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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CCA


COMISSÃO DE RESIDÊNCIA EM ÁREA MULTIPROFISSIONAL EM ÁREA
PROFISSIONAL DE SAÚDE – COREMU
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM ÁREA PROFISSIONAL DE SAÚDE -
MEDICINA VETERINÁRIA – CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE CÃES E
GATOS

CORREÇÃO CIRÚRGICA DE COLOBOMA BILATERAL EM FELINO

RESIDENTE: RAFFAELLA Mª DE OLIVEIRA BATISTA


ORIENTADOR: PROFº. DRº. MARCELO CAMPOS RODRIGUES

TERESINA-PI
2023
INTRODUÇÃO
• A oftalmologia com o passar dos anos vem cada vez mais ganhando
espaço e notoriedade dentro da medicina veterinária (SILVA, 2010;
FERREIRA, 2019);

• As afecções oculares são rotineiras, compreende um grupo de origem


congênita, adquirida ou até mesmo neoplásicas

• entrópio, ectrópio, distiquíase, triquíase e cílio ectópico (LAUS et al.,


2017; GALENO et al., 2019).
INTRODUÇÃO
• enfatiza-se o coloboma palpebral, no qual se refere a ausência congênita
ou falha no desenvolvimento parcial da pálpebra, sendo esta de origem
embrionária. Essa condição é rara e pode acometer a pálpebra superior,
inferior, de forma unilateral ou bilateral (SOUZA et al., 2013).
• Dentre os anexos oculares temos as pálpebras, onde estas possuem
diversas funções que favorecem uma melhor visão. Elas são constituídas
de uma estrutura favorecendo rigidez a estrutura da pálpebra chamada
placa tarsal fibrosa, músculos, conjuntiva e pele na superfície interna.
Possuem outros anexos como cílios e glândula. As pálpebras possuem
como principal função proteção e produção de parte da lágrima
INTRODUÇÃO
• Ele pode ser divididos em típicos e atípicos. O primeiro correspondem
ao encerramento incompleto da fissura óptica embrionária. Os
atípicos se relacionam a falta de indução de um tecido por outro em
uma outra localização. (Ofri, 2013a)
• Ele pode ser divididos em típicos e atípicos. O primeiro correspondem
ao encerramento incompleto da fissura óptica embrionária. Os
atípicos se relacionam a falta de indução de um tecido por outro em
uma outra localização. (Ofri, 2013a)
OBJETIVO
• Objetiva-se, com o presente trabalho, descrever o caso clínico de
coloboma palpebral superior bilateral em felino, corrigido com técnica
cirúrgica de blefaroplastia
REVISÃO DE LITERATURA
 O olho é um órgão sensorial de extrema importância e é responsável
pela visão, onde, o mesmo, responde aos estímulos luminosos que
estão presentes no meio externo e os convertem em impulsos elétricos
para que posteriormente, seja formado em imagem no córtex occipital
(LIEBICH; SÓTONYI; KÖNIG, 2014)

