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RAMA
O Ciclo Ariano
Hino Védico.
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. As raças humanas e as origens da relig_ião
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ropa inteira e uma parte da Ásia estavam ainda sub
mersas. Essas mitologias também se referem a uma raça
de gigantes, anterior. Em algumas cavernas do Tibete,
encontraram-:se ossadas humanas gigantescas, que pare
cem mais de macaco do que de homem. Essas ossadas
relacionam-se com uma humanidade primitiva . interme
diária, ainda vizinha da animalidade,. sem . linguagem ar
ticulada, sem organização social, sem religião. Esses três
fatos surgem sempre ao mesmo tempo. Daí �ssa notável
estrofe de um bardo: "Três coisas são -··simultâneas, nos
primeiros tempos: ·oeus, a luz, a liberdade".
Com os primeiros sons articulados nasce a socieda
de e a vaga idéia de uma ordem divina. É o sopro de
Jepvá na boca de Adão, o verbo de Hermes, a· lei do
primeiro Manu, o fogo de Prometeu. A raça vermelha,
já dissemos, ocupava o continente austral, hoje submer
so (chamado Atlântida por Plat.ão), segundo as tradi
ções egípcias. Um grande cataclisma destruiu-a em· par
te e dispersou os restos de sua população. Várias. raças
da Polinésia, os · índios da América do Norte, . os Aste
cas que Pizarro encontrou no México são os sobreviven
tes da antiga raça vermelha, cuja ·civilização, para sem
pre perdida, teve os seus dias de glória e de esplendor
material. Todos esses pobres retardatários trazem na . al
ma, a melancolia incurável das velhàs raças que morrem·.
sem esperança.
Depois da raça vermelha, a raça negra dominou no
globo. Devemos procurar o tipo superior, não no. negro
degenerado mas no Abissínio e no Núbio, em que se
conserva o molde da raça no apogeu. Em tempos pré
-históricos, os Negros invadiram o sul da Europa, tendo
sido repelidos pelos Brancos. A sua recordação está in
teiramente desfeita em nossas tradições populares.. No
entanto, deixaram dois traços_ inapagáveis: o horror ao
dragão, emblema dos seus r_eis, e a idéia de que o diabo
é preto. Por sua vez, os Negros pensam qué o diabo é
branco.
No tempo do seu predomínio, os Negros tiveram
centros religiosos no Egito e na lndia. Suas cidades· ci
clópicas erguiam-se sobre as montanhas da Africa, do
Cáucaso e da Ásia Central. Sua organização social con
sistia em uma teocracia absoluta. No ápice, os padres
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temidos como deuses; em baixo, a gente das tribos, sem
família. constituída, as mulheres escravas. Os padres pos
suiam profundos conhecimentos. O princf pio de unidade
e o culto dos astros, denominado sabefsmo, infiltraram
...se entre os brancos. ( 2)
Mas entre . a ciência dos padres negros e o grosseiro
fetichismo das massas, não havia transição, nem arte
idealista, nem· mitologia sugestiva. Ademais, uma indús
tria já adiantada, sobretudo na balística, com o · lança
mento à distância de pedras colo�sais, e a fusão de me
tais em fornos enormes, servia para dar trabalho aos
prisioneiros de guerra. Nessa raça forte pela resistência
física, energia passional e capacidade de apego, a reli
gião foi o reinado da· força pelo terror. A Natureza e
Deus, para a consciência desses povos infantis, toma
vam forma na figura do dragão, do terrível animal ante
diluviano, que os reis mandavam · pintar em suas bandei
ras e os padres esculpiam · na porta dos templos.
Se o sol da África criou a raça negra, pode-se di
z�r_ que· os gelos do ·i:>olo ártico viram a e.closão da raça
oranca. Sãó os Hiperbóreos, de que fala a mitologia gre
ga·; Aqueles homens ge cabelos ruivos, olhos -azuis, vie
ram do Norte, através de florestas iluminadas pelos ·cla
rões boreais, · acompanhados de cães e de renas, sob o
comando de chefes ousados e estimulados por mulheres
videntes. Cabeleiras douradas, olhos azuis, cores predes
tinadas. Essa raça irià inventar o culto do sol e do fogo
e cultivar no mundo á nostalgia do céu. Ora ela se revol
tará contra o céu� ao ·ponto de tentar uma escalada, ora
se prosternará ante os seus esplendores, · em adoração
- absoluta. ·
· · Como as outras, a raça branca foi selvagem, antes de
adquirir consciência dela mesma. Suas características
distintivas · são o , gosto da liberdade indlvidual.1 a
sensibilidade reflexiva, que suscita : o poder da
simpatia, a predomit?,ância do intelecto que confere à
imaginação um tom idealista e simbólico. A
sensibilidade proporcionou
o apego, a preferência do homem por uma . só mulher.
.
2
Vide os historiadores árabes; entre os quais ABUL GHAZI,
História Qeneàl6gica dos Tár��ros, e MOHAMED MosHEN, historia
dor dos Persas.
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Daí a tendência dessa raça à monogamia, o princípio
. conjugal da família. A necessidade de liberdade com a da
sociabilidade criou· o clã, com seu princípio eletivo. A
imaginação. ideal criou o culto dos antepassados, raiz e
centro da religião entre os povos brancos.
