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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Implicações sócio-ambientais da ocupação desordenada dos espaços urbanos: caso do


bairro Topelane B, distrito de Monapo, 2016 -2019.

Sónia do Rosário Joaquim


Nampula, Fevereiro de 2020

Universidade Católica de Moçambique


Instituto de Educação à Distância

Implicações sócio-ambientais da ocupação desordenada dos espaços urbanos: caso do


bairro Topelane B, distrito de Monapo, 2016 -2019.

Sónia do Rosário Joaquim

Monografia Cientifica, submetido ao Instituto de


Educação à Distancia, Universidade Católica de
Moçambique, como requisito parcial para obtenção
de grau de Licenciatura em Ensino de Geografia

Supervisor: MA. Nélio Manuel


Nanpula, Fevereiro de 2020
ii

Índice

Declaração..................................................................................................................................iv
Agradecimentos...........................................................................................................................v
Dedicatória.................................................................................................................................vi
Lista de abreviaturas.................................................................................................................vii
Lista de gráficos.......................................................................................................................viii
Lista de figuras.........................................................................................................................viii
Resumo.......................................................................................................................................ix
CAPITULO I: INTRODUÇÃO................................................................................................10
1.1 Problematização..................................................................................................................11
1.2 Delimitação do tema...........................................................................................................12
3 Relevância de estudo..............................................................................................................12
1.4 Objectivos...........................................................................................................................13
1.4.1 Objectivo geral.................................................................................................................13
1.4.2 Objectivos específicos......................................................................................................13
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................14
2.1. Conceito de urbanização e espaço urbano.........................................................................14
2.2 Formas de expansão urbana................................................................................................15
2.3 Tendências do processo de urbanização em Moçambique.................................................16
2.4 Instrumentos de planeamento e gestão do espaço urbano em Moçambique.......................17
2.5 Importância do ordenamento do território..........................................................................20
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA................................................................21
3.1. Método de estudo...............................................................................................................21
3.2.1. Quanto à abordagem.......................................................................................................21
3.2.2. Quanto aos objectivos.....................................................................................................22
3.2.3. Quanto aos procedimentos..............................................................................................22
3.4. Universo e amostra.............................................................................................................22
3.5.1. Observação......................................................................................................................23
3.5.2. Entrevista.........................................................................................................................23
3.5.3. Questionário....................................................................................................................23
CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS........24
4.1 Localização da área de estudo.............................................................................................24
4.2 Ocupação do solo no bairro Topelane B, município de Monapo........................................25
iii

4.3 Implicações sócio-ambientais da ocupação desordena dos espaços urbanos no bairro


Topelane B, município de Monapo...........................................................................................27
4.4 Medidas de mitigação da ocupação desordenada dos espaços urbanos no bairro Topenale
B, Municipio de Monapo..........................................................................................................31
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................33
5.1. Conclusões.........................................................................................................................33
5.2. Recomendações..................................................................................................................34
Referenciais bibliográficas........................................................................................................35
iv

Declaração
Declaro por minha honra que esta Monografia Científica é resultado da minha
investigação e das orientações dadas pelo meu supervisor. O seu conteúdo é original e todas
as fontes consultadas encontram-se devidamente mencionadas no trabalho, nas notas e na
bibliografia final. Declaro, ainda, que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra
instituição para obtenção de qualquer grau académico.

Nampula, 20 de Fevereiro de 2020


____________________________________________
(Sónia do Rosário Joaquim)
v

Agradecimentos
Em primeiro lugar é de agradecer a Deus o qual tem direccionado a minha vida, os
meus sonhos, os meus projectos. Agradeço-lhe por admitir os aspectos sócio religiosos
permanecentes em mim mesmo, sem Deus, a inspiração obtida para a elaboração deste
trabalho tornaria difícil.
Ao MA Nelio Manuel, por acreditar em mim e no meu trabalho, pelas orientações
seguras, intervenções precisas e pelo enorme carinho com que conduziu todo o processo de
construção deste trabalho. Foi um privilégio tê-lo como orientador neste trabalho, com ele
compreendi que a vida é feita de desafios.
À Universidade Católica de Moçambique especialmente o Instituto de Educação à
Distância, a todos os professores do curso de Licenciatura em ensino de Geografia que
contribuíram para os nossos conhecimentos durante os quatro Anos. Nesse período fizeram
dos nossos encontros na sala de aula um palco de discussões e enriquecimento teórico.
Ao Municipio de Monapo, onde desenvolvi esta pesquisa, sobretudo ao Conselho
Municipal e Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estruturas. Às comunidades do bairro
Topelane B no distrito de Monapo, pelo convénio e libertação das minhas actividades durante
os encontros presenciais. A todos os colaboradores pela recepção, meu muito obrigado.
Aos meus pais, Rosário Joaquim Hauela e Helena Ernesto Hauengue, pelo
encorajamento em dedicar-se nos estudos em toda minha vida estudantil deste o nível
primário até o ultimo ano deste ensino superior, por todo o amor e cuidado, por confiarem e
investirem na minha formação profissional e pessoal, pois sem a vossa colaboração não
chegaria a tal formação.
Ao meu esposo Issufo Inocêncio, amigo, companheiro e grande incentivador. A toda
minha família, em especial aos meus filhos Conceição, Keila e Inocência, que durante o curso,
suportaram as minhas ausências, um momento em que estaríamos juntos num convívio
familiar.

A todos, muito obrigada.


vi

Dedicatória

___________________________________________________________________________

Aos meus Pais Rosário Joaquim Hauela e Helena Ernesto Hauengue, as minhas filhas, ao meu
Esposo e Meus Irmãos, pelo socorro prestado na hora da angústia.
vii

Lista de abreviaturas

MICOA Ministério de Coordenação de Acção Ambiental


PGU Plano Geral de Urbanização
PPU Plano Parcial de Urbanização
PP Plano de Pormenor
PEU Plano de Estrutura Urbana
DNPOT Direcção Nacional de Planeamento e Ordenamento de Território
INE Instituto Nacional de Estatística
MAE Ministério de Administração Estatal
UNFPA Fundo de População das Nações Unidas
viii

Lista de gráficos
Gráfico 1: Distribuição dos espaços para construção de residências........................................26
Gráfico 2: Moradores com conhecimentos sobre o os problemas que podem acontecer no uso
e ocupação desordenada dos espaços........................................................................................27

Lista de figuras
Figura 1: Erosao no bairro Topelane B, município de Monapo................................................28
Figura 2: Habitação precária e erosão dos solos no Bairro Topelane B, Monapo....................29
Figura 3: Deposição de resíduos no bairro Topelane B, município de Monapo.......................30
ix

Resumo
O presente trabalho intitulado “Implicações sócio-ambientais da ocupação desordenada dos espaços urbanos:
caso do bairro Topelane B, distrito de Monapo, 2016 -2019”, tem como objectivo geral analisar as implicações
sócio ambientais do uso e ocupação desordenada dos solos no bairro de Topelane, município de Monapo.
Especificamente, o estudo pretende identificar as implicações sócio ambientais do uso e ocupação desordenada
dos solos no bairro de Topelane B, município de Monapo; caracterizar o planeamento urbano no município de
Monapo e propor medidas de mitigação dos impactos sócio ambientais do uso e ocupação desordenada dos solos
no bairro de Topelane B, município de Monapo. A pesquisa é qualitativa com carácter descritivo, bibliográfico e
documental. Para a recolha de dados foram aplicados os instrumentos de entrevista, questionário e observação
directa. A pesquisa envolveu 33 pessoas, das quais 30 inqueridas e 3 entrevistados. os resultados da pesquisa
indicam que a expansão urbana e a ocupação irregular do solo urbano no bairro Topelane B ocorre de forma não
harmoniosa com a legislação de terras, ou seja, a urbanização do município ocorreu de forma acelerada e sem
planeamento, ocasionando implicações sócio-ambientais como a formação de áreas degradadas,
impermeabilização do solo, aumento da geração de resíduos sólidos e líquidos, diminuição de áreas de lazer,, que
se encontram em uma área de declividade, havendo tendências ao aumento de rachaduras e deslizamentos de
algumas residências. Assim, propõe-se que sejam revistas e consolidadas as políticas públicas que proporcionem
recuperação/requalificação desses assentamentos e posta em prática nos lotes que ainda não foram ocupados
irregularmente, o planeamento de formas a amenizar os impactos ambientais consequências das ocupações
irregulares.

