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largas, de mangas abertas na extremidade, o que lhes ocultava a forma do

corpo, tal como ordenado pela tradição islâmica. Os homens cristãos não
tinham a cabeça coberta e as túnicas colavam-se mais ao corpo, revelando a
forma do tronco e das pernas. A cor da pele não era irrelevante. A vasta
gama de cores — branco, castanho-claro, castanho-escuro e preto —
representadas em vários manuscritos indica a percepção das diferentes
compleições. Embora os muçulmanos fossem habitualmente representados
como marrons e pretos, também eram apresentados como brancos.
Acontecia o oposto com os cristãos.16 Essa tendência confirma-se no
manuscrito iluminado Fueros del reyno de Aragon, compilado durante o
reinado de Jaime I (1213-76): os muçulmanos eram representados como
tendo tez escura. No entanto, o preconceito em relação à cor da pele não era
óbvio. No Libro de Ajedrez, uma iluminura representava um jogo entre um
branco e um negro (não muçulmano): o negro, identificado pelos
estereótipos habituais — pele escura, cabelo crespo, lábios grossos e nariz
grande —, vencera o jogo e apontava o dedo como se mostrasse ter dado
uma lição ao outro, enquanto o branco era representado numa posição
defensiva, aceitando a derrota de mãos abertas. Nas Cantigas de Santa
Maria, não era necessária uma cor da pele específica para identificar os
judeus: eles eram representados como brancos, mas com barba e nariz
adunco estereotipados.
A relativa neutralidade da cor da pele nessas representações não é
consistente com a apresentação da pele no Lapidario, outro códice
iluminado encomendado por Afonso, o Sábio. Este contém a imagem
perturbadora de um elefante com a cabeça de um negro, e provavelmente é
uma das primeiras representações de negros em que as feições se misturam
com as de animais africanos. É certo que o Lapidario é um volume
complexo, claramente inspirado na alquimia, que definia a gama de cores
em sequências de transformação e purificação em que o preto, o vermelho e
o branco adquirem um sentido especial. Ainda assim, nesse caso não
podemos ignorar a ligação com outras fontes escritas que falavam sobre
africanos negros. Ibn Khaldûn, escrevendo um século mais tarde, expressou

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