O princípio social e político manifesta-se no dia em
que um grupo de homens meio selvagens, ameaçados
por um povo inimigo, reúne-se instintivamente, esco
lhendo o mais forte, o mais inteligente, para c·omandá-los e
dirigi-los. N,esse dia nasceu a sociedade. O chefe· é um pe-
. queno rei, seus· companheiros, futuros nobres. Os velhos
que deliberam, incapazes de marcharem, formam já uma
espécie de senado ou de assembléia dos anciãos.
. · E_ como. nasceu. a religião? Dizem que pelo medo do
homem, . ante· a natureza. Mas · o temor nada tem de co
mum com o respeito e o ·amor. · Não une o fato à idéia,
o visível . ao· invisível, o hornem a Deus. Enquanto o ho
mem teve medo da natur�za, el.e não foi homem. Tornou-
. -se homem rio dia·. em que percebeu. o laço. que o . ligava
ao passado e ao futuro, a algo superior e benfeitor., _que ·
ele adorou como um mistério. Mas como adorou-o, pela
primeira vez? · . ·
FABRE D'OLIVET apresentou uma hipótese genial
e sugestiva· sobre a instituição do culto dos ancestrais
n_a raça branca.(ª) Em um clã combatente, dois rivais
estão . discutindo. Furiosos, vão brigar quando avança
. entre ambos uma mulher descabelada. t a irmã de um
e mulher do outro. Os olhos · vivos, a voz com acentos
imperiosos, ela grita, ofegante, que viu na floresta ·o
Ancestral, o guerreiro outrora vitorioso, o herói. Ele não
·quer . que os dois guerreiros irmãos briguem um. com o
outro, mas que se unam contra o inimigo comum. Ela
. acredita no que viu e por isso consegue convencer os
dois homens. Sob o domínio de uma impressão poderosa,
como· se· fosse uma força invisível, os dois guerreiros
ápertam".'se as mãos e olham para a mulher, como · se
esta fosse · uma espécie de divindade.
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Fatos dessa ordem possibilitariam a idéia de reve
lação, ao mesmo tempo que surgiam a religião e o culto,
os padres e a poesia.
No Irã e tndia, os povos de raça ariana fundaram
as primeiras civilizações arianas, mesclando-se a povos
de cor diferente. Nessas coletividades, os homens se so
brepuseram às mulheres, no tocante à inspiração religio
sa.. Então, só · ouvimos falar de sábios, de richís, de pro
fetas. Confinada a segundo plano,. a mulher somente será
profetisa no ambiente do lar.
Mas na Europa, percebe-se o traço da preponderân
cia feminina entre os povos da mesma origem, que per
maneceram bárbaros, durante milênios. Isso transpare
ce na Pitonisa escandinava, na Voluspa das Eddas, nas
druidas célticas, nas· mulheres advinhas, que acompa
nhavam os exércitos germânicos e decidiram sobre o dia
das batalhas. ( 5) Vislumbra-se esse traço nas bacantes
da Trácia, segundo a legenda de Orfeu. A Vidente pré
-histórica continua na _Pítia de Delfos.
As primitivas profetisas da raça branca organiza
vam-se em colégios, sob a direção de velhos instruídos-,
os druidas, os homens do carvalho. No começo da insti
. tuição colegial, elas eram benéficas. Por sua intuição, por
· sua capacidade profética, impulsionaram a organização
da raça, que iniciava a luta secular contra os Negros.
Mas foram in-evitâveis a corrupção e os abusos.
"'- Sentindo-se senhoras dos destinos do seu povo, as
sàcerdotisas druidas quiseram dominá-lo de qualquer
modo. Quando lhes faltou a inspiração, tentaram reinar
pelo terror. Exigiram sacrifícios humanos, fazendo dessa
prática o elemento essencial do seu culto. Para isso, fa
voreciam-nas os instintos heróicos da raça. Os guerrei
ros desprezavam a morte. Ao primeiro apelo das sacer
dotisas, por pura bravata, eles vinham eRtregar-se ao
seu cutelo. Nessas hecatombes humanas� enviavam-se os
vi'tos para a região dos mortos, na suposição de que as
sim se obtinham os favores dos ancestrais. Essa ameaça
terrível planava sobre a cabeça dos principais chefes, à
mercê da palavra das profetisas e sacerdotisas druidas,
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se��o em suas mãos um formidável instrumento de do-
m1n10.
Eis um primeiro exemplo da perversão dos mais
nob�es instintos da natureza humana, quando -não são
dominados por uma autoridade sâbia, dirigida para 0
bem por uma consciência superion Entregue aos capri
chos da ambição e da paixão pessoal, a inspiração dege
nera em superstição, a coragem · em ferocidade, a subli
me idéia do sacrifício em instrumento de tirania, em
exploração pérfida e cruel. · ·
· Mas a_ raça branca es�ava apenas no início da sua
infância violenta e louca. Veemente na esfera psicológica,
ela iria atravessar outras e mais sangrentas crises. Fora·
desperta pela invasão dos N,egros, que penetravam pelo
sul da Europa. No começo,· a luta era desigual. Os Bran
cos meio-selvagens, saindo · das florestas e das moradias
lacustres, · dispunham apenas de lanças e flechas com pon
tas de pedra. Os Negros dispunham de armas de ferro,
de armaduras de bronze,. dos recursos de uma civilização
industriosa, em cidades ciclópicas.