Palavras-chaves: Iimplicacoes sócio-ambientais; ocupação desordenada; Espaços urbanos, Município de


Monapo.
10

CAPITULO I: INTRODUÇÃO
As alterações no equilíbrio do meio ambiente devido à urbanização são preocupações
mundial que envolve tanto os aspectos do sistema natural quanto os do sistema estrutural
responsável pelo crescimento urbano. Observa-se que é crescente a preocupação que diversas
áreas têm para essas questões, no sentido de entender a dinâmica da transformação ambiental
inserida no processo de urbanização das cidades e propor melhorias para estes problemas
A presente Monografia científica subordina-se ao tema, Implicações socioambientais
da ocupação desordenada dos espaços urbanos: caso do bairro Topelane B, distrito de
Monapo, 2016 -2019, com objectivo de perceber as formas de uso e ocupação dos solos no
bairro e o seu impacto sócio-ambientais do uso e ocupação desordenada.
Para evitar a degradação ambiental, Silva et al, (2003), comentam que, se faz
necessário acompanhar o desenvolvimento local e indicar possíveis falhas na planificação e
gestão de obras na área a ser trabalhada e dos recursos voltados e apresentados por ela. Dessa
forma afirmam que se pode racionalizar a exploração dos bens disponíveis e direcionar a
ocupação do solo para fins adequados em função de sua capacidade de exploração,
empregando-se meios de preservar a qualidade do ambiente.
Nesta vertente associa-se sempre a urbanização a um processo dinâmico e complexo
de concentração de população num determinado espaço a partir do seu "situ" original,
assunção que parte da ideia de que, originalmente, a distribuição da população no território
era de carácter disperso e rural.
O espaço urbano é definido por Moreira (1999), como consequência da relação que o
homem tem com o espaço construído e a natureza, no instante em que surgem aglomerados
populacionais e as actividades humanas se diversificam. Essa relação produz mudanças no
ambiente para adequação das necessidades do homem e para torná-lo apto a sua habitação e
actividades.
Para responder as perguntas de pesquisa, que serviram de base para analisar as
implicações sócio ambientais do uso e ocupação desordenada dos solos no bairro de
Topelane, município de Monapo, o trabalho foi estruturado, para além de uma introdução
onde fazemos o enquadramento do tema, abordamos os motivos da realização do estudo e a
11

sua relevância, por três capítulos, a saber: Capitulo I- a revisão da literatura onde trouxemos
alguns conceitos inerentes ao tema em destaque, de seguida o capítulo II onde ilustramos as
técnicas e os métodos usados para obtenção dos dados e por fim o capitulo III dos resultados
obtidos a partir das técnicas e finalmente ao sumula na base da nossa compreensão e sem
deixar de fora a bibliografia das obras que ajudaram a concretização do trabalho.
1.1 Problematização
Os principais espaços urbanos de Moçambique são o resultado de um complexo
processo de origem alógena, que se implantaram em território estranho, reproduzindo formas
de organização espacial estranhas ao ambiente local. Com a independência nacional, esses
espaços têm sofrido profundas alterações e reajustamentos que, apesar de tudo, não têm
eliminado o carácter segregador que caracteriza estes espaços como duais.
Segundo Araujo (2003), com a independência nacional e como consequência de uma
série de factores conjunturais, as cidades moçambicanas viram muito aumentada da sua
população, sem que isso tivesse sido acompanhado pelo correspondente crescimento de infra-
estruturas e serviços urbanos. Esta situação fez com que os espaços urbanos do país se
degradassem e neles proliferassem actividades informais, como estratégia de sobrevivência de
uma parte considerável da sua população.
Face a tudo isto, as cidades moçambicanas sofrem transformações demasiado rápidas,
o que tem dificultado as acções de planeamento. Por isso impera uma estrutura espontânea
onde as condições de vida são bastante degradadas.
No âmbito nacional, Nampula é a terceira maior província moçambicana, que teve um
aumento demográfico e expansão da área urbanizada em meio de tantos bairros de ocupação
desordenada. A província é uma das que apresenta os maiores problemas urbanos resultantes
das ocupações desordenadas. Então, a partir de respostas dessa investigação desperta atenção
as outras cidades que tem um crescimento idêntico para tomarem algumas medidas de
precauções atinentes a sua expansão urbana.
Nessa mesma senda, o Município de Monapo está em crescimento, a busca de espaços
para a fixação de infra-estruturas económicas e habitações é maior, por conseguinte, as
pessoas estão ocupando nos bairros para este efeito, contrariando a legislação que rege o uso
do solo urbano. O bairro Topelane B não foge das tais ocupações desordenadas, submetendo a
população residente a vários riscos relacionados com a erosão no local, desabamento de
habitações, escassez de água potável devido a contaminação das águas superficiais e
subterrâneas e outros riscos associados.
12

Esse uso e ocupação do solo urbano desordenada no município de Monapo faz-se sem
haver delimitação das áreas de preservação Permanente e nem estudos sobre o impacto que
essa acção gera ao ambiente local, dai que coloca-se a seguinte pergunta de partida:
 Quais são as implicações sócio ambientais do uso e ocupação desordenada dos solos
no bairro Topelane B, município de Monapo?
1.2 Delimitação do tema
A temática em estudo será realizada no Município de Monapo, distrito do mesmo
nome, província de Nampula no Bairro Topelane B no período compreendido entre 2016 à
2019. A escolha do tema as implicações sócio-ambientais da ocupação desordenada dos
espaços urbanos: caso do bairro Topelane B, distrito de Monapo, surgiu a partir do momento
em que a autora encontra-se inserida no meio ambiente social onde reside e mostra-se
preocupada com a maneira como os munícipes tem usado e ocupado os solos, contribuindo de
certa maneira para um impacto sócio ambientais desequilibrado.
Destacar também que a escolha do bairro de ocupação desordenada foi pelo fato de ser
nele onde se verificam com maior intensidade o fenómeno de ocupação desordenada, também
pelas constantes transformações que ocorrem na paisagem dos mesmos. Nesse sentido, um
dos espaços urbanos que vêm passando por transformações constantes com a substituição de
áreas de mata por construções novas.

