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DECLARAÇÃO DE HONRA................................................................................................................i
DEDICATÓRIA.....................................................................................................................................ii
AGRADECIMENTOS..........................................................................................................................iii
Resumo..................................................................................................................................................iv
Abstract..................................................................................................................................................v
1. Introdução.........................................................................................................................................1
1.2. Delimitação do Tema.......................................................................................................................3
1.2.1. Delimitação Temporal..................................................................................................................3
1.3. Justificativa......................................................................................................................................3
1.4. Objective Geral................................................................................................................................4
1.4.1. Objectivos Específicos..................................................................................................................4
1.5. Relevância do Tema.........................................................................................................................5
1.6. Problematização..............................................................................................................................5
1.7. Hipóteses.........................................................................................................................................7
CAPÍTULO II: Fundamentação Teórica...........................................................................................8
2.1. Gestão.............................................................................................................................................8
2.2. Ciclo de Gestão................................................................................................................................9
2.3. Sustentabilidade..............................................................................................................................9
2.4. Características da Agricultura familiar...........................................................................................10
2.4.1. Armazenamento de grãos..........................................................................................................13
2.4.1.1. Armazenamento em Silos........................................................................................................13
2.4.1.2. Armazenamento em Celeiros..................................................................................................14
2.4.2. Factores que contribuem para a perda de grãos em Armazém..................................................15
Capítulo III :Aspectos Metodológicos...............................................................................................17
3. Opção metodológica........................................................................................................................17
3.1. Amostra dos Participantes.............................................................................................................17
3.2. Técnicas de recolha de dados........................................................................................................18
3.3. Modelo de Análise de dados.........................................................................................................18
3.4. Localização geográfica da área do estudo.....................................................................................18
3.5. Características físico-geográficas no posto administrativo de Zembe...........................................19
3.5.1. Factores de que depende a Agricultura praticada em Zembe....................................................19
3.5.2. Geologia, solos, relevo e hidrografia..........................................................................................19
3.5.3. Clima...........................................................................................................................................20
3.6. Características demográficas do posto administrativo de Zembe.................................................20
Capítulo IV :Apresentação e análise de dados.................................................................................21
4.1. Características gerais da agricultura..............................................................................................21
4.1.2. Campos Agrícolas.......................................................................................................................21
4.2. Culturas mais predominantes........................................................................................................24
4.3. Dados de produção de grãos nas últimas duas épocas..................................................................24
4.4. Formas de Gestão da produção agrícola no período pós-colheita................................................25
4.4.1. Tratamento.................................................................................................................................25
4.4.2. Armazenamento.........................................................................................................................26
4.4.3. Consumo e comercilaização.......................................................................................................27
4.5. O papel do Governo local na gestão da produção de grãos no período pós-colheita...................27
4.6. Principais factores naturais da perda de grãos..............................................................................28
4.7. Finalidade da Produção.................................................................................................................29
4.8. Nível de produção e uso de grãos nas duas campanhas agrícolas.................................................30
Capítulo V: Discussão de Dados........................................................................................................31
4.3. Análise do grau de sustentabilidade da gestão da produção no período pós-colheita.................31
Conclusões e sugestões........................................................................................................................33
Sugestões..............................................................................................................................................34
Bibliografia..........................................................................................................................................35
DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Otília Ciriro Filimone, declaro que este trabalho é resultado da minha investigação pessoal
e das orientações do meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas
estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção
de qualquer grau académico.
______________________________
i
DEDICATÓRIA
Em especial
Ao meu esposo Nicholas Muchai, meus filhos Nicolleta Muchai, Nicotélio Muchai, Nicholas
Muchai, Nicolay Muchai e a minha sobrinha Nhacha Simão.
ii
AGRADECIMENTOS
iii
Resumo
O principal objectivo deste trabalho é avaliar o nível de sustentabilidade da produção de grãos no período
pós-colheita no posto Administrativo de Zembe, distrito de Macate, província de Manica entre as
campanhas 2013-2014 e 2014-2015. O campo de estudo é uma das referências na produção agrícola na
província de Manica, principalmente de grãos que nas últimas campanhas agrícolas registou falta de
alimentos e da semente. Para avaliar o nível de sustentabilidade da produção de grãos foi feita a
caracterização do tipo da agricultura praticada no local, a identificação das culturas mais prodominantes e
os sistemas de conservação, os mecanismos de gestão usados pelos agricultores e a comparação dos
níveis de produção nas duas campanhas. A agricultura praticada em Zembe é de tipo tradicional destinado
a subsistência familiar e depende das condições naturais, com maior destaque para a chuva. As culturas
mais dominantes são o milho e feijões, sendo também cultivada a mapira, amendoim e gergelim em
quantidades muito ínfimas. A análise dos dados deste trabalho mostra que nas duas campanhas em
análise, apesar de ter havido baixa produção devido a chuvas abundantes e falta destas, os agricultores
venderam a maior parte (>65%) da produção e tiveram que recorrer a compra dos alimentos e da semente
para garantir a campanha seguinte. Com base nestas constatações, o autor conclui que a gestão da
produção de grãos no período pós-colheita é insustentável.
iv
Abstract
The main goal of this research is to assess the sustainability of grains’ production management
during the post-harvest period in Zembe village, Macate District, Manica province between the
agricultural periods of 2013-2014 and 2014-2015. The case study is one of the best grain
producers in Manica province, but during the both periods mentioned above it registered lack of
food and seed. To assess the level of sustainability of grains’ production management there were
characterized the type of farming most common in the local, the sort of grains grown
predominantly, the systems of conservation used to keep the grains after harvest, its mechanisms
of management and the comparisons of the level of production between the two agricultural
periods in analysis. The evidence found in the local of study show that the farming system is
mostly traditional which is intended for family support and depends on climate conditions with
most focus on rainfall. The most grown grains are maize and beans, but there are also grown
other grains such as sorghum, peanuts and sesame in small quantities. The final analysis shows
that the two agricultural periods mentioned above, although characterized by low production due
to high rainfall and lack of rainfall during the both periods, the farmers sold over 65% of their
production and, before the following seeding and harvest periods, they started to buy grains for
seeding and for food. Due to these data, the final conclusion is that the grains’ production
management during the post-harvest period in Zembe is unsustainable.
v
INTRODUÇÃO
Uma produção agrícola dependente das condições naturais, onde a incerteza sobre o sucesso
da próxima época agrícola é maior, e onde a comunidade não tem informação sobre as
técnicas da administração racional da sua producão torna o processo de gestão bastante
insustentável. Gestão sustentável é aquela que deve usar técnicas científicas de gestão e virada
para o futuro. A forma de gerir a produção agrícola, “é particular a cada agricultor e
caracteriza (...) a metodologia que usa para tomada de decisão e os critérios que considera
como definidores de qual decisão tomar”, (Maria, 2010, p.15).