Dentro da órbita está o bulbo ocular, espaço compreendido por


estruturas ósseas presente no crânio, como o osso frontal, lacrimal
esfenoide, zigomático, palatino e maxilar (SAMUELSON, 2013).
REVISÃO DE LITERATURA
• O bulbo ocular é formado por três compartimentos a câmara anterior (espaço
compreendido entre a córnea-íris), a câmara posterior (entre íris, lente e corpo
ciliar), preenchidas pelo humor aquoso, e por fim o corpo vítreo, espaço
localizado posteriormente à lente, limitado pela retina
• Existem alguns tipos de coloboma na região oftálmica como: Coloboma da Íris,
onde ocorre o desenvolvimento incompleto da mesma (ECVO HED Committee,
2017b). Possui diversas localizações e até mesmo podendo ser parcial ou total.
Em casos graves pode ocorrer a aniridia, ausência por completo da íris
(Hendrix, 2013). Coloboma do Nervo Óptico, onde a presença de escavações
de maior ou menor dimensão no disco óptico que podem ser observadas por
fundoscopia. Nos pacientes caninos essa condição não afeta a visão (Mclellan e
Narfström, 2014).
REVISÃO DE LITERATURA
• O coloboma palpebral, onde se torna mais comum em gatos, e
surgem mais comumente na região lateral das pálpebras superiores
(Maggs, 2013b). Já nos cães, acomete mais as pálpebras inferiores,
sendo esta hereditária. A agenesia palpebral pode causar evaporação
excessiva e dispersão inadequada da película lacrimal e triquíase, que
podem causar dor, cerato-conjuntivite crônica e úlceras de córnea
(Maggs, 2013b; Manning, 2014). Associada a cicatrização,
pigmentação e/ou neovascularização da córnea. Quando os
colobomas surgem na pálpebra inferior os animais podem apresentar
também epífora (Maggs, 2013b).
REVISÃO DE LITERATURA
• Dentro da literatura são descritas várias técnicas, bem como enxertos de pele
deslizantes, retalhos cutâneos em Z-plastia, enxertos semicirculares, técnica de
Culter-Beard ou Bucket-handle, técnica de Mustardé modificada, técnica de
Roberts e Bistner, técnica de transposição da comissura labial, blefaoplatia,
dentre outras, sendo o objetivo de todas as técnicas tentar proporcionar uma
pálpebra mais funcional que garanta proteção da córnea (ESSON, 2001; STILES,
2013).
• A cirurgia corretiva de coloboma palpebral e entrópio em felinos consiste em
reconstruir a parte do olho que foi afetada a fim de melhorar a visão do
animal, evitar complicações como infecções oculares e danos na córnea,
proporcionar uma melhor qualidade de vida e não menos importante prover
uma melhor estética, algo muito questionado pelos tutores
MATERIAIS E MÉTODOS
• Um felino, SRD, de aproximadamente três anos, macho, resgatado,
3kg de massa corporal, foi atendido no Hospital Veterinário
Universitário (HVU), no setor de clínica médica
• A tutora resgatou o paciente há duas semanas e relatou que desde o
primeiro momento ele apresentava alterações oculares. A queixa
principal era que o paciente estava com os dois olhos inflamados,
ressecados e com secreção sanguinolenta. Anteriormente foi
realizado tratamento oftálmico a base de tobramicina colírio, na
posologia de uma gota em cada olho, duas vezes ao dia, por 10 dias.
Foi relatado melhora da inflamação e secreção ocular
MATERIAIS E MÉTODOS
• No exame clínico geral o paciente apresentava-se alerta, mucosas
normocoradas, desidratação de 6%, tpc menor que três segundos,
escore corporal três, linfonodos pré-escapular e poplíteo reativos,
pavilhão auricular com excesso de cerúmen, sem algia abdominal
mediante palpação.
• Os parâmetros fisiológicos foram: FC: 205 bpm; FR: 42mpm; TR: 38,7º
C. Ausculta cardíaca estava com ritmo sinusal, ausculta pulmonar
limpa
MATERIAIS E MÉTODOS
Ao avaliar os olhos, foi observado, entrópio bilateral,
presença de secreção ocular sanguinolenta, irritação,
inflamação, algia e agenesia palpebral superior bilateral. Ao
final da consulta foi prescrito Hyabak 0,15% (1 gt/olho,
QID/10dd) e Still Colírio (1gt/olho, 4-4h/10dd).

Posteriormente, paciente foi enchaminhado para consulta


com oftalmologista, que ocorreu dois dias depois.
MATERIAIS E MÉTODOS
• . No exame físico e específico do olho esquerdo e direito foram
observados: conjuntiva palpebral e bulbar com hiperemia, entrópio,
esclera aderida a conjuntiva, córnea apresentando leucoma citricial,
câmara anterior de aspecto normal, humor aquoso límpido, normal.
Pupila, íris, reflexo de ameaça, reflexo palpebral, reflexo pupilar
direto, reflexo pupilar consensual, todos normais de ambos os olhos.
• Paciente teve diagnóstico de coloboma palpebral superior e entrópio,
ambos bilateral
• Como tratamento, foi recomendado correção cirúrgica por meio da
técnica de blefaroplastia
MATERIAIS E MÉTODOS
• Os exames complementares pré-cirúrgico, foram hemograma e perfil
bioquímico (ALT, AST, FA, Proteínas Totais, Ureia e Creatinina).
  VALORES ENCONTRADOS   VALORES ENCONTRADOS
ERITROGRAMA LEUCOGRAMA
Leucócitos Totais(Cel/µL)  
8,1 19,900
Hemácias (x10⁶/µL)
  Relativo (%) Absoluto(%)
Hemoglobina (g/dL) 13
Mielócitos 0 0
Hematócrito (%) 37 Metamielócitos 0 0
VGM (fL) 45,0 Bastonetes 0 0
Segmentados 56 11.144
CHGM (g/dL) 35,9
Linfócitos 30 5.970
PPT 7,8 Eosinófilos 7 1.393
Monócitos 7 1393
Plaquetas (x10³/µL) 457
Basófilos 0  

Eritrograma pré-cirúrgico de um felino, SRD, Leucograma pré-cirúrgico de um felino, SRD,


apresentando coloboma palpebral bilateral apresentando coloboma palpebral bilateral
  VALOR VALORES DE REFERÊNCIA
PERFIL BIOQUÍMICO CONCENTRADO