3 Relevância de estudo
A escolha do tema, surge no âmbito da Pesquisa realizada no município de Monapo,
no bairro Topelane B, verificou-se a existência de um crescimento, a busca de espaços para a
fixação de habitações, por conseguinte, as pessoas estão ocupando de forma desordenada sem
haver delimitação das áreas de preservação permanente e nem estudos sobre o impacto que
essa acção gera ao ambiente local, contrariando a legislação que rege o uso do solo urbano,
submetendo a população residente a vários riscos relacionados com a erosão no local,
desabamento de habitações e outros riscos associados.
Analisar a temática da uso e ocupação desordenada do solo urbano no Município de
Monapo é importante pois ela é um instrumento indispensável para colecta de dados de
caracteres técnicos, sociais, económicos e o seu principal objectivo é, incutir a sociedade a
tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os seres humanos
devem estabelecer e vincular aos munícipes com valores e atitudes que promovem um
comportamento dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos
13

naturais como sociais, desenvolvendo a habilidades e atitudes necessárias para as


transformações que tem ocorrido na sociedade ambiental.
O estudo foi realizado a partir da análise de instrumentos de planeamento urbano
previstos neste país e da percepção dos actores acerca dos problemas que envolvem a
ocupação irregular das áreas expandidas. Os núcleos ambientais, moradores e poder públicos
não vêm uma solução fácil ou adequada à realidade socioeconómica do país em geral e do
município em particular e ainda relacionada à ineficácia dos instrumentos jurídicos de
planeamento urbano que não garantem a facilidade renovação dessas áreas decadentes. A não
consideração e inoperância do poder público municipal de uma forma geral estimulam e
reforçam a expansão desordenada e as ocupações irregulares das habitações que se alastram
diariamente destruindo cada vez mais e de forma insustentável o meio ambiente urbano no
Município de Monapo em particular o bairro Topelane B.
Cientificamente contribuirá para o desenvolvimento ao nível do distrito de Monapo e
elevar o conhecimento dos principais problemas sócio-ambientais e económicos que podem
caracterizar o subdesenvolvimento de uns municípios, como matriz de um dos pilares para a
formação dos indivíduos, de modo a desenvolver habilidade técnico-profissional em matéria
do meio ambiente.

1.4 Objectivos
1.4.1 Objectivo geral
 Analisar as implicações sócio ambientais do uso e ocupação desordenada dos solos no
bairro de Topelane, município de Monapo.

1.4.2 Objectivos específicos


 Identificar os impactos sócio ambientais do uso e ocupação desordenada dos solos no
bairro de Topelane B, município de Monapo;
 Caracterizar o planeamento urbano no município de Monapo;
 Propor medidas de mitigação dos impactos sócio ambientais do uso e ocupação
desordenada dos solos no bairro de Topelane B, município de Monapo.

1.5 Questões de investigação


Em responde a questão básica da investigação, colocamos as seguintes questões
secundárias ao invés das hipóteses:
14

 Quais são as causas da ocupação desordenada dos espaços urbanos no bairro Topelane
B, no Município de Monapo?
 Como está sendo articulado a implementação da legislação sobre o planeamento
urbano no município de Monapo?
 Que medidas devem ser implementadas para minimizar a ocupação desordenada no
bairro de Topelane B, no Município de Monapo.
CAPITULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo pretende-se fazer a análise de documentação ou manuais relacionados
com Ordenamento territorial, o que permitirá entender a importância da urbanização como
forma de abordar melhor o tema em estudo.
A ocupação intensa e desordenada dos ambientes urbanos tem implicado em reacções
indesejáveis no processo de aculturação do relevo. Com isso, a compreensão dos impactos
ambientais que se processam nesses ambientes tem necessitado de análises que vão além dos
componentes naturais e de suas interacções no meio físico.

2.1. Conceito de urbanização e espaço urbano


A urbanização designa o processo em que está envolvida a população urbana e o seu
crescimento desproporcional, em relação à população rural, que migra em função da fraca
mecanização do campo, inexistência de perspectiva de melhoria financeira e, sobretudo, pela
grande atracção promovida pelos centros urbanos.
A urbanização é um processo de transição de uma sociedade rural para uma mais
urbana (UNFPA, 2007). Ela reflecte a dinâmica de acumulação e concentração do capital na
cidade e reproduz a aglomeração ao demandar cada vez mais espaço (Nascimento & Matias,
2011).
Por essa razão que em termos estatísticos, a urbanização revela uma proporção
crescente da aglomeração populacional vivendo em assentamentos definidos como urbanos,
enquanto a taxa de urbanização é a velocidade em que a população urbana cresce (UNFPA,
2007).
O uso do solo pode ser entendido como sendo a forma pela qual o espaço geográfico
está sendo ocupado pelo ser humano e suas actividades nele. Solo urbano é toda a área
compreendida dentro do perímetro dos municípios, vilas e das povoações, sedes de postos
administrativos e localidades, legalmente instituídas.
15

Moreira (1982) concebe o espaço geográfico como configuração de relações ao abrigo


da explicação social, enfatizando que, é a sociedade vista com sua expressão material visível,
através da socialização da natureza pelo trabalho. Portanto, o espaço geográfico é resultante
da actuação humana constituindo-se, assim, em espaço social, o qual está constantemente
sendo (re) organizado para atender as diversas e contradições sociais presente no espaço que
garantem uma interdependência entre os diferentes segmentos da sociedade e em diferentes
níveis.
Adicionalmente, o espaço geográfico representaria o contacto com os outros, por isso,
as cidades ou espaço urbano fazem parte do espaço geográfico, desse modo se considera
como produtos histórico e social (Carlos, 2001). Por isso, o espaço urbano em si, representa o
resultado condicional de um grupo social, fruto da interferência em determinado período
histórico e social desse mesmo grupo.
Corrêa (1989) considera que o espaço urbano é constituído de partes que se encontram
ligados por elementos diferentes (seres humanos, fluxo de mercadorias, de capitais,
informações e de ideologias que ocorrem dentro do espaço urbano mediante os variados usos
do solo urbano).
Assim, “esses usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de
actividades [...], áreas residenciais distintas, entre outras, aquelas de reserva para futura
expansão” (Corrêa, 1989, p.7).
A existência da distinção do uso do solo urbano nas áreas previamente definidas pelo
autor não é eventual de forma clara, mas sim, constitui uma resposta e condição dos processos
sociais que nela ocorrem isto quer dizer que, os processos que se verificam definem os usos
do solo na área urbana.
Assim, expansão urbana constitui um processo pelo qual as cidades passam de uma
forma constante a crescer desde o momento de sua existência, podendo ser em maior ou
menor intensidade, o que de forma geral, implica em crescimento da cidade. Assim, se pode
afirmar com categoria que o crescimento das cidades pode ser traduzido em uma expansão
das áreas edificadas cada vez mais acentuada.

2.2 Formas de expansão urbana


Antes focaria um pouco a questão atinente a desurbanização, importante destacar que
se caracteriza pela “perda da população e do emprego no conjunto da aglomeração urbana”
(Domingues, 1994, p.11). Ela ocorre contrariamente à urbanização que é acompanhada
16

simultaneamente pelo crescimento, que se caracteriza principalmente pelo deslocamento das


populações das áreas rurais para urbana.
Portanto, consideramos que a expansão urbana é o aumento dos limites e a formação
de novos centros urbanizados que anteriormente constituíam áreas rurais, visto que, à medida
que as cidades crescem ou se desenvolvem para atender a demanda de habitação e outras
infra-estruturas também contribuem para a urbanização. Crescimento urbano é o crescimento
da cidade impulsionada pelas condições físicas ou humanas com reflexos na malha urbana.
Assim o crescimento urbano e a expansão urbana são partes integrantes do processo de
urbanização como um todo.
O conceito de crescimento urbano pode ser concebido como “expansão da urbana”.
Sobre esse processo de expansão do tecido urbano, Lefebvre (1999, p. 15) discorre:

O tecido urbano prolifera, estende, corrói os resíduos de vida agrária.


