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Diabetes Mellitus em Cães

Resumo

Diabetes mellitus é uma doença endócrina crónica que ocorre nos cães e nos gatos. É tem
como principal caracterizada por uma maior quantia de açúcar no sangue e resulta de uma
deficiência em produzir insulina suficiente para as necessidades do animal, sendo o mais raro a
incapacidade de utilização da insulina.

O Diabetes mellitus juvenil é bastante raro e representa menos de 1% de todos os casos de


diabetes canino diagnosticados, tem como principais causas hipoplasia e aplasia das ilhotas
pancreáticas, além da atrofia idiopática do pâncreas. Nos cães tem predominância o Diabetes
Mellitus tipo 1, tendo a incapacidade de poder reproduzir a insulina pelo pâncreas endócrino,
podendo ainda ocorrer os dois processos com outras afecções que exacerbem os sinais clínicos
podendo dificultar o tratamento, como doenças inflamatórias e endócrinas. O tratamento
básico tem como principal começo insulinoterapia, controle dietético, redução do peso
corporal, se o cão estiver com acima do peso, e necessário exercício diário, cessação de drogas
diabetogênicas e controle de problemas simultâneos ou subjacentes. Este caso descreve um
relato de Diabetes mellitus em um cão na etapa juvenil, macho, de sete meses de idade,
Samoieda, levado para consulta no Hospital Veterinário DogCat.

Relato de Caso

Um cão da raça samoieda, nomeado de Algodão, macho com 7 meses de idade, pesando em
torno de 10,7 kg, procedente da cidade de Goiânia – GO, foi atendido no Hospital Veterinário
DogCat, onde o tutor queixou que seu animal estava apático, apresentando também polifagia
(excesso de fome), perda de peso e regiões com alopecia.

O tutor relatou que o animal teria sido adotado de um colega com aproximadamente 2 meses
de vida, pois o mesmo não tinha mais condições de manter o animal. E desde então o seu atual
tutor passou a alimentá-lo com uma dieta rica em carboidratos, onde era fornecido, arroz,
pães, cuscuz, e também era disponibilizado frango e carne como fontes de proteína. O animal
vivia em um sítio juntamente com mais um cão e um gato. O dono do animal também relatou
que desde que realizou a adoção, não teria realizado nenhuma vacinação, é afirmou já ter feito
a vermifugação do animal, porém não soube informar qual fármaco foi utilizado.

Durante o processo de anamnese foi citado que o animal bebia muita água (polidipsia), e
também urinava em grande quantidade, ele apresentava o olho esbranquiçado e esbarrava em
móveis ao andar dentro da casa. Foi também relatado a presença de pulgas e carrapatos.

No decorrer do exame físico, o animal estava em estado de alerta, em postura quadrupedal,


com escore corporal 2 e desidratação de 6%. A sua temperatura retal era de 38,4 ºC,
frequência respiratória de 20 mpm e frequência cardíaca de 94 bpm. Foi observado durante a
palpação do animal uma alteração devido a aumento dos linfonodos pré-escapular esquerdo.
As mucosas oral e oculares apresentavam-se normocoradas, além de uma hapatomegalia e
sensibilidade à palpação abdominal. Na pele havia áreas de alopecias em face, pescoço, dorso
e membros, e também uma hiperpigmentação, juntamente com pústulas, colaretes
epidérmicos e comedões na região abdominal. Durante a avaliação dos olhos, o reflexo pupilar
estava presente em ambos os olhos, porém já o reflexo de ameaça estava ausente no olho
direito e diminuído no olho esquerdo, obtendo então um diagnóstico de catarata madura e
imatura, que é decorrente devido a uma excessiva glicose no sangue que resulta em maior
difusão de glicose para dentro da lente ocular.

Em seguida foi realizado a mensuração da glicemia em jejum do animal, sendo utilizado


amostra de sangue venoso, onde houve um resultado de 303 mg/dL, tendo assim a
confirmação de uma hiperglicemia.

Para o tratamento, foi utilizado insulinoterapia, com a insulina NPH 100 UI/ml, na dose de
0,35U/kg, por via subcutânea, BID, fornecido após as refeições. Foi também indicado uma
dieta com arroz, peito de frango, fígado bovino, cenoura, lentilha e vagem cozidos, oferecido a
cada 12 horas. Foi também recomendado caminhadas diárias de 20 a 30 minutos, como forma
de exercício físico.

