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A Idade Média foi um período de transição, que levou às tipologias

humanas resultantes da expansão oceânica europeia de finais do século XV e


do século XVI. Na década de 1250, o trabalho do escultor Nicola Pisano na
catedral de Siena pode ter expressado ideias correntes nessa conjuntura: no
interior da cúpula da catedral esculpiu quatro capitéis com a forma de
cabeças, podendo cada uma representar um diferente grupo humano.1 Não
temos como identificar claramente tais grupos. As feições estereotipadas
atribuídas ao africano negro são as únicas identificáveis: cabelo crespo,
lábios grossos e nariz largo. Aparentemente, as outras três cabeças
representariam os tipos nórdico, mediterrânico e asiático. Essa hipótese
inspira-se em imagens dos livros iluminados bizantinos e europeus
ocidentais — em especial os manuscritos que descrevem as conquistas de
Alexandre, as crônicas das Cruzadas e a Chronologia Magna — em que se
representavam diferentes tipos de cabeça e cor da pele. Na década de 1310,
Dante foi um dos primeiros autores medievais a diferenciar os tipos
humanos segundo o conceito de continentes: asiáticos, africanos e
europeus.2 Tal divisão, que correspondia à tipologia visual implícita, e por
vezes explícita, dos três reis magos, demorou certo tempo para se
estabelecer.
Os autores medievais interessados em geografia estavam familiarizados
com o mito clássico dos três continentes, mas não encaixavam de modo
sistemático os seres humanos em categorias que coincidissem com essas
divisões.3 O que fizeram foi desenvolver certos critérios para a
identificação dos povos (ou das etnias). Já no século VII, Isidoro de Sevilha
definia o importante papel da língua na formação do comportamento e na
criação de um sentimento de pertencimento: os diferentes povos
desenvolviam-se por falarem a sua língua específica, e não o contrário.4 No
século X, Regino de Prum indicou quatro critérios para a identificação
étnica: ascendência, costumes, língua e direito. O primeiro desses critérios
apresentava provas claras de que a ideia clássica das características
hereditárias persistia na Europa Ocidental medieval.5 O segundo avaliava
algo difícil de definir — comportamento, hábitos e modos de fazer as

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