Estas palavras “o tecido urbano”, não designam, de maneira restrita, o
domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do
predomínio da cidade sobre o campo. Nessa acepção, uma segunda
residência, uma rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem
parte do tecido urbano.

O autor sublinha que este facto tem sido consequência ou efeito dos processos da era
global (industrialização, urbanização e automação) que em linhas de análises profundas
condicionam a explosão demográfica das cidades em países subdesenvolvidos, originando os
subúrbios não planejados e degradados muito diferenciados das vilas urbanizadas.
Desse modo, existem várias formas de expansão urbana, de acordo com o que Japiassú
e Lins (2014) consideraram: (i) ampliação do território e ampliação da área ocupada (ii)
crescimento urbano intensivo (centralizado ou periférico).
Apesar das diferentes formas urbanas resultantes do processo de expansão ou
crescimento das cidades, Rueda (2002), considera que raramente uma cidade é classificada
segundo uma única forma. O autor acredita que elas agregam várias configurações urbanas,
sendo importante revelar o impacto delas para contribuir para o planeamento urbano futuro ou
das cidades do amanhã.

2.3 Tendências do processo de urbanização em Moçambique


Nesta secção, trazemos uma descrição do processo de urbanização no território
moçambicano, evidenciamos por meio de factos históricos fundamentados, informações
17

atinentes ao processo de urbanização ocorrida nas principais cidades em dois períodos da


história:
 1º Processo de urbanização no período colonial, que ocorreu em 477 anos de presença
colonial portuguesa em Moçambique (1498 – 1975), desde as primeiras povoações e
núcleos urbanos coloniais e as principais infra-estruturas implantadas, enfatizando os
eventuais instrumentos de planeamento urbanístico que tenham sido criados e
executados nessas cidades.
 2º Processo de urbanização no período Pós-Independência Nacional de Moçambique
(1975-2018), que enfoca os aspectos da urbanização no período pós-colonial, os
instrumentos urbanísticos elaborados e executados nas principais cidades e a tendência
actual de urbanização.

A urbanização do território que hoje se denomina Moçambique na sua essência teve


início com a chegada dos colonos portugueses em meados do século XVI. Nessa época
existiam diversos povos negros nativos do território de origem Bantu, que estavam divididos
em diferentes grupos etno-tribais que guerreavam entre si (Muacuveia, 2018).
Com a penetração colonial portuguesa e ocupação efectiva esses grupos juntaram-se e
tiveram um inimigo comum, o colonialismo português. Foi simultaneamente durante as
batalhas bélicas que os colonos portugueses erguiam pequenos núcleos urbanos, a partir de
fortalezas e feitorias (Muacuveia, 2018).
Para melhor compreender o processo da urbanização moçambicana, começaremos a
focar a criação dos primeiros núcleos urbanos que surgiram nas primeiras épocas após
achegada dos colonos portugueses, processo de ocupação que decorre até os finais do século
XX.
Fazendo uma retrospectiva histórica por meio de informações sobre a urbanização na
África, se constata de forma elucidativa que no período anterior a colonização em vários
países africanos, como é o caso de Moçambique já existiam “cidades”. Para tal argumento,
existem vários vestígios que foram encontrados e estudados por diversos pesquisadores, nos
estados e impérios antigos como o grande Zimbabwe, Marave, entre outros em território da
província de Manica e Sofala. Mas, como o processo de colonização foi violento, a
urbanização pré-colonial não escapou desse fato, visto que, os aspectos da urbanidade
africana foram sobrepostos pelos modelos urbanísticos europeus.
18

2.4 Instrumentos de planeamento e gestão do espaço urbano em Moçambique


Em Moçambique, o Plano de Estrutura Urbana é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana obrigatória para os municípios independentemente do
número de habitantes. Neste país as cidades estão sujeitos ao Regulamento da Lei no19/2007
de 18 de Julho do Ordenamento do Território, seu artigo 6, paragrafo primeiro e segundo
(Dever de ordenar o território) “1º - Compete ao Estado e às Autarquias Locais promover,
orientar [...] coordenar o ordenamento do território. 2º - Ao intervirem, fazem-no no sentido
de garantir o interesse público, com respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos”, que esta previsto na Constituição da República de Moçambique no seu artigo 7.
Constituem instrumentos de planeamento/ordenamento territorial ao nível autárquico:
Planos de Estrutura Urbana; Planos Gerais de Urbanização; Planos Parciais de Urbanização e
Planos de Pormenor.
 Plano Geral de Urbanização (PGU) - é o Instrumento que estabelece a estrutura e
qualifica o solo urbano na sua totalidade, tendo em consideração o equilíbrio entre os
diversos usos e funções urbanas com especial atenção as zonas de ocupação
espontânea como base para a elaboração do plano.
 Plano Parcial de Urbanização (PPU) - estabelece a estrutura e qualifica o solo urbano
imparcialmente, tendo em consideração o equilíbrio entre, os diversos usos e funções
urbanas, definem as redes de transporte, comunicações, energia e saneamento, os
equipamentos sociais.
 Plano de Pormenor (PP) - define com pormenor a tipologia de ocupação de quaisquer
áreas específica do centro urbano, estabelecendo concepção do espaço urbano
dispondo sobre uso do solo e condições das edificações, vias de circulação,
características das redes, das infra-estruturas e serviços, tanto para novas áreas assim
como para áreas existentes caracterizando as fachadas dos edifícios e arranjos dos
espaços livres.
 Plano de Estrutura Urbana (PEU) - instrumento que estabelece a organização espacial
da totalidade do território do município ou autarquia de povoação, os parâmetros e as
normas para a sua utilização, tendo em conta a ocupação actual, as infra-estruturas e
os equipamentos sociais existentes a implantar e a sua integração na estrutura espacial
regional..

O município possui maior responsabilidade no que diz respeito à gestão urbana na


medida em que é de sua responsabilidade a elaboração do PEU, constitucionalmente
19

reconhecido como o instrumento básico da política urbana. Além do PEU, o município possui
um rol de instrumentos de gestão urbanística que compõem a constituição jurídica urbana
local, dos quais destacaremos os principais: 1) Lei de uso e ocupação do solo urbano
(zoneamento); 2) Lei do Parcelamento do Solo Urbano; 3) Código de Obras; 4) Código de
Posturas municipais.
Estes instrumentos de ordenamento territorial a nível autárquico são elaborados por
iniciativa do Presidente da Autarquia e aprovados pela respectiva Assembleia Autárquica
(Art.38 n°.1 do Regulamento da Lei do Ordenamento do Território). O Regulamento define
também que não dar início à elaboração dos instrumentos de ordenamento territorial dentro
dos prazos definidos por lei, é uma infração ao Regulamento que será punida com multa
(FORJAZ, 2009).
Porém, os municípios moçambicanos, de forma abrangente, sofrem com graves
problemas de planeamento e gestão do solo urbano, de acordo com Forjaz:
[...] mais de metade da população urbana vive em bairros irregulares
carecendo dos serviços urbanos indispensáveis e ocupando de forma
deficiente e inadequada o terreno urbano [...] Em vários casos, maior
parte da infra-estrutura viária, abastecimento de água, energia, de
drenagem, saneamento e os próprios edifícios públicos existentes,
foram construídos na época colonial, para populações muito menores
(Forjaz, 2009, p.3).