_,,, Esmagados nos primeiros combates, os Brancos. fo
ram feitos prisioneiros e escravos dos Negros, que os
obrigaram a britar a pedra e despejar minério nos for
nos. No entanto, os prisioneiros escravos que fugiram,
levaram para as suas comunidades os usos, as artes e
os fragmentos de ciência dos vencedores. Aprenderam
com os Negros,· duas coisas importantes: a fundição dos
. m,etais e a escrita sagrada, a arte de. fixar certas idéias
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dindo finalmente, o norte da África e o centro da Ásia,
esta ocupada pelos povos provindos da Melanésia.
A· miscigenação das duas raças efetuou-se por dois
processos diferentes: colonização . pacífica e conquista
belicosa. O maravilhoso vidente do passado pré-histórico
da humanidade parte dessa hipótese para uma luminosa
visão da orig,em dos povos denominados semitas e dos
povos árias. Os semitas se teriam formado onde os colo
nos brancos se submeteram ao domínio dos povos negros,
recebendo dos padres ·negros a iniciação religiosa. Aí se
teriam originado os E·gípcios, antes de M·enes, os Ára
bes, os Fenícios, os Caldeus e. os Judeus.
As civilizações arianas, ao contrário se teriam for- ,; ,
mado onde os Brancos preponderaram sobre os Negros,.
ou pela guerra ou pela conquista, daí advindo os Gre
gos, os Etruscos,· os Iranianos, os Hindus. Nesse ramo
incluem-se também os povos brancos, que continuaram
sendo nômades e bárbaros na Antiguidade, tais como os
Getas, os Sarmatas, os Celtas, e mais tarde os Germa
nos. Assim se explicaria a diversidade fundamental das
religiões e também a escrita entre essas duas grandes
categori�s de nações. Entre os Semitas, onde primitiva
mente dominou a intelectualidade · da raça negra, verifi
ca-se, acima da idolatria popular, uma tendência ao mo
noteísmo -· o princípio da unidade de Deus, oculto, abso
luto, sem forma, que foi um dos dogmas essenciais dos
padres da raça negra e da sua iniciação secreta. Entre
'Os Brancos, vencedores ou que ficaram puros, nota-se ao
contrário a tendência ao politeísmo, à mitologia, à per
sonificação da divindade.. Isso provém do seu amor à na
tureza e do seu apaixonado culto aos ancestrais.
A principal diferença entre a escrita dos Semitas e
a dos Arianos teria a mesma ,explicação. Por que todos
os povos semitas escrevem da direita para a esquerda
e os arianos da esquerda para a direita? Fabre d'Olivet
dá uma explicação curiosa e. original, sugerindo uma vi
são desse passado perdido.
Toda gente sabe que nos tempos pré-históricos não
havia escrita vulgar. O uso somente se generalizou com
a escrita fonética, mediante a qual os sons se· represen
tam por letras. Mas a escrita hieroglífica, arte de. repre
sentar as coisas por sinais quaisquer, é tão antiga quan-
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to a humanidade, e naqueles tempos foi sempre privilé
gio do sacerdócio. Era considerada coisa sagrada,· fun
ção religiosa e primitivamente, de inspiração �ivina.
Quando, no hemisfério austral, os padres da raça negra
ou sudanesa traçavam seus sinais misteriosos em peles de
animais ou em pedra, tinham o hábito de se virarem para
o polo sul. A sua mão se dirigia para o Oriente, origem
da luz. Escreviam portanto da direita para a esquerda.
Os padres da raça branca aprenderam a escrever com
os padres dos Negros e começaram escrevendo como es
tes. Entretanto,_ despertando neles o sentimento da sua
origem, desenvolvendo-se o orgulho racial, inventaram
seus sinais. Em vez de se orientarem pelo sul, no rumo
dos países dos Negros, eles voltaram-se para o Norte, a
terra dos ancestrais, continuando porém a escrever para
o Oriente. Traçaram então os caracteres da esquerda pa
ra á direita. Daí a direção das runas célticas, do Zend,
do sânscrito, do grego,do latim e de todas as grafias dos
povos arianos. Dirigem�se para o sol, fonte da vida ter
restre, mas olham para o Norte, pátria dos ancestrais
e origem misteriosa das auroras boreais.
A corrente -semítica e a corrente ariana, eis os dois
rios pelos quais nos vieram- todas nossas idéias, mitolo
gias, religiões, artes, ciências e filosofias. Cada uma des
sas correntes traz uma concepção oposta da vida, cuja ·
reconciliação e equilíbrio seriam a própria verdade. A
corrente semítica contém os princípios absolutos e supe-
. riores: · as idéias de unidade, de universalidade, em nome
de um princípio supremo que, aplicado, leva à_ unificação
da família humana. A corrente ariana cont�m a idéia de
evolução ascendente, em todos os reinos. terrestres e
supraterrestres e, na aplicação, conduz à diversidade in- .
finita dos desenvolvimentos, em nome da riqueza da na-
tureza, das múltiplas aspirações da alma. ·
O gênio semítico desce de Deus para o homem. O
gênio ariano eleva-se do homem para Deus. Um é sim
bolizado pelo arcanjo justiceiro, que desce à terra arma
do do gládio e do raio.q outro _é representado por Pro
meteu, que segura na · mão o fogo roubado do céu e
mede o Olimpo com o olhar.
