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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL- MEDICINA


VETERINÁRIA

DISCIPLINA: BIOÉTICA ANIMAL

CIRURGIAS ESTÉTICAS EM CÃES

Teresina –PI

2022
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ANDREZA DANIELLY VIEIRA PEREIRA

LUCIANA RANGÉLIA MALVINA SOUZA DE CASTRO

CLAYZIANE LINO ARAÚJO ARÊA LEÃO

FELIPE SOARES MAGALHÃES

GEVAELSOM DE OLIVEIRA OLIMPIO

MARINA SILVA CARVALHO

MÔNICA SOUSA HOLANDA DOS SANTOS

CIRURGIAS ESTÉTICAS EM CÃES

Trabalho apresentado no Programa de Residência


Multiprofissional em Medicina Veterinária da
Universidade Federal do Piauí na Disciplina de
Bioética Animal como requisito obrigatório para
aprovação.

Discente: Drª Ana Lys Bezerra Barradas Mineiro.

Teresina –PI

2022
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1. INTRODUÇÃO

Vários procedimentos cirúrgicos estéticos têm sido realizados em animais na medicina


veterinária há décadas, e muitas vezes é razoável supor que essas intervenções trarão
benefícios à saúde ou atenderão às características do padrão da raça. Atualmente, muitos
países vêm condenando a prática e decretando proibições, pois pesquisas comprovam que
essas intervenções cirúrgicas são prejudiciais à saúde física e comportamental dos animais
(GINDRI, 2017). Outrora, tais procedimentos eram amplamente utilizados para aproximar o
animal de um ideal de beleza, tais como conchectomia (Corte de orelha) caudectomia (corte
da cauda), que são tradições amplamente difundidas em todo território brasileiro (PINHO,
2008).
Vale ressaltar, que hoje, no Brasil, os procedimentos estéticos para aproximação de
um padrão de beleza, seja pelo padrão cultural difundido ou pelo gosto do tutor foi proibido
pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) em 2008, através da resolução nº
877 que proíbe cirurgias estéticas mutilantes em cães e gatos (CFMV, 2013). Segundo Gindri,
2017, a lei resguarda casos em que por exemplo, um animal que foi vítima de acidente, ou em
casos de patologias oncológicas dentre outros casos, em que faz-se necessário o procedimento
para bem estar do animal.
Ademais, vale ressaltar que os procedimentos realizados por razões estéticas também
são consideradas graves, pois por conveniência do criador, estes animais acabam perdendo a
capacidade de expressão, como balançar a cauda, levantar as orelhas ou latir, o que pode
acarretar no estresse psicológico do animal levando-o a agressividade (CRMV/BA, 2018;
SILVA et. al. 2017)
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2. RESOLUÇÃO Nº 877, DE 15 DE FEVEREIRO DE 2008

Esta resolução trás alterações sobre a realização de cirurgias mutilantes em pequenos


animais e sobre os procedimentos cirúrgicos em animais de produção e em animais silvestres.
De acordo com esta nova resolução a necessidade de mudança se deu devido a necessidade de
disciplinar, uniformizar e normatizar cirurgias mutilantes em pequenos animais; considerando
que as intervenções cirúrgicas ditas mutilantes, em pequenos animais, têm sido realizadas de
forma indiscriminada em todo o País e que muitos procedimentos são danosos e
desnecessários, o que fere o bem-estar dos animais.
De acordo com o capítulo IV art. 7º desta nova resolução a caudectomia antes
considerada como não recomendada passa a ser uma das cirurgias estéticas proibidas na
prática clínica, além das já proibidas: conchectomia e e cordectomia em cães e onicectomia
em felinos, cabendo processo ético de casos omissos e suas exceções (capítulo V).
Em casos de necessidade clínica de tais procedimentos são permitidos desde que
sigam as recomendações instituídas nos Art. 2º e 3º desta mesma resolução, onde diz que as
cirurgias devem ser realizadas, preferencialmente, em locais fechados e de uso adequado para
esta finalidade e t odos os procedimentos anestésicos e/ou cirúrgicos devem ser realizados
exclusivamente pelo médico-veterinário conforme previsto na Lei nº 5.517/68.