A ineficácia de instrumentos de planeamento e gestão urbana, a expansão aceleradas


das cidades, a pressão dos assentamentos informais de ocupação irregular e a busca de
melhores condições de vida nas cidades constitui um grande entreve para se pensar na
implantação de infra-estruturas urbanas.
Desse modo, a constante expansão urbana e a ocupação irregular do solo urbano é
motivo de preocupação para os celebres urbanistas e ambientalistas e outros estudiosos em
áreas afins, que procuram encontrar meios que possam assegurem e garantir a preservação de
um ambiente saudável para o presente e o futuro das cidades (Grostein, 2001).
Por essa razão que, a inutilidade do planeamento e de políticas públicas destinadas a
proporcionar um ambiente equilibrado, moradia condigna a todas as pessoas, assim como uma
estrutura administrativa eficiente de fiscalização que não permitem a ocupação por
loteamentos clandestinos ou irregulares em áreas urbanas é fundamental quando pensamos
nas cidades. Os assentamentos urbanos informais instalados sobre áreas que se podem
considerar de preservação permanente em Moçambique se defrontam com a ameaça e
20

representam um conflito socioambiental que envolve a a exploração económica de


propriedade privada e o direito à moradia (Lage, 2001).
Essa realidade vem se alastrando por todo o país e se faz presente igualmente na
província de Nampula, especificamente no município de Monapo. A ocupação irregular das
áreas urbanas trouxe consequências graves ao ambiente urbano em Moçambique, não apenas
as áreas dos assentamentos informais , assim como das ocupações irregulares estão sob a
égide do Regulamento do Uso do Solo Urbano, considerado, portanto, como áreas não
urbanizáveis de protecção ambiental ou reserva do Estado de acordo com o Decreto Lei no
60/2006 de 26 de Dezembro.
Entretanto, toda a protecção jurídica dispensada pelo Decreto 60/2006, pela Lei
Ambiental (Lei n.º 20/97) e pelo Código de Postura Municipal não se tem mostrado suficiente
para evitar a ocupação clandestina e irregular do espaço urbano. E essa é a realidade que se
verifica não só na cidade de Nampula, mas, em outras cidades moçambicanas, e como afirma
Villaça (2000), o planeamento urbano tem sido usado mais para esconder do que para resolver
nossos chamados “problemas ambientais urbanos”.

2.5 Importância do ordenamento do território


De acordo com a Lei n.o 19/2007 de 18 de Julho, ordenamento do território é o
conjunto de princípios, directivas e regras que visam garantir a organização do espaço
nacional através de um processo contínuo, flexível e participativo na busca do equilíbrio entre
o homem, o meio físico e os recursos naturais, com vista a promoção do desenvolvimento
sustentável.
O ordenamento do território constitui uma ferramenta administrativa que tem como
principal linha orientadora a estruturação, o arranjo e a gestão territorial, quer ao nível urbano
e habitacional, quer ao nível natural.
Empiricamente, todos temos uma noção de quais são (ou deveriam ser) os objectivos
do ordenamento do território: levar a cabo a estruturação do território nacional, regular a sua
utilização, promover o correcto desenvolvimento territorial e dispor, no espaço e no tempo, as
infra-estruturas de uso humano de modo a que sejam mantidas a integridade e a estabilidade
de um país, melhoradas as condições de vida das populações e a que ocorra um correcto e
dinâmico desenvolvimento socioeconómico.
Em termos mais formais (ou institucionais), esta noção “popular” dos objectivos do
ordenamento do território foi transposta, desenvolvida e alargada, mantendo, até certo ponto,
estas ideias-base de organização, regulação e desenvolvimento.
21

Identificam-se dois grandes grupos de objectivos possíveis no ordenamento do


território: os globais ou gerais e os parciais ou específicos. O primeiro grupo é constituído
pelas grandes linhas orientadoras do ordenamento, linhas essas que estão bem patentes na
legislação base das políticas de ordenamento do território, quer a nível europeu, quer a nível
nacional. O segundo grupo tem como componentes os objectivos definidos para áreas
territoriais específicas. Neste inserem-se os objectivos definidos em documento.

CAPÍTULO III
METODOLOGIA DE PESQUISA
Apresenta-se, neste capítulo, uma breve descrição relativa aos aspectos metodológicos
utilizados ao longo da pesquisa. Descreve-se assim, em primeiro lugar, a natureza do estudo,
população e amostra e, finalmente, apresentam-se as técnicas de recolha de dados e a técnica
de análise de dados usadas e faz-se ainda, uma referência à ética de investigação.

3.1. Método de estudo


O estudo realizado nesta monografia insere-se numa perspectiva qualitativa, fundamentado
pelo método indutivo. Para o presente estudo, é usado o método indutivo visto que usou-se uma
amostra probabilística simples limitada de alguns membros do município de Monapo como
foi referenciado acima, além dos líderes comunitários que são responsáveis das comunidades,
dos agentes distritais de planeamento e infra-estruturas.
De acordo com Gil (1999, p.29), “o método indutivo parte do particular e coloca a
generalização como um produto posterior do trabalho de colecta dos dados particulares”.
Destaca-se ainda o uso do método histórico-lógico, analítico-sintético, estatístico,
comparativo e cartográfico.

3.2. Tipo de Pesquisa


Segundo Gil (2002), “a pesquisa constitui um procedimento racional e sistemático
objectivando proporcionar respostas aos problemas que são propostos” (p. 207). Portanto,
leva ao pesquisador adquirir novos conhecimentos sobre o mundo em que vive, com a
finalidade de responder a um questionamento ou inquietação, satisfazendo assim uma
necessidade. As pesquisas classificam-se quanto a abordagem, aos objectivos e aos
procedimentos técnicos.
22

3.2.1. Quanto à abordagem


O estudo realizado nesta monografia insere-se numa perspectiva qualitativa (Bogdan
& Biklen, 1994), seguindo-se as normas da investigação, assim definida: “uma actividade de
natureza cognitiva que consiste num processo sistemático, flexível e objecto de indagação e
que contribui para explicar e compreender os fenómenos” (Pacheco, 1995, p. 9). Neste
sentido, a investigação deve-se pautar pela sistematização, rigor científico e adequação ao
objecto de estudo.

3.2.2. Quanto aos objectivos


O presente estudo enquadra-se num estudo descritivo, de acordo com o
enquadramento temático da investigação, sobre o qual pretende-se fazer uma análise reflexiva
de uma realidade concreta e sobre o qual pretende-se fazer uma análise sistemática, reflexiva
e tão aprofundada quanto possível, com a intenção de descrever a realidade para a tornar
inteligível, “numa lógica exploratória, como meio de descoberta e de constituição de um
esquema teórico de inteligibilidade” (Abarello et al, 1997, p.117).
Na linha de pensamento de Bisquerra (1989), a investigação descritiva tem como
objectivo descrever determinado fenómeno, ou seja, “descrever o que é. Compreende a
descrição, registo, análise e interpretação das condições existentes no momento” (p. 31).
Assim, pretende-se analisar a processo de ocupação desordenada dos espaços urbanos
no bairro de Topelane B, Município de Monapo.

3.2.3. Quanto aos procedimentos


Quanto aos procedimentos trata-se de pesquisa bibliográfica que segundo Gil (2002),
“a pesquisa bibliográfica, é desenvolvida a partir de material já elaborado constituído
principalmente por livros e artigos científicos” (p.71). Neste sentido, o autor do trabalho, ao
desenvolver a sua pesquisa procurou aprofundar utilizando obras, artigos que abordam sobre a
ocupação desordenada dos espaços urbanos.