Esses dois gênios, nós os temos dentro de nós. Pen
samos e agimos, ora sob o impulso · de um, ora sob o
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impulso do outro. Mas estão juntos, não fundidos, em
nossa intelectualidade. Contradizem-se e combatem-se
em nossos sentimentqs íntimos, em nossos pensamentos
sutis, como também em nossa vida social, em nossas
instituições.
Ocultos sob muitas formas, que se poderiam resu
mir sob as denominações de espiritualismo e de natura
lismo, dominaram nossas discussões e nossas lutas .. In
conciliáveis, invencíveis, quem os unirá?
No entanto, o progresso e a salvação da humanida
de dependem da sua conciliação, da sua síntese. Por isso,
neste livro fomos até a fonte dessas duas correntes, ao
nascim·ento dos dois gênios. Além dos movimentos da
história,. as guerras dos cultos, as contradições dos tex
tos sagrados, entraremos na própria consciência dos fun-
. dadores e dos profetas, que deram às religiões o· impul
$p inicial. Esses tiveram do alto a intuição profunda e a
�nspiração, que · induz à ação fecunda. Sim, preexistia ne
les a síntese. O raio divino empalideceu e escureceu-se
nos sucessores.. Mas cada vez que, em um ponto qual-
9uer da história surge. uin profeta, ele reaparece e bri-
.. lha. O profeta, o herói, o vidente; vão até o foco de ori
gem. Somente do· ponto inicial é que se vê o fim: o sol
iluminando o curso . dos planetas.
Tal é a revelação na história, contínua e graduada,
multiforme como a natureza, una como a verdade, imu
tável como Deus.
Percorrendo a corrente semítica, chegamos por Moi
sés ao Egito, cujos templos, segundo Maneton, possuiam
uma tradição de trinta mil anos. Subindo pela corrente
ariana, chegamos à lndia, onde se desenvolverâ a primei
ra grande civJlização, resultante de uma conquista da ra
ça branca. A 1ndia e o Egito foram os dois grandes cen
tros iniciâticos da antiguidade. Tiveram o segredo da
grande iniciação. Entraremos em seus santuários.
Suas tradições levam-nos muito mais além, até a
uma época anterior, quando os dois gênios opostos apa
recem unidos em inocência primitiva e em harmonia
mar.avilhosa. Era a época ariana primitiva. Graças aos
admiráveis trabalhos da ciência moderna, à filologia à
mitologia, à etnologia comparada, podemos hoje yisl�m
brar aquela época. Ela desenha-se nos hinos védicos, é
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um seu reflexo, com simplicidade patriarcal e grandiosa
pureza de linhas. Idade viril e grave, apenas semelhante
à idade de ouro no sonho infantil dos poetas. Não estão
ausentes a dor e a luta. Entretanto nos homens há con
fiança, força, serenidade, que a humanidade não reco
brou mais.
Na lndia, o pensamento se aprofundará, os sentimen
tos serão mais sutis. Na Grécia, as paixões- e as · idéias se
revestirão do prestígio da arte e mágica roupagem da
beleza. Mas em elevação moral, em altura, em extensão
intelectual, nenhuma poesia ultrapassa alguns hinos vé
dicos. ·Neles transparece o sentimento do divino na natu
reza, do invisível que o rodeia, da grande unidade que
· penetra o todo.
Como nasceu tal civilização? Como se desenvolveu
tão alta intelectualidade, entre as guerras e a luta con
tra a natureza? Aqui se detêm as investigações e as
conjeturas da ciência contemporânea. As tradições re
ligiosas dos povos, entretanto, interpretadas em seu
sentido esotérico, v�o além e permitem advinhar que a
primeira concentração do núcleo ariano, no Irã, fêz-se
por uma espécie . de seleção no seio da raça branca, sob
a direção de um conquistador legislador, que deu ao seu
povo uma religião e uma lei conformes ao gênio da raça
branca.
De fato, o livro sagrado dos Persas; o Zend-A vesta,
menciona esse antigo legislador, sob o nome de Yima, e
Zoroastro, fundando -uma nova religião, refere-se a esse
predecessor como tendo sido o primeiro homem a quem
falou Ormuz, o deus vivo, assim como Jesus Cristo refe
re-se a Moisés. O poeta persa Firduzi menciona o mes
mo l_ egislador: Djem, o conquistador dos Negros.
Na epopéia hindu, o Ramayana, ele aparece sob o
nome de Rama, em costume de rei indiano, rodeado dos
esplendores de uma civilização adiantada. Mas conserva
as características distintivas do conquistador, do reno
vador, do iniciado.
Nas tradições egípcias, a época de Rama é designa-.
da pelo reinado. de Osíris, o senhor da luz� ·que precede
o reinado de Isis, a rainha dos mistérios.
Na Grécia, afinal, o antigo herói, semi-deus, era
honrado sob o nome de Dionisos, que vem do sânscrito
Deva Nahuscha, o divino renovador. Orfeu assim deno
minou a inteligência divina e o poeta Nonus cantou a
conquista da lndia por Dionisos, segundo as tradições
de Eleusis.