Já para o tratamento da alopecia devido a demodicose, foi prescrito um comprimido sarolaner


20 mg, com dose única, com repetição a cada 30 dias. E para melhorar as condições de pele e
pelagem do animal, foi prescrito um shampoo á base de cetoconazol e clorexidina, para
banhos a casa quatro dias, durante o período de seis semanas. Foi também prescrito um
tratamento para verminose utilizando pamoato de pirantel associado ao praziquantel.

Métodos

Foi solicitado um hemograma onde o cão apresentou uma discreta anemia arregenerativa
normocítica hipocrômica, além de uma discreta neutrofilia e linfopenia relativa, característico
de um leucograma de estresse. As plaquetas se apresentaram dentro dos padrões de
normalidade, e nenhuma das células avaliadas apresentaram alterações morfológicas. Não
foram encontrados hemoparasitas no esfregaço de sangue periférico.

Variáveis Valor Observado Valor de Referência


Hematimetria 5,07 5,5 – 8,5
Hemoglobina (g/L) 100 120 - 180
Volume globular (L/L) 34,7 37 - 55
VGM (fL) 66,8 60 - 77
CHGM (g/dL) 30,9 32 - 36
Reticulócitos (%) 1,02 0,5 – 1,5
Plaquetas 219 200 - 500
ERITROGRAMA

LEUCOGRAMA

Variáveis Valor Relativo Valor de Valor Absoluto Valor de


Referência Referência
Leucócitos 14,2 6,0 – 17,0
Mielócito 0 0
Metamielócito 0 0
N. bastonetes 0-3 0 – 0,3
N. segmentados 86 60 - 77 12,00 3,0 – 11,5
Linfócito 6 12 - 30 2,02 1,0 – 4,8
Monócito 6 3 - 10 0,84 0,15 – 1,35
Eosinófilo 4 2 - 10 0,75 0,1 – 1,25
Basófilo Raros Raros

Foi realizados exames bioquímicos onde se obteve os seguintes resultados:

Aumento das concentrações de ALT (173,5 U/L)


Aumento de Albumina (35 g/L)
Aumento Proteína total ( 90g/L)
FA (87 U/L)
Creatinina (0,75 mg/dL)

Já na urinálise foi observada a densidade urinária baixa (1.012), com presença de cetona e
glicose, pH 5.

Foi também realizado um exame parasitológico cutâneo através de um raspado profundo de


pele, onde foi encontrado espécimes de Demodex canis.

Discussão

O animal que é diagnosticado com DM trata de um cão filhote de 7 meses de idade que foi
adotado com aproximadamente 2 meses de vida.

A DM tem uma grande maioria em casos de animais idosos, e assim com uma prevalência em
fêmeas e animais de pequeno porte. O pico de incidência pode ocorrer por volta de 7 a 9 anos.
Por isso ocorre bem mais raro em animais jovens, porem com consequência de uma atrofia
idiopática do pâncreas, as aplasia das ilhotas pancreáticas ou de pancreatite aguda.

O animal recebia uma dieta rica em carboidrato desde muito novinho, esse é um fator que
podemos levar em consideração pelo fato de ser administrado essa dieta que pode provocar
hiperinsulinemia pós-prandial, que pode conduzir uma exaustão das células B e a
glicotoxidade. É uma situação crônica de hiperglicemia, com uma concentração sérica de
glicose mais alta que 500 mg/dl resultando em uma diminuição da taxa de secreção da
insulina.

O cão diagnosticado, está em um quadro de poliuria, polifagia, polidipsia e perda de peso,


apresentando também hiperglicemia persistente, acima do limiar renal de reabsorção da
glicose, assim resultando em uma glicosúria. Foi apresentado um princípio de cetoacidose,
com a presença de cetonas na urinálise.

O animal apresentou glicosúria acentuada(++++) e discreta cetonúria(+), sua densidade


urinária foi abaixo de 1.025. As anormalias localizadas na urinalises em cães com diabetes são
a cima de 1.025, glicosúria, cetonúria variável, bacteriúria e proteinúria.