Ureia (mg/dl) 78,0 10-75

Creatinina (mg/dl) 1,2 0,8-1,8


    VALORES DE REFERÊNCIA
PERFIL BIOQUÍMICO VALOR CONCENTRADO

Ureia (mg/dl) 78,0 10-75

Creatinina (mg/dl) 1,2 0,8-1,8

 
Após a análise dos exames laboratoriais, onde não haviam alterações importantes, paciente foi
encaminhado para cirurgia.
• O animal foi submetido ao jejum de sólidos por doze horas e jejum
hídrico de seis horas
• antibioticoprofilaxia com cefazolina na dose de (20 mg/Kg, IV).
• medicação pré-anestésica (MPA)
• metadona na dose de (0,3 mg/Kg, IM) e, Além disso, fez-se necessário
A indução anestésica cetamina (4mg/Kg/IV)
• midazolan (0,1mg/Kg/IV).
• A manutenção anestésica com propofol e oxigênio 100%
• decúbito lateral, realizando uma tricotomia ampla, logo após com a ajuda de um paquímero
e caneta dermatográfica
• técnica inicial a de Hotz-Celsus, onde está corrige o entrópio
• pálpebra direita superior foi fixada - ncisão da prega cutânea de 2 à 3 mm da margem
palpebral - palpebral superior e inferior com o bisturi nº 15, em formato de meia lua no
olho direito, depois a pele foi divulsionada com a tesoura romba, a fim de acessar o tecido e
realizar as correções necessárias. Após a retirada do tecido, procedeu-se a dermorrafia com
a sutura em padrão simples separados, utilizando fio nylon 5-0 monofilamentado. Logo
após foi realizado a técnica cirúrgica de retalho de conjuntiva da pálpebra, na qual se
retirou uma pequena secção de tecido da conjuntiva da pálpebra inferior utilizando tesoura
de íris, tesoura curva fina e a pinça de calázio e logo após realizado uma sutura na borda da
pálpebra superior para fechar a fenda com o retalho. O retalho de conjuntiva foi revestido
com a conjuntiva bulbar dorsal para ajudar a preservar a integridade da superfície ocular.
• Como medicações pós-operatórias para tratamento domiciliar, foram
prescritos pomada oftálmica à base de aminoácidos e cloranfenicol
(TID/10dd) e cloridrato de tramadol (2 mg/kg/VO/TID/4dd).
• Foi recomendado limpeza com solução fisiológica da ferida cirúrgica,
BID e uso obrigatório e em tempo integral de colar elisabetano, até a
retirada dos pontos.
• A reavaliação se deu após 10 dias, onde a tutora relatou que não fez
uso de colar elisabetano como foi recomendado, ocasionando a
retirada do retalho pelo próprio paciente, inviabilizando qualquer
resposta pós-cirúrgica satisfatória
RESULTADO E DISCUSSÃO
• Segundo Maciel et al. (2013) a agenesia palpebral em gatos é a
alteração congênita mais comum nessa espécie, como foi evidenciado
neste relato e pode estar associada à hipoplasia conjuntival
(WHITTAKER et al., 2010; STADES; VAN DER WOERDT, 2013; STILES,
2013).
• Se a condição não ocasionar uma doença corneana evidente, a
cirurgia geralmente é adiada até o animal completar 10 a 12 semanas
de idade, pois os riscos provenientes da anestesia são considerados
menores (STILES, 2013).
RESULTADO E DISCUSSÃO
• Apesar do correto emprego da técnica e do respeito aos detalhes
descritos na literatura, relativamente a confecção de retalhos
cutâneos subdérmicos (WALLER, 2014) observou-se necrose da ponta
do retalho na pele transplantado.
• Tal complicação pode ter sido oriunda de uma base pequena do
retalho e pela manipulação traumática do mesmo, levando a retardo
na neovascularização e consequentemente necrose. Williams; Moore
(2013) relatam que tal complicação ocorre com maior frequência
quando se aplicam retalhos cutâneos de padrão subdérmicos,
comparativamente aos de padrão axial.
RESULTADO E DISCUSSÃO
• Maciel et al. (2016) em um dos sete pacientes submetidos à cirurgia
de correção de coloboma palpebral por meio da técnica de
transposição na comissura labial, além de outras complicações como
deiscência de pontos, triquíase e distorção da face, eventos não
verificados no paciente do presente caso.
CONCLUSAO
• Conclui-se que os cuidados pós-operatório de cirurgias oftálmicas, são
bastantes delicados e exigem uma atenção especial, pois, falha no
manejo pós-cirúrgico pode acarretar no insucesso da técnica e
comprometer a função do órgão.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
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GATOS

CORREÇÃO CIRÚRGICA DE COLOBOMA BILATERAL EM FELINO

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2023

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