Como os raios de um mesmo círculo, todas essas
tradições designam um centro comum, ao qual se pode
chegar, se acompanharmos o seu traçado. Então, além da
lndia dos ·vedas, além do Irã de Zoroastro, na alvorada
da raça branca, vê-se sair das florestas da antiga Cítia
o primeiro criador da religião ariana, com a sua dupla
tiara de conquistador e de iniciado, tendo na mão o fogo
místico, o fogo sagrado que iluminará todas as raças.
Cabe a FABRE D'OLIVET a honra de ter achado esse
personagem. Ele abriu a estrada. luminosa que conduz
até esse ente. Seguindo-a, tratarei por minha vez de evo
cá-lo. (6)
8
FABRE o'OLIVET, Histoire phtlosophique du genre rtumain,
vol. I.
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A missão de Rama
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seu saber pessoal e modéstia, os padres dos Negros ini
ciaram-no em alguns dos seus conhecimentos . secretos.
Regressando ao país do Norte, Ram espantou-se ao ver
mais arraigada entre seu povo a prática dos sacrifícios
humanos. Pressentiu nisso ·a perdição da sua raça. Como,
entretanto, combater esse costume, propagado pelo orgu
lho das druidisas, pela ambição dos druidas, pela supers
tição popular?
Foi então que sobreveio um novo flagelo para os
Brancos e Ram interpretou-o como castigo celeste pelo
culto sacrílego. Pelas incursões nos países do Sul, pelo
contato com os Negros, os Brancos tinham adquirido uma
doença horrível, uma espécie de peste. Esse mal corrom
pia o homem pelo sangue, pelas fontes da vida. O corpo
inteiro cobria-se de manchas negras, o hálito tornava-se
infecto, os membros irichavam e roídos de chagas defor
mavam-se, até que o doente expirava entre dores atro
zes. O hálito dos vivos e o fedor dos mortos propagavam
ó flagelo. E os Brancos em pânico tombavam aos milha
res nas florestas, de onde fugiam até as aves de rapina.
Aflito, Ram buscava um meio de salvação.
Tinha ele o hábito de meditar, à sombra de um
carvalho. Certa noite, tendo meditado por muito tempo
sobre os males da sua raça, adormeceu junto àquela ár
vore. Enquanto dormia, pareceu-lhe ouvir uma voz for
te, que o chamava, e teve a impressão de que desperta
ra. Viu então, à sua frente, um homem de estatura ma
jestosa, vestido como ele próprio da túnica branca dos
. druidas. Aquele homem empunhava uma vara na qual
se enroscava uma serpente. Admirado, Ram estava para
perguntar-lhe o sentido da sua aparição. Mas, o desco-
. nhecido segurando-lhe a mão, levantou-o e mostrou-lhe
agarrado a um galho da árvore, uin viçoso ramo de vis
co. (7) E falou-lhe: "Ram! Este é o remédio que pro
curas". Depois, tira da dobra da veste, na altura do tó
rax, uma foicinha de ouro, corta um pedaço do ramo e
o dá a Ram. Murmurou ainda algumas palavras, ensinan
do a maneira de preparar o remédio e desapareceu.
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�am despertou, sentindo-se reconfortado. Dizia-lhe
uma voz interior que ele encontrara a salvação. Seguin.,.
do os conselhos do divino amigo da foicinha de ouro,
não deixou de preparar o visco, como líquido fermenta
do, e deu-o de beber a um doente. Este não tardou a
ficar bom e depois dele outros.
Essas curas maravilhosas tornaram-no afamado em
toda a Cítia. Chamavam-no de toda. parte para curar
doentes. Consultado pelos druidas, ele· comunicou-lhes a
descoberta e advertiu que ela deveria permanecer como
segredo da casta sacerdotal, a fii::n de garantir a sua
autoridade. Os discípulos de Ram foram viajar por toda
a Cítia, levando ramos de visco, sendo considerados men
sageiros divinos e o seu mestre um semi-deus.
Esse acontecimento deu origem a um novo culto.
Desde então, o visco tomou-se uma planta sagrada. Para
recordar o fato, Ram instituiu a festa de Natal, ou da
nova salvação, que ele marcou para o começo do ano,
denominando-a a Noite-Mãe (do novo sol) ou a grande
renovação. Quanto ao ser misterioso, · que Ram viu no
sonho, e que lhe mostrou o visco, chama-se, na tradi
ção esotérica dos Brancos da Europa, Aesc-hey"l-hopa, o
que significa "a esperança da salvação está na floresta".
Os Gregos fizeram dele Esculápio, o gênio da medicina,
que empunha a vareta mágica sob a forma de caduceu.
No entanto, Ram, "o inspirado da paz" visava a ho
rizontes mais vastos. Queria curar o seu povo de uma
praga moral mais nefasta do que a peste. Eleito chefe
dos sacerdotes da tribo, deu ordem a todo� os colégios
de druidas e druidisas que não executassem mais sacri
fícios humanos. A notícia dessa ordem divulgou-se até
as margens. do oceano. Foi saudada por alguns como um
clarão de alegria e consid-erada por outros um sacrilégio.
