a toda a população, mas mesmo assim ainda há um afastamento de
pessoas trans dos serviços de saúde, muitas vezes por medo ou receio.
Em outra direção, após abordado toda essa questão política e de dificuldade para o
atendimento desses, é relevante ressaltar um tema já abordado, o conceito criado
para designar pessoas trans como doentes, sendo então considerado algo
patológico. Nesse sentido, é contestado o conceito de transgeneridade e
cisgeneridade. A cisgeneridade, pode ser compreendida como uma forma utilizada
pela sociedade para ser antagonista de transgeneridade, Ou seja, o que é entendido
por erro, é tudo aquilo que está fora da cisgeneridade, se tornando ao olhar da
sociedade como patologias, sendo assim a cisgeneridade pode ser entendida como
a condição da pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído durante
seu nascimento, entretanto há um equívoco aqui, já que pessoas cisgeneras não
necessariamente tem que ser héteras, ela pode nascer sendo homem, se vestir
como homem, mas sentir atração pelo mesmo sexo. A cisgeneridade, abordada pela
professora Viviane Vergueiro, pode ser compreendida e estudada a partir de três
conceitos o pré-discursivos, binaridade e permanência. A pré-discursividade
segundo Vergueiro, seria a compreensão coletiva disseminada de que há
características¨naturais¨ e traços anteriores ás conformidades da cultura no sentido
das identidades de gênero,já a binaridade defende o conceito de homens/macho e
mulheres/fêmea, defendendo então o conceito de normalidade¨. Por fim Viviane
conceitua permanência sendo uma coerência na autodefinição da cisgeneridade,
sendo assim qualquer coisa que saia desse pressuposto, foge novamente da
¨normalidade” sendo considerado algo patológico. Após essa breve apresentação de
cisgeneridade, trazemos a transgeneridade como algo oposto ao cisngênero,
trazendo o conceito do latim, cis quer dizer “deste lado” e “trans” é traduzido como
“do outro lado”.

Desse modo, há uma categorização teórica e política que visa desnaturalizar as


concepções vigentes levando a colocar as pessoas trans como diferentes. A
transgeneridade vem ser então o oposto, sendo compreendido como uma condição
de gênero diferente daquela estabelecida após o nascimento, é muito grave essa
oposição criada, um verdadeiro preconceito e desrespeito pois leva a uma
consideração de patologia não só no Brasil mas em todo mundo.

FONTES:
BAGAGLI, Beatriz Pagliarini. A diferença trans no gênero para além da patologização. Revista
Periódicus, v. 1, n. 5, p. 87-100, 2016.

MODESTO, Edith. Transgeneridade: um complexo desafio. Via Atlântica, n. 24, p. 49-65, 2013.

VERGUEIRO, Viviane. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma
análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. Repositório. Salvador 2015.
VIEIRA, Erick da Silva et al. Psicologia e políticas de saúde da população trans: encruzilhadas,
disputas e porosidades. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 39, 2020.

Você também pode gostar