3.4. Universo e amostra


A pesquisa será realizada no Bairro Topelane B, na Vila Municipal do distrito de
Monapo na Província de Nampula. Assim sendo, a vila municipal compõe cerca de 12 mil
habitantes segundo os dados do Conselho Autárquico de Monapo, o que constitui o universo
desta pesquisa.
Desse modo a amostra será de 30 moradores. A escolha dos sujeitos da pesquisa
optou-se pela amostragem não probabilística (seleccionados tendo como base o critério de
23

escolha intencional). O critério de inclusão obedeceu as experiencias dos sujeitos aliado ao


período de residência acima de 2 anos na área em estudo, pessoas chaves na comunidade, com
capacidade de fornecer informações necessárias em quantidade e de qualidade para pesquisa.’

3.5. Técnicas de recolha de dados


O processo de recolha de informação obedece a um conjunto de estratégias e técnicas
metodológicas. Portanto, pela complexidade do estudo, os dados foram recolhidos através das
seguintes técnicas: observação não participante, entrevista semi-estruturada, inquérito por
questionário e consulta documental.

3.5.1. Observação
A observação segundo Marconi e Lakatos (2005), “é uma técnica de colecta de dados
para conseguir informações. Para além de consistir em ver, ouvir, examinar os factos que se
desejam estudar” (p. 90). Assim, usou-se esta técnica com objectivo de observar o processo de
urbanização no bairro Topelane B e as implicações que esse processo traz para as
comunidades residentes naquele bairro.

3.5.2. Entrevista
Segundo Bisqueira (1989), a entrevista é considerada como “uma conversa entre duas
pessoas iniciada pelo entrevistador com o propósito específico de obter informação relevante
para uma investigação” (p. 103), tendo como finalidade a recolha de informações que
permitam não só fornecer pistas para a caracterização do processo em estudo, como também
conhecer, sob alguns aspectos, os intervenientes do processo.
Neste estudo foi privilegiada a entrevista semi-estruturada, que se desenrolou a partir
de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente. Esta fonte de recolha de dados foi
escolhida porque apresenta uma grande vantagem sobre outras técnicas e permite a captação
imediata e corrente da informação desejada.
A entrevista foi dirigida a 1 técnico dos Serviços Distritais de Planeamento e Infra-
estruturas e 1 técnico do meio ambiente do Conselho Autárquico de Monapo,
respectivamente, onde os entrevistados forneceram informações relacionadas com a sua área
de actividade.
24

3.5.3. Questionário
A opção de utilização de questionário, enquanto instrumento de recolha de dados,
visou colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma
série de perguntas relativas a ocupação desordenada dos espaços urbanos no bairro Topelane
B, município de Monapo. Desse modo foram inquiridos 30 pessoas da comunidade,
moradores do bairro.
Para o tratamento de dados das entrevistas e dos questionários recorreu-se à análise de
conteúdo para “evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que
não a da mensagem” (Bardin, 2008, p. 48).

CAPÍTULO IV
APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Neste capítulo apresenta-se e, em simultâneo analisa-se e faz-se a interpretação dos
dados obtidos dos inquéritos e entrevistas realizadas no trabalho de campo, de forma
integrada no problema que se apresentou neste trabalho e os seus respectivos objectivos.
Como foi referenciado no capítulo I, o estudo visa analisar as implicações sócio ambientais do
uso e ocupação desordenada dos solos. Para o efeito apresentam-se os resultados referentes à
capacidade de pensamento dos moradores com relação ao uso e ocupação dos solos.

4.1 Localização da área de estudo


O distrito de Monapo está localizado na parte Este da Província de Nampula,
confinando a Norte com o distrito de Nacarôa, a Sul com o distrito de Mogincual, a Este com
os distritos de Nacala-Velha e Mossuril e a Oeste com os distritos de Muecate e Meconta. De
acordo com a figura abaixo.
25

Mapa 1: Localização geográfica da área de estudo

Fonte: Governo de Moçambique, 2016.

A superfície do distrito é de 3598 km2 e a sua população está estimada em 393.813


mil habitantes à data de 4/6/2018. Com uma densidade populacional aproximada de 99,5
hab/km2, prevê-se que o distrito em 2020 venha a atingir os 511 mil habitantes (MAE, 2014).
A estrutura etária do distrito reflecte uma relação de dependência económica de 1:1.1,
isto é, por cada 11 crianças ou anciões existem 8 pessoas em idade activa. Com uma
população jovem (52%, abaixo dos 15 anos), tem um índice de masculinidade de 97% (por
cada 100 pessoas do sexo feminino existem 97 do masculino) e uma taxa de urbanização do
distrito é de 14%, concentrada na Vila de Monapo (MAE, 2014).

4.2 Ocupação do solo no bairro Topelane B, município de Monapo


Segundo Souza (2010), em algumas décadas, dezenas de milhões de pessoas
migraram dos campos para as cidades sem que os governos locais estivessem dispostos a
investir no atendimento das necessidades mínimas de saneamento e moradia para estas
26

populações. Com isso o aumento de moradias irregulares gerou imensos danos ao equilíbrio
ambiental e a sadia qualidade de vida da população.
A ocupação desordenada do solo urbano é uma formação anormal de habitação,
portanto, remanejar poderia ser uma das soluções para a resolução deste problema, que afecta
vários municípios de Moçambique. Porém, se trata da retirada de milhares de famílias para
outros locais, o que exigiria a implantação de projectos eficientes e bem estruturados.
Para perceber como foi feita a distribuição dos espaços aos moradores para a
construção das suas residências no bairro lançou-se a seguinte questão como ilustra a tabela e
o gráfico abaixo.

Tabela 1: Nível de distribuição dos espaços para construção de residências.


Distrito/Bairro Inqueridos Como foi feita a destribuiçao dos lugares para a
construçao das casas nesse bairro?

Desordenada Ordenada

30 25 5

Monapo- Topelane B 100% 83.3 16.7

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Gráfico 1: Distribuição dos espaços para construção de residências

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Como se pode observar no gráfico 1, quando procurou saber aos moradores do bairro
Topelane B, numa amostra constituída por 30 inquiridos, 25 deles correspondente à (83,3%)
afirmaram que a distribuição dos espaço para construção de moradias foram feitas de forma
27

desordenada sem obedecer os critérios estabelecido, factor este que faz com que cada morador
a construi a sua casa sem obedecer o plano de ordenamento territorial do municipio.
Se a população não recebe informação sobre o Planos de Estrutura Urbana (PEU), que
estabelece a organização espacial da totalidade do território do município ou povoação, os
parâmetros e as normas para a sua utilização, tendo em conta a ocupação actual, as infra-
estruturas e os equipamentos sociais existentes e a implantar e a sua integração na estrutura
espacial regional, faz com que os moradores a construir de forma desordenada.
Neste caso, é importante reter que a exclusão dos moradores no processo de gestão
dos solos faz com que os resultados que serão obtidos neste processo nunca serão os
desejados, pois um dos envolvidos neste processo, que são os moradores, não está neste ciclo
de gestão.
Outra questão que procurou-se saber é que se os moradores do bairro tem ou não
conhecimentos sobre o os problemas que podem acontecer no uso e ocupação desordenada.
Os resultados, no gráfico 2, mostra uma tendência diferente da primeira questão, apesar da
maioria não ter conhecimento sobre como a ocupação dos espaços de ocorrer.