O presente trabalho pretende avaliar o nível de sustentabilidade da gestão da produção
agrícola no período pós-colheita do posto administrativo de Zembe. Para alcançar este
objectivo, são identificados neste trabalho factores determinantes da agricultura praticada
neste povoado; as formas como os camponeses do posto administrativo de Zembe fazem
gestão dos seus produtos agrícolas no período pós-colheita, tendo como base as últimas duas
colheitas e por fim faz-se uma análise do nível de sustentabilidade da gestão da produção
agrícola feita pelos camponeses do posto administrativo de Zembe no período pós-colheitas.
O terceiro Capítulo irá explicar a metodologia usada para a realização do trabalho desde o
levantamento bibliográfico, a observação dos fenómenos ligados ao tema, os instrumentos
usados para a pesquisa até o processo de análise e interpretação dos dados.
O quarto capítulo irá representar o ponto fulcral deste trabalho, na medida em que é aqui que
ocorre a organização dos dados para dar forma e significado consoante os objectivos
1
previamente traçados. Este capítulo apresenta os resultados finais deste trabalho moldados a
partir dos dados recolhidos no terreno.
O quinto é o último capítulo deste trabalho, onde são apresentadas as conclusões e sugestões
do trabalho, juntamente a confirmação ou refutação das hipóteses antes apresentadas. Foram
também apresentadas as limitações metodológicas enfrentadas para a aquisição de dados no
terreno e na revisão bibliográfica.
2
1.1. Tema: Gestão sustentável da produção de produção agrícola no período pós-colheita
no posto Administrativo de Zembe, Distrito de macate – caso de grãos
Para Lakatos e Marconi (2003, p.162) “delimitar a pesquisa é estabelecer limites para a
investigação”. Esta pesquisa será delimitada em dois níveis: delimitação temporal e física.
Desde o levantamento de dados passando pela análise e intepretação até a redação definitiva e
defesa, este trabalho irá levar seis (06) meses, compreendendo os meses de Agosto, Setembro,
Outubro, Novembro, Dezembro e Janeiro.
1.3. Justificativa
O presente estudo foi levado a cabo partindo de princípio que, a agricultura, para além de ser
a base da economia de Moçambique, constitui a fonte de renda e a base de segurança
alimentar para cerca de 80% da população. O posto administrativo de Zembe é considerado
como um dos maiores produtores de cereais e grãos na província de Manica.
A gestão da produção agrícola enquadra-se num dos desafios do governo – a luta contra a
pobreza absoluta – que ainda assola muitos moçambicanos. Porém, para além de se tratar de
um problema que preocupa sobre maneira ao governo e as comunidades rurais, ainda não
mereceu um estudo académico profundo. A maior parte das obras disponíveis sobre o assunto
constituem programas, relatórios, estratégias feitos maioritariamente pelo governo. Apesar de
estes documentos reconhecerem a necessidade de se prestar mais atenção à agricultura e
desenvolvimento rural, pelo facto de ser nas zonas rurais onde mais se concentra esta
actividade, caracterizada por englobar mais de 3 milhões de população do sector familiar, os
3
mesmos não abordam o problema de gestão da produção no período pós-colheita nas zonas
rurais. Por outro lado, apesar de o governo, na área de desenvolvimento rural ter vindo a
desenhar planos de acção para garantir o incremento das oportunidades geradoras de
rendimento no sector familiar através da implementação de avanços agrários que estimulem o
aumento da produtividade e acesso aos mercados, os seus resultados têm sempre redundado
no fracasso.
Os resultados deste estudo serão bastante úteis para várias comunidades rurais que enfrentam
o mesmo problema de ineficiência na gestão de grãos. Este trabalho irá ajudar também as
autoridades dos sectores agrícola e comercial a nível local a perceber as reais causas por de
trás da gestão insustentável com vista a melhorar das suas estratégias e ações de combate à
insuficiência alimentar nas zonas rurais através da promoção de uma gestão mais eficiente de
grãos no período pós-colheita. Aos académicos, este trabalho irá servir de mais uma fonte
bibliográfica disponível para a consulta ou para o melhoramento deste estudo e
fundamentação de outros trabalhos científicos relacionado com este.
4
1.6. Problematização
Cerca de 80% da população depende largamente da agricultura como sua principal fonte de
sustento e cerca de 73 por cento da população vive em áreas rurais (Zavale et al, 2011). Assim
como acontece em quase todo o país, a agricultura no posto administrativo de Zembe depende
das condições naturais, como é o caso das chuvas. Esta situação coloca a população cada vez
mais numa incerteza em relação a próxima época, principalmente em momentos de chuvas
intensas.
A produção1 agrícola é bastante indispensável na medida em que a expansão de actividades do
sector secundário e terciário nas zonas rurais é bastante lento e as comunidades residentes
nestas zonas vêem a agricultura como a única solução para a sua sobrevivência. Porém, a
população do posto administrativo de Zembe, apesar das boas colheitas mercê ao clima e
solos favoráveis à prática da agricultura na província de Manica, não conseguem gerir a
produção de grãos durante o período pós-colheita, o que faz com que até a outra época da
sementeira, estas não tenham mais excedentes para a sementeira nem produtos para o
consumo. Por outro lado, nota-se um desperdício da produção agrícola que vem a desaguar no
rápido esgotamento das reservas dos agricultores antes da outra época de colheita nem da
sementeira agrícolas.