Foi apresentado áreas alopecias em face, dorso, pescoço e nos membros, hiperpigmentação,
pústulas, colaretes epidérmicos e comedões na região abdominal.

A aparição de alterações dermatológicas nos animais diabéticos é bem comum, por eles
possuírem na imunidade as células anormais, assim ficando mais fácil a uma infecção.

O Diabete Mellitus é considerado uma endocrinopatia com reflexos tegumentares. As lesões


cutâneas são casos de piodermite, uma síndrome seborreica, com alopecia em variados graus,
demodiciose e xantomatose. Pode ocorrer infecções pela leveduras como as Malassezia spp e
Candida spp. Portanto nas alterações da DM, associaram outras endocrinopatias necessárias
na realizações das avaliações endócrinas, na sua função adrenal, com uma semelhança dos
sinais clínicos de hiperadrenocorticismo.

O nosso paciente apresenta uma catarata bilateral, por isso a formação de catarata é uma
alteração que tem super comum nos animais com Diabetes Millitus, com a ocorrência de no
mínimo 70% nos animais com o diabete espontâneo, mas é bem raro acontecer em gatos. A
causa do catarata acometer cão com diabetes é relacionado ao seu metabolismo da glicose no
interior do cristalimo, que ocorre bem normalmente pelas vias da glicose anaeróbica nas
fibras. Na glicose aumentada vai sobrecarregar a via, e o excesso é desviado na via do sorbitol,
um álcool hidrofílico que se acumula e provoca um grande influxo de agua para o seu interior,
assim vai levar a tumefação e a rupturas das fibras e assim leva o desenvolvimento da catarata.

Não há medicamento tópica, sistêmica ou intraocular que impeça a sua progressão da


catarata. Esse tratamento é realizado pela remoção cirúrgica quando se verifica a sua
integridade da retina e no nervo ótico pelo meio de eletrorretinografia.

No leucograma como neutrofilia e linfopenia, sendo discretos, e eosinófilos bem próximos ao


limite da referência, no início do leucograma de estresse tem uma ocorrência bem comum a
ocorrência do diabete mellitus, e no hiperadrocorticismo.

O estresse causa algumas alterações fisiológicas na DM, provocando um estimulo nervoso que
chega ao hipotálamo, assim provoca a liberação hormônio de corticotropina. Esse hormônio
atua sobre o adenohipofise, desse modo estimula a produção e secreção do hormônio
adrenocorticotrópico que através da circulação sanguínea, vai atingir o córtex adrenal e
estimula a secreção de glicocorticoides, e com prioridade o cortisol.

Teve uma grande alteração na concentração sérica de glicocorticoides que produz uma
liberação nos neutrófilos maduros até a circulação, assim teve uma diminuição da marginação
endotelial dos neutrófilos e migraram dos neutrófilos até os tecidos, assim resultaram no
aumento temporário.

O animal desencadeou hiperproteinemia, com uma das causas principais é a desidratação e


algumas processos inflamatórios, que justifica o caso de desidratação do paciente e inflamação
na pele ocasionada pela democidiose e dermatite bacteriana, evidenciando uma presença de
pústulas e colaretes epidérmicos.

Foi prescrito ao paciente insulina NPH com uma dose de 0,35 UI/KG via subcutânea duas vezes
ao dia, após o animal se alimentar, com uma dieta rica em fibra natura, nesse objetivo de
controlar a glicemia.

Conclusão

Concluímos que na ocorrência de Diabetes Mellitus nos animais mais jovens é mais raro de
acontecer, sendo de muita importância o diagnóstico precoce nos animais, assim pode
acontecer que agrave e seja irreversíveis, ao comprometer a terapia e a qualidade de vida do
paciente. No referido caso desse animal tiver uma melhora bem significativa após esse
tratamento, mas ainda assim não houver uma estabilização da curva glicêmica, que seja
necessário a correção na terapia e investigação de possíveis fatores que tenha uma alteração a
resposta à insulina.
Referencias

https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wp-content/uploads/2018/12/oftalmo_dm_hac.pdf

https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/12606/1/IRM13122018.pdf

http://www.cescage.com.br/revistas/index.php/ScientiaRural/article/view/824

https://repositorio.ufersa.edu.br/handle/prefix/3162

https://www.redalyc.org/pdf/2890/289021867003.pdf

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