Gráfico 2: Moradores com conhecimentos sobre o os problemas que podem acontecer no uso e
ocupação desordenada dos espaços

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Dos 30 moradores do bairro Topelane B, 7 que corresponde a 23% afirmam que tem o
conhecimento dos problemas que podem acontecer no uso e ocupação desordenada dos
espaços, enquanto 23 correspondente a 77% afirmam que não tem o conhecimento dos
problemas que podem acontecer no uso e ocupação desordenada dos espaços.
28

A maior parte dos moradores não tem conhecimentos porque não existe um esforço
integrado entre as entidades do bairro (representantes do município) e a população para no
conjunto com os meios disponíveis para uma gestão dos solos. As estruturas duma forma
unilateral fazem o seu trabalho e a população também aparte faz o seu e o resultado disto é
aquilo que se verifica no terreno que é a alteração na qualidade do solo (erosão, compactação
e exposição).
Para a consciencialização da população sobre a importância do uso e ocupação dos
solos existem vários mecanismos para que esta tenha informação de maneira correctas e
eficazes em relação ao uso e sua ocupação.

4.3 Implicações sócio-ambientais da ocupação desordena dos espaços urbanos no bairro


Topelane B, município de Monapo
Segundo Grostein (2001) a urbanização acelerada concorre para diversos problemas
sócioambientais. Entre eles destaca desastres provocados por erosão, enchentes,
deslizamentos, destruição de florestas e áreas protegidas, contaminação do lençol freático e
das represas de abastecimento de água.

No bairro em estudo tem se notado situações dessa problemática devido ocupação


desordenada, neste caso, é importante manter a vegetação, pela função natural que esta tem de
interromper parte da precipitação, pois quanto menor a cobertura vegetal, menor será a
infiltração e maior será o volume de água que irá escorrer superficialmente. Se isto ocorre o
processo de erosão e destruição é certo, e esse processo desagrega o solo, que por sua vez
enche os cursos de água de detritos e dificultam o escoamento das águas. Como mostra a
figura abaixo.

Figura 1: Erosao no bairro Topelane B, município de Monapo


29

Fonte: Captada pela autora, 2019.

Segundo o técnico dos serviços distritais de planeamento e infra-estruturas (SDPI), a


expansão da vila de Monapo esta a criar muitos problemas na sua gestão, o entrevistado
salienta ainda que,
A desordem da situação dos assentamentos informais nos bairros do
município de Monapo remonta ao período do acelerado processo de
urbanização do país, que vem passando até o momento actual. Entre
as décadas de 2010 e 2015 o processo de expansão e ocupação
irregular do solo urbano dos bairros intensificou-se (Entrevista,
Outubro de 2019).

O relatório sobre o Melhoramento dos Assentamentos Informais em Moçambique,


apresentado pelo Ministério para Coordenação e Acção Ambiental - MICOA (2006) refere
que estes tipos de áreas estão em constante crescimento, não oferecendo condições ambientais
de vida minimamente aceitáveis apesar de existirem aspectos bastante atractivos, sobretudo,
no atinente à localização favorável em relação à área central.
Nas áreas irregulares, no entorno do bairro Topelane B é fácil observar a multiplicação
de construções precárias em assentamentos irregulares. Há ruas pavimentadas e, inclusive as
próprias casas estão “urbanizadas” em termos de alinhamento, mas, nalguns desses locais é
comum a impossibilidade de construção de fossas sépticas e sumidouros pelos proprietários
das habitações, em face do afloramento da água subterrânea, são zonas propensas a
inundações de preservação ambiental.
As consequências negativas para o ambiente provocadas pela ocupação irregular do
espaço urbano dos bairros do município de Monapo são de variadas e atinge todo sistema
urbano. É deste modo que Alves (2007) acredita que a ausência de planeamentos e a sua
articulação a gestão na integração territorial pode trazer consequência ao ambiente urbano.
Observa-se que, nos assentamentos informais caracterizados por habitações precárias
sem condições básicas de habitabilidade, o fenómeno se manifesta pelo aumento do número
de habitações num mesmo espaço, impossibilidade de remoção de resíduos sólidos, erosão
dos solos devido a acção dos agentes da geodinâmica externa, com maior intensidade a
precipitação, conforme mostra a figura
30

Figura 2: Habitação precária e erosão dos solos no Bairro Topelane B, município de Monapo

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Os níveis de degradação ambiental nos assentamentos informais dos bairros


localizados no perímetro urbano do município de Monapo têm ultrapassado os limites da
recuperação, as agressões ao meio ambiente e a ocupação irregular equivalem a uma
desestruturação total completa do sistema urbano, contribuindo para a elevação da degradação
ambiental da cidade no geral e dos bairros de forma particular perigosamente. As áreas
invadidas deixam desabrigadas muitas vezes os seus moradores em períodos de chuvas. Os
assentamentos informais tornaram-se locais insalubres, a falta água encanada, o lixo, a falta
de sistema esgoto, os canais de drenagem de águas sujas, poluídas e fétidas contribuem para
ocorrência de doenças como a cólera e malária nesses bairros.
De acordo com o técnico dos Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAE),
os problemas de erosão dos solos estão cada vez a se intensificar no bairro de Topelane B e
em todo município, o entrevistado salienta ainda que,
Estamos numa situação complicada porque a maior parte das nossas
construções são precárias e não obedecem o plano de estrutura do
município, registam-se assim, problemas de erosão, poluição das
águas, falta de acessos para carros entre outros aspectos que implicam
a nossa vida (Entrevista, Outubro de 2019).

Na verdade, a deposição de resíduos sólidos são uma das consequências da ocupação


irregular, visto que, é difícil ou mesmo impossível garantir a recolha do lixo nesses bairros
31

por causa do carácter desordenado das vias ou a inacessibilidade que não permite a
movimentação de veículos de recolha de resíduos sólidos.

Figura 3: Deposição de resíduos no bairro Topelane B, município de Monapo

Fonte: Captada pela autora, 2019.


As irregularidades de uso e ocupação do solo urbano deu braços à ilegalidade dos
assentamentos, o lixo se instalou e passou a fazer parte do meio ambiente desses bairros, as
áreas foram tomadas pela falta de saneamento e infra-estruturas básicas, não se cumprindo o
capitulo vinte e um da Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e
Desenvolvimento.
No entanto, é como se víssemos os surdos aos gritos alertando aos ambientalistas e
gestores urbanos sobre o prosseguimento das autoridades públicas e populares na destruição
dos assentamentos, os segundos ocupando e os primeiros deixando que ocupem as áreas de
preservação ambiental que dão protecção ao ambiente urbano e provocando com essas
omissões e acções consequências danosas ao meio ambiente.