Ameaçadas em seu poderio, as druidisas proferiram mal
dições contra o audacioso e sentenças de morte. Muitos
druidas, para os quais os sacrifícios humanos eram o
único meio de dominarem, solidarizaram-se com elas.
Exaltado por um grande partido, Ram foi execr·ado por
outro. Mas em vez de recuar ante a luta, estimulou-a,
arvorando um novo símbolo.
Cada tribo dos Brancos tinha então a sua insígnia
própria, a ser usada para as reuniões, que era a figura
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de um animal, que simbolizava as qualidades preferidas
p�los chefes. Entre estes, alguns ostentavam nas facha
das dos seus palácios de madeira grous, águias, abutres,
outros cabeças de javali ou de búfalo, sendo essa a ori
gem dos brasões. Mas o estandarte preferido dos Citas
· era o Touro, que chamavam Thor, sinal da força brutal
e da violência. Ram opôs ao Touro o Carneiro, o chefe
corajoso e pacífico do rebanho e dele fez a divisa de
todos· os seus partidários.
Arvorada no centro da Cítia, essa divisa foi o sinal
de um tumulto geral, de uma verdadeira revolução nos
· espíritos. Os povos brancos dividiram:-se em duas fac
ções. A própria · alma da raça branca .separava-se em
duas, para se afastar da animalidade que rugia e subir
o primeiro degrau do santuário invisível, que conduz à
humanidade divina. "Morra o Carneiro!", gritavam os
partidários de Thor. "Guerra ao Touro!" clamavam os
amigos de Ram. Estava iminente uma guerra formidá
vel.
Ante essa possibilidade, Ram hesitou. Instigar essa
guerra não seria agravar o mal, forçar a sua raça a des
truir-se a si mesma? E teve então um outro sonho.
O céu tempestuoso estava carregado de nuvens som
brias, que cavalgavam as montanhas e em seu largo vôo
sombrio roçavam os cimos agitados das florestas. Em pé
sobre um rochedo, uma mulher desgrenhada estava pres
tes a ferir um guerreiro soberbo, amarrado aos pés dela.
Precipitando-se sobre essa mulher, brada-lhe Ram: "Em
nome dos antepassados, detém-te!" Ameaçando o adver
sário, a druidisa atira-lhe um olhar agudo, ferino como o
fio de um cutelo. Mas um trovão rola entre as nuvens e
fulgurante surge uma figura. A floresta parece empali
decer, a druidisa cai como fulminada e rompem-se as
amarras do prisioneiro. Este olha com uma expressão
de · desafio o gigante luminoso. Ram não se· perturbou,
pois reconheceu o ser divino que já lhe tinha falado sob
o carvalho. Desta vez, pareceu-lhe mais belo com o cor
po · i:esplandecente de luz. E Ram viu-se em um templo
aberto, rodeado de imensas colunas. No lugar da pedra
do sacrifício, erguia-se um altar. Ao lado, estava ainda
o guerreiro cujo olhar parecia desafiar a morte. Deitada
sobre as lájeas, estava estendida a mulher, parecendo
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morta. O Gênio trazia um facho na mão direita e uma
taça na esquerda. Sorriu, benevolente e falou: "Ram,
estou satisfeito contigo. Vês este facho? t o fogo sagrado
do Espírito divino. Vês esta taça? :t a taça da Vida e do
Amor. Dã o facho ao homem e a taça à mulher". · Ram
fez o que lhe ordenava o seu Gênio. Apenas o homem
empunhou o facho e a mulher segurou a taça, o facho
acendeu-se· por si mesmo, no altar, e ambos, transfigu·
rados ao seu clarão, resplandeceram como o Esposo e a
Esposa divinos. Ao mesmo tempo, alargou-se o templo,
as colunas ergueram-se até ao céu e a abóbada abriu-s�
no fi�amento. Viu-se Ram transportado ao cimo de.
uma montanha, sob o çéu estrelado. Em pé, próximo de-.
le, o seu Gênio explicava-lhe o sentido das constelações.
e fazia-o . ler nos signos flamejantes do zodíaco os desti-.
nos da humanidade.
"Espírito maravilhoso, quem és tu?" perguntou Ram
ao seu Gênio. · Este respondeu: "Chamam-me Deva Na
huscha, a Inteligência divina. Tu espalharás o meu ful
gor sobre a terra e eu atenderei sempre ao teu apelo.
Agora, segue teu caminho. Vai!" E com a mão o Gênio
apontou-lhe o Oriente.
4.l:
O l::xodo e a Conquista
49.
riores ·da sua raça. Para embelezamento e ornato da exis
tência, Ram estabeleceu quatro grandes festa! por ano.
A· primeira foi a da primavera ou. das geraçoes, cons�-.
grada ao amor conjugal. A festa do verão ou das. colhei
tas pertencia aos rapazes e às moças, que ofereciam aos
pais· os primeiros feixes de cereais, colhidos com. o seu
trabalho. Na festa do outono, honravam-se os pais e as
rriães, que distribuíam frutos aos filhos em sinal de rego
zijo. Mas, a mais santa, a mais misteriosa, era a de Na
tal ou das grandes sementeiras. Ram consagra-a, con
juntamente, às crianças, aos recém-nascidos, aos frutos
do amor concebidos durante a primavera, e às almas
dos mortos, aos ancestrais. Unindo o visível e o invisí
vel, aquela solenidade religiosa significava ao mesmo
tempo o adeus às almas dos finados e a saudação místi
ca àquelas que vêm se encarnar no ventre matemo e re
nascer nas crianças.