3. CAUDECTOMIA E CONCHECTOMIA

A caudectomia é um procedimento proibido e que fere o bem estar animal, quando


utilizado para fins estéticos CRMV (2008). A mesma refere-se a retirada de cauda do cão ou
de parte dela, ela possui papel importante no dia-a-dia de um cão. É utilizada para
comunicação e expressão do animal, conforme sua posição, pode-se identificar se o mesmo
está com medo, excitado ou até mesmo agressivo.
Outro ponto de grande importância, é comunicação que é realidade entre os cães
através do olfato. Isso acontece através da secreção e odor que as glândulas anais liberam, e
com isso é deixado uma impressão digital entre eles. As glândulas são encontradas ao redor
do ânus e, a cauda tem como função dispersar mais ou menos esse odor, conforme a vontade
do animal. Quando é realizado a caudectomia, com a perda dessa ferramenta, os cães podem
apresentar agressividade devido à dificuldade de comunicação ou pela grande sensibilidade no
coto, que gera bastante dor (WANSBROUGH, 1996).
Segundo Prado (2019), o ato de mutilar enquadra-se no sentido cultural brasileiro de
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buscar o ato de submissão por parte do animal, uma vez quando expostos a esse tipo de
procedimento é promovido de forma proposital dor e trauma, que no futuro, favorecerá a
obediência animal ao dono.
A maioria das vezes em que esses procedimentos são feitos, são realizados em
ambientes inadequados, inapropriado, com ausência de equipamentos corretos que
proporcionem segurança e ausência de dor ao animal. Salientando que boa parte desses
procedimentos são realizados por pessoas que não tem o diploma de medico veterinário, ou
cursando algum curso. A realidade dessa situação, acarreta piora no bem estar animal, quando
não levam o paciente a óbito, devido as circunstância cruéis nas quais são realizados
(PRADO, 2019).
O corte das orelhas dos cães, conhecido como “conchectomia”, é realizado para deixar
o animal com ar de bravura, um animal mais agressivo. Isso acontece com mais frequência em
raça de cães pit bull. É entendido que essa mudança tem impacto na aparência, não no
comportamento do mesmo. Parece que as orelhas eretas favorecem a audição, por isso
caçadores utilizaram essa técnica para que os cães não se distraíssem com o faro em outras
épocas. Um outro fator é a questão comercial de venda de filhotes, onde um cão com corte de
rabo e orelhas, culturalmente, tem mais raça (WANSBROUGH, 1996).

4. CORDECTOMIA

A cordectomia é um procedimento cirúrgico realizado em cães em que as cordas


vocais do animal são removidas parcial ou completamente. Após a cirurgia, os cães não
podem mais latir ou expressar seus instintos naturais. Vários países europeus proibiram esta
intervenção, exceto quando é necessária por razões veterinárias. Infelizmente, essa regra é
contornada porque os donos de cães podem fazer cirurgias fora da Europa (geralmente no
Canadá) ou importar cães que foram operados. (Schaldemose, 2011).
Segundo Silva (2017) , após o procesimento de cordectomia, os cães latem de forma
áspera ou aguda. Tal procedimento não oferece benefícios físicos, acarretam complicações,
além do alto risco de infecção, pois a traquéia e laringe não podem ser mantidos
completamente estéreis. Em alguns casos, o procedimento causa problemas respiratórios,
tosse crônica e náuseas, além de prejudicar a comunicação do animal.
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5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Infere-se, portanto, que o CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) através


da Resolução nº 1027/2013, permite cirurgias apenas com indicações clínicas, sendo proibida
qualquer cirurgia com objetivo estético em cães e gatos. Enfatiza-se, que tais procedimentos
devem ser banidos, e procedimentos que trazem benefícios para a sociedade, como a
castração, devem ser estimulados para diminuição de doenças do sistema reprodutivo, como
piometra, doenças prostáticas, dentre outras patologias associadas diminuíam.
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REFERÊNCIAS

Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução nº 877, de 15 de fevereiro de 2008.


Dispõe sobre os procedimentos cirúrgicos em animais de produção e em animais silvestres; e
cirurgias mutilantes em pequenos animais e dá outras providências.

Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução nº 1023, de 27 de fevereiro de 2013.


Altera a redação do §1º, artigo 7º, e revoga o §2º, artigo 7º, ambos da Resolução nº 877, de 15
de fevereiro de 2008, e revoga o artigo 1º da Resolução nº 793, de 4 de abril de 2005.

CFMV. Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução nº 877, de 15 de fevereiro de


2008. Dispõe sobre os procedimentos cirúrgicos em animais de produção e em animais
silvestres; e cirurgias mutilantes em pequenos animais e dá outras providências.

Gindri, F. C.; Funguetto, C. I.; PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS PROIBIDOS EM


MEDICINA VETERINÁRIA, Anais do 9º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO,
PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE Universidade Federal do Pampa, 2017.

LOPES, V. C.; Maus-tratos aos animais frente à nova lei nº 14.064/2020, Revista
Intermesas, v. 42, n. 42, 2021.

PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 7 edição. Editora Forense. 2019.

PRINCIPIOS AMBIENTAIS - https://www.inbs.com.br/6-principios-direito-ambiental/


acessado em 13 de outubro de 2022

SCHALDEMOSE, C. Proibição da cordectomia em cães, Pergunta Parlamentar, 2010.


acesso em: 13 DE Outubro de 2022.<https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/E-7-
2010-7508_PT.html>

WANSBROUGH, R. K. COSMETIC TAIL DOCKING IN DOGS. Aust Vet J. 1996.

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