4.4 Medidas de mitigação da ocupação desordenada dos espaços urbanos no bairro


Topenale B
Com objectivo de compreender sobre as medidas de mitigação foram questionados
aos entrevistados. segundo um dos entrevistados salientou que as campanhas de sensibilização
são extremamente importantes para a gestão de território, nelas são difundidas as principais
estratégias, politicas e acções desenvolvidas para a minimização os impactos e código de
32

conduta elaborado pelo município e que deve ser seguido pelos moradores na gestão do uso e
ocupação dos solos.
Um outro entrevistado destacou que a ocupação desordenada dos espaços urbanos
suas possíveis soluções passam pela formação de uma consciência ambiental, não só entre os
moradores/invasores, mas também entre os diversos sectores públicos e privados da sociedade
nampulense e moçambicana em geral. Esse segmento percebe a importância da melhoria dos
assentamentos para o equilíbrio do ambiente urbano.
Todavia, o custo financeiro para a adopção das medidas necessárias à recuperação e à
requalificação desses assentamentos informais é por demais elevado, face à degradação
ambiental que já se verifica nos locais. A lentidão no processo de reassentamento é outro
factor que preocupa esse segmento, uma vez que deviam ser respeitados os prazos
estabelecidos pela Lei de Reassentamento-Decreto nº 31/2012, de 8 de Agosto. Mas, há,
ainda, outro custo para a recuperação dos assentamentos informais dos bairros: a questão
política, vista pelos entrevistados como talvez, o maior entrave à realização desses projectos.
Ainda, os entrevistados revelaram desacreditar a possibilidade de se encontrar uma
solução de curto e médio prazo capaz de mitigar os problemas ambientais nos assentamentos
informais de ocupação irregular, mas, crêem que soluções de facto existem em longo prazo.
O contexto actual aponta para os órgãos públicos como os agentes que fazem
progredir a ocupação irregular do solo urbano desde meados de volta da década de 1980.
Nesse primeiro momento, a falta de legislação adequada e de políticas públicas voltadas à
regulamentação do uso do solo urbano e preservação do ambiente permitiu que os órgãos
públicos, atendendo à pressão por moradia popular fornecessem lotes de forma irregular,
ignorando os parâmetros da urbanização, permitindo a construção de casas sem respeitar a
ordem urbanística.
Para os moradores, conservar o ambiente é importante, mas, nem todos reconhecem a
importância da preservação do ambiente para presente e as futuras gerações. Quando
questionados de forma mais específica, consideraram que preservar o ambiente significa ter
um espaço vasto para construção das suas casas a custo zero (80%), para quem não tem onde
morar. Compreendem que a ocupação irregular é necessária porque concebem a habitação
como resolução de todos os problemas que eles enfrentam.
A construção de obras de saneamento, rede de esgoto sanitário, pavimentação de ruas,
instalação de infra-estruturas urbanas é tudo o que a comunidade local espera dos órgãos
públicos. Nessa perspectiva, os assentamentos informais é um problema que precisa ser
resolvido, a partir de criação de politicas habitacionais não excludentes e não é a solução
33

destruir definitivamente algumas habitações para abrir vias de acesso e outras infra-estruturas
urbanas na percepção destes.
Em um esforço de análise, podemos considerar que pouco se vislumbra para os
assentamentos informais expandidos no bairro Topelane B uma perspectiva de recuperação ou
requalificação a curto e médio prazo. A perspectiva é de um recrudescer do processo de
ocupação irregular das áreas dos bairros nos próximos anos. Pelos comentários dos diversos
atores, pode-se inferir que há pouco interesse na renovação dos assentamentos informais do
municipio, pouca vontade política, desconhecimento das comunidades sobre as vantagens da
recuperação dessas áreas ambientalmente degradadas, porque para elas implica mudanças
profundas.
Contudo, muito embora pareça atribuir ao poder municipal a responsabilidade por este
estado de degradação ambiental dos assentamentos informais, após a vivência propiciada pela
pesquisa, torna-se razoável compreender que a solução para os problemas ambientais nesses
assentamentos não é fácil; não se circunscreve as vontades ou se limita as questões
financeiras, há muitos responsáveis por toda essa situação.

CAPÍTULO V
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusões
O presente estudo buscou analisar a ocupação desordenada vivenciada pelos
moradores do Bairro Topelane B, procurando compreender sua ocupação a partir da expansão
urbana ocorrida no Municipio. A consequência dessa questão é o retorno das famílias às áreas
de risco, percebe-se que além do saneamento precário que contribui para o aumento dos
impactos na área, ocorre também a inexistência de serviços eficientes de esgotamento
sanitário, que prejudica tanto a população quanto a própria natureza.
Vista sob uma perspectiva ambiental, de acordo com a legislação vigente relacionada
à protecção do meio ambiente em Moçambique e ainda as normas e regulamentos de
planeamento e gestão urbana, pode-se chegar à conclusão de que efectivamente a expansão
urbana e a ocupação irregular do solo urbano no bairro Topelane B ocorre de forma não
harmoniosa com a legislação de terras que não monitora, visto que facilita para que as
construções irregulares estejam situadas em áreas de lixões, áreas acentuadas declive sujeitas
à erosão dos solos.
34

A partir da identificação desses problemas ambientais decorrentes da expansão urbana


acelerada e o uso irregular do solo, propõe-se que sejam revistas e consolidadas as políticas
públicas que proporcionem recuperação/requalificação desses assentamentos e posta em
prática nos lotes que ainda não foram ocupados irregularmente, o planeamento de formas a
amenizar os impactos ambientais consequências das ocupações irregulares.
E ainda é necessário lembrar que a realização de obras de infra-estrutura urbanas
como pavimentação de ruas, drenagem pluvial e a melhoria ao acesso (requalificação) dos
bairros de assentamentos informais deve ser feita mediante um plano de gestão urbana,
através de consultas públicas como o envolvimento das comunidades locais e executada por
órgãos responsáveis e competentes de forma transparente (garantir um processo de
reassentamento sustentável e justo de acordo com o regulamento).
O município de Monapo tem a necessidade de redobrar os esforços de modo a
minimizar as situações de riscos e problemas ambientais verificados nos bairros de ocupação
irregular de formas a evitar que novas situações semelhantes de assentamentos informais se
repitam no futuro, investindo e divulgando as políticas públicas e regulamentos urbanísticos
específicos que juntamente com a população facilitem o processo de renovação dos
assentamentos que apresentam o ambiente já degradado.
5.2. Recomendações
Com vista a melhoria da qualidade ambiental e para garantir a sustentabilidade da
comunidade no que refere as implicações sócio-ambientais e para uma boa qualidade de vida
nas comunidades, são apresentadas as seguintes sugestões:

 Alteração na paisagem- as entidades superiores devem exigir a não supressão das


espécies vegetais e do relevo em áreas que não interfiram nos empreendimentos;
 Formação de áreas degradadas- evitar as construções às margens do rio, as construções
e desmatamento dos topos de morros e aplicar as penalidades previstas na Lei;
 Alteração na qualidade do solo (erosão, compactação e exposição)- implantar pontos
para a infiltração de águas pluviais, como nas áreas de meia encosta e fundos de vale;
e construir canais de condução para a água correctamente.
 Elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos, compatibilização com o Plano
Diretor para o município;
 Definir e fiscalizar o uso e ocupação do solo – integração com órgãos municipais;
 Seguir as normas técnicas para cortes de taludes e de aterros;
 Drenagem urbana;
35

 Impermeabilização das edificações;


 Sistema de esgoto eficiente;
 Colecta de lixo.
 A criação de programas educativos e de capacitação em escolas e comunidades locais,
o cumprimento de normas sobre construção e princípios para planeamento e uso do
solo;
 Investir em implantação e manutenção de infra-estrutura que evitem inundações e o
estabelecimento de mecanismos de organização e coordenação de acções com base na
participação de comunidades e sociedade civil organizada.
 A redução de riscos de desastres ajuda na diminuição da pobreza, favorece a geração
de empregos e oportunidades comerciais, a igualdade social, ecossistemas mais
equilibrados e ainda atua nas melhorias das políticas de saúde e de educação.

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36

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