Por outro lado, nota-se que as comunidades rurais quantificam as suas colheitas usando
métodos e instrumentos tradicionais (armazenamento em celeiros sem que conheçam o
volume total do mesmo) que tornam cada vez mais difícil o controlo dos gastos da sua
produção durante a época pós-colheita.
A problemática de gestão da produção de grãos após a colheita constitui uma das grandes
preocupações do governo de Moçambique, na medida em que este gasta muito dinheiro por
1
Produção neste trabalho significa o resultado final de uma actividade, obra produzida ou produto. (Dicionário
Integral da Lingua Portuguesa: 1213)
5
ano para apoio em sementes e alimentos às comunidades rurais pelo facto de estes terem
esgotado a produção anterior ou assolados pelas calamidades naturais. Os apoios dados pelo
governo não são acompanhados por um processo de monitorização para que as comunidades
adoptem métodos de gestão fáceis de controlar a quantidade produzida, o seu consumo e a
quantidade a ser poupada para as outras épocas da sementeira e da colheita.
Face a isto, os camponeses, influenciados pela maior procura dos produtos agrícolas e pelo
dinheiro, são comovidos a vender a maior parte da sua produção, ficando cada vez mais
vulneráveis à fome e, como não tem outros rendimentos para a compra de sementes para
época a seguir, acabam por ficar na esperança do apoio do governo que nem sempre se
concretiza.
Até que ponto a gestão da produção de grãos feita pelos agricultores do posto
administrativo de Zembe no período pós-colheita é sustentável?
6
1.7. Hipóteses
7
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Muitos académicos modernos acreditam que uma gestão acompanhada pelo princípio de
sustentabilidade torna o trabalho mais eficiente, na medida em que há uma participação
consciente das pessoas nas decisões sobre a orientação e planeamento do seu trabalho. Neste
capítulo são discutidas ideias de diferentes autores sobre as teorias de gestão e
sustentabilidade, as políticas agrárias em Moçambique e os problemas da gestão sustentável
na agricultura familiar. Como forma de aprofundar mais a compreensão dos termos chaves
aplicados neste trabalho faz parte deste capítulo a apresentação de conceitos operacionais.
2.1. Gestão
Apesar de a gestão ser um processo muito antigo e universal ainda não se chegou a um acordo
sobre uma definição única e consensual. O Dicionário Integral da Língua portuguesa (2008,
p.778) define Gestão como “acto de gerir; gerência; administração; direcção”.
Rocha (2006, p.2) conceitua “gestão como o processo de se conseguir obter resultados (bens
ou serviços) com o esforço dos outros.” Isto não significa que o gestor manda e outros
cumprem, embora seja o que muitas vezes acontece, mas sim significa que pessoas são
recursos indispensáveis para se atingir resultados 2. Além da orientação e coordenação, Rocha
(op.cit:3) afirma que “a gestão implica também a afectação e controlo de recursos
financeiros e matérias.”
Taylor citado por Grilo (1996, p.21) orienta que a “organização do trabalho se inicie com
análise científica, de forma a encontrar as melhores metodologias para executar cada
tarefa”. O processo de gestão deve ser mais abrangente e aberto para permitir maior
colaboração e interdependência com outros sistemas. Bertalanffy citado por Grilo (op.cit.,
p.29), na sua teoria geral de sistemas apresenta dois tipos de sistemas: Sistema Fechado e
2
concepts of management.pdf disponível em http://whqlibdoc.who.int/publications/9241544260_part1_chp1.pdf
8
Aberto. “Um sistema fechado não tem qualquer relação com o respectivo ambiente, enquanto
um sistema aberto estabelece uma inter-relação com aquilo que o rodeia.”
O processo de gestão só se torna eficiente quando forem seguidas de forma contínua todas as
fases que compreende o ciclo de gestão, isto é, ela começa desde a fase da entrada da matéria-
prima até á saída do produto final. Para Gomes et al (2008, p.13) o ciclo de gestão divide-se
em três fases: “planeamento, implementação e controlo.” Porém, Rocha (2006, p.7) e Boddy
(2002, p.16) aprofundam mais, baseando-se no modelo moderno do ciclo de gestão que
apresenta quatro fases, funções ou tarefas: “planejar, organizar, dirigir (liderar) e controlar.”
Neste contexto, a gestão é a tarefa de planificar, organizar, liderar e controlar o uso de
recursos com vista a alcançar objectivos pretendidos.
O processo de gestão da produção agrícola referido neste trabalho engloba todas as fazes após
a colheita, desde o armazenamento, consumo, comercialização (incluindo outros mecanismos
de troca) e garantia de excedente agrícola.
Lundin, Leven e Germani (2004, p.15) entendem Eficiência como um processo através do
qual se consegue melhores resultados com a mesma quantidade de recursos, ao passo que a
Eficácia é a capacidade de produzir o efeito desejado. Taylor considera que a maximização
dos rendimentos depende da maximização da eficiência, quer dos trabalhadores quer de
empresários. Grilo (1996, p.29)
2.3. Sustentabilidade
Apesar de muitos autores apresentarem uma definição bastante ligada às ciências ambientais e
ecológicas, pelo facto de este ser o campo dos primeiros estudos teóricos, hoje a
sustentabilidade é também discutida em outras disciplinas, como Economia, Sociologia,
Filosofia, Política de Direito (Bacha et al, 2010, p.5). O termo sustentabilidade veio ao
público pela primeira vez com o lançamento da obra “Os limites de Crescimento”
desenvolvido por Meadows et all em 1972, que foi bastante debatido na Conferências das
Nações Unidas sobre o Homem e Ambiente, (Santos et al, 2008, p.4) (Jenkins, s.d, p.381).