· Naquela noite santa, os antigos Árias reuniam-se nos
santuârios do Airiana-Vaeia, como outrora em suas fio.;,
restas. Acendiam fogueiras e entoavam cantos, celebran
do o reinício do ano terrestre e solar, a germinação na
tural no coração do inverno, o estremecimento da vida
no fundo da morte. Celebravam o beijo universal do
céu na terra, a gestação triunfal do novo Sol pela grande
Noite-Mãe.
Assim, Ram ligava a vida humana ao ciclo das esta
ções, às revoluções astronômicas e ao mesmo tempo re
velava o seu significado divino. E por haver estabelecido
tão fecundas instituições, denomina-o Zoroastro "· 0 che
fe dos povos, ·o muito afortunado monarca". Por isso o
po�ta hin�u Valmiki, situando o antigo herói em ép�ca
muito mais recente, no luxo de uma civilização muito
mais adiantada, conserva-lhe no entanto os traços de tão
elevado ideal. Diz Valmiki: "Rama de olhos de lótus azul
era o mestre do mundo, o senhor da sua alma, o amor
dos homens, o pai e a mãe dos seus súditos. Ele soube
dar a todos os seres a cadeia do amor". ·,
· . · Estabelecida no Irã, às portas do Himalaia, a raça
branca ainda não era senhora do mundo. Para isso a suà
va�guarda teria de penetrar na 1ndia, centro principal
dos· 'Negros, antigos vencedores das raças vermelha e
arrutrela. O· ·Zend-A vesta menciona essa marcha .de Rama·
para a tndia, (*) que é um dos temas favoritos da epo
péia hindu. Rama foi o conquistador da. terra limitada
pelo Himavat, a terra dos elefantes, dos tigres, das ga
zelas. Ordenou o primeiro embate, dirigiu a ofensiva,
nessa luta gigantesca, durante a qual duas raças, incons
cient�mente, disputavam o império mundial. Exagerando
as tradições ocultas dos templos, a poesia épica indiana
imagina· o conflito da magia branca e da magia negra.
Na guerra contra os povos e reis do país dos Djambus,
como era então designada a região, Ram · ou Rama, se
gundo os orientais, utiliza-se de recursos aparentemente
miraculosos, cuja invenção está acima das faculdades hu
manas comuns, mas que os grandes iniciados utilizam
graças ao conhecimento' e à utilização das forças ocul
tas da natureza.
Nota do tradutor:·
* Note-se que o Zend-A vesta, o livro sagrado dos Parsis,
considerando Zoroastro inspirado de Ormuz, profeta da lei de
Deus, refere-se a ele como o continuador de um profeta mais an
- tigo. Sob o simbolismo dos templos antigos, vê-se aqui o fio da
grande revelação da humanidade, unindo os grandes iniciados. Eis
o trecho importante:
1
Zoroastro · perguntou a Ahura-Mazda (Ormuz, o
Deus da luz): Ahura-Mazda, tu, santo, sacratíssimo cria
dor de todos os seres corporais e puríssimos:
2
· Qual o primeiro homem com qüem falaste, tu
que és Ahura-Mazda?
" Respondeu Ahura-Mazda: O belo Yima, chefe de
um grupo digno de elogios, ó puro Zaratustra.
13
. E eu disse-lhe: Cuida dos mundos que me per
tencem.. Como protetor fertiliza-os.
tu · E entreguei-lhe as armas da vitória, eu
que sou
Ahura-Mazda.
a.a Uma lança de ouro e uma espada de ouro.
u Então Yima elevou-se até as estrelas, rumo ao
sul, no caminho do sol.
ª' Percorreu . a terra que ele fertilizara. A terra es
tava maior, cerca de um terço mais do que antes.
"ª E o brilhante Yima reuniu · os homens mais vir
tuosos, no célebre Airyana-Vaeia, criado puro (Vendi
dad-Sad,, 2� Fargard - Trad. de ANQUETIL DUPERRON) •
45
A tradição apresenta�o aqui fazendd jorrar fontes de
água no deserto, ali descobrindo recursos alimentícios
. inesperados, uma espécie de maná, cujo emprego ele
ensina à sua gente, mais além ex.tinguindo unia epide
mia, graças a uma planta chamada hom, o ·amomos·. dos
gregos, a perseia dos · egípcios, da · qual extrai um suco
salutar. Essa planta torna-se sagrada para a sua .g·ente
e substituiu o visco do carvalho, conservado pelos·· Cel
tas na Europa.
· Rama utilizava-se de processos extraordinários con
tra os seus inimigos. O predomínio dos padres dós Ne
gros apoiava-se em um culto baixo. Criavam e nutriam
em seus templos enormes serpentes e pterodátilos, raros
sobreviventes de espécies antediluvianas, que eles fa
ziam serem adorados como deuses, servindo-se dos
mesmos para a_terrorizarem o seu povo. Alimentavam. as
serpentes com a carne dos prisioneiros. Algumas vezes,
Ram, inesperadamente, empunhando fachos acesos, en
trava naqueles templos, subjugando as serpentes, ater
rorizando e expulsando os padres. Outras vezes, apare
cia no acampamento do inimigo, expondo-se sem defesa
àqueles que queriam matã-lo, e afastava-se sem · que
ninguém ousasse tocá-lo.
