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Currículo I – CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Prof. Leandro Gabriel

CURRÍCULO I

Esta aula abordará as teorias e os fundamentos que estruturam o currículo,


os componentes que fazem parte de uma determinada proposta de currículo, e
(posteriormente) os princípios epistemológicos do currículo, e as interferências
desses princípios na construção das propostas curriculares elaboradas pelos
mais diversos sistemas de ensino do país.

I. CONCEPÇÕES E ELEMENTOS ESTRUTURANTES DO CURRÍCULO

O termo ‘currículo’ tem origem na Grécia Antiga e representa a ‘pista de cor-


rida’, demonstrando então parte da evolução e desenvolvimento pessoal e pro-
fissional de cada cidadão, ou seja, o percurso formativo que cada um dos indiví-
duos segue ao longo da trajetória de vida. O currículo formal é o currículo que se
dá nos ambientes educacionais institucionalizados, em particular, os ambientes
escolares. O currículo que abrange elementos da vida pessoal do indivíduo com-
preende também as experiências, as vivências, os saberes e os conhecimentos
formais ou informais adquiridos ao longo da trajetória formativa do ser humano.

Primeiras aproximações das concepções de currículo

• Currículo vem do latim curriculum e significa "corrida" ou "pista de corrida".


• É importante conceituar currículo em um sentido mais amplo – na perspec-
tiva de que ele inclui toda a vida e os programas educativos propostos pela
escola, inclusive aquelas atividades extraclasse realizadas pelo aluno. Mas
não é somente isto: ele inclui também valores, convicções e as práticas
sociais associadas aos indivíduos que dele participam!

O termo é então muito mais abrangente do que uma mera relação de con-
teúdos programáticos a serem desenvolvidos pela escola, e é também um
termo polissêmico, por compreender vários significados e conceitos. O currí-
culo também recebe influências específicas de determinadas áreas, ou seja, os
currículos de cada área possuem similaridades uns com os outros, assim como
também apresentam especificidades as quais vão trazer algumas diferenciações
referentes às conceituações do currículo.
O currículo é compreendido como uma prática cultural determinada pelo
contexto dos sujeitos, podendo se materializar em ambientes formais, como a
escola, de base formal curricular, mas também em outros não escolares, como o
ambiente de trabalho ou igrejas. Como uma prática cultural, o currículo abrange

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a prática de diferentes hábitos, valores, costumes e linguagens de diferentes


sociedades, e os parâmetros curriculares nacionais enfatizam a questão da
diversidade cultural, que faz com que o currículo seja enriquecido e se torne
um instrumento norteador de uma grande complexidade, uma vez que ele pre-
cisa adequar e estruturar essa diversidade ao mesmo tempo em que considera
essas diferentes culturas sem segmentá-las em ‘baixa’ ou ‘alta’ cultura. Em uma
perspectiva pós-moderna, não há essa divisão entre baixa ou alta cultura, pois
valoriza-se o respeito ao pluralismo de ideias e concepções pedagógicas.
É necessário não confundir o conceito de educação ‘não formal’ do conceito
de educação ‘informal’. A educação informal é a que se dá no ambiente familiar,
nas relações dos filhos com os pais e vice-versa. A educação não formal possui
uma sistematização e, portanto, uma intencionalidade, porém não é promovida
e realizada em ambientes educativos institucionalizados como a escola, que é
um espaço de educação formal. O currículo então abrange esses três ambientes
socioeducativos, os formais, os informais e os não formais.

Primeiras aproximações das concepções de currículo

• O currículo é o cunjunto dos vários tipos de aprendizagens, aquelas


exigidas pelo processo de escolarização, mas também aqueles valores,
comportamentos e atitudes que se adquirem nas vivências cotidianas
na comunidade, na interação entre professores, alunos, funcionários,
nos jogos e no recreio e outras atividades concretas que acontecem na
escola (ou em outros ambientes não escolares).
(LIBÂNEO, 2004, p. 173 - 174)

Libâneo (2004) define o currículo através da aprendizagem transmitida pelo


processo de escolarização, ou seja, a educação formal, e também das interações
e vivências cotidianas em outros ambientes não escolares, trazendo também a
perspectiva do currículo nos espaços informais.

II. IDEOLOGIA E CURRÍCULO

Para falar de proposta curricular é necessário falar dos aspectos ideológicos


que compreendem esta. Gramsci, teórico italiano de base marxista que ampla-
mente discutiu o conceito de ideologia, dizia que a ideologia abrange um con-
junto de ideias e, no âmbito do discurso ideológico, há um respeito em relação
às ideias do outro e uma apreciação dialógica sem embates. Contrário a esse
pensamento é a hegemonia, em que uma das partes do discurso acredita na

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prevalência e na sobreposição das suas ideias e há confronto no discurso. Desta


forma, o currículo se relaciona conceitualmente com a ideologia, e não com a
hegemonia, por prezar pelo diálogo das ideias que vão interferir em determinada
proposta curricular. Logo, o currículo não é um documento neutro, mas repleto
de implicações ideológicas.
A ideologia pode ser concebida como um sistema articulado de ideias, valo-
res, crenças, etc., que traduz a maneira própria de pensar e viver de um grupo
social. Na prática, ela apresenta as explicações para a compreensão das situa-
ções históricas vividas por esse mesmo grupo. A ideologia sugere ou apresenta
aos indivíduos uma ideia de normalidade e de naturalidade na forma como as
relações sociais acontecem.

III. CULTURA, MULTICULTURALISMO E CURRÍCULO

A cultura corresponde a toda expressão da vida do homem. Assim, ela


engloba, entre outros aspectos, saberes, tradições, crenças, comportamentos,
instituições e valores materiais e espirituais de determinado grupo social. A cul-
tura abrange um conjunto de elementos os quais estão diretamente incluídos em
uma proposta curricular, logo, para analisar determinado currículo, é necessário
analisar a cultura de determinada sociedade e comunidade escolar.
O multiculturalismo parte do princípio de que nenhuma cultura pode ser vista
como inferior a outra. Afinal, cada uma delas possui diferenças que as singu-
larizam e, portanto, as colocam em uma condição de relevância própria, e não
em posição de hierarquia em relação a qualquer outra. O pós-modernismo está
diretamente associado ao conceito de multiculturalismo. O currículo escolar deve
incorporar as tradições de diferentes grupos sociais, que foram sistematicamente
excluídas da escola, como a cultura negra, a cultura infanto-juvenil e a cultura
rural, dentre outras. Esta é uma premissa que relaciona diretamente o currículo
multicultural às teorias pós críticas de currículo, que surgiram a partir dos anos 90.

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