Entretanto, é importante salientar que ainda é difícil ter uma definição da sustentabilidade
separada do desenvolvimento, isto é, o “desenvolvimento sustentável.” O Relatório de
9
Bruntland (1987) citado por Santos et al (ibidem) define Desenvolvimento Sustentável como
“aquele que garante a satisfação das necessidades do presente, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias necessidades.” Para Rezende
(s.d, p.7) sustentabilidade refere-se “a capacidade de manter algo constante, ou estável, por
longo período.” A primeira e segunda definição mostram que a sustentabilidade tem sempre
uma visão futura. Na gestão da produção agrícola é importante considerar que as necessidades
presentes em relação aos alimentos não podem pôr em causa às necessidades futuras, na
medida em que muitas comunidades rurais dependem apenas de uma fonte de rendimento que
é a Agricultura. Assim, torna-se imperioso fazer um consumo, comercialização e poupança
baseada em métodos científicos, para que a quantidade produzida garanta a satisfação das
necessidades das comunidades até a outra época de colheita.
Gonçalves e Souza (2005 citado por Tinoco, 2006) define propriedade familiar como sendo
“o imóvel que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda
a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área
máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda
de terceiros”.
10
influenciadas pelomeio (...), representando um traço a ser mantido pelos sucessores
familiares (...).” A outra característica da Agricultura familiar e a pluriatividade que consiste
na integração de famílias rurais “em outras actividades ocupacionais, combinando-as com a
atividade agrícola” (Schneider, 2003, p.112). Na verdade, os agricultores familiares ocupam-
se também da pesca, da criação de gado, da olaria e de outros trabalhos a exploração da
natureza.
Existe uma grande diferença entre um agricultor familiar e um agricultor empresarial, que se
fundamenta no modus vivendi e objectivos de cada um. Franklin (citado por Finatto &
Salomoni, ibidem) diz que:
“Uma das principais diferenças entre o produtor familiar e o empresário capitalista é que o
primeiro precisa produzir, de certa forma, independentemente do mercado, pois ele e sua
família vivem dos produtos da terra, enquanto que o segundo pode decidir mais livremente
onde e como investir seu capital. Ao mesmo tempo, enquanto que o empresário capitalista
pode despedir empregados considerados ‘excedentes’, numa lógica de racionalização
econômica, o produtor familiar não pode fazer o mesmo com seus trabalhadores, membros de
sua família: seu comprometimento de trabalho pode ser considerado como total; seu objetivo é
maximizar a utilização de trabalho em lugar de maximizar o lucro ou algum outro indicador de
eficiência.”
11
“O futuro da agricultura familiar depende, de forma crucial, da capacidade e da possibilidade
de os agricultores familiares aproveitarem e potencializarem oportunidades decorrentes das
possíveis vantagens associadas à organização familiar da produção e, ao mesmo tempo,
neutralizarem ou reduzirem desvantagens competitivas que enfrentam em função da dotação de
recursos, em particular as associadas à escala.”
A Agricultura familiar não desempenha um papel isolado na economia actual, pois ela vai
evoluindo consoante as exigências do momento. Para Chayanov (citado por Finatto e
Salomoni, op.cit, p.202) “a produção familiar (...) se adapta, no interior do sistema
capitalista de produção de acordo com suas possibilidades, e por estar condicionada a este
sistema econômico, muitas vezes, é auto-explorada, sendo esta, a única solução para suprir
suas necessidades.”
O Dicionário Universal da Língua portuguesa (2008, p.676) define excedente como “aquilo
que excede; excesso; sobejo; remanescente”. Logo, pode-se concluir que excedente agrícola é
tudo aquilo que resta da produção agrícola depois do consumo e venda da mesma. Com o
objectivo de não prejudicar a próxima sementeira e responder a eventuais necessidades
futuras que possam ocorrer antes da outra colheita, as comunidades rurais sempre planejaram
o excedente logo depois da colheita.
A revista Food Ingredients Brasil (2008, p.32) define segurança alimentar como “um conjunto
de normas de produção, transporte e armazenamento de alimentos visando determinadas
características físico-químicas microbiológicas e sensoriais padronizadas, segundo as quais
os alimentos são adequados ao consumo.” O Relatório do Banco Mundial (2008, p.12) sobre
a Situação de HIV/SIDA e Nutrição em Moçambique diz que para ter segurança alimentar,
todos os membros do agregado familiar precisam de ter acesso a alimentos e conhecimento
12
adequado, condições de saúde e saneamento para utilizarem plenamente os alimentos
disponíveis.
A Revista ingredients Brasil (op.cit, p.34) diz que a produção de alimentos seguros exige
alguns procedimentos básico como controlo da fonte, controlo do desenvolvimento e do
processamento dos produtos, boas práticas higiénicas durante a produção, processo dos
produtos, manipulação, distribuição, armazenamento, venda, preparação e utilização.
A segurança alimentar é bastante defendida pelas políticas agrárias e o governo
moçambicano, pois se pretende de antemão que a produção agrícola permita que todas
famílias tenham comida suficiente e em boas condições sanitárias.
Carneiro (1948, p.4) define silos como sendo “construções destinadas ao armazenamento e
conservação de grãos secos, semente, cereais e forragens verdes”. Em alguns casos silo é
designado por celeiro melhorado. De acordo com o relatório do trabalho piloto da Helvetas
Moçambique (s.d), o processo do armazenamento tem como objectivo evitar o ataque de ratos
e outras pragas, reduzir as perdas e garantir a semente para a época seguinte, permite a
separação da semente da comida, manter a semente a uma temperatura estável.
Na óptica de Carneiro (ibidem), silos podem ser classificados em silos para cereais e sementes
e silos para forragens. Baseando-se no objecto de estudo deste trabalho (gestão da produção
de grãos), a abordagem estará mais concentrada nos silos para cereais e sementes. Esta
categoria divide-se em duas partes, nomeadamente: silos elevados ou aéreos e silos
subterrâneos e quanto ao material de construção, estes subdividem-se:
13
silos de alvenaria, que pode ser de tijolo, misto ou e concreto armado;
silos de madeira, com parede simples ou dupla;
silos metálicos;
silos de cimento-amianto.
A escolha de um destes tipos de silos depende dos recursos e importância da propriedade
agrícola, custos, capacidade de obtenção ou aquisição e disponibilidade de material de
fabricação.
O trabalho piloto feito pela Helvetas Moçambique, um Projecto de Desenvolvimento Rural a
operar na província de Cabo Delgado na área de formação, capacitação e construção de silos
melhorados, chegou a conclusão que os silos metálicos não são adequados para as
comunidades rurais, pois acaretam muitos custos de fabrico e aquisição de material para o
fabrico, daí que recomendam a construção de silos usando material local, como pau a pique
(paus ou bambús e pedras, no corpo principal) que posteriomente são revestidos de barro (ver
anexo 1).