Quando eram interrogados aqueles que o tinham dei
xado ir embora, eles respondiam que tinham ficado
petrificados pelo olhar de Rama. Ou então que se tinha
interposto" entre eles e Rama uma montanha, impossi
bilitando-os de o verem mais� Enfim, para terminar a
legenda da sua obra, a tradição épica da 1ndia atribui
-lhe a conquista do Ceilão, último refúgio do mago ·negro
Ravana, sobre quem o mago branco faz chover um gra
nizo de fogo, depois de haver lançado de umà para outra
margem do braço de mar uma ponte, por onde passou
uma tribo de macacos das selvas, semelhante a um exér
cito entusiasmado por aquele grande encantador de po
vos.
O testamento do grande antepassado
47
A mulher ajoelhou-se, em atitude· de humildade e de
submissão, oferecendo a coroa da terra. A pedraria que
a ornamentava cintilava, faiscante com mil cores e a
embriaguez do amor exprimia-se no seu olhar. Comoveu
-se a alma do grande Rama, do pastor de povos. Mas,
de �é, sobre a ramagem da floresta apareceu-lhe seu
Gênio, que lhe disse: "Se colocares em tua cabeça a co
roa, a Inteligência divina te deixará. Não me verás mais.
Se abraçares esta mulher, ela morrerá por tua felicida
de� Se renunciares à sua posse, ela viverá feliz e livre,
na terra, e teu espírito invisível reinará sobre ela. ·Esco
lhe: ou atendê-la ou seguir-me!"
Sempre ajoelhada, Sita fitava o seu · senhor com os
olhos amorosos, e suplicantes aguardava a resposta. Rama
esteve silencioso, um momento. Seu olhar engolfado nos
olhos de Sita media o abismo que· separa a posse com
pleta do adeus eterno. Mas, sentindo · que o · amor supre
mo é uma suprema renúncia, ele colocou a mão liberta
dora sobre a fronte da mulher branca, · abençoou-a e dis
se-lhe: "Adeus!. Sê ljvre e não me esqueças nunca!"
A mulher logo desapareceu como um fantasma lu
nar. A jovem Aurora moveu sua varinha mágica sobre
a velha floresta. O rei voltara à ser velho. Um orvalho
de lágrimas umedecia as barbas brancas, enquanto no
fundo da floresta uma voz triste o càamava: · "Rama!
Ramal" Mas, Deva Nahuscha, o Gênio resplandecente,
em sua luminosidade �exclamou: "A mim!" E o Espírito
Divino levou Rama ao cimo de uma montanha, ao norte
de Himavat. +
Depois daquele sonho, significativo do fim da sua
missão, Rama reuniu os reis e os embaixadores dos po
vos e falou-lhes: "Não quero o poder supremo, que me
ofereceis. Guardai. vossas coroas e cumpri minha lei.
Terminou minha missão. Retiro-me para sempre com
meus irmãos iniciados para. uma montanha do Airyana
Vaei�. De lá, estarei vigilante. Cuidai do fogo divino! Se
o fogo apagar-se, eu voltarei como juiz e como· vinga
dor terrível".
Então, ele afastou-se em companhia dos seus, indo
para o monte Albori, entre Balque e Bamiã, em um ermo
conhecido somente dos iniciados. Lá, ele ensinava aos
seus discípulos o que sabia dos segredos da ter·ra e do
48
Grande Ser. Estes levaram até longe, ao Egito, à Occita
nia, o fogo sagrado, símbolo da divina unidade das coi
sas e os chifres do carneiro, emblema da religião aria- ·
na. Esses chifres . tornaram-se as insígnias dá iniciação
e depois do poder sacerdotal e real. (ª) . ·
. Pe longe, ·. �ama continuava vigiando seus povos e
sua amada ràça · branca� Os ultimos anos da sua existên
cia, dedicou-os à elaboração do calendário dos Arias. Foi
esse o testamento do patriarca dos iniciados. Livro es
tranho, escrito com a luz das estrelas, em hiéróglifos ce
lestes, no firmamento infinito pelo Antepassado da nos
sa raça. Fixando os doze signos do zodíaco, Ram atri
buiu-lhes tríplice significado. O primeiro, referente às
influências do sol em cada mês do ano; o segundo, rela
tivo de certo modo à sua própria história; o terceiro,
indicativo dos meios ocultos de que ele se utilizara para
alcançar -os seus objetivos. Por isso, os signos, lidos na
ordem inversa, foram mais tarde os emblemas secretos
dos graus da iniciação. (9)
49
Afinal, sentindo a proximidade da morte, me ordenou
aos seus íntimos que ocultassem o · seu faleciternnto e
prosseguissem em sua obra, perpetuando a fra a, ida de.
usan
Durante séculos os povos acreditaram. queestRam sempre
do a sua tiara com chifres de carne.iro, icos,avao Grande
vivo na montanha santa. Nos tempos véd dos mortos,
Antepassado transformou-se em Iama, o juiz
o Hermes psicopompo dos hindus.
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