O Dicionário Universal da lingua portuguesa (op.cit) define celeiro como sendo a “casa onde
se juntam e guardam cereiais”. A semelhança de silos, o celeiro é também uma construção
destinada ao armazenamento. A única diferença é que o celeiro para além de armazenar
cereais em forma de grãos já debulhados (também designado celeiro melhorado ou silo) pode
conservar também cereais e/ou legumes em vagens secas (também designado de espigueiro ou
celeiro tradicional). A tabela abaixo mostra as vantagens e desvantagens de um celeiro
melhorado e tradicional.
Hugo (2008) apesar de não apresentar dados percentuais mostra que grande parte dos
agricultores moçambicanos utilizam celeiros para o armazenamento de grãos.
A capacidade dos celeiros recomendados pela agricultura em Moçambique é de 1 tonelada (72
latas de milho de 20 litros), correspondente a quantidade média colhida em cada 1ha.
O proceso de gestão de grãos começa do campo (pré-colheita), passando pela colheita do grão
e o armazenamento (pós-colheita). Em todas estas fases registam-se sempre perdas de
semente ou grãos como resultado da acção de alguns factores. Lorini (citado por Paixão et al,
2009) estima que as perdas anuais causadas por pragas estão na ordem de 10% da produção
mundial. A Organização das Nações Unidas para Alimentação, em Inglês FAO (2008)
apresenta dois factores que contibuem para a perda de grãos, nomeadamente: factores físicos
e pragas.
Os factores físicos actuam durante o armazenamento e incluem a temperatura, Humidade
relativa, o oxigénio (O2) e e dióxido de carbono (CO2) presentes no armazenamento. A
temperatura pode criar a proliferação de insectos (entre 25oC e 34oC) e de fungos (entre 15oC
e 30oC). A humidade relativa superior a 65% no armazém cria condições para a proliferação
de fungos, insctos e pragas. A humidade relativa resulta do equilíbrio entre a humidade do ar
e o teor da humidade do grão (FAO, op.cit).
As pragas que actuam nos grãos durante o armazenamento dividem-se em duas categorias:
Pragas primárias de insectos e pragas secundárias. As pragas primárias, na sua maioria actuam
no campo antes do período da colheita e incluem basicamente insectos, como gorgulho ou
15
caruncho de grãos (sitophilus spp.), broca maior dos cereais (prostephanus truncatus),
besouro de cereais (rhyzopertha dominica), traça dos cereais (sitotroga cerealella) e caruncho
ou gorgulho do feijão (callosobruchus maculatus). Estes insectos penetram no grão não
danificado e estabelecem uma infestação, podendo alimentar-se do grão. Por outro lado, as
pragas secundárias atacam ou infiltram-se no interior dos grãos já danificados ou atacados
pelas pragas primárias. Fazem parte desta última categoria o besouro castanho (tribolium
spp.), traça da farinha (ephestia spp.), fungos, térmitas (macrotermes sp.), roedores (ratos,
ratazanas, etc.) e aves (FAO, 2008) (Paixão, 2009).
16
CAPÍTULO III: ASPECTOS METODOLÓGICOS
3. Opção metodológica
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que visa perceber o nível de sustentabilidade da gestão
de grãos fez-se a recolha de experiências e dificuldades quotidianas das comunidades rurais
sobre a forma como fazem o planejamento, controlo e monitoria da sua produção agrícola
depois da colheita, (Severino, 1999).
Para a elaboração deste trabalho foram utilizadas variadas fontes conceituais, tanto
académicas quanto autorais, nomeadamente: artigos divulgados em revistas electrónicas e em
sites que fazem uma abordagem sobre gestão, sustentabilidade e todos os aspectos ligados a
gestão da produção agrícola, como: sistemas de conservação de grãos, armazenamento,
consumo, comercialização, excedente, factores da produção agrícola (com maior enfoque para
agricultura tradicional).
Para Pocinho (2009), quando a população pesquisada não supera 100.000 elementos deve ser
considerada população finita. Esta fórmula foi usada para determinar o tamanho da amostra
neste trabalho, baseando-se na estimativa da população finita representada pela equação
abaixo:
N . p . q .(Z α )2
2
n= 2 2
p . q .(Z α ) + ( N−1 ) . E
2
Onde:
n: tamanho da amostra;
N: tamanho da população;
Z α : valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;
2
p: proporção populacional de indivíduos que pertence a categoria que estamos interessados em estudar;
17
q: proporção populacional de indivíduos que não pertence à categoria que estamos interessados em estudar ( q =
1 – p);
E: erro amostral ou erro máximo de estimativa.
Obs.: Para o presente trabalho, foi assumido q = p= 0.5, com nível de confiança de 95% e erro
de 10%.
A recolha de dados foi realizada mediante uma Entrevista Não-estruturada e Focalizada com o
objectivo de explorar as experiências e dificuldades das comunidades com maior profundeza,
sem necessariamente seguir a risca o formulário de entrevista (Lakatos & Marconi, 2003). As
perguntas, de natureza mista (abertas e fechadas) foram direccionadas aos agricultores,
técnicos dos Serviços das Actividades Económicas do posto Administrativo de Zembe.
A observação directa foi aplicada para identificar os sistemas de conservação de grãos mais
utilizados em Zembe, o local de comercialização e outros mecanismos usados na gestão da
produção agrícola no período pós-colheita, (Severino, 1999).
Os dados colhidos por meio de entrevista, anotações de campo e observação foram transcritos,
compilados em tabelas e gráficos através do Excel. Para a análise de dados fez-se o
cruzamento de toda a informação colhida no campo de estudo com o objectivo de encontrar o
significado da mesma e compreender o facto em estudo.
Campo do estudo
Tal como acontece na maior parte do país, em Zembe pratica-se uma agricultura tradicional,
exclusivamente dependente das condições naturais, como o clima, solos e relevo. O clima é o
principal factor que determina as épocas agrícolas que começam na época chuvosa entre
Setembro e Outubro e encerra entre os meses de Fevereiro e Março.
19
atravessado pelo rio Mwenedzi que nasce na cidade de Chimoio, concretamente no edifício do
INSS, em frente do mercado feira.
3.5.3. Clima
A época agrícola em Moçambique tem o seu início no mês de Setembro, momento em que começa a
queda pluviométrica e os agricultores começam a preparar a terra termina no mês de Abril com o fim
da época chuvosa e o começo da época da colheita.
A população estima-se em 18 893 habitantes, dos quais 9 715 mulheres e 9 178 homens. Esta
população encontra-se distribuida de forma desigual em 03 localidades, nomeadamente
Zembe sede, Boavista e Trangapasso com um total de 8800 familias.
20
CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
Neste capítulo são apresentados os gráficos e tabelas que contém os dados recolhidos no no
campo de estudo e é também feita uma análise descritiva dos mesmos.
Os 95 agricultores entrevistados possuem cerca de 285 hectares de terra, tendo como uma
média de aproximadamente 3 hectares por agricultor. O Gráfico 2 mostra o número de
hectares para o cultivo, sendo 52% na posse de dois hectares, 16% um hectar, 12% três
hectares, 8% quatro e cinco hectares, respectivamente e 4% com mais de cinco hectares.
Porém, é importante realçar que a posse de terra não implica automaticamente a capacidade
de o agricultor fazer o seu aproveitamento completo. O gráfico 3 mostra que 72% dos
agricultores conseguem cultivar os seus campos agrícolas na íntegra. Entretanto, este número
refere-se principalmente àqueles que possuem um espaço agrícola não mais do que dois
hectares, pois os que têm a partir de três hectares em diante não conseguem cultivar todos na
mesma campanha agrícola. A mesma medida que o produtor aproveita melhor suas terras, a
sua produção será maior e, logo as necessidades de conservação serão também maiores.
21
Gráfico 3: Campos cultivados
Mais de
Menos de Cinquenta
cinquenta porcento; 4;
porcento; 1; 16%
4%
Apenas
cinquenta
porcento; 2; todos 72%
8%
Com os gráficos 2 e 3 acima pode-se notar que quanto maior for o número de hectares na
posse de um agricultor menor é a capacidade de este os cultivar. Isto é provocado por vários
factores, de entre os quais a maior distância entre o local de residência e os campos agrícolas,
a insuficiência de insumos agrícolas, como o capital, semente, instrumentos de produção,
mão-de-obra e até mesmo as dificuldades das vias de acesso, tal como diz o Senhor
Chingorima na citação abaixo:
“Eu podia cultivar mais de cinco hectares porque aqui a terra é muito fértil, mas o problema
é que não tenho condições.”
22
Gráfico 4: Mão-de-obra envolvida na actividade agrícola
Familiares e Todas 4%
Contratados
8%
Familiares e
Assalaria-
dos 4%
Apenas adultos
32%
Adultos e cri-
ancas 68%
23
4.2. Culturas mais predominantes
As culturas mais produzidas no posto Administrativo de Zembe são milho e feijões. O gráfico
6 mostra que 56% dos agricultores produzem o milho, 29% milho e feijões, 11% milho,
feijões e mapira e 4% milho, feijões, mapira e outras culturas de grãos. Assim, pode-se notar
que a cultura mais produzida é o milho. Os feijões e a mapira ocupam a segunda e terceira
posições, respectivamnete, estando em último lugar as culturas como gergelim e amendoim.
A tabela 3 abaixo mostra os dados comparativos da produção agrícola entre a campanha agrícola
2013-2014 e 2014-2015.
24
Tabela 3: Produção nas últimas duas campanhas
4.4.1. Tratamento
25
quimico que consiste em espalhar Kopachumba, um produto químico que tem como função
evitar a penetração de insectos e outras pragas.
“Coloca-se o milho num tapete depois de debulhado e por cima espalha-se o produto
químico. Em seguida tapa-se o milho com outro tapete durante algumas horas e, por fim
arruma-se em sacos”.
4.4.2. Armazenamento
26
4.4.3. Consumo e comercilaização
O gráfico 7 mostra que 24% dos agricultores destinam a sua produção exclusivamente para o
consumo familiar, 32% para o consumo e venda, 32% para o consumo, venda e excedente e
os restantes 12% usam a sua produçao para o consumo e excedente. Como se pode ver nestes
dados, o consumo constitui a primeira finalidade da produção de grãos para os agricultores de
Zembe contrariamente à venda e excedente que sempre vêm acompanhadas com o consumo.
Isto é, nenhum camponês produz exclusivamente para venda ou para o excedente ou mesmo
com ambos objectivos em simultâneo, mas primeiro para o consumo.
Com os dados da tabela 5 nota-se que as duas épocas agrícolas em estudo foram bastante
críticas em termos da gestão dos grãos até a outra campanha agrícola. A compra de semente
para a época seguinte está em maior destaque nas duas campanhas se comparada com o
número de agricultores que usaram a semente guardada. Apesar de o número de agricultores
que compraram semente ter reduzido na segunda época, a insustentabilidade da gestão por
parte destes continua alta quando este número de agricultores for somado com os que
receberam apoio. Em suma, na segunda época em análise (2014-2015), cerca de 89.47% dos
agricultores adquiriram semente numa fonte externa: ou comprando ou recebendo apoio dos
familares.
A nível da base a actuação do Governo local é feita pelos extensionistas agrários, que
divulgam a informação que garanta a segurança alimentar e desenvolvimento sustentável
mediante várias técnicas de extensão agrária.
27
Como forma de contornar este problema, o governo local por meio de extensionistas tem feito
a disseminação das técnicas de cultivo em todas as culturas e de melhoramento da fertilidade
do solo, formas de conservação dos excedentes agrícolas no período.
Costituem os conteúdos mais abordados pelos extensionistas juntos aos camponeses durante
as palestras e capacitações os seguintes: Conservação pós-colheita, Valor nutricional da polpa
alaranjada e leguminosas, conservação dos recursos naturais através da redução das
queimadas e divulgação da informação sobre estiagem.
Para além das formas de gestão apresentadas neste trabalho, existem outros factores naturais
que interferem na gestão da produção de grãos no período pós-colheita durante as duas épocas
em análise, tais como a humidade e as pragas. A análise de perdas em referência incidem
sobre as duas culturas com maior destaque em termos da sua produção, nomeadamente o
milho e feijões.
A tabela 6 abaixo mostra que a Humidade e as pragas contribuem para a perda de grãos no
Posto Administrativo de Zembe nas duas campanhas agrícolas e os respectivos prejuízos
causados por cada factor. nas duas campanhas agrícolas em referência a quantidade de grãos
afectada pelas pragas é de 3.4% e 5.3% de milho na primeira e segunda campanhas, ao passo
que os feijões registaram uma perda de 2.3% e 3.8% nas duas campanhas. Assim, pode-se
notar que, quer a produção de milho, quer a de feijões, ambos registaram maiores perdas na
segunda campanha do que na primeira.
28
A Acção da humidade sobre os grãos foi responsável pelas perdas em cerca de 6% do milho
produzido na primeira campanha (2013-2014) e 1.3% da segunda campanha (2014-2015).
Não foi registada nenhuma perda de feijões por motivos da acção deste factor nas duas
campanhas em análise.
Cerca de 64% dos entrevistados (vide gráfico 7) confirmaram que para além do consumo
também vendem o milho e feijões. A venda ocorre no mercado local e nas casas e é feita para
população em geral, incluindo os outros agricultores deste povoado. Em alguns casos, o milho
e feijões deste local são vendidos na cidade de Chimoio devido a maior procura e altos preços
neste mercado. Conforme o gráfico 7, dos 95 agricultores entrevistados, 44% consegue
guardar o excedente para a próxima campanha agrícola.
A tabela 5 mostra que dos 95 agricultores entrevistados pelo menos 65.26% compraram
semente e 34.74% usaram a semente guardada na época 2013-2014, enquanto que na época
seguinte (2014-2015) cerca de 55.79% compraram a semente, 33.68% receberam a semente
dos familiares ou do governo e 10.53% usaram a semente guardada.
29
Compra 62 65.26% 53 55.79%
Semente 33 34.74% 10 10.53%
guardada
Oferta (apoio) 0 0% 32 33.68%
Total 95 100% 95 100%
Fonte: Autor
Nas campanhas 2013-2014 e 2014-2015, o consumo local destes grãos esteve na ordem de
63.33 toneladas para o milho e 15.83 toneladas de feijões, tendo como média de consumo
mensal de 4 latas de 20 litros de milho e um galon de 5 litros de feijões por cada famíla. Por
sua vez, a comercialização dos grãos registou números bastante elevados com tendência a
subir na segunda campanha em referência. A comercialização do milho, por exemplo, variou
de 68% a 69% entre as duas campanhas, o correspondente a 251.94 e 216.32 toneladas,
respectivamente. Por outro lado, a comercialização de feijões entre 51% e 59%, o
correspondente a 28.92 e 29.89 toneladas nas duas campanhas em referência. As perdas e
outros gastos representam os menores números em ambas as campanhas.
Tal como se pode ver nas tabelas 6 e 7, em termos de remanescentes, a produção da campanha
2014-2015 foi menos sustentável se comparada àquela de 2013-2014. Porém, para ambas as
campanhas mais de 65% dos agricultores (Ver tabela 5) esgotou a produção antes da outra
colheita e em muitos casos antes da sementeira, o que fez com que recorressem a compra de
grãos para a sementeira e consumo. O rácio do remanescente/família que se nota nas tabelas 6
e 7, corresponde a valores médios, pelo que não pode ser considerado como constante para
todos os agricultores, porque os respectivos remanescentes foram mais notáveis em famílias
que possuem entre 3 e 5 hectares de terra em cultivar.
30
Tabela 7: Resumo da produção, gastos e o remanescente durante a Campanha Agrícola 2014-
2015
Cultur Produçã Gastos e perdas Remane Rácio do Com
a o (ton) Consum Venda Perd Outros Total scente remanesc pra/
o normal (ton) as gastos dos (ton) ente/famïl oferta
(ton) (ton) (ton) gastos ia (ton)
(ton)
Milho 313.5 63.33 216.32 20.7 10.4 310.75 2.75 0.03 4.4
Feijões 50.4 15.83 29.89 1.92 6.6 54.24 0.0 0.0 3.7
Fonte: Autor, 2016
Neste copítulo faz-se a discussão de dados apresentados nas tabelas e gráficos no capítulo
anterior.
Tal como foi referido acima (ver gráfico 6), esta análise tem como maior foco as culturas de
milho e feijões pelo facto de estes serem as mais produzidas de todas. Fazendo uma análise
comparativa nota-se que houve um decréscimo acentuado da produção das duas culturas na
segunda campanha agrícola. Assim, para a segunda campanha em análise apesar de ter sido
planificada menores quantidades de produção comparativamente a primeira, registou-se
também maior decréscimo.
O decréscimo do nível de produção deveu-se a diversos factores naturais com maior enfoque
para a precipitação, humidade e pragas. A precipitação que caíu com maior intensidade na
segunda campanha distruiu muitas culturas nos campos agrícolas. A humidade sobre os grãos
armazenados devido as chuvas abundantes e a conservação do milho em celeiros abertos ao
ar livre. Os ratos, gorgulho, broca maior dos cereais, besouro de cereais e gorgulho do feijão
são as pragas mais encontradas nos grãos armazenados em celeiros e sacos e a sua actuação
foi mais notável em feijões (ver imagens 1 e 2).
31
Apesar de reconhecer o problema da insuficiência alimentar neste local resultante da fraca
produção e gestão do excedente agrícola após a acolheita, nas últimas épocas, o governo local,
por meio de extensionistas, pouco faz para sensibilizar os agricultores e a população local em
geral a melhorar o sistema de gestão da sua produção no período pós-colheita, por ser neste
período em que os agricultores fazem gastos exagerados do excedente, fazendo com que esta
recorra a compra de alimentos e da semente muito antes da colheita seguinte.
Apesar de alguns agricultores afirmarem que fazem uma boa gestão, na prática nota-se um
total contraste, pois nenhum deles pôde provar que planifica a venda dos seus produtos e
poucos, apenas 15% a 34% (ver tabela 5) tiveram remanescente nas duas campanhas. A
venda ocorre geralmente de forma repentina, quando a família o faz para responder às
necessidades do momento que sejam de força maior. Na maioria dos casos, depois da venda,
não se conjuga a quantidade do excedente com o tempo que falta para a próxima colheita e o
número do agregado familiar que precisa desses produtos para o consumo. Isto leva a
constatar que os agricultores de Zembe não têm e nunca tiveram noções de uma gestão
científica, que exija planificação, organização, controle da produção de grãos no período pós
colheita.
Batalha e Sthalberg (1996) afirmam que a planificação é o primeiro passo indispensável para
uma gestão sustentável da produção, mas para que ela surta efeitos desejados deve ser feita
de tal modo que inclua todas as actividades previstas e deve ser seguida durante o processo da
gestão.
32
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Para avaliar o nível de sustentabilidade da gestão de grãos no posto Administrtivo de Zembe
foram tomados em conta quatro aspectos fundamentais, nomeadamente produção, consumo,
venda e perdas nas duas culturas mais produzidas (milho e feijões). A venda constitui o maior
problema da gestão de grãos no local do estudo, onde mais de 60% da produção foi
comercializada nas duas campanhas em referência. As perdas por humidade e pragas estão
abaixo da média mundial que se situa em 10% ao ano (Paixão, 2009).
Nota-se uma fraca intervenção do governo no apoio dos agricultores em matérias de gestão e
conservação de grãos, com vista a reduzir as perdas ou comercialização insustentetável de
grãos antes da colheita posterior.
33
Sugestões
Como forma de contribuir para que os agricultores de Zembe tenham uma gestão sustentável
da sua produção no período pós-colheita, apresenta-se as seguintes sugestões:
Ao governo:
Aos agricultores:
planificar o consumo e venda dos excedentes agrícolas tendo em conta o actual nível
de rendimento e as experiências passadas anteriormente;
34
A produção de Mexoeira seria mais um reforço à segurança alimentar através da
melhoria da dieta alimentar e à redução da pobreza em Zembe e isto facilitaria a
população local a fazer uma gestão sustentável da sua produção até a outra época
agrícola, pois ao invés de depender apenas do milho, feijões e mapira, teria mais um
cereal que servisse de fonte de consumo alternativa após a colheita.
Bibliografia
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de Sustentabilidade. VII Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. Recuperado em
1 Março, 2014, de http://www.aedb.br/seget/artigos10/31_cons%20teor%20bacha.pdf
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Moçambique de 1996 a 2002 e sua implicações para a contribuição da Agricultura para
a redução da pobreza: Relatório de pesquisa No. 61P. República de Moçambique:
Ministério da Agricultura.
Costa, J.P.; Rimkus, L.M. & Reydon, B.P. (2007). Agricultura Familiar, Tentativas e
Estratégias para assegurar um Mercado e uma Renda (Apresentação Oral). Campinas:
UNICAMP
FIDA (2010). Dar a população Rural pobre a Oportunidade de sair da pobreza. Roma:
Autor
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Lundin, I.B.; Leven, C. & Germani, M. (2004). Uma Visão sobre o PROAGRI: Uma
Análise do Grupo Moçambicano de Dívida (GMD). Maputo: GMD
MINAG; CAADP; Banco Mundial; Delegação da União Europeia (EU); EUA; FIDA;
CTA; UNAC; ROSA & Save the Children. (Dezembro 2011). O pacto para o
Desenvolvimento do sector Agrário em Moçambique no contexto do CAADP. Maputo:
Autores
Santos, S.; Limão, A.; Barbosa, P.; Cachaço, B. (2008). Sustentabilidade para
Principiantes. Portugal: SUSTENIARE
36
Universidade Santa Maria (2010). Gestão da Unidade de Produção Familiar I. Pesquisa
Conjunta para Curso de Graduação Tecnológica em Agricultura Familiar e
Sustentabilidade a Distância. Brasil: Autor.
Zavale, H., Mlay, G., Bougton, D., Chamusso, A., Gemo, H. & Chilonda, P. (Dezembro
2011). A Estrutura e Tendência da Despesa Pública Agrícola em Moçambique: Relatórios
de Pesquisa 70P. República de Moçambique: Ministério da Agricultura.
37
ANEXO
1
Anexo1: Exemplo de silos melhorados de baixo custo
1
APENDICES
1
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
CENTRO DE ENSINO A DISTÂNCIA
1
1º Objectivo específico: Identificar os produtos agícolas mais produzidos no Posto
Administrativo de Zembe
2
13. Como é que fez a gestão dos seus produtos agrícolas nas duas últimas épocas?
Outros
cereais
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
__________________________________________________________
______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________.
17. Será que costuma planificar a gestão da sua produção agrícola após a colheita?
3
A. Sim___ B. Não _____
17.1. Se sim, como?
__________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_______
18. Tem sempre conseguido gerir a sua produção até a outra época da colheita?
A. Sim___ B. Não____
______________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
13. Já teve alguma capacitação sobre técnicas de gestão da sua produção agrícola?
A. sim___ B. Não___
A.sim__ B. Não___
4
______________________________________________________________________________
______________________
15. O que acha que devia ser feito para que todos os agricultures fizessem uma boa gestão da sua
produção até a outra colheita? _____________________________________________________
5
1
Entrevista ao Serviços das Actividades Económicas do Posto Administrativo de Zembe
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
4. Alguma vez a vossa instituição promoveu uma capacitação, palestra ou formação aos
camponeses locais?
A. Sim___ B. Não___
5. Se sim, Quais os conteúdos mais abordados?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
7. Acha que os camponeses do posto Administrativo de Zembe fazem uma boa gestão da sua
produção agrícola depois da colheita? A. Sim____ B. Não____
7.1. Se sim, porquê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
1
___________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
7.2. Se não, o que acha que deve ser feito para que os agricultores locais façam uma gestão
sustentável da sua produção agrícola depois da colheita?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
FIM